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Especial microbiologia Pt. 1

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Protocolos de Microbiologia Clínica<br />

para salmonelas não-tifóides (fermentação<br />

do propilenoglicol e ausência de betagalactosidase),<br />

somente poucos resultados<br />

falsos-positivos são encontrados.<br />

O maior problema deste meio é a incapacidade<br />

de isolamento de Salmonella<br />

enterica sorotipo Typhi, pois estas não<br />

fermentam o propilenoglicol (17). No meio<br />

SMID, as colônias de Salmonella são também<br />

distintas das demais pela formação<br />

de coloração vermelha intensa (devido à<br />

formação de ácido a partir do glicuronato e<br />

ausência de beta-galactosidase), enquanto<br />

outras bactérias acompanhantes aparecem<br />

como colônias azuis, violetas ou incolores.<br />

Este meio possibilita o isolamento e a<br />

identificação presuntiva de todos os sorogrupos<br />

de Salmonella. Já o ágar ABC (ágar<br />

alfa-beta-cromogênico) explora o fato das<br />

salmonelas poderem ser diferenciadas dos<br />

membros da família Enterobacteriaceae<br />

pela presença da enzima alfa-galactosidase,<br />

na ausência da atividade da enzima<br />

beta-galactosidase (10).<br />

Um total de 1.022 cepas de Salmonella<br />

spp. e 300 outros bacilos Gram-negativos<br />

foram inoculados neste meio. Destas,<br />

99,7% das cepas de Salmonella produziram<br />

colônias com uma coloração verde<br />

característica, ao passo que somente uma<br />

cepa de Escherichia coli atípica (0,33%)<br />

também produziu colônias verdes (100%<br />

de sensibilidade e 90,5% de especificidade)<br />

(10). Atualmente, outros meios<br />

cromogênicos para Salmonella já estão<br />

disponíveis comercialmente e quase todos<br />

eles (com exceção dos meios Rambach e<br />

ABC) detectam a atividade de esterase (Figura<br />

8), positiva para todas as salmonelas.<br />

Figura 8. Ágar cromogênico: Aspecto colonial<br />

de Salmonella spp. (utilização do substrato<br />

cromogênico através da enzima esterase)<br />

Porém, estes meios possuem custo elevado<br />

e são específicos somente para Salmonella.<br />

Outros meios em ágar, invariavelmente,<br />

devem ser usados em conjunto para o isolamento<br />

de outros enteropatógenos, onerando<br />

muito o custo final da coprocultura.<br />

Estes meios obtiveram excelente aceitação<br />

em laboratórios de controle de qualidade,<br />

os quais pesquisam somente Salmonella<br />

(em amostras de águas e alimentos).<br />

Quando qualquer meio de cultura<br />

desidrata, o potencial de oxi-redução (eH)<br />

é alterado, as concentrações dos agentes<br />

inibidores são aumentadas e o efeito<br />

mais visível disso é o pouco ou nenhum<br />

crescimento de colônias. Nos laboratórios<br />

clínicos, onde é freqüente a prática de se<br />

confeccionar meios de cultura para uma<br />

ou mais semanas de trabalho, este efeito<br />

pode ser minimizado embalando as placas<br />

em sacolas plásticas ou, preferencialmente,<br />

envoltas por plástico-filme de PVC (o<br />

mesmo utilizado em cozinha). Mesmo<br />

um tempo razoavelmente curto de duas<br />

semanas sob refrigeração é suficiente para<br />

promover efeitos deletérios nos meios em<br />

placa sem proteção, proporcionando resultados<br />

aberrantes nas análises (13).<br />

Isenberg et al. (6) estudaram vários<br />

meios de cultura seletivos (ágares SS, XLD,<br />

Hektoen) na tentativa de avaliar o grau de<br />

supressão da microbiota intestinal normal<br />

em espécimes fecais, permitindo o crescimento<br />

dos reais patógenos significativos.<br />

Salmonella e Shigella, isolados de espécimes<br />

clínicos humanos, foram misturados<br />

com Escherichia, Klebsiella, Enterobacter,<br />

Serratia e Proteus. Foram feitas diferentes<br />

diluições destas misturas e então semeadas<br />

nas placas de ágar. Os resultados<br />

demonstraram um maior grau de inibição<br />

de Shigella utilizando o ágar SS, ao passo<br />

que os ágares XLD e Hektoen permitiram<br />

o isolamento normal desta bactéria (bem<br />

como de Salmonella), suprimindo consideravelmente<br />

a microbiota intestinal normal<br />

acompanhante.<br />

Vários estudos (5, 25, 26) comprovaram<br />

a inibição de Shigella por microrganismos<br />

pertencentes à microbiota intestinal<br />

normal. Os primeiros estudos mostraram<br />

que Klebsiella/Enterobacter inibia o crescimento<br />

de Shigella em culturas mistas,<br />

indicando que uma possível competição<br />

por fontes de carboidratos fermentáveis<br />

seria a causa principal. Outros estudos<br />

comprovaram parcialmente esta teoria,<br />

uma vez que também foram relatadas inibições<br />

do crescimento de Shigella quando<br />

em presença de Klebsiella/Enterobacter,<br />

mesmo em meios aerados e com excesso<br />

de glicose. No entanto, estes estudos também<br />

provaram que a produção de ácidos<br />

acético e fórmico por estas bactérias (e<br />

também por E. coli) fazia com que as<br />

Shigella entrasse em fase logarítmica de<br />

morte, comprovando que a produção de<br />

ácidos voláteis com a concomitante redução<br />

acentuada do meio eram os principais<br />

mecanismos de inibição do crescimento de<br />

Shigella em culturas mistas.<br />

Os caldos de enriquecimento seletivo<br />

são utilizados para diminuir a quantidade<br />

de bactérias da microbiota intestinal normal<br />

no espécime fecal, inibindo de alguma<br />

forma seu metabolismo e propiciando o<br />

desenvolvimento franco dos verdadeiros<br />

enteropatógenos. Estes caldos devem ser<br />

sempre utilizados como uma etapa prévia,<br />

uma vez que a semeadura direta das fezes<br />

em meios sólidos geralmente leva a um<br />

supercrescimento da microbiota normal,<br />

em detrimento às poucas colônias que<br />

podem ser formadas pelos verdadeiros<br />

patógenos (13).<br />

Deve ser observado que cada caldo<br />

possui suas próprias características e seu<br />

uso deve ser criterioso, seguindo todas as<br />

informações dadas pelos fabricantes para<br />

uma melhor performance. No entanto, em<br />

muitos laboratórios clínicos estes caldos<br />

são usados de forma equivocada, muitas<br />

vezes sem o real conhecimento científico<br />

de sua utilidade. Muitos são os caldos para<br />

o pré-enriquecimento seletivo utilizados em<br />

<strong>microbiologia</strong>: tetrationato segundo Muller-<br />

Kauffmann, Rappaport-Vassiliadis, selenito<br />

segundo Leifson, selenito-cistina e GN<br />

segundo Hajna. No entanto, com exceção<br />

dos dois últimos, estes meios foram adaptados,<br />

incorretamente, da <strong>microbiologia</strong><br />

de alimentos para a <strong>microbiologia</strong> clínica<br />

64<br />

NewsLab - edição 86 - 2008

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