especial automóvel | panorama O gigante se reinventa Dono do posto de maior mercado no Brasil por anos a fio, o segmento de automóvel está diante de desafios que exigem uma mudança de rota para atender demandas de curto prazo sob o risco de impactos maiores no futuro. Questões de ordem econômica e comportamentais obrigam seguradoras a se reinventarem a partir de soluções mais simples e de nicho Elis Lopes 20
Com uma baixa de 1,3 milhão em veículos novos vendidos no ano passado frente aos tempos áureos da indústria automobilística no Brasil – ainda que o setor tenha conseguido crescer, o mercado de seguros procura novos combustíveis para tentar voltar ao patamar de expansão do passado, no qual avançar dois dígitos era a regra, não a exceção. As expectativas de que esse cenário se concretizasse no ano passado foram por água abaixo. Apesar de o mercado ter reagido, somente algumas poucas companhias conseguiram emplacar o feito em meio à postura ainda seletiva de players consolidados do setor. Como consequência, a carteira de seguro de automóvel, que no ano passado perdeu o posto de líder do mercado brasileiro para o segmento de pessoas – considerando o seguro obrigatório (DPVAT), cresceu 5,89% na comparação com 2017, movimentando quase R$ 36 bilhões em prêmios. Embora tenha sido o segundo exercício consecutivo de expansão, refletindo a contínua melhora da indústria automobilística, em 2018 o mercado iniciou o ano todo esperançoso de recuperar o crescimento de dois dígitos, o que não se concretizou. Além disso, boa parte da expansão entregue ainda refletiu o reajuste nos prêmios – não necessariamente contratos novos – e ainda os segmentos de frotas e de locadoras de veículos. “O mercado de seguro de automóvel tem muitos desafios. O setor perdeu quase 2 milhões de veículos nos últimos anos (no auge da crise). Para retomar o crescimento de dois dígitos das últimas décadas, só em 2024”, avalia o vice-presidente de produtos da Liberty, Paulo Umeki. Pesam, sobretudo, na opinião do executivo, além da crise que o País vive e que pegou em cheio setores pujantes da economia como, por exemplo, a indústria automobilística, as mudanças culturais dos consumidores, que já impactam a frota segurada. Uma das constatações coloca em xeque, inclusive, a paixão do brasileiro pelo carro. Além de adiarem a retirada da habilitação quando completam 18 anos, muitos não querem sequer o aval para dirigir. Segundo Umeki, pesquisas mostram que entre 30% e 35% dos jovens brasileiros não desejam obter a carta de motorista. Como consequência, a emissão do documento entre condutores de 18 a 21 anos diminuiu 20,61% em três anos, ❙❙Paulo Umeki, da Liberty de acordo com levantamento da empresa de pesquisas Ipsos, com base nos dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Ao contrário, os jovens preferem investir o dinheiro da carteira de motorista em um celular. É pelo aparelho que eles viabilizam o que antes era buscado com a habilitação: mobilidade. Isso porque com poucos cliques conseguem acionar aplicativos de mobilidade e chegar a qualquer canto sem trabalho e com custos atrativos. “O mercado de venda de carros 0 km está reagindo lentamente, o que já é um grande problema, mas o que tem impactado a demanda por seguro, e tende a pesar ainda mais, são as mudanças no perfil dos consumidores, que cada vez mais se interessam por utilizar aplicativos no Brasil e no mundo”, raciocina o superintendente de Produto Auto da Porto Seguro, Vicente Lapenta. ❙❙Vicente Lapenta, da Porto Seguro 21