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12 | <strong>JUNHO</strong> <strong>2019</strong> | LUSITANO DE ZURIQUE | www.cldz.eu<br />
CIDADANIA<br />
Entrevista -<br />
Cátia<br />
Cátia, 28 anos, de Aveiro.<br />
Licenciou-se em Contabilidade<br />
e há cerca de 1<br />
ano e meio está na Suíça.<br />
Trabalhou até agora sempre<br />
no ramo das limpezas<br />
para empresas privadas,<br />
primeiramente num Hotel<br />
5* de Zurique e actualmente<br />
numa empresa mais pequena<br />
que efectua serviços de<br />
limpeza de casas privadas<br />
e zonas comuns.<br />
— Vai participar na Greve?<br />
Porquê?<br />
Sim, irei participar na greve<br />
porque cada vez mais é importante<br />
reivindicar e lutar<br />
pelos direitos das Mulheres<br />
no geral.<br />
— O que levou a juntar-se à<br />
luta pela causa das mulheres?<br />
O principal objectivo de me<br />
juntar a esta causa é sensibilizar,<br />
tentar diminuir - e um dia<br />
acabar - com o preconceito e<br />
discriminação que muitas mulheres<br />
como eu, ainda sofrem<br />
em muitos locais e sectores<br />
de trabalho aqui na Suíça:<br />
com salários baixos, falta de<br />
reconhecimento, falta de condições<br />
de trabalho, desigualdade<br />
salarial e precariedade<br />
laboral. Já se fizeram muitos<br />
avanços mas, as mulheres<br />
também ainda são bastante<br />
discriminadas quando se trata<br />
de formar uma família e ter<br />
filhos. A maternidade ainda é<br />
vista pelas empresas como<br />
algo muito prejudicial, o que<br />
nos impede muitas vezes de<br />
conseguirmos um emprego<br />
ou manter o mesmo. A precariedade<br />
laboral, os salários<br />
baixos e a falta de condições<br />
laborais é realmente algo<br />
que me preocupa bastante.<br />
A maioria das mulheres tem<br />
que acumular empregos para<br />
conseguir ter um salário decente<br />
que permita fazer face<br />
às suas despesas. Como<br />
consequência a nossa vida<br />
pessoal é tremendamente<br />
afectada pela falta de tempo<br />
para estarmos com a nossa<br />
família e também podermos<br />
integrar-nos na sociedade<br />
(aprender o idioma).<br />
— O que espera desta Greve?<br />
Espero com esta greve tornar<br />
visível todos estes problemas<br />
para que assim haja uma mudança<br />
de mentalidades e de<br />
comportamento não só da<br />
sociedade, como também<br />
dos próprios empregadores.<br />
Espero que haja mudanças<br />
e que criem leis que protejam<br />
as mulheres no geral.<br />
— Sente que as mulheres<br />
emigrantes são tão ou mais<br />
discriminadas do que as<br />
outras? Em que pontos?<br />
Sim, há bastante discriminação<br />
ou porque não falamos<br />
o idioma ou então porque<br />
viemos de outro país e quase<br />
que somos “obrigadas” a<br />
aceitar a falta de condições<br />
laborais, baixo salário, a falta<br />
de reconhecimento por<br />
nos darem uma oportunidade<br />
de trabalho, tendo assim<br />
que dar “graças a Deus” pela<br />
oportunidade. O certo é que<br />
todas nós temos os mesmos<br />
direitos e deveríamos ter as<br />
mesmas oportunidades que<br />
qualquer outro cidadão independentemente<br />
se somos<br />
ou não estrangeiras . É bastante<br />
difícil lidar com esta<br />
realidade e lutar no dia-a-dia<br />
contra estes problemas, porque<br />
o empregador leva-nos<br />
a crer que nós não temos<br />
os mesmos direitos, viemos<br />
para aqui trabalhar e temos<br />
que estar sempre disponíveis<br />
sem questionar nada, apesar<br />
de sermos mal pagas, não<br />
termos um plano de trabalho<br />
fixo e muitas das vezes sem<br />
o nosso trabalho e esforço<br />
serem reconhecidos. A falta<br />
de conhecimento das leis e<br />
o medo que têm de perder o<br />
trabalho é um problema que<br />
leva a maioria a não lutarem<br />
pelos seus direitos e acharem<br />
que toda esta situação é normal<br />
por sermos estrangeiras.<br />
— Qual o apelo que deixa<br />
as outras mulheres portuguesas?<br />
A minha mensagem é que<br />
não tenham medo e que lutem<br />
pelos seus direitos. Não<br />
desistam de lutar por melhores<br />
condições porque não é<br />
por serem estrangeiras que<br />
têm que se sujeitar a qualquer<br />
coisa. Procurem ajuda se for<br />
necessário e procurem informar-se<br />
para poderem assim<br />
defender-se.<br />
“LUTA SEM MEDO, TU TENS<br />
OS MESMOS DIREITOS!“