Sapeca 18

Ardida como pimenta
Miss Taylor acordou tarde, indisposta, em decorrência da garrafa de
gim esvaziada na véspera, durante mais um arranca-rabo com seu oitavo e
meio marido (ainda não haviam oficializado a relação porque Michael Jackson,
o padrinho, estava com a agenda superlotada). Pelo interfone, pediu o
breakfast e foi ao WC, com a sensação de alguma coisa presa dentro de si.
Sensação que perdurou, de forma que sequer provou o presunto de
Parma, croissants, manteiga de leite de ovelha, geleia de rosa, tudo tão bemvindo,
em outras manhãs. Limitou-se ao suco de sapoti, que a camareira Zefiña
trouxera da viagem ao México, aonde fora rever a parentalha. ‘Família
enorme, um ninho de ratazanas’ – pensou Taylor. E deu um grito:
− Filho da puuuuuuuuuuuutaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!!!! – lembrando-se
do companheiro ausente. Segundo Quirós, o mordomo, o 8½ tivera insônia e
acordara o piloto, de madrugada, indo jogar em Las Vegas. Para confirmar,
Miss Taylor dirigiu-se à suíte ocupada por ele, uma das doze daquele rancho,
em pleno deserto. Tudo intocado, inclusive o pijama, em cima do edredom.
− Filho da puuuuuuuuuuuutaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Precisava desforrar em alguém e repreendeu Quirós, por não ter visto
antes que seu retrato por Andy Warhol (não o que correu mundo, mas um
exclusivo) estava meio torto, na parede. Contudo, tratava bem a galera do
andar de baixo, até porque se contentava com salários irrisórios em relação
aos cobrados em Los Angeles e Nova Iorque. Sobre Quirós, adorou saber de
suas desventuras amorosas, ao ser abandonado por María del Culo Duro:
− Roí uma beirada de penico por causa dela, que peguei tuberculosa,
dei remédio, dei roupa, e me trocou por um infeliz que não vale o que o gato
enterra, tal de Manoelito Pia Onça. E logo o trocou por outro, e outros, até
que encontrou o que merecia: um que rasgou-lhe o ventre com uma faca.
− Vocês, latinos, são muito divertidos – concluiu Miss Taylor.