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10 PCP<br />
31-3-2016<br />
Controlo público da banca<br />
Desenvolvimento e soberania<br />
Reconstituir um poderoso sector público financeiro<br />
é, tal como o controlo da moeda e a libertação<br />
do País de outros constrangimentos, condição<br />
essencial para impulsionar o progresso económico<br />
e social num Portugal soberano. Esta a<br />
ideia-mestra confirmada no seminário que o PCP<br />
realizou fez anteontem uma semana.<br />
Sobre a iniciativa em que<br />
falaram economistas, professores<br />
e investigadores, dirigentes<br />
sindicais, associativos<br />
e um ex-gestor<br />
bancário, e dirigentes e deputados<br />
do PCP – tendo a<br />
mesma sido encerrada pelo<br />
Secretário-geral do Partido,<br />
publicou o Avante!, a semana<br />
passada, uma notícia<br />
na qual releva os aspectos<br />
centrais da intervenção feita<br />
na ocasião por Jerónimo<br />
de Sousa. Entre estes estão<br />
o combate à especulação financeira<br />
e à dependência e<br />
controlo externos de um sector<br />
vital, a reserva dos recursos<br />
para o investimento<br />
produtivo e a reorientação<br />
da política de crédito para<br />
as necessidades de desenvolvimento<br />
soberano nacional<br />
e para a elevação das<br />
condições de vida dos trabalhadores<br />
e do povo.<br />
A actualidade do tema na<br />
análise e intervenção dos comunistas<br />
justifica, porém,<br />
que voltemos ao assunto,<br />
abordando elementos aduzidos<br />
por outros oradores. O<br />
objectivo das privatizações<br />
impostas com a política de<br />
direita foi «a recuperação capitalista<br />
e monopolista» em<br />
Portugal, como a «definiu rigorosamente<br />
o PCP», lembrou<br />
Agostinho Lopes, para<br />
quem, nesse sentido, a alienação<br />
da banca e dos seguros<br />
tiveram primazia no<br />
processo de privatizações<br />
conduzido até 1996. Sucessivos<br />
governos PSD e PS<br />
tiveram como propósito,<br />
sob diversos pretextos e elaboradas<br />
concepções, usar a<br />
banca privatizada como instrumento<br />
para que os grupos<br />
económicos reconstituídos<br />
fossem «a base da condução<br />
e desenvolvimento<br />
das privatizações noutros<br />
sectores e áreas», garantindo<br />
mais e novos negócios e<br />
o domínio do capital financeiro<br />
«nas novas empresas<br />
privatizadas».<br />
Pela via da «centralização<br />
e concentração do capital»,<br />
capturaram o poder político,<br />
disse ainda Agostinho Lopes,<br />
para quem, face aos<br />
factos que emergem do processo<br />
histórico, existe legitimidade<br />
e razão para questionar<br />
a privatização do<br />
Persistem<br />
graves perigos<br />
e quem criou<br />
o problema<br />
não é capaz<br />
de os resolver<br />
sector financeiro, porquanto<br />
esta destruiu valor e delapidou<br />
riqueza, foi maná da<br />
arrecadação nem sempre lícita<br />
de fortunas, a contrastar<br />
com o saldo de prejuízos<br />
acumulados a vários títulos<br />
pelo Estado.<br />
Jorge Pires, da Comissão<br />
Política do Partido, salientou,<br />
por seu lado, que desde<br />
a vaga privatizadora iniciada<br />
há 25 anos a banca<br />
tem sido instrumento de<br />
lucro e não do desenvolvimento<br />
do povo e do País.<br />
Acresce o «sentimento de<br />
Situação explosiva<br />
No seminário organizado pelo PCP,<br />
Carlos Carvalhas considerou que «a<br />
crise das dívidas públicas (…) verificou-<br />
-se no essencial na Zona Euro» porque<br />
os estados «ficaram prisioneiros dos<br />
mercados». Ora, neste sentido, os<br />
custos daí resultantes devem «ser<br />
endossados ao BCE e aos países que se<br />
opuseram à [sua] intervenção»,<br />
impedindo os países de se financiarem<br />
junto daquele.<br />
Claro é também, hoje, que não são os<br />
custos com as funções sociais do Estado<br />
e os serviços públicos os responsáveis<br />
pelo endividamento dos estados. Mas<br />
apesar de «estarmos mais<br />
acompanhados [nesta apreciação]», tal<br />
como noutras matérias, «passado o<br />
pânico», «o sistema financeiro mundial<br />
voltou às práticas de sempre»,<br />
lamentou o membro do CC do PCP.<br />
Lembrando que os 28 bancos que<br />
detêm «uma boa parte da dívida dos<br />
estados», detêm, igualmente, «um<br />
poder que não é comparável com<br />
a fraqueza dos estados», Carlos<br />
Carvalhas advertiu que a persistência<br />
de «produtos derivados» e da «”bolha”<br />
das dívidas soberanas» coloca nos<br />
píncaros o potencial explosivo de uma<br />
nova crise, tanto mais que a «solução»<br />
seguida foi a injecção de mais liquidez.<br />
Ilustrativo de que persistem graves<br />
perigos e de que quem criou o<br />
problema não é capaz de o resolver,<br />
é o projecto da chamada União<br />
Bancária, explicou, por sua vez,<br />
o deputado do PCP no Parlamento<br />
Europeu Miguel Viegas.<br />
Na União Bancária, integram-se «os<br />
mecanismos de resolução e supervisão»<br />
e o sistema de garantia. Este último<br />
«marca passo» por ser o único «voltado<br />
para os depositantes», realçou, antes de<br />
criticar o mecanismo de supervisão por<br />
O debate sobre o controlo público da banca promovido pelo PCP confirmou a justiça<br />
da apreciação e propostas do Partido<br />
impunidade» dos «responsáveis<br />
pela actual situação»<br />
em virtude da factura que os<br />
portugueses suportam para<br />
salvar um sector que se demitiu<br />
do «papel de apoio à<br />
economia e às famílias».<br />
retirar capacidade de intervenção<br />
soberana sobre o sistema financeiro aos<br />
estados nacionais, centralizando-a num<br />
BCE que já falhou como supervisor, e<br />
de qualificar o mecanismo de resolução<br />
como «um enorme embuste que visa<br />
apenas disfarçar o propósito de<br />
aprofundar a integração financeira da<br />
UE» e que engana os povos com a falsa<br />
ideia de que não voltarão a pagar<br />
a factura das falências.<br />
Neste quadro, assume pertinência<br />
a formulação feita na iniciativa pelo<br />
deputado do PCP na Assembleia da<br />
República, Miguel Tiago: uma vez que<br />
«a forma como as instituições (...) se<br />
comportam no quadro do sistema<br />
financeiro capitalista determina a sua<br />
própria falência, mais ou menos<br />
acelerada, mas incontornável, a questão<br />
não é se “irá o banco colapsar”, mas<br />
“quando irá o banco colapsar”».<br />
Para Miguel Tiago, «sendo que é o<br />
próprio capitalismo, a sua forma de<br />
funcionar, a necessidade imperiosa<br />
e incontornável de crescimento e<br />
acumulação dos grupos capitalistas,<br />
a causa do funcionamento da banca<br />
como um verdadeiro sorvedouro de<br />
recursos produzidos pelo trabalho,<br />
todas as soluções de regulação e<br />
supervisão, particularmente as que<br />
realizadas por entidades cuja principal<br />
característica é a tão proclamada<br />
“indepedência”, ficarão sempre aquém<br />
do necessário». Por isso, concluiu,<br />
«o controlo público da banca, exigindo<br />
uma variedade de soluções adaptadas<br />
a cada situação e a cada instituição,<br />
e com vista ao controlo público total<br />
do sistema financeiro, é a única forma<br />
que, não menosprezando a importância<br />
do sector financeiro, se nos coloca<br />
como solução para quebrar o ciclo<br />
de acumulação e colapso».<br />
Pontos nos is<br />
«A crise de 2008 veio tornar<br />
mais clara uma situação<br />
que há muito o PCP vinha<br />
denunciando: a financeirização<br />
da economia com a<br />
transferência de avultadas<br />
verbas do sector produtivo<br />
para a especulação financeira,<br />
a utilização do dinheiro<br />
dos depositantes para a cedência<br />
de créditos para as<br />
empresas dos próprios grupos<br />
bancários e aos amigos,<br />
sem qualquer tipo de garantia<br />
de retorno na maioria<br />
dos casos, e a distribuição<br />
de avultadas somas em dividendos<br />
pelos accionistas,<br />
mesmo quando a situação<br />
dos bancos aconselhava<br />
prudência, nomeadamente<br />
o reforço das provisões para<br />
as avultadas imparidades»,<br />
frisou ainda Jorge Pires,<br />
que concluiu: «a experiência<br />
[o mito da robustez da<br />
banca nacional e o da capitalização<br />
desta, que é, afinal,<br />
a capitalização dos mega-<br />
-bancos europeus que a adquirem<br />
expurgada de «toxicidade»]<br />
tem mostrado<br />
que a banca pública é a única<br />
maneira de conservar o<br />
sistema bancário nacional».<br />
Em defesa do sistema de<br />
crédito público, bem como<br />
da moeda soberana, pronunciou-se<br />
igualmente Octávio<br />
Teixeira, que insistiu<br />
que a banca privada se transformou<br />
em «sujas lavandarias<br />
que promovem a evasão<br />
fiscal e o branqueamento de<br />
capitais, e continuam a especular<br />
delapidando a utilidade<br />
social das poupanças<br />
dos cidadãos». O economista<br />
e membro do PCP criticou,<br />
igualmente, a estratégia<br />
do Banco Central Europeu<br />
de «criação de uma rede<br />
de alguns poucos grandes<br />
bancos na Zona Euro», a<br />
qual considerou «desastrosa<br />
para os interesses de Portugal»,<br />
na medida em que reduziria<br />
«ao mínimo os sistemas<br />
bancários de base nacional».<br />
Inversamente, permanece<br />
actual a «necessidade<br />
estrutural da nacionalização<br />
da banca», desde que,<br />
advertiu, a tal corresponda<br />
uma «socialização da banca<br />
pública», isto é, que seja o<br />
accionista Estado a «definir<br />
as orientações estratégicas»».<br />
De entre essas orientações<br />
estratégicas, tem de constar<br />
a valorização dos trabalhadores<br />
do sector, os quais,<br />
«nos últimos anos, com o seu<br />
trabalho, proporcionaram<br />
elevados lucros e encheram<br />
os bolsos dos banqueiros e<br />
accionistas privados».<br />
Em contrapartida, denunciou<br />
Joaquim Batalha,<br />
coordenador do Sindicato<br />
dos Trabalhadores da Actividade<br />
Financeira, para<br />
além da destruição de sete<br />
mil postos de trabalho entre<br />
2010 e 2014, «no plano<br />
da relações de trabalho,<br />
os bancos têm conseguido,<br />
com a cumplicidade da UGT<br />
e dos governos, aumentar a<br />
precariedade e a desregulamentação<br />
no trabalho, diminuir<br />
as remunerações<br />
reais, aumentar as cargas<br />
horárias e destruir direitos<br />
elementares».<br />
CAMARADAS FALECIDOS<br />
Fernando Fernandes Carvalho<br />
Faleceu recentemente o camarada Fernando Fernandes Carvalho.<br />
Encontrava-se organizado em São Julião do Tojal, em<br />
Loures.<br />
Jaime Alberto Maria Oliveira<br />
O camarada Jaime Alberto Maria Oliveira faleceu recentemente.<br />
Estava organizado em Santo Antão do Tojal, em Loures.<br />
Manuel Lopes<br />
O camarada Manuel Lopes, de 86 anos, faleceu no passado<br />
dia 22. Trabalhou no Arsenal do Alfeite e estava organizado na<br />
Freguesia do Feijó, em Almada.<br />
*<br />
Aos familiares e amigos dos comunistas falecidos, o colectivo<br />
do Avante! manifesta sentidas condolências.