03.09.2019 Views

2209

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

2 6 INTERNACIONAL<br />

31 -3-201 6<br />

•<br />

Desafio crucial<br />

em Cabo Verde<br />

Em Cabo Verde, o<br />

MpD (Movimento<br />

para a Democracia),<br />

de direita, ganhou as recentes<br />

eleições legislativas e vai governar<br />

nos próximos cinco anos.<br />

O PAICV (Partido Africano da<br />

Independência de Cabo Verde), do<br />

primeiro-ministro José Maria<br />

Neves, que governou durante três<br />

legislaturas, passa à oposição.<br />

O MpD venceu em todas as ilhas,<br />

obteve 54 por cento dos votos e<br />

elegeu 40 deputados, de um total<br />

de 72 do parlamento cabo-<br />

-verdiano. O PAICV, com 38 por<br />

cento dos votos, assegurou 29<br />

assentos e a UCID (União Cabo-<br />

-verdiana Independente e<br />

Democrática) conquistou três<br />

mandatos, mais um do que nas<br />

anteriores eleições, todos pelo<br />

círculo de S. Vicente. Os três<br />

outros partidos concorrentes<br />

obtiveram no conjunto 0,5 por<br />

cento da votação e não elegeram<br />

qualquer representante. A taxa de<br />

abstenção subiu para 34 por cento,<br />

num universo de 350 mil eleitores<br />

inscritos.<br />

A líder do PAICV desde finais de<br />

2014, Janira Hopffer Almada,<br />

declarou que «respeita o veredicto<br />

do povo», garantiu que fará uma<br />

«oposição construtiva» e anunciou<br />

que a direcção do partido analisará<br />

em breve os resultados eleitorais.<br />

O presidente do MpD, Ulisses<br />

Correia e Silva, um gestor de 54<br />

anos, será o próximo primeiro-<br />

-ministro e tomará posse em Abril.<br />

Antigo secretário de Estado e<br />

ministro das Finanças de governos<br />

dos anos 90 e autarca da Praia até<br />

há poucos meses, promete fazer<br />

crescer a economia sete por cento<br />

ao ano, criar 45 mil postos de<br />

trabalho durante a legislatura,<br />

alargar o ensino obrigatório até ao<br />

12.º ano, tornar o Estado «mais<br />

eficiente e menos gastador».<br />

Já depois das eleições, numa<br />

entrevista à televisão estatal, citada<br />

pelo Expresso das Ilhas, o novo<br />

chefe do governo explicou que<br />

pretende «criar todas as condições<br />

para um bom ambiente de<br />

negócios, para estimular o<br />

investimento privado interno e<br />

atrair o investimento externo, para<br />

termos impostos baixos». Para<br />

concretizar tais objectivos, conta<br />

com a ajuda divina: «Peço a Deus<br />

todos os dias para não ser atingido<br />

pela doença do poder, porque às<br />

vezes o poder adoece as pessoas.<br />

Ter os pés no chão, saber que<br />

estou a prestar um serviço público<br />

ao meu país, que eu vou governar<br />

para todos os cabo-verdianos, que<br />

eu vou governar com sentido de<br />

integração, de coesão e vou criar<br />

todas as condições para que os<br />

cabo-verdianos sejam realmente os<br />

actores e beneficiários do<br />

desenvolvimento».<br />

Embora tenham apresentado<br />

Carl os Lopes Perei ra<br />

O<br />

programas eleitorais com poucas<br />

diferenças, o PAICV está filiado na<br />

Internacional Socialista e o MpD<br />

na Internacional da Democracia do<br />

Centro (IDC), associada ao Partido<br />

Popular Europeu, da democracia<br />

cristã, e que em África integra<br />

partidos como a Unita, de Angola,<br />

a Renamo, de Moçambique, e a<br />

ADI, no poder em S. Tomé e<br />

Príncipe.<br />

Três eleições em 201 6<br />

Os Estados Unidos, onde vivem<br />

milhares de cabo-verdianos,<br />

saudaram as «bem-sucedidas<br />

eleições legislativas de 20 de<br />

Março, que foram uma vez mais<br />

livres e justas». As eleições e a<br />

mudança de poder «reafirmam a<br />

posição de Cabo Verde como um<br />

modelo de democracia em África»,<br />

lê-se numa nota de imprensa do<br />

Departamento de Estado.<br />

Washington, que mantém boas<br />

relações com a Praia, manifestou<br />

vontade de «prosseguir a parceria<br />

com Cabo Verde para fortalecer a<br />

governação, promover o<br />

crescimento económico e o<br />

desenvolvimento e estabelecer uma<br />

cooperação duradoura em matéria<br />

de segurança regional».<br />

Também o presidente da<br />

República de Cabo Verde felicitou<br />

Ulisses Silva. «Venceu a<br />

democracia cabo-verdiana.<br />

Parabéns aos vencedores. Honra<br />

aos vencidos! A democracia<br />

continuou a funcionar e triunfou»,<br />

escreveu nas redes sociais.<br />

Jorge Carlos Fonseca, eleito em<br />

2011 com o apoio do MpD, deverá<br />

apresentar-se a um segundo<br />

quinquénio, nas eleições<br />

presidenciais previstas para o final<br />

deste ano.<br />

O PAICV ainda não escolheu<br />

candidato, mas a imprensa cabo-<br />

-verdiana tem admitido a<br />

possibilidade de José Maria Neves<br />

entrar na corrida – o que o ex-<br />

-líder do partido e primeiro-<br />

-ministro cessante ainda não<br />

confirmou.<br />

Antes das presidenciais, haverá<br />

eleições autárquicas, já que o novo<br />

governo deverá marcá-las para o<br />

Verão e fazer o movimento que o<br />

sustenta beneficiar da dinâmica de<br />

vitória conseguida nas legislativas.<br />

Neste momento, o MpD e os seus<br />

aliados locais controlam 14<br />

municípios e o PAICV tem maioria<br />

em oito câmaras.<br />

As eleições de 2016 constituem,<br />

assim, um desafio crucial para o<br />

PAICV, herdeiro do legado<br />

histórico da luta de libertação<br />

nacional na Guiné-Bissau e em<br />

Cabo Verde dirigida por Amílcar<br />

Cabral. E que governou com<br />

reconhecido êxito um total de 30<br />

dos 40 anos do Cabo Verde<br />

independente, fruto dessa luta.<br />

Guerra no Iémen<br />

Milhares pela paz<br />

A capital do Iémen foi palco de uma gigantesca<br />

manifestação contra a intervenção militar<br />

saudita quando se cumpre um ano sobre a<br />

agressão.<br />

protesto em defesa da<br />

paz realizado em Sanaa,<br />

dia 26, foi convocado pelo<br />

partido do ex-presidente<br />

Ali Saleh, que aproveitou<br />

a ocasião para fazer<br />

uma rara aparição pública<br />

nos últimos meses. Ao seu<br />

lado estiveram altos responsáveis<br />

das milícias hutí,<br />

entre as quais o seu líder,<br />

que acusam a coligação<br />

liderada pela Arábia<br />

Saudita de promover um<br />

genocídio no país.<br />

De acordo com as Nações<br />

Unidas, a guerra no<br />

Iémen já provocou 6300<br />

mortos, mais de metade<br />

(3218) civis. A direcção<br />

«rebelde», por seu lado,<br />

calcula em quase nove mil<br />

o número de vítimas civis<br />

em resultado da agressão<br />

saudita, entre as quais cerca<br />

de 2800 crianças e mulheres.<br />

Dezenas de instalações<br />

hospitalares, incluindo<br />

algumas operadas por<br />

organizações humanitárias<br />

internacionais, foram atingidas<br />

pelos bombardeamento<br />

da aviação de Riade.<br />

Caças bombardeiros sauditas<br />

sobrevoaram a manifestação<br />

de sábado, sem<br />

no entanto conseguirem<br />

desmobilizar a multidão.<br />

Quando se cumpre um<br />

ano sobre o início da campanha<br />

bélica no território,<br />

Quase nove mil<br />

civis foram<br />

mortos pelos<br />

bombardeamentos<br />

sauditas<br />

Tribunal angolano<br />

dita sentença<br />

O Tribunal Provincial de Luanda condenou<br />

os 17 cidadãos angolanos, que estão<br />

a ser julgados desde Novembro passado,<br />

a penas que vão dos dois a oito anos<br />

e seis meses de prisão, pelos crimes, entre<br />

outros, de actos preparatórios de rebelião<br />

e associação de malfeitores. A defesa<br />

e o Ministério Público anunciaram<br />

que iriam apresentar recurso para o Tribunal<br />

Supremo de Angola.<br />

Face à instrumentalização deste processo<br />

em Portugal, o PCP, reafirmando a defesa<br />

do direito de opinião e manifestação<br />

e dos direitos políticos, económicos e sociais<br />

em geral, tem sublinhado a importância<br />

do respeito pela soberania da República<br />

de Angola, do direito do seu povo<br />

a decidir – livre de pressões e ingerências<br />

externas – o seu presente e futuro,<br />

incluindo da escolha do caminho para a<br />

superação dos reais problemas de Angola<br />

e a realização dos seus legítimos anseios<br />

Ṙeiterando a defesa dos direitos e garantias<br />

dos cidadãos angolanos – e não<br />

se pronunciando sobre as motivações dos<br />

o presidente Abd Hadi -<br />

reconhecido pela Arábia<br />

Saudita, onde se refugiou<br />

aquando da tomada da capital<br />

pelos que o contestam,<br />

considerou, por seu<br />

lado, que o país «está muito<br />

mais seguro» desde o<br />

início da intervenção armada<br />

Ḋia 25, três atentados<br />

suicidas atribuídos ao autoproclamado<br />

Estado Islâmico<br />

fizeram 22 mortos no<br />

Iémen. Dois dias antes, os<br />

EUA afirmaram ter liquidado<br />

dezenas de combatentes<br />

e destruído um campo<br />

de treino supostamente<br />

instalado no território pela<br />

Al-Qaida na Península Arábica.<br />

Tais acontecimentos<br />

não parecem perturbar a<br />

apreciação de Hadi, que a<br />

partir de Riade fez ainda<br />

saber que «será concluída<br />

uma marcha triunfal para<br />

libertar todo o país».<br />

De paz e não de guerra,<br />

falou, ao invés, Ali Saleh,<br />

que na iniciativa de massas<br />

ocorrida em Sanaa garantiu<br />

que «as nossas mãos<br />

continuam estendidas para<br />

uma paz que traga justiça<br />

à população iemenita<br />

(…), a paz que vai estabelecer<br />

um futuro seguro para<br />

o nosso povo e para a<br />

nossa pátria», disse, citado<br />

pela Lusa.<br />

O ex-presidente defende<br />

«um diálogo directo com a<br />

Arábia Saudita» mas rejeita<br />

liminarmente deixar o<br />

poder a Hadi, que qualifica<br />

de «traidor». Não é claro<br />

se o recomeço das negociações<br />

de paz agendadas<br />

para o dia 18 de Abril,<br />

no Koweit, sob a égide das<br />

Nações Unidas, será nos<br />

moldes propostos por Ali<br />

Saleh. Aparentemente seguro<br />

é que ambas as partes<br />

em conflito se vão abster<br />

de combates a partir do<br />

dia 10 do próximo mês.<br />

Ao fim de 12 meses de<br />

guerra, todas as carências<br />

no Iémen foram agudizadas.<br />

Cerca de 80 por cento<br />

dos iemenitas (20 milhões<br />

de pessoas) dependem<br />

total ou parcialmente<br />

de ajuda humanitária. Para<br />

além dos já referidos<br />

hospitais, os bombardeamentos<br />

sauditas também<br />

destruíram cerca de mil escolas,<br />

25 mesquitas e 40<br />

monumentos, alguns classificados<br />

pela Unesco como<br />

Património Mundial. O<br />

conjunto das infra-estruturas<br />

– saneamento básico,<br />

energia, entre outras –, encontra-se<br />

severamente afectado.<br />

cidadãos angolanos envolvidos neste processo,<br />

nem sobre a forma como as autoridades<br />

angolanas intervieram no decurso<br />

deste –, o PCP tem igualmente reiterado<br />

que cabe às autoridades judiciais angolanas<br />

o tratamento deste ou de outros<br />

processos que recaiam no seu âmbito, no<br />

quadro do normal funcionamento das<br />

suas instituições e de acordo com a sua<br />

ordem jurídico-constitucional.<br />

Neste sentido, e não esquecendo a longa<br />

guerra de subversão e agressão externa<br />

que foi imposta ao povo angolano e<br />

que tantos sofrimentos e destruição causou,<br />

o PCP tem sublinhado que não acompanha<br />

campanhas que, procurando envolver<br />

cidadãos angolanos em nome de<br />

uma legítima intervenção cívica e política,<br />

visam efectivamente pôr em causa o<br />

normal funcionamento das instituições angolanas<br />

e desestabilizar de novo a República<br />

de Angola, com a invocação de argumentos<br />

e pretextos já utilizados para<br />

justificar a ingerência externa exercida sobre<br />

outros países, nomeadamente no continente<br />

africano.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!