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DELÍCIAS<br />
Por Adriano Paiva<br />
Receitas sem fronteiras<br />
FOTOS: MARÍLIA CAMELO<br />
Foi por conta do doutorado<br />
que meu pai, José<br />
Airton, foi morar no<br />
México levando toda<br />
a família, inclusive eu,<br />
que ainda era criança.<br />
Por mais rica e exuberante que a<br />
culinária mexicana fosse, sempre<br />
havia saudade da comida de casa.<br />
Estou falando do início da década<br />
de 1980, quando a globalização<br />
ainda não era tão forte como hoje<br />
e encontrar uma comida que<br />
levasse arroz foi quase uma benção<br />
pra lembrar o Brasil. Foi assim<br />
que a paella entrou na história<br />
da nossa família: a saudade dos<br />
pratos brasileiros levou meus pais<br />
a aprenderem como faz a famosa<br />
receita à base de arroz, especiarias<br />
e frutos do mar. A partir daí, a paella<br />
passou a se manifestar em nossas<br />
datas comemorativas.<br />
Na volta ao Brasil, meu pai foi<br />
quase obrigado pelos amigos a fazer<br />
paella, todos queriam provar, e ele<br />
começou a atender encomendas.<br />
Mas era algo esporádico, afinal<br />
de contas, como físico, o foco<br />
profissional dele estava nas aulas<br />
e experimentos na universidade.<br />
Em 2005, meu pai foi fazer um<br />
pós-doutorado em Portugal e<br />
eu tive que assumir a paella por<br />
aqui. Aos poucos fui modificando<br />
a receita da família, até porque<br />
quem cozinha sempre tem uma<br />
coisinha a acrescentar.<br />
Iniciei com os clientes antigos do<br />
meu pai e o boca a boca foi trazendo<br />
mais amantes da paella. Hoje,<br />
a receita já é famosa e ganha cada<br />
vez mais força na nossa cidade.<br />
Mas a minha história com a paella<br />
não para por aí. Acima de tudo,<br />
adoro comer. Mas outra paixão que<br />
tenho é a história. Sempre que viajo,<br />
quero degustar o que não encontro no<br />
Brasil e essa curiosidade por sabores<br />
diferentes dos nossos terminaram me<br />
norteando nas estradas da culinária.<br />
A vontade de descobrir me<br />
conduziu a aprender como cozinhar os<br />
pratos do mundo e comê-los. Passei<br />
um tempo estudando a culinária<br />
europeia medieval, as formas de<br />
conservação, embutidos, defumados,<br />
o que me ajudou a desenvolver<br />
pratos medievais com uma<br />
roupagem mais moderna.<br />
Ser apaixonado por experimentar<br />
a comida de outros povos nos<br />
possibilita também mesclar tudo<br />
isso. As tradições culinárias são<br />
importantíssimas e eu respeito<br />
muito, assim como me deleito com a<br />
gastronomia brasileira, que é inigualável.<br />
Mas podemos imaginar uma<br />
comida sem fronteiras, sem políticos,<br />
sem regras. Então, um marisco<br />
pescado aqui em Fortaleza pode<br />
ser temperado com uma especiaria<br />
indiana, árabe e mexicana. E isso pode,<br />
sim, combinar muito bem. ¤<br />
→→ADRIANO PAIVA TRABALHA COM GASTRONOMIA<br />
HÁ 15 ANOS. ALÉM DA PAELLA, ELE PREPARA<br />
RECEITAS COMO CARNE À CUBANA, COSTELA<br />
DEFUMADA MEDIEVAL E PRATOS COM EMBU-<br />
TIDOS, RESGATANDO A TRADIÇÃO CULINÁRIA<br />
DE DIFERENTES POVOS.<br />
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