<strong>JUNHO</strong> Luís Carlos Este é um mês onde se comemoram as datas queridas e tradicionais do brasileiro e que vêm de um atávico e distante passado. Além das alegres festas caipiras para registrar o início do inverno, entre tantas outras efemérides, as mais conhecidas são aquelas onde se trocam presentes no dia dos namorados; onde se fazem promessas ao santo Antonio casamenteiro (incrível: ainda há casamentos!); onde o quentão não pode faltar no dia de São João; onde se comemora o importante dia do meio ambiente e o não menos importante, o da liberdade de imprensa. Aliás, essa é uma das liberdades que governos e partidos autoritários, mesmo numa democracia, tentam sutilmente ou não, cercear. Mas é neste junho de <strong>2014</strong> que se inicia a tão aguardada Copa do Mundo, na qual somos os anfitriões e onde todos nós torceremos para, mais uma vez, o Brasil ser campeão e isso apesar das inúmeras críticas - que não vêm ao caso aqui elencar -, algumas verdadeiras, outras nem tanto. Talvez já próximo ao final do mês, esperaremos ansiosos algumas vitórias (as quartas de final), as quais, com muito entusiasmo, comemoraremos em julho - se os deuses quiserem - a definitiva. Entretanto, também é neste mês que se recordam os acontecimentos que ocorreram há um ano, em todo o País, os de rebeldia contra o status quo vigente, fatos esses que nunca se viram por aqui em nosso país tradicionalmente pacífico, formado por um povo aparentemente pacato, porém atualmente inconformado, entre tantas e até justas reivindicações - principalmente pela omissão dos políticos que não estão conseguindo captar, com sensibilidade, tal como deveriam -, as insatisfações populares. Será que ainda existirão mais manifestações de revolta, como que a comemorar um B<strong>ED</strong>RAN Sociólogo e articulista da Revista Comércio & Indústria de Araraquara aniversário, apesar da insopitável esperança que é a de ganhar a Copa do Mundo? Será que, em junho, os descontentes com os rumos da economia e da política, já se anteciparão às eleições de outubro, organizando movimentos de protestos? É verdade que já estamos mais do que vacinados contra essa história (conversa mole para boi dormir) de misturar futebol e política. O que pode acontecer, talvez (ou melhor, quase com certeza), é a situação tentar avidamente procurar capitalizar para si uma eventual vitória e a oposição, da mesma forma, uma eventual derrota. Porém, com relação a esta, não acreditamos, pois não interessa a ela ir contra o nosso popular esporte, contra o nosso maior entretenimento. Porém, o que se nota, de uns tempos para cá, é que o Brasil mudou radicalmente. O brasileiro está muito mais politizado (a maioria, segundo as últimas pesquisas nem concorda mais com o voto obrigatório); está mais apressado (talvez influenciado pela velocidade das comunicações, internet, celular - aliás, um fenômeno universal -); mais nervoso (do qual os recentes linchamentos são prova) e mais exigente sobre o seu viver. Nas festas juninas, principalmente durante os jogos da Copa, possivelmente haverá uma trégua. Talvez possamos esquecer o aniversário dos protestos do ano passado e assim então tomaremos quentões nas quermesses, faremos churrascos com muita cerveja (ainda a preços módicos), comeremos pipocas para diminuir a ansiedade em frente à TV, saborearemos feijoadas com a inseparável caipirinha, enfim, tudo o que tivermos direito. Aliás, merecemos, porque ninguém é de ferro. Mesmo porque, depois de agosto, o mês geralmente sombrio e agourento, sabe-se lá o que poderá acontecer. Pois as candidaturas já estarão definidas (será que D. Sebastião voltará?) na espera de outubro, esse o verdadeiro o mês fatídico. Aí então é que virão as surpresas, boas ou más. 82
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