RCIA - ED. 111 - OUTUBRO 2014
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AS HISTÓRIAS<br />
De joelhos para<br />
pagar promessa<br />
Mas, quem é aquele baixinho<br />
debaixo dos três paus? É o<br />
goleiro do Tamoio? Sim, é<br />
Wilson Menon. A altura era<br />
uma desconfiança para o<br />
adversário. Por não ser tão alto,<br />
perto dos seus 1,75m, Menon<br />
tinha grande impulsão, o que<br />
era um grande diferencial<br />
para o goleiro na época.<br />
Wilson Menon,<br />
mergulha no passado<br />
e relembra com a<br />
Revista Comércio &<br />
Indústria, os momentos<br />
vividos como goleiro<br />
do time de futebol<br />
campeão da Tamoio<br />
em 1979 - trinta e<br />
cinco anos depois.<br />
Ele se emocionou.<br />
Elvio Perassoli,<br />
o Charuto, com a<br />
esposa Neusa<br />
“Joguei por 18 anos no Tamoio. Para mim<br />
era uma grande responsabilidade representar<br />
o time e a empresa. Quando tinha os jogos no<br />
Estádio Comendador Freitas, me sentia em<br />
um time grande ao ver a torcida inflamada. Era<br />
muito bom aquilo”, recorda hoje em sua casa<br />
o goleiro Menon.<br />
Das boas lembranças vem um lance inusitado<br />
na final do campeonato de 1979: “Estava<br />
com 35 anos. Era meu último ano no Tamoio.<br />
Queria muito ganhar aquele título e prometi<br />
para mim mesmo: se eu ganhar vou atravessar<br />
o campo de joelhos”. E os 3x2 foram o<br />
suficiente para que a partida ganhasse requintes<br />
de emoção, sofrimento e alegria para que<br />
Menon fizesse o trajeto de uma lateral a outra<br />
de joelhos. “Não me contive. Logo após o apito<br />
final, fui até a lateral, me ajoelhei e segui<br />
em frente. Alguns torcedores haviam invadido<br />
o campo querendo tirar a minha camisa e os<br />
companheiros queriam me abraçar. Falei para<br />
ninguém tocar em mim até que concluísse o<br />
percurso (risos)”.<br />
Outro personagem importante na história<br />
do futebol do Tamoio foi Élvio Perassoli, o popular<br />
Charuto. Da família que nasceu e viveu<br />
na Usina, Charuto seguiu os mesmos passos<br />
e criou a sua nas terras da família Morganti.<br />
Apaixonado por futebol, jogou como volante<br />
por 20 anos, entre as seções e o time principal<br />
da Usina. “Nasci, cresci e criei minha família<br />
lá. Era algo surreal, coisa que não vemos mais<br />
hoje em dia. As colônias, as fazendas, as pessoas,<br />
as amizades. Tudo. O cinema que havia<br />
se instalado na igreja de Tamoio e fora dela.<br />
Hoje só resta a saudade e eu agradeço muito<br />
pelo que Pedro Morganti fez por mim e por todos<br />
da Tamoio”.<br />
Para Charuto, a Usina Tamoio parecia um<br />
distrito. Chegou a ter cerca de 13 mil habitantes<br />
nas colônias que haviam nas seções. Todas<br />
as fazendas aos arredores da Usina foram<br />
compradas por Pedro Morganti. O tratamento<br />
era de puro luxo, tanto que na Santa Casa de<br />
Araraquara havia uma ala especial apenas<br />
para quem trabalhava na Tamoio, já que na<br />
“cidade Tamoio” havia apenas um ambulatório.<br />
Outra peculiaridade que acontecia na<br />
Usina, era um campeonato um tanto quanto<br />
diferente, o qual Charuto recorda. “A esposa<br />
de Pedro Morganti, Janina, e o seu filho, Hélio,<br />
organizavam vários eventos dentro da Tamoio.<br />
Entre eles era o campeonato de corte de cana,<br />
o qual reunia as seções de toda a Usina”.<br />
Em 1955, a Usina Tamoio foi palco de<br />
uma produção cinematográfica. Com direção<br />
de Carlos Coimbra, “Armas da Vingança” com<br />
o galã Hélio Souto e Vera Nunes. O filme narra<br />
a história de um fazendeiro que está prestes<br />
a falir. Para salvar a fazenda, a filha se casa<br />
com o irmão do futuro noivo, causando indignação<br />
na família. Porém, o marido morre de<br />
forma precoce, fazendo com que a moça se<br />
reaproxime da sua antiga paixão. O filme le-<br />
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vou o Prêmio Saci de melhor filme, fotografia<br />
e composição, além de ter Luigi Picchi como<br />
o melhor ator.<br />
As histórias de Tamoio não param por aí.<br />
O homem e a mulher que ali trabalhavam,<br />
cortando e carregando cana à locomotiva que<br />
cruzava Araraquara/Ibaté todos os dias, sempre<br />
fez com que a alegria no plantio e na hora<br />
da colheita ficasse depositada nas confraternizações<br />
de 1° de maio em seu estádio e por<br />
toda a Usina.<br />
Nos jogos da equipe, a torcida criou uma<br />
marchinha. Pouco tempo depois, a marchinha<br />
foi adotada por todos como o hino oficial da<br />
Usina Tamoio, fato raro para uma equipe amadora.<br />
Confira a letra na íntegra:<br />
“Ê... Tamoio (4x)<br />
Tamoio<br />
Terra bonita<br />
Tão alegre e tão gentil<br />
Terra do trabalho<br />
Onde ao soar do malho<br />
Se constrói um novo e fecundo Brasil<br />
Tamoio<br />
Terra da cana<br />
Do açúcar e da água ardente<br />
Terra da loirinha<br />
E da morena engraçadinha<br />
Que encanta e prende o coração da gente<br />
Venha Tamoio<br />
Venha conhecer<br />
A maior usina<br />
Deste meu Brasil<br />
Na paz luminosa dos campos de casa<br />
Na rubra e ardente fornalha<br />
Contente e feliz<br />
Cantando e feliz<br />
Cantando trabalha<br />
Um povo viril”