RCIA - ED. 111 - OUTUBRO 2014
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Luís Carlos<br />
B<strong>ED</strong>RAN<br />
Sociólogo e articulista da Revista<br />
Comércio & Indústria de Araraquara<br />
VIAGEM À APARECIDA<br />
Se há duas datas importantes para mim neste<br />
outubro (dois aniversários de familiares), há outras<br />
duas muito mais para a Nação: presumivelmente<br />
chegaremos ao segundo turno e então teremos um<br />
novo presidente.<br />
Também não podemos deixar de comemorar<br />
o Dia das Crianças e o dos Professores, esses abnegados<br />
e abnegadas que lutam para que nossos<br />
filhos sejam, pela educação, bons cidadãos para<br />
forjar nosso país.<br />
Mas há um outro que quero registrar: o Dia de<br />
Nossa Senhora de Aparecida.<br />
Depois de muitos e muitos anos voltei à cidade<br />
de Aparecida em companhia de duas pessoas muito<br />
queridas para que elas pudessem cumprir uma<br />
promessa. Foi num domingo de missa, aliás, missas<br />
consecutivas, acompanhadas por milhares de romeiros<br />
ou visitando o santuário e outras tantas, cumprindo<br />
promessas prometidas, às vezes há muito<br />
tempo e vindas de todos os Estados do País, pelas<br />
centenas e centenas de ônibus e carros lá estacionados.<br />
E tudo na maior paz de espírito, sem confusões,<br />
todos unidos em torno da fé na santa, numa<br />
devoção tranquila, aparentando um sentimento de<br />
dever cumprido, de desejo realizado.<br />
Gente rica, de Mercedes, mas também, a<br />
grande maioria, de pessoas humildes, que viajaram<br />
centenas e centenas de quilômetros em ônibus e<br />
que, depois de assistirem à missa, foram lanchar na<br />
enorme praça de alimentação e depois comprar os<br />
souvenirs, as imagens da santa, pequenas lembranças<br />
que foram previamente benzidas para presentear<br />
aos amigos e familiares e até mesmo para ser<br />
cultuadas e colocadas num nicho todo especial em<br />
suas casas, casebres ou mansões.<br />
Pobres e ricos, homens e mulheres, jovens<br />
e idosos, negros e brancos. Como aquela idosa<br />
senhora, arrastando-se de joelhos, num sacrifício<br />
físico extremamente extenuante, para chegar ao<br />
altar e receber a benção do padre celebrante da<br />
missa; como aqueles jovens, já possuidores de<br />
uma fé inabalável, alegres e contentes em participar<br />
das orações e, depois, felizes, retornar aos<br />
seus lares e dizer que viram a imagem da santa,<br />
mostrada com reverência pelo padre e depois devolvida<br />
ao seu altar.<br />
E aquela corrente de gente, numa fila sem confusões,<br />
todos a reverenciar a pequena, mas poderosa<br />
imagem de Nossa Senhora em seu nicho, devidamente<br />
protegida. Cumprindo promessas e retornando<br />
às suas cidades, com a sensação de missão cumprida<br />
e, mais ainda, com sua fé renovada.<br />
Não cheguei a ir à Basílica Velha erigida no<br />
local onde a santa foi encontrada por pescadores<br />
no Rio Paraíba do Sul, mas vi aquela enorme corrente<br />
humana visitando-a. E é preciso muito fôlego<br />
para o romeiro conseguir conhecer aquele, hoje,<br />
centro turístico religioso, pois não se pode deixar de<br />
visitar a Sala dos Milagres, decorada pelas milhares<br />
de fotos pregadas no teto e, principalmente, pelas<br />
centenas e centenas de ex-votos expostos nas<br />
vitrines, além das mensagens, muitas delas comoventes<br />
e sentimentais, agradecendo aos milagres.<br />
Os primeiros milagres, como o das duas velas que<br />
apagadas, acenderam-se espontaneamente, com<br />
a interferência da santa; como o do escravo, que,<br />
acorrentado, pediu ao seu senhor permissão para<br />
rezar, e as correntes, milagrosamente, soltaram-se<br />
de seus pulsos; como o do cavaleiro de Cuiabá que,<br />
passando pela cidade, quis tripudiar da devoção<br />
dos seus humildes moradores e ao tentar entrar a<br />
cavalo na igreja, a pata do animal fixou-se numa<br />
pedra, impedindo-o de penetrar no lugar santo e depois<br />
o homem tornou-se devoto da santa (a pedra,<br />
com a marca da ferradura, está exposta no Salão<br />
dos ex-votos); o da menina cega; o do menino que<br />
caiu no rio, mas que foi salvo do afogamento pelo<br />
pai, após pedido de salvação para Aparecida e o do<br />
caçador que, ao se deparar com uma onça no meio<br />
do caminho, rogou pela santa e o animal foi embora.<br />
E no imenso painel mural do Salão dos Milagres,<br />
há a representação pictórica do encontro da<br />
imagem por três pescadores, em 1717, que, ao lançarem<br />
suas redes para pescar peixes no Rio Paraíba<br />
do Sul para complementar o almoço do Conde de<br />
Assumar, hospedado na Vila de Guaratinguetá, que<br />
a visitava e que era governador da então Província<br />
de São Paulo, encontraram o corpo do ícone. Logo<br />
em seguida, em novo lance, encontraram a cabeça<br />
e então, num verdadeiro milagre, capturaram tantos<br />
peixes que o barco quase adernou.<br />
A imagem da santa ficou com a família de<br />
um dos pescadores e que embora alguns padres<br />
tivessem tentado levá-la para Guaratinguetá, ela<br />
foi devolvida ao local onde foi encontrada, perto do<br />
Porto de Itaguaçu. Posteriormente, no Morro dos<br />
Coqueiros, em 1735, foi erigida uma capela em<br />
sua homenagem, local onde está situada a Basílica<br />
Velha. A construção da nova foi iniciada em 1955 e é<br />
tão grandiosa que só perde para a de Roma, na Itália.<br />
E os agradecimentos pelos milagres da santa<br />
lotam o salão com seus objetos representativos,<br />
como garrafas de aguardente, provando que o<br />
crente deixou de beber, pagando promessa à santa;<br />
como facas e revólveres que não atingiram seus<br />
objetivos e até mesmo uma curiosidade: panelas de<br />
pressão estouradas que, certamente, por um verdadeiro<br />
milagre, não feriram as donas de casa que as<br />
utilizaram. Promessas todas que foram cumpridas.<br />
Mesmo ou principalmente para um tolerante<br />
descrente, não pude deixar de ficar extremamente<br />
comovido e sensibilizado com a fé daquela multidão<br />
de devotos e nem de deixar de ser solidário com todos<br />
eles, respeitando-os profundamente por crerem<br />
como creem.<br />
Por isso rendo aqui minhas homenagens à<br />
Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil,<br />
em seu dia, 12 de outubro, para que proteja as nossas<br />
famílias, o nosso país e todo mundo, pois estamos<br />
precisando e muito. Amém.<br />
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