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NO Revista Janeiro 2019

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sumário<br />

janeiro<br />

2020<br />

05<br />

ENTREVISTA<br />

À Mesa Com MIGUEL CASTRO OLiVEIRA<br />

43<br />

CRÓNICA<br />

ANTÓNIO VENTURA<br />

13<br />

26<br />

30<br />

36<br />

REPORTAGEM<br />

O IMPACTO DA GUERRA DO ULTRAMAR <strong>NO</strong>S<br />

AÇORES<br />

ENTREVISTA<br />

DEPUTADA BÁRBARA CHAVES<br />

reportagem<br />

a relação entre o espólio arqueológico<br />

e os públicos mais jovens<br />

CRÓNICA<br />

jOÃO CASTRO<br />

53<br />

56<br />

58<br />

62<br />

REPORTAGEM<br />

GALERIA FONSECA MACEDO<br />

crónica<br />

leituras desalinhadas<br />

reportagem<br />

víctor alves - a abordagem<br />

"pragmática" da guerra civil portuguesa<br />

destaque<br />

top notícias <strong>2019</strong><br />

o político do ano<br />

MURAL FÉNIX<br />

COMISSÃO DELTA<br />

josé contente 20 38 44<br />

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editorial<br />

O Ciclo<br />

Passado o ano de <strong>2019</strong> e entrados<br />

em 2020, costuma ser tempo<br />

de fazer balanços e projetar<br />

conjunturas.<br />

Elencar um conjunto de destaques<br />

positivos na Região Autónoma dos<br />

Açores em <strong>2019</strong> será uma tarefa<br />

muito difícil ou mesmo impossível.<br />

Elencar o negativo será, também,<br />

uma tarefa muito difícil numa<br />

revista com 60 páginas.<br />

Posto isto, nada melhor que<br />

enveredar por uma análise<br />

sintetizada daquilo que foi <strong>2019</strong> e<br />

daquilo que se espera de 2020.<br />

O ano de <strong>2019</strong> ficou marcado por<br />

uma perda insubstituível na política<br />

Regional com o falecimento do<br />

Eurodeputado André Bradford.<br />

Todas as palavras serão escassas<br />

para o descrever e homenagear,<br />

permanecendo o incomodativo<br />

vazio que se torna evidente.<br />

No quadro da ação política, podese<br />

destacar o novo ciclo do PSD/A<br />

que, em 8 anos, conhece o seu<br />

quarto presidente. José Bolieiro<br />

reuniu consensos e prepara-se para<br />

começar um novo ciclo interno e<br />

quebrar o ciclo externo, o socialista.<br />

A inércia ou compaixão do<br />

Governo Socialista manteve-se<br />

igual a si mesmo, está tudo bem<br />

e recomenda-se para o interior.<br />

Com tantos problemas na região<br />

e secretários regionais a mostrar<br />

desgaste e incapacidade, Vasco<br />

Cordeiro não mexe no Governo para<br />

dar a entender uma cumplicidade<br />

de união. Está órfã de razão. Em<br />

termos desportivos, equipa que<br />

vence não se mexe, entendimento<br />

análogo encontrado por Vasco<br />

Cordeiro na versão que em equipa<br />

que perde não se mexe.<br />

O outro episódio político que<br />

merece destaque é a epidemia de<br />

interesses dentro do CDS/A.<br />

Não se percebe que um partido<br />

como o CDS/A entre neste ciclo<br />

conturbado, ao invés de aproveitar o<br />

desgaste de uma direita moribunda<br />

nos Açores e retirar dividendos<br />

significativos. O timing para os<br />

democratas cristãos inquietos é<br />

como uma cenoura sedutora.<br />

Por muito que Artur Lima seja<br />

indesejado por fações nostálgicas<br />

dentro do partido, na verdade<br />

ele tem conseguido resultados<br />

eleitorais que desmontam qualquer<br />

armadilha ancorada em falsos ideais<br />

e silvestres arrufos.<br />

O Bloco de Esquerda, sem rumo<br />

depois da saída de Zuraida Soares,<br />

remeteu-se ao papel de presenças<br />

e manifestações altruístas em<br />

qualquer dobrar de esquina.<br />

João Paulo Corvelo revela um<br />

espírito de despedida, mantendo os<br />

níveis de subsistência.<br />

O PPM, resiliente, mantém o seu<br />

rumo, tendo sido muitas vezes<br />

a bengala do PSD/A, apesar de<br />

apresentar mais trabalho que os<br />

próprios. O ataque cerrado ao PS<br />

do deputado Paulo Estêvão tem-no<br />

mantido na agenda política.<br />

Para 2020, ano de eleições, iremos<br />

ter um combate na esfera da<br />

manutenção, embora se descortine<br />

uma maior pulverização no<br />

hemiciclo do parlamento regional. A<br />

democracia e o populismo são isso<br />

mesmo.<br />

Os socialistas temem a perda<br />

da maioria absoluta por via da<br />

legislação eleitoral que abriu o<br />

círculo de compensação, o que<br />

irá permitir aos partidos recentes<br />

poderem eleger deputados por<br />

esse círculo, reduzindo assim a<br />

amplitude socialista. Por outro<br />

lado, José Manuel Bolieiro irá<br />

tentar, pelo círculo de São Miguel,<br />

quebrar o ciclo dos sete deputados,<br />

reduzindo assim a possibilidade de<br />

uma maioria absoluta para Vasco<br />

Cordeiro.<br />

Com o desgaste socialista e os<br />

problemas que a região enfrenta,<br />

Vasco Cordeiro perdeu o timing<br />

para a preparação da pré-campanha,<br />

pois teria dado sinais diferentes<br />

se a mesma tivesse começado em<br />

setembro com a renovação do<br />

governo. O tempo escassa e as<br />

eleições estão a poucos meses de<br />

distância.<br />

RUI SIMAS<br />

DIRETOR<br />

Ficha Técnica:<br />

ISSN 2183-4768<br />

Proprietário Associação Agenda de Novidades<br />

NIF 510570356<br />

Sede de Redação Rua da Misericórdia, 42, 2º Andar,<br />

9500-093 Ponta Delgada<br />

Sede do Editor Rua da Misericórdia, 42, 2º Andar,<br />

9500-093 Ponta Delgada<br />

Diretor/Editor Rui Manuel Ávila de Simas CP3325A<br />

Subdiretor João Rocha CP 2926<br />

Redação Rui Santos TPE-288 A, Claúdia Carvalho<br />

TPE-288 A, diogo costa TPE-298-A<br />

Revisão ana sofia massa<br />

Paginação leonor manaças<br />

Captação e Edição de Imagem Rodrigo Raposo,<br />

RAQUEL AMARAL<br />

Departamento de Marketing e Comunicação CILA<br />

CIMAS, Leonor Manaças<br />

marketing digital raquel amaral<br />

MULTIMÉDIA RODRIGO RAPOSO<br />

informática joão botelho<br />

Relações Públicas Cila Simas<br />

Nº Registo ERC 126 641<br />

Colaboradores antónio ventura, João Castro,<br />

ricardo silva<br />

Contactos marketing@agendadenovidADES.COM<br />

Estatuto Editorial:<br />

A <strong>NO</strong> é uma revista de âmbito regional (não ficando<br />

excluídos os países de língua portuguesa e<br />

comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo).<br />

A <strong>NO</strong> disponibiliza informação independente e<br />

pluralista relacionada com a política, cultura<br />

e sociedade num contexto regional, Nacional e<br />

Internacional.<br />

A <strong>NO</strong> é uma revista autónoma, sem qualquer<br />

dependência de natureza política, ideológica<br />

e económica, orientada por critérios de rigor,<br />

isenção, transparência e honestidade.<br />

A <strong>NO</strong> é produzida por uma equipa que se compromete<br />

a respeitar os direitos e deveres previstos na<br />

Constituição da República Portuguesa; na Lei de<br />

Imprensa e no Código Deontológico dos Jornalistas.<br />

A <strong>NO</strong> visa combater a iliteracia, incentivar o gosto<br />

pela leitura e pela escrita, mas acima de tudo,<br />

promover a cidadania e o conhecimento.<br />

A <strong>NO</strong> rege-se pelo cumprimento rigoroso das<br />

normas éticas e deontológicas do jornalismo e<br />

pelos princípios de independência e pluralismo.<br />

04 <strong>NO</strong>JAN20


entrevista<br />

à mesa com<br />

Miguel Castro Oliveira<br />

director executivo - ceo da i am event production & brand consultancy<br />

cila simas<br />

Tenho comigo Miguel<br />

Oliveira, o CEO da empresa<br />

I AM Events, uma empresa<br />

do norte de Portugal que já<br />

chegou aos Açores, aliás, já<br />

fez um evento nos Açores e<br />

está de regresso à Região para<br />

mais eventos. Miguel, quero<br />

conhecer um bocadinho mais,<br />

quero que me contes, que me<br />

fales um pouco mais sobre o<br />

que é a empresa I AM Events.<br />

I AM Events é uma empresa<br />

com a pronúncia do norte,<br />

estando no mercado há cerca<br />

de cinco anos. Nós fazemos<br />

produção de eventos globais,<br />

consultoria para marcas,<br />

contratação de artistas, etc.<br />

Eestamos de regresso aos<br />

Açores como disse e muito<br />

bem, passado quatro anos,<br />

para voltar com um evento<br />

gastronómico, neste caso<br />

“Francesinha In Azores”,<br />

que, ao fim de algumas<br />

tentativas, vai conseguir marcar<br />

presença novamente. Ficam<br />

já convidados para no fim de<br />

semana de 2,3,4 e 5 de abril de<br />

2020 marcarem presença aqui,<br />

em São Miguel, no Pavilhão da<br />

Associação Agrícola.<br />

Relativamente à ilha, São<br />

Miguel tem, de há alguns<br />

anos para cá, chamado,<br />

digamos assim, para virmos<br />

cá. Fizemos já consultoria a<br />

algumas empresas cá e, agora<br />

sim, estamos com vontade de<br />

estar mais presentes nesta ilha<br />

e fazer alguns eventos que<br />

não podemos estar agora a<br />

divulgar, mas que, com certeza,<br />

brevemente, traremos muitas<br />

novidades.<br />

Miguel, será só São Miguel o<br />

destino deste regresso ou estão<br />

já outras ilhas no horizonte?<br />

Quando nós optámos pelo nome<br />

de “Francesinha in Azores” foi<br />

exatamente a pensar nas outras<br />

ilhas também. Portanto, São<br />

Miguel vai ser a primeira ilha<br />

a ter o evento, mas sim, já há<br />

outros planos para outras ilhas<br />

do arquipélago dos Açores.<br />

Eu agora gostava que me<br />

<strong>NO</strong>JAN20 05


entrevista<br />

vídeo<br />

ENTREVISTA disponível EM VÍDEO NA REVISTA ONLINE<br />

"<br />

Os Açores têm<br />

uma beleza<br />

própria que<br />

por si só é<br />

cativante,<br />

mesmo sem<br />

estar na moda.<br />

As pessoas<br />

são muito<br />

especiais, a<br />

pronúncia<br />

é muito<br />

cativante.<br />

falasses um pouco do que é<br />

a I AM Event, porque cinco<br />

anos já são muitos anos no<br />

mercado, principalmente<br />

no mercado continental. O<br />

que é que vocês têm feito no<br />

continente português?<br />

Nós temos feito um pouco de<br />

tudo. Nós temos feito desde a<br />

música ao teatro, à consultoria<br />

em algumas marcas que<br />

temos o prazer de trabalhar<br />

e de ter ajudado a crescer<br />

no parâmetro nacional, que<br />

não quero estar aqui a frisar<br />

nenhum nome em específico<br />

porque seria injusto para<br />

todos os outros clientes, mas<br />

acima de tudo, nós somos<br />

uma empresa que está pronta<br />

para dar resposta a qualquer<br />

desafio, de qualquer marca,<br />

de qualquer empresa. Um<br />

cliente que tenha um desafio<br />

é o que nós queremos, ou<br />

seja, estamos preparados para,<br />

com as parcerias que temos,<br />

estarmos presentes em todo o<br />

tipo de eventos.<br />

Naquilo que foi o passado<br />

da I AM Event, existe<br />

algum evento que te tenha<br />

marcado, não só pelo desafio<br />

mas também pelo gosto de o<br />

fazer?<br />

É muito complicada essa<br />

questão, muito complicado<br />

mesmo, porque eu tenho<br />

vários eventos que me<br />

06 <strong>NO</strong>JAN20


entrevista<br />

marcaram. Não consigo<br />

especificar aqui um mais<br />

que o outro. Estava a tentar<br />

aqui lembrar-me de um que<br />

tivesse… Acima de tudo, tenho<br />

o prazer de fazer o que gosto,<br />

portanto todos os eventos<br />

que são realizados, são-no<br />

com prazer. Seja de grande<br />

dimensão, ou de pequena<br />

dimensão, é sempre um<br />

prazer. Claro que me lembro<br />

do primeiro evento, porque é<br />

o primeiro e esse marca-nos<br />

sempre de forma especial.<br />

Foi a primeira fatura que a<br />

empresa emitiu. Lembro-me<br />

desse evento, mas mais uma<br />

vez, sem estar aqui a focar<br />

nomes de empresas ou marcas,<br />

tenho esse “contentinho”<br />

especial. Se virem o nosso<br />

site em iamevents.pt,<br />

podem reparar que temos lá<br />

dezenas de clientes, desde<br />

Câmaras Municipais, marcas<br />

internacionais, e seria injusto<br />

estar aqui a destacar uma ou<br />

outra sem mencionar todas.<br />

Mas sim, esse primeiro é só<br />

pelo facto de ter sido a primeira<br />

fatura que nós passámos e eu<br />

lembro-me perfeitamente disso,<br />

só por isso. De resto, todos eles<br />

têm um lugar especial.<br />

Vir para os Açores, o que é<br />

que te atrai nos Açores? É só<br />

porque está na moda?<br />

No primeiro evento que fizemos<br />

nos Açores, em 2016, não<br />

existia o número de carros<br />

alugados que se vêm agora<br />

nas estradas, nem coisa que<br />

se parecesse. O desafio foi<br />

fazer um evento diferente,<br />

portanto, não trouxemos um<br />

único produto do continente,<br />

trouxemos apenas a mãode-obra<br />

e todos os produtos<br />

foram regionais. O pão, o<br />

queijo, os enchidos, carnes.<br />

Foi interessante porque nós<br />

tivemos que acabar o evento<br />

mais cedo no outro dia, porque<br />

terminámos com a carne na<br />

ilha, que estava cortada. Era<br />

fim-de-semana, os talhos<br />

estavam encerrados. Foi muito<br />

engraçado porque, em 2016,<br />

sem esta moda que se vê<br />

hoje em dia, o evento foi um<br />

sucesso, portanto, nem quero<br />

imaginar como vai ser agora<br />

em 2020, no qual está na moda<br />

os Açores. Mas não fugindo<br />

à questão, os Açores têm uma<br />

beleza própria que por si só é<br />

cativante, mesmo sem estar na<br />

moda. As pessoas são muito<br />

especiais, a pronúncia é muito<br />

cativante. Nós estamos em<br />

Portugal, é como ir a Lisboa,<br />

como ir ao Algarve fazer<br />

um evento, sendo que, esta<br />

barreira que existe, que é o<br />

mar, faz-nos às vezes pensar<br />

que vamos para outro local,<br />

para outro país. Estamos em<br />

Portugal, numa zona muito<br />

bonita que eu especialmente<br />

"i am. we are.<br />

they are."<br />

é o slogan da<br />

i am, agência<br />

de produção de<br />

eventos globais<br />

e de consultoria<br />

para marcas.<br />

<strong>NO</strong>JAN20 07


entrevista<br />

A <strong>NO</strong> REVISTA sentouse<br />

à mesa com Miguel<br />

Castro Oliveira, Diretor<br />

Executivo - CEO da I AM.<br />

Com sede em Vila Nova<br />

de Gaia e com grandes<br />

projectos desde 2015, a<br />

I AM foi criada com base<br />

na ideia de afirmação de<br />

uma identidade única.


entrevista<br />

adoro. Não querendo dizer que<br />

é só São Miguel, mas é a ilha<br />

que melhor conheço. Já tive a<br />

oportunidade de vir cá algumas<br />

vezes e conheço bastante bem.<br />

Tem uma beleza natural, as<br />

pessoas são espetaculares,<br />

portanto, acho que isso não se<br />

explica, sente-se. É chegares cá<br />

e sentires-te bem.<br />

Miguel, este evento da<br />

“Francesinha In Azores”,<br />

que já começa pela alteração<br />

do próprio nome, traz um<br />

conceito diferente? Há<br />

algumas alterações naquilo<br />

que foi em 2016 o “Festival<br />

das Francesinhas”?<br />

Acima de tudo houve um<br />

erro que foi chamar Festival<br />

das Francesinhas em 2016.<br />

Não devia ter sido chamado<br />

Festival das Francesinhas<br />

porque deu uma ideia errada às<br />

pessoas do que é que seria e daí<br />

corrigirmos para “Francesinha<br />

In Azores”, porque isto é um<br />

evento gastronómico e não um<br />

festival.<br />

Como tu disseste há<br />

bocadinho, fizeram questão<br />

de utilizar tudo aquilo que era<br />

açoriano, portanto, realmente<br />

este nome escolhido para 2020<br />

tem mui to mais a ver com<br />

aquilo que se vai passar do<br />

que propriamente o “Festival<br />

das Francesinhas”, porque<br />

vem de fora o chef, mas<br />

depois aquilo que é utilizado<br />

cá é açoriano.<br />

Certíssimo. O conceito vai<br />

manter-se nesse aspeto. Todos<br />

os produtos serão comprados<br />

e selecionados cá. Lembrome<br />

que em 2016 tivemos<br />

uma situação com o pão,<br />

porque o pão de cá não era<br />

tão bom para a francesinha<br />

porque “chupava” muito o<br />

molho, ficava ensopado, e nós<br />

tivemos que andar a trabalhar<br />

para alterar. Na altura foi um<br />

processo bastante interessante.<br />

Nesta altura já não vai ser<br />

preciso fazer isso, já temos<br />

esse fornecedor com esse pão<br />

preparado, mas sem dúvida<br />

nenhuma, todos os produtos vão<br />

ser de São Miguel.<br />

Se fores fazer este evento<br />

na ilha Terceira ou na ilha<br />

do Faial, o conceito vai ser<br />

o mesmo? A utilização dos<br />

produtos açorianos como<br />

marca dos teus eventos nos<br />

Açores?<br />

Sim, sem dúvida. A única coisa<br />

que andará com a I AM serão as<br />

pessoas e a sabedoria, o segredo<br />

do molho e a confeção. Todos<br />

os produtos serão sempre da<br />

ilha onde nós estivermos a fazer<br />

o evento.<br />

Naquele que diz respeito<br />

ao staff que tu trazes de<br />

fora, que ainda não é tão<br />

pequeno como isso, este<br />

staff é escolhido por ti? Vai<br />

fazer uma visita primeiro ao<br />

espaço? Como é que isto tudo<br />

se processa?<br />

Esse processo passa mesmo<br />

só por mim – a seleção. É um<br />

processo muito próprio. Eu<br />

identifico algumas empresas<br />

que gostaria que fizessem e<br />

depois, por algum motivo,<br />

não especial, seleciono uma<br />

e faço o convite. As pessoas,<br />

de facto, são pessoas que nós<br />

conhecemos há muitos anos<br />

e que já trabalham também<br />

no continente. Lembro-me<br />

de um dos parceiros que será<br />

o próximo a vir cá, mas que<br />

para nós não é o importante,<br />

ou seja, nós não vimos para<br />

cá promover o restaurante<br />

do Porto que vem cá fazer as<br />

francesinhas. Nós estamos cá a<br />

fazer um evento gastronómico<br />

nos Açores e esse é o que<br />

nós queremos promover – os<br />

produtos regionais com a<br />

francesinha do Porto, com<br />

o molho especial do Porto,<br />

mas não é importante qual é a<br />

empresa que o vem fazer. Não é<br />

esse o cerne da questão.<br />

Não é importante quem o<br />

vem fazer, mas é importante<br />

que quem o vem fazer o saiba<br />

fazer em condições. Como<br />

disseste, o segredo está no<br />

molho. Lá pelos condimentos,<br />

pelas carnes, o chouriço,<br />

o pão e toda esta parte da<br />

francesinha ser regional, o<br />

segredo está em quem vem<br />

fazer o molho, em quem vem<br />

preparar a francesinha.<br />

Inclusive as compras para a<br />

confeção do molho são feitas<br />

pelos chefes. Nós não vamos<br />

com eles às compras, eles não<br />

querem. Nós só pagamos. Eles<br />

não querem que nós vejamos<br />

as quantidades – “não, isto é<br />

nosso. Vocês podem fazer o<br />

que quiserem, tirar o queijo,<br />

pôr o queijo, pôr as carnes”,<br />

mas o molho só há duas ou<br />

<strong>NO</strong>JAN20 09


WWW.<strong>NO</strong>REVISTA.PT | <strong>NO</strong><br />

três pessoas que vão fazer as<br />

compras e que sabem o que<br />

estão a comprar. As marcas dos<br />

vinhos, as marcas dos produtos,<br />

as quantidades, tudo é segredo<br />

deles.<br />

Fala-nos um bocadinho<br />

daquilo que são os cinco<br />

anos de experiência que<br />

a tua empresa tem feito.<br />

Costuma-se dizer que a<br />

barreira dos cinco anos,<br />

quando é ultrapassada, é<br />

sucesso (quase) garantido.<br />

Do que está para trás, o que<br />

nos podes dizer? Quais foram<br />

os eventos mais marcantes<br />

ou o que é que te marcou na<br />

história da I AM?<br />

Marcaram-me muitos eventos<br />

na história, mas dando aqui<br />

alguns exemplos que me vêm já<br />

à cabeça – lembro-me da Comic<br />

Con Portugal, em 2018, que<br />

foi a primeira vez que a Comic<br />

Con foi feita ao ar livre como<br />

nunca tinha sido em nenhum<br />

país, o conceito era sempre em<br />

pavilhões fechados. São quase<br />

100 mil metros de espaço para<br />

um evento. Lembro-me também<br />

com a BMW, em que ganhámos<br />

um prémio de criatividade,<br />

em 2018. Ganhámos também,<br />

na área desportiva, com a<br />

apresentação do Sporting Clube<br />

de Braga (SCB), o Braga Day,<br />

no qual ganhámos também<br />

o melhor evento desportivo.<br />

Esses eventos, nomeadamente o<br />

da BMW e do SCB, que foram<br />

dois prémios que nos foram<br />

atribuídos, são eventos que<br />

têm algum peso, não porque<br />

os outros foram melhores ou<br />

piores, mas esse prémio e<br />

esse reconhecimento é, um<br />

bocadinho, um reconhecimento<br />

de todos os eventos. Esses<br />

são dois eventos que, tanto<br />

um como outro, nos deixaram<br />

muito orgulhosos de ir erguer o<br />

troféu ao palco.<br />

Miguel, relembrando as datas<br />

deste evento no pavilhão da<br />

Associação Agrícola – 2, 3, 4<br />

e de abril – porque o nosso<br />

OCS não está só na RAA,<br />

está também para as nossas<br />

comunidades, para o resto<br />

do Mundo. Muitas mais<br />

pessoas te irão ouvir e ter<br />

conhecimento deste evento.<br />

Para 2020, o que é que podes<br />

“levantar um bocadinho mais<br />

o véu” daquilo que a tua<br />

empresa irá fazer?<br />

Nós em 2020 vamos, acima<br />

de tudo, dar um salto na<br />

criatividade. Essa vai ser uma<br />

das grandes diferenças para<br />

2020 da I AM. Deixar de ser<br />

só produção e consultoria para<br />

ir também para a criatividade.<br />

Daí sim, já se estão a preparar<br />

coisas muito interessantes para<br />

2020.<br />

E estas coisas vão chegar<br />

também aos Açores?<br />

Eu espero bem que sim,<br />

que essas “coisas” cheguem<br />

aos Açores já no próximo<br />

ano de 2020. Estamos em<br />

conversações para que<br />

alguns desses projetos sejam<br />

realizados em São Miguel,<br />

inclusive e noutras ilhas.<br />

Convido toda a gente a vir a<br />

São Miguel, seja nos eventos<br />

que a I AM está a produzir<br />

ou não, mas que venham cá.<br />

Quero agradecer à Associação<br />

Agrícola pela forma como nos<br />

acolhe e nos dá oportunidade<br />

de fazer um evento num local<br />

tão emblemático, o do famoso<br />

bife de São Miguel. Não<br />

queria deixar de agradecer à<br />

Associação Agrícola por este<br />

carinho que tem com a I AM e<br />

que nos trata tão bem.<br />

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eportagem<br />

o impacto da guerra<br />

do ultramar nos açores<br />

"Marcas que a memória não esquece e que o tempo não apaga"<br />

diogo costa<br />

Decorreu no passado dia 11<br />

de dezembro, na Universidade<br />

dos Açores (UAç), o debate<br />

sobre “O impacto da Guerra<br />

do Ultramar nos Açores”,<br />

numa iniciativa levada a cabo<br />

pelo Núcleo de Estudantes<br />

de História e Património da<br />

Universidade dos Açores<br />

(NEHPUA).<br />

Segundo Maria Borges,<br />

Presidente do NEHPUA, “seria<br />

interessante proporcionar<br />

um momento de partilha de<br />

conhecimentos, experiências e<br />

memórias”, sob diversos pontos<br />

de vista. Nesse sentido, foram<br />

convidados para palestrar nestas<br />

conferências o Doutor Mota<br />

Amaral, para abordar o tema<br />

de um ponto de vista político;<br />

a Doutora Susana Serpa Silva e<br />

o Doutor Sérgio Rezendes para<br />

tratar a vertente histórica; o<br />

Coronel Salgado Martins, bem<br />

como Amaro de Matos, com<br />

testemunhos na primeira pessoa<br />

de quem esteve nas frentes de<br />

batalha.<br />

Na sessão de abertura, a<br />

Doutora Isabel Albergaria,<br />

Diretora do Curso de História e<br />

Coordenadora do Departamento<br />

de História, Filosofia e Artes, e<br />

a Doutora Ana Gil, Presidente<br />

da Faculdade de Ciências<br />

Sociais e Humanas da UAç,<br />

exaltaram e congratularam<br />

esta iniciativa do NEHPUA,<br />

vista como “exemplo de<br />

cidadania” e “vitalidade para<br />

a vida académica”, abordando<br />

uma temática que “atravessa<br />

a História das gerações ainda<br />

vivas”.<br />

O primeiro orador convidado<br />

a palestrar foi o Doutor João<br />

Bosco Mota Amaral, primeiro<br />

Presidente do Governo da<br />

Região Autónoma dos Açores<br />

que exerce no presente funções<br />

docentes na Faculdade de<br />

Ciências Sociais e Humanas<br />

da UAç. O palestrante veio<br />

trazer um testemunho político<br />

daquilo que foram os anos que<br />

antecederam a Guerra, bem<br />

como do período em que a<br />

mesma ocorreu.<br />

12 <strong>NO</strong>JAN20


eportagem<br />

Mota Amaral começou por<br />

enquadrar o conflito na<br />

História, afirmando que a<br />

Guerra do Ultramar “não<br />

aconteceu por acaso, tem os<br />

seus antecedentes”. O antigo<br />

governante dividiu o seu<br />

discurso, abordando primeiro<br />

as campanhas de pacificação, e<br />

depois, a Guerra Colonial.<br />

Situando-se no século XIX,<br />

com a Conferência de Berlim,<br />

Mota Amaral menciona o<br />

arranque do movimento<br />

colonialista e imperialista,<br />

altura em que “os países<br />

europeus queriam partilhar<br />

a África, como se África<br />

não tivesse dono”. O orador<br />

afirmou que “isto, obviamente,<br />

foi bem acolhido por alguns<br />

e mal acolhido por outros.<br />

Houve momentos de diálogos<br />

positivos, mas também vários<br />

momentos de confrontos, daí as<br />

campanhas de pacificação”, que<br />

na sua opinião, “passava-se no<br />

meio de grandes excessos”<br />

Com o “rebentar” da Guerra,<br />

em 1961, Mota Amaral<br />

confessa que ficou com a<br />

impressão de que “alguns<br />

responsáveis portugueses<br />

pensaram que isso era mais uma<br />

campanha de pacificação, sem<br />

se aperceberem que o quadro<br />

político geral tinha mudado”.<br />

O pacto colonial que outrora<br />

consistia na exploração dos<br />

recursos naturais das colónias,<br />

em benefício da metrópole,<br />

passava a ser condenado<br />

pelas Nações Unidas. Aliás,<br />

ainda antes da constituição<br />

das Nações Unidas, na Carta<br />

do Atlântico, assinada por<br />

Roosevelt e Churchill, estava<br />

presente o compromisso de<br />

autorizar a independência<br />

dos povos coloniais, tarefa<br />

vista como fundamental para<br />

a organização das Nações<br />

Unidas.<br />

"<br />

Foi dentro deste quadro que se desenrolou a guerra em Angola,<br />

Moçambique e na Guiné, que era de facto, para as populações<br />

envolvidas nela, uma guerra de libertação. Uma guerra contra o<br />

poder colonial. As nossas forças armadas deram o seu melhor. Sobre<br />

o ponto de vista militar, a situação, supostamente, estava estabilizada<br />

e vencida, mas o problema era um problema político. - Mota Amaral<br />

<strong>NO</strong>JAN20 13


eportagem<br />

Para Mota Amaral, as supostas<br />

campanhas de pacificação<br />

“terminaram mal”. “Felizmente, e<br />

devido às ligações estabelecidas,<br />

acabou por se reconstruir esta<br />

relação com os PALOP, que<br />

tem caminho para andar, mas há<br />

sobressaltos, custos e sofrimentos<br />

que se podia ter poupado se<br />

tivesse seguido um caminho<br />

diferente”.<br />

Quando questionado sobre se este<br />

conflito poderia ter sido evitado,<br />

o antigo governante afirma que<br />

“estava no ADN do Estado<br />

Novo”, e que “na lógica do<br />

Estado Novo não cabia o diálogo<br />

e democratização”, concluindo<br />

ao falar da importância da<br />

reconstrução da teia de relações<br />

“que deixou uma língua comum,<br />

que é um grande valor”.<br />

De seguida, foi a vez da Doutora<br />

Susana Serpa Silva “tomar a<br />

palavra”. A investigadora e<br />

professora auxiliar da Faculdade<br />

de Ciências Sociais e Humanas<br />

da UAç levou ao Anfiteatro<br />

VIII daquela Universidade “um<br />

conjunto de publicações que<br />

retratam, por um lado, factos da<br />

Guerra Colonial associada aos<br />

Açores, e por outro, memórias<br />

da Guerra Colonial, sobretudo<br />

memórias no feminino”.<br />

Na opinião da Doutora, apesar de<br />

já existirem vários estudos sobre<br />

este acontecimento, “ainda há<br />

um longo caminho a percorrer na<br />

investigação sobre a Guerra do<br />

Ultramar”, sobretudo, no que diz<br />

respeito aos Açores.<br />

Mencionando Manuel Faria,<br />

no artigou que publicou na<br />

Enciclopédia Açoriana, “em<br />

relação aos Açores, a Guerra<br />

Colonial produziu os mesmos<br />

efeitos registados no resto do<br />

país”.<br />

A oradora fala da imprensa<br />

açoriana na altura, com<br />

diversos registos fotográficos<br />

e artigos que “davam eco a<br />

esta problemática”. Segundo<br />

Susana Serpa Silva, esta era<br />

uma imprensa “naturalmente<br />

alinhada com o Estado Novo e,<br />

portanto, eivada de um espírito<br />

nacionalista, que procurava<br />

justificar a mobilização pelos<br />

sagrados princípios de um país<br />

plurirracial, pluricontinental, que<br />

tinha a nobre missão de levar<br />

a fé católica e a civilização a<br />

povos espalhados pelo sertão<br />

africano”.<br />

Por outro lado, a oposição<br />

do Estado Novo procurava<br />

também reunir jornalistas<br />

para apresentar a sua posição<br />

contrária, uma Guerra Colonial<br />

diferente daquela que o regime<br />

queria transparecer. A oradora<br />

deu o exemplo de um artigo<br />

do Açoriano Oriental, que<br />

dava conta da prisão de Acácio<br />

Gouveia, Gustavo Soromenho e<br />

Mário Soares, após estes terem<br />

apresentado uma declaração<br />

a favor da democratização<br />

da República, perante alguns<br />

jornalistas.<br />

Susana Serpa Silva apresentou<br />

vários artigos de jornais<br />

regionais, após o início da<br />

Guerra Colonial, que relatavam<br />

a partida dos soldados, as<br />

cerimónias que se realizavam<br />

nas partidas, nomeadamente,<br />

missas campais no adro do<br />

Santuário da Esperança, em<br />

Ponta Delgada, o regresso das<br />

comitivas que terminavam as<br />

suas missões, distinções de<br />

que eram alvo alguns militares,<br />

açorianos, etc.<br />

14 <strong>NO</strong>JAN20


eportagem<br />

Do lado oposto, dando a<br />

conhecer o “lado mais negro da<br />

Guerra”, as páginas dos jornais<br />

açorianos “enchiam-se” com<br />

a divulgação das mortes de<br />

militares açorianos, números<br />

que a oradora apresentou na<br />

seguinte tabela.<br />

Para além destes dados, Susana<br />

Serpa Silva apresentou mais<br />

números relativos à influência<br />

dos Açores na Guerra do<br />

Ultramar. A palestrante<br />

menciona Pires Ferreira, que<br />

na sua dissertação de mestrado<br />

refere que a mobilização<br />

de açorianos para África<br />

iniciou-se em 1961, aumentou<br />

consideravelmente em 1967,<br />

atingindo o seu ponto alto em<br />

1969.<br />

A investigadora mostra também<br />

um gráfico, presente na referida<br />

dissertação de Pires Ferreira,<br />

que apresenta o esforço relativo<br />

a cada unidade mobilizadora de<br />

Caçadores Independentes para<br />

os três teatros de operações, no<br />

qual Angra de Heroísmo e Ponta<br />

Delgada se destacam entre<br />

as unidades que mobilizaram<br />

mais homens para a Guerra<br />

do Ultramar, estimando-se em<br />

cerca de 14000, o número de<br />

soldados que partiram para<br />

África. Susana Serpa Silva<br />

apresenta ainda estatísticas<br />

relativas às freguesias açorianas<br />

que disponibilizaram mais<br />

homens para este conflito,<br />

destacando-se São José, em<br />

Ponta Delgada, e Santa Cruz, na<br />

Praia da Vitória.<br />

Uma vez que as marcas<br />

provenientes de um conflito<br />

desta dimensão não se estendem<br />

apenas aos homens que nela<br />

participaram, a Doutora<br />

referiu ainda a importância da<br />

sociedade em geral, mas das<br />

mulheres, em concreto, ao longo<br />

de todos os anos de guerra.<br />

“Multiplicaram-se iniciativas<br />

de apoio aos combatentes.<br />

As delegações distritais<br />

do Movimento Nacional<br />

Feminino criaram movimentos<br />

a favor dos expedicionários<br />

açorianos, promovendo serões,<br />

angariações de donativos,<br />

compravam tabaco, produtos<br />

de higiene, entre outros<br />

produtos”, refere Susana Serpa<br />

Silva.<br />

“Em torno da Guerra Colonial,<br />

foram-se construindo,<br />

naturalmente, muitas<br />

memórias. Memórias de<br />

guerra, por quem combateu,<br />

por quem lá esteve. Memórias<br />

de quem ficou cá a viver a<br />

angústia da separação e da<br />

incerteza”.<br />

Nesse sentido, a oradora falou<br />

do seu trabalho na recolha de<br />

memórias no feminino, através<br />

de entrevistas e inquéritos<br />

junto de mães, esposas, irmãs<br />

e familiares de combatentes.<br />

Apresentou ainda exemplos de<br />

correspondência e aerogramas<br />

trocados entre militares e<br />

família durante os anos da<br />

Guerra.<br />

<strong>NO</strong>JAN20 15


eportagem<br />

"<br />

O que se verifica é que há vários problemas no que toca às memórias do<br />

Ultramar. Há cortinas de silêncio que só gradualmente se vão dissipando.<br />

Por vezes uma grande relutância em partilhar essas memórias, que se<br />

consideram do domínio privado. Nem sempre as pessoas conseguem<br />

exteriorizar aquilo que sentiram e que viveramm - Susana Serpa Silva<br />

Susana Serpa Silva concluiu a<br />

sua apresentação confessando<br />

que o seu “grande receio é que<br />

neste momento estão-se a perder<br />

os protagonistas, as memórias<br />

e estes objetos”, afirmando<br />

que “urge de facto recolher<br />

testemunhos orais, objetos e<br />

documentos particulares que<br />

nos falam de estados de alma,<br />

do quotidiano das operações<br />

militares” e lamentando<br />

a “escassez de apoios” à<br />

investigação histórica.<br />

Seguiu-se a apresentação<br />

do Doutor Sérgio Rezendes,<br />

assessor científico do Museu<br />

Militar dos Açores e professor<br />

no Colégio do Castanheiro,<br />

que veio enriquecer a tarde<br />

com mais dados e documentos<br />

históricos que ligam os<br />

Açores à Guerra do Ultramar,<br />

e, sobretudo, com a missão<br />

de demonstrar aos alunos e<br />

interessados os métodos para<br />

recolha de dados e memórias.<br />

O docente começa por afirmar<br />

que “a documentação guardada<br />

pelos ex-combatentes pode<br />

ser extremamente valiosa.<br />

Eles próprios não têm noção<br />

daquilo que têm. Para eles<br />

são memórias, vulgares<br />

papéis, mas para nós enquanto<br />

investigadores e historiadores,<br />

convém que essa documentação<br />

seja preservada”.<br />

Sérgio Rezendes refere ainda a<br />

importância das entrevistas com<br />

ex-combatentes, dando o seu<br />

testemunho da aprendizagem<br />

que os estudantes podem ter ao<br />

privar “com estas pessoas”.<br />

Outro aspeto “fundamental”<br />

para o orador é o trabalho de<br />

campo. Percorrer as ilhas dos<br />

Açores para perceber melhor e<br />

conhecer as figuras envolvidas<br />

neste conflito.<br />

Procurar os monumentos, e<br />

melhor que isso, as campas,<br />

os mausoléus dos nossos excombatentes.<br />

Esse passo é<br />

fundamental para vocês terem<br />

uma leitura do local de pertença<br />

e até mesmo para fazerem um<br />

ponto de situação de como<br />

a sociedade atual os está a<br />

tratar. E isto pode implicar um<br />

momento feliz ou um momento<br />

triste.<br />

Sérgio Rezendes refere também<br />

a importância de não “agarrarse<br />

à questão do conflito em si”.<br />

Focar-se sim na estrutura mental<br />

que acompanha o soldado a<br />

partir do momento em que ele<br />

sai de casa, “perceber o quadro<br />

mental destes homens”.<br />

Do ponto de vista social,<br />

“também era preciso perceber<br />

como é que estavam os nossos<br />

cá”. O investigador fala numa<br />

sociedade que “sofre com a<br />

partida dos seus filhos, mas não<br />

pode sofrer em excesso”, pelo<br />

facto de viverem em tempo de<br />

ditadura. Havia uma necessidade<br />

de mostrar o espírito patriótico,<br />

exemplificada pelo orador<br />

com uma fotografia de uma<br />

montra de um estabelecimento<br />

em Ponta Delgada, durante o<br />

Concurso do Dia das Montras.<br />

16 <strong>NO</strong>JAN20


eportagem<br />

No que diz respeito à<br />

preservação de todo o<br />

património documental<br />

e histórico da Guerra do<br />

Ultramar, Sérgio Rezendes<br />

diz ser necessário “arregaçar<br />

as mangas” e organizar os<br />

arquivos de documentos<br />

históricos, recorrer às<br />

bibliotecas como base de<br />

sustentação de todos os dados<br />

e estudos provenientes de<br />

acontecimentos deste género,<br />

etc.<br />

Por fim, o orador menciona<br />

ainda a importância de ver a<br />

História dos dois lados, ou seja,<br />

conhecer o nosso lado, mas<br />

tentar conhecer e saber mais<br />

como é que este conflito foi<br />

para os povos das ex-colónias,<br />

de modo a “posicionar e ter<br />

uma leitura mais íntima”.<br />

O que eu vos venho apresentar<br />

aqui, não vou dizer que é<br />

uma “mão cheia de nada”,<br />

porque efetivamente é muita<br />

informação que tenho vindo a<br />

recolher, dentro e fora do país,<br />

mas acima de tudo é um modus<br />

operandi, é uma mensagem<br />

aos alunos que me convidaram<br />

para vir cá, para que vejam este<br />

conflito em várias áreas, fora<br />

da caixa, a nível internacional”.<br />

Uma história que nos une hoje,<br />

em tempo de paz, através de um<br />

motivo que foi a guerra.<br />

O segundo painel das<br />

conferências focou-se no aspeto<br />

mais militar, levando dois<br />

homens que viveram a Guerra<br />

do Ultramar a falar sobre a sua<br />

experiência: Coronel Salgado<br />

Martins e Amaro de Matos.<br />

Coronel Salgado Martins<br />

cumpriu duas comissões<br />

de serviço no ex-Ultramar<br />

Português, em Angola e na<br />

Guiné.<br />

Durante a sua intervenção,<br />

abordou, de maneira mais<br />

técnica e tática, os anos de<br />

guerra. Apresentou também<br />

dados relativos ao número de<br />

açorianos que partiram para<br />

África, bem como os que lá<br />

falecerem, tal como já tinha<br />

sido apresentado antes.<br />

O Coronel referiu ainda a<br />

importância da “africanização<br />

da Guerra”, que começou a<br />

surgir a partir de meados da<br />

década de 60. Esta manobra<br />

consistia em recrutar tropas<br />

nos próprios territórios, o que<br />

permitia envolver as populações<br />

na Guerra, diminuindo a base<br />

de recrutamento das guerrilhas,<br />

completar a capacidade de<br />

recrutamento metropolitano,<br />

praticamente esgotado,<br />

vantagem no conhecimento<br />

do terreno e de adaptação ao<br />

meio, entre outras mais-valias<br />

para as tropas portuguesas.<br />

Estima-se que em 1973, 42%<br />

dos efetivos em Angola já eram<br />

tropa recrutada localmente,<br />

em Moçambique já era<br />

mais de metade, e na Guiné<br />

correspondia a 20%.<br />

Para além da “africanização<br />

da Guerra”, da prática de<br />

uma guerra de baixo custo<br />

adequada a um conflito de baixa<br />

intensidade, e da organização<br />

operacional, o Coronel Salgado<br />

Martins destaca como fatorchave<br />

para o sucesso de<br />

Portugal na Guerra do Ultramar,<br />

o facto de “ter sido executada<br />

<strong>NO</strong>JAN20 17


eportagem<br />

por soldados corajosos,<br />

com enorme capacidade de<br />

improvisação, frugalidade,<br />

robustez e adaptabilidade às<br />

mais rudes condições de vida”.<br />

Contudo, apontou também<br />

às consequências inerentes a<br />

qualquer guerra, realçando as<br />

mais de 9000 mortes registadas e<br />

mais de 30000 feridos.<br />

Concluindo a sua apresentação,<br />

o Coronel Salgado Martins cita<br />

uma passagem da publicação<br />

Exército na Guerra Subversiva:<br />

“Para os militares, o interesse<br />

do estudo dos conflitos<br />

subversivos, reside ainda,<br />

no facto de a solução desses<br />

conflitos não poder nunca ser<br />

obtida unicamente pelas forças<br />

armadas”, ou seja, na sua<br />

opinião, a missão das Forças<br />

Armadas “era dar tempo ao<br />

poder político para encontrar<br />

uma solução que só apareceu<br />

passados 14 anos”.<br />

Por fim, foi a vez de Amaro de<br />

Matos dar o seu testemunho<br />

daquilo que vivenciou,<br />

na primeira pessoa, em<br />

Moçambique, entre 1972 e 1974.<br />

O fundador da Associação para a<br />

Defesa do Património Marítimo<br />

dos Açores e da Associação<br />

Cívica “Casa do Triângulo” foi<br />

primeiro-cabo especialista em<br />

rádio montador.<br />

Amaro de Matos começou por<br />

citar José Saramago, que refere<br />

na História do Cerco de Lisboa,<br />

que “a História foi vida real no<br />

tempo em que ainda não era<br />

História”, afirmando depois<br />

que, “após 68 anos, e passados<br />

já 45 desde a data do regresso,<br />

tenho plena consciência que vivi<br />

um tempo real que hoje já teve<br />

tempo para ser efetivamente<br />

História”.<br />

“Entendi dar aqui, da guerra em<br />

que participei, um testemunho<br />

voltado para as suas implicações<br />

sociais”, sublinha o orador.<br />

“As certezas sucediam-se:<br />

Primeiro as inspeções, depois as<br />

"<br />

incorporações, as mobilizações<br />

e finalmente as partidas. As<br />

incertezas vinham depois:<br />

Quando? Para onde? Por que<br />

meio? Quanto tempo falta?<br />

E a maior incerteza de todas:<br />

Voltaremos?”<br />

Amaro de Matos fala de um país<br />

que estava cansado de guerra e<br />

confessa que o que se sentia na<br />

altura, no seio militar, era que a<br />

causa deste conflito não passava<br />

de uma “teimosia em não<br />

resolver em termos políticos”.<br />

O ex-combatente recorda a<br />

sua passagem por África com<br />

um misto de nostalgia e de<br />

esperança:<br />

Nostalgia enquanto que, apesar de todas as privações e<br />

incertezas, tenho recordações calorosas de África (…)<br />

Tenho esperança de que África viva um dia um ciclo de<br />

paz e prosperidade que a sua grandiosidade justifica.<br />

Ainda espero igualmente que a falta de atenção com<br />

que se tem olhado para os ex-combatentes seja revista<br />

para que não se cumpra o que sabiamente nos disse<br />

Eduardo Lourenço: “Existimos quando se começa<br />

a notar a nossa ausência. Quase sempre tarde... em<br />

Portugal nunca”.<br />

Finalizando a sua intervenção,<br />

era notória a mágoa de Amaro<br />

de Matos para com o regime<br />

fascista que liderava Portugal,<br />

voltando a realçar que tudo<br />

não passou de uma “teimosia<br />

política”:<br />

Ainda não sei avaliar o que teria<br />

sido a minha vida se tivesse<br />

sido possível omitir dela este<br />

capítulo. O que sei é que nasci<br />

num país doente e que o monstro<br />

que criou e alimentou se serviu<br />

de mim e de mais de um milhão<br />

de camaradas meus. Sei que o<br />

meu país hipotecou parte do seu<br />

futuro coletivo e pagou caro essa<br />

teimosia.<br />

Assim, urge de facto não deixar<br />

cair no esquecimento todos os<br />

artefactos e todos os homens<br />

que construíram este pedaço<br />

da grandiosa História do nosso<br />

país. Soldados de um regime,<br />

soldados de uma pátria, soldados<br />

de si mesmo, ou até mesmo<br />

soldados de uma teimosia.<br />

Certo é que foram estes homens<br />

que, por uma causa nobre ou<br />

não, partiram para África sem<br />

grande escolha, sem futuro<br />

certo, apenas com a certeza das<br />

memórias que guardarão para<br />

sempre e que necessitam de ser<br />

preservadas como pedaço da<br />

nossa História.<br />

18 <strong>NO</strong>JAN20


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o político<br />

do ano <strong>2019</strong><br />

josé contente<br />

deputado do ps/açores


destaque<br />

Findo mais um ano civil, é tempo de balanços e escrutínio sobre a atividade política na<br />

região. Para o efeito, a <strong>NO</strong> <strong>Revista</strong> decidiu destacar o melhor e mais notável político<br />

regional pela forma como desempenhou, durante o último ano, a sua ação política.<br />

22 <strong>NO</strong>JAN20


destaque<br />

j<br />

José António Vieira da Silva<br />

Contente nasceu na freguesia<br />

e vila de Velas, Ilha de São<br />

Jorge, a 13 de junho de 1958.<br />

É casado, tem dois filhos e<br />

é professor universitário de<br />

profissão, sendo licenciado<br />

em Geologia-Biologia<br />

pela Universidade dos<br />

Açores (UAc) e Mestre em<br />

Metodologia das Ciências<br />

pela Faculdade de Ciências da<br />

Universidade de Lisboa.<br />

Exerceu funções docentes<br />

no ensino secundário e na<br />

Universidade dos Açores.<br />

Foi neste estabelecimento<br />

de ensino superior diretor<br />

da Secção de Didática das<br />

Ciências da Educação.<br />

É assistente de carreira na<br />

Universidade dos Açores e<br />

está atualmente a completar<br />

o doutoramento, cuja tese<br />

será defendida, em 2020,<br />

na Universidade Clássica<br />

de Lisboa, na área STEM<br />

(Ciência, Tecnologia e<br />

Sociedade), e que se baseia<br />

fundamentalmente na<br />

integração dos micro satélites,<br />

da robótica, dos drones e da<br />

Inteligência Artificial, dentro<br />

da abordagem da resolução<br />

de problemas, destinada à<br />

Educação Científica para o<br />

século XXI. No seu empenho<br />

por uma cidadania mais ativa<br />

foi, também, fundador da<br />

associação cívica “Fórum<br />

Açoreano”.<br />

<strong>NO</strong>JAN20 23


no | www.norevista.pt<br />

É Membro da Comissão<br />

Nacional e da Comissão<br />

Regional do Partido Socialista.<br />

Foi coordenador das campanhas<br />

eleitorais do PS/Açores nas<br />

eleições regionais de 1996,<br />

2000 e 2004, 2008 e 2012,<br />

tendo sido igualmente, nesses<br />

quatro atos eleitorais, eleito<br />

deputado regional pelo círculo<br />

eleitoral da Ilha de São Miguel.<br />

Exerceu as funções para que<br />

foi reconduzido desde 9 de<br />

novembro de 1996-2008<br />

de Secretário Regional da<br />

Habitação e Equipamentos e de<br />

Secretário Regional da Ciência<br />

Tecnologia e Equipamentos de<br />

2008-2012. É deputado regional<br />

desde 2012, tendo sido reeleito<br />

em 2016-2020.<br />

José Contente candidatou-se<br />

pelo PS, em 2013, às eleições<br />

autárquicas para presidente da<br />

Câmara de Ponta Delgada, onde,<br />

apesar de não ter conquistado<br />

a mesma, obteve um resultado<br />

merecedor de atenção,<br />

deixando em aberto a almejada<br />

alternância na presidência da<br />

maior autarquia dos Açores.<br />

O deputado tem sido uma figura<br />

incontornável dentro do PS,<br />

ocupando cargos de liderança e<br />

mantendo-se sempre igual a si<br />

próprio nos princípios de missão<br />

a que se propôs.<br />

A sua matriz ideológica regese<br />

pelo rigor, honorabilidade e<br />

respeito escrupuloso na ordem<br />

da democracia.<br />

Quer como governante, quer<br />

como deputado, como cidadão<br />

ativo, José Contente sempre<br />

elevou o seu discurso, a sua<br />

atitude e a sua forma de estar<br />

a padrões de alta qualidade,<br />

defendendo argumentos sem<br />

ofender destinatários.<br />

Um percurso imaculado na<br />

propositura, no confronto e<br />

nas divergências, imprimindo<br />

sempre o superior interesse dos<br />

Açores em primeiro lugar.<br />

Como parlamentar, percurso<br />

nos últimos 7 anos, não se tem<br />

rogado a falsos pergaminhos, a<br />

prepotências de estatuto nem a<br />

segregações inusitadas no status<br />

quo político-partidário.<br />

Tem sido uma referência de<br />

homem de bons costumes,<br />

de princípios e com valores<br />

exemplares na nossa sociedade.<br />

Com um sentido de humor<br />

inteligente consegue, em<br />

poucas palavras, sem oprimir,<br />

sem ofender e sem destratar a<br />

democracia, suprimir ataques<br />

políticos e pessoais com<br />

a elegância e classe que o<br />

caracterizam.<br />

José Contente tem tido a mestria<br />

de saber gerir o passado com o<br />

presente na construção de um<br />

PS mais consistente sem que a<br />

sua presença seja ostensiva.<br />

Na transição de Carlos César<br />

para Vasco Cordeiro, assumiu o<br />

seu lugar como deputado com<br />

espírito de missão sem que em<br />

nenhum momento resvalasse<br />

para o revanchismo. Nessa<br />

qualidade de deputado, tem sido<br />

ele a intervir nas situações mais<br />

complicadas para proteger o<br />

legado socialista. E neste último<br />

ano, com o desgaste do PS, tem<br />

sido ele a figura de consensos<br />

que no parlamento e fora dele<br />

tem equilibrado e defendido<br />

a causa socialista de forma<br />

credível.<br />

A qualidade de trabalho<br />

apresentado como deputado<br />

quer na substância, quer na<br />

pertinência, quer mesmo<br />

nas suas intervenções<br />

parlamentares, tem dignificado<br />

o arauto da autonomia regional.<br />

José António Vieira da Silva<br />

Contente, como político, como<br />

governante, como deputado e<br />

como cidadão tem conseguido<br />

um percurso invejável no<br />

tratamento e diálogo com<br />

os seus opositores, sabendo<br />

evitar, sempre, os incidentes<br />

pessoais no confronto de ideias,<br />

pensamentos e ideologias,<br />

respeitando as divergência<br />

políticas, as exaltações de<br />

circunstância e, sobretudo,<br />

a verdadeira essência da<br />

democracia, o cidadão.<br />

24 <strong>NO</strong>JAN20


O deputado tem sido uma<br />

figura incontornável<br />

dentro do PS, ocupando<br />

cargos de liderança e<br />

mantendo-se sempre igual<br />

a si próprio nos princípios<br />

de missão a que se propôs.<br />

<strong>NO</strong>JAN20 25


entrevista<br />

em entrevista<br />

bárbara chaves<br />

ps/açores na alraa<br />

claúdia carvalho<br />

Bárbara Pereira Torres<br />

de Medeiros Chaves,<br />

deputada pelo PS/Açores na<br />

Assembleia Legislativa da<br />

Região Autónoma dos Açores<br />

(ALRAA), nasceu em 1976.<br />

É Licenciada em Engenharia<br />

do Ambiente e Mestre em<br />

Ordenamento do Território<br />

e Planeamento Ambiental.<br />

Desempenha um regime de<br />

exclusividade na ALRAA e<br />

é Presidente da Comissão<br />

Permanente de Economia.<br />

Pertenceu, no passado,<br />

à Comissão de Assuntos<br />

Parlamentares, Ambiente e<br />

Trabalho.<br />

A <strong>NO</strong> <strong>Revista</strong> sabe que é<br />

Licenciada em Engenharia<br />

do Ambiente e Mestre em<br />

Ordenamento do Território<br />

e Planeamento Ambiental.<br />

Tendo este percurso<br />

profissional, em que momento<br />

da sua vida é que decidiu<br />

ingressar pela vida política?<br />

Vejo a política como uma forma<br />

de fazer algo por Santa Maria<br />

e pelos Açores. Foi assim que,<br />

em 2008, encarei o convite de<br />

Carlos César para integrar a<br />

lista de deputados regionais<br />

por Santa Maria e é assim<br />

que penso até hoje. Por isso,<br />

em meu entender, a política<br />

não é algo que se “ingresse”;<br />

é sim, um compromisso que<br />

se assume para contribuir<br />

para o desenvolvimento das<br />

comunidades em que estamos<br />

inseridos. Nasci numa família<br />

socialista, os meus pais sempre<br />

foram socialistas, o meu pai<br />

desempenhou funções políticas<br />

e desde cedo me interessei pela<br />

política e pelas questões que<br />

preocupam a sociedade. Aos<br />

14 anos era já da Juventude<br />

Socialista e fui crescendo entre<br />

os ideais socialistas. Portanto,<br />

encaro as funções de deputada<br />

com muita responsabilidade,<br />

com muito sentido de missão e<br />

determinação, sem me desviar<br />

do meu objetivo que é o<br />

desenvolvimento da minha terra<br />

e aumento da qualidade de vida<br />

dos Marienses em particular e<br />

dos Açorianos em geral.<br />

Antes de ser deputada do<br />

PS/Açores na Assembleia<br />

Legislativa da Região<br />

Autónoma dos Açores<br />

(ALRAA), que outro cargo ou<br />

função desempenhava até aí?<br />

Após terminar a licenciatura<br />

fiz como qualquer jovem<br />

licenciado faz hoje em<br />

dia: ingressei num estágio<br />

26 <strong>NO</strong>JAN20


entrevista<br />

profissional em Santa Maria, no<br />

Serviço de Ambiente, similar<br />

ao atual programa Estagiar.<br />

Depois, ingressei no quadro da<br />

Direção Regional do Ambiente,<br />

na Horta e após 3 anos, quando<br />

abriu concurso para Santa<br />

Maria, concorri e aqui fiquei,<br />

no Serviço de Ambiente.<br />

Sempre foi meu objetivo<br />

regressar à minha ilha e tentar<br />

dar o meu contributo para o<br />

desenvolvimento da terra que<br />

me viu nascer. Desempenhei<br />

entre 2005 e 2008 funções<br />

de chefia nesse Serviço, num<br />

período muito trabalhoso, mas<br />

extremamente desafiante ao<br />

nível da qualidade ambiental,<br />

conservação da natureza e<br />

ordenamento do território.<br />

Nesse período, fruto da política<br />

ambiental implementada, foi<br />

possível fazer-se crescer o<br />

serviço, com novas valências e<br />

áreas de atividade, com ganhos<br />

efetivos em termos ambientais.<br />

Enquanto deputada da<br />

bancada socialista, ocupa<br />

um regime de exclusividade<br />

em relação a essa atividade?<br />

Se não, que outras funções<br />

desempenha para além das já<br />

mencionadas?<br />

Desempenho funções em<br />

regime de exclusividade desde<br />

o meu primeiro mandato, por<br />

uma questão de opção.<br />

Enquanto Presidente da<br />

Comissão Permanente de<br />

Economia, qual considera<br />

ser a sua responsabilidade ao<br />

ocupar este cargo?<br />

A Comissão de Economia<br />

trabalha matérias muito<br />

importantes para o<br />

desenvolvimento da Região,<br />

como a agricultura e as pescas,<br />

as acessibilidades marítimas,<br />

aéreas e terrestres, o turismo,<br />

a energia, as finanças, entre<br />

outras. Encaro, por isso,<br />

a função de Presidente da<br />

Comissão de Economia com<br />

grande responsabilidade e<br />

respeito por todos os deputados<br />

que integram a Comissão.<br />

O objetivo das comissões<br />

é promover o debate e o<br />

esclarecimento das matérias<br />

em análise e faço por gerir<br />

os trabalhos de forma a<br />

permitir que todos se sintam<br />

esclarecidos. Julgo importante<br />

realçar a importância de,<br />

nesta Comissão, termos tido<br />

cada vez mais iniciativas<br />

apresentadas pela sociedade<br />

civil, nomeadamente através<br />

das petições públicas. Merece<br />

também destaque o trabalho<br />

realizado na comissão, onde<br />

ouvimos representantes de<br />

entidades, especialistas e o<br />

chamado cidadão comum.<br />

No plenário de outubro,<br />

na discussão do Plano e<br />

Orçamento para 2020, dizia<br />

que “falar de sustentabilidade<br />

é falar de futuro”. Considera<br />

que os Açores têm dado os<br />

passos certos no rumo à<br />

sustentabilidade ambiental?<br />

A sustentabilidade assenta<br />

em 3 pilares fundamentais:<br />

as questões sociais, as<br />

económicas e as ambientais.<br />

Não é possível dissociá-las;<br />

é necessário, sim, articulálas<br />

e geri-las, desenvolvendo<br />

políticas que coloquem as<br />

pessoas no centro da aplicação<br />

de políticas - para que ninguém<br />

fique para trás - dando aos<br />

fatores ambientais um carácter<br />

aglutinador onde todas as outras<br />

atividades se desenvolvem.<br />

E isso tem sido conseguido,<br />

apesar de ser um trabalho<br />

que nunca não terminará,<br />

porque existirão sempre novos<br />

desafios a superar. A Região foi<br />

distinguida recentemente como<br />

Destino Turístico Sustentável,<br />

que é muito difícil de conquistar<br />

atendendo aos critérios que<br />

tem que ser respeitados para<br />

se atingir esse objetivo; temos<br />

merecido ao longo dos anos um<br />

conjunto significativo de outros<br />

galardões e distinções que, em<br />

meu entender, permitem-nos<br />

afirmar que estamos no rumo<br />

certo e que é desta forma que<br />

atingiremos os padrões de<br />

sustentabilidade que permitirão<br />

aos açorianos e às próximas<br />

gerações terem uma melhor<br />

qualidade de vida.<br />

Durante o seu percurso e até<br />

ao presente, qual momento<br />

destacaria enquanto deputada<br />

pelo PS/Açores na ALRAA?<br />

Em termos parlamentares, o<br />

veto do então Presidente da<br />

República Cavaco Silva à<br />

revisão do Estatuto Político-<br />

Administrativo da Região<br />

Autónoma dos Açores, que<br />

forçou uma nova votação por<br />

parte do Parlamento Regional, é<br />

sem dúvida um dos momentos<br />

mais marcantes que destaco,<br />

pois permitiu o reforço da nossa<br />

Autonomia face a visões mais<br />

centralistas que ainda existem.<br />

Inevitável, destacar, como<br />

aspeto negativo, a perda de dois<br />

colegas e amigos deputados,<br />

o André Bradford e o Paulo<br />

Parece, situação que me fez<br />

refletir sobre a necessidade<br />

de se viver mais o presente,<br />

<strong>NO</strong>JAN20 27


no | www.norevista.pt<br />

reforçando os valores da família<br />

e da amizade.<br />

Quais são os seus projetos no<br />

futuro no que diz respeito ao<br />

partido socialista?<br />

Projetar o futuro é importante,<br />

mas confesso que não penso<br />

muito nisso em relação a mim!<br />

O que me importa realmente<br />

é que o Partido Socialista<br />

continue a ter a capacidade de<br />

desenvolver políticas e ações<br />

que melhorem a qualidade<br />

de vida dos Açorianos, que<br />

levem os Açores sempre mais<br />

além e que contribuam para<br />

uma Região cada vez mais<br />

empreendedora, dinâmica e<br />

solidária, colocando sempre as<br />

pessoas em primeiro lugar.<br />

Quais considera as temáticas<br />

mais pertinentes a serem<br />

debatidas de momento na<br />

nossa região?<br />

Há temas que merecem uma<br />

atenção constante para o Partido<br />

Socialista dos Açores e que,<br />

apesar dos bons resultados<br />

que se têm alcançado, vão<br />

continuar a ser uma prioridade,<br />

como são os casos do emprego,<br />

da saúde, da educação, da<br />

mobilidade dos Açorianos,<br />

do crescimento económico,<br />

entre outros. Simultaneamente,<br />

temos nos próximos tempos<br />

novos desafios a que é precioso<br />

responder, nomeadamente no<br />

que diz respeito ao combate à<br />

pobreza, ao acesso à habitação<br />

e na proteção dos nossos<br />

idosos e das nossas crianças.<br />

Mas a gestão do nosso<br />

"O QUE ME IMPORTA<br />

REALMENTE É QUE O<br />

PARTIDO SOCIALISTA<br />

CONTINUE A TER<br />

A CAPACIDADE DE<br />

DESENVOLVER POLÍTICAS<br />

E AÇÕES QUE MELHOREM A<br />

QUALIDADE DE VIDA<br />

DOS AÇORIA<strong>NO</strong>S"<br />

Mar, a melhoria dos nossos<br />

sistemas de Transportes e a<br />

proteção do Ambiente, são<br />

também temáticas que estarão<br />

certamente em destaque.<br />

Sobre a última Comissão<br />

Permanente de Economia da<br />

audição do novo presidente do<br />

Conselho de Administração<br />

da SATA, sente que todas as<br />

questões colocadas foram<br />

bem resolvidas? Vê em Luís<br />

Rodrigues um profissional<br />

do setor capaz de conseguir<br />

diminuir os prejuízos da<br />

companhia açoriana?<br />

Sobre a audição realizada na<br />

Comissão de Economia posso<br />

garantir que todos os partidos<br />

políticos, mesmo aqueles que<br />

não têm assento na comissão,<br />

tiveram oportunidade de<br />

colocar todas as perguntas que<br />

entenderam ser pertinentes.<br />

Realço a importância de todos<br />

os deputados terem tido a<br />

possibilidade de questionar<br />

o futuro presidente do<br />

Conselho de Administração<br />

da SATA cujo currículo foi,<br />

aliás, bastante elogiado. As<br />

respostas que obtivemos nessa<br />

audição revelaram que o futuro<br />

presidente da nossa companhia<br />

aérea está preparado, e também<br />

bastante motivado, para<br />

enfrentar os desafios que se<br />

colocam quer em termos de<br />

reestruturação quer em termos<br />

de sustentabilidade da SATA.<br />

28 <strong>NO</strong>JAN20


as frases<br />

"ps e psd querem um incinerador em São miguel<br />

a toda A FORÇA"<br />

ANTÓNIO LIMA, BLOCO DE ESQUERDA açores<br />

"os açores não logram alcançar o sucesso que o governo regional<br />

e o partido socialista não artificalmente proclamado"<br />

maria joão carreiro, psd açores<br />

"não há cura sem dor"<br />

luís rodrigues, presidente sata<br />

"as propostas apresentadas no orçamento de estado para 2020 registam o<br />

esforço de transparências para a região e a continuidade de investimentos<br />

fundamentais, de acordo com os compromissos que assumimos com os açorianos"<br />

isabel almeida rodrigues, ps açores<br />

<strong>NO</strong>JAN20 29


eportagem<br />

A relação entre o espólio<br />

arqueológico e os públicos mais jovens<br />

Uma viagem pelos tesouros do Mar: a aventura que dá a conhecer e<br />

sensibiliza para a preservação do património subaquático da Região<br />

RUI SANTOS<br />

o<br />

O Clube de História da Fundação<br />

Sousa Oliveira recebeu Sandra<br />

de Sousa Bairos, Técnica de<br />

Serviço Educativo do Museu<br />

Carlos Machado e licenciada em<br />

Geografia pela Universidade de<br />

Coimbra. A convidada apresentou<br />

o seu trabalho educativo, criado<br />

no âmbito da sua tese de mestrado<br />

em Património, Museologia e<br />

Desenvolvimento na Universidade<br />

dos Açores, intitulada “Contributo<br />

para a Criação de um Serviço<br />

Educativo da Fundação Sousa<br />

de Oliveira: O Desenvolvimento<br />

de Laços entre o Espólio<br />

Arqueológico e os Públicos mais<br />

jovens”, a qual deu origem ao seu<br />

livro Uma viagem pelos tesouros<br />

do Mar dos Açores, que visa<br />

sensibilizar para a conservação<br />

do património e para a questão<br />

ambiental, contando com o apoio<br />

da Direção Regional da Cultura.<br />

30 <strong>NO</strong>JAN20


eportagem<br />

O moderador do evento<br />

foi o arqueólogo Diogo<br />

Teixeira Dias, que na sua<br />

introdução falou um pouco<br />

sobre o percurso académico<br />

e profissional da oradora,<br />

afirmando ter sido uma tese<br />

“elaborada com grande<br />

dificuldade, mas uma tese<br />

altamente meritória”, porque<br />

“fez uma omelete onde ainda<br />

não haviam ovos”, uma vez<br />

que “o espólio arqueológico da<br />

Fundação Sousa de Oliveira,<br />

apesar de estar disponível ao<br />

público, só teve inventário, no<br />

mês passado”, referindo-se ao<br />

mês de novembro.<br />

Sandra Bairos utilizou a<br />

Fundação para partilhar um<br />

serviço educativo, pois achou<br />

que “aqueles textos tinham<br />

histórias que as pessoas<br />

deviam conhecer”, pelo<br />

facto de retratarem “períodos<br />

importantes da história”.<br />

Explicando o processo do seu<br />

trabalho, a oradora confirma<br />

ter vindo para a Fundação para<br />

tentar fazer um levantamento do<br />

que é que existia em termos de<br />

espólio. A primeira dificuldade<br />

com que se deparou foi a<br />

falta de inventariação, “estava<br />

disperso e não estava estudado”.<br />

Sandra criou uma estratégia de<br />

orientação que se baseava em<br />

sete perguntas e na resposta às<br />

mesmas, tendo em conta o seu<br />

Target, o público jovem.<br />

As questões foram as seguintes:<br />

O que é uma Fundação?<br />

Quais são os objetivos de uma<br />

Fundação? Porque é que se<br />

cria uma Fundação? Quem<br />

foi Sousa de Oliveira? O que<br />

é um arqueólogo? O que é a<br />

Arqueologia?, e, depois, registar<br />

alguns dos elementos que<br />

fazem parte do espólio, saber<br />

porque é que Sousa de Oliveira,<br />

“pioneiro da arqueologia nos<br />

Açores”, escolheu Vila Franca<br />

do Campo para fazer as suas<br />

escavações arqueológicas.<br />

A oradora sublinhou que,<br />

dando resposta a estas questões,<br />

“estava a criar um serviço<br />

educativo”, querendo “criar<br />

ações que comunicassem essa<br />

informação com os públicos”,<br />

passando, assim, “por uma<br />

nova fase. Deixaria de ser<br />

um relatório de um trabalho<br />

efetuado na Fundação, e tinha<br />

de passar a ser um trabalho de<br />

campo, um projeto”.<br />

Pelo facto da Fundação não<br />

ter as condições necessárias,<br />

“pode perfeitamente cooperar<br />

com outro sítio e desenvolver<br />

esse serviço educativo<br />

<strong>NO</strong>JAN20 31


eportagem<br />

através de parcerias” não<br />

só com outras instituições<br />

culturais, mas também “indo<br />

às escolas”, usufruindo<br />

das “aulas de Cidadania” e<br />

ainda de disciplinas como<br />

“História, Geografia e<br />

Cultura dos Açores”, algo<br />

“fundamental para promover<br />

este conhecimento sobre a<br />

arqueologia nos Açores, porque<br />

é uma coisa que ouve-se falar<br />

muito pouco, mas ela existe”,<br />

afirmou.<br />

Este projeto seria para<br />

implementar através de uma<br />

parceria com o Museu de Vila<br />

Franca do Campo, “porque<br />

este reunia as condições,<br />

como Técnicos de Serviço<br />

Educativo e espaço reservado<br />

à arqueologia, e tinha também<br />

alguns artefactos de Sousa de<br />

Oliveira”, ou seja, “acho que<br />

tinha tudo para dar certo”.<br />

Deste modo, a interveniente<br />

desenvolveu ações que<br />

pudessem ser executadas<br />

naquele território, “porque isso<br />

das parcerias entre instituições<br />

culturais é fundamental para o<br />

desenvolvimento. As fundações<br />

e as instituições culturais não<br />

devem estar fechadas sobre si<br />

próprias”.<br />

Uma das ações desenvolvidas<br />

seria “um roteiro pedestre,<br />

que partia do Museu de Vila<br />

Franca e ia até a um sítio onde<br />

tinha sido desenvolvida uma<br />

campanha (arqueológica)”.<br />

Durante o percurso “o guia<br />

contava a história de Vila<br />

Franca do Campo”, ponto de<br />

partida para as escavações.<br />

O segundo momento “era<br />

uma dramatização, muito<br />

inspirada numa visita que<br />

eu fiz a Machado de Castro<br />

(Museu) em Coimbra, em que a<br />

dramatização é uma das ações<br />

de serviço educativo, através de<br />

um percurso guiado”.<br />

A ação pressuponha “um guia<br />

personalizado de Sousa de<br />

Oliveira a contar a história<br />

do que é ser arqueólogo,<br />

como um detetive que conta<br />

as histórias dos objetos, e<br />

explicando-os, conta a história<br />

de determinados modos de vida<br />

de um determinado povo num<br />

determinado espaço e tempo”.<br />

Diogo Teixeira Dias disse<br />

que explicar no terreno “é<br />

muito fácil quando se trata da<br />

arqueologia convencional”,<br />

referindo-se à arqueologia<br />

em terra, explicitando que<br />

“quando se trata da realidade<br />

subaquática, então muito<br />

mais para crianças, a coisa<br />

complica-se, porque uma<br />

criança não pode mergulhar”,<br />

e , “desejavelmente”, o espólio<br />

arqueológico deve ficar no seu<br />

contexto, “no mar, a menos que<br />

haja risco de roubo ou esteja<br />

32 <strong>NO</strong>JAN20


eportagem<br />

num local muito abrasado”.<br />

Como exemplo, o arqueólogo<br />

referiu um barco naufragado,<br />

colocando a questão retórica:<br />

“como é que se levanta um<br />

naufrágio?”. Mencionou que<br />

os nórdicos fazem-no com os<br />

navios vikings, porém “estamos<br />

a falar de outros orçamentos”.<br />

Sandra Bairos alegou ser<br />

importante, para o público<br />

mais jovem, “contar a história<br />

de todo aquele património que<br />

existe debaixo de água”. Daí a<br />

criação do seu livro, que leva<br />

a “considerarem que estas<br />

histórias são tesouros, e o que é<br />

que fazemos com os tesouros?<br />

Nós temos que protegê-los e<br />

salvaguardá-los”.<br />

A viagem começa aqui:<br />

Então, a autora criou as<br />

personagens que vão fazer<br />

uma viagem a vários sítios<br />

subaquáticos dos Açores, de<br />

interesse arqueológico, “que são<br />

barcos naufragados, canhões ou<br />

cemitérios de âncoras”.<br />

A personagem principal do<br />

livro é o Tito, “o menino do<br />

mar”. O avô do Tito chamavase<br />

Doraço e era pescador, mas<br />

não trazia peixe, daí todos se<br />

questionarem sobre o facto:<br />

“um pescador que não traz<br />

peixe, mas que pescador é esse?<br />

Ele na verdade não era bem um<br />

pescador”.<br />

O avô Doraço, sempre que<br />

vinha das suas viagens ao<br />

mar, “ia para o alpendre e<br />

começava a contar histórias,<br />

e as pessoas que passavam<br />

pela rua ouviam-no a contar<br />

histórias, os amigos do Tito não<br />

acreditavam naquelas histórias<br />

e sentia-se muito triste por esse<br />

facto, porque ele acreditava nas<br />

histórias que o avô contava”.<br />

O avô do Tito acabou por<br />

desaparecer no mar e o Tito<br />

ia sempre para a ponta do cais<br />

falar com o mar “sobre aquilo<br />

que eu vou contar que eram<br />

histórias”.<br />

O Doraço é uma personagem<br />

que representa o avô “como<br />

nós gostamos, que contam<br />

histórias”, que eram sempre<br />

sobre o mar, “sobre peixes<br />

grandes que viviam em barcos<br />

que estavam lá no fundo do<br />

mar e que eram tesouros, que<br />

o fundo do mar tinha muitos<br />

tesouros, mas que os tesouros<br />

eram para ficar lá”. O Tito “ia<br />

para as bibliotecas para tentar<br />

perceber essas histórias que o<br />

avô contava”.<br />

“Numa das suas idas à ponta<br />

do cais, estava a falar e ouve<br />

um barulho, era uma tartarugaboba<br />

(chamada Tamar) e uma<br />

criatura metálica que era um<br />

robô, Strike era o nome do<br />

robô. Era um robô que pertencia<br />

a uma expedição que estudava<br />

fontes hidrotermais. Uma das<br />

fontes hidrotermais era a Lucky<br />

Strike, e por isso o nome dele<br />

era Strike”.<br />

A autora, ao longo da obra,<br />

tenta sempre adicionar mais<br />

conteúdo à sua história, por<br />

exemplo a personagem da<br />

tartaruga-boba consciencializa<br />

para a problemática atual<br />

com as tartarugas que comem<br />

plásticos e que ficam presas<br />

em redes de pescadores, sendo<br />

o seu nome (Tamar) inspirado<br />

numa associação Brasileira que<br />

protege a espécie. O facto de<br />

contar histórias de naufrágios<br />

implica uma história que conta<br />

muitas outras histórias, não só<br />

do naufrago, mas também do<br />

barco que era, “antes de ser um<br />

barco que transportava pessoas,<br />

também, se calhar participou<br />

em guerras, contando, assim,<br />

as histórias que fazem parte do<br />

nosso mar”.<br />

Então, a viagem começa pelo<br />

Tito a descobrir estas histórias.<br />

A tartaruga e o robô convidamno<br />

e o Tito vai mergulhar ao<br />

mar a fim de conhecer esses<br />

“verdadeiros tesouros que são<br />

objetos que contam histórias.<br />

Como se esse mar fosse um<br />

museu, e os barcos naufragados<br />

fossem os objetos, e as histórias<br />

a comunicação. Os livros<br />

são meios de comunicação<br />

fundamentais”, sublinhou.<br />

A oradora, durante a sua<br />

intervenção, mostrou alguns<br />

exemplos dos náufragos<br />

visitados pelo Tito, e das<br />

histórias que a personagem<br />

ia descobrindo sobre estes<br />

mesmos náufragos, ao longo da<br />

sua aventura.<br />

O Dori naufragou em 1964,<br />

a cinco minutos do porto de<br />

Ponta Delgada, e a menos de<br />

20 metros de profundidade.<br />

“Foi um cargueiro que<br />

transportava muito aço, mas<br />

também teve outras histórias<br />

muito importantes, por exemplo<br />

participou na invasão da<br />

Normandia”.<br />

“Existem mais do que<br />

1000 naufrágios que estão<br />

identificados (nos Açores), mas<br />

apenas 30 são visitados. Uma<br />

forma de fazermos as crianças<br />

visitarem e reconhecerem<br />

estes espaços, naturalmente, é<br />

através do texto. O objetivo é<br />

sensibilizar para este património<br />

cultural”, afirmou a oradora.<br />

O Canárias era um barco a<br />

vapor espanhol que naufragou<br />

ao largo da ilha de Santa Maria,<br />

em 1871, e está localizado<br />

junto à Praia Formosa. Devido<br />

ao facto de estar “a três metros<br />

de profundidade” é possível<br />

ser visitado. Teve uma história<br />

“muito interessante, não só<br />

<strong>NO</strong>JAN20 33


eportagem<br />

Guia do Património Cultural Subaquático dos Açores<br />

transportou escravos, mas<br />

também participou na guerra<br />

dos 10 anos da independência<br />

de Cuba, ou seja, são várias<br />

histórias. Foi uma embarcação<br />

muito importante na Segunda<br />

Guerra Mundial”, sublinhou.<br />

O cemitério de âncoras, na<br />

Baía de Angra, formou-se,<br />

“porque ali passavam muitas<br />

embarcações, estava num<br />

ponto de paragem obrigatório”.<br />

Naquela zona, o vento, que<br />

sopra de Sul e Sueste, ficou<br />

conhecido localmente por<br />

"vento carpinteiro", “porque<br />

trazia as madeiras dos barcos<br />

para a costa, um fenómeno<br />

histórico daquela baía”.<br />

O Mazzini era um cargueiro a<br />

vapor italiano, de 128 metros,<br />

que naufragou ao largo da ilha<br />

Graciosa, em 1925, “e muitas<br />

pessoas foram buscar os objetos<br />

que hoje em dia têm em casa”.<br />

O moderador, Diogo Teixeira<br />

Dias, referiu, quanto a isso, que<br />

“muitas vezes as pessoas não<br />

fazem por mal, mas têm que<br />

ver a realidade, porque estão<br />

a pegar em património que é<br />

de todos”, situação para a qual<br />

Sandra Bairos apela no seu<br />

livro: “a personagem do avô<br />

Doraço já dizia que aqueles<br />

objetos são para ficar ali, e<br />

esta é uma forma de lutar pela<br />

preservação e pela salvaguarda<br />

do património”.<br />

O Her Majesty Ship Pallas<br />

naufragou em 1783, na Calheta,<br />

ilha de São Jorge. “Era um<br />

batedor, era aquele que ia à<br />

frente nos comboios de guerra,<br />

e fez parte da Guerra dos 7 anos<br />

e da Guerra da Independência<br />

Americana”.<br />

O Caroline era um veleiro<br />

Francês que naufragou junto<br />

à ilha do Pico, em 1901, foi<br />

“muito importante porque<br />

transportava uma substância<br />

que era o nitrato do chile, que<br />

servia para fertilizante dos solos<br />

europeus, mas também como<br />

um componente de explosivos”.<br />

O Slavónia naufragou, em<br />

1909, no Lajedo na ilha<br />

das Flores. Transportava<br />

emigrantes, vinha de Nova<br />

Iorque para Liverpool, “e os<br />

passageiros enviaram bilhetes<br />

ao comandante com interesse<br />

em observar as ilhas dos<br />

Açores, durante essa alteração<br />

de rota embateu na ilha das<br />

Flores e naufragou”. Antes de<br />

se chamar Slavónia chamavase<br />

Yamuna e pertencia ao<br />

transporte de correspondências<br />

do Post Office, únicas<br />

embarcações autorizadas a<br />

transportar correspondência<br />

britânica na época vitoriana.<br />

A autora decidiu optar pelas<br />

34 <strong>NO</strong>JAN20


eportagem<br />

crianças como público alvo,<br />

porque, na sua opinião, “devese<br />

sensibilizar, cada vez<br />

mais cedo, porque, quando<br />

crescerem, esses valores já<br />

estão intrinsecamente inseridos,<br />

para que no futuro a sociedade<br />

tenha sensibilidade para estas<br />

questões”.<br />

O moderador arqueólogo,<br />

Diogo Teixeira Dias,<br />

salientou que “em termos de<br />

boas práticas do património<br />

subaquático os Açores estão<br />

classificados nos cinco<br />

primeiros pela UNESCO, a<br />

nível mundial”.<br />

O mesmo disse que “o chamado<br />

achado recolhido, são achados<br />

móveis, que se podem levantar<br />

com alguma facilidade”, e, em<br />

alguns casos, temos que revelálos<br />

do mar, porque correm o<br />

risco de serem levados para<br />

casa por alguém que seja malintencionado”.<br />

Em suma, o arqueólogo<br />

clarificou, resumidamente,<br />

o processo pelo qual passa<br />

o achado. Afirmou que a<br />

legislação regional nesse aspeto<br />

“é muito boa e foi pioneira”,<br />

sendo que “estabelece<br />

valores mais altos para os<br />

achados subaquáticos do<br />

que propriamente aquilo que<br />

acontece no continente”.<br />

Relativamente à questão<br />

do pagamento ao achador,<br />

a legislação regional<br />

“desburocratiza imenso. É claro<br />

que são processos demorosos,<br />

mas em termos de pagamentos<br />

é desburocratizado. O achador<br />

tem direito a uma parte do<br />

valor comercial da peça”, e é<br />

“salvaguardado” nesse sentido,<br />

já que “caso não concorde<br />

com esse valor, pode recorrer<br />

e a Direção Regional nomeia<br />

um perito, o achador nomeia<br />

outro”, e, assim, “o valor é<br />

desempatado”. Posteriormente,<br />

“a peça é entregue e depois o<br />

Governo Regional é que decide,<br />

mediante o contexto, quem<br />

tem condições para a receber”,<br />

pois, devido à fragilidade de<br />

alguns achados, é provável que<br />

se danifiquem por não estarem<br />

reunidas as condições para o<br />

seu tratamento, como é o caso<br />

do exemplo que Diogo Teixeira<br />

testemunhou: “as peças que<br />

saem do mundo subaquático<br />

não podem entrar no mundo<br />

seco repentinamente, porque<br />

eu assisti desfazer-se um santo<br />

que era antiquíssimo de certeza,<br />

porque não houve o cuidado<br />

com isso”.


crónica<br />

JOÃO F. CASTRO<br />

PROFESSOR MESTRADO EM GESTÃO PORTUÁRIA<br />

Nova<br />

energia,<br />

no Mar<br />

dos Açores<br />

de Gases com Efeito de Estufa<br />

(GEE) que, após a sua emissão,<br />

permanecem na atmosfera<br />

terrestre, por longos anos,<br />

provocando alterações da sua<br />

composição, o que, adicionado<br />

à variabilidade natural, poderá<br />

gerar uma situação de irreversibilidade,<br />

na mudança do clima,<br />

atribuída à atividade humana.<br />

A CQNUAC tem sido desenvolvida<br />

pelas diferentes Conferência<br />

das Partes (COP), que<br />

a concretizam em objetivos,<br />

destacando-se: o Protocolo de<br />

Quioto, em 1997, que definiu<br />

metas quantitativas, para as<br />

emissões de cada País; e o<br />

Acordo de Paris, em 2015, ao<br />

estabelecer que, o aquecimento<br />

global, deveria ser contido<br />

abaixo de 2 ºC, preferencialmente<br />

em 1,5 ºC.<br />

A União Europeia (UE), avalia<br />

o(s) progresso(s)das principais<br />

fontes de emissões, comunicados<br />

pelos Países, tendo acordado<br />

reduzir as emissões de GEE<br />

(tendo por base o ano de 1990),<br />

estabelecendo objetivos, de<br />

redução em 20% até 2020, de<br />

40% até 2030 e de 80% a 95%<br />

até 2050.<br />

No entanto o transporte marítimo<br />

internacional não ficou<br />

abrangido pelo acordo de Paris.<br />

Não foram estabelecidas metas<br />

intercalares para 2020 e 2030<br />

para as emissões e remoções<br />

do transporte marítimo internacional.<br />

Se nada for feito,<br />

estudos estimam que estas<br />

emissões poderão aumentar<br />

significativamente, prevendo-se<br />

Este texto será lido no ano<br />

2020. O Secretário Geral, da<br />

Organização das Nações Unidas<br />

(ONU), António Guterres, na sua<br />

mensagem de ano novo, destacou<br />

novamente a problemática das<br />

Alterações Climáticas, que comprometem<br />

o futuro do Planeta.<br />

A ONU, hoje com 193 estados-membros,<br />

foi criada após<br />

a 2ª Guerra Mundial, para<br />

desenvolver a cooperação internacional.<br />

Em 1992, no Rio de<br />

<strong>Janeiro</strong>, realizou a Conferência<br />

das Nações Unidas para o Meio<br />

Ambiente e o Desenvolvimento,<br />

da qual resultou a Convenção<br />

Quadro das Nações Unidas para<br />

as alterações Climáticas (CQNU-<br />

AC). Subscrita pela maioria<br />

dos países do mundo, teve por<br />

base os alertas da comunidade<br />

científica para a necessidade de<br />

estabilização da concentração<br />

36 <strong>NO</strong>JAN20


crónica<br />

que, possam mesmo ultrapassar<br />

as emissões realizadas em<br />

terra, sobretudo quando 90%<br />

das trocas comerciais (75% na<br />

Europa), são realizadas por via<br />

marítima. Neste momento a<br />

Organização Marítima Internacional<br />

(IMO) tem o objectivo<br />

de reduzir 50% das emissões<br />

até 2050, comparando com<br />

o ano de 2008. A Convenção<br />

Internacional para a Prevenção<br />

da Poluição por Navios (MAR-<br />

POL – “Marine Pollution”), no<br />

seu anexo VI, define regras para<br />

as emissões gases para a atmosfera.<br />

Delimita áreas de emissões<br />

controladas (ECA – Emission<br />

Controled Area), e regras, a que<br />

os combustíveis utilizados pelos<br />

navios, têm de obedecer, como<br />

os teores de enxofre e de sulfuretos<br />

utilizados. Em 2012 introduziu<br />

novos limites (3,5%),<br />

para a percentagem de enxofre<br />

nos combustíveis, prevendo-se<br />

para 1 de <strong>Janeiro</strong> de 2020 a<br />

aplicação do limite de 0,5%.<br />

Em Portugal estudos apontam<br />

para que, as emissões resultantes<br />

do transporte marítimo,<br />

tenham impacto na qualidade<br />

do ar, chegando às zonas costeira,<br />

com contribuições de 10%<br />

a 20% para as concentrações<br />

de óxidos de nitrogénio (<strong>NO</strong>x),<br />

acima de 20% para o dióxido de<br />

enxofre (SO2) e inferior a 10%<br />

no caso das partículas.<br />

De entre as medidas apontadas,<br />

para enfrentar o problema,<br />

destaca-se o recurso a combustíveis<br />

alternativos, visando<br />

reduzir a utilização de combustíveis<br />

tradicionais. O LNG<br />

(Liquified Natural Gas) parece<br />

apresentar a relação custo/<br />

benefícios mais ajustada, com<br />

baixos níveis de emissões e<br />

isenção de contaminantes, proporcionando<br />

energia de qualidade,<br />

a um custo competitivo,<br />

nomeadamente quando comparado<br />

com os combustíveis<br />

provenientes de hidrocarbonetos,<br />

normalmente utilizados nos<br />

navios. Mesmo sabendo que<br />

em 2050, a utilização de LNG<br />

de forma isolada, não permitirá<br />

cumprir as metas de descarbonização.<br />

Contudo permitirá<br />

assegurar a manutenção das<br />

rotas comerciais bem como a<br />

operacionalidade existente.<br />

Os Açores, com uma Zona<br />

Económica Exclusiva (ZEE)<br />

e fundos adjacentes, com uma<br />

área na ordem dos 2 mil Km2,<br />

poderão assumir um papel<br />

de relevo neste processo, na<br />

gestão de uma “nova” fonte de<br />

energia, nomeadamente para a<br />

navegação no Atlântico Norte.<br />

Um desafio! Uma oportunidade!<br />

para o Mar dos Açores!<br />

Feliz Ano Novo!<br />

<strong>NO</strong>JAN20 37


ENTREVISTA<br />

mural fénix<br />

lídia meneses (Presidente Lions Clube Lagoa)<br />

"<br />

Não devo ditar qualquer papel da mulher ou desenhar<br />

-lhe um perfil. Preocupa-me, porém, que a ausência da mulher<br />

na esfera pública e política coloque em risco todo o percurso<br />

realizado pela igualdade, até agora.<br />

" Claúdia<br />

carvalho


ENTREVISTA<br />

l<br />

Lídia Meneses é a atual<br />

presidente do Lions Clube<br />

Lagoa. É também responsável<br />

pelo Departamento de<br />

Imagem e Comunicação,<br />

no Grupo Marques e<br />

caracteriza-se como uma<br />

“artista de formas e linhas”.<br />

Realizou recentemente, num<br />

conjunto de esforços com<br />

três associações – Associação<br />

Umar Açores, Lions Clube<br />

Lagoa e Alternativa –,<br />

um mural situado em<br />

Santa Clara, cujas formas<br />

representam a figura da<br />

fénix. A presidente do Lions<br />

Lagoa diz ser “apenas um<br />

meio” para que se transmita<br />

o todo, a mensagem. “O meu<br />

papel é o de transmissora ou<br />

artista de uma ideia coletiva”,<br />

confessa. Assim, Fénix<br />

insurge a ideia de “relembrar<br />

o instinto maternal/ paternal,<br />

que tanto homens como<br />

mulheres, podem reconhecer<br />

no seu íntimo”.<br />

É a primeira vez que as três<br />

associações (Associação Umar<br />

Açores, Lions Clube Lagoa<br />

e Alternativa- Associação<br />

Contra as Dependências)<br />

unem esforços em prol de<br />

uma causa importante?<br />

É a primeira vez que as 3<br />

entidades se associam em prol<br />

de uma causa comum. No<br />

seguimento do tema da direção<br />

lionística <strong>2019</strong>/20, a Igualdade,<br />

os Lions Clube da Lagoa,<br />

associaram-se à UMAR-Açores<br />

nas manifestações dos 16 dias<br />

de Ativismo Contra a Violência<br />

Sobre a Mulher, de raiz<br />

internacional, coordenado pelo<br />

Center of Women´s Leadership.<br />

Onde é que podemos visitar o<br />

Mural Fénix? Quando e onde<br />

foi planeado?<br />

O mural Fénix Renascida<br />

encontra-se na EN1-1A,<br />

freguesia de Santa Clara, a<br />

caminho do Arco 8. A ideia de<br />

utilizar o símbolo da Fénix,<br />

como mote de uma campanha<br />

feminista, nasceu aquando de<br />

uma homenagem realizada a<br />

Clarisse Canha, responsável<br />

pela implementação da UMAR,<br />

na R.A.A, numa mostra<br />

de cinema de Igualdade de<br />

Género, o IMPRÓPRIA, o qual<br />

trouxe a debate a luta contra<br />

os preconceitos e estereótipos<br />

sociais. Foi, portanto, uma<br />

inspiração resultante do<br />

momento.<br />

Como surgiu a ideia sobre<br />

este mural? Surgiu em<br />

conjunto com as outras<br />

associações ou foi uma<br />

iniciativa pensada, em<br />

primeiro lugar, pelo Lions<br />

Clube Lagoa (LCL)?<br />

A ideia do mural surgiu num<br />

flash de memória. Na verdade,<br />

as imagens surgem, assim,<br />

como resultado das vivências<br />

e trabalho com a comunidade.<br />

A Fénix é de todos. Surgiu,<br />

por mero acaso, porque o meu<br />

papel é o de transmissora ou<br />

artista de uma ideia coletiva.<br />

Sou apenas um meio. Quando<br />

falho nessa empatia, é para<br />

mim uma frustração. Este foi,<br />

portanto, um trabalho coletivo.<br />

Porquê a figura da fénix a<br />

representar a Campanha<br />

Internacional e Nacional: 16<br />

Dias de Ativismo Contra a<br />

Violência Sobre a Mulher?<br />

O que é que essa figura<br />

representa em termos de<br />

construção do papel feminino<br />

na sociedade?<br />

Não devo ditar qualquer papel<br />

da mulher ou desenhar-lhe um<br />

perfil. Preocupa-me, porém, que<br />

a ausência da mulher, na esfera<br />

pública e política, coloque em<br />

risco, todo o percurso realizado<br />

pela igualdade, até agora. E<br />

isto, sim, esta indisponibilidade<br />

parece-me estar relacionado<br />

com o exagero de papéis que a<br />

mulher acarreta, em Portugal.<br />

As fases do feminismo<br />

trouxeram ganhos, mas ainda<br />

estamos longe de atingirmos<br />

um desempenho igual, devido<br />

a mentalidades e obstáculos.<br />

Quando uma mulher considera<br />

irrelevante deslocar-se a uma<br />

mesa de voto para exercer a<br />

sua responsabilidade enquanto<br />

cidadã, um direito conseguido<br />

com o sangue de muitas<br />

companheiras, isso preocupame.<br />

A opinião das mulheres<br />

é crucial, neste momento<br />

de grandes avanços. Como<br />

disse Barack Obama: “Se as<br />

mulheres governassem todos<br />

os países, o mundo seria<br />

melhor, pois haveria uma<br />

melhoria geral, no padrão de<br />

vida e nos resultados (...)”.<br />

Estamos a conseguir obter<br />

alguns resultados positivos,<br />

até para o sexo oposto, como<br />

a extensão da licença de<br />

paternidade, a existência de<br />

creches acessíveis. Falta, ainda,<br />

a existência de uma sociedade<br />

na qual as mulheres possam<br />

ser mais livres, sem medo de<br />

<strong>NO</strong>JAN20 39


serem violadas, intimidadas<br />

sexualmente, infantilizadas<br />

e desacreditadas. Uma<br />

sociedade em que possam<br />

sonhar e tornar-se naquilo que<br />

sonharam.<br />

No fundo, a figura da Fénix<br />

vem relembrar o instinto<br />

maternal/ paternal, que tanto<br />

homens como mulheres,<br />

podem reconhecer no seu<br />

íntimo. Reconhecer que há<br />

ciclos de avanço e retrocesso<br />

e que a mulher, a mãe, a<br />

filha, a irmã, as suas avós e<br />

ancestrais sempre tiveram a<br />

capacidade de se regenerarem.<br />

Mitologicamente é uma ave<br />

poderosa e protetora, com<br />

a capacidade de destruir<br />

e construir. Ela relembra<br />

que podemos voar sobre os<br />

obstáculos, rumo a uma esfera<br />

superior.<br />

Sendo presidente do Lions<br />

Clube Lagoa, acha que esta<br />

iniciativa vai de encontro<br />

com os princípios do clube<br />

de igualdade e justiça social?<br />

De que forma é que o LCL<br />

influenciou a dinâmica desta<br />

iniciativa?<br />

Foi apenas em 2017 que a<br />

primeira mulher presidente<br />

da Associação Internacional<br />

dos Lions Club foi eleita,<br />

Gudrun Björt Yngvadóttir<br />

é atuante em diversas<br />

organizações profissionais e<br />

comunitárias, é responsável<br />

por ter implementado o New<br />

Voices, um programa que<br />

promove a paridade de género<br />

e a diversidade, bem como<br />

visa aumentar o número de<br />

mulheres, jovens adultos e<br />

população mal representada,<br />

dentro do Clube Lions. Em<br />

<strong>2019</strong>, ainda como assessora<br />

social da direção 2018/19,<br />

"<br />

É um desejo<br />

global, atual<br />

e premente, o<br />

da igualdade<br />

de género,<br />

nomeadamente<br />

o direito à<br />

saúde, ao<br />

salário igual<br />

e às mesmas<br />

condições e<br />

oportunidades.<br />

fui convidada para realizar o<br />

1ºFórum Novas Vozes: pela<br />

Igualdade de Género, na<br />

cidade da Lagoa contanto para<br />

isso, com o apoio da Câmara<br />

Municipal da Lagoa e diversos<br />

oradores de renome, entre os<br />

quais, a atriz Mariana Monteiro<br />

e a representante europeia do<br />

programa, Carla Cifola, num<br />

resultado bem sucedido, de<br />

impacto público e objetivos<br />

válidos, os quais foram sendo<br />

implementados, ao longo<br />

deste ano. Assim sendo, esta<br />

iniciativa da Imprópria e da<br />

UMAR Açores estão alinhadas<br />

com os valores dos Lions<br />

Clube Lagoa, para <strong>2019</strong>/20,<br />

nada a admirar, visto que este<br />

é um desejo global, atual<br />

e premente, o da igualdade<br />

de género, nomeadamente<br />

o direito à saúde, ao salário<br />

40 <strong>NO</strong>JAN20


igual e às mesmas condições e<br />

oportunidades.<br />

Sabemos que os estudantes<br />

da Escola Secundária<br />

Antero de Quental (ESAQ)<br />

também participaram neste<br />

projeto. Como é que sentiu a<br />

envolvência dos alunos num<br />

projeto como este?<br />

A professora Alexandra<br />

Baptista, na qualidade de<br />

mulher artista e professora de<br />

Desenho, na ESAQ, foi uma<br />

das várias pessoas convidadas<br />

a tomar parte do evento. Os<br />

seus alunos tiveram, assim, a<br />

oportunidade de visualizarem<br />

técnicas de pintura e de desenho,<br />

nomeadamente, as dificuldades<br />

inerentes ao desenho e<br />

pintura, numa escala maior<br />

e de confraternizarem com<br />

profissionais da área do design e<br />

do grafitti.<br />

Sente que a sensibilização<br />

sobre este tipo de temas ganha<br />

maior preponderância quando<br />

é realizada desta forma, com<br />

o envolvimento dos mais<br />

jovens?<br />

O envolvimento de todos é<br />

essencial na realização dos<br />

objetivos a que nos propomos,<br />

uma sociedade mais justa e<br />

igualitária, é uma luta que não<br />

tem idade, cor, sexo ou estatuto<br />

social.<br />

Tem sido ativista neste tipo<br />

causas? Se sim, será que<br />

nos pode indicar qual o<br />

seu contributo sobre estes<br />

assuntos?<br />

Tenho sido ativista na medida<br />

que luto por ter opiniões<br />

formadas, um percurso laboral<br />

independente e pela realização<br />

pessoal dos meus sonhos e<br />

ambições. Vejo-me, porém,<br />

muitas vezes em situações nas<br />

quais desejaria ser advogada<br />

na defesa da causa feminina,<br />

pois observo ditos, escritos e<br />

manifestos incongruentes com<br />

a atual evolução da mulher e<br />

com aquela que sempre foi a<br />

sua natureza, a de criadora, de<br />

seres ou de obras, de ideias ou<br />

de objetos. As mulheres são<br />

líderes, por direito natural. Vejo<br />

que é tempo de ocuparmos o<br />

nosso espaço e terminarmos de<br />

vez com observações sexistas<br />

e redutoras do nosso perfil, o<br />

qual, na verdade, não existe,<br />

nem deve ser desenhado. Sou<br />

contra estereótipos. Nessa<br />

medida o meu ativismo está<br />

na escolha da minha atividade<br />

profissional enquanto designer,<br />

professora, artista plástica, mãe<br />

e voluntária. É nesta ânsia de<br />

fazer e de ser que encontro as<br />

maiores barreiras.<br />

Se pudesse deixar algumas<br />

palavras aos nossos leitores<br />

sobre a violência contra a<br />

mulher, ou até mesmo ao<br />

tema de forma genérica, o que<br />

diria?<br />

Como artista de formas e<br />

linhas, deixo as palavras<br />

aos contempladores: "Sou<br />

igual à Fénix... Às vezes<br />

renasço das cinzas sem que<br />

ninguém espere... E volto ao<br />

campo para a nova batalha.<br />

Renascer faz parte de mim,<br />

vou insistir na busca, gosto<br />

do improvável, sou movida<br />

a desafios, acredito no poder<br />

da transformação, não me<br />

contento com o óbvio." –<br />

Marlene Araújo.<br />

<strong>NO</strong>JAN20 41


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crónica<br />

A NTÓNIO VENTURA<br />

DEPUTADO PELO PSD AÇORES<br />

NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA<br />

regiões<br />

ultraperiféricas<br />

Considero que existe uma<br />

lacuna no âmbito do trabalho<br />

parlamentar das Comissões<br />

da Assembleia da República e<br />

que se prende com a ausência<br />

de uma atenção política<br />

permanente sobre as Regiões<br />

Ultraperiféricas.<br />

Neste sentido, e reconhecendo<br />

que é preciso corrigir esta<br />

situação, seria útil que a<br />

Comissão dos Assuntos<br />

Europeus promovesse uma<br />

audição ao Comité das Regiões.<br />

Importa referir que o Comité<br />

das Regiões é um órgão<br />

consultivo da União Europeia<br />

(UE), representado por<br />

autoridades locais e regionais<br />

dos 28 Estados-Membros que<br />

compõem a União Europeia.<br />

É um facto que as cidades e<br />

as regiões enfrentam vários<br />

desafios que se mantém<br />

atuais e cuja especificidade<br />

dos seus territórios exige<br />

ajustamentos e respostas locais,<br />

tais como os impactos dos<br />

acordos comerciais bilaterais<br />

e multilaterais da União<br />

Europeia, a crise migratória,<br />

o despovoamento e o<br />

envelhecimento populacional, a<br />

coesão territorial, as sucessivas<br />

crises na agricultura e nas<br />

pescas, as alterações climáticas,<br />

as energias renováveis, entre<br />

outros.<br />

Mas, se assim é, também<br />

é um facto que a mesma<br />

especificidade das regiões,<br />

detém um considerável<br />

potencial de desenvolvimento,<br />

embora esteja, muitas vezes,<br />

em estado latente.<br />

Interessa, pois, aproveitar<br />

estas potencialidades. Por<br />

exemplo, estou convicto que as<br />

Regiões Ultraperiféricas podem<br />

contribuir para um futuro<br />

melhor da EU, desde que sejam<br />

consideradas no que concerne<br />

à sua posição geográfica<br />

mundial, à sua dimensão<br />

marítima, ao seu domínio<br />

científico e tecnológico, como<br />

zonas de fronteira, entre<br />

outros aspetos que têm sido<br />

permanentemente, e nalguns<br />

casos propositadamente,<br />

esquecidos na decisão política<br />

da UE.<br />

São apontados muitos<br />

benefícios das Regiões<br />

Ultraperiféricas, desde logo,<br />

podem ser um laboratório<br />

privilegiado para a investigação<br />

e a experimentação em<br />

áreas como, a astrofísica, o<br />

aeroespacial, a vulcanologia, a<br />

sismologia e a oceanografia.<br />

Num mundo cada vez<br />

mais globalizado a posição<br />

geoestratégica das Regiões<br />

Ultraperiféricas torna-se<br />

numa mais-valia e num trunfo<br />

geopolítico para a União<br />

Europeia, materializando-se<br />

numa política onde a UE pode<br />

fortalecer a sua ação externa.<br />

Porém, cabe, acima de tudo,<br />

à União Europeia valorizar<br />

todos os seus territórios, pelo<br />

aproveitamento das suas<br />

vantagens em favor das suas<br />

populações.<br />

A audição do Comité das<br />

Regiões irá permitir que<br />

tenhamos um privilegiado<br />

parceiro de conhecimento e de<br />

reivindicação para o trabalho<br />

do Parlamento Português.<br />

Neste âmbito da reivindicação,<br />

assume utilidade democrática o<br />

Parlamento Nacional pressionar<br />

as Instituições Europeias para<br />

se usar de forma adequada<br />

e eficiente o artigo 349.º do<br />

Tratado de Funcionamento<br />

da União Europeia (TFUE),<br />

garantindo que as Regiões<br />

Ultraperiféricas disponham<br />

de um tratamento efetivo de<br />

diferenciação ao nível das<br />

políticas de coesão social e<br />

económica.<br />

Estou convicto que daqui<br />

em diante teremos um novo<br />

desafio em termos de trabalho<br />

parlamentar em prol dos<br />

Açores. Um trabalho que<br />

acresce ao que se está a fazer<br />

pela denominação de Região<br />

Ultraperiférica.<br />

<strong>NO</strong>JAN20 43


REPORTAGEM<br />

Delta Airlines – Açores:<br />

Um divórcio sem madrasta má<br />

“Não pediu para vir, como também, praticamente não pediu para sair”<br />

RUI SANTOS / DIOGO GOSTA<br />

a<br />

A redação da <strong>NO</strong> <strong>Revista</strong><br />

acompanhou a Comissão<br />

Permanente de Economia,<br />

realizada na delegação da<br />

Assembleia Legislativa da<br />

Região Autónoma dos Açores,<br />

em Ponta Delgada, no dia 16<br />

de dezembro, onde o Bloco<br />

de Esquerda (BE), o CDS-PP,<br />

o Partido Socialista (PS) e o<br />

Partido Social Democrata (PSD)<br />

questionaram e auscultaram<br />

Carlos Morais, Presidente<br />

da Associação de Turismo<br />

dos Açores (ATA), e Marta<br />

Guerreiro, Secretária Regional<br />

da Energia, Ambiente e Turismo<br />

(SREAT), de forma a obterem<br />

44 <strong>NO</strong>JAN20


REPORTAGEM<br />

esclarecimentos sobre o fim da<br />

operação da Delta Airlines entre<br />

Nova Iorque e Ponta Delgada.<br />

Já na edição digital de novembro<br />

da <strong>NO</strong> <strong>Revista</strong>, após a decisão<br />

de abandonar a rota por parte<br />

da companhia aérea norteamericana,<br />

foi elaborado um<br />

artigo que levantava questões,<br />

algumas delas esclarecidas<br />

nesta Comissão relativamente<br />

ao futuro da Região sem esta<br />

operação.<br />

A primeira ronda de audições<br />

desta Comissão começou com<br />

Carlos Morais, Presidente da<br />

ATA, que, perante todos os<br />

representantes dos partidos<br />

presentes, providenciou<br />

esclarecimentos relativos à<br />

posição da Associação de<br />

Turismo dos Açores, durante<br />

todo o processo, desde a vinda da<br />

Delta Airlines para os Açores até<br />

ao abandono da rota.<br />

Carlos Morais fez questão de<br />

começar a sua intervenção a<br />

frisar o facto de, quando esta<br />

direção da ATA tomou posse, a<br />

20 de maio de <strong>2019</strong>, a operação<br />

da Delta já estava em curso, no<br />

seu segundo ano de operação.<br />

O interveniente sublinhou ainda<br />

que, da parte da ATA, tendo<br />

em conta aquilo que estava<br />

contratualizado para o ano de<br />

<strong>2019</strong>, “tudo foi feito para que<br />

esta operação tivesse sucesso e<br />

tivesse a sua continuidade”.<br />

“Em 2018, quando veio para os<br />

Açores, neste caso para Ponta<br />

Delgada, não pediu para vir,<br />

como também, praticamente,<br />

não pediu para sair”, afirmou<br />

Carlos Morais relativamente<br />

à companhia aérea norteamericana,<br />

que, segundo o<br />

mesmo, “é a segunda maior<br />

companhia aérea do mundo”.<br />

Prosseguindo no seu<br />

esclarecimento às perguntas<br />

colocadas por Carlos Silva,<br />

deputado do PS/Açores, o<br />

Presidente da ATA acrescenta<br />

que já em 2015 houve um<br />

interesse da Delta Airlines em<br />

conhecer melhor o mercado<br />

Açores, através da Vinci,<br />

do Governo Regional e da<br />

Associação de Turismo dos<br />

Açores:<br />

Já nesse sentido, tudo foi feito<br />

na altura para que levasse,<br />

em 2018, para além de slots,<br />

passasse a uma questão mais<br />

concreta, e passasse a voar para<br />

PDL, numa primeira fase com<br />

5 voos, numa segunda fase, no<br />

Dando uso ao seu direito de<br />

réplica, Carlos Silva afirmou<br />

que, em relação às dormidas,<br />

pelas informações que<br />

tentou apurar, e após fazer<br />

alguns cálculos, as dormidas<br />

provenientes da operação<br />

da Delta rondavam os 3%<br />

e não os 10% mencionados<br />

anteriormente, algo que “de<br />

qualquer forma é um número<br />

relevante”. Porém, sem centrarse<br />

nesta questão, o deputado<br />

socialista procurou saber se<br />

Carlos Morais achou justas<br />

as críticas de Mário Fortuna,<br />

Presidente da Câmara de<br />

segundo ano, com 7 voos, por<br />

uma questão operacional, pura e<br />

simplesmente operacional, e que<br />

tinha uma expressão que nós<br />

consideramos que andará à volta<br />

dos 10% de dormidas.<br />

Quando questionado sobre<br />

possíveis falhas na promoção do<br />

destino Açores, Carlos Morais<br />

afirmou que “tudo foi feito”,<br />

realçando que, desde que tomou<br />

posse, os contratos feitos para<br />

<strong>2019</strong> com a Delta Vacations,<br />

entidade promotora dos destinos<br />

para onde a Delta Airlines voa,<br />

“foram cumpridos”.<br />

Comércio e Indústria de Ponta<br />

Delgada, após o abondando da<br />

rota por parte da companhia<br />

norte-americana, que, na altura,<br />

afirmou que a “promoção<br />

do destino Açores falhou”,<br />

acusando Governo Regional<br />

e ATA de “não terem sabido<br />

aproveitar uma oportunidade<br />

única para a Região”, falando<br />

numa quebra de 4% nas<br />

dormidas e num prejuízo<br />

anual de 20 milhões de euros,<br />

acusações que o Presidente da<br />

ATA considera injustas.<br />

De seguida, foi a vez de António<br />

Vasco Viveiros, deputado do<br />

<strong>NO</strong>JAN20 45


REPORTAGEM<br />

PSD/Açores, colocar questões<br />

mais direcionadas para saber<br />

que compromissos foram feitos<br />

em termos de promoção, se<br />

foram cumpridos nos timings<br />

certos, e que montantes<br />

envolviam.<br />

De seguida, na tentativa de<br />

melhor elucidar António<br />

Vasco Viveiros, deputado do<br />

PSD/Açores, Carlos Morais,<br />

relativamente à natureza dos<br />

compromissos feitos com a<br />

Delta Vacations, afirmou que<br />

se tratavam de uma série de<br />

campanhas de marketing que<br />

em 2018 foram totalmente<br />

pagos numa verba a rondar<br />

os 156 mil dólares. No ano<br />

seguinte, foi feito também um<br />

contrato de marketing orçado<br />

em 220 mil dólares, do qual<br />

parte da verba foi assumida<br />

pelo Turismo de Portugal (TP),<br />

e a restante pela Associação<br />

de Turismo dos Açores,<br />

frisando que “em nenhum<br />

momento a Delta disse que,<br />

quer TP, quer ATA estavam<br />

em incumprimento com a<br />

companhia”.<br />

Outra questão colocada pelo<br />

deputado social-democrata<br />

prendia-se com uma eventual<br />

falta de condições do aeroporto<br />

de Ponta Delgada que poderiam<br />

explicar, de certa forma, a<br />

decisão da Delta, algo que o<br />

Presidente da ATA realçou que<br />

“nunca foi referenciado”.<br />

Foi sim referenciada uma outra<br />

questão que o senhor deputado<br />

levantou, relacionada com o<br />

tipo de cliente que frequentava<br />

aquelas rotas. Um avião tem<br />

vários tipos de tarifa e uma<br />

tarifa que eles não conseguiam<br />

vender era a Classe Executiva,<br />

portanto, o padrão de turista<br />

que estava a frequentar aquela<br />

rota era um padrão de turista de<br />

classe média.<br />

Nesse sentido, Carlos Morais<br />

afirmou que “há um caminho<br />

muito grande que a Região<br />

tem que fazer para aumentar<br />

a sua notoriedade”, visando o<br />

mercado “luxury” como algo<br />

a consolidar no arquipélago,<br />

de modo a aumentar a sua<br />

notoriedade e atratividade.<br />

Relativamente aos contactos<br />

feitos com a Delta, o Presidente<br />

da ATA sublinhou que houve<br />

uma fase em que estes eram<br />

da responsabilidade do<br />

Turismo de Portugal, devido<br />

à situação de instabilidade<br />

que se vivia na Associação<br />

de Turismo dos Açores, e<br />

que, mais tarde, passaram<br />

para a sua responsabilidade,<br />

mas confessou que ambas as<br />

entidades tiveram dificuldades<br />

em contactar com a empresa<br />

norte-americana, afirmando que<br />

“as respostas quando tardaram,<br />

tardaram sempre da parte da<br />

Delta”.<br />

Chegou a vez de serem<br />

levantadas questões pelo Bloco<br />

de Esquerda Açores, através do<br />

seu representante, o deputado<br />

Paulo Mendes, que procurou<br />

saber que dados e perspetivas<br />

levaram a ATA a convencer<br />

a companhia aérea norteamericana<br />

a voar para a Região,<br />

se alguma vez foi colocada<br />

a possibilidade de criação<br />

de rotas para outras ilhas e<br />

se foi alguma vez solicitada<br />

pela Delta ou oferecida pelas<br />

entidades regionais, algum tipo<br />

de contrapartida, para além das<br />

mencionadas na audição.<br />

No que diz respeito àquilo que<br />

“convenceu” a Delta a voar<br />

para os Açores, Carlos Morais<br />

fala em “motivações notórias”,<br />

dando ênfase à crescente<br />

notoriedade do nosso mercado<br />

e ao mercado de proximidade<br />

com os Estados Unidos da<br />

América.<br />

De seguida, o Presidente da<br />

ATA afirma que, em <strong>2019</strong>,<br />

ainda com a anterior direção<br />

do organismo, foram feitos<br />

contactos com a Delta no<br />

sentido de aumentar o número<br />

de frequências e foi abordada<br />

também a hipótese de fazer uma<br />

rota com mais um voo para a<br />

ilha Terceira, algo que não foi<br />

contemplado pela companhia<br />

aérea, que procedeu sim ao<br />

aumento das frequências em<br />

Ponta Delgada.<br />

Abordando as possíveis<br />

contrapartidas existentes, à<br />

data do pagamento dos 200 mil<br />

dólares pela ATA e pelo TP,<br />

foi também oferecido, caso a<br />

Delta assim o entendesse, um<br />

reforço da verba através de um<br />

concurso público internacional,<br />

no sentido de dar continuidade<br />

à rota.<br />

Seguiu-se o deputado Alonso<br />

Miguel, do CDS-PP, que<br />

questionou diretamente Carlos<br />

Morais, relativamente à razão<br />

para este “cancelamento<br />

súbito”, a que o Presidente da<br />

ATA respondeu de imediato que<br />

se tratava de uma questão de<br />

rentabilidade: “Entre o ‘dever’<br />

e o ‘haver’, a empresa tem que<br />

rentabilizar o ativo que tem, que<br />

neste caso é o avião”, voltando<br />

de novo à questão das tarifas de<br />

Classe Executiva e da aposta no<br />

mercado “luxury” que tem que<br />

ser feita na Região.<br />

Carlos Morais deu ainda o<br />

seguinte exemplo para clarificar<br />

o seu ponto de vista: “Posso ter<br />

uma taxa de ocupação de 80%,<br />

como era o caso, a preço de<br />

1€ cada passageiro que está a<br />

bordo e posso ter uma taxa de<br />

80% a 1000€ cada bilhete e aí é<br />

que está a diferença”.<br />

Na segunda ronda de questões,<br />

o Presidente da ATA foi de<br />

46 <strong>NO</strong>JAN20


REPORTAGEM<br />

novo questionado por alguns<br />

dos deputados. Primeiramente,<br />

Carlos Silva, da bancada<br />

socialista, mencionou a recémestabelecida<br />

ligação da TAP<br />

entre Ponta Delgada e Boston<br />

e perguntou a Carlos Morais se<br />

esta ligação seria importante<br />

para colmatar a saída da Delta,<br />

algo que o Presidente da ATA<br />

não desenvolveu muito, por não<br />

ser o tema da Comissão, mas<br />

na opinião do mesmo, “é um<br />

mercado importante”, tratandose<br />

de “uma operação anual que<br />

faz toda a diferença”.<br />

Já o deputado Paulo Mendes,<br />

do BE/Açores, voltou a<br />

questionar Carlos Morais sobre<br />

que “dados e perspetivas foram<br />

dadas à Delta Vacations”, que<br />

levaram na altura a companhia<br />

norte-americana a investir<br />

no mercado Açores e, nesse<br />

sentido, “o que foi feito em<br />

setembro deste ano para que a<br />

Delta mudasse de ideias”.<br />

Em relação a esta questão, o<br />

Presidente da ATA afirmou que<br />

“não há rato escondido com o<br />

rabo de fora”. Carlos Morais<br />

frisou o facto de os “aeroportos<br />

serem um negócio”, ou seja,<br />

“também têm interesse nesse<br />

sentido”, e afirmou:<br />

Não houve nenhuma<br />

contrapartida. Os meios de<br />

financiamento são os meios<br />

normais que existem na Região.<br />

O programa VIP, que é do<br />

Turismo de Portugal, onde<br />

existe um diploma que apoia<br />

a captação de novas rotas,<br />

há um próprio programa da<br />

Vinci, em relação à captação de<br />

novas rotas para determinados<br />

aeroporto, e tem depois a verba<br />

que a Região entenda, conforme<br />

prioridade, em fazer promoção<br />

num determinado destino<br />

turístico.<br />

De seguida, Luís Rendeiro,<br />

deputado do PSD/Açores,<br />

questionou o Presidente da<br />

Associação de Turismo dos<br />

Açores no sentido de perceber<br />

se existiu algum tipo de ligação<br />

entre a vinda da Delta Air Lines<br />

para a Região e o acordo da<br />

Base das Lajes com os Estados<br />

Unidos da América. Depois,<br />

mencionou também o incidente<br />

que aconteceu no aeroporto<br />

de Ponta Delgada, em agosto<br />

deste ano, quando um Boeing<br />

757 da Delta Air Lines efetuou<br />

um hard landing, deixando a<br />

aeronave inoperacional durante<br />

quase dois meses e quis saber<br />

se esse incidente teria “pesado”<br />

na decisão da companhia aérea<br />

norte-americana.<br />

Relativamente ao incidente<br />

em agosto, Carlos Morais<br />

assegurou que, na reunião<br />

realizada em setembro, essa<br />

questão não foi mencionada<br />

como sendo uma causa da<br />

<strong>NO</strong>JAN20 47


REPORTAGEM<br />

decisão da Delta. No que diz<br />

respeito à possível ligação com<br />

o acordo da Base das Lajes,<br />

o inquirido afirmou que “não<br />

teve conhecimento, que em<br />

momento algum, a Delta tenha<br />

voado para Ponta Delgada ao<br />

abrigo do acordo da Base das<br />

Lajes”.<br />

Por fim, foram colocadas outras<br />

questões, ainda por parte da<br />

bancada social-democrata,<br />

nomeadamente pelo deputado<br />

António Vasco Viveiros, com<br />

o intuito de entender se a<br />

instabilidade que se viveu na<br />

ATA, antes da tomada de posse<br />

da atual direção, poderá ter<br />

afetado o relacionamento com<br />

a Delta. De seguida, o deputado<br />

voltou a abordar as dificuldades<br />

no contacto entre Turismo de<br />

Portugal e ATA com a Delta Air<br />

Lines, achando “estranho” que a<br />

Região não tivesse um nível de<br />

abordagem e contactos diferente<br />

daqueles que tinham. António<br />

Vasco Viveiros procurou ainda<br />

saber por que razão a empresa<br />

norte-americana aumentou<br />

a sua frequência semanal de<br />

cinco para sete voos, como já<br />

foi referido, mesmo sem ter<br />

conseguido alcançar os números<br />

pretendidos relativamente à sua<br />

tarifa mais elevada.<br />

Abordando a instabilidade<br />

na anterior direção da ATA,<br />

Carlos Morais afirmou não ter<br />

conhecimento nesse sentido.<br />

Relativamente aos contactos<br />

com a companhia aérea, ou<br />

falta deles, o Presidente da ATA<br />

referiu o seguinte:<br />

Se o senhor deputado fosse meu<br />

cliente e de repente eu queria<br />

marcar uma reunião consigo, e<br />

o senhor não respondesse aos<br />

emails, eu ficaria preocupado, e<br />

no fundo foi isso que aconteceu.<br />

Se nós estamos a tentar fazer<br />

um contacto com a Delta e<br />

não há feedback do lado de<br />

lá, as campainhas vermelhas<br />

tocam no sentido de tentarmos<br />

perceber o porquê deste<br />

silêncio. Infelizmente o silêncio<br />

veio-se a traduzir numa decisão<br />

irreversível por parte da Delta.<br />

Relativamente ao aumento<br />

do número de voos semanais,<br />

Carlos Morais afirmou que<br />

esta era uma questão de<br />

operacionalidade, relacionada<br />

com o número de horas da<br />

tripulação, número de horas dos<br />

comandantes, “com uma série<br />

de questões que eles entendem<br />

que na operação fazia mais<br />

sentido ser sete voos em vez de<br />

cinco”.<br />

Após os esclarecimentos<br />

prestados pelo Presidente da<br />

ATA, foi a vez da Secretária<br />

Regional da Energia, Ambiente<br />

e Turismo prestar declarações<br />

sobre a situação, apresentando<br />

alguns dados importantes na<br />

contextualização do acontecido.<br />

Marta Guerreiro começou por<br />

dizer que foram desembarcados<br />

pela Delta nos Açores 16152<br />

passageiros durante o verão<br />

de <strong>2019</strong>. De acordo com<br />

um inquérito da ANA aos<br />

passageiros desembarcados<br />

por esta companhia, 20%<br />

dos mesmos eram residentes<br />

em Portugal ou visitavam<br />

familiares, restando 80% que<br />

representam 12900 hóspedes<br />

de nacionalidade, “à partida”,<br />

americana. Tendo em conta a<br />

estadia média de 3 noites, do<br />

mercado norte americano na<br />

ilha de São Miguel, durante o<br />

verão, estamos a falar de cerca<br />

de 39550 dormidas, ou seja,<br />

20,8% das dormidas totais<br />

do mercado norte americano.<br />

Deste modo é possível verificar<br />

que grande percentagem do<br />

mercado norte americano é<br />

promovido também pela Azores<br />

Airlines ou pela TAP, por<br />

via de Portugal Continental.<br />

Assim, a SREAT admite que a<br />

ausência da Delta “não deixa de<br />

ser um impacto significativo”,<br />

no entanto, “estamos a falar<br />

de 20% do total do mercado<br />

norte americano, os 80% têm<br />

origem noutras companhias” e<br />

perspetiva-se fechar <strong>2019</strong> “de<br />

acordo com a tendência que<br />

verificamos ao longo destes<br />

meses, com 190600 dormidas<br />

do mercado norte americano em<br />

São Miguel”.<br />

Colocando a situação numa<br />

“escala mais geral” e “se<br />

tivermos a intenção que se<br />

estima fechar o ano (<strong>2019</strong>)<br />

em São Miguel com cerca<br />

de 2 milhões de dormidas,<br />

estamos a falar de um impacto<br />

(da ausência da Delta), nessas<br />

dormidas, de 1,9%”, constatou<br />

a Secretária Regional.<br />

Relembrando que a operação da<br />

Delta era uma operação sazonal,<br />

do final de maio ao início de<br />

setembro, Marta Guerreiro<br />

referiu que essa operação “não<br />

justifica os bons crescimentos<br />

que tivemos no mercado norte<br />

americano no final do ano”.<br />

Também de janeiro a maio,<br />

período em que a Região<br />

não tinha a Delta, e face ao<br />

mesmo período de 2018,<br />

“conseguimos ter crescimentos<br />

bastante significativos, em<br />

concreto 57%”. Relativamente à<br />

notoriedade que os Açores têm<br />

vindo a adquirir no mercado<br />

norte americano, a SREAT disse<br />

que “esta também é uma boa<br />

resposta à critica, infundada, de<br />

eventual falta de promoção”.<br />

“Como a própria companhia<br />

(Delta) indicou, de forma<br />

muito clara, não se tratou de<br />

um problema de ausência<br />

de promoção”, acrescentou,<br />

mencionando que as ações<br />

48 <strong>NO</strong>JAN20


REPORTAGEM<br />

“COMO A PRÓPRIA<br />

COMPANHIA (DELTA)<br />

INDICOU, DE FORMA<br />

MUITO CLARA,<br />

NÃO SE TRATOU<br />

DE UM PROBLEMA<br />

DE AUSÊNCIA DE<br />

PROMOÇÃO”<br />

de marketing foram feitas,<br />

nomeadamente planos de<br />

marketing entre a ATA e a<br />

Delta Vacations; promoções<br />

e iniciativas com outros<br />

operadores de marketing<br />

locais; contactos com canais<br />

televisivos através da produção<br />

de filmes; marketing digital<br />

para potenciar segmentos<br />

que se identificam com o<br />

posicionamento do destino<br />

Açores de turismo certificado<br />

ela natureza e, também,<br />

no âmbito de certificação<br />

do destino como turísticosustentável.<br />

Segundo Marta Guerreiro, as<br />

ações e iniciativas que foram<br />

desenvolvidas durante <strong>2019</strong><br />

nos Estados Unidos da América<br />

(EUA), não só permitiram<br />

crescimentos na operação da<br />

Delta, “como aconteceu de<br />

2018 para <strong>2019</strong>”, mas também<br />

nas outras companhias que<br />

servem de porta para que<br />

os turistas cheguem até aos<br />

Açores, demonstrando assim<br />

que a promoção não tivesse<br />

sido em vão.<br />

De acordo com a interveniente,<br />

a Delta deu nota de que estava<br />

a contar com uma distribuição<br />

de classes, dentro do avião,<br />

que permitisse uma taxa tarifa<br />

média superior, alegando que<br />

tiveram muito mais tarifas<br />

económicas do que executivas,<br />

“o que nos parece normal no<br />

destino turístico”. A Delta<br />

também deu nota de uma<br />

alteração de estratégia, da qual<br />

os Açores não foram a única<br />

rota descontinuada, o mesmo<br />

aconteceu com a Islândia e<br />

Málaga, “num desinvestimento<br />

em rotas turísticas, em<br />

contrapartida de rotas para<br />

grandes cidades, o que está<br />

relacionado com o cenário de<br />

alguma recessão económica que<br />

se pode antever”.<br />

A SREAT salientou que a lógica<br />

de negócio anglo-saxónica da<br />

companhia aérea dos EUA é<br />

bastante diferente da lógica<br />

das empresas europeias, pois<br />

são “pouco premiáveis nas<br />

suas decisões aos incentivos<br />

e campanhas de marketing”,<br />

analisam a rentabilidade das<br />

rotas “de uma forma muito<br />

fria”. Marta Guerreiro avançou<br />

que, apesar do acontecido, a<br />

Delta “ficou com a nota de<br />

poder retomar o destino em<br />

futuros planeamentos da sua<br />

atividade”, pois acompanha<br />

“o desenvolvimento que se<br />

continua a verificar na Região,<br />

em especial no crescimento do<br />

mercado norte americano, quer<br />

nos Estados Unidos quer no<br />

Canadá”, sublinhando, como já<br />

<strong>NO</strong>JAN20 49


REPORTAGEM<br />

o tinha dito Carlos Morais, ter<br />

sido “uma decisão puramente<br />

comercial que não é premiável<br />

nem influenciável, infelizmente,<br />

pela nossa vontade”, assegurou.<br />

Questionada sobre os contactos<br />

que estabeleceu com a<br />

companhia, a SREAT lembrou<br />

que a Delta decidiu vir para a<br />

Região em 2018, num anúncio<br />

que foi publicado e que resultou<br />

da sua própria iniciativa,<br />

esclarecendo que, para tal<br />

acontecer:<br />

Houve muito trabalho,<br />

como existe com várias<br />

companhias, nas várias feiras<br />

da especialidade, em várias<br />

reuniões paralelas, onde se tenta<br />

dar nota do desempenho que<br />

o destino está a ter e mostrar<br />

que mesmo depois de várias<br />

reuniões e de encontros, a Delta<br />

decidiu iniciar os voos para<br />

os Açores, da mesma forma<br />

como também decidiu, pelas<br />

suas razões comerciais, sem<br />

pedir, quer no início quer no<br />

fim, qualquer apoio em termos<br />

de campanhas de marketing,<br />

descontinuar esta rota.<br />

Marta Guerreiro relembrou que<br />

mesmo sem a rota da Delta,<br />

os Açores já se promovem<br />

nos EUA há muitos anos, e o<br />

pretendido foi intensificar essa<br />

presença através de “contactos<br />

quer com a administração da<br />

própria Delta, quer com a Delta<br />

Vacations, onde foi delegada<br />

a produção que se pretendia<br />

desenvolvida, desde 2018 e<br />

inclusivamente em <strong>2019</strong>”.<br />

Em <strong>2019</strong>, a ATA teve uma<br />

alteração na presidência com<br />

Carlos Morais a assumir o<br />

cargo, “mas a mesma não<br />

teve influência nenhuma na<br />

promoção que foi feita, que<br />

continuou a ser feita, quer<br />

de forma direta com a Delta,<br />

quer com a ATA”. A SREAT<br />

disse que os contactos foram<br />

“vários e contínuos, como<br />

acontece com qualquer outro<br />

mercado”, salientando que da<br />

parte do Governo Regional<br />

dos Açores, “naturalmente que<br />

esta rota mereceu uma atenção<br />

especial”, devido ao facto de<br />

se tratar de uma companhia<br />

"que tem associado a si um<br />

elevado grau de notoriedade”.<br />

Marta Guerreiro mencionou<br />

que ela própria falou com<br />

administradores da empresa<br />

e com responsáveis pela<br />

gestão de rotas e pelas áreas<br />

comerciais, no entanto, (para a<br />

Delta) “as rotas têm na sua ótica<br />

de valer por si”.<br />

A SREAT frisou que tem<br />

indicação das taxas de ocupação<br />

dos voos, mas não da parte da<br />

rentabilidade, porque “essa<br />

Delta não partilhou connosco<br />

apesar dos vários contactos<br />

que fomos mantendo durante o<br />

início do verão”.<br />

Quanto à dificuldade,<br />

mencionada pelo Presidente<br />

da ATA, em contactar a<br />

Delta, a Secretária Regional<br />

disse desconhecer tal facto,<br />

afirmando que, da sua parte,<br />

“nós mantivemos sempre esse<br />

contacto”.<br />

Sobre a questão da rentabilidade<br />

da operação versus ocupação<br />

e do facto de em 2018 para<br />

<strong>2019</strong> ter havido um aumento da<br />

frequência semanal nos voos da<br />

companhia norte americana de<br />

cinco para sete, “a justificação<br />

que a Delta deu para isso teve<br />

haver com razões puramente<br />

operacionais. Com este aumento<br />

de frequência, de acordo com<br />

o que nos disseram na altura,<br />

torna-se mais fácil a gestão<br />

para eles”. Mesmo assim, com<br />

este aumento de 2 frequências<br />

semanais, “conseguimos manter<br />

uma taxa de ocupação acima<br />

dos 80%”, vincou.<br />

A interveniente referiu que a<br />

Delta não ficou a esperar para<br />

saber se tinha apoio ou não<br />

antes de anunciar a rota. A<br />

mesma salientou que o Governo<br />

dos Açores trabalha em parceria<br />

com a ATA: “fazemos muitas<br />

iniciativas em conjunto, muitos<br />

contactos em conjunto, nas<br />

feiras, em reuniões, e o primeiro<br />

contacto, depois da Delta ter<br />

anunciado a sua vinda para a<br />

Região, começou por ser nosso,<br />

desde logo”. Foi anunciado<br />

“nós vamos voar e vamos voar<br />

cinco vezes por semana e não<br />

pediram nada, nós é que fomos<br />

lá e perguntamos como é que<br />

podíamos apoiar para que os<br />

voos pudessem ter o sucesso<br />

que todos queríamos que<br />

tivesse”.<br />

Os contactos foram quase todos<br />

por vídeo conferência de Skype,<br />

também com trocas de e-mails,<br />

trocas de informações assíduas.<br />

Menos disponíveis da parte da<br />

Delta para reuniões presenciais,<br />

sim é verdade, tem também a<br />

ver com a lógica deles.<br />

Marta Guerreiro garantiu a<br />

continuação de investimento<br />

“de forma mais acentuada”<br />

no mercado norte americano<br />

“pois o turismo nos Açores<br />

assim o justifica”, dando como<br />

sinal disso o início de operação<br />

por parte da TAP, a partir do<br />

final da próxima primavera,<br />

de ligações dos Açores para<br />

os EUA e dos EUA para os<br />

Açores, nomeadamente de<br />

Ponta Delgada para Boston e<br />

vice-versa. Uma ligação que<br />

“vem aproveitar esse espaço<br />

vazio que a Delta deixa”.<br />

Para além desta nova rota<br />

da TAP, a SREAT anunciou,<br />

50 <strong>NO</strong>JAN20


REPORTAGEM<br />

mencionando ainda ser cedo<br />

para dizer nomes que “várias<br />

outras companhias nos têm<br />

contactado com interesse em<br />

voar para a Região”, pois “estão<br />

atentas à evolução daquilo<br />

que tem sido os números dos<br />

Açores”.<br />

À margem da Comissão<br />

Permanente de Economia,<br />

a <strong>NO</strong> <strong>Revista</strong> questionou a<br />

Secretária Regional da Energia,<br />

Ambiente e Turismo sobre se<br />

a TAP teve alguma cooperação<br />

com o Governo Regional ou<br />

vai iniciar a ligação com os<br />

EUA por iniciativa própria.<br />

Marta Guerreiro respondeu<br />

que: A TAP deu nota dessa<br />

intenção, de iniciativa própria,<br />

e que nós vemos como um<br />

interesse de uma companhia<br />

um mercado para os Açores que<br />

tem uma notoriedade bastante<br />

interessante.<br />

Em relação à ligação da TAP<br />

colmatar a ausência da DELTA,<br />

a SREAT disse que:<br />

Estamos a comparar coisas<br />

que não são propriamente<br />

comparáveis. A TAP iniciou<br />

uma rota anual, enquanto que<br />

a Delta estava a voar apenas<br />

de final de maio a início de<br />

setembro, e, portanto, em<br />

termos de disponibilização<br />

de lugares, teremos mais<br />

lugares do que tínhamos este<br />

ano, e acreditamos que com<br />

a continuidade da promoção<br />

neste mercado conseguiremos<br />

aumentar o número de turistas<br />

norte americanos nos Açores.<br />

O acompanhamento integral<br />

desta Comissão e os<br />

esclarecimentos prestados pelos<br />

intervenientes permitiram à<br />

nossa redação concluir que<br />

este “divórcio” entre a Delta<br />

Air Lines e os Açores, por<br />

muita “mágoa” que deixe, por<br />

aquilo que a companhia aérea<br />

representaria para a Região,<br />

deveu-se sobretudo a questões<br />

comerciais. Não houve uma<br />

“madrasta má” no meio deste<br />

processo. Pode ter havido<br />

falhas, ao nível da comunicação<br />

entre as partes, ao nível da<br />

segmentação e targeting, mas<br />

não existiu, que se saiba,<br />

nenhum sinal de incompetência<br />

ou incumprimento, de nenhuma<br />

das partes, que levasse a este<br />

desfecho. Existe sim, por<br />

parte das entidades regionais,<br />

a convicção que a promoção<br />

dos Açores no mercado norteamericano<br />

tem potencial para<br />

crescer e a certeza de que irá<br />

existir outro “casamento” com<br />

outras companhias.<br />

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REPORTAGEM<br />

GALERIA FONSECA MACEDO<br />

“No Feminino” – nove artistas femininas numa exposição coletiva<br />

Claúdia carvalho<br />

n<br />

“No Feminino” – nove artistas<br />

femininas numa exposição<br />

coletiva<br />

“No Feminino” é a exposição<br />

que reúne nove trabalhos, nove<br />

nomes, nove artistas femininas.<br />

É, de facto, a exposição coletiva<br />

que inaugura e dá a conhecer<br />

as novas instalações da Galeria<br />

Fonseca Macedo. A <strong>NO</strong> <strong>Revista</strong><br />

esteve presente, no dia 14 de<br />

dezembro, na inauguração<br />

desse espaço, que também ficou<br />

marcado pela performance de<br />

Maria João Gouveia, com o<br />

costume design de Sara França<br />

– “opções muito bem pensadas”<br />

que dão oportunidade à figura<br />

feminina de mostrar o seu pé<br />

de igualdade perante o sexo<br />

oposto.<br />

A diretora da galeria, a Doutora<br />

Fátima Mota, explicou à <strong>NO</strong><br />

<strong>Revista</strong> que este projeto reúne<br />

“um grupo bastante interessante<br />

de jovens artistas” com ligações<br />

aos Açores, a São Miguel – seja<br />

por terem nascido nessa ilha,<br />

por terem família nos Açores<br />

ou mesmo por terem uma boa<br />

relação de amizade com a<br />

galeria.<br />

<strong>NO</strong>JAN20 53


REPORTAGEM<br />

"<br />

este é um tema que ocupa muitas pessoas e também me ocupa a mim como diretora de uma<br />

galeria – esta noção de que, durante muitos anos, talvez demasiados anos, as mulheres e as artistas<br />

mulheres não tiveram a mesma projeção e as mesmas oportunidades que os homens tiveram. Hoje em<br />

dia, as coisas estão a modificar-se, de tal maneira que se consegue fazer, numa pequena ilha dos<br />

Açores, uma exposição só com trabalhos de artistas femininas - fátima mota<br />

Considera que ainda se<br />

verifica, especialmente no<br />

mundo das Artes, que às vezes<br />

ela mandou um bocadinho<br />

de certa forma injusto e<br />

fechado, que as mulheres já<br />

conseguiram estabelecer o seu<br />

espaço ou que o Mundo das<br />

Artes ainda é muito ligado à<br />

figura masculina?<br />

Eu penso que hoje em dia, pelo<br />

menos nos países Ocidentais,<br />

que o lugar está a ser bastante<br />

bem conquistado pelas<br />

mulheres e há mulheres que<br />

são espetaculares em termos da<br />

sua produção e isto está a ser<br />

revertido, não tenho dúvidas<br />

nenhumas disso. No Mundo<br />

Ocidental, acho que as coisas<br />

estão a encaminhar-se para que<br />

a mulher tenha o seu espaço tal<br />

qual como o homem tem o seu<br />

espaço. Isso aí não é problema,<br />

só que o Mundo Ocidental é,<br />

de alguma maneira, também<br />

um lugar que pode espalhar<br />

também a sua influência junto<br />

de outras civilizações, nas quais<br />

a mulher ainda não tem essa<br />

capacidade de ocupar um lugar<br />

ao mesmo nível do homem e<br />

nós temos a obrigação de falar<br />

sobre esses assuntos porque,<br />

dessa forma, ao falarmos, ao<br />

provocarmos a discussão,<br />

estamos também ajudar a estas<br />

mesmas sociedades.<br />

Qual é que tem sido, até<br />

agora, o feedback das pessoas<br />

que têm vindo visitar aqui<br />

esta exposição?<br />

Eu acho que as pessoas têm<br />

gostado imenso do espaço,<br />

primeiro porque é um<br />

espaço bastante amplo, tem<br />

um pé direito de bastante<br />

generoso e permite, de facto,<br />

fazer exposições com obras<br />

grandes, inclusivamente uma<br />

exposição coletiva que implica<br />

a convivência de vários tipos<br />

de expressões, que às vezes<br />

podem ser conflituosos. No<br />

caso presente, não é o caso,<br />

mas isso, de facto, acontece.<br />

Porque temos espaço suficiente<br />

entre as peças, porque temos<br />

recuo suficiente para podermos<br />

ter uma boa perspetiva para<br />

cada peça, acho que o facto<br />

de ter sido a escolha de<br />

uma exposição de grupo foi<br />

adequado ao espaço que nós<br />

temos.<br />

Como é que foi a<br />

organização? Falava que são<br />

nove artistas. Como é que foi?<br />

Primeiro, como é que surgiu,<br />

no fundo, como é que surgiu a<br />

ideia, de onde é que se partiu<br />

e disse que nove pessoas iam<br />

reunir aqui as suas peças?<br />

Como eu sou a Diretora da<br />

Galeria, cabe-me a mim fazer<br />

as decisões nesse âmbito,<br />

54 <strong>NO</strong>JAN20


REPORTAGEM<br />

portanto fui eu que decidi que<br />

esta seria uma exposição só<br />

com mulheres porque eu, de<br />

facto, represento na minha<br />

galeria, muitas mulheres e fazia<br />

todo o sentido que assim fosse.<br />

Para além da exposição, houve<br />

também uma performance,<br />

realizada pela Maria João<br />

Gouveia, bailarina do balé<br />

clássico, que se apresentou<br />

com o costume design de<br />

outra designer de moda, a<br />

Sara França. Também estas<br />

duas opções foram muito bem<br />

pensadas, primeiro porque<br />

havia espaço para que uma<br />

performer pudesse estar aqui à<br />

vontade na sala e juntamente<br />

com os visitantes e, por outro<br />

lado, de ser uma performer<br />

feminina porque se enquadra<br />

exatamente na mesma discussão<br />

de dar oportunidade às<br />

mulheres, neste caso bailarinas,<br />

designers e coreógrafas para<br />

desenvolverem um projeto.<br />

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<strong>NO</strong>JAN20 45


crónica<br />

POR RICARDO SILVA<br />

“Tóquio” -<br />

Diário, 1946,<br />

de Franco<br />

Nogueira<br />

É um livro que me chamou a<br />

atenção pelo título e pelo autor e<br />

neste sentido surpreendeu a vários<br />

níveis. Assumido em forma de<br />

Diário o valor deste livro reside<br />

no testemunho direto da dura<br />

e difícil realidade nipónica nos<br />

meses subsequentes à rendição<br />

na Segunda Guerra Mundial.<br />

Como é do conhecimento geral, a<br />

utilização da bomba atómica em<br />

1945, no Japão, marcou o início da<br />

Era Nuclear e estruturou e ainda<br />

estrutura o relacionamento entre<br />

nações. Arma de paz para uns, pelo<br />

efeito dissuasor, cumprindo o adágio<br />

romano “Sivis pace para bellum” –<br />

“Se queres a paz prepara a guerra”;<br />

é arma de guerra para outros pelo<br />

efeito destruidor que pode ter num<br />

país (e na Terra) relativamente ao<br />

seu delicado ecossistema. O que é<br />

certo é que os Homens e o Planeta<br />

a partir da experiência nuclear<br />

aplicada ao Japão demarcaram uma<br />

56 <strong>NO</strong>JAN20


crónica<br />

linha de perigo em que o Nuclear<br />

faz pensar duas vezes antes da<br />

sua utilização. E foi isso que<br />

Franco Nogueira teve o condão,<br />

enquanto jovem de apenas 25<br />

anos, vivenciar. Se ao lermos este<br />

Diário sentimos a agonia de um<br />

povo, não a resignação, ficanos<br />

a ideia de que foi a palavra<br />

Dedicação como valor e ideal<br />

supremo de um país, neste caso do<br />

Japão, que levou ao lançamento<br />

das bombas pelos americanos.<br />

Terminada a guerra na Europa,<br />

com a derrota dos nazis, os<br />

combates continuaram no Pacífico<br />

com o denodo e o fanatismo típico<br />

das forças armadas imperiais<br />

japonesas, caraterizado no verso<br />

do hino da Academia Naval<br />

Japonesa “morrerei apenas<br />

pelo meu imperador”. Assim,<br />

Washington decidiu acelerar o<br />

fim das hostilidades tendo em<br />

conta os custos de uma conquista<br />

no terreno face à ferocidade dos<br />

soldados nipónicos. A 6 de agosto<br />

de 1945 o bombardeiro Enola Gay<br />

largou a “Little Boy” por cima de<br />

Hiroshima, fazendo imediatamente<br />

66 mil mortos e várias dezenas<br />

de milhar nos dias seguintes. A 9<br />

de agosto, uma segunda bomba,<br />

“Fat Man”, caiu sobre Nagasaki<br />

e matou 40 mil pessoas. Ou seja,<br />

em apenas três dias desapareceram<br />

mais de 100 mil pessoas e outras<br />

tantas dezenas de milhar nas<br />

sequelas dos meses seguintes. O<br />

imperador Hiroito visitou as ruínas<br />

da cidade e proclamou a rendição<br />

do Japão a 14 de agosto.<br />

Ora, é o retrato deste cenário de<br />

destruição, inclusive de Tóquio,<br />

que Franco Nogueira, relata.<br />

Um país exangue, prostrado, um<br />

destroço, ocupado pelas potências<br />

aliadas, designadamente pelos<br />

Americanos que também tiveram<br />

o sentido diplomático de se<br />

apresentarem como libertadores<br />

e não como vencedores,<br />

colaboradores numa reconstrução<br />

de um país e não meramente como<br />

ocupantes sem fins claros. Esta<br />

posição e situação faz-nos recordar<br />

a recente invasão ao Iraque com<br />

resultados completamente opostos<br />

aqueles que se conseguiram no<br />

Japão.<br />

Numa escrita realista de<br />

grande pormenor não é difícil<br />

imaginarmos o que terá sido<br />

aquela tragédia histórica do povo<br />

japonês que, por outro lado,<br />

aproveitou o momento difícil para<br />

fazer uma viragem fundamental na<br />

sua trajetória política e económica<br />

na região e no mundo.<br />

De uma febre de poder, militarista,<br />

expansionista que começou<br />

décadas antes da segunda guerra<br />

mundial, sempre marcada por<br />

ofensivas militares brutais, o<br />

Japão, assente numa cultura de<br />

2 mil anos, encetou um caminho<br />

de paz, modernização da sua<br />

economia de tipo ocidental,<br />

baseada no valor já aqui falado<br />

da Dedicação. O povo japonês<br />

fez do trabalho e da empresa<br />

novos focos de abordagem ao<br />

mundo e os resultados chegamnos,<br />

impressionantes, até hoje.<br />

Foram proféticas as palavras do<br />

imperador Hiroito na sua rendição:<br />

“Desejo que todos concordem<br />

comigo”, como ensejo para se<br />

baixar armas e carregar com<br />

grande luta, é certo, a energia para<br />

uma nova vida do país conhecido<br />

também como Sol Nascente. Um<br />

novo futuro estava a caminho.<br />

O diário do futuro Ministro<br />

dos Negócios Estrangeiros de<br />

Salazar mostra já um homem<br />

de grande formação intelectual,<br />

muito curioso, critico e atento<br />

à realidade que o rodeava. É<br />

curioso que no percurso do livro<br />

já se sente a Reconstrução, firme<br />

e decidida após o colapso. Não<br />

posso deixar de referir a recente<br />

escolha do Papa Francisco para<br />

denunciar “o fruto da guerra”. A<br />

fotografia tirada por Joseph Roger<br />

O’Donnell, fotógrafo da marinha<br />

norte-americana, a uma criança<br />

que transporta consigo, às costas, o<br />

seu irmão morto, e aguarda,<br />

descalço, pela sua vez de entregar<br />

o corpo do mesmo num dos<br />

crematórios de Nagasaki é de um<br />

simbolismo fortíssimo. A imagem<br />

é impressionante pelo seu poder<br />

de comoção e alerta para os males<br />

da guerra. O Papa fê-la distribuir<br />

em postal como motivo de reflexão<br />

nesta época natalícia e, inclusive,<br />

citou-a na sua mensagem “Urbi<br />

et Orbi” – à cidade (de Roma) e<br />

ao mundo – como apelo à Paz e<br />

Respeito pelas crianças. Em tudo<br />

o que se possa ler desta poderosa<br />

fotografia, não posso deixar de<br />

referir o que disse o fotógrafo<br />

acerca da mesma para caracterizar<br />

o caráter coletivo do povo japonês.<br />

A criança manteve-se durante mais<br />

de 10 minutos imóvel, hirta, nunca<br />

chorando, embora emocionada<br />

pelo morder dos lábios que<br />

sangravam! Entregou o seu<br />

irmão, que parecia a dormir pela<br />

serenidade aparente, virou costas e<br />

sempre sem chorar, avançou para<br />

um futuro que queria novo.<br />

Esta imagem foi a caminhada<br />

que Franco Nogueira intuiu na<br />

sua estadia em Tóquio, que teve<br />

o cuidado de registar em Diário,<br />

e que desembocaria num milagre<br />

económico que a Oriente, e no<br />

século XX, seria o primeiro, a<br />

predestinar outros que surgirão<br />

neste século XXI.<br />

A leitura vale a pena!<br />

<strong>NO</strong>JAN20 47


REPORTAGEM<br />

Víctor Alves – a abordagem<br />

“pragmática” da Guerra Civil Portuguesa<br />

lançamento do livro "GUERRA CIVIL PORTUGUESA (1828-1834)<br />

Claúdia carvalho<br />

v<br />

Víctor Alves, jornalista da<br />

RTP/Açores, nascido na ilha<br />

Terceira, lançou no passado<br />

mês de dezembro Guerra<br />

Civil Portuguesa (1828-1834),<br />

um livro que aborda, de uma<br />

forma diferente, a Guerra Civil<br />

Portuguesa, que decorreu nesse<br />

período em Portugal. O evento<br />

decorreu no dia 14 de dezembro<br />

na livraria Letras Lavadas e a<br />

<strong>NO</strong> <strong>Revista</strong> teve oportunidade<br />

de entrevistar o autor terceirense<br />

para perceber não só os motivos<br />

que o levaram a publicar uma<br />

obra deste teor, bem como sobre<br />

aquilo que ela (re)trata.<br />

Apesar de confessar que<br />

58 <strong>NO</strong>JAN20


REPORTAGEM<br />

já existiam outras obras,<br />

notícias e estudos que<br />

retratassem e falassem sobre<br />

ela, o jornalista terceirense<br />

considerou que seria urgente<br />

trazer ao público uma nova<br />

abordagem sobre a batalha,<br />

sobre os acontecimentos, numa<br />

linguagem simplista, clara e<br />

sintética.<br />

Por ser um tema que sempre<br />

“impressionou” o autor, Victor<br />

Alves decidiu que, depois<br />

de ter recolhido informação<br />

proveniente das grandes<br />

capitais europeias sobre a<br />

guerra, tornava-se necessário<br />

reuni-la, compilando-a no livro<br />

que agora publica. Apesar de<br />

saber e estar consciente que<br />

“a batalha está documentada”<br />

"<br />

Uma linguagem<br />

mais “terra a<br />

terra”, mais<br />

acessível,<br />

mais popular,<br />

mais perto das<br />

pessoas, mais<br />

jornalística<br />

– no fundo,<br />

aquilo que nós<br />

fazemos todos<br />

os dias e que se<br />

transformou,<br />

de facto, numa<br />

fonte histórica<br />

impressionante.<br />

pelos históricos e académicos<br />

que assim o fizeram, Victor<br />

Alves confessa, na sua<br />

pesquisa, ter-se deparado com<br />

uma visão diferente daquela<br />

que os historiadores tinham.<br />

Na sua pesquisa, Victor Alves<br />

confessou que, ao aprofundar<br />

os seus conhecimentos sobre o<br />

tema, descobriu que existiam<br />

cerca de 4000 refugiados<br />

liberais na ilha Terceira que<br />

pertenciam à elite intelectual<br />

portuguesa daquele tempo.<br />

Falamos em Almeida Garrett<br />

e Alexandre Herculano, por<br />

exemplo.<br />

Estes intelectuais faziam,<br />

assim, passar informação sobre<br />

o ambiente na Terceira e nos<br />

Açores. Sendo correspondentes<br />

<strong>NO</strong>JAN20 59


REPORTAGEM<br />

anónimos, entregavam-na aos<br />

capitães das embarcações do<br />

comércio da laranja e eram,<br />

precisamente, essas pessoas que<br />

levavam a informação às principais<br />

capitais europeias – Londres,<br />

Paris, Alemanha. É assim que<br />

é construída essa visão “terra a<br />

terra”, mais pragmática, mais<br />

próxima das pessoas, mais curta<br />

e mais concisa – confessa o autor,<br />

tendo sido por aí que enveredou<br />

quando decidiu escrever e publicar<br />

Guerra Civil Portuguesa (1828-<br />

1834).<br />

Quando questionado se a sua<br />

profissão tinha influenciado<br />

a sua forma de contar este<br />

acontecimento de forma diferente,<br />

o autor respondeu que sim e ainda<br />

acrescentou que “o jornalismo é<br />

uma fonte de História”, embora<br />

muitas pessoas achem que o jornal<br />

sirva “para embrulhar sabão”, não<br />

atribuindo a real importância ao<br />

jornalismo e à sua capacidade de<br />

distribuir e difundir informação.<br />

Para Victor Alves, “o jornalismo<br />

que se faz todos os dias é um<br />

registo, é uma ata daquilo que se<br />

passa nas comunidades”.<br />

“Bem ou mal, os jornais relatam<br />

todos os dias aquilo que foi o<br />

acontecimento das comunidades”.<br />

Nas capitais europeias, era isso<br />

que acontecia. Várias gazetas<br />

informavam e contavam aquilo<br />

que se passou naqueles anos em<br />

Portugal. Em Lisboa, o cenário era<br />

diferente, controlado pelo poder. O<br />

jornal era “a voz do dono”, era o<br />

jornal do rei D. Miguel. A Gazeta<br />

de Lisboa retratava, na verdade,<br />

os eventos da realeza, onde o rei<br />

“deixou claro que a imprensa era<br />

para calar, e calou”. Victor Alves<br />

60 <strong>NO</strong>JAN20


REPORTAGEM<br />

adianta que esta gazeta produzia<br />

decretos reais e passeios do<br />

rei e da sua família por Lisboa<br />

e arredores. A perspetiva<br />

da imprensa internacional,<br />

contrariamente àquilo que se<br />

verificava em Lisboa, era uma<br />

imprensa “séria, honesta, de<br />

debate desapaixonado sobre o<br />

evento”, sobre aquilo que se<br />

estava a passar em Portugal e na<br />

Terceira, concretamente.<br />

Para o autor, era essa visão que<br />

o interessava e que, “já tendo<br />

a visão do outro lado”, poderse-ia<br />

fazer uma comparação e<br />

ter uma história real, baseada<br />

não só num lado, numa versão<br />

da história, mas completando-a<br />

com diferentes fontes, diferentes<br />

imprensas, diferentes capitais<br />

"<br />

Eu não uso<br />

notas de rodapé,<br />

as referências<br />

de não sei<br />

quantas páginas<br />

à frente. Eu uso<br />

uma linguagem<br />

que nós usamos<br />

no jornalismo.<br />

Isso ajuda<br />

as pessoas a<br />

fazerem uma<br />

leitura correta<br />

sobre as coisas<br />

e a perceberem<br />

à primeira.<br />

europeias que relatavam e<br />

retratavam esse evento.<br />

Segundo Victor Alves, a<br />

receção das pessoas a esta<br />

forma diferente e pragmática<br />

de contar a história tem sido<br />

muito boa. Para ele, o que tem<br />

surpreendido as pessoas tem<br />

sido, de facto, a linguagem<br />

pragmática característica do<br />

jornalismo.<br />

Apesar de poder ser um livro<br />

“maior com 300 ou 400<br />

páginas”, o autor achou por<br />

bem contar a história de forma<br />

breve, introduzir o assunto de<br />

forma sintetizada, deixando<br />

“no ar a vontade de as pessoas<br />

fazerem alguma pesquisa e<br />

aprofundarem mais um pouco<br />

sobre o tema”, confessa.<br />

<strong>NO</strong>JAN20 61


top notícias <strong>2019</strong><br />

janeiro<br />

Exploração de aquacultura micaelense é “bom<br />

exemplo de aplicação dos apoios europeus”<br />

(1374 visualizações)<br />

O eurodeputado socialista Ricardo Serrão Santos<br />

elogiou a exploração de aquacultura da Aquazor,<br />

em Ponta Delgada, por esta ser “um bom exemplo<br />

de aplicação dos apoios europeus”, promovendo<br />

“a ligação entre a área científica, por via da<br />

investigação, desenvolvimento e inovação, e o<br />

capital e conhecimento de mercado”.<br />

fevereiro<br />

André Bradford “nunca deixará Bruxelas<br />

esquecer que os Açores são Europa” (3052<br />

visualizações)<br />

André Bradford, candidato socialista às eleições<br />

europeias do próximo dia 26 de maio, assumiu<br />

que a “prioridade das prioridades” é “defender os<br />

interesses estruturais dos Açores em Bruxelas”.<br />

Falando à saída da Convenção Somos Europa,<br />

que reuniu cerca de mil socialistas de todas as<br />

regiões do país, André Bradford defendeu ser<br />

“fundamental manter e reforçar as políticas de<br />

coesão, agrícola e de pescas a nível europeu” para<br />

“reduzir as assimetrias e combater as desigualdades<br />

entre territórios, ao mesmo tempo se valorizam as<br />

nossas maiores vocações produtivas”.<br />

março<br />

Sofia Ribeiro congratula aprovação de diretiva<br />

que protege agricultores (1263 visualizações)<br />

“É um grande dia para a agricultura europeia”,<br />

afirmou Sofia Ribeiro, “porque finalmente os<br />

agricultores têm uma diretiva que os protege de<br />

práticas comerciais desleais, o que permitirá<br />

uma maior estabilidade e segurança dos seus<br />

rendimentos”.<br />

A eurodeputada social-democrata falava após o<br />

debate sobre a diretiva que irá garantir justiça ao<br />

longo da cadeia de abastecimento agroalimentar,<br />

esta passada segunda-feira, na sessão plenária em<br />

Estrasburgo.<br />

62 <strong>NO</strong>JAN20


no | www.norevista.pt<br />

abril<br />

Parlamento Europeu aumenta verbas para<br />

pescas e economia do mar nos Açores e Madeira<br />

(2033 visualizações)<br />

O Parlamento Europeu (PE) aprovou a sua posição<br />

sobre o Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e<br />

das Pescas (FEAMP) para 2021-2027, aumentando<br />

a dotação para 7.739 mil milhões de euros a preços<br />

correntes, contra os 6.140 mil milhões propostos<br />

pela Comissão Europeia.<br />

Os eurodeputados também incluíram disposições<br />

para que seja tida em conta a situação específica<br />

das Regiões Ultraperiféricas (RUP), para apoiar<br />

a pesca de pequena escala e contribuir para uma<br />

gestão sustentável.<br />

maio<br />

Novo single da jovem cantautora açoriana Sara<br />

Cruz chega a número um em Portugal (6052<br />

visualizações)<br />

“Out With Grace”, o novo single da jovem cantora<br />

e compositora açoriana, Sara Cruz, foi lançado no<br />

passado dia 24 de maio e já está no primeiro lugar<br />

do Top 100 Singer Songwriters (cantautores) em<br />

Portugal, uma listagem iTunes.<br />

junho<br />

“A mudança necessária para com os Açores<br />

ficou, na sua essência, por concretizar” diz<br />

António Lima (2342 visualizações)<br />

Os trabalhos parlamentares de junho, na<br />

Assembleia Legislativa Regional, arrancaram,<br />

esta manhã, com um de três debates de urgência<br />

agendados para esta sessão plenária, neste caso<br />

sobre o “incumprimento dos compromissos<br />

do Governo da República para com a Região<br />

Autónoma dos Açores”, apresentado pelo BE/<br />

Açores.<br />

julho<br />

HORTA WIFI já está em funcionamento (1564<br />

visualizações)<br />

O Município da Horta dotou vários pontos de<br />

interesse turístico da cidade da Horta, com<br />

pontos de acesso à internet sem fios, com a rede<br />

denominada de HORTA WIFI, projeto ao qual José<br />

Leonardo Silva, presidente da Câmara Municipal<br />

da Horta, refere-se como “um abrir da cidade ao<br />

mundo”.<br />

<strong>NO</strong>JAN20 63


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agosto<br />

Banda UHF nas Festas de Santa Bárbara (1023<br />

visualizações)<br />

A banda musical UHF é a cabeça de cartaz das<br />

Festas de Santa Bárbara, que decorrem entre 24 e<br />

31 de agosto em honra de Santo António.<br />

As festas desta freguesia do concelho de Angra<br />

do Heroísmo são palco do concerto dos UHF, que<br />

apresenta temas emblemáticos como “Menina<br />

Estás à Janela”; “Cavalo de Corrida” ou “Rua do<br />

Carmo”, no dia 29 de agosto, pelas 22H30.<br />

setembro<br />

“Incumprimento” no radar meteorológico na<br />

Serra de Santa Bárbara (2369 visualizações)<br />

O candidato do PSD/Açores às eleições<br />

legislativas nacionais, António Ventura, acusou<br />

hoje os governos dos Açores e da República “de<br />

não cumprirem a promessa da instalação de um<br />

radar meteorológico na Ilha Terceira”, sendo que<br />

“durante quatro anos nada se fez a esse respeito”.<br />

outubro<br />

Ribeira Grande Kickboxing Challenge (3652<br />

visualizações)<br />

No sábado, dia 2 de novembro, a partir das 20h00,<br />

o Pavilhão Multiusos da Associação Agrícola<br />

de São Miguel vai ser palco do Ribeira Grande<br />

Kickboxing Challenge, promovido pelo Arrifes<br />

Kickboxing Clube (AKC). Este evento irá contar<br />

com 10 combates, entre os quais irá ser disputado<br />

o título de Campeão Nacional de Profissionais<br />

em Low Kick, categoria de -62,5 kg, bem como<br />

o título nacional de Full Contact defendido pelo<br />

atleta AKC Renato Costa.<br />

novembro<br />

A crise sísmica do Faial explicada pelo Centro<br />

de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos<br />

Açores (40892 visualizações)<br />

A crise sísmica ao largo da ilha do Faial prolongase<br />

por alguns dias, passando já os “1000 eventos<br />

registados”. Para obter mais informação sobre o<br />

fenómeno, a <strong>NO</strong> <strong>Revista</strong> contactou Rui Marques,<br />

presidente do Centro de Informação e Vigilância<br />

Sismovulcânica dos Açores (CIVISA).<br />

64 <strong>NO</strong>JAN20


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dezembro<br />

Aeroporto João Paulo II atingiu<br />

recorde de dois milhões de<br />

passageiros em <strong>2019</strong> (9448<br />

visualizações)<br />

O voo do Porto, com chegada a<br />

Ponta Delgada, pelas 14:40 de hoje,<br />

assinalou o recorde de dois milhões<br />

de passageiros desembarcados no<br />

Aeroporto João Paulo II num único<br />

ano, o qual ainda está por terminar.<br />

A <strong>NO</strong> <strong>Revista</strong> esteve presente no<br />

evento, onde obteve declarações<br />

do passageiro dois milhões, Inês<br />

Capela, e do Diretor dos Aeroportos<br />

dos Açores (DAA), José Luís Alves.<br />

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facebook.com/iroaazores<br />

A IMPORTÂNCIA DO REGIME DE<br />

INCENTIVOS À COMPRA DE TERRAS<br />

AGRÍCOLAS (RICTA) <strong>NO</strong> DESENVOLVIMENTO<br />

DO SETOR AGRÍCOLA<br />

Dr. Ricardo Silva<br />

Presidente do Conselho de<br />

Administração da IROA, S.A.<br />

O Regime de Incentivos à<br />

Compra de Terras Agrícolas,<br />

abreviadamente designado<br />

por RICTA, aprovado pelo<br />

Decreto Legislativo Regional<br />

n.º 23/2008/A, de 24 de julho,<br />

e regulamentado pelo DRR n.º<br />

1/2009/A, de 23 de fevereiro,<br />

constitui um importante<br />

instrumento de política agrícola<br />

da Região Autónoma dos<br />

Açores (RAA).<br />

De facto, em cumprimento dos<br />

comandos constitucionais, que<br />

estabelecem como objetivos da<br />

política agrícola a promoção<br />

do acesso à propriedade<br />

da terra e a sua exploração<br />

direta, e das competências<br />

legislativas próprias da Região,<br />

em termos de emparcelamento<br />

rural e de estrutura<br />

fundiária das explorações<br />

agrícolas, estabelecidas no<br />

respetivo Estatuto Político<br />

Administrativo, a medida<br />

RICTA, criada nos Açores e<br />

inovadora em termos nacionais,<br />

tem como finalidade principal a<br />

aquisição de terrenos por parte<br />

dos respetivos arrendatários<br />

rurais, bem como dos<br />

terrenos destinados a ações de<br />

emparcelamento, norteando-se,<br />

essencialmente, por objetivos<br />

de redimensionamento das<br />

explorações agrícolas.<br />

Com a consciência de que a<br />

propriedade da terra é, senão<br />

o principal, pelo menos um<br />

dos mais importantes fatores<br />

de estabilidade económica<br />

e social das explorações<br />

agrícolas, o Governo Regional<br />

dos Açores tem erigido como<br />

opção política fundamental no<br />

âmbito agrícola a aquisição de<br />

terra por parte dos agricultores,<br />

potenciando a obtenção<br />

de melhores desempenhos<br />

da atividade agrícola. Na<br />

verdade, se a aquisição do<br />

direito de propriedade da terra<br />

por parte de quem a explora,<br />

contribui decisivamente para<br />

a modernização e melhoria<br />

das condições de exploração,<br />

designadamente quanto à<br />

segurança do aproveitamento<br />

das benfeitorias introduzidas,<br />

é também verdade que a<br />

esta matéria é essencial<br />

uma orientação guiada por<br />

objetivos de reestruturação<br />

fundiária dirigidos para o<br />

emparcelamento agrícola e<br />

para o rejuvenescimento dos<br />

empresários agrícolas.<br />

O facto de este regime ser<br />

único a nível nacional e<br />

exclusivamente suportado<br />

por verbas regionais, é bem<br />

revelador da preocupação<br />

do Governo Regional no<br />

sentido de contribuir para uma<br />

maior competitividade das<br />

explorações, pugnando pelo<br />

aumento da sua dimensão<br />

e redução da dispersão das<br />

parcelas.<br />

O RICTA (regime de incentivo<br />

à compra de terras agrícolas)<br />

representa um instrumento<br />

essencial de reestruturação<br />

fundiária, possibilitando o<br />

acesso ao crédito, em condições<br />

mais favoráveis, por parte dos<br />

agricultores a título principal<br />

que pretendam adquirir terrenos<br />

na qualidade de arrendatários,<br />

comproprietários e proprietários<br />

de prédios encravados ou<br />

confinantes.<br />

De facto, nos casos em que<br />

o empréstimo não exceda<br />

€ 100.000, a taxa de juro é<br />

52 <strong>NO</strong>JAN20


no | www.norevista.pt<br />

suportada exclusivamente pela<br />

RAA, através da IROA, S.A. e,<br />

na parte em que o empréstimo<br />

for superior àquele valor (até €<br />

250.000 para pessoas singulares<br />

e € 500.000 para as pessoas<br />

coletivas), os beneficiários<br />

suportam apenas uma taxa<br />

de juro de 2%, cabendo o<br />

pagamento do remanescente à<br />

IROA, S.A..<br />

Para além da bonificação da<br />

taxa de juro dos empréstimos<br />

contraídos para o efeito, é<br />

atribuída aos beneficiários,<br />

nas ações de emparcelamento,<br />

uma comparticipação a fundo<br />

perdido, até um máximo de<br />

15% sobre o valor da avaliação<br />

corretiva, nos seguintes termos:<br />

a) Emparcelamento com área<br />

superior a 5 ha – 5%;<br />

b) Jovem agricultor – 5%;<br />

c) Aquisição de terrenos nas<br />

ilhas de Santa Maria, Graciosa,<br />

São Jorge, Flores ou Corvo –<br />

5%.<br />

Para a operacionalização do<br />

programa RICTA encontram-se<br />

outorgados protocolos com as<br />

instituições de crédito que se<br />

mostraram interessadas, onde se<br />

definiram as condições gerais<br />

de recurso ao crédito no âmbito<br />

deste regime de incentivos,<br />

com fundamento em razões de<br />

economia, de transparência e de<br />

uniformização de critérios nas<br />

relações a estabelecer entre a<br />

IROA, S.A. e as instituições de<br />

crédito.<br />

Considerando que o setor<br />

agrícola continua a ser o<br />

principal pilar da economia<br />

açoriana, numa perspetiva<br />

de estabilidade e equilíbrio<br />

social de parte significativa<br />

da população do arquipélago,<br />

entendemos que há que<br />

continuar a apostar numa<br />

melhor eficácia económica<br />

do setor e na sua contribuição<br />

para o desenvolvimento da<br />

Região, objetivos para os quais<br />

em muito tem contribuído o<br />

RICTA.<br />

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<strong>NO</strong>AGO19<br />

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<strong>NO</strong>JAN20 69


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