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eportagem<br />
"<br />
O que se verifica é que há vários problemas no que toca às memórias do<br />
Ultramar. Há cortinas de silêncio que só gradualmente se vão dissipando.<br />
Por vezes uma grande relutância em partilhar essas memórias, que se<br />
consideram do domínio privado. Nem sempre as pessoas conseguem<br />
exteriorizar aquilo que sentiram e que viveramm - Susana Serpa Silva<br />
Susana Serpa Silva concluiu a<br />
sua apresentação confessando<br />
que o seu “grande receio é que<br />
neste momento estão-se a perder<br />
os protagonistas, as memórias<br />
e estes objetos”, afirmando<br />
que “urge de facto recolher<br />
testemunhos orais, objetos e<br />
documentos particulares que<br />
nos falam de estados de alma,<br />
do quotidiano das operações<br />
militares” e lamentando<br />
a “escassez de apoios” à<br />
investigação histórica.<br />
Seguiu-se a apresentação<br />
do Doutor Sérgio Rezendes,<br />
assessor científico do Museu<br />
Militar dos Açores e professor<br />
no Colégio do Castanheiro,<br />
que veio enriquecer a tarde<br />
com mais dados e documentos<br />
históricos que ligam os<br />
Açores à Guerra do Ultramar,<br />
e, sobretudo, com a missão<br />
de demonstrar aos alunos e<br />
interessados os métodos para<br />
recolha de dados e memórias.<br />
O docente começa por afirmar<br />
que “a documentação guardada<br />
pelos ex-combatentes pode<br />
ser extremamente valiosa.<br />
Eles próprios não têm noção<br />
daquilo que têm. Para eles<br />
são memórias, vulgares<br />
papéis, mas para nós enquanto<br />
investigadores e historiadores,<br />
convém que essa documentação<br />
seja preservada”.<br />
Sérgio Rezendes refere ainda a<br />
importância das entrevistas com<br />
ex-combatentes, dando o seu<br />
testemunho da aprendizagem<br />
que os estudantes podem ter ao<br />
privar “com estas pessoas”.<br />
Outro aspeto “fundamental”<br />
para o orador é o trabalho de<br />
campo. Percorrer as ilhas dos<br />
Açores para perceber melhor e<br />
conhecer as figuras envolvidas<br />
neste conflito.<br />
Procurar os monumentos, e<br />
melhor que isso, as campas,<br />
os mausoléus dos nossos excombatentes.<br />
Esse passo é<br />
fundamental para vocês terem<br />
uma leitura do local de pertença<br />
e até mesmo para fazerem um<br />
ponto de situação de como<br />
a sociedade atual os está a<br />
tratar. E isto pode implicar um<br />
momento feliz ou um momento<br />
triste.<br />
Sérgio Rezendes refere também<br />
a importância de não “agarrarse<br />
à questão do conflito em si”.<br />
Focar-se sim na estrutura mental<br />
que acompanha o soldado a<br />
partir do momento em que ele<br />
sai de casa, “perceber o quadro<br />
mental destes homens”.<br />
Do ponto de vista social,<br />
“também era preciso perceber<br />
como é que estavam os nossos<br />
cá”. O investigador fala numa<br />
sociedade que “sofre com a<br />
partida dos seus filhos, mas não<br />
pode sofrer em excesso”, pelo<br />
facto de viverem em tempo de<br />
ditadura. Havia uma necessidade<br />
de mostrar o espírito patriótico,<br />
exemplificada pelo orador<br />
com uma fotografia de uma<br />
montra de um estabelecimento<br />
em Ponta Delgada, durante o<br />
Concurso do Dia das Montras.<br />
16 <strong>NO</strong>JAN20