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NO Revista Janeiro 2019

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eportagem<br />

"<br />

O que se verifica é que há vários problemas no que toca às memórias do<br />

Ultramar. Há cortinas de silêncio que só gradualmente se vão dissipando.<br />

Por vezes uma grande relutância em partilhar essas memórias, que se<br />

consideram do domínio privado. Nem sempre as pessoas conseguem<br />

exteriorizar aquilo que sentiram e que viveramm - Susana Serpa Silva<br />

Susana Serpa Silva concluiu a<br />

sua apresentação confessando<br />

que o seu “grande receio é que<br />

neste momento estão-se a perder<br />

os protagonistas, as memórias<br />

e estes objetos”, afirmando<br />

que “urge de facto recolher<br />

testemunhos orais, objetos e<br />

documentos particulares que<br />

nos falam de estados de alma,<br />

do quotidiano das operações<br />

militares” e lamentando<br />

a “escassez de apoios” à<br />

investigação histórica.<br />

Seguiu-se a apresentação<br />

do Doutor Sérgio Rezendes,<br />

assessor científico do Museu<br />

Militar dos Açores e professor<br />

no Colégio do Castanheiro,<br />

que veio enriquecer a tarde<br />

com mais dados e documentos<br />

históricos que ligam os<br />

Açores à Guerra do Ultramar,<br />

e, sobretudo, com a missão<br />

de demonstrar aos alunos e<br />

interessados os métodos para<br />

recolha de dados e memórias.<br />

O docente começa por afirmar<br />

que “a documentação guardada<br />

pelos ex-combatentes pode<br />

ser extremamente valiosa.<br />

Eles próprios não têm noção<br />

daquilo que têm. Para eles<br />

são memórias, vulgares<br />

papéis, mas para nós enquanto<br />

investigadores e historiadores,<br />

convém que essa documentação<br />

seja preservada”.<br />

Sérgio Rezendes refere ainda a<br />

importância das entrevistas com<br />

ex-combatentes, dando o seu<br />

testemunho da aprendizagem<br />

que os estudantes podem ter ao<br />

privar “com estas pessoas”.<br />

Outro aspeto “fundamental”<br />

para o orador é o trabalho de<br />

campo. Percorrer as ilhas dos<br />

Açores para perceber melhor e<br />

conhecer as figuras envolvidas<br />

neste conflito.<br />

Procurar os monumentos, e<br />

melhor que isso, as campas,<br />

os mausoléus dos nossos excombatentes.<br />

Esse passo é<br />

fundamental para vocês terem<br />

uma leitura do local de pertença<br />

e até mesmo para fazerem um<br />

ponto de situação de como<br />

a sociedade atual os está a<br />

tratar. E isto pode implicar um<br />

momento feliz ou um momento<br />

triste.<br />

Sérgio Rezendes refere também<br />

a importância de não “agarrarse<br />

à questão do conflito em si”.<br />

Focar-se sim na estrutura mental<br />

que acompanha o soldado a<br />

partir do momento em que ele<br />

sai de casa, “perceber o quadro<br />

mental destes homens”.<br />

Do ponto de vista social,<br />

“também era preciso perceber<br />

como é que estavam os nossos<br />

cá”. O investigador fala numa<br />

sociedade que “sofre com a<br />

partida dos seus filhos, mas não<br />

pode sofrer em excesso”, pelo<br />

facto de viverem em tempo de<br />

ditadura. Havia uma necessidade<br />

de mostrar o espírito patriótico,<br />

exemplificada pelo orador<br />

com uma fotografia de uma<br />

montra de um estabelecimento<br />

em Ponta Delgada, durante o<br />

Concurso do Dia das Montras.<br />

16 <strong>NO</strong>JAN20

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