eportagem por soldados corajosos, com enorme capacidade de improvisação, frugalidade, robustez e adaptabilidade às mais rudes condições de vida”. Contudo, apontou também às consequências inerentes a qualquer guerra, realçando as mais de 9000 mortes registadas e mais de 30000 feridos. Concluindo a sua apresentação, o Coronel Salgado Martins cita uma passagem da publicação Exército na Guerra Subversiva: “Para os militares, o interesse do estudo dos conflitos subversivos, reside ainda, no facto de a solução desses conflitos não poder nunca ser obtida unicamente pelas forças armadas”, ou seja, na sua opinião, a missão das Forças Armadas “era dar tempo ao poder político para encontrar uma solução que só apareceu passados 14 anos”. Por fim, foi a vez de Amaro de Matos dar o seu testemunho daquilo que vivenciou, na primeira pessoa, em Moçambique, entre 1972 e 1974. O fundador da Associação para a Defesa do Património Marítimo dos Açores e da Associação Cívica “Casa do Triângulo” foi primeiro-cabo especialista em rádio montador. Amaro de Matos começou por citar José Saramago, que refere na História do Cerco de Lisboa, que “a História foi vida real no tempo em que ainda não era História”, afirmando depois que, “após 68 anos, e passados já 45 desde a data do regresso, tenho plena consciência que vivi um tempo real que hoje já teve tempo para ser efetivamente História”. “Entendi dar aqui, da guerra em que participei, um testemunho voltado para as suas implicações sociais”, sublinha o orador. “As certezas sucediam-se: Primeiro as inspeções, depois as " incorporações, as mobilizações e finalmente as partidas. As incertezas vinham depois: Quando? Para onde? Por que meio? Quanto tempo falta? E a maior incerteza de todas: Voltaremos?” Amaro de Matos fala de um país que estava cansado de guerra e confessa que o que se sentia na altura, no seio militar, era que a causa deste conflito não passava de uma “teimosia em não resolver em termos políticos”. O ex-combatente recorda a sua passagem por África com um misto de nostalgia e de esperança: Nostalgia enquanto que, apesar de todas as privações e incertezas, tenho recordações calorosas de África (…) Tenho esperança de que África viva um dia um ciclo de paz e prosperidade que a sua grandiosidade justifica. Ainda espero igualmente que a falta de atenção com que se tem olhado para os ex-combatentes seja revista para que não se cumpra o que sabiamente nos disse Eduardo Lourenço: “Existimos quando se começa a notar a nossa ausência. Quase sempre tarde... em Portugal nunca”. Finalizando a sua intervenção, era notória a mágoa de Amaro de Matos para com o regime fascista que liderava Portugal, voltando a realçar que tudo não passou de uma “teimosia política”: Ainda não sei avaliar o que teria sido a minha vida se tivesse sido possível omitir dela este capítulo. O que sei é que nasci num país doente e que o monstro que criou e alimentou se serviu de mim e de mais de um milhão de camaradas meus. Sei que o meu país hipotecou parte do seu futuro coletivo e pagou caro essa teimosia. Assim, urge de facto não deixar cair no esquecimento todos os artefactos e todos os homens que construíram este pedaço da grandiosa História do nosso país. Soldados de um regime, soldados de uma pátria, soldados de si mesmo, ou até mesmo soldados de uma teimosia. Certo é que foram estes homens que, por uma causa nobre ou não, partiram para África sem grande escolha, sem futuro certo, apenas com a certeza das memórias que guardarão para sempre e que necessitam de ser preservadas como pedaço da nossa História. 18 <strong>NO</strong>JAN20
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