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Revista Gávea 03

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M ARIA LUISA LUZ TA V O RA

O concurso de fachadas de 1904 no Rio de Janeiro

I. Um novo espaço como imagem do progresso

Na primeira década do século empreendeu-se no governo Rodrigues Alves

(1902-1906) a remodelação da cidade do Rio de Janeiro, promessa feita pelo então governante

e que deveria ser realizada num prazo curto de pouco mais de três anos. Era o sonho

e a necessidade de transformar a cidade colonial “ imunda e retrógrada” (1) em uma

metrópole moderna. Para tanto, o governo federal nomeara uma comissão de engenheiros

nacionais que, sob a chefia do eminente engenheiro Paulo de Frontin, seria responsável

pelos trabalhos de estudo, demolição, nivelamento, iluminação, canalização, arborização,

calçamento e até mesmo a entrega de terrenos demarcados e prontos para edificar. Não foi

sem problemas que foram feitas mais de 600 demolições de prédios para que se rasgasse

uma grande avenida, a Avenida Central.

É preciso destacar a dimensão do fato, pois tratava-se de uma longa avenida,

maior que a então famosa Avenida des Champs Elysées de Paris, a qual possuía 1.900

metros de extensão. Abandonando traçados tortuosos e ruas estreitas, a Avenida Central

teria uma extensão de 2.000 metros contando com as praças situadas em seus extremos.

Possuiría 33 metros de largura, sendo 22 de leito e 5,5 para cada passeio lateral. Pode-se

imaginar o que representou, por suas dimensões, a nova avenida, pois estabelecia um contraste

com as ruas antigas, que possuíam 7 metros de largura na sua totalidade.

Portanto, não é com surpresa que muitas crônicas da época enaltecem

sobremaneira uma obra deste vulto.

“ Há poucos dias, as picaretas, entoando um hino jubiloso, iniciavam os

trabalhos de construção da Avenida Central, pondo abaixo as primeiras casas condenadas.

Bem andou o governo dando um caráter solene e festivo à inauguração desses trabalhos.

Nem se compreendia que não fosse um dia de regozijo o dia em que começávamos a caminhar

para a reabilitação” (2). Diz ainda Olavo Bilac que no desmoronar dos edifícios

havia um “ longo gemido” (3) representando a lamentação do passado, do atraso e do

opróbio. Mas salienta que este gemido era abafado pelo “ hino claro das picaretas” (4).

Segundo ele, que certamente estava de acordo com as decisões oficiais, dando-lhes o mais

caloroso apoio, todos testemunhavam e celebravam entre outras vitórias a do bom gosto e

da arte!

Ainda sobre as obras da Avenida Central, João de Barro escreve: “ O mês

de março... viu o início das grandes obras que hão de transformar a colonial cidade do Rio

de Janeiro numa bela, arejada e arquitetônica metrópole moderna... ao passo que manifes­

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