Revista Gávea 03
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LUIS FERNANDO FRANCO
Warchavchik e a Arquitetura
A posição da mônada absoluta na arte é uma coisa e outra: resistência à má
socialização em curso, mas, ao mesmo tempo, predisposição a uma socialização
ainda pior.
Quanto às convicções políticas dos autores, elas estão na relação mais
casual e inesperada com o conteúdo de suas obras.
T. W. Adomo — Filosofia da Música Moderna.
Em seu sentido enfático, a obra de arte não reflete imediatamente o ambiente
em que surge. Dele extrai o material que seleciona, incorpora e ordena segundo uma
realidade liberada de sua contingência. Não é, pois, de estranhar a perplexidade da crítiqa
conservadora contemporânea da irrupção da Casa Modernista: “Ora, isto quer dizer que é
permitida a construção em qualquer dos estilos arquitetônicos, mas, logicamente, quando
ela não obedece a nenhum estilo deve ser proibida. Logo, a casa (...) não tendo arte não
pode ter estilo” . Mas não basta ao provincianismo acadêmico o recurso ao poder de polícia
das posturas municipais: “Será inevitável a desvalorização desses terrenos” (1).
Singularmente, é a atualidade dos dois temas levantados pela crítica de então
que torna oportuna a reflexão sobre a arquitetura de Warchavchik. A relação entre
obra e estilo e a incidência da arquitetura moderna na realidade social em que se inscreve
são, ambas, problemas cujas soluções mereceríam, pela diversidade das experiências posteriores,
maior atenção. Primeiramente, cabe transcrevê-los tais como surgem nas obras
examinadas.
A indignação acadêmica quanto à posição da obra relativa a um estilo seria
fundada. Entende-se a dificuldade de associar a casa da Rua Itápolis à noção de estilo transmitida
pela história da arte. Em períodos estilísticos passados, a adoção preliminar e
voluntária das normas implícitas num sistema informava, na concreção singular da obra, a
busca de virtualidades inexploradas do próprio sistema. Contrariando a hipótese do talento,
o belo em arquitetura não nasce da eclosão expontânea de sensibilidade estocada, mas,
do mesmo modo que o riso, da percepção de uma articulação inusitada de um sistema
construído “ ad hoc” .
Casa Modernista
Rua Itápolis, São Paulo, 1930