Revista Gávea 03
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Lucio Costa sobre Aleijadinho 43
atribui sentido pejorativo à expressão. Mas no caso de Ronchamp ele fez exatamente isso.
O que caracteriza o espaço renascentista é que você o compreende imediatamente. A
Capela dei Pazzi, por exemplo, que é uma beleza, você entra e é uma geometria, um
negócio claro, limpo, você aprende tudo, aquela clareza. No caso de Ronchamp, não.
Aquilo vai acontecendo, os espaços vão surgindo, você entra e vai sendo levado. Há aquela
expressão do próprio Corbusier — ele tinha o dom da palavra exata — espace indicible, espaço
indizível. É uma obra-prima, o barroco está todo ali, nesse espaço indizível.
RB — Mas isto é uma polêmica? Saber se há um espaço barroco no Brasil?
LC — No Brasil foi sempre contido, sempre. O Aleijadinho, pòr exejnplo,
parede “ mole” , ele não fez. Ele fez aquela frontaria movimentada de São Francisco, mas a
nave é reta. Agora o Cerqueira, que estava fazendo a de São João dei Rei, quis introduzir
essa novidade e abaulou as paredes laterais, abarrocou além da conta.
JC — Sem a consistência do Rosário de Ouro Preto, que tem todo aquele
movimento...
LC — Essa referência ao Rosário, justamente, eu acho importante. Sempre
vi duas correntes distintas. Uma, de arquitetura mais erudita, mais vinculada ao barroco,
aobarrodo italiano, que pegou tanto na Alemanha e na Europa Central. Você tinha, aqui
no Rio, São Pedro dos Clérigos, em Minas também, São Pedro, em Mariana, Rosário em
Igreja de São Pedro dos Clérigos
Rio de Janeiro
Foto: Malta/Pró-Memória
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Igreja do Rosário dos Pretos
Ouro Preto, Minas Gerais
Foto: P. Lobo