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Revista Gávea 03

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O concurso de fachadas de 1904 no Rio de Janeiro 27

elementar em que o artista há de apoiar as suas criações” (18). A partir de suas palavras

entende-se como tantos arquitetos teriam mobilizado força e talento para, num Concurso

de Fachadas, apresentarem projetos que sabiam, de antemão, não seriam construídos mas

tão-somente apreciados como obras de virtuosismo de desenho, cujas incursões nos mais

diferentes estilos confirmavam a demonstração inequívoca de erudição.

Segundo o arquiteto, era função da Arquitetura “ relembrar os grandes espetáculos

da Natureza, as suas linhas majestosas, elevando-se nesta função ao sublime” .

A Arquitetura é simbólica e divina pela proteção que presta aos grandes ideais da humanidade.

Fala-nos da conseqílência do Romantismo de 1830 que, com a retomada do

estilo gótico, desencadeou os mais diferentes “ néos” que tomaram conta da arquitetura.

O arquiteto, a partir de então, deveria ser profundo conhecedor dos mais diferentes estilos,

aos quais recorrería a qualquer momento para projetar seus trabalhos. Esse estudo dos estilos,

tendo como base o das ordens clássicas, era ensinado nas aulas de desenho e composição

das escolas profissionais, recebendo, também, influências das artes fotográficas e

de um contato mais acentuado com o mundo europeu pela intensificação de viagens (19).

“ A arquitetura da época atual é essencialmente enciclopédica nas suas

manifestações de transição e se acha em vias de atingir seu modelo típico e definitivo pela

combinação predominante do ferro e do aço com outros materiais de construção e especialmente

com os vidros, os cristais e os produtos cerâmicos foscos ou esmaltados” (20).

Com as palavras de Morales de los Rios, observa-se a interpretação dada ao arquiteto confundido

com o desenhista de prancheta a buscar modelos nos manuais de arquitetura. Nas

três primeiras décadas do século, aqui no Brasil, a atuação do arquiteto limitava-se ao

trabalho de prancheta — ele dava provas de apuro no desenho e conhecimento histórico

dos mais diferentes e antagônicos estilos. “ Bom projetista era aquele que soubesse imitar

os estilos em voga” (21). Lúcio Costa, já comprometido com o funcionalismo que aqui

chegara, diz que na Escola de Belas-Artes os alunos de arquitetura recebiam uma bagagem

“técnico-decorativa” que não lhes permitia uma ação mais efetiva na vida real, pois não

recebiam as explicações indispensáveis do porquê dos elementos e sobre as razões profundas

que condicionaram a existência dos diferentes estilos (22). Contra esta situação, ele foi

líder de movimentos que geraram uma crise interna na EN BA, quando diretor nos anos

30.

Ainda Morales de los Rios explica a arquitetura eclética aproximando-a a

uma arquitetura de transição. Na verdade, tentava-se reestruturar a linguágem arquitetônica,

pressionada por todo o processo de industrialização do material de construção

que o Brasil acolhia de braços abertos por motivos políticos e econômicos. A questão de

uma paisagem urbana civilizada era prioritária naquele início do século. No Concurso de

Fachadas os arquitetos, buscando modelos do Velho Mundo, cumpriram o grande papel de

refletirem os interesses da classe dominante, da burguesia que buscava igualar-se em prestigio

à sociedade civilizada européia, erguendo prédios que testemunhassem seu ideal.

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