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EQUITAÇÃO 143

Revista Equitação - toda a informação sobre mundo equestre

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<strong>EQUITAÇÃO</strong><br />

M A G A Z I N E<br />

2020 | N.º <strong>143</strong>| MAIO/JUNHO | BIMESTRAL | CONT. PREÇO 5,00€ | DIRECTORA ANA FILIPE<br />

<br />

<br />

Luís Sabino Gonçalves<br />

Figura maior<br />

do hipismo


EDITORIAL<br />

PUB<br />

Os números<br />

falam por si<br />

E<br />

stão<br />

de volta os eventos<br />

hípicos, as provas<br />

equestres, está de volta<br />

a Revista Equitação<br />

às bancas!<br />

É com agrado que vemos o recomeço<br />

das competições e com um<br />

bom número de participantes, fazendo<br />

votos de que todas as regras da Direcção-Geral<br />

de Saúde (DGS) estejam a ser<br />

cumpridas para bem de todos, pois as consequências<br />

de uma segunda vaga de Covid-<br />

19 são inimagináveis, para o sector equestre<br />

em particular e para o país (e mundo) em<br />

geral.<br />

Mas regressemos aos aspectos positivos. A<br />

última edição da <strong>EQUITAÇÃO</strong> foi a primeira<br />

em 25 anos de existência<br />

da Revista em que<br />

esta não foi dada à estampa<br />

e apenas publicada<br />

online. Os números<br />

falam por si: em dois<br />

meses ultrapassámos<br />

as 120 mil visualizações!<br />

Estamos a falar de quatro<br />

vezes mais do que a<br />

nossa tiragem em papel!<br />

E os números vão<br />

continuar a aumentar,<br />

pois a edição vai manter-se<br />

na plataforma digital<br />

e disponível gratuitamente. São registos<br />

que nos enchem de orgulho e aos quais se<br />

juntam diversos telefonemas e e-mails de<br />

leitores com pedidos para que essa edição<br />

seja impressa, à posteriori, visto que a EQUI-<br />

TAÇÃO é para muitos uma publicação de colecção.<br />

directora Ana Filipe<br />

Em d o i s m e s e s<br />

a v e r s ã o digital<br />

u l t r a p a s s o u<br />

a s 120 m i l<br />

v i s u a l i z a ç õ e s,<br />

o u s e j a, q u a t r o<br />

v e z e s m a i s d o q u e<br />

a t i r a g e m e m papel<br />

Aos números da Revista acrescem ainda os<br />

do Portal Equitação, que só no mês de Maio<br />

passou as 300 mil page views, e a ascensão<br />

das Redes Sociais, onde já ultrapassámos a<br />

fasquia dos 180 mil seguidores só no Facebook<br />

e ao qual se juntou a conta de Instagram<br />

(@revista_equitacao). Com<br />

um crescimento exponencial em<br />

poucas semanas e inúmeras marcas<br />

a quererem associar-se para<br />

diversas iniciativas, está a revelarse<br />

um sucesso absoluto.<br />

Não é a primeira vez que o faço,<br />

mas considero que também não é<br />

demais repeti-lo: a todos os que nos leêm e<br />

seguem, obrigado por tornarem o nosso trabalho<br />

tão gratificante! E, para todos vocês,<br />

leitores que preferem ler em papel, e/ou leitores<br />

das plataformas digitais, nesta edição<br />

estaremos em ambos os formatos com uma<br />

revista em que chamamos à capa um português<br />

que, apesar de ainda ter muito para<br />

dar, já inscreveu o seu nome na história do<br />

hipismo nacional e internacional. Cavaleiro,<br />

comerciante de cavalos,<br />

professor, está também<br />

ligado à criação e tem<br />

até uma marca própria<br />

de material equestre,<br />

falo de Luís Sabino Gonçalves,<br />

com quem conversámos,<br />

na Quinta das<br />

Varandas, no Cartaxo.<br />

Aos poucos, também<br />

nós vamos desconfinando<br />

e percorremos vários<br />

pontos do país para lhe<br />

trazer diversas temáticas<br />

que o vão deixar colado da primeira à última<br />

página.<br />

Não posso terminar este Editorial sem deixar<br />

uma palavra aos recém eleitos Órgãos Sociais<br />

da Associação Portuguesa de Criadores<br />

do Cavalo Puro Sangue Lusitano (APSL) e<br />

da Associação Portuguesa de Atrelagem<br />

(APA) para o triénio 2020-2022, presididos<br />

respectivamente por João Grave e Vítor Amaral<br />

Vergamota, pois ambos têm pela frente<br />

enormes desafios, em virtude dos tempos<br />

que vivemos mas, igualmente, a oportunidade<br />

de um novo recomeço. m<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 1 MAGAZINE


ÍNDICE<br />

REVISTA BIMESTRAL | 2020 | N.º <strong>143</strong><br />

01 Editorial<br />

02 Índice<br />

04 Imagem do mês<br />

06 Dicas do Juiz<br />

por Frederico Pinteus<br />

08 Na Opinião de…<br />

por Daniel Pinto<br />

12 Entrevista<br />

José Veiga Maltez<br />

24 Treino<br />

por José Miguel Cabedo<br />

28 Tema de Capa<br />

Luís Sabino Gonçalves<br />

40 Editor’s Choice<br />

Casaca Rack Equiline<br />

42 Coaching<br />

por Mariana Silva<br />

44 Equitação Natural<br />

por Sandra Dias<br />

da Cunha<br />

56 Tauromaquia<br />

por Domingos<br />

da Costa Xavier<br />

58 Veterinária<br />

por Joana Alpoim<br />

Moreira e João Paulo<br />

Marques<br />

62 Nutrição<br />

por Marta Cardoso<br />

64 Crónica<br />

por João Pedro<br />

Gorjão Clara<br />

18 Cavalos<br />

Xiripiti<br />

20 Criação<br />

Coudelaria<br />

Cunha e Costa<br />

48 reportagem<br />

Comercialização<br />

Pós covid-19.<br />

O que se aprendeu<br />

e como reagir<br />

66 Raides<br />

por Mónica Mira<br />

70 Histórias<br />

por Rita Gorjão Clara<br />

FOTO de capa Bárbara M. Da Costa/Equestrez<br />

DIRECTORA Ana Filipe | EDITOR Eduardo de Carvalho | EDITOR ADJUNTO José Costa| REDACÇÃO Cátia Mogo; Marta Clemente<br />

DIRECÇÃO DE COMUNICAÇÃO E MARKETING Nuno Francisco| PUBLICIDADE David Pereira da Silva; José Afra Rosa; Margarida Nascimento<br />

ASSINATURAS Fernanda Teixeira | EDIÇÃO/REDACÇÃO/PUBLICIDADE R. Maria Pimentel Montenegro, 5B - 1500-439 Lisboa | Telefone +351 21 591 42 93<br />

E-mail equitacao@invesporte.pt ; equitacao@netcabo.pt Site www.equitacao.com | PROPRIEDADE Invesporte Lda, R. Maria Pimentel Montenegro, 5B - 1500-439<br />

Lisboa | Capital Social 5.000 euros (Eduardo de Carvalho 50%, Supered Unipessoal Lda 50%) | Contribuinte n.º 505 500 086<br />

Empresa Jornalística Registada na ERC N.º 223632 | ADMINISTRAÇÃO Eduardo de Carvalho | IMPRESSÃO Monterreina, Área Empresarial Andalucia 28320<br />

Pinto Madrid - Espanha | DISTRIBUIÇÃO VASP – Distribuidora de Publicações, SA. Media Logistics Park - Quinta do Grajal - Venda Seca - 2739-511<br />

Agualva-Cacém TIRAGEM MÉDIA 30.000 exemplares | REGISTO ERC N.º 123900 | DEPÓSITO LEGAL N.º 93183/95<br />

Todos os direitos reservados. Interdita a reprodução total ou parcial dos artigos, fotografias, ilustrações e demais conteúdos sem a autorização por escrito<br />

do Editor. Os artigos assinados bem como as opiniões expressas são da responsabilidade exclusiva dos seus autores, não reflectindo necessariamente<br />

os pontos de vista da Direcção da Revista, do Conselho Editorial ou do Editor.<br />

Estatuto Editorial disponível em www.equitacao.com


Imagem do mês<br />

7 de Junho de 2020, Centro Equestre Internacional<br />

de Alfeizerão (CEIA): os irmãos Viktor e Vilgot Janson<br />

preparam-se para iniciar a prova de 30cm, na companhia<br />

dos pais e professores, devidamente protegidos com<br />

máscara e viseira. A classe inseriu-se na Poule que<br />

decorreu em simultâneo com o CSN-B, o primeiro<br />

após o recomeço do calendário nacional de provas,<br />

interrompido durante quase três meses devido<br />

à pandemia mundial Covid-19.<br />

foto Mariana Vivaldo<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 4 MAGAZINE


<strong>EQUITAÇÃO</strong> 5 MAGAZINE


Dicas do Juiz<br />

Transições<br />

Entendo as transições como um dos exercícios mais completos das provas de Dressage.<br />

Reconheço que esta afirmação pode causar estranheza a alguns leitores, todavia, as transições<br />

revelam o equilíbrio, descontracção, impulsão, rectitude, capacidade de concentração, submissão,<br />

ligeireza, etc; ou seja, as transições revelam-nos a verdadeira qualidade do ensino do cavalo.<br />

A título de curiosidade, veja-se que a prova de Grande Prémio contém 26 transições das quais<br />

cinco são avaliadas individualmente.<br />

DEFINIÇÃO<br />

A transição é uma mudança de andamento ou a variação do tempo<br />

(velocidade do ritmo) dentro do mesmo andamento (ex: concentrado-largo-concentrado).<br />

As transições devem ser executadas de forma bem definida, na letra<br />

estipulada, mantendo a cedência (excepto no passo, onde esta não<br />

existe) e a qualidade do andamento até ao momento da transição. As<br />

transições devem ser executadas de forma fluída, sem hesitação ou<br />

tensão, permanecendo o cavalo numa posição correcta.<br />

Objectivo<br />

As transições visam encorajar o cavalo a desenvolver a capacidade de<br />

concentração, maior flexibilidade e movimento da linha de cima, melhorando,<br />

consequentemente, o seu equilíbrio e ligeireza (self-carriage).<br />

Erros comuns<br />

Os erros que geralmente vemos associados às transições são: pouca<br />

definição (especialmente no que se refere à concentração), não<br />

execução das transições na letra (muito cedo ou muito tarde), per-<br />

da de rectitude (geralmente garupa a dentro), perda de<br />

regularidade ou até mesmo de ritmo (precipitação), contra-flexão<br />

(geralmente na transição ao trote após o trabalho<br />

de galope), tracção das rédeas (o que leva o cavalo<br />

a baixar a nuca, colocar mais peso nas espáduas, abrir a<br />

boca), resistências (essencialmente por falta de preparação<br />

- meias-paragens), algumas passadas de passage/<br />

passagê nas transições da paragem ao trote, entre outros…<br />

Dicas<br />

1) Visualização do exercício<br />

Há alguns anos numa conversa informal com o criador e<br />

cavaleiro Paulo Caetano, sobre este tema, o mesmo referiu<br />

que: “(...) as transições são como o avião a descolar e<br />

a aterrar. Deve descolar forte e aterrar suave”. Naturalmente<br />

que não devemos simplificar em demasia o conceito,<br />

mas creio que esta citação transmite uma boa ideia<br />

visual daquilo que se pretende ver.<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 6 MAGAZINE


PUB<br />

2) Conhecer o protocolo (exercícios combinados)<br />

Apesar desta dica ser aplicável a todos os exercícios, o motivo<br />

pelo qual sinto a necessidade de referir este aspecto é porque<br />

em diversas provas a nota da transição inclui o andamento na<br />

parede pequena (ex: na prova de Grande Prémio a transição<br />

ocorre em “E” e o cavalo é avaliado até “F”; na prova St. George<br />

a transição ocorre em “K” e o cavalo é avaliado até “F”) e nem<br />

sempre os cavaleiros tem este aspecto em consideração.<br />

3) O andamento antes da transição<br />

A qualidade do andamento antes da transição é tido em consideração<br />

na nota da transição.<br />

Assim, se o cavalo apresentar um galope quase a decompor<br />

antes da transição ao trote ou um passo quase por laterais na<br />

transição ou trote (ou à passage) a nota da transição não<br />

pode ser elevada. Tente manter a qualidade do andamento<br />

até ao momento da transição.<br />

TEXTO Frederico Pinteus<br />

Juiz FEI3* e de Cavalos Novos<br />

FOTOs Aurélio Grilo<br />

4) Precisão<br />

Se bem que as transições descendentes (ex: galope-paragem)<br />

podem ter uma dificuldade acrescida, a generalidade<br />

das transições ascendentes são menos difíceis (ex: paragem-trote),<br />

pelo que se executadas correctamente permitem<br />

alcançar uma boa nota, mesmo que o cavalo não tenha<br />

muita qualidade. Por ex: na paragem inicial ou após o recuar,<br />

evite que o cavalo dê 2/3 passos de passo antes de sair a<br />

trote, pois isto levará a perda desnecessária de pontos.<br />

Para finalizar, gostaria de sublinhar que é importante que os<br />

cavaleiros dêem a devida atenção às transições, pois estas<br />

fazem parte da maioria dos exercícios, na generalidade das<br />

provas têm uma nota individual e, fundamentalmente, porque<br />

revelam o treino do cavalo e o empenho com que o cavaleiro<br />

está em prova. m<br />

Nota: Esta análise<br />

é feita à luz<br />

do Regulamento<br />

da Federação Equestre<br />

Internacional (FEI),<br />

tendo por objectivo<br />

ajudar os praticantes<br />

de Dressage a<br />

“conservar” pontos que<br />

estão essencialmente<br />

relacionados com a<br />

execução do exercício<br />

e não com a qualidade<br />

do cavalo.<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 7 MAGAZINE


NA OPINIÃO DE...<br />

CARTOLA OU TOQUE<br />

NÃO DEVERIA ESTA SER UMA ESCOLHA INDIVIDUAL DE CADA CAVALEIRO ?<br />

Fo t o :RPG<br />

Fo t o :Ri ta Fe r n a n d e s ©Lu s i ta n o Wo r l d<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 8 MAGAZINE


PUB<br />

Esta tem sido uma temática sobre a qual tenho reflectico bastante.<br />

Se por um lado entendo as novas directivas da Federação Equestre<br />

Internacional (FEI), por outro, corremos o risco de passar<br />

a mensagem de que a Dressage pode ser perigosa.<br />

Acredito que a segurança se atinge ao construir uma relação<br />

com o nosso parceiro baseada na confiança e compreensão total,<br />

muito mais do que por usar equipamento de protecção.<br />

Ocavalo e o homem têm caminhado<br />

lado a lado durante<br />

toda a história da humanidade.<br />

Desde a sua domesticação,<br />

há mais de 10 000 anos, os cavalos e o<br />

homem estão juntos, sendo esta simbiose<br />

parte do caminho de evolução da raça humana.<br />

A globalização viu o seu início nos dorsos dos<br />

cavalos e os reis conquistaram os seus reinos<br />

com estes nobres animais.<br />

A nossa relação existe desde que há memória<br />

e o cavalo viu a sua evolução desde alimento,<br />

a uma ferramenta de trabalho,<br />

a um companheiro que dá<br />

ao homem liberdade e nos faz sentir<br />

completos: é uma relação de<br />

cumplicidade, amizade, parceria.<br />

A Dressage, como disciplina Olímpica,<br />

levou esta ligação a todo um<br />

outro nível. Com o objectivo de<br />

atingir uma harmonia total entre<br />

TEXTO daniel pinto<br />

homem e o cavalo é de uma beleza digna<br />

de contemplação.»<br />

O Grande Prémio, como nível mais alto deste<br />

desporto, torna-se o expoente da harmonia<br />

e parceria entre cavalo e cavaleiro.<br />

Assistir a uma Freestyle de Grande Prémio,<br />

é observar arte pura, em que cavalo e cavaleiro<br />

dançam juntos.<br />

Os cavaleiros preparam-se para uma prova<br />

de Grande Prémio como se de uma gala se<br />

tratasse: impregnado de tradição, este desporto<br />

requer que os cavaleiros empreguem<br />

traje formal de Dressage, que tenham um<br />

aspecto altamente elegante. São<br />

seguidas regras restritas do “dress<br />

code”, incluindo a casaca de abas<br />

de uma só cor, na qual são permitidos<br />

discretos ornamentos como<br />

uma gola de tonalidade diferente,<br />

um bordado modesto ou ornamentos<br />

em cristal, botas de ensino pretas<br />

e uma cartola elegante.<br />

A Dressage n ã o é a p e n a s u m d e s p o r t o:<br />

é a e p í t o m e d e e l e g â n c i a e a r t e d a e q u i t a ç ã o<br />

e m h a r m o n i a c o m o c a v a l o<br />

cavalo e cavaleiro, em que dois corações<br />

batem como um só, a Dressage não é apenas<br />

um desporto: é a epítome de elegância<br />

e arte da equitação em harmonia com o<br />

cavalo.<br />

Como um desporto competitivo, a Dressage<br />

é definida pela FEI como “a expressão<br />

máxima do treino do cavalo, onde é esperado<br />

que cavalo e cavaleiro executem, de memória,<br />

uma série de movimentos pré-determinados”.<br />

Os cavaleiros de Dressage almejam um<br />

completo conhecimento, comunicação<br />

sem falhas e uma harmonia perfeita de<br />

equilíbrio, em que o cavaleiro leva o cavalo<br />

à sua manifestação máxima de movimentos.<br />

No website da FEI pode ser lido: «Dressage<br />

é a expressão máxima do treino do<br />

cavalo e elegância. Frequentemente comparada<br />

ao ballet, a intensa conexão entre o<br />

Desde há alguns anos, a FEI tem vindo a<br />

envolver-se numa campanha global para<br />

promover o uso de dispositivos de protecção<br />

para a cabeça - vulgo toque. Em Novembro<br />

de 2019, foi aprovado o uso obrigatório<br />

de toque para desportos equestres:<br />

seguindo as novas regras, «os cavaleiros de<br />

Dressage terão de usar o toque a todos os<br />

momentos decorridos em eventos FEI, quer<br />

dentro da carriére durante a sua prova, quer<br />

fora da mesma, a partir do dia 1 de Janeiro<br />

de 2021.» Esta nova regra retira das disciplinas<br />

individuais o seu poder de regulamento<br />

próprio, em que o uso de equipamento de<br />

protecção, em contexto de prova, seria decidido<br />

pelas mesmas. Deste modo, a nova<br />

norma torna obrigatório o uso do toque<br />

sempre que o cavaleiro esteja a montar em<br />

locais pertencentes a uma organização FEI.<br />

No entanto, esta regra permite que as dis-<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 9 MAGAZINE


NA OPINIÃO DE...<br />

ciplinas individuais decidam a possibilidade de os cavaleiros<br />

retirarem o equipamento de protecção durante as<br />

cerimónias de entrega de prémios e no momento em que<br />

são tocados os hinos nacionais.<br />

Numa notícia recente, o website britânico EuroDressage<br />

ressalvou o facto de «a decisão ter vindo rodeada de criticismo<br />

entre federações representantes de países com forte<br />

cultura na Dressage. Especificamente, o facto de a Atrelagem<br />

e o Volteio Artístico não serem abrangidos pela nova<br />

regra é considerado “estranho”, de acordo com o delegado<br />

holandês Maarten van der Heijden, Director e Secretário<br />

Geral da Federação Equestre Holandesa (KNHS).»<br />

Inicialmente proposta como<br />

uma regra com início a partir<br />

de 1 de Janeiro de 2021, a<br />

Holanda requisitou um adiamento<br />

de um ano, de modo<br />

a “criar realmente uma boa<br />

preparação para esta regra”,<br />

citando van der Heijden.<br />

Este tem sido um tópico sobre<br />

o qual, pessoalmente,<br />

tenho refletido bastante. Ao<br />

ler este comunicado da FEI,<br />

percebi de imediato as razões<br />

que levaram à proposta<br />

desta nova regra. No entanto,<br />

simultaneamente,<br />

senti que estamos a correr o<br />

risco de passar uma mensagem<br />

errada: a de que a Dressage,<br />

como desporto, pode<br />

ser perigosa.<br />

Eu próprio sou 100% apologista<br />

de que a segurança<br />

deve vir primeiro. É da minha<br />

responsabilidade como pai,<br />

treinador e empregador, garantir<br />

que os meus alunos,<br />

entre eles o meu filho, estão sempre seguros! Assim, concordo<br />

que as provas de Dressage deveriam exigir o uso<br />

obrigatório do toque, até ao nível do Grande Prémio.<br />

Enquanto preparamos cavalos jovens ou estamos no caminho<br />

para conquistar a harmonia perfeita com o nosso<br />

parceiro, devemos estar protegidos e utilizar equipamento<br />

de protecção adequado. A meu ver, a segurança surge<br />

pela relação de entendimento e confiança entre o cavalo<br />

e o cavaleiro. Acredito que a segurança se atinge ao construir<br />

uma relação com o nosso parceiro baseada na confiança<br />

e compreensão total, muito mais do que por usar<br />

equipamento de protecção. Ao nível do Grande Prémio, a<br />

sintonia entre ambos os atletas atinge o seu expoente<br />

máximo. Não penso que esta nova regra deva ser aplicada<br />

a provas de Grande Prémio, como obrigatória. Deveria<br />

ser dada aos cavaleiros a possibilidade de demonstrar o<br />

nível máximo de comunicação entre si e o seu cavalo durante<br />

a prova de Grande Prémio.<br />

Ut i l i z a r u m t o q u e<br />

d u r a n t e u m a Fr e e s t y l e<br />

d e Gr a n d e Pr é m i o<br />

é c o m o ir a u m a g a l a<br />

d e Óp e r a d e<br />

c a l ç õ e s e t é n i s<br />

Eu próprio monto os meus cavalos jovens de toque. Não<br />

obstante, irei sempre honrar os meus cavalos de Grande<br />

Prémio com um traje de gala e esse traje inclui, incontornavelmente,<br />

uma cartola.<br />

A liberdade de expressão deve ser permitida aos cavaleiros<br />

que, a este nível, mostram grande confiança e controlo<br />

absoluto sobre as suas montadas, ao executar movimentos<br />

de GP sincronizados na perfeição com as<br />

batidas da música.<br />

A este nível, a comunicação entre cavalo e cavaleiro não<br />

deve ter qualquer falha e o desporto atinge o seu expoente<br />

máximo, tornando-se muito mais que um desporto<br />

- é uma arte.<br />

Utilizar um toque durante<br />

uma Freestyle de Grande<br />

Prémio é, para mim, como ir<br />

a uma gala de Ópera de calções<br />

e ténis - chamem-me<br />

antiquado, mas uma das<br />

coisas que mais valorizo é a<br />

história, tradição e honra<br />

que sinto ao entrar na carriére<br />

vestido com a minha casaca<br />

de aba longa e cartola.<br />

O argumento principal da FEI<br />

assenta no facto de o Comité<br />

Médico priorizar a mudança<br />

de regras, promovendo o uso<br />

de toque como o seu foco na<br />

segurança dos atletas. No<br />

entanto, não consigo recordar<br />

nenhum acidente que tenha<br />

ocorrido durante uma<br />

prova de Grande Prémio.<br />

Esta nova regra, que assenta<br />

na promoção da segurança,<br />

faz ainda menos sentido ao<br />

permitir que as disciplinas<br />

individuais decidam se os<br />

seus cavaleiros podem ou não retirar os seus toques durante<br />

as entregas de prémios e quando tocam os hinos<br />

nacionais.<br />

É, no mínimo, irónico! Durante a prova, o cavalo está no<br />

seu nível máximo de concentração, uma performance<br />

onde o silêncio é absoluto e cavalo e cavaleiro são julgados<br />

como um só. Contudo, no preciso momento em que<br />

temos vários cavalos juntos, o público celebra com o<br />

aplausos e as voltas de honra levam a excitação ao máximo:<br />

é aqui que as regras permitem aos cavaleiros a decisão<br />

individual de retirar o toque.<br />

Aqui fica a minha proposta, como cavaleiro de Dressage<br />

que iniciou a sua carreira há 30 anos, dono de um grande<br />

sentido de tradição: quando chegamos ao Grande Prémio,<br />

deve ser permitido ao cavaleiro a liberdade de usar,<br />

ou não, a sua cartola! No final de contas, é uma escolha<br />

própria e uma liberdade poder expressar a nossa simbiose<br />

com o cavalo. m<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 10 MAGAZINE


Entrevista<br />

Falar da Golegã é falar de José Veiga<br />

Maltez. Com ligações familiares<br />

ancestrais à terra, é uma figura<br />

emblemática da história do município,<br />

do qual já foi e voltou a ser autarca.<br />

Homem de cavalos, na sua verdadeira<br />

essência, no seu seio nasceu, das suas<br />

tradições bebeu e é o seu ar que respira.<br />

TEXTO ana filipe | fotos BÁRBARA M. DA COSTA/EQUESTREZ<br />

Q<br />

uinta do Salvador. Este é o cenário desta<br />

entrevista, o mesmo que viu o jovem José<br />

dar os primeiros passos, as primeiras quedas,<br />

as primeiras voltas a cavalo (ou de<br />

garrano, como veremos mais à frente).<br />

Homem de personalidade e ideais fortes, ao conhecê-lo é<br />

impossível ficar-lhe indiferente. Talvez por consequência do<br />

seu carácter, é também um homem de paixões. O cavalo<br />

está no topo delas e associado a quase todos os cargos que<br />

ocupa. Mas como um diamante, também Veiga Maltez tem<br />

muitas faces, algumas talvez não tão conhecidas do público<br />

em geral, habituado a vê-lo durante a Feira da Golegã a distribuir<br />

sorrisos e acenos.<br />

Casado, pai de dois filhos e já avô, a <strong>EQUITAÇÃO</strong> conversou<br />

com José Tavares Veiga Silva Maltez, numa entrevista intimista,<br />

onde é abordado o passado, presente e futuro.<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> - É Presidente da Câmara Municipal da Golegã,<br />

da Feira Nacional do Cavalo (por inerência de cargo),<br />

da Associação Portuguesa de Criadores de Raças<br />

Selectas (APCRS) e da Associação Nacional de Turismo<br />

Equestre, sendo que também desempenhou funções de<br />

Assistente da Cadeira de Geriatria da Faculdade de Medicina<br />

de Lisboa. Este é José Veiga Maltez, a figura pública.<br />

Mas quem é José Veiga Maltez, o Homem?<br />

JOSÉ VEIGA MALTEZ - Como qualquer Homem, é fruto<br />

das circunstâncias e de ser o que os outros o deixam ser!<br />

Não é Político, mas sim, Médico-Autarca e que prefere que<br />

sejam os outros a defini-lo, do que falar de si próprio, já que<br />

não tem falsa humildade, nem falsa modéstia, quando os lê<br />

ou os ouve!<br />

Nasceu entre os cavalos, no seio de uma família de grande<br />

tradição equestre e de uma Coudelaria ancestral. Ainda<br />

se recorda das primeiras vezes que montou e do que<br />

este animal lhe transmitia?<br />

Recordo-me muito bem! Num garrano, que tinha o nome de<br />

“Garoto”, o qual comecei a montar com 3 ou 4 anos, tendo<br />

essa vivência me mostrado que, para uma criança, será<br />

sempre melhor um cavalo velho ou de confiança, do que um<br />

pónei ou um garrano. Mais tarde, com 10 anos foi-me “atri-<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 12 MAGAZINE


O Homem, a Obra<br />

e a sua Terra<br />

José Veiga Maltez, o Médico-Autarca<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 13 MAGAZINE


Entrevista<br />

buída” uma égua, a “Salgadeira”, cujo nome se devia ao<br />

ter nascido nos Salgados, em Vila Franca de Xira onde,<br />

as éguas Veiga pastavam, sazonalmente, em tempo de<br />

“transumância”.<br />

Com quem aprendeu equitação e quais as suas referências<br />

em termos equestres?<br />

Com algum autodidatismo, mas sobretudo “ensinado” pelos<br />

da Casa e a ver como se fazia. O meu Pai, durante uns tempos,<br />

enviou um cavalo para a Póvoa de Santo Adrião, para o Picadeiro<br />

de Mestre Nuno Oliveira, para que pudesse aprender algo<br />

de jeito. Penso que não foi o momento certo, nem a idade certa.<br />

Com nove anos, pouco absorvi e não poderia compreender<br />

a “arte”, nem os conhecimentos do grande Mestre! Na verdade,<br />

há um atavismo, que é a propriedade que têm os seres vivos,<br />

de transmitirem caracteres seus aos descendentes, com<br />

um intervalo de uma ou mais gerações, sendo a vulgar semelhança<br />

com os Avós ou com os Tios. Comigo não foi só, a predisposição<br />

e o “jeito” para montar a cavalo, mas, também noutras<br />

funções. E entre elas, também o atavismo familiar, pelo<br />

meu Bisavô, Manuel Tavares Veiga, que criou os célebres “Veiga”,<br />

ter sido o primeiro Presidente da Câmara Municipal da Golegã,<br />

da I República, em 1910, assim como, o meu Tio materno,<br />

Carlos Veiga, que foi o último Presidente da Câmara da Golegã,<br />

da II República, em 1974, e na III República, a partir de 1998, têlos<br />

secundado no mesmo cargo, como Edil da Golegã.<br />

Continua a montar com a regularidade que gostava?<br />

A regularidade com que monto é totalmente irregular! É quando<br />

me apetece, quando sinto essa vontade, mas, sobretudo,<br />

por prazer, por lazer, aquando do convívio e da confraternização<br />

com outros, seja num passeio marcado, numa Romaria ou<br />

numa Feira!<br />

Conte-nos um pouco da origem e da história da Coudelaria<br />

Veiga Maltez.<br />

A origem e a história da Coudelaria Veiga Maltez confunde-se<br />

com a da Coudelaria Veiga, já que foi uma parte dessa Éguada,<br />

que o meu irmão e eu recebemos, por via do nosso Tio-<br />

Avó João Veiga, que a havia legado a sua Sobrinha, Maria<br />

Mercedes Tavares Veiga Maltez, nossa Mãe, por herança de<br />

seu Pai, o Eng. Manuel Tavares Veiga.<br />

Herdou linhas ancestrais, isso tem sido uma vantagem ou<br />

uma limitação no actual desenvolvimento da Coudelaria?<br />

Felizmente, herdámos uma linhagem antiga, que é o pilar e a<br />

base da nossa Coudelaria. Tem sido uma vantagem porque<br />

sem uma boa base é sempre mais difícil seleccionar e criar<br />

cavalos bons. Temos o caminho facilitado, porque já fazem<br />

parte da nossa base, características morfológicas e funcionais<br />

boas, que apenas temos de desenvolver e melhorar no<br />

sentido do cavalo, que pretendemos criar. Por outro lado, poderemos<br />

considerar alguma limitação, apenas pelo tempo<br />

que demora, abrindo um pouco a outras linhagens dentro do<br />

Lusitano, mas utilizando sempre como mães, as éguas, fruto<br />

da nossa base inicial. Uma das maiores provas da consistência<br />

da base de uma coudelaria, como a nossa, é quando ao<br />

mesmo grupo de éguas largamos três cavalos diferentes e<br />

não conseguimos “distinguir” nos poldros nascidos, qual foi o<br />

padreador.<br />

O que deve ter um Lusitano para ser o tal cavalo de sonho<br />

que todos os criadores desejam?<br />

Respeitando o Padrão da Raça, pelo qual se rege a nossa Associação,<br />

cada criador é livre de sonhar com o cavalo que<br />

gosta de criar. Assim, o cavalo dos meus sonhos, além de “corajoso”<br />

e dócil, será um cavalo, com um certo tamanho, uma<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 14 MAGAZINE


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O que dizem<br />

de José Veiga<br />

Maltez...<br />

“É altivo sem ser arrogante.<br />

Bairrista sem ser tacanho. Vaidoso sem<br />

ser pedante. Ergue-se todos os dias,<br />

numa guerra sem tréguas, contra mentes<br />

fechadas e horizontes limitados.<br />

É hiperactivo, um autêntico tornado,<br />

quando decide pôr mãos à obra.<br />

Eléctrico. Electrizante”<br />

(António Bastos, in O Mirante)<br />

“(…) é bem o exemplo (raro!) do<br />

modelo de Autarca por vocação,<br />

longe das politiquices dos Partidos,<br />

exercendo o cargo apenas por amor<br />

à sua terra, empenhado na criação de<br />

melhores condições para a sua gente<br />

e na projecção da imagem da Golegã,<br />

Concelho” (José Pinto,<br />

in Jornal do Douro)<br />

“Vi v o o u v i n d o a v o z<br />

d a m i n h a c o n s c i ê n c i a,<br />

e n s a i a n d o s e r i n d e p e n d e n t e<br />

d a opinião d o s o u t r o s“<br />

frente leve, boa cara, pescoço fino, orelha pequena, bom dorso,<br />

boa ligação de rins, boa garupa, curvilhões baixos e com<br />

membros fortes.<br />

Temos vindo a assistir a cada vez melhores performances<br />

e resultados de Lusitanos nos mais importantes concursos<br />

de Dressage internacionais. Ainda assim, alguns defendem<br />

que o futuro do Lusitano na alta competição passará<br />

por uma maior abertura do livro genealógico. Sendo<br />

criador de Lusitanos, mas também Presidente da APCRS,<br />

qual a sua opinião sobre o assunto?<br />

A abertura que refere do Livro Genealógico do Puro Sangue<br />

Lusitano, é algo que exige um grande cuidado, que tem de ser<br />

muito bem ponderado, equacionado e analisado, pelos responsáveis<br />

e associados da Associação Portuguesa de Criadores<br />

do Cavalo Puro Sangue Lusitano (APSL). Não se deve<br />

desvirtuar o que actualmente denominamos de Puro Sangue<br />

Lusitano, mas nele “investir”! Paralelamente, com ele, deve<br />

coexistir, para certos objectivos e vontades, o Cavalo Português<br />

de Desporto, PSH (Portuguese Sport Horse), entre o<br />

qual, se encontra o “Luso Sport”, denominação aprovada pela<br />

APCRS para os produtos, a partir de uma determinada percentagem<br />

de sangue Lusitano.<br />

“Pela sua qualidade, profissão,<br />

ascendência e dependência pessoal,<br />

oferece garantias de não estar na política,<br />

para se servir nem para enriquecer,<br />

não querendo para si nem para os<br />

seus qualquer privilégio, como é típico<br />

daqueles, que entram no carrossel<br />

das lides autárquicas, apenas para se<br />

servirem das posições a que ascendem<br />

ou para usufruto de honrarias e acesso<br />

a bens, que de outro modo, nunca<br />

poderiam alcançar”<br />

(Pedro Barroso, Autor, Compositor<br />

e Interprete)<br />

“Numa breve conversa, que ambos<br />

tivemos no velho Central, verificámos<br />

como é importante estarem à frente<br />

das Autarquias personalidades com<br />

uma verdadeira preparação de base,<br />

para saberem interpretar a mensagem<br />

sociológica e cultural, que as populações<br />

locais exprimem, procurando através<br />

da sua gestão, depositar nas futuras<br />

gerações esse legado histórico valorizado,<br />

só assim dando carácter e sentido<br />

às regiões”<br />

(Alberto Tavares Barreto,<br />

in Cavalos Veiga, Tradição e<br />

Actualidade, Edições Inapa, Lisboa)<br />

“É um Autarca com uma personalidade<br />

única, carismática e diferenciada”<br />

(Teresa Sena de Vasconcelos,<br />

in Universidade Aberta, Lisboa)<br />

Na sua opinião, que consequências pode a Covid-19 ter na<br />

criação nacional, em geral?<br />

As consequências, quer directas ou indirectas são óbvias, já<br />

que as fronteiras encerraram não permitindo o afluxo de es-<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 15 MAGAZINE


Entrevista<br />

Licenciou-se em Medicina e exerceu<br />

durante muitos anos. E, tanto quanto julgo saber, alguns<br />

dos seus pacientes não gostaram nada de o perder<br />

como médico. Houve um momento em que sentiu uma<br />

espécie de apelo para dar o seu contributo à terra que o viu<br />

nascer? Foi isso que o levou a entrar na vida política?<br />

Sobretudo, o que me levou a entrar na vida autárquica, foi a<br />

percepção que tinha da Golegã, Concelho, em 1997, se demarcar<br />

dos outros, mas pela negativa, com um então presente<br />

cinzento e um futuro pouco colorido, mostrando aos cidadãos,<br />

naquele ano em que me candidatei, a necessidade de<br />

uma disposição reformista, para combater o “status quo” da<br />

terra dos meus bisavós, dos meus avós, dos meus pais e aonde<br />

os meus filhos cresciam. Na verdade, ser Médico e Presitrangeiros,<br />

com grande paixão pelo Lusitano, assim como, as<br />

vicissitudes e agruras, com que os Criadores, dentro do país,<br />

se confrontam e irão enfrentar.<br />

Falamos de criação e da evolução dos cavalos, mas quanto<br />

ao nível da equitação praticada pelos nossos cavaleiros<br />

- e não falo só dos “profissionais” também me refiro<br />

aos chamados “pica-pica” - montamos hoje melhor, com<br />

mais qualidade e noções equestres, do que no passado?<br />

Sem dúvida nenhuma! Sobretudo, imensa quantidade!! O<br />

aumento da qualidade, deve-se a uma questão de melhoria<br />

“educultural”, que era necessária e desejável!!! Não foi por<br />

qualquer razão, que como Autarca da Capital do Cavalo, instituí<br />

a Equitação, como Actividade de Enriquecimento Curricular<br />

(AEC), para todos os alunos das escolas do concelho da<br />

Golegã. Porque as “bases” são importantíssimas e a Equitação<br />

começa pela vertente didáctico-pedagógica, sobretudo<br />

num país, em que aquela integra a sua identidade e cultura,<br />

devendo por tal, ser promovida e desenvolvida.<br />

É também autor de diversas publicações. Escrever é outra<br />

das suas paixões?<br />

É na verdade uma paixão imensa, além da pintura, com a<br />

qual, noutros tempos mais tempo lhe dispensava. Ambas,<br />

tão só necessitam que usemos os sentidos, como a fotografia,<br />

que muito ensaio. Todas requerem observação do que<br />

existe à nossa volta! Para “escrever” também, é preciso<br />

“olhar”! Olhar comportamentos, olhar detalhes. E não é difícil<br />

ser atento, num mundo de muitos desatentos! Umas vezes,<br />

olho para dentro, mergulho em mim mesmo, reflectindo,<br />

outras, inspiro-me nos outros, nomeadamente, no que<br />

dizem, no que falam, no que resmungam, no que gritam ou<br />

sussurram!<br />

Que outras actividades gosta de praticar? Com tantos<br />

cargos, sobra tempo para as executar…?<br />

Entre outras, como é do conhecimento<br />

geral, sou “Motard” atravessando<br />

fronteiras, com a minha Yamaha 600<br />

Diversion. Como todos devem inferir,<br />

há um sentimento, o qual não tenho,<br />

que é aquela sensação de vazio e isolamento,<br />

a que chamam de solidão,<br />

já que o meu dia-a-dia é quase frenético,<br />

pleno de pessoas à minha volta e<br />

de assuntos para tratar, para resolver. Daí, necessitar de um<br />

ou outro momento a sós, comigo próprio, enfim, solitário, esquivando-me,<br />

isolando-me, sendo a minha “duas rodas” ideal,<br />

para ser um “eremita” do séc. XXI, muito transitório e temporário,<br />

restaurando-me psíquico-fisicamente, para as novas<br />

“batalhas”!<br />

Sabemos também que é um exímio bailarino. A que música<br />

não resiste…?<br />

Dizem! Na maioria das vezes, é tão só uma forma de expressar<br />

o meu estado de espírito, em termos de lazer e de prazer.<br />

Para dançar é preciso sentir, mexer o corpo com uma cadência<br />

de movimentos e ritmos, criando uma harmonia. É uma<br />

“Pa r a n ó s, a Fe i r a<br />

[d a Go l e g ã] e s t á d e pé<br />

e t u d o e s t a m o s a<br />

f a z e r p a r a q u e o<br />

e v e n t o a c o n t e ç a”<br />

manifestação artística de igual modo, que a escrita e a pintura,<br />

só que nela utilizamos o corpo, como instrumento criativo.<br />

Há vários tipos de música, que me são mais agradáveis para<br />

dançar ou “bailar”, mas com alguma facilidade me adapto ao<br />

ritmo e à coreografia, que cada uma exige!<br />

Qual o seu lema de vida?<br />

Sinceramente, não tenho “lema”, tão só a intensidade que imprimo<br />

à minha vida, já que muitos se limitam a “existirem”,<br />

não a vivendo. Vivo ouvindo a voz da minha consciência, ensaiando<br />

ser independente da opinião dos outros, apesar de<br />

tentar ser consensual, convergente<br />

e pelo equilíbrio, harmonia. Quem<br />

me conhece e me rodeia, conhece<br />

bem a minha liberdade de agir, assim<br />

como, de expressar aquilo que<br />

sinto, mesmo que me traga dissabores.<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 16 MAGAZINE


Neste momento, não podemos ser “mais Papistas, que o<br />

Papa”. Para nós, a Feira está de pé e tudo estamos a fazer<br />

para que o evento aconteça. Os meses que se avizinham<br />

serão indicadores do que se irá passar e das determinações<br />

da Tutela da Saúde.<br />

dente de Câmara são cargos e funções com alguma afinidade.<br />

Ambos, lidam com as agruras e os factos negativos<br />

das pessoas. Geralmente, ninguém vai ao consultório para<br />

dizer que está bem, assim como, não vão ao Gabinete do<br />

Presidente da Câmara, referir que está tudo óptimo!<br />

A Feira do Cavalo é uma feira conhecida em todo o mundo,<br />

que atrai milhares de visitantes. Contudo, quem a visita<br />

em Novembro e se decide regressar em Maio para a<br />

Expoégua, encontra uma feira menos popular. Sendo o<br />

“pai” da Expoégua e estando esta a caminho da 22.ª edição<br />

(o que não aconteceu este<br />

ano devido à Covid-19), considera<br />

que a feira de Maio já atingiu o<br />

seu ponto máximo em termos organizativos<br />

e programáticos ou<br />

ainda há um caminho a percorrer,<br />

e se sim, o que tem em mente?<br />

A Expoégua nasceu, cresceu e atingiu<br />

a sua maturidade, ao fim de<br />

duas décadas, cumprindo o seu objectivo! Conseguimos o<br />

que desejávamos, incitando a deferência dos criadores, pelas<br />

mães do efectivo equino de todas as raças, criadas em<br />

Portugal, os quais reconheceram este evento, que será sempre<br />

melhorado e actualizado, como o ideal e o mais nobre<br />

espaço, para as apresentar, as exaltar, para as premiar e para<br />

as elevar!<br />

Devido à pandemia e consequente estado de emergência<br />

decretado em Portugal, a FNC viu-se obrigada a cancelar<br />

a Expoégua. A sete meses da Feira Nacional/Internacional<br />

do Cavalo, já é possível antever se esta se irá<br />

realizar e em que moldes?<br />

“Se r Mé d i c o<br />

e Pr e s i d e n t e<br />

d e Câ m a r a s ã o c a r g o s<br />

e f u n ç õ e s c o m a l g u m a<br />

a f i n i d a d e”<br />

Há dois temas que são assunto recorrente pelo S. Martinho,<br />

reporto-me ao traje com que se apresentam os cavaleiros<br />

na feira e ao bem-estar do nobre animal. É possível<br />

implementar mais medidas não só para fomentar o<br />

uso do Traje Português de Equitação que de facto conferem<br />

uma singularidade ao certame e, por outro, prosseguir<br />

na adopção de mais decisões que visem o bem-estar<br />

do cavalo?<br />

Como é do conhecimento geral, temos vindo a implementar<br />

definições e critérios para o período da Feira, que cada<br />

vez mais visam o bem-estar animal, quer com a criação de<br />

uma Comissão própria, que retira do Recinto da Feira e de<br />

outros espaços públicos, equinos que apresentem sinais<br />

clínicos de “sofrimento”, quer com a restrição horária de circulação<br />

de animais e veículos de tracção animal, entre as<br />

duas e as sete da manhã. Foram decisões bem conseguidas<br />

e desejáveis, no sentido da prevenção do mal-estar animal.<br />

Quanto ao Traje, a tradição da Feira de São Martinho é<br />

a de uma Feira Franca, a que todos acorriam, acontecendo<br />

no séc. XX, uma maior exigência na Apresentação e Concursos,<br />

de um Traje condigno. Penso, que é um desrespeito<br />

a forma e o modo como muitos se apresentam e fazem arrear<br />

os seus cavalos. Prefiro interpretá-la como uma questão<br />

educacional e cultural. Conseguimos já, que só as pessoas<br />

trajadas correctamente, tenham acesso ao Picadeiro<br />

Central, que é onde se focam os principais olhares e apreciações.<br />

Progressivamente, tentaremos que na Manga<br />

aconteça o mesmo. Trajarem bem, correctamente e se à<br />

Portuguesa, ainda melhor!<br />

Não querendo ser o arauto dos<br />

seus feitos, mas é graças ao seu<br />

trabalho que a Golegã passou a<br />

ser reconhecida como a Capital<br />

do Cavalo, encontrando-se dotada<br />

de infraestruturas que fazem<br />

jus ao nome (Picadeiro Público<br />

Coberto, Centro de Alto Rendimento<br />

de Portugal para Desportos<br />

Equestres, Equuspolis…). Como aliás já referiu, a<br />

Equitação foi introduzida como complemento curricular<br />

das Escolas do Concelho da Golegã. Como gostava de<br />

ser recordado no futuro?<br />

Tão só, como alguém que contribuiu para pôr a Golegã, no<br />

“mapa” a nível nacional e internacional, devolvendo-lhe a<br />

sua memória, a sua história, ao mesmo tempo, que lhe foi<br />

promovendo a qualidade de vida, exigida pelo séc. XXI,<br />

numa simbiose, entre a sua identidade cultural e a modernidade,<br />

desvanecendo a Golegã “velha”, preservando a “antiga”<br />

e construindo a “nova”, usando o que foi transmitido de<br />

geração em geração, para estímulo do presente e referência<br />

para o futuro! m<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 17 MAGAZINE


Cavalos<br />

XIRIPITI<br />

Um PSL (de ranking) mundial<br />

Não é todos os dias que encontramos um cavalo no ranking mundial<br />

da Federação Equestre Internacional (FEI) posicionado cinco vezes<br />

e que tenha estado presente em três Campeonatos da Europa<br />

e dois Jogos Equestres Mundiais em representação de duas nações.<br />

Xiripiti é esse cavalo.<br />

Foi no Monte de Vila Formosa, na Coudelaria<br />

Torres Vaz Freire que Xiripiti<br />

nasceu e onde Paulo Caetano o viu<br />

pela primeira vez, era ele ainda um<br />

poldro de 5 anos, e logo o impressionou pela<br />

“precocidade com que fazia exercícios de grande<br />

dificuldade mas, sobretudo, em termos de<br />

andamentos. Era um cavalo com uma actividade<br />

de posteriores, com um poder invulgar para a<br />

raça nessa altura”, recorda o criador, cavaleiro e<br />

treinador. Depois do desbate e ensino inicial realizado<br />

por Rodrigo Torres, após a aquisição, foi<br />

Maria Caetano, com a ajuda do pai, que prepararam<br />

o jovem lusitano e o iniciaram em competição<br />

a nível internacional, aos 7 anos, em S.<br />

Jorge, e um ano depois, em Grande Prémio, num<br />

começo que acabou por ser mais precoce do<br />

que o esperado, devido à perda de Útil. Apesar<br />

da inexperiência, logo nesse ano Xiripiti foi seleccionado<br />

e integrou a equipa nacional no Europeu<br />

de Roterdão. Depois disso, com Maria, fez<br />

ainda mais dois Europeus, um Mundial e juntos<br />

sagraram-se Campeões de Portugal em 2013 e<br />

2014.<br />

Com Coroado a ganhar cada vez maior relevo<br />

na quadra da cavaleira, após algum tempo a<br />

exercer funções de garanhão na casa da família<br />

XIRIPITI<br />

•Data de Nascimento:<br />

29.05.2003<br />

•Sexo: M<br />

•Pelagem: Ruça<br />

•Altura ao garrote: 1.63m<br />

•Studbook: Lusitano<br />

•Disciplina: Dressage<br />

•Criador:<br />

Coudelaria Torres Vaz Freire<br />

•Proprietário: Paulo Caetano<br />

•Descendência:<br />

8 exemplares<br />

QUALIFICADO<br />

CRIADOR:<br />

MANUEL MENDES<br />

DA ASSUNÇÃO COIMBRA<br />

REBOLEIRA<br />

CRIADOR:<br />

MARCOS TORRES<br />

VAZ FREIRE<br />

TEXTO ana filipe<br />

(até porque é reprodutor recomendado de 4 estrelas<br />

de Dressage e Modelo e Andamentos),<br />

Xiripiti foi entregue a João Oliva, atleta brasileiro,<br />

treinado também por Paulo Caetano.<br />

Com 15 anos, já do outro lado do globo, Xiripiti<br />

voltou a estar sob os holofotes de todo o mundo<br />

ao entrar em pista para o Grande Prémio,<br />

desta vez nos Jogos Equestres Mundiais de<br />

Tryon, nos EUA.<br />

No suadouro em vez da bandeira portuguesa<br />

estava a brasileira, mas o coração do cavalo e a<br />

vontade era a mesma.<br />

Garanhão já com uma larga carreira, em 2019<br />

passou ainda sob a sela de Roberto Brasil<br />

(POR), Pedro Manuel Tavares de Almeida (BRA)<br />

e Edneu José Senhorini (BRA), alguns dos quais<br />

na tentativa de conquistar os mínimos para a<br />

vaga olímpica individual. “É um cavalo de uma<br />

enorme generosidade e aponto-lhe como principais<br />

qualidades em termos mecânicos e físicos<br />

a força e a actividade inusual de posteriores<br />

e em termos psicológicos a coragem e a garra<br />

dos bons lusitanos pois é um animal que em<br />

pista nunca ficou indiferente a ninguém e isso é<br />

uma característica muito bonita de qualquer<br />

cavalo de dressage”, afirma o proprietário, que<br />

tem dele três descendentes.m<br />

HABIL<br />

CRIADOR:<br />

MANUEL TAVARES VEIGA<br />

ZEBRA<br />

CRIADOR:<br />

MANUEL MENDES<br />

DA ASSUNÇÃO COIMBRA<br />

MOSCATEL<br />

CRIADOR: ANA MARIA BRITO<br />

ELIAS DE MOURA LUPI<br />

IDEAL<br />

CRIADOR: COUDELARIA<br />

TORRES VAZ FREIRE<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 18 MAGAZINE


Principais resultados:<br />

Com Maria Caetano<br />

• 2011 – Presença no Campeonato da Europa de Roterdão (HOL)<br />

• 2013 – Campeão de Portugal<br />

• 2013 – Presença no Campeonato da Europa de Herning (DIN)<br />

• 2014 – Campeão de Portugal<br />

• 2014 – Presença no Campeonato do Mundo da Normandia (FRA)<br />

• 2015 – Presença no Campeonato da Europa de Aachen (ALE)<br />

Com João Oliva<br />

• 2018 - Presença no Campeonato do Mundo de Tryon (EUA)<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 19 MAGAZINE


Coudelarias<br />

Coudelaria<br />

Cunha e Costa<br />

Uma história escrita em família<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 20 MAGAZINE


Às portas de Évora, é entre o Convento da Cartuxa<br />

e o Convento de S. Bento de Castris, com o Aqueduto das Águas de Prata<br />

bem perto, que encontramos a Coudelaria Cunha e Costa, um projecto familiar<br />

dedicado à criação de cavalos Puro Sangue Lusitano (PSL).<br />

TEXTO Ana Filipe | FOTOS Inês Parente<br />

À<br />

nossa espera estão Rui, Cristina, os filhos Pedro,<br />

Inês e Catarina (e alguns companheiros de quatro<br />

patas). Num cenário com tanta riqueza histórica e<br />

beleza natural, os tons de azul e branco que pintam<br />

a casa não nos deixam esquecer que estamos em pleno<br />

Alentejo, onde os campos e o clima se têm mostrado ideais<br />

para o crescimento do efectivo desta Coudelaria, que conta<br />

com pouco mais de uma década de existência. Durante a semana<br />

em Lisboa, devido à actividade profissional, é aqui que<br />

o criador se refugia, sempre que pode, na companhia da mulher<br />

e dos três filhos que, tal como o patriarca, partilham o gosto<br />

pelos cavalos e pela vida de campo. O ferro da coudelaria,<br />

por exemplo, foi desenhado por Inês. “Temos paixão pelo que<br />

fazemos e vivemos intensamente os nascimentos e o desenvolvimento<br />

destes animais. Os meus pais também gostam e<br />

ajudam. Sem paixão nada gira e depois é o trabalho árduo. Já<br />

diz o ditado: «Alcança quem não cansa»”, comenta Rui Esteves<br />

da Costa.<br />

A Coudelaria Cunha e Costa nasceu do sonho do casal, ambos<br />

com ligações familiares ao meio rural e agrícola, ele na<br />

Beira Baixa e ela no Algarve. O projecto foi criado em 2007,<br />

“numa pequena Quinta em Alenquer comprada ao Alfredo<br />

Coelho (um estudioso do cavalo lusitano e que escreveu vários<br />

artigos sobre o assunto). Em 2013 vendemos essa Quinta<br />

e estabelecemos o sonho no Alentejo. Escolhemos a vetusta<br />

cidade de Évora. Bem situada entre Lisboa e Espanha, com<br />

excelentes vias de comunicação. De uma centenária Quinta<br />

em ruínas, erguemos a Quinta Flor do Convento”, explica Rui. A<br />

localização não deixa dúvidas sobre a escolha do nome da<br />

casa que tem visto crescer esta coudelaria, cujas primeiras<br />

éguas foram adquiridas à Dressage Plus, “descendentes do<br />

Peralta e do Vulcão dos Pinhais. Animais de estrutura e dimensão<br />

que resultavam de uma selecção desportiva feita por<br />

um criador brasileiro.” Desse primeiro núcleo restou apenas<br />

Formosa do Convento: “a primeira reprodutora que correspondia<br />

aos nossos objectivos de criação.” Todas as outras foram<br />

vendidas, pois Rui “não estava satisfeito com o rumo que<br />

tinha traçado” e, por isso, socorreu-se dos conselhos de “três<br />

pessoas que respeito neste meio: Diogo Lima Mayer, Luís Pidwell<br />

e Francisco Cancella de Abreu. A opinião foi unânime:<br />

vender os animais e fixar-me em duas poldras filhas do Ciclone<br />

e da Formosa do Convento de nome Luz do Convento e<br />

Musa do Convento. A primeira ainda levei à Expoégua aos 3<br />

anos e ficou em 3.º lugar. Mais tarde comprei duas éguas ao<br />

Luís Silva, da Herdade das Silveiras, a Cigana e a Uva do ferro<br />

Miguel Cintra; duas éguas pretas com estrutura, tamanho, excelentes<br />

andamentos e pontuadas com 77 pts. Com os meus<br />

produtos e com estas aquisições fizemos uma base de crescimento<br />

com qualidade.” Fruto do contributo do garanhão<br />

Guardião do Penedo (ferro Resina Antunes) “os produtos saí-<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 21 MAGAZINE


Coudelarias<br />

O garanhão<br />

Hectare<br />

da Cartuxa<br />

Poeta do Convento<br />

dos foram de excelente qualidade”, afirma. É por esta altura<br />

que vemos a nossa conversa interrompida. Acaba de chegar<br />

Dra. Cristina Cosinha, médica veterinária da Lusopecus que,<br />

em plena época reprodutiva, veio ver as éguas. Integra a equipa<br />

que presta apoio a esta coudelaria, também o Dr. Tomé<br />

Fino, da Equimuralha, assim como, “no maneio, o Pedro Ricardo,<br />

pessoa com muita experiência<br />

e, no aconselhamento, o Eng.º<br />

João Vinhas que me tem ajudado<br />

desde o princípio”, explica o criador,<br />

à medida que vamos entrando<br />

em casa, em busca de ar mais<br />

fresco, que o calor do final de<br />

Maio não nos deixa esquecer que estamos em pleno Alentejo,<br />

apesar do dia ainda não ir a meio!<br />

“Cr i a r c a v a l o s<br />

é u m a i l u s ã o c o n s t a n t e<br />

d e f a z e r m a i s e m e l h o r”<br />

Ru i Co s t a<br />

A regra dos três Bs<br />

É já “à fresca”, numa sala onde facilmente perdemos o olhar<br />

entre quadros e esculturas equestres, que continuamos a conhecer<br />

melhor a Coudelaria Cunha e Costa e onde Rui nos<br />

confessa que o seu grande objectivo é fazer “o que designo a<br />

regra dos três Bs: cavalos Bonitos, com Bons andamentos e<br />

Boa cabeça. Bonitos no sentido de apelativos morfologicamente<br />

e de constituição, Bons andamentos no sentido da<br />

funcionalidade, do ritmo, do equilíbrio e da correcção e Boa<br />

cabeça no sentido de ter animais dóceis, com nobreza e carácter.<br />

Estes são os princípios e a base do nosso projecto familiar”.<br />

Não tendo como desejo inicial a competição, a casa chegou<br />

a ter um cavalo em Dressage. “Comprámos o Ciclone à<br />

Sabine Rolfs. Filho do Napolitano, ferro Arsénio Cordeiro e descendente<br />

do Novilheiro, um dos grandes cavalos da nossa<br />

raça e que brilhou no desporto, mais precisamente nos Saltos<br />

de Obstáculos, com John Withaker, sendo Campeão Inglês e<br />

da Europa. Da parte da mãe, o Ciclone era todo linha Alter.<br />

Depositei muitas ilusões nesse cavalo que estava entregue à<br />

Jeannette Jenny e ao Jorge de Sousa e chegou ao nível de<br />

Grande Prémio, tendo ganho vários<br />

concursos e uma Taça de<br />

Portugal. Infelizmente, um aguamento<br />

pôs termo à sua vida. Na<br />

criação cavalar a sorte também<br />

conta. Pontuei-o como reprodutor<br />

e usei-o, durante uns anos,<br />

como garanhão numas éguas que tinha comprado entretanto.”<br />

No ano passado, foi em terras espanholas que Rui encontrou<br />

o garanhão que lhe pareceu ter “boas qualidades morfológicas<br />

e de andamentos, presença e altura”. Falamos de<br />

Hectare da Cartuxa (Ferro Fundação Eugénio de Almeida).<br />

“Não temos apostado no seu desenvolvimento desportivo<br />

mas, este ano, vamos inverter. Revelou-se um bom progenitor.<br />

Estou satisfeito com os seus descendentes. Com o núcleo de<br />

éguas referidas e com este garanhão, por agora vou seguir este<br />

rumo. Criar cavalos é uma ilusão constante de fazer mais e<br />

melhor.” Com isso em mente, o futuro da coudelaria, com um<br />

efectivo de 13 animais, passa assim por “criar melhores estruturas<br />

de apoio (nunca estamos satisfeitos), seleccionar, apurar<br />

características e criar animais de encher o olho com futuro<br />

promissor. Seleccionar é muito mais que simples cruzamentos.<br />

Não tenho, ainda, muitos produtos mas estão todos a funcionar<br />

e a causar prazer aos seus donos.”<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 22 MAGAZINE


PUB<br />

Luz do<br />

Convento<br />

Égua afilhada Musa<br />

do Convento com<br />

Quartzo do Convento<br />

Ávido leitor e sedento de aprender cada vez mais sobre a raça,<br />

Rui Esteves da Costa tem como referências o Eng.º Manuel Veiga,<br />

o Eng.º Ruy de Andrade, Guilherme Borba, Sommer de Andrade<br />

e Nuno Oliveira. “Com os seus escritos e ensinamentos<br />

temos muito a aprender”, frisa o criador, para quem o cavalo<br />

Lusitano é um “animal funcional em várias vertentes mas, vincadamente,<br />

na sua montabilidade. É dos melhores para iniciar<br />

cavaleiros e lhes causar prazer. Apostar no PSL só numa linha<br />

de desporto acho muito difícil. Os cavalos do centro e norte da<br />

Europa vão muito à frente nesta selecção. Existe, depois, todo<br />

um mercado que prefere os Lusitanos pela sua docilidade, nobreza<br />

e arte, que proporciona momentos inolvidáveis ao seu<br />

cavaleiro. Se vão para o ensino, equitação de trabalho, escolas,<br />

apresentações ou simples amadores já é indiferente. Têm é de<br />

funcionar. O lusitano é um produto de excelência do mundo rural<br />

português, tal como o vinho, o azeite e a cortiça. Tem uma<br />

cabeça extraordinária. A Feira da Golegã só é possível com o<br />

nosso cavalo: crianças, carros de bebé, uma multidão à volta<br />

dos cavalos, tudo em tranquilidade. Com cavalos do centro ou<br />

norte da Europa era impossível, andava tudo num virote. E depois<br />

a ancestralidade: Xenofonte, Homero, Gregos, Romanos e<br />

Árabes. A Península Ibérica era famosa pelos seus cavalos «filhos<br />

do vento» e pela sua equitação que permitiu, por exemplo,<br />

aos Lusitanos fazer frente aos exércitos romanos. Portugal devia<br />

ter como símbolo o cavalo lusitano, o seu «ex libris», e não o<br />

galo de Barcelos, que não tem sentido nenhum.” Bem português<br />

é também o pão e o queijo alentejano e é na sua companhia<br />

que concluímos esta agradável conversa, antes de nos fazermos<br />

à estrada, deixando para trás esta encantadora família<br />

e efectivo promissor. m<br />

Sabia que…<br />

Para além de criador de cavalos,<br />

Rui Esteves da Costa é igualmente<br />

produtor de ovinos, contando com<br />

um rebanho com cerca de 70<br />

ovelhas. Apesar de habituado aos<br />

números, devido à sua actividade<br />

profissional na área da Banca,<br />

também as letras o seduzem.<br />

Autor do romance “Soberano<br />

Lusitano”, editado em 2012<br />

(disponível no Clube Equitação<br />

em http://www.equitacao.com/<br />

clube ), Rui tem na forja mais<br />

um romance e uma biografia<br />

romanceada do rei D. Carlos.<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 23 MAGAZINE


TREINO<br />

A ARTE<br />

DE BEM SALTAR<br />

Diz um provérbio árabe que “O Paraíso na Terra é sobre o dorso dos cavalos”.<br />

Não poderia estar mais de acordo! Para todos os que comigo concordam, escrevo<br />

este artigo, que divido em duas partes: a primeira sobre a colocação em sela e,<br />

a segunda, sobre a iniciação aos saltos, de cavaleiro e cavalo.<br />

Comecemos então pela colocação<br />

em sela. É evidente que sobre<br />

“Equitação”, muito já se escreveu<br />

e é por isso mesmo que, para escrever<br />

este artigo, me socorri de alguns escritos<br />

de diferentes autores. Sempre que souber<br />

quem são, aqui o direi.<br />

O assunto versado neste meu escrito é dirigido,<br />

mais uma vez, aos que se iniciam nesta<br />

arte do que aos sabichões que, alguns, mesmo<br />

que nunca tenham montado a cavalo, se julgam<br />

conhecedores de todos os segredos da picaria (General<br />

Júlio de Oliveira in “Coisas e Loisas de Equitação”).<br />

Comecei este artigo com um provérbio e, de facto, não<br />

faltam ditos e outros provérbios interessantes e elucidativos,<br />

alguns dos quais cabem bem neste início da<br />

educação do cavaleiro. Assertivas são as declarações<br />

do Coronel Eng.º Vasco Ramires, segundo o qual “um<br />

homem nunca se zanga com um cavalo. Só se zanga<br />

com outro homem.”; ou de Buffon (in História Natural),<br />

para quem “a mais nobre conquista feita pelo homem<br />

é a deste orgulhoso e fogoso animal, que comparte<br />

com ele as fadigas da guerra e a glória dos combates.”<br />

Algumas afirmações que se seguem são da minha autoria,<br />

resultado da maneira como, durante grande parte<br />

da minha vida, montei os meus cavalos, ou aqueles<br />

que me eram distribuídos para trabalhar. Admito que<br />

podem ser contestadas, e reconhecerei os erros que<br />

porventura tenha cometido, se reconhecer que as sugestões<br />

melhoram a minha maneira de montar, e tragam<br />

benefícios para os cavalos.<br />

Entendo que a Equitação é um Hino à descontracção.<br />

Se não houver descontracção por parte do cavaleiro,<br />

mais tarde ou mais cedo vai parar ao chão. É claro que<br />

não é só por falta de descontracção que se vai parar ao<br />

chão. Em Mafra, um dia fui passear para a Tapada com<br />

o Napalm. Vamos sempre tentando pedir algo ao cavalo:<br />

colocação, paragens, recuar, descida do pescoço,<br />

etc. E foi numa extensão, a passo, que o Napalm colaborou<br />

comigo: estendeu o pescoço com a cabeça, até<br />

ao chão, e recuou um passo. Sem nada à frente, caí<br />

que nem um prego e vi o Palácio Nacional de Mafra de<br />

TEXTO<br />

José Miguel Cabedo<br />

fOTOS<br />

Hugo Amorim<br />

cabeça para baixo. O cavalo ficou ali parado<br />

muito admirado com a minha aselhice – a passo.<br />

Já viram as lutas japonesas? Um lutador só<br />

consegue deitar o adversário por terra quando<br />

o apanha contraído e, por isso, tenta agarrá-lo<br />

pelas bandas do quimono. Um homem que<br />

pesa 80kg (por exemplo) não vai ao chão com<br />

facilidade se estiver absolutamente descontraído.<br />

Vamos então estudar a descontracção a cavalo.<br />

O ABC da Equitação já sabem: o cavalo tem quatro<br />

patas, duas orelhas, etc. Partamos desse princípio. Vamos<br />

então passar a DEFS: descontracção, equilíbrio, flexibilidade<br />

e solidez. Olhando para o desenho que apresento<br />

na Fig. 1 (que não é da minha autoria e que não me<br />

lembro de quem é), vamos começar pela cabeça: esta<br />

não deve estar aparafusada ao pescoço, mas também<br />

não deve andar para cima e para baixo, como às vezes<br />

vejo, e que não serve para nada, a não ser que queira dizer<br />

ao cavalo que ele está a ir bem. Será? Deve olhar em<br />

frente e manter o olhar paralelo ao chão.<br />

Quanto aos ombros, além de deverem estar ligeiramente<br />

para trás, têm no seu músculo deltóide de (forma da letra<br />

do alfabeto grego – delta Δ), a grande base da descontracção.<br />

Com os deltóides contraídos, eles levam para<br />

cima e para baixo, os braços e por consequência as mãos,<br />

nos andamentos do cavalo que estão a montar. Isso vai<br />

incomodar fortemente a boca do animal já que as nossas<br />

mãos pertencem à boca do cavalo e não a nós (!). O cavalo<br />

acaba por ficar contraído e aí, decerto, prega com o<br />

cavaleiro no chão, plantando nós, uma figueira (como dizemos<br />

na cavalaria).<br />

As mãos com os dedos cerrados segurando as rédeas,<br />

polegares para cima e afastadas mais ou menos 25cm.<br />

Os rins e costas flexíveis. O assento bem colocado, puxado<br />

à frente na sela só deixa de estar em contacto com a<br />

sela no trote levantado ou no galope para os saltos (como<br />

preconizou o Capitão Frederico Caprilli em 1868 – 1907),<br />

chamada posição à frente. (Fig. 2)<br />

As pernas caem naturalmente e estão em contacto com<br />

as abas da sela, com a parte plana das mesmas. Como<br />

os loros devem estar sempre verticais quando o cavaleiro<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 24 MAGAZINE


Dedos cerrados segurando<br />

as rédeas, polegares para cima<br />

1 A posição do cavaleiro<br />

Músculo Deltóide<br />

Cabeça direita, bem destacada<br />

dos ombros<br />

Ombros ligeiramente para trás<br />

Rins e costas flexíveis<br />

Cotovelos ligeiramente<br />

dobrados<br />

Pernas caindo naturalmente<br />

Estribos calçados na parte mais<br />

larga do pé<br />

Calcanhares<br />

descidos<br />

Assento bem colocado puxado<br />

à frente na sela<br />

Pernas em contacto<br />

com o cavalo<br />

calça os estribos, a soleira dos estribos deve estar na parte<br />

mais larga do pé, a posição do pé fica no sítio onde deve<br />

estar para que a colocação em sela seja correcta. Mas… (há<br />

sempre um “mas”) a articulação do pé tem de estar completamente<br />

descontraída, e, para isso, dizemos “calcanhar<br />

para baixo”. Se se apoiarem no bico do pé, a perna sobe e<br />

mais uma vez a contracção aparece. O contacto com o cavalo<br />

diminui e a solidez também. (Fig. 3)<br />

Em suma: tudo o que escrevi pode resumir-se nos princípios<br />

base da Educação do cavaleiro.<br />

D – Descontracção – Só à vontade em cima do cavalo é<br />

que conseguimos ter acção (ajudas) justas e precisas (Manual<br />

de Monitor de Equitação do Coronel Neves Veloso e<br />

Tenente-Coronel Almeida e Sousa).<br />

E – Equilíbrio – Só com ligação ao movimento é que conseguimos<br />

estar equilibrados. Mas também é preciso pensar<br />

no equilíbrio do cavalo.<br />

F – Flexibilidade – Relaxamento dos músculos como os<br />

deltóides e articulação dos pés. Os rins e costas sempre<br />

prontas a dar uma ajudinha de flexibilidade.<br />

2<br />

S – Solidez – A aderência ao cavalo não é aparafusar as<br />

pernas ao arreio. Houve tempo em que se mandava apertar<br />

bem os joelhos. Só que assim os joelhos sobem no arreio<br />

e a solidez desaparece. Havia até um limitador na aba<br />

do arreio, para o joelho não ir para a frente. É estarem<br />

encostadas com a maior superfície possível – parte plana<br />

das coxas, barriga das pernas justas e quietas, quer dizer,<br />

3<br />

sem parecerem um limpa pára-brisas dos carros, que actuam<br />

quando chove. O segredo da solidez a cavalo reside<br />

essencialmente na elasticidade do cavaleiro e em empregar<br />

a força apenas quando e como é preciso. (F. Caprilli).<br />

Iniciação aos saltos,<br />

cavaleiro e cavalo<br />

Entendo que o grande segredo de um bom percurso num<br />

concurso de saltos, reside em o cavaleiro sentir a distância<br />

ao salto e o sítio onde deve fazer a batida para saltar sem<br />

faltas. Claro que tudo depende do tipo de obstáculos - vertical,<br />

largo, vala de água, compostos.<br />

É também evidente que temos de ter a montada equilibrada,<br />

porque não será durante o percurso que vamos conseguir.<br />

Acabaríamos por nos contrair e contrair o cavalo, fazendo<br />

uma má prova.<br />

O cavalo tem de estar descontraído quando vai saltar (Cor.<br />

de Cavalaria Vasco Ramires).<br />

Também é preciso ter em conta a raça do cavalo. Um PSI<br />

tem uma passada bem maior que um Lusitano e mesmo<br />

que saibamos falar com ele em inglês, ele, por birra, não vai<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 25 MAGAZINE


TREINO<br />

5 A passo<br />

4<br />

6 A trote<br />

7 A galope<br />

saltar se não o quiser fazer. O Lusitano, de passada mais<br />

curta, chega, normalmente, bem ao salto. Pode não saltar<br />

tanto como o PSI, mas cria menos problemas que este.<br />

Para que se saiba, o recorde do mundo do salto em altura,<br />

2,47 m, pertence, desde 1949, ao Huaso, um PSI, montado<br />

pelo capitão chileno Alberto Larraguibel.<br />

Então como vamos sentir a<br />

“A Eq u i t a ç ã o é u m Hi n o<br />

à d e s c o n t r a c ç ã o.<br />

Se n ã o h o u v e r<br />

d e s c o n t r a c ç ã o p o r p a r t e<br />

d o c a v a l e i r o, m a i s t a r d e<br />

o u m a i s c e d o v a i<br />

p a r a r a o c h ã o.”<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 26 MAGAZINE<br />

distância ao salto para o cobrir<br />

sem faltas? Como tenho<br />

dito em artigos anteriores,<br />

ainda não vi ninguém tropeçar<br />

no passeio quando atravessa<br />

uma rua, ou alarga o<br />

passo ou o encurta ou o mantém,<br />

se sente que, procedendo<br />

assim, com uma das três<br />

alternativas, não vai tropeçar.<br />

Pondo no chão varas de saltos<br />

em qualquer sítio vamos a pé e a passo, passar as varas<br />

sem as pisar (Fig. 4). Feito isto, fazer o mesmo com o cavalo<br />

montado e dando-lhe um jeitinho para ele não pisar<br />

as varas, como fizemos a pé. Sentir é fundamental. Depois<br />

pôr as varas paralelas à distância entre 0,70m a 0,80m, se<br />

formos a passo; entre 1,40m e 1,60m se formos a trote e<br />

entre 2,80m e 3,00 m se formos<br />

a galope. (Fig. 5, 6 e 7)<br />

Cria-se uma situação de fácil<br />

e muito útil exercício ginástico<br />

em que o factor dominante é<br />

o equilíbrio, além da souplesse<br />

(agilidade elástica) do cavalo<br />

e do cavaleiro (in “A Equitação<br />

Elementar” do Cor.<br />

Joaquim Arnaut Pombeiro).<br />

Quando se vai saltar devem<br />

verificar se a soleira está bem


8 Salto de través<br />

soldada ao resto do estribo. Em Cascais, na recepção de<br />

um salto, perdi a soleira, e isso teve, como se imagina, consequências<br />

desagradáveis.<br />

A seguir, e com bom senso, vamos saltar saltos pequenos,<br />

como nos diz Gudin de Vallerin, o princípio é nunca saltar<br />

obstáculos grandes, antes de ter obtido franqueza e calma<br />

nos obstáculos pequenos. Mesmo para um cavalo velho, o<br />

trabalho sobre obstáculos de 1,20 m é suficiente (Chevalier<br />

d’Orgeix). Aí sim, teremos um bom cavalo de obstáculos.<br />

É essencial nunca esquecer o que nos ensinou o General<br />

L’Hotte: “Os fins essenciais a atingir no ensino do cavalo<br />

podem exprimir-se em três palavras: calmo, para diante e<br />

direito. A ordem é invariável e não podemos obter o seguinte<br />

enquanto não for alcançado o precedente.”<br />

Há um exercício de grande utilidade, para um cavalo que<br />

ajusta mal a sua trajectória ao obstáculo: é o salto de través<br />

(Fig. 8). Lembre-se que um cavalo, normalmente,<br />

muda de mão quando salta.<br />

Vai fazer uma prova? Então, quando entrar em pista, faça-o<br />

com um bom trote para ter a certeza de que o cavalo<br />

está bem para diante.<br />

Por esta altura iniciaram a carreira de cavaleira/o de obstáculos.<br />

Que desfrutem do vosso cavalo, mas sem violências,<br />

porque ele não merece isso. E tentem sempre ser os melhores<br />

a chegar ao top das provas!<br />

Boa sorte amigos!m<br />

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Tempo de viver<br />

esta experiência.<br />

EQUINICULTURA<br />

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DESPORTO E<br />

FORMAÇÃO EQUESTRE<br />

Curso Técnico Superior Prossional<br />

Formação Prática e Elevada Empregabilidade<br />

www.ipportalegre.pt<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 27 MAGAZINE


Tema de Capa<br />

Luís Sabino Gonçalves<br />

figura maior<br />

do hipismo<br />

Aos 55 anos, Luís Sabino Gonçalves dispensa apresentações. Referência do hipismo<br />

português, inspiração para muitos jovens cavaleiros, já foi Campeão Nacional, venceu<br />

diversos CSIO de Lisboa, levantou Taças das Nações e já nem sabe o número de vezes que<br />

envergou a casaca da selecção nacional. Diz que perde a cabeça por um bom vinho tinto e<br />

com um bom poldro. Tal como ambos, tem sabido envelhecer da melhor forma possível.<br />

TEXTO Ana Filipe | FOTOS Bárbara M. da Costa/Equestrez<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 28 MAGAZINE


Vai já longo o currículo deste cavaleiro que começou<br />

por montar os lusitanos que o pai criava e a<br />

andar no meio dos touros, tinha pouco mais de<br />

seis anos. Aí ganhou muita da desenvoltura e bravura,<br />

tão úteis na disciplina que escolheu como profissão e na<br />

hora de se fazer aos saltos a passadas largas de varas colocadas<br />

a 1.60m. Embora de cara séria em prova ou na hora de<br />

reconhecer os percursos, o sorriso é uma das suas características.<br />

Quem o conhece bem, diz ter dificuldade em apontarlhe<br />

defeitos e define-o como prestável, sempre pronto a ajudar<br />

o próximo. Ao longo dos anos conquistou alunos e, na era<br />

das redes sociais, uma legião de fãs que ultrapassa os 12 mil<br />

no Facebook e Instagram (sendo o cavaleiro português com<br />

mais seguidores).<br />

Quando a pandemia mundial foi decretada, Luís encontravase<br />

no Médio Oriente, tendo regressado mais cedo a Portugal.<br />

É precisamente por esse tema que iniciamos esta entrevista.<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> - Nos últimos anos, Janeiro é sinónimo de<br />

uma temporada no Médio Oriente. Como tem sido esta<br />

experiência e de que forma começar o ano civil nessa parte<br />

do globo o tem ajudado para o resto da temporada?<br />

LUÍS SABINO GONÇALVES - Há quatro anos, fui pela primeira<br />

vez assistir a um concurso a Abu Dhabi, nos Emirados<br />

Árabes Unidos (EAU), para ver e analisar a hipótese de, no<br />

futuro, aí competir. Durante anos, de Novembro a Fevereiro,<br />

costumava trabalhar bastante no Brasil, no negócio de cavalos<br />

e a dar estágios. A importação de cavalos para o Brasil<br />

tornou-se difícil, pelo aumento dos custos e dificuldades formais,<br />

o que levou a uma enorme redução nas vendas. Percebi<br />

que tinha de reagir e apostar noutro mercado com potencial.<br />

Foi quando decidi arriscar e investir no Médio Oriente o que<br />

acabou por ser uma boa aposta. O negócio de cavalos tem<br />

vindo a aumentar e a Sabino Saddle tem crescido exponencialmente<br />

de ano para ano, com vendas para os EAU, Síria,<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 29 MAGAZINE


Tema de Capa<br />

Arábia Saudita, Egipto, Jordânia, etc. No plano desportivo, os<br />

concursos têm todos óptimas condições e bons prémios, os<br />

organizadores e os cavaleiros criam um ambiente super amistoso<br />

e quando chego a Vilamoura, para o circuito de Inverno,<br />

já levo as montadas mais prontas a competir. Tenho conseguido<br />

bons resultados que me ajudam a valorizar os cavalos,<br />

a pagar as contas e a pontuar para o Ranking Mundial FEI, o<br />

que me facilita a entrada nos concursos de 4* e 5* na Europa.<br />

No passado, muitos cavaleiros europeus participavam nestes<br />

concursos pelo facilitismo em pontuar para o Ranking, mas a<br />

realidade mudou. Essas provas deixaram de ter uma média<br />

de 30 conjuntos para passarem a ter mais de 60 e, na sua<br />

grande maioria, competitivos.<br />

A nível pessoal, como passo o ano a viajar, de segunda a<br />

quarta-feira à procura de cavalos e de quinta-feira a domingo<br />

em competições por toda a Europa, este mês e meio nos EAU<br />

permite-me descansar, ter tempo para me preparar fisicamente<br />

para a nova época e desfrutar de espectaculares programas<br />

com os amigos locais que já lá tenho.<br />

Na Europa, no início do ano são os circuitos de saltos de<br />

obstáculos que marcam o calendário hípico. Com tantos<br />

circuitos a decorrer em simultâneo, cada vez com melhores<br />

condições para cavalos e cavaleiros, quais os critérios<br />

que utiliza para escolher onde competir?<br />

São sem dúvida a minha prioridade: a qualidade dos pisos, a<br />

dimensão das pistas de competição e de aquecimento e as<br />

boxes onde ficam instalados os cavalos. Em seguida procuro<br />

concursos em lugares agradáveis, com uma organização sim-<br />

pática e onde se encontrem a competir amigos meus, se possível.<br />

Tudo isto dentro de um enquadramento de CSI de 3* a<br />

5*, dependendo dos concursos onde consigo entrar em função<br />

do Ranking e dos meus contactos pessoais.<br />

E no que diz respeito aos concursos, como escolhe onde<br />

marcar presença?<br />

Depende dos objectivos a que me proponho para cada época.<br />

Se for ano de Campeonato da Europa ou do Mundo, por<br />

exemplo, faço a agenda de concursos para o meu cavalo<br />

principal poder chegar no top da forma nesse fim-de-semana<br />

e depois encaixo por prioridades cada um dos seguintes<br />

cavalos nos concursos durante o ano. A minha vida pessoal e<br />

profissional é completamente dependente da agenda de<br />

concursos do meu cavalo principal.<br />

Sabendo que a alta roda dos concursos decorre no centro<br />

da Europa, nunca ponderou deixar o Cartaxo e radicar-se<br />

num desses países?<br />

Contando os dias todos do ano, passo praticamente nove<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 30 MAGAZINE


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NEW TEAM<br />

COLLECTION<br />

#RidersTeam Collection<br />

meses no estrangeiro. Mas, a vida não é só feita de resultados<br />

desportivos e financeiros. Gosto muito de estar perto da minha<br />

família, amigos e de viver em Portugal, embora não o tenha<br />

conseguido fazer muito nos últimos anos. Para conciliar<br />

tudo isto com os concursos no centro da Europa, faço um<br />

programa de competições em que vou “subindo” com os cavalos<br />

e fico um mês ou dois, depois “desço” quando há concursos<br />

internacionais em Portugal e parto de novo para fora.<br />

Os cavalos acabam por andar de concurso em concurso e<br />

nos fins-de-semana de descanso ficam em boxes de cavaleiros<br />

amigos perto do próximo evento. Não se justifica ter<br />

mais uma estrutura, só para dar apoio à minha equipa de<br />

competição. Por outro lado, não escondo que tenho o sonho<br />

e objectivo de um dia poder vir a construir uma estrutura na<br />

Holanda, mas só como negócio para rentabilizar o aluguer de<br />

boxes e apartamentos para cavaleiros e tratadores.<br />

“A m i n ha v i d a pessoal<br />

e p r o f i s s i o n a l<br />

é complet amente<br />

d e p e n d e n t e d a a g e n d a<br />

d e c o n c u r s o s d o m e u<br />

c a v a l o p r i n c i p a l”<br />

A quadra<br />

para esta<br />

temporada...<br />

• Argan de Beliard:<br />

SF, ruço, castrado, 10 anos,<br />

filho de Mylord Carthago;<br />

• Biloba des Chaînes:<br />

SF, castanho, castrado, 9 anos,<br />

filho de Winingmood;<br />

• Apremier:<br />

SF, castanho, castrado, 10 anos,<br />

filho de Diamand de Semilly;<br />

• Camino Império Egipcio:<br />

BAV, ruço, castrado, 10 anos,<br />

filho de Colman;<br />

• Adiamood de L’Abbaye:<br />

SF, castanho, castrado, 10 anos,<br />

filho de Winingmood.<br />

Como é o Luís num dia de prova? Gosta de ver os concorrentes<br />

antes de si? Pratica algum tipo de alimentação especial?<br />

Prefiro ver alguns cavaleiros antes para poder fazer uma melhor<br />

leitura do percurso. Em algumas situações, quando reconhecemos<br />

o percurso, nem sempre as passadas que pensamos<br />

fazer em determinada linha são a melhor opção. O<br />

bonito deste desporto é que não é nem previsível nem matemático,<br />

está sempre tudo em aberto.<br />

Tenho a tensão baixa e por isso toda a minha vida tive um ligeiro<br />

conflito entre o que deveria comer para me sentir bem e<br />

ter energia e, ao mesmo tempo, não engordar e não me sentir<br />

cheio para competir. Tive a sorte de encontrar a equipa da<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 31 MAGAZINE<br />

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Tema de Capa<br />

Sabino Saddle<br />

Apesar do gosto pelo ensino,<br />

actualmente o cavaleiro encontra-se<br />

totalmente dedicado ao comércio<br />

e competição. Como muitos<br />

cavaleiros internacionais de<br />

renome, desenvolveu uma linha<br />

própria de material equestre ligada<br />

aos obstáculos. A Sabino Saddle<br />

nasceu, como o nome indica, com<br />

uma sela, mas hoje em dia inclui<br />

uma pequena gama de produtos<br />

complementares como cabeçadas,<br />

arreios, peitorais, entre outros<br />

artigos, distribuídos na Europa,<br />

Brasil e EAU.<br />

Nordic Health, que me acompanha, através de consultas, testes<br />

e análises e me fornece os suplementos indicados para<br />

poder manter os níveis de energia desejados durante as competições<br />

e poder ter uma melhor performance.<br />

“Te n h o u m o b j e c t i v o<br />

d e u m d i a p o d e r v i r a c o n s t r u i r<br />

u m a e s t r u t u r a n a Ho l a n d a”<br />

Diz o ditado que “a pressa é inimiga da perfeição”, mas nas<br />

barrages, onde os vencedores se decidem à milésima de<br />

segundo, não há tempo para pensar muito. O que lhe passa<br />

pela cabeça antes de entrar em pista e durante um<br />

jump-off?<br />

Numa barrage é muito importante<br />

traçar uma estratégia<br />

em função do nosso<br />

cavalo, do percurso e da<br />

concorrência. Admitindo<br />

que temos um cavalo com<br />

experiência e que, embora seja quase sempre difícil ganhar<br />

mas ainda assim possível, temos de entrar em pista bem focados<br />

na execução do que planeamos, cheios de adrenalina<br />

e, ao mesmo tempo, com um mental sereno, sem o cavalo se<br />

aperceber de que queremos ir depressa. Assim que passamos<br />

a linha de partida, temos de montar com todo o sentimento,<br />

deixar fluir com alguma irresponsabilidade e sem<br />

medo do risco para poder ganhar.<br />

Na última década, o CSIO de Lisboa marcou a sua carreira<br />

com quatro vitórias em seis anos. De que forma o encara<br />

anualmente?<br />

Julgo que participo sempre desde 1981, a primeira vez aos 16<br />

anos. Ao longo de toda a minha carreira, foi um objectivo ten-<br />

tar melhorar o resultado no Grande Prémio (GP) do CSIO de<br />

Lisboa, até que um dia aconteceu ganhá-lo! Agora é um desafio<br />

tentar bater o recorde de vitórias pelo mesmo cavaleiro<br />

no GP, que tenho ideia de serem quatro, ganhas pelo Brigadeiro<br />

Henrique Callado e por mim.<br />

Estas vitórias no CSIO tiveram desfechos semelhantes: a<br />

venda das montadas dias depois. Ainda que seja algo a<br />

que já está habituado – e que faz parte da sua vida como<br />

cavaleiro e empresário – em 2010, numa entrevista que<br />

deu à <strong>EQUITAÇÃO</strong> TV, revelava<br />

algum descontentamento<br />

pelo facto de<br />

não poder manter os cavalos<br />

ganhadores, assim<br />

como pelo facto de se um<br />

se lesionar, não ter substituto à altura. Muito mudou na<br />

sua vida desde então, em termos de apoios e patrocinadores,<br />

mas a venda dos cavalos ganhadores continua a<br />

ser uma constante. Como se lida com esta realidade de<br />

ficar sem a principal montada?<br />

É uma maneira de estar na vida como outra qualquer. Hoje<br />

em dia, Graças a Deus, tenho um grupo de cavalos em que<br />

posso vender um sem ficar momentaneamente “descalço”.<br />

Durante toda a minha vida, o meu objectivo principal e o dos<br />

meus proprietários/sócios, sempre foi a venda. Quando vendia,<br />

sempre tive de ser rápido a encontrar outro do mesmo<br />

nível ou melhor, e a torná-lo competitivo o mais rapidamente<br />

possível. A sustentabilidade da minha organização e da minha<br />

vida pessoal passa principalmente pelo comércio de ca-<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 32 MAGAZINE


<strong>EQUITAÇÃO</strong> 33 MAGAZINE


Tema de Capa<br />

valos. Adoraria guardá-los mais tempo mas como em todos<br />

os negócios, eles vendem-se bem quando estão a ganhar e<br />

aparece o cliente a querer comprar. Foi a vender que eu cresci<br />

e por vender não desapareci.<br />

De referir que tenho agora, pela primeira vez, uma proprietária/criadora<br />

belga que está instalada na Normândia, a Isabel<br />

Delferriere, do Haras du Coq, que me entregou um cavalo de<br />

GP Internacional, o Apremier, cujo objectivo principal não é<br />

vender.<br />

De que forma a psicologia desportiva o tem ajudado a<br />

lidar com este tipo de acontecimentos e, acima de tudo,<br />

a melhorar o seu psíquico no que à competição diz respeito?<br />

As conversas/sessões que tive com abordagens diferentes de<br />

vários psicólogos com quem trabalhei, foram todas muito interessantes,<br />

enriquecedoras e principalmente muito esclarecedoras.<br />

Ajuda-nos muito a clarificar e trabalhar em cada<br />

momento, diferentes atitudes, vários pensamentos e a eliminar<br />

as diversas inseguranças que limitam o conseguir obter o<br />

foco necessário para optimizar a concentração e permitir assim<br />

atingir o resultado desejado.<br />

Aconselho vivamente os jovens que se façam acompanhar<br />

de um psicólogo/mental coach, desde que possível. Vivemos<br />

num mundo cada vez mais competitivo, o desporto em geral<br />

é também cada vez mais competitivo e exigente nos resultados,<br />

não há espaço para desculpas, o resultado tem que ser<br />

sim ou sim, e no final o atleta que aguenta melhor a pressão<br />

e que é o mais consistente é aquele que continua.<br />

O meu primeiro psicólogo foi o meu grande Amigo, Mentor e<br />

quem me ensinou verdadeiramente a montar a cavalo, o meu<br />

Mestre João Martins Abrantes que, já à época, me perguntava<br />

antes de entrar em pista: “qual é o teu plano desde que entras<br />

na pista até que sais, para que depois possamos analisar os<br />

desvios que possam existir?” Por palavras dos mental coach<br />

de hoje em dia, isto quer dizer: “visualiza o percurso e foca-te<br />

no processo, depois analisamos”. Apesar de ter encontrado<br />

ao longo da minha vida um equilíbrio para digerir as derrotas<br />

e lidar sem euforia com as vitórias, embora de uma maneira<br />

caseira, devo dizer que depois de ter trabalhado com psicólogos<br />

do desporto, passei a analisar ainda melhor o que deveria<br />

fazer para evitar os possíveis desvios ao meu plano.<br />

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Tema de Capa<br />

Quando vai trabalhar cada<br />

um dos seus cavalos, o que é<br />

que procura e como planeia a<br />

sessão de cada um?<br />

Procuro sempre que cada cavalo<br />

consiga trabalhar descontraído,<br />

feliz e motivado. Para<br />

conseguir tudo isto, vou variando<br />

o programa e os lugares<br />

onde os trabalho. Por exemplo,<br />

no dia “A”, faço um passeio,<br />

onde introduzo algum trote e<br />

por vezes um pouco de galope<br />

em terrenos variados, mais duros e menos duros, regulares e<br />

irregulares, com e sem inclinação, etc. No dia “B” posso fazer<br />

um trabalho mais técnico ao nível de dressage no picadeiro<br />

coberto. No dia “C” incluo trabalho aeróbico em diferentes<br />

amplitudes de passada de galope, intensidade e duração na<br />

pista exterior. No dia “D” salto cavalettis e exercícios de varas<br />

no chão, para repetir os gestos que faço em pista. No dia “E”<br />

só trabalho à guia. No dia “F” salto um exercício específico<br />

para trabalhar algum pormenor num determinado cavalo.<br />

No dia “G”, posso soltá-los em liberdade, mesmo os cavalos<br />

das provas grandes, para trotarem e galoparem.<br />

Em época de concurso adapto a programação em função<br />

da carga de esforço que têm tido, das viagens, da próxima<br />

competição, etc.<br />

Procuro trabalhar de uma maneira inteligente. Quero dizer,<br />

olhando e analisando o físico de cada cavalo, estudando as<br />

dificuldades técnicas que o físico e o carácter me causam<br />

para as poder trabalhar, tudo isto levando em conta, a fase<br />

técnica, física, nível de experiência e idade de cada um. Mas<br />

sempre a treinar e a pensar na relação e no impacto que o<br />

treino terá na competição. É<br />

importantíssimo estarem sempre<br />

relacionados.<br />

Qual é para si a importância<br />

do trabalho de varas e treino<br />

no chão?<br />

Este trabalho é cada vez mais<br />

utilizado pelo mundo inteiro<br />

porque permite trabalhar os<br />

cavalos, repetindo os mesmos<br />

gestos que necessitamos em<br />

pista, limando algumas resistências,<br />

mecanizando os bons movimentos para maximizar a<br />

impulsão, activando músculos, melhorando o equilíbrio através<br />

do recuo do seu centro de gravidade, permitindo ao cavalo<br />

utilizar melhor o seu corpo e desempenho, sem o desgastar<br />

fisicamente.<br />

Depois dos resultados (individuais e por equipas) dos últimos<br />

tempos, esperava uma representação nacional diferente<br />

nos Jogos Olímpicos de Tóquio?<br />

Todos tínhamos a ambição e desejo de participar por equipas<br />

nos Jogos de Tóquio, embora estando bem conscientes da<br />

realidade, que seria bastante difícil porque fazemos parte do<br />

continente mais competitivo e com mais países a disputar<br />

essas possíveis vagas. A Luciana Diniz conseguiu com mérito,<br />

dedicação e sucesso a vaga individual. Estou convicto que vamos<br />

estar bem representados individualmente.<br />

Nos Jogos do Mediterrâneo, em 2018, foi quase como se<br />

todas as estrelas se alinhassem, o que culminou na medalha<br />

de ouro por equipas para Portugal. Na sua opinião po-<br />

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<strong>EQUITAÇÃO</strong> 37 MAGAZINE


Tema de Capa<br />

demos sonhar com mais idas ao pódio em competições<br />

internacionais (como selecção)?<br />

Acredito que sim porque existe um grupo crescente de cavaleiros<br />

com muita ambição, muita motivação, com uma mentalidade<br />

e atitude cada vez mais competitiva e profissional.<br />

Nos últimos anos, ao nível de 3*, passámos de participantes a<br />

favoritos nas Taças das Nações onde aparecíamos, ao ponto<br />

de ganharmos e ficarmos várias vezes em segundo lugar por<br />

uma diferença mínima. Agora, temos de dar o salto qualitativo<br />

para o nível de 5*, e aí sim, conseguirmos ter a possibilidade<br />

de qualificar para os próximos Jogos Olímpicos.<br />

Passando grande parte do ano fora do país, como é feita a<br />

gestão da Equivarandas?<br />

O meu irmão João gere a Quinta das Varandas integralmente<br />

durante todo o ano, e a minha cunhada Carolina faz a gestão<br />

completa e treino de todos os cavalos . A minha Mãe é a directora<br />

financeira e o meu novo irmão Tiago Lopes, faz a gestão<br />

dos patrocínios e da minha imagem nos social media.<br />

Passando tantos dias fora ou em viagens, sobra tempo<br />

para a vida pessoal e para o descanso?<br />

Como eu costumo dizer, estou sempre de férias, porque adoro<br />

o que faço. Com certeza que tenho momentos durante o<br />

ano mais trabalhosos e menos simpáticos, mas faz parte.<br />

Tento todos os anos marcar duas ou três semanas inteiras e<br />

separadas, de férias sem cavalos, para poder estar mais tempo<br />

com a minha mulher e por vezes também com amigos.<br />

Em 2019 a selecção mudou de treinador. Sendo membro<br />

assíduo da equipa, como vê a interrupção do trabalho que<br />

vinha sendo feito por Antonis Petris e a mudança para Gilles<br />

de Balanda? De que forma é que isso afectou os vossos<br />

projectos competitivos?<br />

A saída do Antonis Petris foi muito comentada e argumentada<br />

mas na realidade foi o culminar de um choque entre duas<br />

personalidades (Antonis<br />

Petris/João Moura), que<br />

“não se entenderam enquanto<br />

juntos trabalharam.<br />

O Antonis foi e é um<br />

óptimo treinador, que era<br />

bem aceite pela grande<br />

maioria dos cavaleiros e<br />

que devido ao sucedido<br />

não continuou.<br />

A mudança de treinador,<br />

como tudo na vida, tem vantagens e desvantagens, mas tenho<br />

a certeza que pelo conhecimento e experiência equestre<br />

que o Gilles de Balanda tem, vai ser sem dúvida muito enriquecedor<br />

e complementar ao que os cavaleiros trazem.<br />

Em termos competitivos, pode existir um pequeno período<br />

de adaptação à sua abordagem mas o Gilles vem seguramente<br />

para melhorar e não para mudar os cavaleiros.<br />

Com o futuro tão incerto o que espera do desenvolvimento<br />

do hipismo nacional (sendo que tem, nos seus sobrinhos,<br />

dois seguidores directos das suas passadas!) e internacional<br />

para os próximos anos?<br />

Vivemos uma época na qual é extremamente difícil projectar<br />

o futuro, porque de um momento para o outro, podemos<br />

ficar completamente condicionados por novas e potentes<br />

variáveis, onde não<br />

“Assim q u e p a s s a m o s<br />

a l i n h a d e p a r t i d a, t e m o s d e<br />

m o n t a r c o m t o d o o s e n t i m e n t o,<br />

d e i x a r f l u i r c o m a l g u m a<br />

i r r e s p o n s a b i l i d a d e e s e m m e d o<br />

d o r i s c o p a r a p o d e r g a n h a r”<br />

conhecemos o seu impacto<br />

a curto, médio ou<br />

longo prazo. Com este<br />

panorama de incerteza, é<br />

extremamente difícil para<br />

as organizações, montarem<br />

e promoverem qualquer<br />

evento nacional ou<br />

internacional. Infelizmente,<br />

tenho conhecimento<br />

de organizações nacionais e internacionais, que perderam os<br />

principais patrocinadores, anulando assim a concretização<br />

de vários eventos no futuro. Os meus sobrinhos, continuam a<br />

estudar e a crescer mas sempre com muita paixão e envolvimento<br />

pelo mundo dos cavalos. São os primeiros sinais de<br />

uma possível continuidade da ligação da família ao mundo<br />

hípico. Espero que tudo volte ao normal o mais rapidamente<br />

possível e que o impacto da Covid-19 na economia global,<br />

seja minimizado ao nível dos possíveis efeitos indesejados.<br />

Tenho muito receio que a pandemia tenha provocado o fecho<br />

de pequenas estruturas hípicas, que são muito importantes<br />

para o desenvolvimento e crescimento da base da pirâmide<br />

dos praticantes. m<br />

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<strong>EQUITAÇÃO</strong> 40 MAGAZINE


<strong>EQUITAÇÃO</strong> 41 MAGAZINE


Coaching<br />

Estratégias para<br />

LIDAR COM<br />

A INCERTEZA<br />

Treinar a mente é um dos aspectos fundamentais no desporto para se alcançar<br />

excelentes performances. Devem estar sempre em sintonia a componente<br />

física, técnica e táctica com a mental.<br />

Nos dias que correm, a incerteza é um dos aspectos<br />

que tem estado bastante presente<br />

na vida de cada um de nós. Não sabemos<br />

quando tudo o que estamos a viver neste<br />

momento vai passar. No caso dos atletas, também estão<br />

neste momento sem saber quando<br />

vão voltar à prática normal do desporto<br />

que realizam. Existem também<br />

pessoas que estão em casa e<br />

viram os seus trabalhos suspensos,<br />

não sabendo quando poderão retomar<br />

a sua actividade profissional.<br />

No fundo, vemos neste momento a nossa<br />

liberdade condicionada por um<br />

bem maior, a saúde de todos nós! Acredito que todos os<br />

esforços quando são feitos por um bem maior, merecem<br />

todo o nosso empenho, mesmo que isso possa causar<br />

sofrimento no momento presente. Acredito que quando<br />

tudo passar, vamos saborear as coisas com muito mais<br />

sentido, muito mais amor.<br />

No entanto, sabemos que as situações<br />

de incerteza, por norma, causam<br />

ansiedade, angústia, medo,<br />

simplesmente porque as coisas saem<br />

do nosso controlo. Nós gostamos de<br />

ter controlo sobre tudo, porque isso dános<br />

segurança, confiança e sentimo-nos<br />

mais confortáveis. Quando as coisas<br />

saem do nosso controlo, automaticamente<br />

estamos fora da nossa zona de<br />

conforto e isso deixa-nos claramente<br />

desconfortáveis.<br />

A forma como lidamos com o desconforto<br />

da incerteza, depende de<br />

nós, e isso vai fazer com que nos sintamos<br />

mais tranquilos, mais confiantes<br />

e positivos, mesmo no meio do<br />

caos.<br />

Que estratégias posso adoptar para<br />

lidar com a incerteza? Aqui vos deixo<br />

seis:<br />

TEXTO Mariana Silva<br />

Licenciada e Mestre<br />

em Psicologia do Desporto<br />

Email: marianasilva.mentalcoach<br />

@gmail.com<br />

Blog: treinomentalealtorendimento.<br />

wordpress.com/<br />

foto: Shutterstock<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 42 MAGAZINE


1. Meditar: Respirar. Acolher. Aceitar. Deixar ir.<br />

Buscar Respostas<br />

A prática da meditação permite-nos aprender a lidar com<br />

os nossos pensamentos, a acolhê-los, a aceitá-los, e a<br />

deixá-los ir (desapegar). Esta é uma excelente atitude<br />

para aprender a manter perante momentos de incerteza.<br />

Começar por respirar, acalmando-se; a acolher aquilo que<br />

vem, sem julgar; a aceitar que tudo faz parte, para lhe ensinar<br />

algo maior e que não tem controlo sobre tudo; deixe<br />

ir a sensação de que tem de ter controlo sobre todas as<br />

coisas, assim como os pensamentos negativos, julgadores;<br />

quando deixa ir, abre espaço para que possa procurar novas<br />

respostas.<br />

2. Concentrar-se naquilo que controla<br />

(manter o foco no presente)<br />

Nós apenas controlamos o momento presente. Nós controlamos<br />

as acções e os pensamentos que temos agora.<br />

Concentrar-se naquilo que controla, canaliza a energia<br />

para aquilo que é verdadeiramente importante e pelo qual<br />

pode fazer algo.<br />

3. Praticar a gratidão (manter-se positivo)<br />

A prática da gratidão é um exercício fantástico! Mesmo no<br />

meio do caos, quando nada parece dar certo, aprender a<br />

“parar” e a olhar para a nossa vida, para o nosso dia, e tomar<br />

consciência daquilo que temos de positivo, é uma verdadeira<br />

bênção! Quantos de nós param para agradecer e<br />

valorizar tudo aquilo que têm? O conforto do lar, a sua família,<br />

a sua saúde, o respirar, a comida, o sol, a natureza,<br />

etc. Temos muitas coisas para agradecer! Só precisamos<br />

olhar para isso.<br />

4. Desenvolver autoconfiança<br />

Nós temos medo do desconhecido, porque não nos sentimos<br />

seguros ou capazes de lidar com ele. Por isso, um dos<br />

aspectos fundamentais para superar esse receio é desenvolver<br />

a nossa autoconfiança. Volte a atenção para si,<br />

aprenda a reconhecer o potencial que possui e identifique<br />

aquilo que precisa de desenvolver para que se possa tornar<br />

mais confiante e mais forte.<br />

5. Desenvolver autoconhecimento<br />

Conhecermo-nos é algo muito importante. Quando nos<br />

conhecemos verdadeiramente, sabemos lidar melhor com<br />

os desafios que nos surgem no caminho. Quando nos conhecemos<br />

sentimo-nos mais confiantes e mais seguros.<br />

6. Manter um plano semanal<br />

Manter um plano dos nossos dias, ajuda-nos a manter o<br />

foco naquilo que é realmente importante e no que controlamos.<br />

Convido-o a começar já a praticar algumas destas estratégias<br />

e a perceber como se sente melhor ao longo dos dias.<br />

Boas práticas!m<br />

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<strong>EQUITAÇÃO</strong> 43 MAGAZINE


Equitação Natural<br />

Elsa Sinclair ensinou uma<br />

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Experimente montar completamente<br />

sem cabeçada, apenas com o neck ring,<br />

uma argola à volta do pescoço,<br />

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TEXTO Sandra Dias da Cunha<br />

FOTOS Bruno Barata, Freya Voigt von Munzert,<br />

Waltraud Marsoner e Kevin Smith<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 44 MAGAZINE


Como<br />

controlar o<br />

seu cavalo<br />

Quem já teve aulas comigo sabe que o título deste artigo tem um sentido<br />

irónico. Na minha opinião, o controlo absoluto do cavalo é impossível.<br />

O cavalo é simplesmente mais forte do que nós em quase qualquer<br />

situação e quando realmente quer fugir, não temos hipótese.<br />

A maioria dos cavaleiros acredita que a embocadura é o que nos dá<br />

controlo. Vamos analisar o assunto e descobrir alternativas.<br />

É<br />

arriscado falar sobre a<br />

questão de usar ou não<br />

embocadura. Parece<br />

que cada um de nós<br />

tem uma opinião forte, que defende<br />

com entusiasmo. O seu treinador,<br />

professor, os seus colegas de equitação são capazes<br />

de achar um erro enorme tentar montar sem<br />

embocadura. No mundo da competição há regras<br />

para cumprir, normalmente não é permitido montar<br />

como nos apetece. Por isso, nunca é uma escolha fácil<br />

experimentar uma das alternativas ao bridão.<br />

Nem estamos todos de acordo sobre o efeito do bridão.<br />

Mas vamos ser honestos: quando escolhemos<br />

um freio-bridão, em vez do bridão, e dizemos que<br />

queremos um maior controlo sobre o cavalo, o que<br />

realmente estamos a dizer é que queremos poder<br />

exercer uma maior pressão física sobre a boca do<br />

cavalo, para ele nos obedecer. E vamos ser ainda<br />

mais honestos e brutos e chamar as coisas pelos<br />

nomes: quando digo “exercer pressão física”,<br />

o que realmente estou a dizer é “causar dor”.<br />

“Mas”, dizem logo os defensores das embocaduras,<br />

“o bridão é apenas tão duro quanto<br />

as mãos do cavaleiro”. Não é verdade,<br />

infelizmente. A pressão que fazemos<br />

com as nossas mãos multiplica-se por um factor muito elevado<br />

na boca do cavalo, principalmente porque a zona de<br />

contacto é muito pequena e é uma zona de alta sensibilidade<br />

no corpo do cavalo.<br />

Não podemos esquecer o efeito psicológico. A conhecida<br />

blogger americana Anna Blake escreve, “using a stronger bit<br />

is like winning an argument, not because you’re right, but<br />

because you’re holding a gun.” [usar um bridão mais forte é<br />

como ganhar uma discussão, não porque temos razão, mas<br />

porque empunhamos uma arma] . Quando vemos um cavaleiro<br />

controlar o cavalo na perfeição quase sem tocar na<br />

rédea, mas o cavalo tem um freio na boca, se calhar não<br />

estamos a ver a violência a acontecer naquele momento.<br />

Mas podemos ter a certeza de que o cavalo só anda assim<br />

tão perfeito na mão, porque conhece a dor que o freio lhe<br />

pode causar. É o equivalente a ter uma pistola a apontar<br />

para a cabeça de alguém e dizer, “olha, ele faz tudo o que<br />

quero e nem sequer lhe estou a tocar!”<br />

Mesmo sem puxar as rédeas, mesmo sem contacto nenhum,<br />

será que o bridão é agradável?<br />

Imagine um passeio a cavalo onde o cavaleiro anda de rédeas<br />

compridas. Se o bridão está bem adaptado ao cavalo<br />

– e não podemos assumir que isso é óbvio – até pode ser<br />

que o cavalo não sinta dor, mas ele sabe que está a passear<br />

com uma peça de metal na boca que a qualquer momento<br />

lhe pode causar dor. Gostaria de ir passear assim? Vamos<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 45 MAGAZINE


Equitação Natural<br />

tirar o efeito da dor: experimente dar um passeio com uma<br />

colher de chá a atravessar a sua boca. Está à vontade? Ia<br />

adorar o passeio?<br />

Uma das questões importantes dessa discussão eterna é o<br />

que pretendemos fazer com o cavalo. Se vou pedir muito,<br />

vou precisar de meios fortes para o conseguir. Concursos de<br />

nível elevado para as capacidades do cavalo e do cavaleiro,<br />

passeios à beira-mar com pessoas que nem sabem montar,<br />

percursos de saltos, corridas a galope, cavalos desbastados<br />

em poucos dias... Podia continuar a lista, mas o problema<br />

é sempre o mesmo: se queremos atingir objectivos<br />

ambiciosos em pouco tempo e sem nos esforçarmos muito<br />

para aprender técnicas sofisticadas, temos de usar meios<br />

fortes. A fórmula é simples: objectivo alto + falta de conhecimento<br />

= necessidade maior de (ter a possibilidade de)<br />

causar dor. A solução é igualmente simples: se não quero<br />

causar dor ao meu cavalo, posso reduzir os meus objectivos<br />

e investir na minha formação, para não necessitar de dor.<br />

Qualquer pessoa pode ter uma experiência muito enriquecedora<br />

com um cavalo sem lhe causar dor, mas se calhar, é<br />

só uma volta a passo com uma pessoa experiente a andar<br />

ao lado do cavalo. Ou mesmo sem sequer montar!<br />

Se quero evitar o desconforto do bridão ao meu cavalo,<br />

posso adaptar os meus objectivos e aprender a usar o peso<br />

do meu corpo e a minha voz para comunicar, para não ser<br />

tão dependente das rédeas. E posso usar uma das muitas<br />

formas alternativas de comunicar com a cabeça do cavalo.<br />

Mas com cuidado: vários desses instrumentos exercem<br />

muita pressão, ou mesmo dor, em outras zonas da cabeça<br />

do cavalo!<br />

Como treinar o meu cavalo<br />

para aceitar as minhas<br />

ajudas sem bridão?<br />

A resposta é uma das que mais vezes me ouvem<br />

dar: passo a passo. Escolha um dia e uma hora<br />

em que possa estar a sós no picadeiro com o<br />

seu cavalo. Um dia sem vento nem chuva,<br />

Alfonso Aguilar a montar com o bosal, cabeçada típica da<br />

equitação do estilo “Old California”. Alfonso dá cursos sobre a<br />

equitação com bosal e escreveu um livro sobre o tema<br />

sem pressão de tempo. Em vez de colocar o bridão na cabeça<br />

do cavalo, use uma das cabeçadas sem bridão. Para<br />

uma primeira experiência, o cabeção normal com rédeas<br />

afixadas ao lado serve perfeitamente.<br />

Experimente então andar ao lado do seu cavalo. Consegue<br />

parar o cavalo com um ligeiro toque na rédea? Coloque-se<br />

ao lado do cavalo e experimente se um toque na rédea o<br />

faz virar a cabeça para si. São simples exercícios de trabalho<br />

no chão, tal como os americanos os praticam ao desbastar<br />

um cavalo. É prática muito comum, hoje em dia, começar<br />

o ensino do cavalo apenas com o cabeção e usar o<br />

Passeio junto ao mar<br />

sem embocadura com<br />

hackamore mecânica<br />

pela Adventure Riding<br />

em Aljezur<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 46 MAGAZINE


Também é possível<br />

montar apenas com<br />

um cabeção, por<br />

exemplo um de cordas,<br />

como nessa foto<br />

Mesmo com as<br />

cabeçadas alternativas<br />

mais simples, como<br />

o sidepull, podemos<br />

conseguir um cavalo<br />

bem colocado<br />

O princípio m a i s impor tante<br />

d e m o n t a r s e m b r i d ã o é<br />

e n s i n a r o c a v a l o a r e s p o n d e r<br />

a a j u d a s m u it o f i n a s<br />

bridão muito mais tarde. Actualmente, não penso duas vezes<br />

sobre o assunto. Já não tenho bridões em uso há muito<br />

tempo.<br />

Qualquer cavalo que me chega para treino é simplesmente<br />

montado com o sidepull, depois de uns dias para se habituar<br />

ao sítio novo e de algumas sessões de treino do chão,<br />

claro. Mas, realmente, já não sinto grande diferença. Mesmo<br />

cavalos menos experientes conseguem aprender em poucas<br />

sessões a usar uma cabeçada sem bridão. O princípio<br />

mais importante de montar sem bridão é ensinar o cavalo a<br />

responder a ajudas muito finas. Se o cavalo pára porque eu<br />

expiro e me sento fundo, não preciso de puxar as rédeas. Se<br />

o cavalo vira porque sentiu que olhei para o lado esquerdo,<br />

não preciso de puxar a rédea. Se o leitor tiver dúvidas sobre<br />

como comunicar de forma fina com o seu cavalo, pode procurar<br />

um dos meus artigos anteriores chamado “Como falar<br />

com o seu cavalo.” m<br />

Tipos de cabeçada sem bridão<br />

• O bosal é a cabeçada sem bridão mais antiga e tem a sua origem no<br />

estilo de equitação da Califórnia. Usa uma focinheira de diâmetro fixo,<br />

que faz pressão na face do cavalo. Através do nó no queixo do cavalo,<br />

o cavaleiro pode dar um pré-sinal. O objectivo do bosal é atingir o nível<br />

mais alto da equitação com o mínimo de ajudas. É particularmente adequado<br />

para cavalos jovens e para cavalos que precisam ser corrigidos.<br />

• Tal como no bosal, o hackamore mecânico usa pressão no nariz do<br />

cavalo, mas, para além disso, pode ter uma corrente que pressiona atrás<br />

do queixo e exerce pressão na nuca do cavalo. Enquanto o hackamore<br />

não facilita uma ajuda clara lateral para a direcção, permite efectivamente<br />

um sinal vertical claro para desacelerar ou parar. Dependendo<br />

do tamanho dos cambas, o efeito de alavanca na face do cavalo pode<br />

ser bastante forte. É usado com frequência nos concursos de Saltos de<br />

Obstáculos.<br />

• O sidepull é um design moderno inspirado no bosal, embora funcione<br />

de forma diferente, sem alavanca. Tem uma focinheira com anéis laterais<br />

que prendem as rédeas em ambos os lados da cabeça, permitindo<br />

que uma pressão muito directa seja aplicada de um lado para o outro.<br />

A focinheira é feita de couro, couro crú ou corda. Embora a severidade<br />

possa ser aumentada usando uma corda mais dura ou mais fina, o sidepull<br />

carece da sofisticação do bosal. A principal vantagem de um sidepull<br />

sobre o bosal é que ele dá comandos laterais directos mais fortes e é um<br />

pouco mais fácil de usar para um cavaleiro não sofisticado.<br />

• O neck ring ajuda o cavalo a relaxar o pescoço, andar mais livremente,<br />

aumentar o passo e melhorar o equilíbrio. O cavaleiro aprende<br />

a montar sem depender das rédeas. Feito de corda de lasso revestido<br />

de plástico, é firme, mas ajustável para qualquer tamanho. Não é fácil<br />

montar apenas com neck ring, mas é uma experiência fantástica tentar.<br />

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To d o s o s c a v a l o s d e Pia<br />

e Da n i e l s ã o n a c i o n a i s<br />

e v ê m d e s i t u a ç õ e s d e a b u s o<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 47 MAGAZINE


REPORTAGEM<br />

Poldros do Monte da Tramagueira<br />

Comercialização<br />

Pós Covid-19<br />

O que se aprendeu e como reagir<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 48 MAGAZINE


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COUDELARIA<br />

VEIGA TEIXEIRA<br />

Com início em 1880, é uma das mais antigas<br />

coudelarias de Puro Sangue Lusitano<br />

em Portugal, sendo o atual proprietário<br />

a 6.ª geração dos seus criadores.<br />

Os cavalos são conhecidos pelo seu<br />

excelente carácter: são extremamente<br />

dóceis, não abdicando da força e agilidade,<br />

tendo sido já exportados para<br />

toda a Europa, Brasil e Estados Unidos.<br />

O mundo mudou e a pandemia trouxe consigo novos desafios<br />

e, consequentemente, novas realidades. O teletrabalho<br />

manteve-se para muitos, mesmo após o desconfinamento;<br />

as reuniões presenciais tornaram-se obsoletas, e são agora feitas<br />

recorrendo a plataformas digitais; as compras online subiram<br />

a pique durante a quarentena, tornando-se numa opção cada vez<br />

mais primordial pelos consumidores mundiais. Mas conseguirá<br />

o sector equestre sobreviver ao (tão desejado) distanciamento<br />

social? E se houver uma segunda vaga?<br />

TEXTO Ana Filipe | JOSÉ COSTA | MARTA CLEMENTE<br />

Telefone: 243 660 041<br />

e-mail: aveigateixeira54@gmail.com<br />

facebook.com/pg/coudelariaveigateixeira<br />

Localização: Coruche<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 49 MAGAZINE


REPORTAGEM<br />

Joana Gaspar está<br />

habituada a vender<br />

cavalos à distância.<br />

Lidador (na foto) partiu<br />

para a Alemanha<br />

durante a quarentena<br />

Fo t o : Ca r o l i n a Du a r t e /Eq u e s t r e z<br />

Se lhe parece estranho comprar um cavalo sem o ver<br />

ao vivo, sem lhe tocar e sem o montar, saiba que<br />

esta é já uma realidade em diversos países da Europa<br />

e muitos são os cavaleiros que procuram os produtos<br />

nacionais. Joana Gaspar dirige o Páteo Lusitano na<br />

Malveira, onde é equitadora e se dedica ao comércio de cavalos.<br />

Durante a quarentena vendeu quatro animais para a Alemanha,<br />

Noruega, Suécia e Itália, três Lusitanos e um cruzado<br />

Nenhuma das compradoras<br />

os viu presencialmente e um<br />

dos exemplares já se encontra<br />

na nova casa, tendo seguido<br />

viagem durante o período<br />

em que vigorava o<br />

estado de emergência.<br />

“Sempre que coloco um cavalo<br />

à venda tenho uma apresentação do mesmo, com boas<br />

fotografias, informações detalhadas e vídeo, e promovo-o no<br />

nosso website (agora em remodelação) e nas redes sociais.<br />

Quando somos contactados enviamos tudo o que nos pedem,<br />

incluindo vídeos dos cavalos soltos, no maneio, no paddock,<br />

ou mesmo imagens a entrarem e saírem das roulotes”.<br />

Para o cliente ter a máxima percepção do cavalo, apenas são<br />

editados os vídeos dos animais montados. “Não deixamos de<br />

exibir qualquer detalhe, pois o cliente confia no nosso trabalho<br />

e é preciso mostrar exactamente como se o estivesse a<br />

ver ao vivo. O objectivo é que fique satisfeito e feliz, pois ao<br />

vendermos um cavalo ganhamos um novo amigo!”. Neste<br />

Ca v a l o s d e d e s p o r t o,<br />

d e v a l o r e s e l e v a d o s, d e i x a m<br />

d ú v i d a s a o s c o m p r a d o r e s<br />

e m investir s e m e x p e r i m e n t a r<br />

tipo de transacção, os cavalos são acompanhados por exames/relatórios<br />

veterinários e é feito um contrato de compra e<br />

venda, com informações detalhadas do animal, como o<br />

nome, pelagem, número de microchip, até aos pormenores<br />

relativos ao nível do ensino. Joana esclarece que a pandemia<br />

trouxe “mais procura”, sendo este modelo de negócio já uma<br />

rotina. Após a venda, é mantido contacto com os novos proprietários,<br />

sendo comuns as publicações nas redes sociais a<br />

recomendar o serviço: “Não<br />

há melhor publicidade do<br />

que um cliente satisfeito!”<br />

comenta a jovem empresária<br />

que, em pouco mais de<br />

um ano, criou uma estrutura<br />

comercial que inclui aulas de<br />

equitação, estágios, desbaste<br />

e ensino de cavalos. Habituada a exportar para países<br />

como a Alemanha, Suécia, Finlândia, Suíça, Áustria ou Inglaterra<br />

está também a Coudelaria Monte da Tramagueira, uma<br />

casa dedicada exclusivamente à criação de cavalos Puro<br />

Sangue Lusitano. À semelhança de Joana Gaspar, também<br />

José Filipe Guerreiro Santos costuma promover os seus produtos<br />

nas redes sociais e transaccionou animais durante a<br />

quarentena. “Vendi dois poldros a clientes que já conheciam<br />

a coudelaria e que têm confiança em nós. Claro que, antes do<br />

negócio, enviei vídeos e fotografias mostrando uma série de<br />

características dos cavalos, mas tratou-se sobretudo de uma<br />

relação de confiança. Tenho também nesta altura já apala-<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 50 MAGAZINE


vrado uma série de reservas de cavalos e poldros para o próximo<br />

ano. Mesmo em quarentena, várias pessoas quiseram<br />

visitar a coudelaria.”Apesar de, neste momento, as fronteiras<br />

já estarem a reabrir, o espectro de um novo encerramento,<br />

consequência de uma segunda vaga da pandemia, continua<br />

a pairar. A confirmar-se esse cenário, “a comercialização de<br />

cavalos será complexa principalmente quanto aos que precisam<br />

ser experimentados”, comenta o criador que acredita<br />

que até se podem vender alguns cavalos devido a uma relação<br />

de proximidade, confiança<br />

e profissionalismo, quando<br />

se conhecem os envolvidos<br />

mas, quando se trata de cavalos<br />

de desporto, de nível superior, José Filipe não tem dúvidas:<br />

“a compra de um cavalo de valores elevados deixa as pessoas<br />

com dúvidas em partir para um investimento sem experimentar<br />

o animal. Se me perguntar se há alternativas, digo-lhe<br />

que sim. Existem possíveis caminhos para se montar um negócio<br />

muito profissional e credível na base da confiança que<br />

dê segurança aos clientes.” E que caminhos ou modelos de<br />

negócio são esses? “É necessário criar uma relação forte do<br />

ponto de vista promocional e comercial com os clientes. Tenho<br />

cimentado essa relação ao longo dos tempos, pois não é<br />

possível fazê-lo em meia dúzia de meses. De qualquer forma,<br />

as novas tecnologias podem dar uma ajuda para colocar cavalos<br />

à venda através de vídeos bem feitos, juntamente com<br />

exames veterinários efectuados por profissionais credíveis ou<br />

opiniões e testagem por parte de cavaleiros de mérito e reco-<br />

“Na d a v a i s e r c o m o a n t e s”<br />

Do r a Si l v a<br />

nhecidos. Este negócio tem sobretudo de passar por uma<br />

relação de confiança entre quem vende e quem compra.”<br />

Confiança parece ser mesmo a palavra a reter, pois curiosamente<br />

ou não, foi também utilizada por Pedro Escudeiro, da<br />

empresa de distribuição de viaturas para transporte de cavalos<br />

ATM Horsetrucks para nos explicar como têm “rolado” estes<br />

dias em que se viram impedidos de estar presentes em<br />

feiras e concursos, no contacto directo com o público. “Somos<br />

uma empresa que privilegia as relações pessoais, temos um<br />

excelente vínculo com os nossos<br />

clientes em toda a Europa e são<br />

eles que nos recomendam, pois<br />

acreditam em nós. Todos os produtos<br />

são entregues de forma muito profissional e com elevada<br />

qualidade de transporte e isso acrescenta credibilidade<br />

e confiança. As fronteiras nunca estiveram fechadas para o<br />

transporte de mercadorias e, por isso, nunca sentimos dificuldades<br />

nesse sentido. Também como o nosso produto está<br />

exposto ao ar livre, os clientes não deixaram de nos visitar.<br />

Funcionamos com entregas a longo prazo e embora na Europa<br />

tenhamos baixado um pouco o volume de encomendas,<br />

com o arranque dos concursos, esperamos restabelecer os<br />

valores.” E se realidade voltar a “pregar uma partida”, Pedro<br />

Escudeiro garante que estão preparados para reagir, pois a<br />

marca já é sobejamente conhecida. A maior dificuldade poderá<br />

advir se as construtoras de veículos, como a Renault e a<br />

Fiat, fecharem as fábricas por tempo indeterminado, o que<br />

levará a atrasos nos prazos de entregas.<br />

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<strong>EQUITAÇÃO</strong> 51 MAGAZINE


Fo t o : Nu n o Pr a g a n a<br />

REPORTAGEM<br />

K. Libra da Gandarinha,<br />

Campeã Nacional<br />

do Critério de Cavalos<br />

Novos de 4 anos em<br />

2019, montada por<br />

António Vozone<br />

Marina e António Frutuoso<br />

de Melo têm aproveitado<br />

os últimos meses para<br />

dar continuidade ao trabalho<br />

diário dos cavalos<br />

A união faz a força<br />

Montra dos seus exemplares, para muitos criadores de cavalos<br />

de desporto de Saltos de Obstáculos, são os concursos.<br />

Sem provas, não há visibilidade.<br />

A <strong>EQUITAÇÃO</strong> conversou com Dora Silva, criadora e proprietária<br />

da Quinta da Gandarinha, uma coudelaria localizada<br />

em Fermentões (Aveiro), assente na criação de cavalos de<br />

raça KWPN mas que, nos últimos anos, por uma questão estratégica,<br />

“em que almejamos uma participação num futuro<br />

Campeonato do Mundo de Cavalos Novos”, tem registado os<br />

últimos poldros no Portuguese Sport Horse (PSH). A criadora<br />

não tem dúvidas de que “esta pandemia veio afectar de<br />

forma devastadora toda a economia e certamente nada vai<br />

ser como antes. As grandes casas de criação de cavalos têm<br />

feito uma forte aposta nas vendas online e através de leilões,<br />

mas também porque já têm uma imagem bastante consolidada<br />

no mercado a nível internacional, o que não se passa<br />

com os criadores nacionais. Seria o momento certo para os<br />

criadores se unirem e, quem sabe, apostarem numa imagem<br />

mais forte do PSH. É uma ideia…” Uma ideia partilhada por<br />

António Frutuoso de Melo, cavaleiro, também ele criador, em<br />

exclusivo desta raça nacional, que é da opinião de que “seria<br />

muito produtivo os criadores registarem os seus produtos<br />

nesse studbook, até para um maior controlo das éguas mães<br />

e dos garanhões. A notoriedade da criação nacional fora de<br />

Co n f i a n ç a e n t r e<br />

q u e m v e n d e e c o m p r a p a r e c e<br />

s e r a p r i n c i p a l c h a v e<br />

p a r a o sucesso<br />

Portugal deveria ser via PSH e não através de outros studbooks<br />

que acabam por ter os registos nos seus livros mesmo<br />

que sejam criados cá.”<br />

Na Quinta de S. Francisco, casa do Sobreiro Velho Sociedade<br />

Agrícola Lda, a quarentena permitiu que fosse feita uma reorganização<br />

do modelo negócio, clarificadas dúvidas e postas<br />

em prática novas ideias. “Em caso de nova paragem, vejo<br />

com bastante preocupação o facto de a competição ter de<br />

ser novamente suspensa, pois prejudicará não só o negócio<br />

da compra e venda, mas também todo o desenvolvimento<br />

da prática equestre. Há muitos clubes que estão a recuperar<br />

lentamente desta catástrofe e se houver uma nova vaga de<br />

Covid-19 ou outra pandemia qualquer, temo que encerrem”,<br />

comenta António. Juntamente com Marina Frutuoso de<br />

Melo, o casal tem aproveitado para dar continuidade ao trabalho<br />

diário dos cavalos, bem como às tarefas e programação<br />

em relação à criação e não apostado tanto num modelo<br />

de negócio que passe pela exposição mediática dos animais.<br />

Na verdade, uma estratégia não muito diferente da que está<br />

a ser seguida na Gandarinha, como explica Dora Silva: “No<br />

que concerne à comercialização dos nossos cavalos propriamente<br />

dita, não estamos muito preocupados em desenvolver<br />

uma política de «push» sobre o mercado mas sim pelo<br />

estímulo do «pull». Quero com isto dizer que o potencial<br />

cliente deverá estar ciente que quer mesmo um Gandarinha<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 52 MAGAZINE


pelas suas características intrínsecas (equilíbrio, doçura, finura<br />

e performance). Esta teoria parecia utópica até há bem<br />

pouco tempo, mas começa a fazer sentido pelo feedback<br />

dos proprietários.”<br />

Unânime entre estes dois criadores é a ideia de que Portugal,<br />

ao contrário do que se passa no centro e norte da Europa,<br />

não está ainda preparado para leilões de venda de cavalos<br />

online. E nos Lusitanos, o mesmo defende José Filipe Guerreiro<br />

Santos. “A experiência portuguesa não é favorável aos<br />

leilões online, nem aos físicos, pois é necessário um público<br />

fidelizado e habituado a este tipo de compra. Por isso acho<br />

arriscado massificar-se ou pensar-se nesta questão dos leilões<br />

sem ter uma experiência credível e sólida. Não poderemos,<br />

contudo, descartar esta forma de venda e acreditar que<br />

no futuro, com os pés bem assentes no chão, venha a ser<br />

uma realidade. Para tal, deveremos recorrer a pessoas já habituadas<br />

e com larga experiência no ramo, para nos auxiliar<br />

na organização e credibilizar os leilões.”<br />

Medidas ao “clic”<br />

A Celeris, marca de calçado equestre famosa pelas botas<br />

personalizadas, com atelier em Felgueiras, foi uma das primeiras<br />

empresas do concelho a encerrar por iniciativa própria<br />

quando começaram a surgir os primeiros casos de Covid-19<br />

no norte do país. Assim durante três semanas, mas a<br />

Celeris não parou, como explica Hugo Moreira: “Durante esse<br />

tempo o nosso departamento comercial a nível internacional,<br />

ou seja, os nossos agentes e responsáveis, incluindo eu,<br />

não parámos as vendas, mas passámos a utilizar plataformas<br />

como o Zoom e o Skype para conversar com os clientes<br />

e mostrar os produtos. Dos que já eram nossos clientes tínhamos<br />

as medidas em base de dados, aos novos tivemos<br />

de tirar por videochamada.”<br />

Mas como se tiram medidas à distância? “Nestes casos<br />

quem o fazia era o próprio cliente com o nosso acompanhamento,<br />

ou seja, dávamos uma formação explicando como<br />

obter todos os dados necessários, no pé, na perna, se a fita<br />

métrica estava no local certo, se estava devidamente ajustada,<br />

etc…”. Apesar da Celeris ter tido uma quebra nas vendas,<br />

como muitas outras empresas, “encontrámos soluções para<br />

o que aparentava vir a ser um descalabro. Este é um serviço<br />

que no futuro vamos disponibilizar na nossa página web e<br />

aproveitamos para pensar uma nova estratégia sobre como<br />

os nossos clientes se podem aproximar da marca.”<br />

Com as feiras canceladas, à semelhança do que aconteceu<br />

com a ATM, também a Celeris deixou de ter nestes eventos<br />

uma solução de apresentação de produtos. Ainda assim, a<br />

marca encontra-se representada por agentes em todos os<br />

países da Europa e, nos extracomunitários, na Rússia, Japão,<br />

Hong Kong e EUA, que ajudam na divulgação. Para uma<br />

maior comunicação entre todos, durante este período de<br />

confinamento “realizámos por três vezes, nos diferentes países,<br />

um evento a que chamámos «Discover Celeris» em que<br />

seleccionámos alguns agentes e clientes e abrimos uma sala<br />

online para conversar sobre a marca: como foi criada, que<br />

modelos existem, etc.”, recorda o gestor. A melhoria do<br />

PUB<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 53 MAGAZINE


Hugo Moreira<br />

da Celeris no atelier,<br />

onde REPORTAGEM<br />

o computador<br />

passou a ser uma<br />

ferramenta de<br />

trabalho<br />

indispensável<br />

do dia-a-dia<br />

website vai ser a próxima<br />

grande aposta da marca<br />

como estratégia de reacção<br />

à nova realidade, assim<br />

como o serviço pós-venda.<br />

“Temos de nos aproximar<br />

dos clientes de modo a que<br />

se sintam mais confortáveis.<br />

Foi também isso que a<br />

Celeris aprendeu durante esta fase”, afirma Hugo Moreira.<br />

Um novo amanhã<br />

Apesar de alguns receios e incertezas quanto ao futuro, os<br />

entrevistados demonstram, em geral, um sentimento de<br />

positivismo, até porque, os eventos hípicos tiveram início<br />

no mês de Junho (com excepção do Horseball), o que<br />

veio trazer uma “lufada de ar fresco” a toda a comunidade<br />

hípica. “Estou bastante optimista” afirma Pedro Escudeiro.<br />

“Assim que os concursos retomarem a regularidade,<br />

“Pa s s á m o s a u t i l i z a r<br />

a s v á r i a s p l a t a f o r m a s p a r a<br />

c o n v e r s a r c o m o s c l i e n t e s<br />

e m o s t r a r o s p r o d u t o s”<br />

Hu g o Mo r e i r a<br />

tudo voltará a ser como era, muito embora tenhamos de<br />

nos adaptar às circunstâncias.” Um pouco mais cauteloso,<br />

António Frutuoso de Melo encara o futuro “com esperança<br />

mas ao mesmo tempo com preocupação. Este vírus<br />

está longe de estar controlado e se as pessoas não se<br />

mentalizarem que temos de continuar com todos os cuidados,<br />

podemos ter de recuar, o que seria uma pena, pois<br />

fomos um país exemplar no cumprimento do confinamento<br />

durante o estado de emergência.” José Filipe Guerreiro<br />

Santos, que se define como um “optimista por natureza”<br />

diz não duvidar do “potencial da raça Lusitana” e,<br />

por isso, em termos de criação, “a resposta para os cépticos<br />

e críticos é que cada vez estamos a fazer melhores<br />

cavalos Lusitanos. Se virmos vídeos e nos lembrarmos<br />

dos cavalos que tínhamos há duas ou três décadas, percebemos<br />

que hoje são muito melhores. A funcionalidade<br />

é cada vez mais comprovada, estamos com um maior número<br />

de animais, nomeadamente no Ensino, onde são<br />

cada vez melhor pontuados, para não referir outras modalidades.<br />

O futuro do cavalo Lusitano é muito promissor e<br />

risonho desde que consigamos manter-nos de uma forma<br />

muito profissional e séria. Isso é um facto fundamental que<br />

vejo nos clientes que nos<br />

procuram. Eles querem acima<br />

de tudo seriedade.<br />

Existe um problema de excesso<br />

de intermediários do<br />

cavalo Lusitano que não<br />

têm qualquer preparação<br />

ou conhecimento para realizar<br />

este trabalho. É cada<br />

vez mais premente que consigamos transmitir segurança<br />

ao cliente do Lusitano. Se não o conseguirmos fazer irão<br />

continuar os negócios duvidosos. Acredito que o futuro é<br />

risonho, mas não escondo que se esta crise se prolongar<br />

por muito mais tempo possa criar restrições grandes ao<br />

negócio de cavalos.”<br />

Sejam cavalos, botas, ou viaturas, comercializar é possível:<br />

online, no “passa a palavra”, expondo, ou resguardando.<br />

O importante é continuar a trabalhar e a manter a<br />

qualidade. m<br />

A ATM garante estar<br />

preparada para reagir<br />

caso haja uma nova<br />

quarentena<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 54 MAGAZINE


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Até 15/07/2020<br />

Rua da Indústria | Zona Industrial Vilar dos Prazeres | 2490-742 Ourém | Portugal<br />

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Tauromaquia<br />

Que Cultura…?<br />

O que se está passando é tão grave que merece ser devidamente equacionado.<br />

Dá que pensar… A Festa de Toiros está legalmente afecta ao Ministério da Cultura<br />

e é oficialmente reconhecida como património cultural (com toda a justiça, que o<br />

passado já não se apaga…); mas que tem feito a “Cultura” oficial pela Festa de Toiros?<br />

Ao momento, uma Ministra da Cultura com<br />

gostos de vida que fogem à norma comum<br />

de viver, declara-se abertamente contra uma<br />

área que devia em seu todo defender, dado<br />

que a tauromaquia é, na realidade e legalmente, património<br />

cultural. Como é que é???<br />

A primeira coisa que os eleitos cinicamente fazem<br />

é que se dispõem a servir todos os eleitores<br />

de todas as facções do país. Tal declaração de<br />

intenções devia corresponder à verdade intrínseca,<br />

que nos levasse a acreditar na sua verdade,<br />

mas é triste que não corresponda à realidade,<br />

como por desgraça é patente. É urgente<br />

mudar a “agente” por alguém que assuma a<br />

responsabilidade das promessas<br />

genéricas do programa<br />

eleitoral que divulgaram<br />

e prometeram<br />

honrar. Basta!!!<br />

Mas, importa que se recorde<br />

que a coisa táurica não<br />

TEXTO<br />

DOMINGOS XAVIER<br />

Po r t u g a l f o i o p r i m e i r o<br />

d o s p a í s e s a l e g a l i z a r a<br />

t a u r o m a q u i a n o l u g a r q u e<br />

l h e p e r t e n c e: a Cu l t u r a!<br />

se esgota com o Ministério que a tutela. Curiosamente,<br />

no universo taurino, Portugal foi o primeiro dos países a<br />

legalizar a tauromaquia no lugar que lhe pertence: a Cultura!<br />

Seguiram-se-lhe a França e só depois Espanha, em<br />

que bizarramente ainda hoje Comissários da Polícia, na<br />

sua maioria, dirigem as corridas. É facto, com a<br />

grave consequência dos critérios espúrios e quase<br />

irracionais de atribuição de troféus. Com a lei<br />

colada à sola dos sapatos, esquecem a vontade<br />

dos povos que enchem as Praças pagando na<br />

bilheteira o seu acesso ao desfrute da “Festa”.<br />

Que saudades dos tempos em que os taurinos,<br />

com valor, eram premiados com orelhas, rabo e<br />

pata. Sei bem que as arenas não devem ser confundidas<br />

com “dessolladeros”,<br />

mas a actual falta de<br />

respeito pela arte e pelo<br />

valor, em nome do que<br />

pensam os “animalistas”<br />

(gente que engana a indústria<br />

da “pet food” e por<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 56 MAGAZINE


ela é subsidiada), não nos tem levado a lado nenhum. Desde<br />

que a economia de troféus se instalou, a Festa decresceu,<br />

as rivalidades diminuíram pela falta de expressão e as<br />

faenas reduziram-se a estatísticas. É bom que se recorde<br />

que “Cañabate” um dia afirmou que em Sevilha até o silêncio<br />

(por respeito) é um prémio.<br />

Nos tempos que correm, importa que se abandonem os<br />

pensares das tutelas, coutadas<br />

pequeninas e se pensem<br />

medidas de fomento.<br />

Seria da maior utilidade<br />

que se promovessem as<br />

garraiadas com zero de impostos<br />

e diminuição das<br />

“folhas de Praça”, que se<br />

dessem festivais sem as<br />

exigências do fisco e confessemos<br />

do fundo de assistência<br />

dos toureiros, à<br />

margem do que “pensou” Diamantino Viseu, que se bem o<br />

criou (com a utilidade conhecida – hoje um bandarilheiro<br />

por ter filhos licenciados e assistência na saúde, ao invés de<br />

penhorar trajes de tourear em fim de temporada), também<br />

teve de “forma inconsequente” um evidente estrangulamento<br />

da Festa.<br />

Alguém imagina que um festival pague mais ao “fundo”,<br />

do que impostos, mesmo beneficente?<br />

Vã o s é c u l o s q u e a Fe s t a<br />

d e To i r o s é u m a m a n i f e s t a ç ã o<br />

d e m a s s a s n o l u s o t o r r ã o.<br />

A c o r r i d a d e t o i r o s<br />

t r a n s p o r t a o c a m p o à u r b e,<br />

s e n d o assim u m f a c t o r<br />

d e Cu l t u r a e c o e s ã o<br />

Temos, em tempos de crise, que provar que os inimigos da<br />

Festa de Toiros não somos nós os taurinos assumidos. Para<br />

que vos não canse e finalizando, toda a “Cultura” reclama<br />

subsídios e quase fazem o pino para provar a sua extrema<br />

necessidade. Está certo! Que seria o mundo sem Cultura?<br />

Verdade, verdadinha é que o mundo do toiro só reclama<br />

liberdade. Cultura é liberdade! Mais, Cultura em toda a verdade<br />

da sua existência é<br />

adaptação às circunstâncias<br />

e ao meio ambiente.<br />

Vamos lá reflectir. Por definição<br />

a Política é a arte da<br />

condução dos interesses<br />

da “Res publica”. Certo?<br />

Por assim ser, o que dos<br />

tempos da “Lex Romana”<br />

ninguém se atreve a contestar,<br />

não podemos deixar<br />

que a política se transforme<br />

tão só na “arte manhosa” de ganhar eleições. Vão séculos<br />

que a Festa de Toiros é uma manifestação de massas<br />

no luso torrão.<br />

A corrida de toiros transporta o campo à urbe, sendo assim<br />

um factor de Cultura e coesão. Vamos, portanto, respeitar<br />

o respeitável e rir a bom rir das tais vozes de burro que jamais<br />

chegarão ao céu, por muito que o burro cenicamente<br />

se ponha de costas a coçar-se e espernear! m<br />

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<strong>EQUITAÇÃO</strong> 57 MAGAZINE


VETERINÁRIA<br />

Avaliação<br />

do Arreio<br />

Aspectos práticos<br />

(1.ª parte)<br />

No artigo anterior debruçámo-nos sobre a necessidade<br />

da avaliação regular do arreio em termos de compatibilidade<br />

de cada conjunto cavalo/arreio e sobre algumas situações<br />

em que essa avaliação está particularmente indicada -<br />

nomeadamente em caso de compra de um cavalo ou arreio<br />

novo, se há sinais de dor à palpação do dorso ou desconforto<br />

ao colocar o arreio, em caso de assimetrias ou atrofias<br />

musculares, marcas de suor assimétricas, desvios do arreio<br />

ou simplesmente quebra de Performance!<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 58 MAGAZINE


Neste artigo e no próximo vamos referir numa<br />

perspectiva prática 10 parâmetros objectivos<br />

a verificar durante o processo de avaliação.<br />

1 - Posicionamento do Arreio<br />

Um erro frequente (especialmente na disciplina de saltos<br />

de obstáculos) é a colocação do arreio demasiado<br />

à frente, sobre o garrote e as espáduas, limitando a liberdade<br />

de movimentos das espáduas o que pode resultar<br />

em andamentos mais curtos, além de originar<br />

que o arreio fique inclinado para trás, “a subir”, alterando<br />

o equilíbrio e a distribuição do peso do cavaleiro<br />

(Fig. 1a e 1b).<br />

Para evitar este problema e determinar o correcto posicionamento<br />

do arreio, este deve colocar-se (sem qualquer<br />

protector de dorso ou suadouro) propositadamente<br />

um pouco à frente da sua posição ideal, já em<br />

cima do garrote, e fazer pressão sobre a arcada da frente<br />

à medida que deixamos o arreio deslizar para trás até<br />

à sua posição ideal (Fig. 2).<br />

Podemos repetir este processo várias vezes até confirmar<br />

a posição em que a sela deixa de “deslizar”, e será<br />

esse o local adequado. Na prática, a estrutura rígida do<br />

arreio (correspondente ao vaso no seu interior) deve<br />

assentar logo atrás da escápula (a base óssea da espádua),<br />

apenas com poucos centímetros de margem para<br />

permitir a rotação da espádua quando o cavalo avança<br />

o membro (Fig. 3).<br />

2 - Comprimento do Arreio<br />

O arreio não deve apoiar atrás da última costela (Fig.<br />

4), o que pode acontecer se o seu comprimento não for<br />

adequado à conformação do cavalo (ou se for colocado<br />

demasiado para trás, o que é menos frequente).<br />

3 – Equilíbrio do Arreio<br />

O centro do arreio (na zona do assento ou “coxim”)<br />

deve ficar paralelo ao chão quando colocado sobre o<br />

dorso, para que o peso do cavaleiro também fique centrado<br />

a meio do arreio, distribuindo-se com pressão<br />

uniforme ao longo de toda a superfície de contacto do<br />

arreio com o dorso (Fig. 5).<br />

Dependendo do modelo, a arcada de trás (ou “patilha”)<br />

deve ficar um pouco mais alta que a arcada da frente,<br />

nunca mais baixa.<br />

TEXTO Joana Alpoim Moreira<br />

TEXTO João Paulo Marques<br />

4 - Espaço entre o garrote<br />

e o arreio<br />

Deve existir espaço livre suficiente em torno do garrote,<br />

não só por cima mas também dos lados (Fig. 6). Para<br />

um garrote normal, essa distância deve ser de cerca de<br />

dois a três dedos quando o cavaleiro está montado. Se<br />

esse espaço for superior a três dedos, provavelmente o<br />

vaso é demasiado estreito para o seu cavalo.<br />

5 - Largura e ângulo do vaso<br />

A largura e o ângulo do vaso (Fig. 7) devem ser adequados<br />

às espáduas do cavalo (Fig. 8). Num cavalo<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 59 MAGAZINE


VETERINÁRIA<br />

1 A 1 B<br />

Arreio colocado<br />

demasiado para<br />

a frente<br />

Mesmo arreio colocado<br />

ligeiramente mais para<br />

trás, mais equilibrado<br />

Fo t o : equilibriumproducts.c o m<br />

2<br />

Fo t o : n at u r a l h o r s e m a n s a d d l e s.c o m<br />

Fo t o :sy n e r g i st s a d d l e.c o m<br />

4<br />

Fo t o : equilibriumproducts.c o m<br />

Colocação do arreio à frente da sua<br />

posição normal, deixando-o deslizar<br />

para trás até à sua posição ideal<br />

3<br />

A estrutura rígida do arreio (vaso)<br />

deve assentar logo atrás da escápula,<br />

com uma pequena margem para<br />

permitir a rotação da espádua<br />

quando o cavalo avança o membro<br />

O arreio não deve apoiar para trás<br />

da última costela<br />

À esquerda: ilustração de vasos<br />

com o mesmo angulo e larguras<br />

diferentes, e o inverso à direita<br />

5 6 7<br />

Fo t o : s c h l e e s e.c o m<br />

Ilustração do equilíbrio do arreio<br />

Deve existir espaço<br />

suficiente entre<br />

o garrote e a arcada<br />

do arreio<br />

Um dos métodos de<br />

avaliação do ângulo das<br />

espáduas<br />

Caso extremo (mas real!),<br />

ilustrando a ausência de<br />

qualquer espaço livre entre<br />

o garrote e o arreio<br />

Exemplo de arreio desequilibrado com o vaso muito<br />

estreito, em que a adição de protectores de dorso<br />

ainda agravou a situação<br />

8 9 10<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 60 MAGAZINE


c o m u m a r r e i o c o m o v a s o<br />

m u i t o e s t r e i t o o u u m â n g u l o<br />

d o v a s o m u i t o f e c h a d o,<br />

o e s p a ç o e n t r e o g a r r o t e<br />

e a a r c a d a d a f r e n t e v a i s e r<br />

e x a g e r a d o e o a r r e i o<br />

t e r á t e n d ê n c i a p a r a f i c a r<br />

i n c l i n a d o p a r a t r á s<br />

com um garrote mediano, um arreio com um vaso muito<br />

largo ou com um ângulo muito aberto (na parte da frente<br />

do arreio) vai fazer com que não haja espaço suficiente<br />

entre a ponta do garrote e a arcada da frente (Fig. 9) especialmente<br />

depois de apertar a cilha e com o peso do<br />

cavaleiro, podendo causar “assentaduras” em casos extremos.<br />

Esse arreio terá tendência para ficar mais baixo à<br />

frente e descair um pouco para cima das espáduas, aumentando<br />

a pressão nessa zona.<br />

Essa situação pode ser parcialmente compensada aumentando<br />

a espessura dos materiais (com um protector<br />

de dorso aberto à frente em forma de “U”, por exemplo)<br />

aplicados entre o dorso e a parte inferior do arreio (pai-<br />

néis) – mas só dos lados e não na linha central directamente<br />

sobre o garrote! - ou mesmo mandando aumentar<br />

o enchimento dos próprios painéis nessa zona.<br />

Pelo contrário, com um arreio com o vaso muito estreito<br />

ou um ângulo do vaso muito fechado, o espaço entre o<br />

garrote e a arcada da frente vai ser exagerado e o arreio<br />

terá tendência para ficar inclinado para trás (ou seja, fica<br />

com a frente muito levantada), deslocando também o<br />

centro de gravidade do cavaleiro para trás e aumentando<br />

a pressão no dorso por baixo da parte de trás do arreio.<br />

Essa situação não pode ser corrigida aumentando a espessura<br />

dos protectores de dorso, o que ainda agravaria<br />

mais o problema (Fig. 10).<br />

Naturalmente que um Puro Sangue Inglês necessita geralmente<br />

de um arreio com um vaso mais estreito ou um<br />

ângulo mais fechado, enquanto que um warmblood provavelmente<br />

irá necessitar de um vaso mais largo ou um<br />

ângulo mais aberto.<br />

No próximo artigo terminaremos este assunto abordando<br />

mais cinco parâmetros objectivos a ter em conta na<br />

avaliação do arreio. m<br />

J. P. M.<br />

Email: jpaulomarques@hotmail.com<br />

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<strong>EQUITAÇÃO</strong> 61 MAGAZINE


nutrição<br />

Cuidados a ter com a<br />

alimentação<br />

do poldro<br />

TEXTO | Marta Cardoso<br />

(Médica Veterinária)<br />

A alimentação do poldro é um factor<br />

fundamental para o seu desenvolvimento e<br />

para a prevenção de doenças. Só com uma<br />

alimentação equilibrada se poderá assegurar<br />

que o crescimento e desenvolvimento do<br />

poldro correspondem ao potencial genético<br />

que o mesmo apresenta.<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 62 MAGAZINE


A<br />

alimentação do poldro inicia-se no útero (alimentação<br />

do feto), sendo importante para o<br />

mesmo que a égua tenha um regime equilibrado<br />

ao longo de toda a gestação, e que as necessidades<br />

nutricionais, acrescidas, sobretudo no último trimestre,<br />

sejam respeitadas.<br />

Após o nascimento, o poldro recém-nascido desempenha<br />

actividades que consomem energia. Sendo as suas reservas<br />

energéticas endógenas limitadas, é através do colostro<br />

(nome designado à primeira secreção mamária da égua)<br />

que obterá os nutrientes necessários ao desempenho dessas<br />

actividades. O colostro é, assim, o primeiro alimento do<br />

poldro e a sua ingestão precoce é essencial do ponto de vista<br />

nutricional, imunológico e intestinal (efeito laxante).<br />

Até cerca dos três meses de idade, as necessidades nutricionais<br />

do poldro lactante são supridas pelo leite materno, cuja<br />

composição varia ao longo da lactação, período a partir do<br />

qual o poldro deverá complementar a ingestão de leite com<br />

pastagem e/ou alimento composto específico. Esta suplementação<br />

do poldro lactante, com alimento composto específico<br />

fornecido selectivamente ao poldro (através da utilização<br />

de comedouros selectivos<br />

O c o l o s t r o é o p r i m e i r o<br />

aliment o d o p o l d r o<br />

e a s u a i n g e s t ã o p r e c o c e<br />

é e s s e n c i a l d o p o n t o<br />

d e v i s t a n u t r i c i o n a l,<br />

i m u n o l ó g i c o e i n t e s t i n a l<br />

ou áreas dedicadas à alimentação<br />

dos poldros), é designada por creep<br />

feeding. Esta prática promove<br />

uma habituação ao alimento sólido,<br />

promovendo a autonomia alimentar<br />

do poldro e reduzindo os<br />

efeitos do stress do desmame. De<br />

referir apenas que a introdução da<br />

prática de creep feeding deverá ser<br />

feita a partir das oito semanas de forma gradual (como<br />

qualquer processo de introdução alimentar), e que a quantidade<br />

de alimento composto específico fornecido deverá<br />

variar de acordo com a idade, raça e composição do alimento<br />

(por exemplo: para um poldro com idade inferior a<br />

quatro meses, a quantidade de alimento composto fornecida<br />

deverá variar entre 0.5-1.0 Kg por cada 100 Kg de PV<br />

do poldro).<br />

De uma forma geral, o desmame traduz-se numa diminuição<br />

na taxa de crescimento do poldro. Para a prevenir, deve<br />

garantir-se que o poldro ingere uma quantidade de matéria<br />

seca suficiente para cumprir com as necessidades nutricionais<br />

que apresenta. A monitorização do plano alimentar e<br />

do crescimento, nesta fase, deverá ser rigorosa, não sendo<br />

desejável também a sobrealimentação.<br />

Relativamente aos órfãos, a importância da ingestão de colostro<br />

nas primeiras horas de vida mantém-se, podendo,<br />

posteriormente, transitar para aleitamento artificial através<br />

de biberão ou balde (recorrendo às fórmulas comerciais específicas<br />

para poldros) ou tentar-se a amamentação por<br />

mãe adoptiva (caso se tenha disponível uma égua que tenha<br />

perdido o seu poldro à nascença). Nos poldros órfãos<br />

não adoptados, pode disponibilizar-se alimento sólido a<br />

partir das duas semanas (recorrendo a um alimento composto<br />

específico e a feno de boa qualidade), de forma a<br />

complementar ao leite de substituição. O desmame deverá<br />

ocorrer entre as 14 e as 16 semanas.<br />

Após o desmame, o maneio alimentar do poldro deverá ser<br />

igualmente cuidadoso. Entre os doze e os quinze meses de<br />

idade, o poldro atingirá cerca de 90% da altura ao garrote,<br />

95% do crescimento ósseo e cerca de 70% do peso em<br />

adulto. O restante crescimento ocorrerá posteriormente de<br />

forma gradual, verificando-se diferenças significativas no<br />

tempo de crescimento remanescente em função da raça.<br />

Uma alimentação adequada, que evite períodos de stress,<br />

continua a ser essencial, sendo a regularidade do crescimento<br />

preferencial a picos de crescimento. As deficiências,<br />

excessos ou desequilíbrios nutricionais têm sido associadas<br />

a doenças ortopédicas de desenvolvimento (DOD), sendo<br />

como tal indesejáveis. Na escolha do alimento, deve privilegiar-se<br />

uma componente forrageira<br />

de boa qualidade (feno ou<br />

pastagem) e um alimento composto<br />

específico para poldros,<br />

com boa digestibilidade e que<br />

privilegie um aporte adequado de<br />

lisina, de vitaminas, de macrominerais<br />

(como o cálcio e o fósforo)<br />

e microminerais (como o zinco, o<br />

cobre), necessários para um correcto<br />

desenvolvimento ósseo e articular.<br />

A reter:<br />

• A ingestão precoce de colostro (idealmente primeiras oito<br />

horas após o parto) é essencial para o sucesso da transferência<br />

de imunidade passiva;<br />

• Observar o poldro a mamar com a regularidade adequa<br />

da é um indicador de bem-estar e saúde do poldro;<br />

• A composição do leite varia ao longo da lactação (sendo a<br />

quantidade, o teor de gordura e de proteína superiores na<br />

fase inicial da lactação), considerando-se a partir dos três<br />

meses insuficiente por si só para suprir as necessidades do<br />

poldro;<br />

•A prática de creep feeding a partir das oito semanas de idade<br />

contribui para a redução do stress do desmame;<br />

• Após o desmame, o plano alimentar deverá ser adequado,<br />

promovendo um crescimento regular;<br />

• Deficiências, excessos ou desequilíbrios nutricionais são indesejáveis,<br />

predispondo ao aparecimento de doenças ortopédicas<br />

de desenvolvimento. m<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 63 MAGAZINE


CRÓNICA<br />

Fig.1 - D. Carlos em<br />

Vila Viçosa. Em segundo<br />

plano está o cavalo ruço,<br />

com a sela que el-Rei usava<br />

A sela usada por<br />

dos no extremo das perneiras. Uma protecção<br />

adicional ao cavalo através de uma manta<br />

grosseira dobrada várias vezes e colocado por<br />

baixo do selim. Neste conjunto estão presentes<br />

a almofadinha para proteger o cavalo do<br />

roçar do rabicho, o rabicho, a manta, os alforges,<br />

os loros, os estribos e o coldre da espingarda.<br />

Arreio de utilização rural também para<br />

a caça.<br />

A descrição refere todas as partes da sela, em que a<br />

“protecção adicional ao cavalo” é o que denominamos<br />

de “suadouro”, (que não está nesta fotografia) e tem<br />

um adereço que nunca tinha visto nas selas daquele<br />

mesmo modelo.<br />

Esta sela era usada nas regiões rurais do país e os Campinos<br />

denominavam-na de Almatrixa (Fig. 3), por proel-Rei<br />

D. Carlos<br />

Numa crónica anterior escrevi sobre uma fotografia de el-Rei D. Carlos<br />

montado no Bolero. Agora pretendo escrever sobre a sela, a mesma que se vê nesta<br />

outra fotografia (Fig.1) bem conhecida de todos.<br />

TEXTO<br />

João Pedro Gorjão Clara<br />

E<br />

sta sela d’el-Rei D. Carlos (Fig. 2)<br />

está hoje no Museu dos Coches<br />

com esta descrição:<br />

Inv. : A 0128 Título: Sela à vaqueiro<br />

de arreio de montada à alentejana de D. Carlos<br />

I (rural/caça)) Denominação: Sela à vaqueiro<br />

(rural) Instituição / Proprietário: Museu<br />

Nacional dos Coches Super-Categoria: Arte<br />

Categoria: Meios de transporte Subcategoria:<br />

Arreios Equestres Outras denominações: Selim N.º(s)<br />

Inventário anteriores: 2117<br />

Descrição: Selim de couro forrado de pele de borrego<br />

com argolas por onde se suspende o coldre da espingarda<br />

e aberturas para a passagem dos loros. O peso<br />

da sela é repartido por uma vasta área do dorso do cavalo,<br />

as abas do selim foram alargadas, os estribos fixa-<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 64 MAGAZINE


Fig.2 - Sela que está<br />

representada na<br />

fotografia anterior<br />

Fig.3 - Albardão sem a pele<br />

de borrego que deixa ver a<br />

almofada (almatrixa que deu<br />

o nome ao albardão) que<br />

reforçava a comodidade do<br />

assento, com a farinheira<br />

enrolada no garrote e a manta<br />

enrolada na garupa<br />

Fig.4 -Almofadinha,<br />

da sela de D. Carlos,<br />

que colocada atrás da sela,<br />

assenta sobre a garupa<br />

do cavalo<br />

Fig.5 - A almofadinha<br />

com a rabicheira que a<br />

atravessa ao meio e com<br />

duas tiras de cabedal com<br />

fivelas que apertavam a manta<br />

Fig.6 - A manta apertada por correias,<br />

sobre a almofadinha<br />

A s e l a u s a d a<br />

n o c a m p o p o r<br />

D. Ca r l o s e r a<br />

u m a l b a r d ã o,<br />

t a m b é m c h a m a d a<br />

Alm atrix a<br />

vável corruptela da palavra árabe “almadraquexa” (ver<br />

crónica da Equitação n.º 103).<br />

Os campinos deixaram de usar a almatrixa quando a redução<br />

do efectivo cavalar do exército colocou à venda as<br />

selas militares modelos de 1873 e de 1914. Ao adaptarem<br />

estas selas militares colocaram-lhes por cima a pele de<br />

borrego e fizeram-lhe outras alterações, que persistiram<br />

até aos nossos dias.<br />

Mas voltando atrás. O que nunca vimos nas selas daquele<br />

modelo foi a almofada presa ao bordo posterior da<br />

sela que assenta sobre a garupa (Fig. 4).<br />

Esta almofadinha, no meu entender, não servia “para<br />

proteger o cavalo do roçar do rabicho”. A almofadinha,<br />

protegia a manta lobeira, fixada com duas correias com<br />

fivela, do suor do cavalo. (Fig. 5)<br />

Neste modelo de sela para usar no campo, colocava-se à<br />

frente, sobre o garrote, “a farinheira”, (uns panos enrolados<br />

com múltiplas utilidades quando o campino se apeava)<br />

e atrás, sobre a garupa, a manta grossa, para proteger<br />

da humidade e do frio da noite (Fig. 3).<br />

No número da Revista Equitação em que mostrei D. Carlos<br />

montado no Bolero, observam-se aqueles dois atavios<br />

e percebe-se a presença da almofadinha (seta vermelha),<br />

e sobre ela a manta lobeira apertada por correias<br />

com fivela (seta amarela) (Fig.6).<br />

Como conclusão: a sela usada no campo por D. Carlos<br />

era um albardão, também chamada Almatrixa, singela e<br />

igual à que os trabalhadores do campo utilizavam no trabalho<br />

diário, com a particularidade de apresentar, ocasionalmente,<br />

uma pequena almofada na garupa que servia<br />

para proteger a manta do suor do cavalo.<br />

Agradeço à Senhora Dra. Rita Dargent, Conservadora<br />

do Museu Nacional dos Coches, a simpatia, a amabilidade<br />

e a disponibilidade na informação e à Direcção<br />

do Museu pela autorização da divulgação das imagens<br />

que me permitiram escrever esta crónica. m<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 65 MAGAZINE


Raides<br />

Riscos de intoxicação<br />

por plantas<br />

em cavalos de endurance<br />

TEXTO Mónica Mira<br />

Pastagem altamente contaminada<br />

com soagem (Echium plantagineum)<br />

no Alentejo esta Primavera<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 66 MAGAZINE


PUB<br />

Ao contrário de outras modalidades em que os cavalos permanecem<br />

estabulados a maior parte do tempo, na resistência equestre<br />

está convencionado que os cavalos devem permanecer no exterior.<br />

Os paddocks e, em particular, as cercas em que são colocados, têm<br />

na sua maioria algum tipo de pastagem espontânea, na qual podem<br />

existir plantas tóxicas. Por outro lado, as modificações climáticas,<br />

o aumento de infestantes nas pastagens e ausência de variedades<br />

forrageiras para cavalos, particularmente em regiões desfavorecidas<br />

em termos meteorológicos, como Portugal, torna difícil conseguir<br />

feno livre de plantas tóxicas.<br />

Estando a modalidade situada sobretudo na região<br />

entre Alcochete, Sines e Elvas, com grande<br />

representatividade na região de Évora, com este<br />

artigo pretendemos alertar para a toxicidade de<br />

determinadas plantas que, por desconhecimento geral, são<br />

frequentemente negligenciadas nas pastagens. Particularmente<br />

preocupantes são a soagem (Echium plantagineum),<br />

na Primavera, e a tasneirinha, ou senécio (Senecium vulgaris<br />

e Senecium jacobea), no final do Verão e Outono. Menos comum<br />

também, o tornassol (Heliotropium europeum). Tóxicas<br />

tanto para equídeos como para ruminantes, estas plantas<br />

contêm em comum componentes alcalóides pirrozilídicos<br />

que causam dano hepático.<br />

Uma intoxicação silenciosa<br />

Estas plantas contêm substâncias tóxicas que causam uma<br />

intoxicação do tipo cumulativo e não agudo. São intoxicações<br />

não de carácter fulminante, mas sim insidioso, passando por<br />

isso despercebidas. O que isto significa é que o tecido hepático<br />

vai sendo substituído por áreas de fibrose, ou seja, áreas<br />

que perdem a sua capacidade funcional. No dia-a-dia, esta<br />

perda de funcionalidade não tem qualquer manifestação clínica<br />

ou, se existir, será inespecífica, como por exemplo, perda<br />

de condição corporal, na presença de apetite ou episódios de<br />

cólica ligeira recorrente. Só quando há cerca de 80% de tecido<br />

hepático afectado é que a sintomatologia se torna mais<br />

óbvia, com perda de peso associada a anorexia, icterícia e sintomas<br />

neurológicos associados à presença de amónia no<br />

sangue. Normalmente transformada em ureia para ser eliminada<br />

pelos rins, a amónia atravessa a barreira hemato-encefálica,<br />

sendo particularmente tóxica para o cérebro, causando<br />

apatia profunda com headpressing (encosto da cabeça a<br />

uma parede ou outro elemento sólido), episódios de agressividade<br />

e por fim recumbência.<br />

Papel do fígado no esforço<br />

físico e consequências para<br />

os cavalos de competição<br />

Órgão indispensável para a vida, com múltiplas funções, o fígado<br />

fica especialmente sobrecarregado no esforço físico<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 67 MAGAZINE


Raides<br />

quando há um aceleramento inerente do<br />

metabolismo e a consequente produção<br />

de subprodutos que necessitam de ser<br />

transformados para ser eliminados. Nos<br />

cavalos de resistência equestre, os danos<br />

hepáticos poder-se-ão traduzir apenas na<br />

perda de rendimento desportivo. Sobretudo<br />

no contexto de competição em que os<br />

cavalos têm que dar o máximo, podem<br />

surgir manifestações inespecíficas como,<br />

por exemplo, má recuperação cardíaca,<br />

anorexia e membranas mucosas congestionadas<br />

(tóxicas), com tempo de replecção<br />

capilar aumentado.<br />

Diagnóstico<br />

O diagnóstico ante-mortem faz-se pela<br />

monitorização das enzimas hepáticas no<br />

sangue (GGT, AST, FA e SDH) e níveis de<br />

bilirrubina. A confirmação faz-se por biópsia<br />

ecoguiada do fígado e histopatologia.<br />

Os cavalos<br />

conseguem mesmo<br />

triar as plantas<br />

tóxicas?<br />

Nem todos. Deve-se partir do pressuposto<br />

que em circunstâncias particulares, tais<br />

como mudanças de ambiente, pastagens<br />

sobre-pastoreadas, pisoteadas ou muito<br />

contaminadas, qualquer cavalo pode ingerir<br />

plantas tóxicas, seja por tédio ou por<br />

falta de alternativa. Mesmo em paddocks<br />

sem pastagem, há relatos de cavalos que<br />

ingeriram plantas tóxicas nas orlas e por<br />

debaixo do cercado.<br />

Heliotropium<br />

Senecio<br />

Vulgaris<br />

Senecio<br />

jacobea<br />

A problemática<br />

dos fenos<br />

O mais perigoso são os fenos oriundos de pastagens contaminadas<br />

e/ou espontâneas. Isto porque, nesta situação, os<br />

cavalos acabam por perder completamente a capacidade de<br />

distinguir as plantas tóxicas. É, por isso, imperativo que, nos<br />

cavalos de competição, a origem do feno seja conhecida ou<br />

certificada. Em último recurso, pode-se recorrer à identificação<br />

das plantas no feno, um processo moroso, normalmente<br />

realizado por conhecedores de botânica e que necessitam da<br />

presença de folha, já que só os caules não permitem a distinção<br />

das plantas.<br />

Gestão das pastagens<br />

Mais do que eliminar as plantas das pastagens,<br />

a não ser que estejamos a falar de pequenos<br />

paddocks em que é exequível a<br />

monda, é mais sustentável delinear estratégias<br />

que, antecipadamente, evitem o seu desenvolvimento.<br />

Essas estratégias passam por cultivar gramíneas<br />

que compitam com as plantas infestantes<br />

e, por isso, impeçam o seu desenvolvimento.<br />

Um aspecto curioso é a recomendação<br />

de não manipular plantas tóxicas à frente dos<br />

cavalos, uma vez que quando manipuladas<br />

pelo Homem, os cavalos identificam-nas<br />

como benignas. Portanto, a monda deve ser<br />

feita longe da vista dos cavalos. Finalmente,<br />

em pastagens contaminadas, o fornecimento<br />

de bom feno em quantidade suficiente pode<br />

ser um elemento dissuasor para a ingestão<br />

destas plantas.<br />

Há tratamento para<br />

os cavalos afectados?<br />

Se os insultos forem pequenos não há tratamento<br />

específico. Deve-se apenas proceder a<br />

uma alimentação com menos proteína, para<br />

não sobrecarregar o fígado e para que haja<br />

menor produção de amónia, esperando assim<br />

que o fígado recupere, já que é o órgão<br />

com maior capacidade de regeneração do organismo.<br />

Animais com sintomatologia explícita<br />

de doença hepática têm mau prognóstico.<br />

Resumindo...<br />

Em suma, é fundamental assumir que os cavalos<br />

podem ingerir as plantas tóxicas de<br />

uma pastagem e que isso pode ter consequências<br />

no seu rendimento desportivo. É<br />

também crucial certificar-se da origem do feno e que estes não<br />

se encontrem contaminados, sob pena de os seus cavalos não<br />

atingirem os resultados esperados. m<br />

Bibliografia: F.Clamote, P.V.Araújo, J.D.Almeida, D.T.Holyoak, M.Porto, J.Lourenço,<br />

A.Carapeto, A.J.Pereira, et al. (2020). Senecio vulgaris L. - mapa de distribuição.<br />

Flora-On: Flora de Portugal Interactiva, Sociedade Portuguesa de Botânica.<br />

http://www.flora-on.pt/#wSenecio+vulgaris.<br />

https://equipedia.ifce.fr/elevage-et-entretien/alimentation/intoxicationalimentaire/intoxications-vegetales-equides.html<br />

https://jb.utad.pt/flora<br />

Vídeos: Primenko, Nathalie. Les intoxications à l’herbage<br />

https://www.youtube.com/watch?v=HxDGOb-j6BA. IFCE<br />

Cault, Gilbert. Intoxications vegetales du printemps chez les equides<br />

https://www.youtube.com/watch?v=tDbpr_zRMQI<br />

Cault, Gilbert Intoxications végétales d’automne chez les équidés<br />

https://www.youtube.com/watch?v=nLVZtN5zmbw<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 68 MAGAZINE


COUDELARIA<br />

MONTE DO CASÃO<br />

HERDADE DAS BOIÇAS<br />

Na Coudelaria Monte do Casão predominam as cores Lazão e Palomino<br />

firmando a forte influência dos Garanhões selecionados:<br />

D. Juan do Cabeção e Imperador do Cabeção<br />

Localização: Monte do Casão | Herdade das Boiças Barro Branco | Borba Estrada da Nora<br />

Tlm: 917 618 866 | Email: mcasao@sapo.pt | www.facebook.com/MonteDoCasao/


histórias<br />

Bafejado<br />

um cavalo com uma ferida na quartela<br />

Atarefada, corria de um lado para o outro para acabar as malas! Mesmo escrevendo<br />

um papel com todas as coisas que quero levar, com bastantes dias de antecedência,<br />

acabo sempre por me lembrar de levar outras coisas, também elas necessárias, o que<br />

implica que, para fechar as malas, seja sempre uma correria!<br />

ACarminho já voltou ao CAR, pois já<br />

está a ter aulas presenciais. Eu e o<br />

Francisco resolvemos ir ter com ela a<br />

Lisboa durante três dias para eles poderem<br />

ir às consultas que tinham sido adiadas<br />

durante o estado de emergência. Como estava<br />

em teletrabalho, tive de levar o computador e a<br />

última corrida foi porque me tinha esquecido<br />

dele…<br />

Quando o estava a colocar na mochila o meu telefone<br />

começou a tocar, mas eu já estava tão atrasada<br />

que resolvi não atender, pensei para mim mesma que devolveria<br />

a chamada assim que entrasse no carro e me pusesse<br />

a caminho de Lisboa.<br />

Finalmente com a bagageira cheia para três dias (eu sei,<br />

são só duas noites, mas nós nunca sabemos que temperatura<br />

vai estar, o que vamos fazer, enfim, nunca sabemos<br />

o que levar! Pelo menos eu gosto de viajar bem prevenida)<br />

lá nos pusemos os dois a caminho. Tinha pensado telefonar<br />

e assim como pensei,<br />

TEXTO<br />

rita gorjão clara<br />

médica veterinária<br />

fiz!<br />

Do outro lado do Bluetooth<br />

ouviu-se a voz de<br />

uma amiga minha. A sua<br />

voz agradável, mas com<br />

timbres de ansiedade,<br />

não se demorou muito na<br />

introdução da conversa e<br />

passou imediatamente aos “finalmentes”. O seu cavalo<br />

tinha uma pequena ferida na quartela, dever-se-ia ter aleijado<br />

nalgum sítio, disse ela, mas o que a preocupa mais<br />

era o facto de o cavalo estar cheio de “remelas” amarelas.<br />

Disse-lhe que infelizmente não o poderia ir ver pois ia a<br />

caminho de Lisboa, mas que se ela quisesse poderíamos<br />

fazer uma “teleconsulta”, ela enviava-me as fotografias e<br />

eu logo decidiria se poderia ser medicado por mim à distância,<br />

se poderia esperar por sábado para o ver, ou se teríamos<br />

de chamar outro colega para o puder acudir de<br />

imediato.<br />

Desliguei descansada, que as fotografias chegariam dentro<br />

de pouco tempo, assim que ele voltasse a ter “remelas”<br />

pois estas tinham habilmente desaparecido com a limpeza<br />

exímia realizada pela dona.<br />

As horas foram-se passando e a verdade é que nunca<br />

mais me lembrei do cavalo. No meu subconsciente ela tinha<br />

ficado de enviar as fotografias, por isso, o<br />

meu consciente ficou em stand by à espera das<br />

mesmas, para poder voltar ao assunto.<br />

No sábado, por volta das 16h, o telefone voltou<br />

a tocar! Era ela outra vez. Nunca mais me tinha<br />

lembrado do cavalo!<br />

Com a voz extremamente ansiosa, explicou-me<br />

que os olhos não voltaram a ter remelas, mas<br />

que a ferida pequenina da mão, tinha ficado negra,<br />

grande, e a mão já estava inchada até ao<br />

joelho. Pedi-lhe que me enviasse uma foto por WhatsApp<br />

“ASAP”.<br />

Quando recebi a foto achei a ferida muito feia. Parecia ter<br />

no centro um fundo de necrose bem negra e à volta reacção<br />

inflamatória grave, com sinais de infecção e edema<br />

até ao joelho. Pelo que via, e pelas dores que ele demonstrava<br />

ter, segundo o que a minha amiga dizia, calculei que<br />

tivesse sido uma picada de algum bicho venenoso.<br />

Claro que poderia ser uma “ferida de Verão” ou inclusivamente<br />

arestins, mas para<br />

“...i n c l i n e i-m e l o g o<br />

p a r a u m a p i c a d a d e a l g u m b i c h o<br />

«p e ç o n h e n t o». Se m h e s i t a r,<br />

r e s o l v i m e t e r-m e n o c a r r o e ir<br />

f a z e r-l h e u m a visita.”<br />

ter uma evolução tão rápida<br />

e com um foco de<br />

necrose tão exuberante,<br />

inclinei-me logo para<br />

uma picada de algum bicho<br />

“peçonhento”. Sem<br />

hesitar, resolvi meter-me<br />

no carro e ir fazer-lhe uma<br />

visita. Durante o percurso, observava alegremente o horizonte,<br />

de janela aberta, pois o carro com que tenho substituído<br />

o meu acidentado, não tem ar condicionado. Sentia<br />

a brisa escaldante do meio da tarde, brisa essa que<br />

fazia ondular as searas, ainda numa mistura de tons, que<br />

não tinham ainda atingido o seu tom dourado quando dizem<br />

que estão prontas para a ceifa. No meio delas, e em<br />

grandes quantidades, papoilas vermelhas, lindas, davam<br />

um toque idílico à imagem, mas, de repente, comecei a<br />

sentir o carro a fugir para a direita, tinha um furo!<br />

Chateada, antes de tentar resolver o problema, telefonei<br />

de imediato à minha amiga e disse-lhe que deveria chamar<br />

outro colega, pois não sabia quando estaria despachada<br />

e o caso já tinha quatro dias…<br />

Chateada também ela, e bastante contrariada, lá chamou<br />

um colega meu! Ficou combinado que me telefonaria<br />

para irmos falando, mas, mais uma vez, o tempo foi pas-<br />

<strong>EQUITAÇÃO</strong> 70 MAGAZINE


Na q u a r t a-f e i r a s e g u i n t e<br />

e n v i a r a m-m e n o v a f o t o<br />

d o resultado d e q u a t r o d i a s<br />

d e tratame nto, u h m, voltei<br />

a t o r c e r o n a r i z…<br />

sando e nada de telefonema. Finalmente, e depois de muitas<br />

peripécias, já era noite cerrada quando cheguei a casa.<br />

Liguei-lhe para saber como estava o «Bafejado», e disseme<br />

que o meu colega o tinha medicado como se fossem<br />

arestins… Torci um bocadinho o nariz, mas como o meu colega<br />

o deixou medicado com medicamentos que também<br />

dariam para combater o efeito da picada de um bicho venenoso,<br />

disse-lhe que aguardaríamos para ver! Tinha era que<br />

me ir dando notícias! Na verdade só não me meti a caminho,<br />

porque eles moram a quilómetros de minha casa!<br />

Na quarta-feira seguinte enviaram-me nova foto do resultado<br />

de quatro dias de tratamento, uhm, voltei a torcer o nariz…<br />

Quase de certeza que não eram, só, arestins, se é que<br />

tinham sido arestins alguma vez!!!! Mas como não vi presencialmente,<br />

não queria colocar o meu colega em cheque!<br />

Enfim, agora enquanto vos escrevo, aguardo uma chamada<br />

para o ir ver!<br />

Não sei como vai acabar a história. Mas prometo acabá-la<br />

no próximo artigo!!! m<br />

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<strong>EQUITAÇÃO</strong> 71 MAGAZINE


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<strong>EQUITAÇÃO</strong> 72 MAGAZINE

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