NOREVISTA AGOSTO 2020
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R E P O R T A G E M<br />
em diferentes parte do mundo, discursos<br />
xenófobos ou mesmo racistas, como no caso da<br />
América com o seu atual Presidente que designou<br />
o Covid-19 como “o vírus chinês” e teve várias<br />
consequências para a população asiática que vive<br />
no EUA e noutras partes do mundo.<br />
A investigadora realça também algumas<br />
declarações de responsáveis políticos no âmbito<br />
da saúde, como em França, por exemplo, que<br />
colocaram a hipótese de testar as vacinas em<br />
África, colocando este continente como um local<br />
privilegiado de cobaia da cura do Covid-19. Esta<br />
ideia tem, por detrás, um conceito de inferioridade<br />
dos indivíduos africanos e que, como vários<br />
autores têm mencionado, é a forma como o outro<br />
é racializado, é uma construção negativa em<br />
contraposição ao que está no centro, numa posição<br />
privilegiada. Portanto, é uma construção do outro<br />
desumanizado.<br />
Por outro lado, Cristina Roldão destaca o<br />
discurso do Estado de Emergência declarado pelo<br />
Presidente Marcelo de Rebelo de Sousa, no qual<br />
recorreu à ideia muito particular e marcada pela<br />
“branquitude” sobre quem são os portugueses.<br />
Neste discurso, houve uma exaltação do povo<br />
português como um povo com vários séculos de<br />
existência e que perduraram no tempo enquanto<br />
que outros povos do mundo acabaram por<br />
desaparecer e criando essa clivagem entre o nós e<br />
os outros para garantir uma certa ideia de coesão<br />
nacional num momento em que as desigualdades<br />
se adensam. Portanto, Cristina Roldão questiona<br />
se será que nesse imaginário dos portugueses<br />
que existem há vários séculos estão incluídos<br />
as comunidades ciganas? As comunidades<br />
afrodescendentes, comunidades asiáticas e outras<br />
que existem em Portugal? Por outro lado, surge<br />
a ideia de connamento de comunidades étnicoraciais<br />
especícas e aqui quer com discursos<br />
claros de extrema direita, neste caso do partido<br />
Chega com o André Ventura com a ideia de que as<br />
comunidades ciganas deviam ter o connamento<br />
especíco.<br />
Portanto, a pandemia e toda esta crise coloca<br />
importantes desaos desde logo do ponto de<br />
vista das narrativas políticas que vão acabando<br />
por circular e depois há também as próprias<br />
desigualdades objetivas na exposição à doença,<br />
na possibilidade ou não de connamento.<br />
Cristina Roldão destaca que nem todos têm<br />
o mesmo direito ao connamento e que entre<br />
as comunidades racializadas muito menos. A<br />
investigadora refere a estrutura social e económica<br />
em que a população negra, como também cigana<br />
vivem. Estes indivíduos estão recorrentemente<br />
em setores que não só são mal remunerados, que<br />
detêm os piores vínculos laborais, como também,<br />
são os mais desqualicados, e refere que estes<br />
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