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certeza um incentivo para as adorações<br />
inefáveis que a Santíssima Virgem<br />
apresentou a Nosso Senhor na<br />
Noite de Natal.<br />
Consideremos que não só cada<br />
traço do rosto – sobretudo o olhar –<br />
é indicativo de uma mentalidade. A<br />
seu modo, o mesmo se pode dizer do<br />
pescoço, dos ombros, das mãos, dos<br />
pés, em especial se vistos num conjunto.<br />
Em consequência, nós podemos<br />
imaginar Nossa Senhora contemplando<br />
essa expressão manifestativa<br />
da realidade psicológica e sobrenatural<br />
de seu Filho e O adorando<br />
profundamente.<br />
Transcendência da sagrada<br />
Face do Menino Deus<br />
Nesse ponto torna-se necessário<br />
fazer uma retificação a respeito<br />
de algo que a iconografia da Renascença<br />
deformou completamente. Para<br />
dar uma ideia da suma pureza do<br />
Menino Jesus, ela O apresenta como<br />
uma criança bobinha e inexpressiva,<br />
na qual não há indicação alguma<br />
de uma mentalidade. E eu tenho<br />
a maior das dificuldades em admitir<br />
que haja sido assim.<br />
A meu ver, pelo contrário, tudo<br />
aquilo que nós admiramos em Nosso<br />
Senhor adulto, aquela transcendência,<br />
aquela elevação de alma tal<br />
que parece colocá-la inteiramente<br />
em outra região – e faz lembrar<br />
a frase da Escritura: “Meus pensamentos<br />
não são como os vossos pensamentos,<br />
e vossos caminhos não<br />
são como os meus caminhos” (Is 55,<br />
8) –, aquela posição interior em que<br />
se percebe contido todo um céu, no<br />
qual Ele está e do alto do qual olha<br />
com bondade a humanidade distante<br />
que a misericórdia d’Ele torna<br />
próxima, aquele equilíbrio, aquela<br />
distinção, aquela afabilidade, aquela<br />
força, tudo isso que na sacratíssima<br />
Face do Divino Mestre inspira<br />
perfeições morais inefáveis, eu tenho<br />
a impressão de que já estava expresso<br />
na Face e no Corpo do Menino<br />
Jesus.<br />
A adoração de São José<br />
O Natal é a primeira manifestação<br />
dessas maravilhas, e para elas<br />
convergiu a adoração de Nossa Senhora<br />
e a de São José, que estava<br />
perto e participava deste ato como<br />
esposo d’Ela e pai do Menino Jesus.<br />
Que Maria Santíssima tivesse<br />
uma união de almas com Nosso Senhor<br />
num grau que nós nem bem entendemos,<br />
é evidente. Entretanto,<br />
também podemos imaginar a ternura,<br />
o respeito, o entusiasmo, a adoração<br />
e a veneração de São José ao<br />
ver aquele Menino que ele sabia ser<br />
Filho do Espírito Santo e de Nossa<br />
Senhora, mas legalmente Filho<br />
seu, e que, em parte, na pessoa<br />
dele Se tornava Filho de<br />
Davi e cumpria as profecias.<br />
O que deveria representar<br />
para ele olhar o Menino<br />
e pensar que, afinal<br />
de contas, ali estava o<br />
Deus dele e de todos<br />
os homens e, ao mesmo<br />
tempo, o Filho dele,<br />
porque Filho da esposa<br />
dele?<br />
Uma meditação<br />
para o Natal<br />
A consideração da<br />
santidade de Nosso Senhor<br />
que resplendia de toda a Pessoa<br />
d’Ele, a ideia, portanto,<br />
da manifestação no seu Corpo<br />
de sua santidade de Alma, na<br />
qual, por sua vez, manifestava-se<br />
a Divindade hipostaticamente unida<br />
à natureza humana, isso eu tenho<br />
a impressão de ser o que mais deveria<br />
nos extasiar na Noite de Natal.<br />
Há uma porção de estampas que<br />
apresentam a cena do nascimento<br />
de Nosso Senhor com o berço cheio<br />
de luz e o Menino com cara de bobinho.<br />
A luz não estava na palha; a luz<br />
estava no Menino, sobretudo na Face<br />
sacratíssima do Menino!<br />
Isso me parece constituir uma<br />
meditação interessante para o Natal,<br />
que alimente a devoção durante<br />
estes dias. Peçamos a Nossa Senhora<br />
que tais pensamentos nos deem<br />
alento para um Natal verdadeiramente<br />
recolhido e piedoso. v<br />
(Extraído de conferência de<br />
21/12/1965)<br />
Flávio Lourenço<br />
São José com o Menino Jesus - Igreja da<br />
Virgem do Manto, Riaza, Espanha<br />
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