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Hagiografia<br />
Saforrest (CC3.0)<br />
dres precisam ser tutelados por uma<br />
espécie de “profetas”, e as paróquias,<br />
aglutinadas ao sabor desse “espírito<br />
profético”.<br />
Essas ideias estão na lógica de<br />
um mesmo erro que avança: primeiro<br />
afirma-se que a Igreja deve estar<br />
sujeita ao Estado, porque o princípio<br />
leigo prevalece sobre o religioso;<br />
mais adiante se diz que o princípio religioso<br />
é inútil.<br />
Com efeito, é tão antinatural defender<br />
que o leigo está acima do religioso<br />
que tal contradição não se sustenta,<br />
e só pode ser vista como uma<br />
etapa para a rejeição do religioso.<br />
Então, a posição inglesa representou<br />
uma preparação remota de terreno<br />
para a completa negação da Igreja.<br />
Imagem de São Tomás Becket,<br />
na Catedral de Canterbury, cuja<br />
cabeça foi destruída em 1538<br />
Essa preparação remota teve seus<br />
primórdios nos episódios vividos por<br />
São Tomás Becket, de cuja post-história<br />
nos fala Dom Guéranger no<br />
L’Année Liturgique.<br />
Relíquias profanadas<br />
e destruídas<br />
O século XVI veio acrescentar algo<br />
mais à glória de São Tomás Becket,<br />
quando o inimigo de Deus e dos<br />
homens, Henrique VIII da Inglaterra,<br />
ousou perseguir com sua tirania o<br />
mártir da liberdade da Igreja até no<br />
esplêndido relicário onde ele recebia<br />
há quatro séculos as homenagens da<br />
veneração do mundo cristão.<br />
Henrique VIII pretendia dirigir a<br />
Arquidiocese de Canterbury, transformando<br />
seu Arcebispo numa espécie<br />
de lacaio mitrado. Uma vez que o<br />
mais importante dos prelados ingleses<br />
cedesse, era natural admitir que<br />
os outros se deixassem arrastar também<br />
e a Igreja na Inglaterra se transformasse<br />
numa repartição pública.<br />
São Tomás Becket foi morto na<br />
sua catedral, tornando-se mártir da<br />
liberdade da Igreja. Tendo sido canonizado,<br />
seu corpo jazia num relicário<br />
esplêndido, onde durante quatro<br />
séculos recebeu as homenagens<br />
dos ingleses.<br />
Ora, a partir do momento em que<br />
Henrique VIII se separou de Roma<br />
e se declarou chefe da igreja da Inglaterra,<br />
era natural que ele quisesse<br />
injuriar as relíquias daquele que<br />
morrera para que isso não se desse.<br />
Então, mandou algumas pessoas<br />
irem à Catedral de Canterbury para<br />
violar a sepultura de São Tomás Becket.<br />
Como comenta Dom Guéranger,<br />
é uma glória a mais para esse<br />
Santo o fato de seus restos mortais<br />
terem sido profanados pelo homem<br />
nefando que separou a Inglaterra da<br />
Igreja Católica.<br />
Continua o texto:<br />
Os ossos sagrados do prelado, morto<br />
pela justiça, foram arrancados do<br />
English School (CC3.0)<br />
São Tomás Morus e São João Fisher<br />
altar. Um processo monstruoso foi instituído<br />
contra o pai da pátria, e uma<br />
sentença ímpia declarou Tomás réu de<br />
crime de lesa-majestade.<br />
Esses restos preciosos foram colocados<br />
sobre uma fogueira, e nesse segundo<br />
martírio o fogo devorou os despojos<br />
do homem simples e forte cuja<br />
intercessão atraía sobre a Inglaterra os<br />
olhares e a proteção do Céu.<br />
A Inglaterra não era mais<br />
digna daquele tesouro<br />
Também era justo que o país que<br />
devia perder a Fé por uma desoladora<br />
apostasia não guardasse em seu<br />
seio um tesouro que não seria mais<br />
devidamente estimado. Além disso,<br />
a sede de Canterbury estava manchada.<br />
Cranmer sentava-se na cadeira<br />
dos Agostinhos, dos Dunstanos,<br />
dos Lanfrancos, dos Anselmos,<br />
de Tomás enfim; e o santo mártir,<br />
olhando ao redor de si, não teria<br />
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