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Revista Dr Plinio 273

Dezembro 2020

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Hagiografia<br />

Saforrest (CC3.0)<br />

dres precisam ser tutelados por uma<br />

espécie de “profetas”, e as paróquias,<br />

aglutinadas ao sabor desse “espírito<br />

profético”.<br />

Essas ideias estão na lógica de<br />

um mesmo erro que avança: primeiro<br />

afirma-se que a Igreja deve estar<br />

sujeita ao Estado, porque o princípio<br />

leigo prevalece sobre o religioso;<br />

mais adiante se diz que o princípio religioso<br />

é inútil.<br />

Com efeito, é tão antinatural defender<br />

que o leigo está acima do religioso<br />

que tal contradição não se sustenta,<br />

e só pode ser vista como uma<br />

etapa para a rejeição do religioso.<br />

Então, a posição inglesa representou<br />

uma preparação remota de terreno<br />

para a completa negação da Igreja.<br />

Imagem de São Tomás Becket,<br />

na Catedral de Canterbury, cuja<br />

cabeça foi destruída em 1538<br />

Essa preparação remota teve seus<br />

primórdios nos episódios vividos por<br />

São Tomás Becket, de cuja post-história<br />

nos fala Dom Guéranger no<br />

L’Année Liturgique.<br />

Relíquias profanadas<br />

e destruídas<br />

O século XVI veio acrescentar algo<br />

mais à glória de São Tomás Becket,<br />

quando o inimigo de Deus e dos<br />

homens, Henrique VIII da Inglaterra,<br />

ousou perseguir com sua tirania o<br />

mártir da liberdade da Igreja até no<br />

esplêndido relicário onde ele recebia<br />

há quatro séculos as homenagens da<br />

veneração do mundo cristão.<br />

Henrique VIII pretendia dirigir a<br />

Arquidiocese de Canterbury, transformando<br />

seu Arcebispo numa espécie<br />

de lacaio mitrado. Uma vez que o<br />

mais importante dos prelados ingleses<br />

cedesse, era natural admitir que<br />

os outros se deixassem arrastar também<br />

e a Igreja na Inglaterra se transformasse<br />

numa repartição pública.<br />

São Tomás Becket foi morto na<br />

sua catedral, tornando-se mártir da<br />

liberdade da Igreja. Tendo sido canonizado,<br />

seu corpo jazia num relicário<br />

esplêndido, onde durante quatro<br />

séculos recebeu as homenagens<br />

dos ingleses.<br />

Ora, a partir do momento em que<br />

Henrique VIII se separou de Roma<br />

e se declarou chefe da igreja da Inglaterra,<br />

era natural que ele quisesse<br />

injuriar as relíquias daquele que<br />

morrera para que isso não se desse.<br />

Então, mandou algumas pessoas<br />

irem à Catedral de Canterbury para<br />

violar a sepultura de São Tomás Becket.<br />

Como comenta Dom Guéranger,<br />

é uma glória a mais para esse<br />

Santo o fato de seus restos mortais<br />

terem sido profanados pelo homem<br />

nefando que separou a Inglaterra da<br />

Igreja Católica.<br />

Continua o texto:<br />

Os ossos sagrados do prelado, morto<br />

pela justiça, foram arrancados do<br />

English School (CC3.0)<br />

São Tomás Morus e São João Fisher<br />

altar. Um processo monstruoso foi instituído<br />

contra o pai da pátria, e uma<br />

sentença ímpia declarou Tomás réu de<br />

crime de lesa-majestade.<br />

Esses restos preciosos foram colocados<br />

sobre uma fogueira, e nesse segundo<br />

martírio o fogo devorou os despojos<br />

do homem simples e forte cuja<br />

intercessão atraía sobre a Inglaterra os<br />

olhares e a proteção do Céu.<br />

A Inglaterra não era mais<br />

digna daquele tesouro<br />

Também era justo que o país que<br />

devia perder a Fé por uma desoladora<br />

apostasia não guardasse em seu<br />

seio um tesouro que não seria mais<br />

devidamente estimado. Além disso,<br />

a sede de Canterbury estava manchada.<br />

Cranmer sentava-se na cadeira<br />

dos Agostinhos, dos Dunstanos,<br />

dos Lanfrancos, dos Anselmos,<br />

de Tomás enfim; e o santo mártir,<br />

olhando ao redor de si, não teria<br />

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