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Revista Dr Plinio 273

Dezembro 2020

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Luzes da Civilização Cristã<br />

Raimond Spekking (CC3.0)<br />

sobem vertiginosamente e estão concebidas na ideia de<br />

emular entre si e entrar pelos olhos do homem, levando<br />

seu espírito para cima. São leves e esguias, dentro do<br />

caráter sólido alemão – sobre o qual eu exporei daqui a<br />

pouco –, que não as abandona.<br />

Para verem o papel que cada uma dessas torres representa<br />

para a outra, imaginem que existisse uma torre só.<br />

Ela se perderia, ficaria meio desequilibrada, cambaia. Pelo<br />

contrário, as duas torres juntas como que se apoiam<br />

para subir. E a altura total é compensada pela base.<br />

Há um ponto invisível de equilíbrio nelas – mais uma<br />

vez eu digo: de caráter metafísico –, o qual paira nos ares<br />

e constitui o ponto de união insuspeitado das duas torres,<br />

que o espírito concebe e o olhar não percebe. À medida<br />

que sobem, as torres vão insensivelmente se afilan-<br />

do e, em certo momento, transformam-se em cones altíssimos.<br />

Por que elas se afilam? Para dar a ideia de algo que<br />

sobe.<br />

Quando o olhar recai sobre um objeto muito alto, tem-<br />

-se a ilusão de ótica de que ele vai ficando mais esguio<br />

naturalmente. Os que conceberam a Catedral de Colônia,<br />

para acentuar a ideia de elevação, foram afilando<br />

suas torres, de maneira que tudo dá a impressão de uma<br />

altura que se perde nos céus. Tanto mais que uma parte<br />

delas é oca, está formada por um rendilhado. Quem vê<br />

uma fotografia aproximada percebe fragmentos de céu<br />

através desse rendilhado. Quer dizer, trata-se de algo<br />

meio irreal, em parte do céu, em parte da terra, em parte<br />

obra do homem, em parte obra de Deus.<br />

No ponto que dá origem à cúpula final, ainda há umas<br />

pontinhas que também parecem querer acompanhar o jorro<br />

que sobe; não conseguem e morrem sobre si mesmas, mas<br />

com elegância, com distinção. Tudo é feito para ir afilando.<br />

Vê-se uma janela e um pequeno portal. Depois duas<br />

janelas que representam do mesmo modo duas ogivas e<br />

terminam numa grande ogiva, porque afinal trata-se de<br />

uma ogiva que se perde no céu.<br />

É uma concepção completamente diferente da Catedral<br />

de Notre-Dame, mas legítima e que exprime um modo<br />

de ser do espírito humano. Assim como nos extasiamos<br />

com Notre-Dame, devemos também nos rejubilar<br />

com Colônia. Deus criou os homens com características<br />

diferentes, e quer que cada um se exprima como Ele o<br />

criou e que um compreenda o outro.<br />

A fantasia do ocidental e a do oriental<br />

Há outro aspecto muito bonito. Essa catedral não tem<br />

nada do minarete. Numa mesquita mulçumana, o minarete<br />

é aquela torre fininha do alto da qual canta um muezim.<br />

Quase diríamos que o vento vai derrubá-la. Contudo,<br />

o oriental se agrada em vê-la enfrentando o vento, como<br />

um sonho que foi concebido sem base na terra.<br />

Em Colônia, ao contrário, não há a fantasia do<br />

Oriente. A catedral representa a fantasia do ocidental,<br />

muito diferente. Trata-se de algo sólido, de um mundo<br />

de pedras, de uma base muito forte. As torres, possantes,<br />

estão cravadas no chão até o momento em que se<br />

separam.<br />

Assim age o ocidental, em particular o alemão, que é<br />

verdadeiramente sólido: mesmo quando sobe às mais altas<br />

divagações, tem os pés na realidade.<br />

Aqui está algo do espírito católico quando sopra em<br />

uma alma alemã. Tirem a Religião Católica, e o alemão<br />

jamais dará nisso. Quer dizer, todos fomos concebidos<br />

no pecado original e nós, menos a graça, somos iguais a<br />

nada. Dessa equação ninguém escapa.<br />

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