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Luzes da Civilização Cristã<br />
Raimond Spekking (CC3.0)<br />
sobem vertiginosamente e estão concebidas na ideia de<br />
emular entre si e entrar pelos olhos do homem, levando<br />
seu espírito para cima. São leves e esguias, dentro do<br />
caráter sólido alemão – sobre o qual eu exporei daqui a<br />
pouco –, que não as abandona.<br />
Para verem o papel que cada uma dessas torres representa<br />
para a outra, imaginem que existisse uma torre só.<br />
Ela se perderia, ficaria meio desequilibrada, cambaia. Pelo<br />
contrário, as duas torres juntas como que se apoiam<br />
para subir. E a altura total é compensada pela base.<br />
Há um ponto invisível de equilíbrio nelas – mais uma<br />
vez eu digo: de caráter metafísico –, o qual paira nos ares<br />
e constitui o ponto de união insuspeitado das duas torres,<br />
que o espírito concebe e o olhar não percebe. À medida<br />
que sobem, as torres vão insensivelmente se afilan-<br />
do e, em certo momento, transformam-se em cones altíssimos.<br />
Por que elas se afilam? Para dar a ideia de algo que<br />
sobe.<br />
Quando o olhar recai sobre um objeto muito alto, tem-<br />
-se a ilusão de ótica de que ele vai ficando mais esguio<br />
naturalmente. Os que conceberam a Catedral de Colônia,<br />
para acentuar a ideia de elevação, foram afilando<br />
suas torres, de maneira que tudo dá a impressão de uma<br />
altura que se perde nos céus. Tanto mais que uma parte<br />
delas é oca, está formada por um rendilhado. Quem vê<br />
uma fotografia aproximada percebe fragmentos de céu<br />
através desse rendilhado. Quer dizer, trata-se de algo<br />
meio irreal, em parte do céu, em parte da terra, em parte<br />
obra do homem, em parte obra de Deus.<br />
No ponto que dá origem à cúpula final, ainda há umas<br />
pontinhas que também parecem querer acompanhar o jorro<br />
que sobe; não conseguem e morrem sobre si mesmas, mas<br />
com elegância, com distinção. Tudo é feito para ir afilando.<br />
Vê-se uma janela e um pequeno portal. Depois duas<br />
janelas que representam do mesmo modo duas ogivas e<br />
terminam numa grande ogiva, porque afinal trata-se de<br />
uma ogiva que se perde no céu.<br />
É uma concepção completamente diferente da Catedral<br />
de Notre-Dame, mas legítima e que exprime um modo<br />
de ser do espírito humano. Assim como nos extasiamos<br />
com Notre-Dame, devemos também nos rejubilar<br />
com Colônia. Deus criou os homens com características<br />
diferentes, e quer que cada um se exprima como Ele o<br />
criou e que um compreenda o outro.<br />
A fantasia do ocidental e a do oriental<br />
Há outro aspecto muito bonito. Essa catedral não tem<br />
nada do minarete. Numa mesquita mulçumana, o minarete<br />
é aquela torre fininha do alto da qual canta um muezim.<br />
Quase diríamos que o vento vai derrubá-la. Contudo,<br />
o oriental se agrada em vê-la enfrentando o vento, como<br />
um sonho que foi concebido sem base na terra.<br />
Em Colônia, ao contrário, não há a fantasia do<br />
Oriente. A catedral representa a fantasia do ocidental,<br />
muito diferente. Trata-se de algo sólido, de um mundo<br />
de pedras, de uma base muito forte. As torres, possantes,<br />
estão cravadas no chão até o momento em que se<br />
separam.<br />
Assim age o ocidental, em particular o alemão, que é<br />
verdadeiramente sólido: mesmo quando sobe às mais altas<br />
divagações, tem os pés na realidade.<br />
Aqui está algo do espírito católico quando sopra em<br />
uma alma alemã. Tirem a Religião Católica, e o alemão<br />
jamais dará nisso. Quer dizer, todos fomos concebidos<br />
no pecado original e nós, menos a graça, somos iguais a<br />
nada. Dessa equação ninguém escapa.<br />
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