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Lugares de Lisboa em tempo de pandemia...
Lugares vazios
Almas escondidas, resguardadas do bicho cada vez mais virulento.
Sons humanos abafados pelo vazio de movimento(s).
O rio que passa sem estórias presentes para contar. Talvez passadas. Certamente
futuras, quando as gentes a ele voltarem e o olharem com o amor de sempre.
As cidades continuam a descontinuar pessoas pela crueldade da doença.
As cidades continuam obrigadas aos gestos interrompidos pelo susto da pandemia.
Os objectos abandonados, como se fossem brinquedos de que nos cansámos.
Os espaços parecem mais amplos.
Os espaços parecem mais tristes.
Os espaços curvam-se sobre si mesmos. Parados.
Na verdade os espaços respiram melhor. Mais desafogadamente.
E depois o silêncio. Que esmaga.
E a solidão dos raros. Que dói. ••
• António Barroso Cruz • Fotos: António Barroso Cruz
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