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tar ser feliz em cada momento e
deixar o melhor de mim aos outros,
àqueles que amo. Admito, no entanto,
que tenho objetivos e esses
passam sempre pela imperativa necessidade
de aprender mais e atualizar
o meu discurso estético ou artístico.
Desse modo, gostaria muito
de prosseguir com a investigação,
que tenho vindo a desenvolver e
continuar minha formação académica.
No plano da minha realização
artística, são tantos os museus,
de todo o mundo, que gostaria de
expor ou desenvolver projetos de
curadoria. Se é certo que expor é
sempre uma forma de reconhecimento,
pelos espectadores, por outro
lado é fundamentalmente uma
forma de partilha com outros. Um
autor ao expor, expõe-se e dá a sua
visão crítica sobre o estado da sociedade
e do mundo, possibilitando
tantas vezes, aos outros a esperança
de sonhar. Gosto de um livro
de André Comte-Sponville, intitulado
«A Felicidade, desesperadamente»
que fala do facto de estarmos
separados da felicidade pela
nossa própria incapacidade de nos
libertarmos da nossa esperança
ou dos nossos sonhos e ambições.
Acredito que a felicidade acontece
agora, por isso luto por todos os dias
por essa felicidade e tentar fazer os
outros mais felizes.
Como vê as artes na atualidade?
- A arte contemporânea é profundamente
auto-referencial à própria
história da arte. Daí que os artistas
que se confrontam com a dificuldade
de conseguir acrescentar algo
“novo” ao já criado anteriormente.
Toda a arte depois de Marcel Duchamp
e Piero Manzoni, não só é
auto-referencial é também identitária,
interdisciplinar e “intermedial”.
Se por um lado arte assume a
estratégia de auto-legitimação, negando
a sua própria condição, por
outro lado possibilita a desconstrução
de mitos e conceitos pré-estabelecidos.
A crise contemporânea
é consequência não só da decadência
das políticas e económicas
das últimas décadas, mas também
uma crise cultural. A cultura e a arte
tem vindo a ser sucessivamente
instrumentalizada como ferramenta
de controlo pelas elites económicas
ou pelos decisores políticos,
fazendo uso de estratégias de sedução
mediática e de alienação coletiva,
para que as sociedades contemporâneas
sejam cada vez mais
acríticas e despolitizadas. A arte em
vez de estar comprometida com o
progresso da humidade e ser um
importante instrumento na realização
de uma verdadeira democracia
cultural, tem vindo a corroborar
as estratégias de mercado que
levaram ao estado a que chegámos.
A cultura do entretenimento
e a globalização cultural contribuíram
para a perda dos sentimentos
de pertença identitária de uma comunidade
e substituiu o lugar cívico
de participação política, pelo lugar
de distração e lazer hedonista,
contribuindo para a “estupidificação
coletiva”. Contribuindo para
acentuar o distanciamento das pessoas,
em relação à arte. A crise nos
múltiplos setores artísticos e culturais,
com diferentes especificidades,
foi acentuada com a atual
situação pandémica. Mas a pandemia
não serve de justificação por si,
importa denunciar o subfinanciamento
público das instituições culturais
e de ensino, desde há décadas.
Preocupa-me o facto, da arte
estar de novo confrontada com fenómenos
de censura moral e ideológica
e novas “iconoclastias”. Parafraseando
Heinrich Hein, numa
sociedade “onde se queimam livros,
acabam queimando homens”.
Mas como disse o Professor Onésimo
Teotónio de Almeida, “quando
faltar a esperança. estaremos todos
lixados!” ••
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