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fi198[online]

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tar ser feliz em cada momento e

deixar o melhor de mim aos outros,

àqueles que amo. Admito, no entanto,

que tenho objetivos e esses

passam sempre pela imperativa necessidade

de aprender mais e atualizar

o meu discurso estético ou artístico.

Desse modo, gostaria muito

de prosseguir com a investigação,

que tenho vindo a desenvolver e

continuar minha formação académica.

No plano da minha realização

artística, são tantos os museus,

de todo o mundo, que gostaria de

expor ou desenvolver projetos de

curadoria. Se é certo que expor é

sempre uma forma de reconhecimento,

pelos espectadores, por outro

lado é fundamentalmente uma

forma de partilha com outros. Um

autor ao expor, expõe-se e dá a sua

visão crítica sobre o estado da sociedade

e do mundo, possibilitando

tantas vezes, aos outros a esperança

de sonhar. Gosto de um livro

de André Comte-Sponville, intitulado

«A Felicidade, desesperadamente»

que fala do facto de estarmos

separados da felicidade pela

nossa própria incapacidade de nos

libertarmos da nossa esperança

ou dos nossos sonhos e ambições.

Acredito que a felicidade acontece

agora, por isso luto por todos os dias

por essa felicidade e tentar fazer os

outros mais felizes.

Como vê as artes na atualidade?

- A arte contemporânea é profundamente

auto-referencial à própria

história da arte. Daí que os artistas

que se confrontam com a dificuldade

de conseguir acrescentar algo

“novo” ao já criado anteriormente.

Toda a arte depois de Marcel Duchamp

e Piero Manzoni, não só é

auto-referencial é também identitária,

interdisciplinar e “intermedial”.

Se por um lado arte assume a

estratégia de auto-legitimação, negando

a sua própria condição, por

outro lado possibilita a desconstrução

de mitos e conceitos pré-estabelecidos.

A crise contemporânea

é consequência não só da decadência

das políticas e económicas

das últimas décadas, mas também

uma crise cultural. A cultura e a arte

tem vindo a ser sucessivamente

instrumentalizada como ferramenta

de controlo pelas elites económicas

ou pelos decisores políticos,

fazendo uso de estratégias de sedução

mediática e de alienação coletiva,

para que as sociedades contemporâneas

sejam cada vez mais

acríticas e despolitizadas. A arte em

vez de estar comprometida com o

progresso da humidade e ser um

importante instrumento na realização

de uma verdadeira democracia

cultural, tem vindo a corroborar

as estratégias de mercado que

levaram ao estado a que chegámos.

A cultura do entretenimento

e a globalização cultural contribuíram

para a perda dos sentimentos

de pertença identitária de uma comunidade

e substituiu o lugar cívico

de participação política, pelo lugar

de distração e lazer hedonista,

contribuindo para a “estupidificação

coletiva”. Contribuindo para

acentuar o distanciamento das pessoas,

em relação à arte. A crise nos

múltiplos setores artísticos e culturais,

com diferentes especificidades,

foi acentuada com a atual

situação pandémica. Mas a pandemia

não serve de justificação por si,

importa denunciar o subfinanciamento

público das instituições culturais

e de ensino, desde há décadas.

Preocupa-me o facto, da arte

estar de novo confrontada com fenómenos

de censura moral e ideológica

e novas “iconoclastias”. Parafraseando

Heinrich Hein, numa

sociedade “onde se queimam livros,

acabam queimando homens”.

Mas como disse o Professor Onésimo

Teotónio de Almeida, “quando

faltar a esperança. estaremos todos

lixados!” ••

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