Diogo Goes“Adoro desafios,não os recuso”• Dulcina Branco• Fotos: D.R. (direitos reservados)4
Assinalou, em outubro de 2020, quinze anos de percursonas artes, momento este que foi aproveitado para fazer umbalanço à carreira e às artes e que resultou nesta entrevista.Diogo Goes é professor do ensino superior no InstitutoSuperior de Administração e Línguas, onde leciona Históriada Arte e História de Portugal na Licenciatura de Turismo.Licenciado em Artes Plásticas - Pintura pela Faculdadede Belas Artes da Universidade do Porto, tem formaçãoavançada em gestão e financiamento de organizações eprojetos culturais, em metodologias de investigação e nasáreas da pedagogia. Como artista plástico, realizou maisde cinquenta exposições individuais e participou em maisde duas centenas de exposições colectivas em todo o paíse estrangeiro, tendo participado em bienais em Milão,Génova, Salvador da Bahia e São Paulo. Em Portugal,participou nas bienais de Gaia e Cerveira entre outras.Recebeu prémios e bolsas.“Preocupa-me o factode, a arte estar de novoconfrontada com fenómenosde censura morale ideológicae novas “iconoclastias””É artista plástico, professor, curador,autor de artigos científicos...A eleger uma área, qual é aquelaque sente que é mais a sua ‘praia’?- Esta é uma pergunta difícil de responder...Emjeito de provocação,respondo que talvez prefira olhar omar, que abraça todas as (minhas)praias e pela sua imensidão, envolveo orbe, possibilitando todosos sonhos, todas as viagens todasas partilhas. Mais do que me realizarprofissionalmente, é importantepara mim realizar-me comoser humano, que deve deixar rasto,contribuindo para o progresso dasociedade e da comunidade ondese insere. Ser professor talvez sejaa vocação mais bonita e gratificante,porque quando partilho conhecimento,recebo mais do que aquiloque sou capaz de dar. Acreditoque, os meus alunos são os melhoresalunos do mundo e tento motivá-losnesse sentido da realizaçãopessoal e na busca da felicidade. Odesenvolvimento da tolerância, dorespeito pela diferença é uma tarefadas expressões artísticas e dashumanidades. Ser professor é paramim, simultaneamente uma vocaçãoe uma oportunidade de partilhae talvez seja por isso, a minhaescolha. No entanto, devo realçarque ser artista plástico e curadorsão outras formas de partilhae, por isso, de aproximação às pessoas.Porque tantas vezes, a generalidadedas pessoas estão distantesdo sistema das artes e inteligibilidadedas obras e das narrativas. Confessoque, apesar das inúmeras exposiçõesem que participo todos osanos e da velocidade com que trabalho,falta-me cada vez mais tempopara pintar tanto como queria.Sentimento de dever e compromissoé a motivação para continuar apintar, errar e superar-me continuamente.Acredito que devo darprovas, continuamente, pois estasservem, acima de tudo, para mequestionar sobre a qualidade doque faço. A aproximação da arte àspessoas e a captação de novos públicos,nomeadamente para a artecontemporânea, é um desafiomaior porque obriga a de sistematizarpreconceitos do sistema da artee estabelecer novas relações e narrativasque aproximem as pessoas.Ter a capacidade de acrescentar algoà história da arte ou conseguirque a arte possibilite a mudança dementalidades, é um desafio paravárias gerações. E cabe a todos osartistas e curadores e profissionaisdas artes desempenhar essa tarefa,apesar de todas as dificuldades. Éportanto, um desafio e quem meconhece, sabe que adoro desafios,não os recuso. É como em Shakespeare:“enfrento qualquer tempestade”.A destacar um momento ‘alto’ dasua carreira, esse momento seria...- Talvez ainda não tenham sidomuitos os “momentos altos” nomeu percurso mas tentei que cadaum deles fosse baste significativona minha aprendizagem quotidiana.É sempre difícil escolher, mastalvez deva destacar as boas recordaçõesda minha estreia na FundaçãoSerralves e as minhas exposiçõesno estrangeiro, nas bienais emSalvador da Bahia, São Paulo, Milãoe em Portugal em Gaia e Cerveira.Definir momentos altos implicadesenvolver muito trabalho,aprimorá-lo e ter a humildade deaprender com grandes Mestres eexcelentes professores. Tenho desenvolvido,com muitos deles, umaamizade genuína, que me faz lembrarcontinuamente o que é essencialna vida e que não devo entronizaros sucessos do passado, mascontinuar a trabalhar para o futuro,tentando fazer sempre melhor.O que gostaria de vir a concretizare que ainda não concretizou?- Falta-me tanto... Prefiro deixara vida acontecer em vez de projetarambições, porque poderei estara confundi-las com sonhos. E possocorrer o risco de não concretizá--los. Acredito que o essencial é ten-5