Sapeca 29
Misto de sapo e perereca Nº 29 – Junho/202l – Editor: Tonico Soares
Misto de sapo e perereca
Nº 29 – Junho/202l – Editor: Tonico Soares
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cia estava sob intervenção do Banco Central, o que no Brasil não se sabia. Era no
tempo da ditadura, entende-se, e a notícia só veio à baila semanas depois. Também,
Roberto dixit, Yana, irmã da cantora Flora Purim, se jogou pela janela e
jornais, revistas, rádios e TVs não deram uma nota sequer. No caso, a pedido do
viúvo, dono de agência de propaganda e estas ficam entre a imprensa e os anunciantes,
que financiam ambas e são eles os donos da verdade, se lhes convier.
Em relação à senhora suicida, por ser um assunto “de família” que não
envolvia interesses da população, custava nada moitar – hoje, com as chamadas
redes sociais, seria mais difícil. O Pasquim, a propósito, era “imprensa nanica” e
independente, não dependesse também de anunciantes, daí comprar briga, por
exemplo, com a especulação imobiliária, mas esta não anunciava em suas páginas.
Pra encerrar: revi um antigo Roda Viva com a impagável Maria da Conceição
Tavares e ela disse que só saía no e na Globo quando algo na economia dava
errado e não podiam mais pôr “panos quentes”. Motivo: ela previa tudo.
P. S.: o dito dono de agência foi meu patrão e um dia o vi parado num sinal em Copacabana.
No que atravessava uma beldade, apertou um botão e a antena emergiu
reluzente da capota de sua Mercedes, como se fosse a pica dele. Viúvo, conquistou a
mais bela funcionária da empresa, desquitada e bem mais jovem, sempre os interesses,
pois é. Um colega que era amante dela entrou em parafusos e roeu uma beirada
de penico, porém, com o tempo, ela arranjou as coisas. Convenceu o bondoso senhor
de que sempre fora uma mulher ativa e recebera convite pra ser gerente da loja
Company, de Ipanema, convite aceito. Ganhou mais liberdade e convocou o examante
pra chifarem o milionário. Acrescento que o parceiro, galanteador incorrigível,
lutava karatê e tinha porte de arma.Um homem prevenido vale por dois, ele caçoava,
rindo. Se matasse ou morresse, naquele contexto, poderia ser ou não ser notícia,
em se tratando de gente importante, com poderes para manipular a mídia.
Continuando nas letras
Falei que Paulo Henriques Brito abandonou o verso livre, passando a poetar
na linha traçada por João Cabral, se possível, “nos aceiros da prosa”, como
disse o recifense. Pra mim, o dito verso soa como anotações à espera de acabamento,
mesmo em Drummond, às vezes fico apático. O pintor Slotti certa vez
perguntou por que eu não escrevia sobre seus quadros e respondi que não assimilo
a pintura figurativa, pós-impressionismo. Em poesia, o oposto: tenho mais
queda pelos métodos anteriores ao modernismo, sem desprezar outras ondas,
como a dos concretos, porque ali sente-se que suaram a camisa, não é uma coisa
simplesmente jogada no papel. Já a figuratividade expressionista de Altamir Soares
me bate a passarinha, a caminho da arte abstrata, que mais me apraz, idem, a
primeira fase de Jorge Napoleão. A propósito de Slotti, ele escreveu contos bem
interessantes, depois salvos em pen drive que contém vírus. E foram pro beleléu.
Evandro Nunes da Silva – Escritor do qual só li o conto A fantástica máquina
de fazer linguiça. Antes de continuar, protesto contra a extinção do trema, no
presente caso, necessário, até porque não se pronuncia de forma igual, por exemplo,
as duas sílabas finais de “linguiça” e “enguiça”. Isto posto, é um conto apenas
meio sapeca: pai leva filho para conhecer a dita máquina e explica o mecanismo.
Um burro “escorrega por esses tubos e lá na saída caem várias linguiças
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