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Boogie Naipe
A ideia de gerenciar o grupo de rap do
marido surgiu ainda durante as aulas
de direito empresarial, na faculdade,
mas permaneceu na gaveta por vários
anos. Em 2013, ela e Mano Brown decidiram
abrir uma produtora, a Boogie
Naipe, que ficaria responsável por cuidar
apenas da carreira solo dele. Quando
veio o convite para assumir a gestão
dos Racionais, Eliane demorou seis meses
para dar a resposta. “Estava com
meu escritório de advocacia montado,
a vida organizada, feliz e pensando em
não aceitar. Mas alguém me falou que o
legado dos Racionais era a herança dos
meus filhos e percebi que precisava organizar
aquilo”, afirma. “Fui passional.
Coloquei a paixão pelos meus filhos à
frente da racionalidade de seguir a minha
carreira”, afirma. “Pensando na
minha carreira, não foi uma decisão inteligente
da minha parte, mas eu precisava
fazer aquilo e me dei um prazo de
três anos”, diz.
Quando finalmente assumiu o cargo,
percebeu o tamanho da treta. Os
Racionais tinham 25 anos de história
completamente desorganizada
e mais de 2 mil redes sociais falsas
usando o nome do grupo ou de seus
integrantes. Não havia produtos licenciados
oficiais, apenas pirateados. “A
bagunça favorecia todo mundo, menos
a banda”, informa.
Eliane chegou impondo respeito: trouxe
uma metodologia de trabalho, com
horários e cronogramas a serem obedecidos.
“Eles estavam acostumados a
ser livres e falavam que a palavra deles
já valia. Comigo não. Eu sou advogada.
Comigo, o que vale é o que está escrito
e assinado. A partir de então, eles
só iam para um show depois que todo
o cachê estivesse pago”, lembra. Pouco
depois de Eliane assumir a Boogie
Naipe, os Racionais lançaram um novo
disco depois de um hiato de 12 anos, o
Cores & Valores, que foi eleito o melhor
álbum nacional de 2014 pela revista
Rolling Stone Brasil.
À frente da Boogie Naipe, Eliane estabeleceu
uma meta ousada para o
grupo, e decidiu que a banda de rap se
apresentaria em uma grande casa de
shows. “O povo negro merecia cantar e
ir assistir a um show em um lugar onde
todo mundo é tratado com respeito.
Com segurança, banheiro limpo, acústica
e equipamento de primeira”, diz.
O grupo resistiu enquanto pôde, mas
a empresária conseguiu convencê-los
com o argumento de que o rap deu voz
a quem não tinha, e estava na hora de
levar essa voz para outros lugares. E
ela levou mesmo. Em 2019, os Racionais
estrearam no Credicard Hall, em
São Paulo, em três apresentações que
resultaram no DVD Três Décadas.
A mão de ferro e a visão de futuro de
Eliane prepararam a equipe para eventuais
emergências. E a emergência veio
este ano: o coronavírus, que paralisou
toda a indústria de entretenimento,
cancelou a agenda de shows do grupo
em 2020, mas, com as contas organizadas,
ninguém precisou passar aperto.
Hoje, além do grupo de rap mais famoso
do Brasil, Eliane gerencia a carreira
de outros cantores, entre eles a Liniker.
“Sinto muita saudade de trabalhar
como advogada, de ler, de ter aquele
papel de conciliadora, de cuidar. Mas
acho que faço isso de uma forma diferente
agora”, afirma.
“Todas as metas que coloquei no meu
caminho, eu cumpri. E essa é uma
lição que aprendi desde cedo: se você
estabelece uma meta e cumpre, então
você é bem-sucedida. Não importa
se a sua é fazer uma caminhada
ou uma faculdade”
EDIÇÃO DE ESTREIA • PÁG. 36