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P
ara quem vive de apresentações, o ano de 2020 tem
sido um interminável pesadelo. Por causa da pandemia
da Covid-19, a coreógrafa e diretora Deborah Colker
viu seus planos virarem do avesso. Mas nem o novo coronavírus
conseguiu parar por muito tempo essa carioca de 60
anos que carrega um currículo de peso: foi a primeira mulher
a dirigir um show do Cirque du Soleil, Ovo, de 2009; atuou
como diretora de movimento das cerimônias da Olimpíada
de 2016; soma 13 espetáculos produzidos pela companhia de
dança que leva seu nome; e contabiliza prêmios importantes
na carreira, como o Benois de la Danse, de melhor coreografia
por Cão sem Plumas, em 2018.
Na última virada de ano, embora tivesse acabado de perder
o patrocínio da Petrobras, a Companhia de Dança Deborah
Colker vislumbrava um 2020 promissor. “Eu estava fazendo
um trabalho muito legal para a Alemanha, para a celebração
dos 250 anos de nascimento de [Ludwig Van] Beethoven. O
show se chamaria No Mundo da Lua, em referência a Sonata
ao Luar, do compositor. Minha companhia também estava
migrando para um novo formato, e eu estava ensaiando outro
espetáculo com meu grupo de dança. Veio a pandemia e
créu!”, desabafa a diretora, que teve o projeto em parceria
com a Alemanha cancelado em decorrência do novo coronavírus.
A estreia da atração que a companhia apresentaria em
Londres, em janeiro de 2021, foi adiada.
Mas a pandemia não foi o primeiro obstáculo de Deborah
este ano. Em março, sua companhia enfrentou um surto de
sarampo – o Brasil havia erradicado a doença infectocontagiosa
em 2016, mas registrou quase 15 mil casos no ano passado.
Nove pessoas do grupo acabaram contaminadas, entre
elas Deborah. Por causa do sarampo, Deborah ficou quatro
dias internada. Quando deixou o hospital, a pandemia de
Covid-19 havia sido declarada pela Organização Mundial da
Saúde (OMS). “Comentei com Bonder [o rabino e escritor Nilton
Bonder], que está trabalhando comigo, quando saí do hospital:
‘Voltei ao mundo!’. Ele me respondeu, de forma bem-humorada:
‘Pena que o mundo acabou’”, lembra.
“Entendi que a cura que estou buscando é da natureza
humana. Que ser é esse que não entende que as
diferenças são positivas? E que a ignorância talvez
seja a maior tragédia humana?”
Espetáculo Cão sem Plumas. Foto: Cafi
EDIÇÃO DE ESTREIA • PÁG. 40