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Discutindo Práticas em Matemática - TV Brasil

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SUMÁRIO<br />

PROPOSTA PEDAGÓGICA<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA .................................................................................. 03<br />

Elizabeth Belfort<br />

Colaboração de Ana Teresa Carvalho Correa de Oliveira e Mônica Mandarino<br />

PGM 1<br />

CONCEITO OU PROCEDIMENTO: ALGUNS CAMINHOS .............................................................. 13<br />

Elizabeth Belfort, Ana Teresa de Carvalho Correa de Oliveira e Mônica Mandarino<br />

PGM 2<br />

O TRABALHO DO ALUNO ................................................................................................................ 21<br />

Elizabeth Belfort, Mônica Mandarino, Flávia Renata Coelho<br />

PGM 3<br />

DA INFORMAÇÃO À CONCEITUAÇÃO: A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES ............................ 28<br />

Ana Teresa de Carvalho Correa de Oliveira e Elizabeth Belfort<br />

PGM 4<br />

DIFERENTES SIGNIFICADOS DE UM MESMO CONCEITO: O CASO DAS FRAÇÕES ............... 38<br />

Cleiton Batista Vasconcelos e Elizabeth Belfort<br />

PGM 5<br />

A MATEMÁTICA COMO UMA REDE DE CONHECIMENTOS: O TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO<br />

.............................................................................................................................................................. 48<br />

Mônica Mandarino e Cileda de Queiroz e Silva Coutinho<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 2 .


PROPOSTA PEDAGÓGICA<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA<br />

Elizabeth Belfort 1<br />

Colaboração de Ana Teresa de Carvalho Correa de Oliveira 2 e Mônica Mandarino 3<br />

Nesta série de programas, busca-se discutir três perguntas: O que é ser mat<strong>em</strong>aticamente<br />

competente? Que abordag<strong>em</strong> da Mat<strong>em</strong>ática deve ser valorizada? Que caminhos o(a)<br />

professor(a) pode trilhar para proporcionar ao aluno um verdadeiro saber mat<strong>em</strong>ático?<br />

A Mat<strong>em</strong>ática t<strong>em</strong> muita importância na vida das pessoas. O dia-a-dia está cheio de situações<br />

nas quais lidamos com o número, com as operações, com o pensamento combinatório, com a<br />

proporcionalidade, com a organização espacial, etc. No comércio, na indústria e nas mais<br />

simples atividades cotidianas, nós nos val<strong>em</strong>os de diferentes conceitos e habilidades<br />

mat<strong>em</strong>áticas. A aplicação dos conhecimentos mat<strong>em</strong>áticos também se amplia nas ciências <strong>em</strong><br />

geral. O pensamento mat<strong>em</strong>ático b<strong>em</strong> desenvolvido e um bom domínio de conceitos são<br />

fundamentais para a atuação crítica e autônoma do sujeito na realidade na qual está inserido.<br />

Seja qual for a futura área de atuação de nossos alunos, eles vão se deparar com situações <strong>em</strong><br />

que necessitam compreender, utilizar e aperfeiçoar conceitos e procedimentos mat<strong>em</strong>áticos.<br />

Assim, num mundo cada vez mais complexo, é preciso estimular e desenvolver habilidades<br />

que permitam resolver probl<strong>em</strong>as, lidar com informações numéricas, interpretando-as crítica e<br />

independent<strong>em</strong>ente, para, a partir delas, tomar decisões, fazer inferências, opinar sobre t<strong>em</strong>as<br />

que as envolv<strong>em</strong>, desenvolvendo a capacidade de comunicação e de trabalho coletivo.<br />

No entanto, este tipo de competência mat<strong>em</strong>ática não t<strong>em</strong> recebido a devida ênfase, como<br />

mostram os resultados do des<strong>em</strong>penho de nossos alunos <strong>em</strong> avaliações nacionais, como o<br />

SAEB, e internacionais, como o PISA. Ao longo de muito t<strong>em</strong>po, pod<strong>em</strong>os observar um<br />

ensino de Mat<strong>em</strong>ática que privilegia a disciplina do pensamento, enfatiza definições,<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 3 .


procedimentos e estratégias únicas de resolução de probl<strong>em</strong>as, por ex<strong>em</strong>plo. Além disso, na<br />

organização curricular, a principal preocupação recai sobre uma estrutura hierarquizada, cheia<br />

de pré-requisitos, na qual o aluno não consegue correlacionar conceitos e adotar diferentes<br />

abordagens no seu fazer mat<strong>em</strong>ático. Esta postura conduziu a um ensino s<strong>em</strong> preocupação<br />

pedagógica, que não leva <strong>em</strong> conta os conhecimentos prévios, o desenvolvimento cognitivo,<br />

os interesses e a motivação dos alunos. Nesta concepção, professores e alunos acabam<br />

valorizando a m<strong>em</strong>orização e a repetição, as regras e “macetes”, ex<strong>em</strong>plos de procedimentos<br />

para ser<strong>em</strong> reproduzidos e probl<strong>em</strong>as típicos que, na maioria das vezes, são artificiais.<br />

As idéias acerca de quão difícil e abstrata é a Mat<strong>em</strong>ática, de como ela se fundamenta <strong>em</strong><br />

normas, símbolos e procedimentos desprovidos de significado, e de que seu aprendizado<br />

exige o uso de uma terminologia incompreensível estão fort<strong>em</strong>ente presentes nas concepções<br />

das pessoas. A Mat<strong>em</strong>ática é, freqüent<strong>em</strong>ente, vista desta forma pelos alunos, e até mesmo<br />

por pessoas que não mais freqüentam a escola, quando r<strong>em</strong><strong>em</strong>oram suas histórias com esta<br />

disciplina. Não foi e não é à toa que isso acontece! As práticas de ensino nessa área têm sido<br />

marcadas por isolar a Mat<strong>em</strong>ática do mundo, desconectá-la de suas aplicações, entendendo-a<br />

quase que exclusivamente como o domínio de técnicas operatórias e algoritmos e baseando<br />

nesses processos a sua aprendizag<strong>em</strong>.<br />

Na elaboração desta série, partimos de outras concepções. Esperamos contagiá-lo(a) com<br />

nossas esperanças de um ensino de Mat<strong>em</strong>ática mais eficiente, mais prazeroso para os alunos<br />

e que forneça a nós, professores, opções para trilhar uma renovação evitando sobressaltos e<br />

incertezas. Por isso, esta série foi pensada como uma conversa entre colegas de profissão que<br />

têm muito a trocar. Os textos associados apresentam materiais para discussão, ex<strong>em</strong>plos e<br />

sugestões de atividades e experiências testadas por professores e pesquisadores que atuam <strong>em</strong><br />

diferentes escolas e com os mais variados tipos de alunos.<br />

O que é ser mat<strong>em</strong>aticamente competente?<br />

Por muitas vezes, a competência mat<strong>em</strong>ática é identificada como a habilidade das pessoas <strong>em</strong><br />

realizar cálculos, ou como aptidão de fazer contas com o uso dos algoritmos. Está claro que<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 4 .


tais habilidades são importantes para as pessoas viver<strong>em</strong> com autonomia, mas a formação dos<br />

alunos deve ir além disso. Desenvolver um ensino baseado no domínio e bom uso de<br />

procedimentos, de forma mecânica e m<strong>em</strong>orizada, não ajuda os alunos a ser<strong>em</strong><br />

mat<strong>em</strong>aticamente competentes.<br />

Um dos pressupostos básicos, considerados na elaboração desta série, é a importância<br />

indiscutível de se proporcionar uma sólida formação conceitual às crianças, no decorrer da<br />

educação básica. Aprender Mat<strong>em</strong>ática é um direito de todas elas, sendo fundamental para<br />

que se desenvolvam como indivíduos integrados socialmente. Além disso, conhecer as idéias<br />

e os métodos próprios da Mat<strong>em</strong>ática permite que os alunos apreci<strong>em</strong> o seu valor e entendam<br />

a sua natureza.<br />

Dev<strong>em</strong>os compreender que de nada servirão os conhecimentos mat<strong>em</strong>áticos supostamente<br />

aprendidos na escola, se os alunos não for<strong>em</strong> capazes de mobilizá-los <strong>em</strong> situações concretas<br />

de uso, na escola ou na própria vida. Nesse sentido, desenvolver a competência mat<strong>em</strong>ática<br />

dos nossos alunos implica, além de um trabalho b<strong>em</strong> feito que favoreça a construção de<br />

conhecimentos, dar-lhes condição de identificar e usar os conhecimentos necessários para<br />

buscar respostas diante de uma situação a ser resolvida. Como pod<strong>em</strong>os orientar o processo de<br />

ensino e aprendizag<strong>em</strong> da Mat<strong>em</strong>ática de modo a contribuir para a formação de alunos<br />

mat<strong>em</strong>aticamente competentes?<br />

Encontrando caminhos<br />

Pelos motivos que apresentamos, defende-se que a Mat<strong>em</strong>ática deva ser ensinada de maneira<br />

contextualizada, levando <strong>em</strong> conta os interesses dos alunos com ênfase na formação de<br />

conceitos e não na mecanização de regras e procedimentos. Assim, busca-se discutir situações<br />

que possibilit<strong>em</strong> a construção dos conceitos e procedimentos formadores do pensamento<br />

numérico e mat<strong>em</strong>ático. Nesta série, procuramos destacar a importância de se trabalhar com<br />

os diferentes significados de um mesmo conteúdo e também discutir uma abordag<strong>em</strong><br />

curricular que tire proveito das correlações entre conceitos mat<strong>em</strong>áticos de diferentes<br />

campos. Para isso, escolh<strong>em</strong>os alguns assuntos normalmente ensinados nas séries iniciais do<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 5 .


Ensino Fundamental que, além de merecer<strong>em</strong> uma nova abordag<strong>em</strong>, costumam ser pouco<br />

discutidos nos textos e cursos de formação continuada de professores, como frações e o<br />

campo de tratamento da informação.<br />

Para ser mat<strong>em</strong>aticamente competente, a formação integral da criança, <strong>em</strong> especial nas séries<br />

iniciais, precisa estimular o estabelecimento de analogias, conexões, reconhecimento de<br />

regularidades e generalizações. Além disso, as necessidades de utilização de conteúdos e<br />

técnicas mat<strong>em</strong>áticas, na vida real, não se apresentam de forma isolada e, assim, para ajudar<br />

nesta discussão, algumas das atividades e probl<strong>em</strong>as apresentados incentivam a articulação<br />

entre conteúdos mat<strong>em</strong>áticos e conteúdos de outras disciplinas.<br />

Defend<strong>em</strong>os também o respeito ao desenvolvimento cognitivo dos alunos. As abstrações e<br />

nomenclaturas dev<strong>em</strong> ser introduzidas aos poucos, juntamente com uma boa familiarização<br />

do pensamento numérico, tornando os alunos capazes de: avaliar ord<strong>em</strong> de grandeza e fazer<br />

estimativa; efetuar cálculos mentais; reconhecer padrões; criar suas próprias estratégias e<br />

testá-las; comunicar-se defendendo suas idéias e opiniões. Além disso, a aprendizag<strong>em</strong> de<br />

Mat<strong>em</strong>ática precisa ser conduzida de modo que conhecimentos já adquiridos se ampli<strong>em</strong><br />

progressivamente, evidenciando que os conceitos se articulam e ampliam numa rede de<br />

conhecimentos. É preciso, também, identificar princípios gerais que permitam a transferência<br />

de um conhecimento para novas situações. Ampliações de um campo de saber pod<strong>em</strong> surgir a<br />

partir de uma nova aplicação, de um novo enfoque ou um olhar diferente, uma<br />

probl<strong>em</strong>atização que gere uma nova necessidade de aprendizag<strong>em</strong>, para a qual o que já se<br />

conhece não basta ou precisa adquirir novos significados.<br />

Entretanto, <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática, algumas habilidades técnicas dev<strong>em</strong> ser dominadas já que, para<br />

resolver um probl<strong>em</strong>a, além de elaborar boas estratégias, é preciso saber efetuar as operações<br />

necessárias com rapidez e correção. Da mesma forma, a linguag<strong>em</strong> simbólica da Mat<strong>em</strong>ática,<br />

com suas convenções, precisa ser utilizada adequadamente. Aos poucos, na prática de resolver<br />

probl<strong>em</strong>as, o domínio das técnicas e da linguag<strong>em</strong> será incorporado, s<strong>em</strong> necessidade de<br />

realizar treinamentos áridos, como um fim <strong>em</strong> si mesmos. Por isso, discutir<strong>em</strong>os a<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 6 .


importância de atividades e probl<strong>em</strong>as que se constitu<strong>em</strong> <strong>em</strong> desafios de crescimento, cujo<br />

contexto é a própria Mat<strong>em</strong>ática.<br />

Para um melhor des<strong>em</strong>penho <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática, é indispensável que o aluno seja agente ativo<br />

da construção de seu próprio conhecimento e, por isso, valorizamos a metodologia de<br />

resolução de probl<strong>em</strong>as, s<strong>em</strong> nunca esquecer a necessidade de sist<strong>em</strong>atizar, consolidar e<br />

fixar os conhecimentos adquiridos. Você terá oportunidade de verificar, durante o<br />

desenvolvimento da série, que o papel do professor é tão ativo quanto o do aluno.<br />

Um outro aspecto de grande relevância para nossa discussão é o acompanhamento do trabalho<br />

dos alunos. Esta prática visa auxiliar a identificação das dificuldades vivenciadas pelo aluno,<br />

para que o professor possa propor novas experiências que contribuam para a superação de<br />

etapas. Hoje, com a grande heterogeneidade dos alunos, é essencial levar <strong>em</strong> conta as<br />

diferenças, por vezes profundas, entre eles e entre diferentes salas de aula. Esta visão está<br />

especialmente baseada <strong>em</strong> uma nova abordag<strong>em</strong> do erro. A reflexão do professor sobre o<br />

processo de resolução, desenvolvido pelo aluno, que o levou ao erro, muitas vezes, facilita<br />

identificar onde se dá o “nó” na construção do conhecimento, permitindo planejar ações para<br />

intervir no processo. É fundamental, também, l<strong>em</strong>brar que, quase s<strong>em</strong>pre, um probl<strong>em</strong>a<br />

admite vários encaminhamentos e formas de resolução. É importante discutir e valorizar<br />

diferentes soluções propostas pelos alunos, que dev<strong>em</strong> exercitar a habilidade de expor e<br />

defender seus argumentos.<br />

Para favorecer a construção do conhecimento mat<strong>em</strong>ático autônomo e produtivo, por parte<br />

dos alunos, é necessário incentivar a experimentação, valorizar as estratégias por eles<br />

escolhidas para resolver um probl<strong>em</strong>a, incentivar que tent<strong>em</strong> expô-las, por escrito ou<br />

oralmente. Ou seja, a sala de aula deve proporcionar momentos de produção e reflexão<br />

individual para os alunos. Como a capacidade de trabalhar <strong>em</strong> grupo é cada vez mais<br />

importante na sociedade moderna, esta prática também é bastante incentivada. A troca de<br />

idéias entre pares de alunos ajuda-os a aprofundar uma discussão, comparar estratégias,<br />

elaborar hipóteses e descobrir a solução para um impasse. O trabalho coletivo com toda a<br />

turma, orientado pelo professor, também cria boas oportunidades para troca de idéias e<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 7 .


compartilhamento de seus saberes, o que desenvolve habilidades de defesa e negociação, o<br />

uso adequado da linguag<strong>em</strong> e a sist<strong>em</strong>atização de conceitos.<br />

Esta nova sala de aula pede um novo papel para o professor, e a série busca discutir aspectos<br />

desta nova prática didática. O que significa o professor como orientador da aprendizag<strong>em</strong>? É<br />

possível ajudar as crianças a encontrar<strong>em</strong> seus próprios caminhos e motivar a reflexão, a<br />

discussão e as descobertas? Como utilizar perguntas adequadas aos objetivos previamente<br />

planejados, ajudando os alunos a trilhar um caminho que leve à construção de conceitos<br />

relevantes para sua vida?<br />

Finalmente, não pod<strong>em</strong>os desconsiderar os recursos que o professor pode utilizar <strong>em</strong> suas<br />

aulas. Materiais concretos, a calculadora, a <strong>TV</strong> e o vídeo, o computador, a história da<br />

Mat<strong>em</strong>ática e jogos, por ex<strong>em</strong>plo, pod<strong>em</strong> contribuir para que as aulas de Mat<strong>em</strong>ática sejam<br />

mais agradáveis e proveitosas. No entanto, o uso de recursos didáticos precisa ser b<strong>em</strong><br />

planejado e ter objetivos claros – não basta enriquecer a aula ou torná-la divertida – é<br />

fundamental compreender a adequação do que se planeja, tendo clareza de onde se quer<br />

chegar e de quais conteúdos se quer explorar, para que a condução da atividade ou o uso de<br />

um recurso se dê de forma correta.<br />

Como enfrentar estes novos desafios<br />

A meta mais importante desta série é estimular a reflexão, a compreensão de conceitos, a<br />

autoconfiança e a liberdade criativa dos professores. Nosso desejo é que você possa adaptar as<br />

propostas por nós selecionadas ao projeto pedagógico de sua escola e à realidade de sua turma<br />

e da comunidade. E, ainda, buscar e adaptar muitas outras!<br />

No entanto, reconhec<strong>em</strong>os que esta não é uma tarefa simples, e que pode, para muitos, parecer<br />

bastante intimidadora. Por este motivo, a discussão da importância da formação do professor<br />

– inicial e continuada – integra os programas da série. É importante que você perceba que<br />

muitas de suas dificuldades com as aulas de Mat<strong>em</strong>ática pod<strong>em</strong> estar relacionadas com<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 8 .


deficiências não resolvidas <strong>em</strong> sua formação. Neste caso, serão necessários novos<br />

investimentos para que sua prática possa se modificar – daí a importância atribuída nesta série<br />

à formação continuada.<br />

Pesquisas recentes apontam para o fato de que é muito mais comum do que se pensa que o<br />

professor conclua sua formação inicial s<strong>em</strong> que se sinta preparado para uma prática didática<br />

criativa e inovadora <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática. Nos cursos de formação, <strong>em</strong> geral, as discussões teóricas<br />

sobre o processo de ensino e de aprendizag<strong>em</strong> ocorr<strong>em</strong> s<strong>em</strong> garantir uma sólida revisão<br />

conceitual da Mat<strong>em</strong>ática que deverá ser futuramente ensinada. Isto gera uma situação de<br />

insegurança, que leva o professor a desconsiderar as teorias aprendidas e a repetir modelos e<br />

caminhos estabelecidos como padrão de ensino, mesmo quando reconhece que estes não<br />

levam a um aprendizado significativo.<br />

Nossas experiências <strong>em</strong> formação continuada nos mostram que a insegurança está de tal<br />

forma arraigada que é bastante comum que os professores, após uma oficina, um s<strong>em</strong>inário,<br />

um curso ou uma série do Salto para o Futuro, pass<strong>em</strong> as primeiras s<strong>em</strong>anas s<strong>em</strong> levar suas<br />

novas aquisições para sua sala de aula, mesmo que sintam que uma nova compreensão está se<br />

estabelecendo. Assim, procurar<strong>em</strong>os discutir a importância de realizar experiências<br />

inovadoras por acreditarmos que esta é a forma mais eficaz para o seu aperfeiçoamento. Para<br />

inovar e ser criativo, é preciso s<strong>em</strong>pre assumir uma postura reflexiva e crítica, registrar os<br />

resultados das experiências planejadas para poder avaliá-las, o que aumenta,<br />

consideravelmente, a sua segurança, professor, para novas tentativas. Muitas vezes, numa<br />

primeira experiência inovadora da prática docente, ficamos com o sentimento de que não<br />

obtiv<strong>em</strong>os resultados muito felizes ou melhores do que antes. No entanto, pod<strong>em</strong>os afirmar<br />

que é preciso não desistir, avaliar onde e porque falhamos, o que pode ser corrigido ou melhor<br />

adaptado à realidade de nossa escola e de nossos alunos.<br />

O fundamental é que o professor passe a entender a Mat<strong>em</strong>ática como um corpo de<br />

conhecimentos significativos, e não como uma lista interminável de procedimentos a ser<strong>em</strong><br />

m<strong>em</strong>orizados pelos alunos. S<strong>em</strong> esta compreensão, as possibilidades de mudanças<br />

significativas nas aulas são r<strong>em</strong>otas, mesmo quando os docentes conhec<strong>em</strong> as mais modernas<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 9 .


teorias educacionais. Nesta série, esperamos que os professores se sintam estimulados a<br />

continuar buscando, permanent<strong>em</strong>ente, uma melhoria <strong>em</strong> sua formação, <strong>em</strong> sua própria<br />

escola, na troca com outros professores, testando e avaliando novas práticas, questionando as<br />

possibilidades de aplicação das propostas apresentadas nos programas e nos textos, <strong>em</strong> suas<br />

salas de aula. Acreditamos que só assim um processo de formação continuada se reflete no<br />

cotidiano das salas de aula e pode tornar a prática profissional um fazer construtivo e crítico.<br />

Para concluir, esperamos que esta série possa ser útil ao seu trabalho e que possa contribuir,<br />

de forma significativa, para a procura de novos caminhos para o seu desenvolvimento<br />

profissional.<br />

T<strong>em</strong>as que serão debatidos na série <strong>Discutindo</strong> práticas <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática, que<br />

será apresentada no programa Salto para o Futuro/<strong>TV</strong> Escola/SEED/MEC,<br />

de 28 de agosto a 1 de set<strong>em</strong>bro de 2006:<br />

PGM 1 - Conceito ou procedimento: alguns caminhos<br />

Neste primeiro programa, discutimos diferenças entre um ensino de Mat<strong>em</strong>ática voltado para<br />

a conceituação e aquele que visa apenas à aquisição de procedimentos, que muitas vezes n<strong>em</strong><br />

são compreendidos. Durante a discussão, serão apontados alguns caminhos que permit<strong>em</strong> ao<br />

professor uma prática voltada para conceituação: serão exploradas diversas organizações<br />

possíveis <strong>em</strong> uma sala de aula e, ainda, diversos recursos didáticos que pod<strong>em</strong> ser utilizados<br />

<strong>em</strong> uma aula de Mat<strong>em</strong>ática. Enfatizamos a importância de o próprio professor buscar ter uma<br />

boa conceituação mat<strong>em</strong>ática e valorizamos a elaboração de planos de aula com objetivos<br />

b<strong>em</strong> definidos para orientar e avaliar suas práticas. S<strong>em</strong> estes requisitos, acreditamos que<br />

qualquer prática didática ficará comprometida.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 10 .


PGM 2 – O trabalho do aluno<br />

Um aluno passivo t<strong>em</strong> poucas oportunidades de aprender Mat<strong>em</strong>ática. É necessário agir,<br />

discutir, refletir, propor soluções e buscar caminhos para a solução de um probl<strong>em</strong>a. Nesta<br />

perspectiva, os erros cometidos pelos alunos adquir<strong>em</strong> todo um novo significado. O professor,<br />

ao analisá-los, poderá perceber o raciocínio desenvolvido pelo aluno e buscar estratégias e<br />

questionamentos que o lev<strong>em</strong> a avançar e perceber seus enganos. Este programa também<br />

discute a importância de permitir que os alunos desenvolvam suas próprias soluções e a<br />

valorização, pelo professor, das estratégias adotadas pelos alunos. Neste programa, também<br />

enfatizamos que para adotar esta postura é preciso que o professor busque, permanent<strong>em</strong>ente,<br />

o aperfeiçoamento de seu próprio saber mat<strong>em</strong>ático.<br />

PGM 3 - Da informação à conceituação: a formação dos professores<br />

Discutimos neste programa algumas deficiências percebidas na formação de professores <strong>em</strong><br />

Mat<strong>em</strong>ática e apontamos saídas para este probl<strong>em</strong>a. Mais do que criticar, busca-se estabelecer<br />

novos caminhos, que pod<strong>em</strong> ser utilizados tanto na formação inicial quanto continuada dos<br />

professores. A idéia central é enunciada com facilidade, mas t<strong>em</strong>-se constatado que não é tão<br />

simples assim encontrá-la <strong>em</strong> cursos de formação: uma nova postura do professor <strong>em</strong> sala de<br />

aula depende do investimento do próprio professor <strong>em</strong> testar, criticar, observar, avaliar e<br />

refletir sobre o cotidiano, tendo para isso apoio de um grupo e acesso à informação. Ou seja,<br />

buscar<strong>em</strong>os debater que para o professor, aos poucos, se sentir seguro para adotar uma nova<br />

dinâmica nas aulas de Mat<strong>em</strong>ática, não basta ter acesso à informação sobre teorias e sugestões<br />

de atividades, é preciso testá-las de forma reflexiva e crítica e construir uma rede de apoio na<br />

própria escola e fora dela. É preciso, sobretudo, reconhecer que construímos e ampliamos<br />

conceitos quando novas estratégias didáticas estão sendo experimentadas.<br />

PGM 4 - Diferentes significados de um mesmo conceito: o caso das frações<br />

O foco do quarto programa é a discussão de que, <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática, alguns conceitos pod<strong>em</strong><br />

assumir diferentes significados e a importância de dar oportunidade ao aluno de compreender<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 11 .


diferentes enfoques e usos de uma mesma notação, de um procedimento para uma gama<br />

variada de aplicações. Para ex<strong>em</strong>plificar tal discussão, escolh<strong>em</strong>os um conceito que, <strong>em</strong> geral,<br />

apresenta grande dificuldade de aprendizag<strong>em</strong>: as frações. Buscamos enfocar o probl<strong>em</strong>a sob<br />

a perspectiva de que esta dificuldade pode estar relacionada com o fato de que o aluno<br />

necessita compreender que o conceito de número racional pode assumir significados bastante<br />

diversos, dependendo do probl<strong>em</strong>a que se busca resolver. Argumentamos que o conceito de<br />

fração deve ser construído aos poucos pelos alunos, à medida que mais significados vão sendo<br />

acrescentados. Discutimos a idéia de que o conceito de “todo” a ser considerado pode ser<br />

diferente, já que depende do probl<strong>em</strong>a abordado, ou seja, buscamos responder à pergunta<br />

“fração de que todo?”. Buscamos relacionar o conceito de fração com outras idéias, como a de<br />

percentag<strong>em</strong>.<br />

PGM 5 - A Mat<strong>em</strong>ática como uma rede de conhecimentos: o tratamento da informação<br />

Neste programa final, o enfoque recai sobre a possibilidade de uso de diferentes estratégias e<br />

abordagens para a resolução de probl<strong>em</strong>as. Discutimos uma visão que defende que aprender<br />

Mat<strong>em</strong>ática, da mesma forma que fazer Mat<strong>em</strong>ática, é resolver probl<strong>em</strong>as. É por meio dos<br />

probl<strong>em</strong>as, e principalmente por meio das discussões de diferentes estratégias e da<br />

possibilidade de mais de um caminho de solução, que pode ter sido escolhido pelos alunos,<br />

que o saber mat<strong>em</strong>ático pode ser visto como uma rede de conhecimentos. Há probl<strong>em</strong>as que<br />

pod<strong>em</strong> ser resolvidos graficamente, usando representações, usando recursos da aritmética,<br />

testando hipóteses e estimativas, para citar algumas possibilidades. Como fonte principal de<br />

ex<strong>em</strong>plos, neste programa, exploramos o campo do tratamento da informação, por sua enorme<br />

potencialidade para permitir a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.<br />

Notas:<br />

1 Professora e pesquisadora no Instituto de Mat<strong>em</strong>ática da Universidade<br />

Federal do Rio de Janeiro. Consultora desta série.<br />

2 Professora do Instituto de Educação – ISERJ. Pesquisadora da PUC-Rio.<br />

Colaboradora na elaboração desta série.<br />

3 Professora no Departamento de Mat<strong>em</strong>ática da Universidade do Rio de<br />

Janeiro – UNIRIO. Colaboradora na elaboração desta série.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 12 .


PROGRAMA 1<br />

CONCEITO OU PROCEDIMENTO: ALGUNS CAMINHOS<br />

Elizabeth Belfort 1<br />

Ana Teresa de Carvalho Correa de Oliveira 2<br />

Mônica Mandarino 3<br />

Neste primeiro texto, quer<strong>em</strong>os discutir as diferenças entre um ensino de Mat<strong>em</strong>ática voltado<br />

para a conceituação e aquele que visa apenas à aquisição de procedimentos, que muitas vezes<br />

n<strong>em</strong> são compreendidos. Para não ficar discutindo no abstrato, vamos iniciar nossa conversa<br />

apresentando dois trabalhos b<strong>em</strong> pouco típicos de nossas salas de aula, mas que foram<br />

realizados por crianças de segunda série do Ensino Fundamental 4 :<br />

Ex<strong>em</strong>plo 1:<br />

Diante do probl<strong>em</strong>a: “Flávia t<strong>em</strong> 38 anos e sua filha, Duda, t<strong>em</strong> 13. Quantos anos a filha de<br />

Flávia t<strong>em</strong> a menos que ela?”, Clara apresentou esta solução:<br />

Em seguida, Clara adicionou os valores 7, 10 e 8, obtendo 25 – a resposta correta.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 13 .


Ex<strong>em</strong>plo 2:<br />

Para resolver o probl<strong>em</strong>a “Lúcia saiu de casa com R$ 25,00 <strong>em</strong> sua carteira. Passou na<br />

banca de jornal e na quitanda. Ao chegar <strong>em</strong> casa verificou que só havia R$ 16,00 <strong>em</strong> sua<br />

carteira. De quanto foi a despesa de Lúcia?”, Joaquim usou a seguinte estratégia:<br />

Em seguida, Joaquim adicionou os valores 5 e 4, obtendo 9 – a resposta correta.<br />

Estes alunos estão realizando subtrações corretamente, s<strong>em</strong> utilizar o algoritmo. Ao invés,<br />

eles usam uma representação do probl<strong>em</strong>a na reta numérica, algo que dificilmente é<br />

encontrado nos livros-texto das escolas primárias. Observe também que estes alunos utilizam<br />

estratégias de completar (quanto falta para) e a adição de valores encontrados por eles para<br />

efetuar, s<strong>em</strong> usar o algoritmo, as subtrações exigidas nos probl<strong>em</strong>as. Suas soluções<br />

d<strong>em</strong>onstram compreensão dos dados do probl<strong>em</strong>a e a capacidade de representá-los de uma<br />

forma que os ajude a responder ao que está sendo pedido.<br />

Estas crianças d<strong>em</strong>onstram estar aprendendo muito mais do que uma regra para fazer contas.<br />

Elas estão aprendendo a pensar por si próprias, a escolher uma estratégia dentre várias<br />

possíveis para resolver um probl<strong>em</strong>a e a criar um registro de suas idéias que seja adequado ao<br />

seu nível de escolaridade e que facilite a compreensão do que foi feito por seus colegas. A<br />

valorização de suas estratégias por sua professora e a discussão das diferentes estratégias<br />

utilizadas pelos alunos da turma permite que todos os alunos possam se familiarizar com mais<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 14 .


de uma forma para resolver um mesmo probl<strong>em</strong>a, desenvolvendo atitudes de respeito e<br />

colaboração entre m<strong>em</strong>bros de um mesmo grupo.<br />

Em outro momento, estas crianças estudarão o algoritmo tradicional, avaliando suas<br />

vantagens e desvantagens, quando comparado com outras alternativas. Ou seja, ao invés de<br />

receber<strong>em</strong> um algoritmo imposto por sua professora e que eles não compreend<strong>em</strong>, eles são<br />

estimulados a pensar e serão capazes de, no momento adequado, compreender o algoritmo e<br />

decidir utilizá-lo, s<strong>em</strong>pre que for vantajoso.<br />

O trabalho realizado por estas crianças mostra que elas estão aprendendo Mat<strong>em</strong>ática.<br />

Probl<strong>em</strong>as que seriam difíceis para muitos alunos neste nível são resolvidos com ajuda de<br />

uma reta – algo a que a maioria dos alunos neste nível nunca foi apresentado. Qual é a<br />

diferença? O que acontece nesta sala de aula que a difere de tantas outras? A resposta é<br />

simples: o trabalho que a professora da turma consegue realizar com seus alunos.<br />

Vamos pensar um pouco mais a respeito do trabalho de Flávia Renata, a professora desta<br />

turma. O que pod<strong>em</strong>os descobrir sobre ele a partir destes dois ex<strong>em</strong>plos?<br />

• Em primeiro lugar, que a professora valoriza o trabalho criativo de seus alunos (se assim<br />

não fosse, estes ex<strong>em</strong>plos não estariam ilustrando o trabalho de alunos <strong>em</strong> um texto<br />

voltado para formação de professores).<br />

• A seguir, que os alunos são estimulados a trabalhar por conta própria e a trocar suas<br />

soluções (se assim não fosse, a professora poderia desconhecer o caminho de solução dos<br />

alunos, se atendo apenas à resposta final dada).<br />

• Finalmente, que esta professora conhece o modelo da reta numérica e foi capaz de levar<br />

parte deste conhecimento para seus alunos (se assim não fosse, os alunos não seriam<br />

capazes de usar a reta numérica para modelar seus probl<strong>em</strong>as).<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 15 .


Vamos nos ater um pouco mais ao conhecimento que Flávia d<strong>em</strong>onstra ter (por meio do<br />

trabalho de seus alunos) sobre a reta numérica. Será que ele inventou este modelo? Claro que<br />

não. Este modelo é amplamente utilizado <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> todos os níveis de escolaridade e<br />

vai se sofisticando aos poucos, à medida que mais números vão sendo acrescentados a ele (as<br />

frações, por ex<strong>em</strong>plo). Este é um conhecimento mat<strong>em</strong>ático que Flávia adquiriu <strong>em</strong> algum<br />

momento de seus estudos. Uma vez que a idéia tenha sido compreendida, ela está à disposição<br />

de Flávia para ser utilizada como um recurso didático para ajudar seus alunos a compreender<br />

a Mat<strong>em</strong>ática.<br />

Por outro lado, deve ficar claro que um professor que nunca tenha tido a oportunidade de<br />

aprender sobre a reta numérica e discutir sua potencialidade para a compreensão dos números<br />

e sua ordenação, não terá esta ferramenta à sua disposição e poderá, inclusive, não reconhecer<br />

estas soluções como mat<strong>em</strong>aticamente corretas e criativas.<br />

Ou seja, estamos afirmando que um professor não será capaz de dar a seus alunos o que ele<br />

mesmo não t<strong>em</strong>, por melhor que seja a metodologia por ele utilizada <strong>em</strong> sala de aula. Assim, a<br />

transformação das aulas de Mat<strong>em</strong>ática de aulas de “regras prontas e decoradas” para aulas de<br />

“compreensão conceitual” passa, necessariamente, pelos professores. É necessário abrir portas<br />

para que os professores possam desenvolver novas reflexões e novas aprendizagens<br />

conceituais <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática, s<strong>em</strong> as quais qualquer recurso metodológico utilizado vai cair no<br />

vazio.<br />

Esta série pretende discutir práticas didáticas voltadas para a compreensão conceitual,<br />

reconhecendo a importância de abrir portas para que os professores possam buscar novos<br />

conhecimentos e novas metodologias <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática. Ao longo dos programas, vamos<br />

discutir o papel dos alunos, as oportunidades de formação continuada para professores e ainda<br />

alguns tópicos de Mat<strong>em</strong>ática, que costumam ser probl<strong>em</strong>áticos.<br />

Neste primeiro texto da série, esperamos deixar claro que a aprendizag<strong>em</strong> significativa da<br />

Mat<strong>em</strong>ática difere muito de decorar uma “receita” de como fazer continhas... Esperamos<br />

também mostrar a você que esta mudança é possível e o caminho que leva até ela pode ser<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 16 .


percorrido de uma forma bastante agradável. Enfatizamos a importância de o professor buscar<br />

ter uma boa conceituação mat<strong>em</strong>ática e valorizamos a elaboração de planos de aula com<br />

objetivos b<strong>em</strong> definidos, que serão utilizados para orientar e avaliar as práticas adotadas.<br />

Algumas sugestões para a sala de aula de Mat<strong>em</strong>ática<br />

Os programas desta série ped<strong>em</strong> que o professor coloque <strong>em</strong> prática algumas idéias.<br />

Apresentamos um pequeno resumo de tais idéias, para que você possa ver, com os olhos da<br />

imaginação, como sua sala ficaria durante a aplicação de uma atividade. Vamos retornar a<br />

estas idéias várias vezes e aprofundar mais e mais a discussão sobre sua importância.<br />

1. Leve a Mat<strong>em</strong>ática para sua sala de aula e estimule seu aluno a se interessar por ela. Você<br />

pode usar muitos recursos, como: um mural (com os algarismos de 0 a 9, as dezenas e<br />

centenas, resultados para consulta e notícias com informações numéricas); um calendário; um<br />

quadro de aniversários; um quadro do clima (registrando, a cada dia, se ele está ensolarado,<br />

nublado ou chuvoso). A sala também pode conter diversos objetos ligados à Mat<strong>em</strong>ática, tais<br />

como: diferentes materiais de contag<strong>em</strong>, balança, fita métrica, dados, cartões com números e<br />

figuras para jogos etc.<br />

2. Rompa com a arrumação tradicional da sala de aula, na qual todas as carteiras estão<br />

voltadas para frente, onde se coloca o professor para “despejar” conhecimentos. Estimule<br />

diferentes arrumações, propondo trabalhos <strong>em</strong> grupos de 4 ou 5 alunos, trabalhos <strong>em</strong> duplas e<br />

discussões envolvendo toda a turma e mediadas pelo professor.<br />

3. L<strong>em</strong>bre-se de que, durante uma atividade, a criança vive um momento de aquisição de<br />

conhecimento. É importante que ela tenha t<strong>em</strong>po de experimentar, refletir sobre suas ações e<br />

comunicar suas idéias.<br />

4. Evite manter seu aluno muito ocupado com tarefas “concretas”, a ponto de não lhe sobrar<br />

t<strong>em</strong>po e espaço para refletir, concluir e aprender. Muito <strong>em</strong>bora a manipulação de materiais<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 17 .


seja fundamental nestes estágios iniciais de escolaridade, não tome como princípio que a<br />

criança aprende somente por sua ação direta sobre os objetos. A reflexão acerca de suas ações<br />

e a comunicação de seus processos mentais são igualmente importantes.<br />

5. L<strong>em</strong>bre-se de que há muita diferença entre o que uma criança é capaz de produzir sozinha e<br />

o que ela é capaz de elaborar com intervenção e mediação de um professor que lhe aponta<br />

caminhos e sugere ações. Assim, o papel do professor é ativo – ele sugere as atividades,<br />

corrige rumos, faz sugestões e perguntas, estimula a troca de soluções, atua como mediador<br />

<strong>em</strong> negociações entre os alunos e sist<strong>em</strong>atiza processos e resultados.<br />

6. As crianças dev<strong>em</strong> viver situações <strong>em</strong> que possam trabalhar <strong>em</strong> grupo (ou duplas), trocar<br />

idéias e discutir sobre seu trabalho. O ambiente criado na sala de aula deve incentivar<br />

situações <strong>em</strong> que elas tom<strong>em</strong> decisões, discord<strong>em</strong> ou concord<strong>em</strong> umas com as outras,<br />

expliqu<strong>em</strong> o que fizeram e porquê.<br />

7. Cabe ao professor criar um ambiente no qual as crianças possam falar de seu trabalho com<br />

a confiança de se sentir<strong>em</strong> respeitadas e apoiadas. Um aluno não deve se sentir desconfortável<br />

por ter errado; o professor deve, ao contrário, valorizar suas conquistas e ajudá-lo a encontrar<br />

novos caminhos.<br />

8. Compartilhe com toda a sala os processos realizados pelas crianças durante uma atividade.<br />

Após uma atividade, o professor deve resolver coletivamente a questão, fazendo perguntas e<br />

compartilhando as estratégias usadas pelos alunos, perguntando: vocês acham que essa é uma<br />

boa forma de trabalhar?<br />

9. Faça, s<strong>em</strong>pre que possível, uso de recursos didáticos variados. Materiais concretos<br />

estruturados e não estruturados, o livro didático, livros paradidáticos, vídeos, calculadoras,<br />

jogos e brincadeiras, a história da Mat<strong>em</strong>ática, entre diversos outros, são recursos que pod<strong>em</strong><br />

e dev<strong>em</strong> ser utilizados pelo professor, pois são motivadores para os alunos. L<strong>em</strong>bre-se, no<br />

entanto, de que este tipo de recurso não t<strong>em</strong> um fim <strong>em</strong> si mesmo. De nada adianta, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, entregar materiais concretos aos alunos para a livre exploração ou manipulação. Isso<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 18 .


não garante aprendizag<strong>em</strong>! O uso dos recursos deve ser planejado e estar inserido numa<br />

proposta de trabalho que desafie os alunos a atuar<strong>em</strong> mentalmente, auxiliados pelo material. É<br />

preciso ter objetivos claros e b<strong>em</strong> definidos, sabendo aonde se quer chegar, para poder intervir<br />

e favorecer uma verdadeira construção de conceitos.<br />

10. L<strong>em</strong>bre-se ainda de que levar seus alunos a lidar com os símbolos convencionais da<br />

linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática é importante. Entretanto, é preciso que as crianças lhes atribuam<br />

significado. A utilização da linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática convencional deve surgir a partir da<br />

necessidade de nos expressarmos mat<strong>em</strong>aticamente de forma que haja compreensão por parte<br />

de todos. Um primeiro passo é o professor se expressar escrita e oralmente usando a<br />

linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática. Aos poucos, os alunos vão descobrindo vantagens nesta linguag<strong>em</strong><br />

simbólica econômica e concisa, passando a adotá-la também.<br />

Não se esqueça de que é importante experimentar novos caminhos, mas s<strong>em</strong>pre avaliando os<br />

resultados. N<strong>em</strong> todos os seus experimentos serão um sucesso, mas a reflexão e a discussão<br />

com seus colegas pod<strong>em</strong> levar a um efetivo crescimento profissional. Abaixo, sugerimos<br />

algumas leituras que pod<strong>em</strong> contribuir para a sua formação e ajudar para que algumas das<br />

idéias aqui apresentadas possam ser colocadas <strong>em</strong> prática.<br />

Referências Bibliográficas<br />

BORIN, J. Jogos e resolução de probl<strong>em</strong>as: uma estratégia para as aulas de mat<strong>em</strong>ática. São<br />

Paulo: IME-USP, 1996.<br />

CARDOSO, V. C. Materiais didáticos para as quatro operações. São Paulo: IME-USP,<br />

1996.<br />

DANTE, L. Roberto. Didática da resolução de probl<strong>em</strong>as de Mat<strong>em</strong>ática. São Paulo: Ática,<br />

1991.<br />

MANDARINO, Mônica, MONTES, Maria José. Qualificação profissional para o magistério.<br />

Volume 6: Mat<strong>em</strong>ática. Rio de Janeiro: MEC/FUNTEVÊ/<strong>TV</strong>E, 1985.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 19 .


MANDARINO, Mônica. Tratamento da Informação para professores de 1 a a 4 a séries.<br />

UFRJ/IM: LIMC, 2006.<br />

MANDARINO, Mônica e BELFORT, Elizabeth. Números Naturais – Conteúdo e Forma,<br />

UFRJ/IM: LIMC, 2006<br />

MOUZINHO, M. L. Tratamento da informação: atividades para o ensino básico. UFRJ/IM:<br />

Projeto Fundão, 2002.<br />

_________. Tratamento da informação: explorando dados estatísticos e noções de<br />

probabilidade a partir das séries iniciais. UFRJ/IM: Projeto Fundão, 1997.<br />

NEHRING, C. et al. Orientações metodológicas para o uso das barrinhas de cuisenaire.<br />

IJUí: UNIJUÍ/PADCT/CAPES, 1995, v.2.<br />

_________. Orientações metodológicas para o uso da base 10 (material dourado). IJUÍ:<br />

UNIJUÍ/PADCT/CAPES, 1997, v. 3.<br />

NEHRING, C.; PIVA, C. Orientações metodológicas para construção da operação de<br />

multiplicação. IJUÍ: UNIJUÍ, 1998.<br />

SANTOS, V. M., REZENDE, J. F. Números: linguag<strong>em</strong> universal. Rio de Janeiro: IM/UFRJ,<br />

Projeto Fundão, 1997.<br />

SMOLE, K. C. S., DINIZ, M. I., CANDIDO, P. Brincadeiras infantis nas aulas de<br />

mat<strong>em</strong>ática. Porto Alegre: ArtMed, 2000. (Coleção Mat<strong>em</strong>ática de 0 a 6 anos.)<br />

_________. Ler, escrever e resolver probl<strong>em</strong>as: habilidades básicas para aprender<br />

mat<strong>em</strong>ática. Porto Alegre: ArtMed, 2001. (Coleção Mat<strong>em</strong>ática de 0 a 6 anos.)<br />

Notas:<br />

1 Professora e pesquisadora no Instituto de Mat<strong>em</strong>ática da Universidade<br />

Federal do Rio de Janeiro. Consultora desta série.<br />

2 Professora no Instituto de Educação – ISERJ. Pesquisadora da PUC-Rio.<br />

Colaboradora na elaboração desta série.<br />

3 Professora no Departamento de Mat<strong>em</strong>ática da Universidade do Rio de<br />

Janeiro-UNIRIO. Colaboradora na elaboração desta série.<br />

4 Retirados do livro Números naturais e formação, de Mônica Mandarino e<br />

Elizabeth Belfort.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 20 .


PROGRAMA 2<br />

O TRABALHO DO ALUNO<br />

Elizabeth Belfort 1<br />

Mônica Mandarino 2<br />

Flávia Renata Coelho 3<br />

Neste programa, vamos discutir a importância do trabalho do aluno para a aprendizag<strong>em</strong><br />

efetiva <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática, ilustrando essa idéia com ex<strong>em</strong>plos retirados da realidade da sala de<br />

aula. Para favorecer a construção do conhecimento mat<strong>em</strong>ático autônomo e produtivo, por<br />

parte dos alunos, é necessário incentivar a experimentação, valorizar as estratégias por eles<br />

escolhidas para resolver um probl<strong>em</strong>a, incentivar que tent<strong>em</strong> expô-las, por escrito ou<br />

oralmente. Ou seja, a sala de aula deve proporcionar momentos de produção e reflexão<br />

individual para os alunos.<br />

Como a capacidade de trabalhar <strong>em</strong> grupo é cada vez mais importante na sociedade moderna,<br />

esta prática também deve ser incentivada pelo professor. Mas trabalho <strong>em</strong> grupo não significa<br />

apenas a opção de quatro ou cinco alunos trabalhando juntos, <strong>em</strong>bora também incentiv<strong>em</strong>os<br />

esta idéia. Uma dupla também é um grupo – que t<strong>em</strong> condições de aprofundar mais a<br />

discussão do que um grupo maior. A turma toda também é um grupo, que precisa de<br />

momentos para compartilhar seus saberes, trocar experiências e negociar idéias, linguagens e<br />

técnicas, sist<strong>em</strong>atizando os conhecimentos.<br />

<strong>Discutindo</strong> a prática<br />

A professora deu um montinho de 6 fichas para Alice e um de 7 fichas para Daniel. A seguir,<br />

a professora pergunta: “Qu<strong>em</strong> ganhou mais fichas?” Alice e Daniel organizam suas fichas<br />

lado a lado, e respond<strong>em</strong>:<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 21 .


• Alice: “O Dani.”<br />

• Daniel: “Eu! ... Tenho 7 e Alice só t<strong>em</strong> 6.”<br />

Quando questionados sobre “quantas fichas Daniel t<strong>em</strong> a mais do que Alice”, eles respond<strong>em</strong>:<br />

• Alice: “Sete” (apontando para a ficha não <strong>em</strong>parelhada);<br />

• Daniel: “Uma” (apontando para a mesma ficha).<br />

“Escutando” as respostas de Alice e Daniel nas duas etapas, v<strong>em</strong>os que ambos são capazes de<br />

fazer a comparação entre as quantidades de bolinhas. Entretanto, Alice mostra que pensa <strong>em</strong><br />

“sete” como sendo o “nome” da sétima bolinha, o que nos revela que ela ainda não construiu<br />

a idéia de que a quantidade 6 está incluída na quantidade 7. Por outro lado, Daniel d<strong>em</strong>onstra<br />

uma idéia clara de inclusão, ou seja, de que 7 é um a mais do que 6.<br />

Observe, neste ex<strong>em</strong>plo, a importância do papel do professor. É por meio de sua escolha de<br />

atividade que se pode perceber a necessidade de oferecer mais oportunidades para Alice<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 22 .


construir o conceito correto de que “sete” representa a quantidade total e não o “nome” de<br />

uma das fichas. A partir desta atividade, e pela diferença de respostas entre os alunos, a<br />

professora t<strong>em</strong> a oportunidade de verificar as dificuldades e de fornecer novas experiências<br />

que contribuam para a aquisição do conceito. Alice precisa de t<strong>em</strong>po para refletir sobre suas<br />

ações e aprimorar sua idéia de quantidade.<br />

Construindo a linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática<br />

Consideramos indispensável que o aluno seja agente ativo da construção de seu próprio<br />

conhecimento e, por isso, valorizamos a metodologia de resolução de probl<strong>em</strong>as. No entanto,<br />

não descartamos a necessidade de sist<strong>em</strong>atizar e consolidar os conhecimentos adquiridos por<br />

meio de atividades e exercícios, que precisam ir além daqueles de aplicação imediata e treino.<br />

Por outro lado, defend<strong>em</strong>os também o respeito ao desenvolvimento cognitivo dos alunos. As<br />

abstrações e nomenclaturas dev<strong>em</strong> ser introduzidas aos poucos, juntamente com uma boa<br />

familiarização do pensamento numérico, tornando os alunos capazes de: avaliar ord<strong>em</strong> de<br />

grandeza e fazer estimativa; efetuar cálculos mentais; reconhecer padrões; criar suas próprias<br />

estratégias e testá-las; comunicar-se defendendo suas idéias e opiniões. Estas e outras<br />

habilidades necessitam de investimento de sua parte, por isso, estamos sugerindo que você<br />

ajude seus alunos a desenvolvê-las.<br />

<strong>Discutindo</strong> a prática<br />

A socialização das resoluções de um probl<strong>em</strong>a entre os alunos é uma forma de contribuir para<br />

que eles se apropri<strong>em</strong> de novas estratégias, muitas vezes mais “econômicas” (ou mais<br />

avançadas mat<strong>em</strong>aticamente) que as suas. Vejamos um ex<strong>em</strong>plo:<br />

A professora combinou com seus alunos que, após a resolução do probl<strong>em</strong>a, cada um deles<br />

anotaria <strong>em</strong> sua folha as estratégias utilizadas por mais dois colegas, escolhendo aquelas que<br />

lhes parecess<strong>em</strong> mais interessantes.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 23 .


O probl<strong>em</strong>a proposto foi: “Luiza t<strong>em</strong> um álbum, no qual precisa colar 100 figurinhas. Ela já<br />

colou 60 figurinhas. Quantas ainda faltam?”.<br />

Veja as anotações feitas por Carolina <strong>em</strong> sua folha de exercícios:<br />

Observe que a estratégia de Carolina, <strong>em</strong>bora seja a mais simples das três, nos mostra que ela<br />

t<strong>em</strong> conhecimento de que <strong>em</strong> uma centena há dez dezenas, e que também compreende que 60<br />

representa 6 dezenas. Ela decompõe 100 <strong>em</strong> 10 dezenas e, a seguir, ela risca (ação de retirar)<br />

a quantidade de figurinhas que já foi colada, concluindo que ainda faltam 40.<br />

Felipe, por outro lado, apóia sua estratégia de solução na ação de completar e modela seu<br />

probl<strong>em</strong>a na reta numérica. Observe que ele também usa a contag<strong>em</strong> de dez <strong>em</strong> dez, partindo<br />

de 60 para chegar a 100.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 24 .


Por sua vez, Ceci desenvolve a solução mat<strong>em</strong>aticamente mais avançada e com maior nível de<br />

abstração. Ela não mais necessita apoiar sua solução <strong>em</strong> ações, mas apenas na apropriação dos<br />

fatos básicos da subtração (10 – 6 = 4) e <strong>em</strong> conclusões próprias sobre o comportamento dos<br />

números.<br />

Na verdade, Ceci está aplicando uma regularidade (isto é: um comportamento que se repete)<br />

observada na forma que representamos os resultados de multiplicações por 10 no Sist<strong>em</strong>a<br />

Decimal de Numeração (para multiplicar por 10, basta acrescentar um zero ao final do<br />

número). Ela concluiu este fato a partir de suas experiências e o generalizou (isto é: foi capaz<br />

de compreender que ele era s<strong>em</strong>pre válido e que ela podia aplicá-lo <strong>em</strong> novas situações).<br />

Observe que, <strong>em</strong>bora Carolina desenvolva uma solução mais simples, ela d<strong>em</strong>onstra que é<br />

capaz de compreender outras mais sofisticadas pelo fato de ter escolhido estas soluções para<br />

anotar. Mais uma vez, deve-se destacar a importância do papel do professor. Esse ex<strong>em</strong>plo<br />

d<strong>em</strong>onstra a importância de oferecer oportunidades para que todos os alunos discutam a<br />

solução de um probl<strong>em</strong>a. Por meio de ações como esta, o professor está permitindo que seus<br />

alunos avanc<strong>em</strong>, no seu próprio passo, <strong>em</strong> direção a uma linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática correta. Mais<br />

importante ainda, os alunos estarão compreendendo o significado desta linguag<strong>em</strong>, o que<br />

ajuda <strong>em</strong> sua correta utilização.<br />

O papel do aluno depende das ações de seu professor<br />

Chamamos sua atenção, <strong>em</strong> nossos ex<strong>em</strong>plos, de que esta nova sala de aula pede um novo<br />

papel para o professor. Entend<strong>em</strong>os que esse papel deva ser de orientador da aprendizag<strong>em</strong>,<br />

ajudando as crianças a encontrar<strong>em</strong> seus próprios caminhos e motivando a reflexão, a<br />

discussão e as descobertas por meio de perguntas adequadas aos objetivos previamente<br />

planejados. Isso exige do professor um trabalho b<strong>em</strong> planejado e com objetivos de<br />

aprendizag<strong>em</strong> claros.<br />

Além de objetivos claros, as atividades e situações escolhidas dev<strong>em</strong> ser também<br />

contextualizadas, adequadas à faixa etária e motivar o interesse na busca de soluções.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 25 .


Explorando contextos significativos para o aluno, contribuímos para que ele entenda a<br />

Mat<strong>em</strong>ática como um campo de saber que lhe possibilita uma melhor compreensão das<br />

situações à sua volta. Além disso, <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática, dev<strong>em</strong>os ampliar o conhecimento<br />

adquirido <strong>em</strong> um contexto, buscando princípios gerais que permitam a transferência deste<br />

conhecimento para novas situações. Assim, geramos novos conhecimentos e estes ganham<br />

novos significados.<br />

Entretanto, os alunos dev<strong>em</strong> também perceber que, <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática, algumas habilidades<br />

técnicas dev<strong>em</strong> ser dominadas. Da mesma forma, a linguag<strong>em</strong> simbólica da Mat<strong>em</strong>ática, com<br />

suas convenções, precisa ser utilizada adequadamente. Aos poucos, na prática de resolver<br />

probl<strong>em</strong>as, o domínio das técnicas e da linguag<strong>em</strong> será incorporado, s<strong>em</strong> necessidade de<br />

realizar treinamentos áridos, como um fim <strong>em</strong> si mesmos. Assim, n<strong>em</strong> todo probl<strong>em</strong>a será<br />

contextualizado fora da Mat<strong>em</strong>ática – você deve optar claramente por incluir probl<strong>em</strong>as e<br />

jogos que se constituam <strong>em</strong> desafios de crescimento e cujo contexto seja a própria<br />

Mat<strong>em</strong>ática.<br />

<strong>Discutindo</strong> a prática<br />

Apresentamos, como ex<strong>em</strong>plo, um jogo, chamado “batalha”, que pode ser utilizado como<br />

forma de transformar o aprendizado dos fatos fundamentais (ou “tabuada”) das operações da<br />

adição (ou da multiplicação) <strong>em</strong> uma atividade mais prazerosa que, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />

contribui para a formação do conceito de operação inversa.<br />

Para este jogo, são utilizadas as cartas de um a dez de um baralho (ou cartões, nos quais cada<br />

um apresenta uma representação numérica e pictórica de um número de um a dez). Estas<br />

cartas serão usadas por três crianças. Duas crianças abr<strong>em</strong> uma carta cada e as mostram para<br />

as outras duas, s<strong>em</strong> olhar seu valor. A terceira criança adiciona (ou multiplica) os números das<br />

cartas e diz o resultado para as outras. A partir deste resultado (e do conhecimento da outra<br />

carta), cada uma das crianças que abriu uma carta deve descobrir o valor de sua carta. Ganha<br />

um ponto <strong>em</strong> cada rodada a criança que adicionou (ou multiplicou) corretamente e ganha dois<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 26 .


pontos cada uma das crianças que descobrir o valor escondido. Os papéis das crianças se<br />

revezam ao longo das rodadas.<br />

O professor pode pedir que as crianças registr<strong>em</strong> seus pontos, desenvolvendo a capacidade de<br />

registrar dados <strong>em</strong> tabelas e pode, ainda, explorar a linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática utilizada para<br />

registrar as operações realizadas mentalmente pelos alunos.<br />

Bibliografia sugerida para o professor:<br />

AZEVEDO, M. V. R. Jogando e construindo mat<strong>em</strong>ática. São Paulo: Vap, 1999.<br />

BORIN, J. Jogos e resolução de probl<strong>em</strong>as: uma estratégia para as aulas de mat<strong>em</strong>ática. São<br />

Paulo: IME-USP, 1996.<br />

DANTE, L. Roberto. Didática da resolução de probl<strong>em</strong>as de Mat<strong>em</strong>ática. São Paulo: Ática,<br />

1991.<br />

MANDARINO, Mônica e BELFORT, Elizabeth. Números Naturais – Conteúdo e Forma.<br />

LIMC – UFRJ, 2006.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 27 .


MANDARINO, Mônica e MONTES, Maria José. Qualificação profissional para o<br />

magistério. Volume 6: Mat<strong>em</strong>ática. Rio de Janeiro: MEC/FUNTEVÊ/<strong>TV</strong>E, 1985.<br />

Notas:<br />

1 Professora e pesquisadora no Instituto de Mat<strong>em</strong>ática da Universidade<br />

Federal do Rio de Janeiro. Consultora desta série.<br />

2 Professora no Departamento de Mat<strong>em</strong>ática da Universidade do Rio de<br />

Janeiro-UNIRIO. Colaboradora na elaboração desta série.<br />

3 Professora da Escola Sá Pereira. Orientadora pedagógica da Rede de<br />

Ensino de Duque de Caxias, RJ.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 28 .


PROGRAMA 3<br />

DA INFORMAÇÃO À CONCEITUAÇÃO: A FORMAÇÃO DOS<br />

PROFESSORES<br />

Ana Teresa de Carvalho Correa de Oliveira 1<br />

Elizabeth Belfort 2<br />

Você já parou para refletir sobre a sua formação para ensinar Mat<strong>em</strong>ática? Em nosso<br />

percurso, t<strong>em</strong>os conversado muito sobre esse t<strong>em</strong>a com professores das séries iniciais. Na<br />

visão de muitos destes professores, as experiências que tiveram <strong>em</strong> sua formação inicial têm<br />

sido pouco úteis ao trabalho que realizam, quando vistas na perspectiva da sala de aula de<br />

Mat<strong>em</strong>ática. Acreditamos que isso possa estar acontecendo, também, com muitos de vocês.<br />

Aprender a ensinar Mat<strong>em</strong>ática parece ser um desafio que a formação inicial e continuada de<br />

professores deve enfrentar, se desejamos que nossos professores sejam capazes de<br />

proporcionar aos seus alunos aulas de Mat<strong>em</strong>ática que sejam, ao mesmo t<strong>em</strong>po, mais<br />

agradáveis e efetivas.<br />

Para o professor <strong>em</strong> atividade nas séries iniciais, este probl<strong>em</strong>a é imediato e concreto. Ele<br />

deve entrar <strong>em</strong> sala e dar aula de Mat<strong>em</strong>ática. O que fazer? Afinal, é necessário realizar o<br />

trabalho da melhor maneira possível e as dificuldades são muitas. Muitos, ao perceber<strong>em</strong>, na<br />

prática, que as teorias do curso de formação ajudam muito pouco a dar aulas de Mat<strong>em</strong>ática,<br />

procuram resolver o probl<strong>em</strong>a sozinhos e s<strong>em</strong> pedir ajuda.<br />

Algumas das soluções mais comuns que um professor com muitas dificuldades <strong>em</strong><br />

Mat<strong>em</strong>ática encontra por si mesmo são:<br />

• Evita dar aula para o segundo segmento do Ensino Fundamental, pois lá ele deve ensinar<br />

“coisas difíceis e complicadas”, como frações e a operação de divisão.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 29 .


• Escolhe um livro-texto com muitas contas para as crianças fazer<strong>em</strong>, que tenha resposta e<br />

tenha pouca ou nenhuma geometria. De preferência, a geometria fica para o final, pois,<br />

“nunca dá mesmo t<strong>em</strong>po de acabar o livro”.<br />

• Ao se deparar com idéias novas para o ensino de Mat<strong>em</strong>ática, reage negativamente a<br />

experimentá-las, <strong>em</strong> geral, alegando que estas não levam <strong>em</strong> conta as dificuldades que ele<br />

enfrenta <strong>em</strong> sala de aula com seus alunos.<br />

• Repete com seus alunos a forma de ensinar usada por seus antigos professores, que o<br />

levou a não gostar de Mat<strong>em</strong>ática, muitas vezes s<strong>em</strong> ao menos perceber que está fazendo<br />

isto.<br />

• Não considera qualquer resolução que seus alunos façam que não seja uma cópia fiel<br />

daquela ensinada por ele. Chegar à resposta correta por um caminho diferente do ensinado<br />

<strong>em</strong> sala não é aceitável.<br />

Observe que todas estas estratégias são, na verdade, formas de evitar o confronto do professor<br />

com a dificuldade <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática. Claro que exist<strong>em</strong> outras, e poderíamos seguir listando<br />

mais e mais formas de ensinar Mat<strong>em</strong>ática que são, sob a ótica desta discussão, muito mais<br />

uma forma de autodefesa. Nestas estratégias não se permit<strong>em</strong> questionamentos e os alunos<br />

não são incentivados a pensar por si próprios.<br />

Mas o que não se pode fazer é culpar os professores por adotar estas soluções. O probl<strong>em</strong>a<br />

real é que muitos professores das séries iniciais não foram efetivamente preparados para<br />

ensinar Mat<strong>em</strong>ática – e dificilmente pode-se responsabilizá-los por isto. Toda a sua vida como<br />

estudantes (incluindo, muitas vezes, o curso de formação para professor) só fez com que eles<br />

considerass<strong>em</strong> a Mat<strong>em</strong>ática como um conjunto de regras e fórmulas, difícil de entender e que<br />

“não serve para nada”.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 30 .


Contudo, é importante que, além da crítica, formadores e professores busqu<strong>em</strong> encontrar<br />

caminhos de formação que possibilit<strong>em</strong> a construção dos saberes profissionais <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática<br />

necessários ao professor das séries iniciais. Quer<strong>em</strong>os discutir esta questão a partir de dois<br />

pontos de vista diferentes:<br />

• Que dev<strong>em</strong> fazer os formadores de professores para enfrentar este desafio?<br />

• Que dev<strong>em</strong> fazer os professores já formados que sent<strong>em</strong> a necessidade de melhorar sua<br />

capacitação para ensinar Mat<strong>em</strong>ática?<br />

Na ótica do formador, parece ser necessário um investimento, por parte dos cursos de<br />

formação inicial, <strong>em</strong> programas que dê<strong>em</strong> condições para que os futuros professores tenham<br />

uma formação conceitual sólida, de forma que desenvolvam metodologias de ensino e<br />

conheçam recursos didáticos que favoreçam a aprendizag<strong>em</strong> das crianças das séries iniciais,<br />

<strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática. Muitos de nós já enfrentamos este probl<strong>em</strong>a de frente, e buscamos<br />

transformar as poucas oportunidades que os currículos de cursos de formação oferec<strong>em</strong> para o<br />

estudo de Mat<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> momentos de discussão de conceitos, revendo pontos-chave da<br />

formação anterior do professor, especialmente aqueles ligados ao que ele deverá ensinar. Esta<br />

postura, t<strong>em</strong>os certeza, irá influir muito na atuação de nossos futuros professores, e<br />

depoimentos de vários ex-alunos indicam que isto está, efetivamente, ocorrendo. No entanto,<br />

para que esta mudança de atitude possa ser efetivada, uma etapa fundamental é ouvir os<br />

professores das séries iniciais <strong>em</strong> atividade e descobrir as dificuldades que eles vivenciam <strong>em</strong><br />

seu cotidiano de aulas de Mat<strong>em</strong>ática.<br />

Na ótica do professor, o primeiro passo está <strong>em</strong> aceitar que exist<strong>em</strong> dificuldades e buscar<br />

ajuda para resolvê-las. Se o professor perceber que não vive um probl<strong>em</strong>a que é só seu, mas<br />

que é compartilhado com muitos outros professores, a discussão destas dificuldades passa a<br />

existir entre colegas e se torna possível uma busca conjunta de soluções. É deste ponto de<br />

vista que acreditamos que o professor deve procurar ações de formação continuada. É também<br />

participando de ações como esta que os formadores pod<strong>em</strong> aprimorar seu trabalho, evitando a<br />

repetição de programas de formação que não estão cumprindo com sua função.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 31 .


No âmbito da formação continuada, quando os professores já estão na escola, são muito<br />

importantes as reflexões sobre a prática. A formação continuada deve ser entendida e<br />

procurada pelos professores, fundamentalmente, como um espaço para se promover<br />

momentos de reflexão e troca sobre o cotidiano do trabalho. No debate com outros<br />

professores, pod<strong>em</strong>os aprender Mat<strong>em</strong>ática e desenvolver uma atitude reflexiva e crítica sobre<br />

nossa prática. Esse processo coletivo de discussão e análise do nosso trabalho, a partir das<br />

situações da prática, é uma instância privilegiada para produção de saberes dos professores e<br />

para o repensar das dinâmicas da sala de aula.<br />

Reconhec<strong>em</strong>os que, muito <strong>em</strong>bora estas idéias sejam tomadas como norteadoras da grande<br />

maioria das propostas teóricas para a formação de professores, não encontramos, com<br />

facilidade, práticas formadoras alinhadas com essa visão, seja na formação inicial, seja na<br />

formação continuada de professores. Neste texto, estamos debatendo sobre alguns caminhos<br />

de formação inicial e continuada de professores, com o objetivo de dar a você, professor, boas<br />

idéias sobre o que se pode fazer nessas instâncias formadoras, <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática. Achamos que,<br />

dessa forma, possibilitamos a reflexão sobre a sua própria formação inicial, e traz<strong>em</strong>os a<br />

formação continuada como uma nova opção – esta passa a ser a formação que pode lhe<br />

possibilitar construir uma prática diferente, a partir de sua reflexão crítica sobre ela e sobre o<br />

seu trabalho <strong>em</strong> sala de aula.<br />

É importante perceber que, diferent<strong>em</strong>ente da formação inicial, estar efetivamente <strong>em</strong> sala faz<br />

com que o professor possa, a cada momento, se perguntar: “as atividades que estou<br />

realizando na formação continuada vão contribuir para a minha aula?” Esta postura crítica,<br />

conseqüência da vivência e da prática, pode fazer com que o professor influencie nos rumos<br />

de sua formação continuada, não permitindo que os erros cometidos <strong>em</strong> sua formação inicial<br />

se repitam nestas novas oportunidades.<br />

Alguns princípios básicos para a formação de professores <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática<br />

De uma forma geral, as idéias que apresentamos a seguir dev<strong>em</strong> permear os cursos de<br />

formação inicial de professores, permitindo que uma sólida base seja estabelecida para iniciar<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 32 .


a prática. No entanto, neste momento, se faz necessário que estes mesmos princípios estejam<br />

presentes <strong>em</strong> ações de formação continuada, uma vez que dificilmente os programas dos<br />

cursos de formação inicial permit<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po suficiente para que este trabalho seja<br />

completamente desenvolvido.<br />

Costuma ser produtiva a conduta de orientarmos a formação dos professores levando-se <strong>em</strong><br />

conta os saberes profissionais necessários à sua prática. Nesta série, já discutimos a<br />

importância dos procedimentos compreendidos. Ou seja, a Mat<strong>em</strong>ática passa a ser mais<br />

conceitual e menos decorada. Nesse mesmo sentido dev<strong>em</strong>os conduzir a formação dos<br />

professores. Cabe aos formadores providenciar ex<strong>em</strong>plos concretos de momentos de<br />

aprendizag<strong>em</strong> conceitual, fazendo com que o professor repense sobre seu aprendizado,<br />

modificando e aperfeiçoando sua forma de ensinar.<br />

Neste sentido, não pod<strong>em</strong>os nos esquecer do valor formador do ex<strong>em</strong>plo. Se desejarmos que<br />

os (futuros) professores dê<strong>em</strong> mais espaço para as construções conceituais de seus alunos <strong>em</strong><br />

suas salas de aula, dev<strong>em</strong>os fazer o mesmo <strong>em</strong> situações de formação, ex<strong>em</strong>plificando as<br />

possibilidades e criando momentos de discussão e reflexão sobre as experiências vividas.<br />

É fundamental para a formação que os professores vivenci<strong>em</strong> situações que envolvam os<br />

conteúdos mat<strong>em</strong>áticos das séries iniciais, os métodos de ensino, os diferentes recursos<br />

didáticos, e que aprendam experienciando situações <strong>em</strong> que sejam levados a observar, a<br />

pensar mat<strong>em</strong>aticamente, a argumentar, a analisar, a abstrair, a generalizar etc., assim como<br />

deverão fazer seus alunos sob a sua orientação. Isto requer do formador um papel<br />

diversificado: ele deve não apenas providenciar as experiências e atividades, mas deve<br />

também levar os professores a refletir sobre seu aprendizado (atual e anterior). Cabe ao<br />

formador ressaltar para os (futuros) professores como as oportunidades oferecidas aos<br />

aprendizes são fundamentais para gerar aprendizag<strong>em</strong>. Ao professor <strong>em</strong> formação também<br />

cabe mais de um papel: ele deve buscar reconstruir significados para a Mat<strong>em</strong>ática, ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que reflete sobre diferentes formas de contribuir para o aprendizado dos seus<br />

(futuros) alunos.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 33 .


Assim, <strong>em</strong> todos os textos da série, consideramos os (futuros) professores <strong>em</strong> situação de<br />

formação como sujeitos ativos na produção de seus saberes profissionais, estando<br />

permanent<strong>em</strong>ente diante de probl<strong>em</strong>as a ser<strong>em</strong> solucionados, sejam eles de natureza<br />

conceitual, metodológica, operacional etc.<br />

Algumas situações que pod<strong>em</strong> ser vivenciadas <strong>em</strong> formação<br />

A seguir, apresentamos alguns ex<strong>em</strong>plos de atividades que pod<strong>em</strong> contribuir para o<br />

enriquecimento da formação do professor. Esperamos que a leitura destas atividades desperte<br />

<strong>em</strong> você a curiosidade por aprender mais, a vontade de compartilhar com outros as suas<br />

experiências positivas e negativas e o desejo de enriquecer suas aulas de Mat<strong>em</strong>ática,<br />

tornando-as mais agradáveis e efetivas para seus alunos.<br />

Atividade 1: Análise de soluções desenvolvidas por alunos<br />

A análise das soluções apresentadas pelos alunos prepara o professor para situações que farão<br />

parte do seu cotidiano. Este tipo de atividade modifica a idéia de “erro”, pois este passa a ser<br />

um estágio intermediário para a compreensão de um conceito ou um procedimento. O<br />

professor se conscientiza de que os erros retratam quase s<strong>em</strong>pre os “nós” do nosso trabalho.<br />

Eles nos ajudam a identificar pontos que necessitam de um maior investimento de t<strong>em</strong>po e de<br />

estratégias, para dar suporte à aprendizag<strong>em</strong> dos alunos. Para ex<strong>em</strong>plificar, apresentamos uma<br />

pequena análise:<br />

Juliana tenta escrever 21, número ditado por sua professora. Veja sua resposta e os<br />

comentários feitos por ela, ao ser questionada sobre a sua resposta:<br />

201<br />

“2 →o dois é usado no vinte porque depois de um v<strong>em</strong><br />

dois. O 17, 16 e 19 é com um, então o vinte é com dois”<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 34 .


Observe que Juliana não aplica corretamente a notação posicional para escrever o número<br />

21, mas escreve 20 corretamente e é capaz de justificar, <strong>em</strong> sua linguag<strong>em</strong>, a importância de<br />

usar o dois, comparando o vinte com alguns dos números que estão logo antes dele na<br />

seqüência numérica.<br />

Embora ela já escreva os números até 20 corretamente, para o vinte e um ela escreve 201<br />

(ou seja, vinte – e um), não transferindo a notação posicional para a escrita desse “novo”<br />

número. Este é um momento importante da construção numérica, pois os números anteriores<br />

a vinte têm “nomes” (por ex<strong>em</strong>plo: diz<strong>em</strong>os “quinze” ao invés de “dez e cinco”). Este é um<br />

erro comum durante a construção da seqüência numérica e o professor deve permitir mais<br />

experiências e discussões com o grupo para que todos os alunos venham a construir<br />

corretamente a escrita dos números.<br />

Na verdade, a criança entenderá melhor a notação de números como “trinta e quatro”<br />

quando perceber que “dezenove” é, na verdade, “dez e nove” (algumas até passam por uma<br />

“fase” trocando estes nomes – o que d<strong>em</strong>onstra a compreensão do princípio geral de<br />

formação de dezenas).<br />

Como outra sugestão, verifique como a análise do ex<strong>em</strong>plo abaixo pode criar uma rica<br />

discussão acerca da importância do estudo do sist<strong>em</strong>a decimal de numeração para o bom<br />

entendimento dos algoritmos das operações básicas.<br />

• Um aluno, ao adicionar 48 com 35, encontrou 713. Como você acha que ele encontrou<br />

esse número? Como você, professor, ajudaria este aluno a perceber e corrigir o erro<br />

cometido?<br />

Atividade 2: Formulando situações-probl<strong>em</strong>a<br />

Observe que, <strong>em</strong> situação de formação, ao apresentar o probl<strong>em</strong>a formulado para os d<strong>em</strong>ais<br />

grupos, este deve ser avaliado pelos colegas. Essa avaliação ajudará o futuro professor a<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 35 .


tornar-se atento a vários aspectos relacionados ao trabalho com probl<strong>em</strong>as, que são<br />

importantes para formular bons probl<strong>em</strong>as para seus alunos. Alguns ex<strong>em</strong>plos:<br />

a) Proponha uma situação-probl<strong>em</strong>a que envolva a divisão com idéia de medir.<br />

b) Formule um probl<strong>em</strong>a que seja resolvido por meio de: 1.520 – (12 × 13)=<br />

Na discussão <strong>em</strong> grupo dos probl<strong>em</strong>as formulados, pode-se verificar se:<br />

• Os (futuros) professores têm a clareza quanto ao fato de o probl<strong>em</strong>a ser possível,<br />

impossível ou indeterminado.<br />

• O texto do enunciado é claro?<br />

• Envolve situações do interesse e da realidade das crianças?<br />

• O vocabulário utilizado está ao alcance das crianças?<br />

• O probl<strong>em</strong>a contribui para articular Mat<strong>em</strong>ática com outras áreas do conhecimento ou<br />

com as situações do cotidiano?<br />

Atividade 3: Análise de livros didáticos<br />

Observe que a atividade proposta a seguir possibilita uma rica discussão com os (futuros)<br />

professores acerca de sua prática. Estão <strong>em</strong> questão os recursos didáticos, metodologias que<br />

priorizam a conceituação e/ou procedimentos, o ensino dos algoritmos apenas de forma<br />

mecânica etc. Nesse debate, o (futuro) professor, ao fazer uma análise comparativa entre os<br />

livros, desenvolve um senso crítico sobre o que deve ser considerado um bom livro didático,<br />

para dar apoio ao ensino e à aprendizag<strong>em</strong> de Mat<strong>em</strong>ática.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 36 .


Em grupo, analis<strong>em</strong> a abordag<strong>em</strong> feita por dois ou três livros didáticos de Mat<strong>em</strong>ática para<br />

as séries iniciais, no estudo das operações.<br />

Posteriormente, apresent<strong>em</strong> aos d<strong>em</strong>ais grupos as características dessa abordag<strong>em</strong>, de<br />

acordo com o roteiro abaixo:<br />

• A conceituação das operações é priorizada?<br />

• Trabalha-se com as idéias associadas às operações?<br />

• Trabalha-se adição como inversa da subtração?<br />

• Incentiva-se o aluno para a utilização de diferentes algoritmos?<br />

• Utiliza-se o material dourado?<br />

Pontos para reflexão<br />

- Dev<strong>em</strong>os estudar s<strong>em</strong>pre. A boa bagag<strong>em</strong> conceitual nos ajuda, como professores, a<br />

estarmos <strong>em</strong> processo permanente de produção de saberes.<br />

- Por meio da formação continuada, é possível ter oportunidades de estar s<strong>em</strong>pre interagindo<br />

com colegas, <strong>em</strong> torno das questões da nossa prática. A formação não se constrói por<br />

acumulação, mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de<br />

(re)construção permanente de uma identidade pessoal (NÓVOA, 1995, p. 25).<br />

- Estarmos s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> formação implica a experimentação e a inovação através de ensaio de<br />

novos modos de trabalho pedagógico. Esse fazer pedagógico deve estar sob investigação e<br />

reflexão crítica permanente.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 37 .


- No processo de formação continuada, dev<strong>em</strong>os nos indagar e refletir permanent<strong>em</strong>ente<br />

sobre: o que é Mat<strong>em</strong>ática? o que significa saber Mat<strong>em</strong>ática? que Mat<strong>em</strong>ática é necessária,<br />

hoje, para as crianças da escola el<strong>em</strong>entar?<br />

Bibliografia:<br />

MANDARINO, Mônica e BELFORT, Elizabeth. Números Naturais – Conteúdo e Forma.<br />

Rio de Janeiro, LIMC – UFRJ, 2006.<br />

NÓVOA, A. (org) Profissão Professor. Porto Editora, Porto, Portugal, 1995.<br />

OLIVEIRA, Ana Teresa C. C. Formadores de Professores: seus saberes e práticas. Exame<br />

de qualificação II para doutorado <strong>em</strong> Educação. Rio de Janeiro, PUC – RJ, 2006.<br />

Notas:<br />

1 Professora no Instituto de Educação – ISERJ. Pesquisadora da PUC-Rio.<br />

Colaboradora na elaboração desta série.<br />

2 Professora e pesquisadora no Instituto de Mat<strong>em</strong>ática da Universidade<br />

Federal do Rio de Janeiro. Consultora desta série.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 38 .


PROGRAMA 4<br />

DIFERENTES SIGNIFICADOS DE UM MESMO CONCEITO: O CASO<br />

DAS FRAÇÕES<br />

Cleiton Batista Vasconcelos 1<br />

Elizabeth Belfort 2<br />

Muitos conceitos mat<strong>em</strong>áticos pod<strong>em</strong> ser usados associados a mais de uma idéia. Um<br />

ex<strong>em</strong>plo simples é a adição de números naturais, que pode ser associada às idéias de<br />

reunir/juntar ou acrescer/aumentar/ganhar. Especialmente para uma criança, as duas situações<br />

pod<strong>em</strong> ser bastante diversas. É muito diferente, por ex<strong>em</strong>plo, pensar <strong>em</strong> quantas figurinhas<br />

reunidas uma menina e seu irmão têm ou tentar saber quantas figurinhas ela terá após<br />

acrescentar mais 40 figurinhas à sua própria coleção! No entanto, para resolver as duas<br />

situações-probl<strong>em</strong>a, a menina deverá utilizar a mesma operação mat<strong>em</strong>ática. É o que se<br />

chama de mais de um contexto, e é importante que os alunos sejam capazes de identificar que<br />

a operação a ser utilizada <strong>em</strong> cada um deles é a mesma.<br />

As frações, assim como as operações fundamentais, também estão associadas a mais de uma<br />

idéia e, ao contrário do que se pensa, as frações estão presentes <strong>em</strong> muitas situações do nosso<br />

dia-a-dia. Em qualquer profissão que você exerça poderá encontrar situações <strong>em</strong> que deverá<br />

usar frações. Elas estão presentes quer numa mistura de bolo, quer na medida de canos e<br />

conexões, quer na manipulação de r<strong>em</strong>édios.<br />

Entretanto, como muitos outros t<strong>em</strong>as de Mat<strong>em</strong>ática, seu ensino limita-se, <strong>em</strong> geral, à<br />

aplicação de fórmulas e regras, s<strong>em</strong> que os alunos entendam muito b<strong>em</strong> o que estão fazendo.<br />

E, no caso específico das frações, muitas vezes a explanação limita-se a algumas idéias<br />

particulares, s<strong>em</strong> abranger todas as idéias que lhes são associadas. São fórmulas e regras<br />

desprovidas de significados e que dev<strong>em</strong> ser m<strong>em</strong>orizadas e repetidas.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 39 .


Uma fração... muitas idéias<br />

Você já se deu conta de que uma mesma fração pode ser utilizada para representar várias<br />

idéias diferentes? Se não, pense um pouco e analise as situações que se segu<strong>em</strong>.<br />

2<br />

Para simplificar, tom<strong>em</strong>os como ex<strong>em</strong>plo a fração . Que idéias ela pode representar?<br />

5<br />

Idéia 1:<br />

A idéia mais usual de fração é aquela que pensa a fração como parte de um todo, ou seja, uma<br />

2<br />

unidade, que foi dividido <strong>em</strong> partes iguais. Neste sentido, pod<strong>em</strong>os pensar a fração como<br />

5<br />

um todo que foi dividido <strong>em</strong> cinco partes iguais e se tomou duas dessas partes. Assim, t<strong>em</strong>os<br />

a seguinte representação:<br />

Cada uma das partes <strong>em</strong> que o todo foi dividido – pintada ou não – representa um quinto do<br />

todo.<br />

<strong>Discutindo</strong> a prática:<br />

Uma primeira observação que merece ser feita é sobre o significado da palavra igual. A<br />

igualdade a que nos referimos não é de forma e sim do “tamanho” da medida da superfície<br />

que representa o objeto. Assim, a parte pintada de todos os retângulos da figura abaixo<br />

1<br />

representa a fração , e t<strong>em</strong> a mesma medida de superfície (área).<br />

2<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 40 .


Outro ponto importante é que, muitas vezes, essa é a única idéia que é trabalhada com o aluno<br />

<strong>em</strong> sala de aula. Ressalte-se que as primeiras noções de frações como parte de um todo ele já<br />

traz de casa. É muito comum ele ter de repartir ou o pão, ou o bolo, ou o chocolate com o<br />

1 1 1<br />

irmão ou irmãos, ou com um ou mais amigos. Cada um deles recebendo , ou , ou do<br />

2 3 4<br />

pão, do bolo ou do chocolate. Mas essa idéia deve ser aprimorada na escola, pois é muito<br />

comum ouvirmos meninos pequenos falar<strong>em</strong> que quer<strong>em</strong> a “metade maior”. Isso significa que<br />

o conceito de fração como parte de um todo que foi dividido <strong>em</strong> partes iguais ainda não está<br />

b<strong>em</strong> construído.<br />

Idéia 2:<br />

Uma segunda idéia, que pode ser considerada uma variante da idéia anterior para o caso de<br />

grandezas discretas, é aquela que associa as frações a subconjuntos de um conjunto. De<br />

acordo com essa idéia, cada fração de um conjunto é um subconjunto desse conjunto. De<br />

acordo com essa interpretação, de um conjunto com 5 el<strong>em</strong>entos, cada subconjunto com 2<br />

2<br />

el<strong>em</strong>entos corresponde a desse conjunto; de um conjunto de 10 el<strong>em</strong>entos, qualquer<br />

5<br />

2<br />

subconjunto de 4 el<strong>em</strong>entos corresponde a desse conjunto; e assim por diante. Por<br />

5<br />

ex<strong>em</strong>plo:<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 41 .


2<br />

As bolas pintadas de cinza correspond<strong>em</strong> a do total de bolas representadas na figura.<br />

5<br />

<strong>Discutindo</strong> a prática<br />

As frações também estão sendo utilizadas aqui para representar uma ou mais partes de um<br />

todo que foi dividido <strong>em</strong> partes iguais. Só que, nesse caso, o todo é um conjunto, ou seja, uma<br />

grandeza discreta, e o que se divide são os el<strong>em</strong>entos do conjunto, formando, assim, um<br />

subconjunto. Desta vez, as partes iguais não são necessariamente iguais <strong>em</strong> forma ou<br />

tamanho. São iguais <strong>em</strong> número de el<strong>em</strong>entos. Assim é que de um conjunto com quatro<br />

pessoas, independent<strong>em</strong>ente de idade, de cor, de tamanho, de sexo etc., duas dessas pessoas<br />

1<br />

representam metade do conjunto, ou do conjunto.<br />

2<br />

Um ponto a se considerar é o “tamanho” do conjunto considerado como todo. É importante<br />

que o professor fique atento para que não ocorra, <strong>em</strong> um primeiro momento, a necessidade de<br />

se dividir (quebrar) algum dos el<strong>em</strong>entos do conjunto. L<strong>em</strong>bre que não faz muito sentido falar<br />

<strong>em</strong> uma bola de gude dividida <strong>em</strong> duas partes ou <strong>em</strong> um ovo divido <strong>em</strong> três partes, por<br />

ex<strong>em</strong>plo. Um número bom de el<strong>em</strong>entos para o conjunto que vai representar o todo é 12, uma<br />

vez que de um conjunto com doze el<strong>em</strong>entos pode-se, facilmente, encontrar<br />

Idéia 3<br />

1<br />

,<br />

2<br />

1<br />

,<br />

3<br />

1 1<br />

, ,<br />

4 6<br />

Uma terceira idéia, também bastante importante, mas que dificilmente é encontrada nos livros<br />

2<br />

didáticos (e mesmo nas salas de aula) é a que vê a fração como o resultado da divisão de<br />

5<br />

dois números inteiros: o numerador será dividido pelo denominador.<br />

1<br />

12<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 42 .<br />

.


Imagine o seguinte probl<strong>em</strong>a: T<strong>em</strong>os duas pizzas e quer<strong>em</strong>os dividi-las igualmente para cinco<br />

pessoas. Qual a parte que cada uma receberá?<br />

Uma forma de resolver o probl<strong>em</strong>a é dividir cada uma das pizzas <strong>em</strong> 5 pedaços, como mostra<br />

1<br />

a figura abaixo. Cada pedaço representa de uma pizza.<br />

5<br />

Agora t<strong>em</strong>os uma situação simples: um total de 10 pedaços para dividir entre 5 pessoas. Cada<br />

2<br />

uma vai ganhar dois pedaços, ou seja de uma pizza.<br />

5<br />

<strong>Discutindo</strong> a prática<br />

Observe que resolver esse probl<strong>em</strong>a é encontrar o resultado da divisão de 2 unidades – ou seja<br />

– duas pizzas, <strong>em</strong> cinco partes! A resposta deve ser dada na mesma unidade – ou seja –<br />

dev<strong>em</strong>os responder dizendo que fração de uma pizza deve ser dada a cada pessoa. De acordo<br />

2<br />

com essa idéia, a fração é o quociente (resultado) da divisão. Assim, a fração é o resultado<br />

5<br />

da divisão de 2 unidades <strong>em</strong> 5 partes iguais.<br />

Neste caso, cada uma das duas pizzas representa uma unidade. Assim, t<strong>em</strong>os duas unidades<br />

que quer<strong>em</strong>os repartir <strong>em</strong> cinco partes iguais. Ou seja, quer<strong>em</strong>os efetuar a divisão de 2 por 5,<br />

ou melhor, encontrar esse quociente. Para efetuarmos essa divisão, cada unidade deverá ser<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 43 .


dividida <strong>em</strong> 5 partes. A resposta procurada, ou seja, o quociente, é a fração do todo (ou seja,<br />

da unidade) que cada uma das pessoas vai receber.<br />

Como se pode ver a partir do desenho, cada uma vai receber duas das cinco partes <strong>em</strong> que o<br />

2<br />

todo (ou seja, a unidade) foi dividido, ou melhor, cada uma receberá de uma pizza, isto é,<br />

5<br />

2<br />

da unidade.<br />

5<br />

Idéia 4<br />

Uma outra idéia, de grande importância mas não tão explorada na aprendizag<strong>em</strong> de frações, é<br />

aquela que associa a fração à razão entre duas grandezas. De acordo com essa idéia, uma<br />

fração é o quociente (resultado) da comparação (divisão) de uma grandeza (numerador) por<br />

2<br />

outra (denominador). Assim, a fração seria o resultado da comparação de duas grandezas<br />

5<br />

que estão na razão de 2 para 5, ou seja, de cada 7 unidades, 2 são de um tipo e 5 são de outro<br />

tipo. Por ex<strong>em</strong>plo, das 21 bolas abaixo, 6 são de um tipo e 15 de outro, ou seja, de cada 7<br />

bolas, 2 são de um tipo e 5 de outro.<br />

Repare que, neste caso, não estamos comparando uma parte com o todo, mas sim<br />

considerando cada tipo de bola como uma grandeza diferente e determinando a razão entre as<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 44 .


duas. Assim, pod<strong>em</strong>os dizer que as bolas estão na razão de 2 (de um tipo) para 5 (de outro<br />

2<br />

tipo), ou seja, a razão entre elas pode ser representada pela fração .<br />

5<br />

<strong>Discutindo</strong> a prática<br />

A utilização de frações para representar a razão entre duas grandezas se dá quando quer<strong>em</strong>os<br />

comparar essas grandezas. Quando se trata de grandezas da mesma natureza, é importante<br />

l<strong>em</strong>brar que a subtração também pode ser usada como comparação. Assim, é importante notar<br />

que, no caso das frações, essa comparação é uma comparação relativa. Já no caso da<br />

subtração, pode-se dizer que tal comparação é absoluta.<br />

Por ex<strong>em</strong>plo: vamos comparar as idades de Thiago e Mariana, que têm 10 e 8 anos,<br />

respectivamente; pod<strong>em</strong>os chegar aos seguintes resultados:<br />

• Thiago t<strong>em</strong> 2 (dois) anos a mais que Mariana.<br />

Neste caso, t<strong>em</strong>os uma comparação absoluta, obtida a partir da subtração 10 – 8. Esta<br />

comparação mostra a diferença absoluta entre a idade do Thiago e a da Mariana, que é de 2<br />

anos.<br />

4<br />

• A idade da Mariana é da idade do Thiago.<br />

5<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 45 .


Neste caso, t<strong>em</strong>os uma comparação relativa, obtida ao dividirmos a idade da Mariana pela<br />

idade do Thiago. Esta comparação é feita tomando-se a idade do Thiago como o todo que,<br />

5 1<br />

nesse caso, está sendo representado pela fração . Assim, cada dois anos representam da<br />

5<br />

5<br />

4<br />

idade de Thiago. E os 8 anos da Mariana representam desse todo.<br />

5<br />

Observe que a relação absoluta de dois anos obtida pela subtração se mantém para o resto das<br />

vidas de Thiago e Mariana. Ou seja, daqui a dois anos, as idades de Thiago e Mariana serão<br />

12 e 10 anos, respectivamente, e sua diferença ainda será de 2 anos; daqui a 4 anos, as idades<br />

serão 14 e 12 e a diferença permanece a mesma; e assim por diante. Como se percebe, não<br />

importa o número de anos passados, a diferença absoluta será s<strong>em</strong>pre de 2 anos. Já a relação<br />

entre a idade da Mariana e do Thiago, obtida pela divisão da idade da Mariana pela do<br />

Thiago, varia com o passar dos anos, conforme se percebe na tabela que segue:<br />

Data Idade<br />

do<br />

Thiago<br />

Idade da<br />

Mariana<br />

Diferença<br />

4 anos atrás 6 4 2<br />

2 anos atrás 8 6 2<br />

Hoje 10 8 2<br />

Mariana<br />

Thiago<br />

Representação<br />

Decimal<br />

2 ≈ 0,67<br />

3<br />

3 0,75<br />

4<br />

4 0,80<br />

5<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 46 .


Daqui a 2 anos 12 10 2<br />

Daqui a 4 anos 14 12 2<br />

Daqui a 10 anos 20 18 2<br />

Daqui a 20 anos 30 28 2<br />

5 ≈ 0,83<br />

6<br />

6 ≈ 0,85<br />

7<br />

9<br />

10<br />

0,90<br />

14 ≈ 0,93<br />

15<br />

Na realidade, a última coluna nos permite visualizar que a diferença relativa vai diminuindo<br />

com o t<strong>em</strong>po. Ou seja, com o passar do t<strong>em</strong>po, a idade da Mariana se torna (relativamente)<br />

mais próxima da idade do Thiago. Isso se conclui, uma vez que o quociente está crescendo<br />

para 1, ficando cada vez mais próximo deste valor.<br />

Idéia 5<br />

A visualização dos números fracionários na reta numérica não deveria, a rigor, ser<br />

considerada como uma nova idéia, pois se trata da divisão de uma unidade <strong>em</strong> partes iguais.<br />

Só que, ao invés de destacarmos a parte, passamos a destacar pontos da reta. Como <strong>em</strong> uma<br />

régua, marcamos os valores inteiros <strong>em</strong> intervalos iguais, como ilustrado abaixo. O número 1<br />

passa, então, a ser representado por um ponto na reta, que dista uma unidade do zero para a<br />

direita, o número 2 pelo ponto que dista uma unidade para a direita do número 1, e assim<br />

sucessivamente...<br />

012 3<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 47 .


2<br />

A seguir, para determinar a posição da fração , dividimos o intervalo que vai de zero até 1<br />

5<br />

<strong>em</strong> cinco partes iguais, encontrando os pontos A, B, C, D e E (esse último coincidindo com o<br />

número 1).<br />

0ABCD1 2<br />

E=<br />

1 2<br />

O ponto A é associado com , o ponto B, assinalado na figura, representa a fração , e<br />

5<br />

5<br />

5<br />

assim sucessivamente, sendo que E representa a unidade completa, ou seja, .<br />

5<br />

<strong>Discutindo</strong> a prática<br />

A identificação das frações com pontos na reta numérica não apenas ajuda o aluno a perceber<br />

a fração como um novo tipo de número, que ele começa a conhecer, como também pode ser<br />

um ótimo recurso didático no momento de estudar o conceito de frações equivalentes. Por<br />

ex<strong>em</strong>plo, na figura abaixo, v<strong>em</strong>os a divisão da unidade <strong>em</strong> cinco e <strong>em</strong> dez partes iguais. Fica<br />

2 4<br />

simples perceber que as frações e representam o mesmo ponto no intervalo, ou seja,<br />

5 10<br />

são frações equivalentes.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 48 .


Bibliografia:<br />

BRASIL. SEF/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais - Mat<strong>em</strong>ática. Brasília, SEF/MEC.<br />

1999.<br />

IMENES, Luiz Marcio P. e outros. Frações e números decimais. Coleção pra que serve<br />

Mat<strong>em</strong>ática. São Paulo: Atual, 1993.<br />

VASCONCELOS, C. B. Frações: Idéias e Ensino.<br />

Notas:<br />

1 Professor no Departamento de Mat<strong>em</strong>ática da Universidade Estadual do<br />

Ceará.<br />

2 Professora e pesquisadora no Instituto de Mat<strong>em</strong>ática da Universidade<br />

Federal do Rio de Janeiro. Consultora desta série.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 49 .


PROGRAMA 5<br />

A MATEMÁTICA COMO UMA REDE DE CONHECIMENTOS: O<br />

A resolução de probl<strong>em</strong>as<br />

TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO<br />

Mônica Mandarino1<br />

Cileda de Queiroz e Silva Coutinho2<br />

Dev<strong>em</strong>os considerar como probl<strong>em</strong>a toda situação que, desafiando a curiosidade, possibilita<br />

uma descoberta. Tais situações aparec<strong>em</strong> freqüent<strong>em</strong>ente <strong>em</strong> nossa vida diária. Somos<br />

desafiados a encontrar soluções para probl<strong>em</strong>as – mat<strong>em</strong>áticos ou não –, desde os mais<br />

simples (como encontrar um objeto perdido) aos mais complexos (como entender fenômenos<br />

da natureza ou compreender uma nova tecnologia).<br />

Assim, a resolução de probl<strong>em</strong>as deve ser encarada de forma b<strong>em</strong> mais ampla do que um<br />

simples treino de probl<strong>em</strong>as-tipo. Por isso, adotamos uma definição de probl<strong>em</strong>as bastante<br />

abrangente, que não é compatível com um ensino por adestramento.<br />

Mesmo quando nos referimos apenas a probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos, dev<strong>em</strong>os considerar este<br />

termo de forma b<strong>em</strong> ampla. Estamos propondo que probl<strong>em</strong>as não sejam apenas aqueles<br />

pequenos enunciados escritos, utilizados como recurso para que os alunos apliqu<strong>em</strong> um<br />

procedimento que o professor acabou de mostrar no quadro. Para nós, resolver probl<strong>em</strong>as é a<br />

principal atividade mat<strong>em</strong>ática, e ela deve estar s<strong>em</strong>pre presente na sala de aula. É tentando<br />

resolver probl<strong>em</strong>as que novos conceitos começam a ser formados e que surge a percepção da<br />

necessidade de ampliar conhecimentos anteriores – gerando o interesse e o gosto de aprender.<br />

Estamos propondo acabar com uma estrutura didática que privilegia o treino de<br />

procedimentos, s<strong>em</strong> que o aluno perceba porque eles são necessários.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 50 .


Os probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos não têm s<strong>em</strong>pre como objetivo encontrar uma resposta numérica.<br />

Há probl<strong>em</strong>as nos quais se quer, simplesmente, levar os alunos a interpretar e analisar os<br />

dados, a fazer estimativas numéricas e previsões, ou então a organizar dados de maneira<br />

adequada. Assim, propomos que eles resolvam probl<strong>em</strong>as não apenas como simples aplicação<br />

da habilidade de calcular mas, principalmente, como uma oportunidade de analisar situações,<br />

tomar decisões e investigar estratégias.<br />

O aluno só chegará a resolver probl<strong>em</strong>as de forma independente se o professor – s<strong>em</strong> deixar<br />

de auxiliar quando necessário – lhe der múltiplas oportunidades, nas quais uma parcela<br />

considerável do trabalho seja feita por ele próprio ou <strong>em</strong> parceria com seus colegas. Quanto<br />

mais situações-probl<strong>em</strong>a variadas o aluno solucionar <strong>em</strong> equipe, maior também será o seu<br />

repertório, o que o auxiliará na elaboração de estratégias diante de situações novas.<br />

Não dev<strong>em</strong>os esquecer que o maior propósito <strong>em</strong> adotar esta forma de trabalhar –<br />

privilegiando a resolução de probl<strong>em</strong>as – é preparar o aluno para apreender, com autonomia, a<br />

grande quantidade de informação disponível no mundo moderno, sendo capaz de olhar<br />

criticamente para a sociedade <strong>em</strong> que vive. A resolução de probl<strong>em</strong>as contribui para a<br />

formação de hábitos e competências, como: estimar, rever sua solução de forma crítica,<br />

refletir, compreender e decidir.<br />

O tratamento da informação<br />

O bloco de conteúdos denominado de tratamento da informação incluiu nos Parâmetros<br />

Curriculares Nacionais conhecimentos anteriormente pouco valorizados pela Mat<strong>em</strong>ática<br />

escolar, do campo da estatística e da probabilidade, cada vez mais relevantes <strong>em</strong> diversas<br />

situações.<br />

Não é difícil perceber que a Estatística está sendo cada vez mais utilizada, pela simples<br />

observação de que a imprensa divulga, com muita freqüência, pesquisas estatísticas nas mais<br />

diversas áreas de conhecimento. S<strong>em</strong> dúvida, as pesquisas sociais, econômicas, de saúde,<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 51 .


educacionais, sobre segurança e violência, etc. influenciam as conversas entre as pessoas e<br />

muitas decisões políticas, governamentais e também pessoais.<br />

Estudos envolvendo estratégias da estatística e as que envolv<strong>em</strong> a probabilidade também<br />

influenciam nossas vidas de forma menos evidente. Hoje <strong>em</strong> dia, quase todas as <strong>em</strong>presas<br />

realizam pesquisas de mercado, testam seus produtos para definir prazos de validade ou<br />

critérios de segurança, por ex<strong>em</strong>plo. Assim, v<strong>em</strong>os um produto que gostávamos desaparecer<br />

do mercado, somos pegos de surpresa com alterações na programação da <strong>TV</strong>, com<strong>em</strong>os o que<br />

decidiram que é melhor para nossa saúde, respond<strong>em</strong>os incessant<strong>em</strong>ente a questionários, e<br />

assim por diante.<br />

Hoje <strong>em</strong> dia, é importante saber ler e analisar criticamente resultados de pesquisas e fazer<br />

inferências com base <strong>em</strong> informações qualitativas ou dados numéricos. Para isso, é preciso<br />

saber lidar com os conceitos de chance e possibilidade. Desde cedo, a criança pode lidar com<br />

princípios de contag<strong>em</strong> e determinar resultados possíveis, o que, por sua vez, abre caminho<br />

para probl<strong>em</strong>as simples e interessantes de probabilidade, “chance” de ocorrência de um<br />

resultado.<br />

Passar<strong>em</strong>os, então, a apresentar e discutir algumas práticas que pod<strong>em</strong> ser realizadas com<br />

crianças, de diversas faixas etárias, importantes no desenvolvimento de competências e<br />

habilidades para coletar, organizar e analisar dados, b<strong>em</strong> como a capacidade de ler,<br />

interpretar, estabelecer relações e lidar com situações que envolv<strong>em</strong> um contexto<br />

probabilístico, visando a uma “alfabetização estatística”.<br />

Atividades envolvendo a pesquisa estatística<br />

A criança é curiosa por natureza. Ela indaga, questiona... E estes são procedimentos ligados<br />

ao tipo de raciocínio necessário para a resolução de probl<strong>em</strong>as contextualizados. Atividades<br />

que envolv<strong>em</strong> a coleta e a organização de dados contribu<strong>em</strong> para que a criança compreenda<br />

melhor o mundo que a rodeia, desenvolvendo um olhar crítico para o seu entorno. E as<br />

pesquisas <strong>em</strong> Educação Mat<strong>em</strong>ática têm mostrado que o trabalho com t<strong>em</strong>as do campo da<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 52 .


estatística e da probabilidade pode e deve ser realizado desde as séries iniciais da<br />

escolaridade.<br />

As crianças, desde muito cedo, questionam sobre muitas coisas do seu contexto e pod<strong>em</strong>os<br />

tirar muito proveito de sua curiosidade natural, sobre situações tais como: como é a família<br />

dos alunos da minha classe? Quantos irmãos? Qual a brincadeira ou comida preferida? Qual o<br />

animal de estimação que eles possu<strong>em</strong>? Que cuidados são necessários para estes animais? Se<br />

eu jogar com meu colega, qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> mais chance de ganhar? Por quê?<br />

Esses são t<strong>em</strong>as que pod<strong>em</strong>os desenvolver com as classes das séries iniciais... Como<br />

organizar e como interpretar os dados coletados vai depender da série...<br />

A escolha de t<strong>em</strong>as para a construção de probl<strong>em</strong>as e para a coleta de dados que sejam<br />

adequados aos seus alunos é fundamental. Não haverá prazer na descoberta, ou até mesmo<br />

não haverá descoberta, se não houver o interesse e a possibilidade de realizá-la. Além disso, o<br />

incentivo do professor é muito importante para criar o hábito de construir estratégias que<br />

atendam às especificidades de um determinado contexto. Isto pode ser feito por meio de<br />

perguntas que estimul<strong>em</strong> a reflexão e o interesse do aluno e cabe ao professor conduzir e<br />

organizar as condições para o desenvolvimento do trabalho engajado dos alunos. Para isso,<br />

duas questões iniciais são fundamentais:<br />

1. Quais os objetivos da pesquisa? (Pesquisar o quê? E para quê?);<br />

2. Quais são os dados necessários para alcançarmos os objetivos? (Quais as variáveis?)<br />

A resposta à pergunta 1 possibilita as primeiras reflexões intuitivas sobre população e a<br />

decisão sobre a necessidade ou não de utilizar uma amostra. Já a resposta à pergunta 2 irá<br />

auxiliar na identificação das características daquilo que deve ser coletado, e de que forma será<br />

obtido, contribuindo para as primeiras aproximações ao conceito de variável.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 53 .


Diversas pesquisas pod<strong>em</strong> ser planejadas com as crianças a partir de seus interesses, dúvidas,<br />

inquietações ou, ainda, para subsidiar o trabalho com conceitos mat<strong>em</strong>áticos e de outras áreas.<br />

Diversas atividades simples de coleta e organização de dados pod<strong>em</strong> ser realizadas <strong>em</strong> sala de<br />

aula e gerar probl<strong>em</strong>as interessantes que desenvolvam a capacidade de relacionar o mundo<br />

real com representações <strong>em</strong> forma de esqu<strong>em</strong>as, tabelas e gráficos. Nesse processo, a<br />

comunicação t<strong>em</strong> grande importância e deve ser estimulada, levando-se o aluno a “falar” e<br />

a “escrever” sobre mat<strong>em</strong>ática, a trabalhar com representações gráficas, desenhos,<br />

construções, a aprender como organizar e tratar dados (PCN-Mat<strong>em</strong>ática, 1998, p.19).<br />

O ex<strong>em</strong>plo a seguir apresenta a produção de um aluno para uma atividade <strong>em</strong> que a<br />

professora organizou de forma coletiva a montag<strong>em</strong> de um gráfico dos meses de aniversário<br />

das crianças. A partir deste gráfico, formulou probl<strong>em</strong>as de comparação e interpretação de<br />

dados.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 54 .


Atividades envolvendo o contexto probabilístico<br />

O jogo da soma: lançar dois dados, observar os pontos registrados na face superior de cada<br />

um deles e somar os resultados.<br />

Em um primeiro momento, vamos pensar no jogo <strong>em</strong> si. Antes que os dados se imobiliz<strong>em</strong>,<br />

t<strong>em</strong>os como saber quais as faces que sairão? O lançamento dos dados pode ser reproduzido<br />

tantas vezes quantas queiramos? Os resultados possíveis pod<strong>em</strong> ser identificados? Se as<br />

respostas a estas perguntas for<strong>em</strong> afirmativas, estamos diante de um experimento aleatório.<br />

Um experimento aleatório está sendo realizado quando: t<strong>em</strong> a intervenção do acaso, pode ser<br />

reproduzido nas mesmas condições iniciais, os resultados possíveis pod<strong>em</strong> ser identificados a<br />

priori, mas não se pode determinar o resultado final. Neste caso, poder<strong>em</strong>os dizer que<br />

estamos trabalhando <strong>em</strong> um probl<strong>em</strong>a no contexto probabilístico.<br />

Volt<strong>em</strong>os aos dados: Quais as somas possíveis quando lançamos dois dados? A tabela de<br />

dupla entrada abaixo apresenta todas as possibilidades de resultado dos dois lançamentos<br />

simultâneos.<br />

1 2 3 4 5 6<br />

1 2 3 4 5 6 7<br />

2 3 4 5 6 7 8<br />

3 4 5 6 7 8 9<br />

4 5 6 7 8 9 10<br />

5 6 7 8 9 10 11<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 55 .


6 7 8 9 10 11 12<br />

Se você tivesse que apostar, <strong>em</strong> qual soma você apostaria? Por quê?<br />

Determinar a priori as possibilidades de resultado para este jogo é uma das atividades que se<br />

pode realizar <strong>em</strong> sala e envolve o conceito de possibilidades. Quando, a partir disso, quer<strong>em</strong>os<br />

saber a “chance” de uma aposta, estamos no contexto da probabilidade. No entanto, pod<strong>em</strong>os,<br />

antes disso, realizar atividades exploratórias, que são fundamentais para compreender<br />

diversos conceitos. Vamos jogar?<br />

Cada dupla se organiza com um papel, lápis, dois dados e um copinho que será usado para<br />

misturar os dados e lançá-los sobre a mesa. Cada jogador anota sua aposta antes do início do<br />

jogo. Os jogadores lançam os dados alternadamente, 10 vezes cada. O número de vezes pode<br />

ser negociado de acordo com os objetivos da atividade, de acordo com o nível de<br />

escolaridade, etc. mas, quanto maior o número de lançamentos, mais fácil será a percepção<br />

das conclusões do jogo. Todos estes detalhes faz<strong>em</strong> parte do planejamento didático da<br />

atividade e mudanças neste planejamento acarretam mudanças nas estratégias dos alunos para<br />

a resolução do probl<strong>em</strong>a.<br />

Ao final das jogadas, pod<strong>em</strong>os começar a organizar os resultados obtidos. É um primeiro<br />

contato com a idéia de variação, por meio da observação da seqüência de resultados<br />

observados. Com atividades deste tipo levamos os alunos a compreender termos básicos,<br />

usados comumente nos meios de comunicação diante de assuntos relacionados à ciência,<br />

como ver<strong>em</strong>os a seguir. Em um nível seguinte, trabalharíamos a capacidade de conversar, ler<br />

e escrever informações utilizando este vocabulário de forma adequada. Assim, se desenvolve<br />

o que chamamos de “alfabetização estatística”.<br />

Cada dupla pode construir, <strong>em</strong> papel quadriculado, uma primeira representação de seus<br />

resultados. Com lápis de cor e imaginação, as duplas pod<strong>em</strong> criar uma primeira “versão” do<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 56 .


que mais tarde virá a ser um diagrama de colunas, colorindo um quadradinho acima do valor<br />

obtido <strong>em</strong> cada jogada da dupla.<br />

Com o diagrama pronto, pod<strong>em</strong>os debater com os alunos questões como: É possível<br />

obtermos uma soma igual a 1? E igual a 15?<br />

Com esta atividade, o número passa a ter mais um significado: o número de vezes que cada<br />

soma ocorre. Então, esse seria o terceiro significado neste probl<strong>em</strong>a específico: o primeiro foi<br />

o significado de rótulo da face do dado que ficou voltada para cima; o segundo foi o<br />

significado de soma dos valores lidos.<br />

Com este mesmo probl<strong>em</strong>a, pod<strong>em</strong>os ainda explorar o conceito de porcentag<strong>em</strong>: basta<br />

pensarmos <strong>em</strong> freqüências relativas, ao invés de freqüências absolutas. Isso significa passar<br />

da simples contag<strong>em</strong> do número de vezes que se obteve cada resultado, comparando os<br />

resultados absolutos, para uma “comparação” mais apurada que leva <strong>em</strong> conta a<br />

representatividade de cada resultado <strong>em</strong> relação ao total de jogadas, ou seja, que porcentag<strong>em</strong><br />

cada resultado é do total de jogadas.<br />

Como você pode notar, as possibilidades de articulação com diversos conceitos mat<strong>em</strong>áticos<br />

que um jogo como este proporciona, quando b<strong>em</strong> planejado, são grandes! Além de<br />

desenvolver uma postura investigativa, por meio de atividades de resolução de probl<strong>em</strong>as, é<br />

possível explorar conteúdos mat<strong>em</strong>áticos que utiliz<strong>em</strong> o raciocínio estatístico como<br />

ferramenta principal: significado de número, ordenação, operações, frações, porcentagens,<br />

números decimais, localização no plano (gráficos de pontos, gráficos de colunas e/ou barras).<br />

Com este mesmo jogo, pod<strong>em</strong>os ainda explorar o conceito intuitivo de probabilidade, e neste<br />

caso vamos usar o termo “chance”.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 57 .


Qual o resultado que t<strong>em</strong> a maior chance de ser observado: o 4 ou o 8? Por quê?<br />

Este é um momento importante para trabalhar com as crianças o fato de que a ocorrência de<br />

um resultado no lançamento do dado não interfere nos próximos lançamentos. Para que<br />

poderia servir, então, a informação sobre resultados anteriores? No máximo, para nos dar uma<br />

dica se os dados não estão viciados!<br />

Para finalizar...<br />

Como os ex<strong>em</strong>plos mostram, pod<strong>em</strong>os planejar atividades que lev<strong>em</strong> os alunos a resolver<br />

probl<strong>em</strong>as interessantes, algumas vezes lúdicos, que atra<strong>em</strong> o interesse e mostram uma forma<br />

gostosa e correta de se fazer mat<strong>em</strong>ática: de forma integrada, s<strong>em</strong> repartições estanques,<br />

isoladas.<br />

Um trabalho que permita a resolução de probl<strong>em</strong>as contextualizados nos t<strong>em</strong>as relativos ao<br />

Bloco Tratamento da Informação depende muito de um trabalho colaborativo, tanto entre os<br />

professores como entre os alunos e, principalmente, entre alunos e professores.<br />

Os jogos e situações simples pod<strong>em</strong> ser um bom contexto para o trabalho com a<br />

probabilidade, s<strong>em</strong> que nos limit<strong>em</strong>os às situações de mesma chance de ocorrência<br />

(eqüiprobabilidade). O mais importante é que a criança perceba que aquilo que ela está<br />

observando é um experimento aleatório (no qual pode ser percebida a ação do acaso no<br />

decorrer do desenvolvimento do processo observado: os resultados possíveis pod<strong>em</strong> ser<br />

identificados mas não determinados a priori). Afinal, s<strong>em</strong> o acaso não pod<strong>em</strong>os falar de<br />

probabilidades.<br />

Pontos para reflexão...<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 58 .


Na discussão do jogo de dados, apresentamos uma tabela com as possibilidades de resultados<br />

dos dois lançamentos e uma proposta de representação gráfica dos resultados obtidos após um<br />

certo número de jogadas. Pensando nestas representações, responda:<br />

Qual a vantag<strong>em</strong> entre uma representação gráfica e uma representação <strong>em</strong> forma de tabela?<br />

Que tipo de informações se pode tirar de uma ou de outra representação?<br />

Após várias jogadas dos dois dados, você acha que todos os resultados ocorr<strong>em</strong> um mesmo<br />

número de vezes? Por quê? Para fazer uma nova aposta, você prefere observar a tabela com<br />

as possibilidades de resultado ou o gráfico com os resultados obtidos numa jogada anterior?<br />

Por quê?<br />

Notas:<br />

Professora no Departamento de Mat<strong>em</strong>ática da Universidade do Rio de<br />

Janeiro-UNIRIO. Colaboradora na elaboração desta série.<br />

2 Professora no Programa de Estudos Pós-graduados <strong>em</strong> Educação<br />

Mat<strong>em</strong>ática da PUC-SP.<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 59 .


Presidência da República<br />

Ministério da Educação - MEC<br />

Secretaria de Educação a Distância - SEED<br />

<strong>TV</strong> ESCOLA SALTO/PARA O FUTURO<br />

Diretoria do Departamento de Produção e Capacitação <strong>em</strong> Educação a Distância<br />

Coordenação Geral de Produção e Programação<br />

Coordenação Geral de Capacitação<br />

Supervisora Pedagógica<br />

Rosa Helena Mendonça<br />

Coordenadoras de Utilização e Avaliação<br />

Mônica Mufarrej e Leila Atta Abrahão<br />

Copidesque e Revisão<br />

Magda Frediani Martins<br />

Diagramação e Editoração<br />

Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa<br />

Gerência de Criação e Produção de Arte<br />

Consultora especialmente convidada<br />

Elizabeth Belfort<br />

Colaboração de Ana Teresa de Carvalho Correa de Oliveira e Mônica Mandarino<br />

Email: salto@tvebrasil.com.br<br />

Home page: www.tvebrasil.com.br/salto<br />

Rua da Relação, 18, 4º andar. Centro.<br />

CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)<br />

Agosto/Set<strong>em</strong>bro 2006<br />

DISCUTINDO PRÁTICAS EM MATEMÁTICA. 60 .

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