livro - ALASRU - VI CONGRESSO_PARTE 3

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Bibliografia BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Plantar, Colher, Comer. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1981. ESPIÑAL, J.L.R. A casa de farinha e sua organização social. Recife: UFPE, 1981. 144p. (Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Pernambuco). FUKUDA, Wania M. Gonçalves. et al. Avaliação e seleção de variedades de mandioca com a participação de agricultores do Semi-Árido do Nordeste Brasileiro. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2000. 42p. (Boletim de Pesquisa, 18) PEREZ, Alba Rosa (coord.) El papel de la mujer en la agricultura y la pesca. In: Foro mundial de soberania alimentaria. Habana, septiembre, 2001. SENA, M.G.C. de. Onde o paraíso mostra o seu avesso: cenas de trabalhadoras nas matas e mangues de Taperoá. Araraquara: UNESP, 2001. 239p. (Tese de Doutorado. Universidade Estadual Paulista) 1 Técnica da EMBRAPA, D. Sc. em Sociologia (Agricultura Familiar e Estudos de Gênero). E-mail: graca@cnpmf.embrapa.br 2 Pesquisadora da EMBRAPA, M. Sc. em Melhoramento. E-mail:wfukuda@cnpmf.embrapa.br 571
DESCERRANDO <strong>VI</strong>DAS E FALAS (MEMÓRIA, NARRATIVA E GÊNERO NOS CERRADOS DO SUDOESTE PIAUIENSE) 1 I-Introdução 572 Dione Moraes 2 A pesquisa que deu origem a este artigo tomou como evidências empíricas falas de camponeses e camponesas, nos cerrados do sudoeste do Piauí, sem visar a um recorte de gênero. Tratava-se de ouvir homens ou mulheres camponeses, para a compreensão e análise dos processos em curso naquela região piauiense, cujas chapadas, a partir de meados dos anos 80, vêm sofrendo acelerado processo de incorporação pela moderna agricultura do complexo carnes/grãos, para exportação. Assim, emergia, o que chamei, com base em Gramsci (1978), de narrativas eclipsadas (falas de camponeses e camponesas), em contraponto ao discurso oficial (governo e agribusiness) que, com base em Schiller e Fouron (1997), Anderson (1989) e Bhaba (1994), tratei como narrativas mestras do desenvolvimento para as regiões de cerrados 3 . Tese defendida, a possibilidade de tratar a questão dos diferentes estilos narrativos observados entre camponesas e camponeses ganhou corpo, através da idéia de um foco na narrativa feminina, com ênfase no trabalho e no trânsito das mulheres camponesas, pelos espaços privado e público. Associar narrativas femininas e espaço privado leva, de início, a Michelle Perrot quando diz serem as mulheres porta-vozes da vida privada, na rememoração. Segundo a autora, a história feminina, nos século XIX e XX, faz emergir diversos vestígios de lembranças como diários, cartas de amor, cartas confidenciais, arquivos de família, verdadeiras atas registradoras de várias etapas da existência de uma família, através das muitas pequenas coisas colecionadas e guardadas para relembrar e que apontam para uma memória subterrânea do privado, só excepcionalmente vinculada à esfera pública: segredos dos sótãos e das caixinhas de porta-jóias e bugigangas, mil nadas, ou pequenos museus da lembrança feminina do privado (Perrot, 1988). Mas nas chamadas sociedades ocidentais do presente, por exemplo, as mulheres, em geral, participam ativamente do espaço público, através do trabalho considerado produtivo e de responsabilidades sociais. Como assinalaram Denice Bárbara Catani e outros, “para além das esferas históricas e culturalmente reservadas a cada um sexo – que são categorias mais pertinentes ao estudo da história de mulheres e de homens da sociedade ocidental até a primeira metade deste século [XX], o que emerge da ´história do tempo presente´ são imagens retocadas ou, mais do que isso, alteradas, modificadas: as diferentes realidades vividas por homens e mulheres, protagonistas da trama social, emergem por intermédio de fontes orais e escritas, nas quais discursos contraditórios sinalizam o confronto entre o imaginário, os valores, os estereótipos e as impressões culturais. (....). [De fato a] história do tempo presente, relativa à segunda metade deste século, [é um] período caracterizado por muitas rupturas, mutações e pelas conquistas femininas do espaço público. Portanto, além das vinculações ainda bastante presentes com o espaço privado, a memória das mulheres do ´nosso tempo´ mistura e reconstrói as experiências ligadas ao domínio público” (Catani et al, 1997: 44). As narrativas ouvidas na pesquisa situam-se nesse cruzamento das esferas pública e privada. Como sujeitos de um mundo rural, as narradoras fazem parte de um microcosmo social reconhecidamente prescritivo mas são, ao mesmo tempo, inserem-se em um mundo social mais amplo, no qual, como lembra Silva (1999), a própria questão da sobrevivência exige redimensionamentos da noção público/ masculino e privado/feminino, com significativas alterações referentes à relação da mulher com o espaço estritamente doméstico. De fato, na atualidade, a escrita da história das mulheres visa à uma reintegração dessa história à da própria humanidade, sem lugar para diferenças naturais ou biológicas em relação aos homens 4 . As especificidades das histórias das mulheres estão intrinsecamente ligadas ao lugar ocupado pela mulher e às atividades por ela desempenhadas nos micro e macrocosmos em que se inserem. Isto aponta, certamente, para o conceito de experiência (Thompson, 1981) 5 que vincula sujeito e estrutura de modo que a história é vista como o particular experimentado pelos indivíduos. Com isto, a relação entre memória, narrativa e gênero deve escapar às armadilhas da idéia de um modus operandi típico da memória feminina e da hipótese de uma memória especificamente feminina, cujos determinantes sejam estranhos ao campo da cultura.
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