15.04.2013 Views

livro - ALASRU - VI CONGRESSO_PARTE 3

livro - ALASRU - VI CONGRESSO_PARTE 3

livro - ALASRU - VI CONGRESSO_PARTE 3

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Conclusões<br />

Respeitando o caráter preliminar do presente estudo, visto que ainda não foi refinada uma metodologia e os indicadores de<br />

gênero não foram aplicados de forma sistematizada, observou-se que os resultados mais relevantes apontam para o reconhecimento<br />

da importância das mulheres na definição de critérios para a seleção de novas cultivares de mandioca, principalmente quanto à<br />

qualidade das raízes para processamento de farinha e amido, e na seleção das variedades a serem multiplicadas, ampliando a<br />

diversidade genética.<br />

Esse último aspecto é de extrema importância, tendo em vista o grande risco de erosão genética a que a cultura da mandioca<br />

vem sendo submetida. Esse fato relacionado com a segurança alimentar ganha contornos de maior relevância.<br />

Corrobora tal assertiva a “Declaração do Rio”, na qual é dada ênfase ao papel das mulheres para assegurar a preservação da<br />

biodiversidade e a utilização sustentável dos recursos naturais do mesmo modo que outros estudos reconhecem a importância da<br />

mulher camponesa como depositária das tradições e também como conhecedora da diversidade biológica.<br />

Por outro lado, são também as mulheres que, para adequar o nível nutricional da família, mantém na produção agrícola outras<br />

espécies que, além de diversificar a alimentação familiar, permitem um uso mais racional e intensivo da unidade de produção familiar.<br />

Enfim, apesar do caráter exploratório do presente estudo, pode-se afirmar que, ao longo do processo, a tendência será de uma<br />

participação mais efetiva das mulheres. Para imprimir um caráter de maior controle, a participação de homens e mulheres será<br />

monitorada e submetida aos indicadores de gênero.<br />

Tabela 1. Relação de provas participativas colhidas na área do Pró-Sertão – Sergipe, 1999<br />

Município Localidade Data de<br />

plantio<br />

Data de<br />

colheita<br />

570<br />

Nº de participantes<br />

Total H M<br />

Ribeirópolis Lagoa das Pedras 14.97.98 27.10.99 54 37 17 31,5<br />

Aquidabã Cajueiro dos Potes 15.07.98 07.10.99 28 18 10 35,7<br />

Simão Dias Mato do Peru 16.07.98 21.09.99 62 40 22 35,5<br />

N.S.Aparec. Baixão 29.07.98 28.10.99 13 13 0 0,0<br />

Frei Paulo Catuabo 30.07.98 28.10.99 20 12 8 40,0<br />

Carira Cutias 30.07.98 22.09.99 24 16 8 33,3<br />

F. Nova Malhado Pau Ferro 30.07.98 06.10.99 11 8 3 27,3<br />

N.S.Lourdes Barro Vermelho 30.07.98 23.09.99 10 10 0 0,0<br />

Cumbe Campo Agrícola 30.07.98 26.10.99 10 6 4 40,0<br />

Total de<br />

participantes<br />

Fonte: Fukuda, W.M.G. Dados preliminares da PPMM no Estado de Sergipe.<br />

232 160 72 31,0<br />

% mulheres<br />

em relação ao<br />

total


Bibliografia<br />

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Plantar, Colher, Comer. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1981.<br />

ESPIÑAL, J.L.R. A casa de farinha e sua organização social. Recife: UFPE, 1981. 144p. (Dissertação de mestrado. Universidade<br />

Federal de Pernambuco).<br />

FUKUDA, Wania M. Gonçalves. et al. Avaliação e seleção de variedades de mandioca com a participação de agricultores do<br />

Semi-Árido do Nordeste Brasileiro. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2000. 42p. (Boletim de Pesquisa, 18)<br />

PEREZ, Alba Rosa (coord.) El papel de la mujer en la agricultura y la pesca. In: Foro mundial de soberania alimentaria. Habana,<br />

septiembre, 2001.<br />

SENA, M.G.C. de. Onde o paraíso mostra o seu avesso: cenas de trabalhadoras nas matas e mangues de Taperoá. Araraquara:<br />

UNESP, 2001. 239p. (Tese de Doutorado. Universidade Estadual Paulista)<br />

1 Técnica da EMBRAPA, D. Sc. em Sociologia (Agricultura Familiar e Estudos de Gênero). E-mail: graca@cnpmf.embrapa.br<br />

2 Pesquisadora da EMBRAPA, M. Sc. em Melhoramento. E-mail:wfukuda@cnpmf.embrapa.br<br />

571


DESCERRANDO <strong>VI</strong>DAS E FALAS<br />

(MEMÓRIA, NARRATIVA E GÊNERO NOS CERRADOS DO SUDOESTE<br />

PIAUIENSE) 1<br />

I-Introdução<br />

572<br />

Dione Moraes 2<br />

A pesquisa que deu origem a este artigo tomou como evidências empíricas falas de camponeses e camponesas, nos cerrados do<br />

sudoeste do Piauí, sem visar a um recorte de gênero. Tratava-se de ouvir homens ou mulheres camponeses, para a compreensão e<br />

análise dos processos em curso naquela região piauiense, cujas chapadas, a partir de meados dos anos 80, vêm sofrendo acelerado<br />

processo de incorporação pela moderna agricultura do complexo carnes/grãos, para exportação. Assim, emergia, o que chamei, com<br />

base em Gramsci (1978), de narrativas eclipsadas (falas de camponeses e camponesas), em contraponto ao discurso oficial (governo<br />

e agribusiness) que, com base em Schiller e Fouron (1997), Anderson (1989) e Bhaba (1994), tratei como narrativas mestras do<br />

desenvolvimento para as regiões de cerrados 3 .<br />

Tese defendida, a possibilidade de tratar a questão dos diferentes estilos narrativos observados entre camponesas e camponeses<br />

ganhou corpo, através da idéia de um foco na narrativa feminina, com ênfase no trabalho e no trânsito das mulheres camponesas,<br />

pelos espaços privado e público. Associar narrativas femininas e espaço privado leva, de início, a Michelle Perrot quando diz serem<br />

as mulheres porta-vozes da vida privada, na rememoração. Segundo a autora, a história feminina, nos século XIX e XX, faz emergir<br />

diversos vestígios de lembranças como diários, cartas de amor, cartas confidenciais, arquivos de família, verdadeiras atas registradoras<br />

de várias etapas da existência de uma família, através das muitas pequenas coisas colecionadas e guardadas para relembrar e que<br />

apontam para uma memória subterrânea do privado, só excepcionalmente vinculada à esfera pública: segredos dos sótãos e das<br />

caixinhas de porta-jóias e bugigangas, mil nadas, ou pequenos museus da lembrança feminina do privado (Perrot, 1988).<br />

Mas nas chamadas sociedades ocidentais do presente, por exemplo, as mulheres, em geral, participam ativamente do espaço público,<br />

através do trabalho considerado produtivo e de responsabilidades sociais. Como assinalaram Denice Bárbara Catani e outros,<br />

“para além das esferas históricas e culturalmente reservadas a cada um sexo – que são categorias mais pertinentes ao estudo<br />

da história de mulheres e de homens da sociedade ocidental até a primeira metade deste século [XX], o que emerge da ´história<br />

do tempo presente´ são imagens retocadas ou, mais do que isso, alteradas, modificadas: as diferentes realidades vividas por<br />

homens e mulheres, protagonistas da trama social, emergem por intermédio de fontes orais e escritas, nas quais discursos<br />

contraditórios sinalizam o confronto entre o imaginário, os valores, os estereótipos e as impressões culturais. (....). [De fato<br />

a] história do tempo presente, relativa à segunda metade deste século, [é um] período caracterizado por muitas rupturas,<br />

mutações e pelas conquistas femininas do espaço público. Portanto, além das vinculações ainda bastante presentes com o<br />

espaço privado, a memória das mulheres do ´nosso tempo´ mistura e reconstrói as experiências ligadas ao domínio público”<br />

(Catani et al, 1997: 44).<br />

As narrativas ouvidas na pesquisa situam-se nesse cruzamento das esferas pública e privada. Como sujeitos de um mundo rural, as<br />

narradoras fazem parte de um microcosmo social reconhecidamente prescritivo mas são, ao mesmo tempo, inserem-se em um mundo<br />

social mais amplo, no qual, como lembra Silva (1999), a própria questão da sobrevivência exige redimensionamentos da noção público/<br />

masculino e privado/feminino, com significativas alterações referentes à relação da mulher com o espaço estritamente doméstico.<br />

De fato, na atualidade, a escrita da história das mulheres visa à uma reintegração dessa história à da própria humanidade, sem lugar<br />

para diferenças naturais ou biológicas em relação aos homens 4 . As especificidades das histórias das mulheres estão intrinsecamente<br />

ligadas ao lugar ocupado pela mulher e às atividades por ela desempenhadas nos micro e macrocosmos em que se inserem. Isto<br />

aponta, certamente, para o conceito de experiência (Thompson, 1981) 5 que vincula sujeito e estrutura de modo que a história é vista<br />

como o particular experimentado pelos indivíduos. Com isto, a relação entre memória, narrativa e gênero deve escapar às armadilhas<br />

da idéia de um modus operandi típico da memória feminina e da hipótese de uma memória especificamente feminina, cujos<br />

determinantes sejam estranhos ao campo da cultura.


Como lembram Fentress e Wickham (1994), de fato, não se pode esquecer a diversidade objetiva das experiências femininas<br />

construídas a partir das formas diversas de estruturação familiar, de cooperação entre os sexos ou mesmo de cumplicidade com os<br />

homens, as quais têm a ver, inclusive, com os diferentes níveis de tolerância masculina e de exclusão sexual. Nesse sentido, a diferença<br />

observada e até mesmo modos diferentes de recordar, masculino e feminino, se relacionam com as esferas sociais de reprodução nas<br />

quais atuam mulheres e homens. A memória de mulheres e homens, portanto, é marcada e estruturada pelos tipos de papéis sociais<br />

desempenhados e as diferentes trajetórias individuais, estruturando-se em consonância com os diferentes papéis sexuais. Esses<br />

diferentes percursos são, por sua vez, constituídos por múltiplas variáveis, como o meio social, o nível de estudos, a participação<br />

política, a faixa etária, etc. Não seria, pois, simplesmente a pertença a um dos gêneros mas a própria construção cultural deles, seus<br />

limites e possibilidades sociais, remetendo às experiências e trajetórias de vida de cada um, o que definiria os modos de recuperação<br />

do passado, incluindo-se, aí, os modos de narrar.<br />

A propósito dos modos de narrar, os relatos, aqui trazidos como evidências empíricas, foram recolhidos pela perspectiva metodológica<br />

da história de vida, numa pesquisa de orientação etnográfica. Dessas histórias, neste artigo, são trabalhados alguns excertos, sem<br />

ignorar críticas como a de Bourdieu (1996) sobre a ilusão biográfica como um postulado do sentido da existência narrada – como um<br />

cursus, um trajeto dotado de sentido –, aceito tanto pelo(a) investigador(a), quanto pelo(a) investigado(a 6 ). Para Pierre Bourdieu, a<br />

história de vida supõe uma propensão do narrador ou narradora a tornar-se ideólogo(a) de sua própria existência selecionando certos<br />

acontecimentos significativos, dando-lhes coerência através das conexões – causas, conseqüências e, acrescento, projetos –, com a<br />

colaboração do(a) pesquisador(a), levado(a) a aceitar tal criação artificial de sentido elaborada no ato narrativo.<br />

Metodologicamente, no entanto, tal questão não invalida a pesquisa baseada na história de vida como evidência empírica; ao contrário,<br />

deve-se compreender que essa construção é, ela própria, um trabalho da memória, evidenciado pelo ato narrativo, e, portanto, objeto<br />

mesmo da análise, ou seja, a narrativa não reconstitui o passado tal qual ele foi vivido. Como lembra Brandão (1998), quando uma<br />

pessoa vive as suas memórias constantes da biografia cotidiana, aquelas que ela reconhece como povoadoras do seu imaginário de<br />

lembranças e pensamentos-acompanhados-de afetos, esta pessoa está diante do que consideraria a raiz da identidade assumida, da<br />

qual fazem parte seres, fatos e feitos, ritos, gestos, situações recordadas e vivas na imaginação 7 . Isto permite tomar a memória não<br />

como um documento a ser cotejado com outras fontes, visando-se garantir ao máximo sua veracidade, como um dado de pesquisa,<br />

mas da perspectiva da análise da construção social de significados.<br />

Esta compreensão, no campo das ciências sociais, posta desde Halbwachs (1990), orienta-se para um pressuposto, defendido, entre<br />

outros, por Feldman-Bianco e Huse ([199-]), de que as reminiscências de sujeitos da pesquisa, permeadas por silêncios, amnésias e<br />

sombras, e moldados por condicionamentos múltiplos, certamente constituem uma mediação simbólica através da qual o significado<br />

é construído 8 . Como diz Maluf (1999), tomar a narrativa como objeto de análise é fazer uma interpretação de uma interpretação, com<br />

uma diferença: enquanto o narrador visa à sua própria história individual, à interpretação sociológica interessam os sentidos sociais<br />

da experiência. Isto é feito mediante duas direções complementares, que recolocam a relação singular/universal: uma é a de ver a<br />

narrativa pelo ângulo da multivocalidade e, a outra a de, ao mesmo tempo, buscar, nela, o fio que ajuda a tecer o itinerário narrado e<br />

referente ao âmago da experiência e da auto-reflexão que constituem o ato narrativo. Tudo isto permeado, sempre, pelos imponderáveis<br />

do encontro etnográfico e da intersubjetividade.<br />

Através desses marcos teóricos, os relatos recolhidos são tomados como evidências empíricas de um modo de vida camponês nos<br />

cerrados piauienses, remetendo outros grupos camponeses em outras regiões de cerrados, Brasil afora (Andrade,1984, 1995, Dayrell,<br />

1993, Gutberlet, 1994, Souza Filho (1996). Nesse modo de vida, o eixo central é formado pela relação entre terra, família e trabalho;<br />

o saber ambiental dos camponeses e sua relação com o sistema de produção, notadamente quanto à relação com as variadas possibilidades<br />

agroecológicas que os diversos ecossistemas dos cerrados oferecem; os limites e possibilidades da reprodução social dessas populações<br />

com a incorporação das chapadas pela agricultura intensiva; e a reorientação das suas estratégias de sobrevivência, guiada pela lógica<br />

do aprovisionamento (Sahlins, 1983).<br />

Nessa perspectiva, o papel proeminente conferido a uma memória eclipsada (Moraes, 2000) exige que as próprias recordadoras/<br />

narradoras exponham os sentidos da trama social em que se inserem. Esse enfoque, longe de supor uma concepção ingênua da narração,<br />

antes, como diria Bosi (1994), interessa-se pelo que foi escolhido para ser lembrado, a fim de perpetuar-se na história da vida da<br />

narradora, com sentido no momento presente, em que novos itinerários emergem com rapidez e ritmos inusitados.<br />

Sem dúvida, são profundas as alterações que o tradicional modo de vida das famílias camponesas vem sofrendo, em decorrência da<br />

incorporação das chapadas pelo agribusiness do complexo carnes/grãos, a partir de quando esses grupos sociais, que tradicionalmente<br />

opera(va)m nos diversos ecossistemas dos cerrados, associando o uso de baixões e chapadas, o fazem num espaço social<br />

573


progressivamente mais restrito. Isto ocorre em meio a um processo de modernização agrícola instaurado em ritmo galopante e diante<br />

do qual os camponeses e camponesas podem aparecer como portadores de atitudes ambíguas: por um lado, maravilham-se ante a<br />

formidável diferença entre o sistema da roça de toco nos baixões e o da monocultura do arroz de sequeiro na chapada e reclamam, na<br />

prática, seu direito à inclusão nesse processo; por outro, não querem abandonar o baixão e tudo o que significa em termos de um modo<br />

de vida calcado na tradição e, sobretudo, na valorização do lugar 9 .<br />

As tramas de vida das narradoras remetem, portanto, a um amplo cenário, a múltiplos atores sociais numa rememoração, nem sempre<br />

linear, como de resto é característico do ato de recordar, descomprometido que é com a estrita sucessão do calendário. Não se tratam<br />

de biografias lineares, nem de imposição de linearidade às narrativas 10 . São valorizadas as reminiscências das narradoras, com seus<br />

silêncios, amnésias e sombras, portadores que são de condicionamentos múltiplos e mediação simbólica na construção dos significados 11 .<br />

Essa questão da construção do significado é relevante, até por ser a memória não apenas a atualização do passado, sua presentificação,<br />

mas, também, o registro de acontecimentos presentes, do acontecendo (Brandão, 1998) 12 . Ela, a memória, não se reduz à gravação<br />

automática de fatos, acontecimentos, coisas, pessoas e relatos, efetuada pelo cérebro. De fato, o ato de recordar implica a elaboração<br />

de uma representação de quem recorda, para si próprio, e para os que o rodeiam, podendo o sujeito, assim, revelar-se de modo<br />

articulado: a maneira como se recorda é como se é, pois, como diz Bosi (1994), o sujeito é aquilo de que se lembra. Esta maneira como<br />

se lembra é a mesma pela qual o sujeito se apresenta nas suas memórias, ou seja, esse é o modo pelo qual se definem suas identidades<br />

pessoal e coletiva, como ordena e estrutura, ali, as idéias, e a própria maneira pela qual as transmite – no caso pela oralidade – a<br />

outros.<br />

Na reconstrução narrativa das trajetórias as narradoras trazem elementos importantes sobre o trabalho como experiência de vida,<br />

vivenciado em diversos momentos e espaços sociais. A esfera do trabalho não é vista desvinculada de outras esferas vivenciais, mas<br />

inserida em relações familiares, de classes e de gênero, ao longo do tempo definido pela idade e pelo ciclo de vida e também em<br />

diferentes espaços sociais, indo do domínio privado ao público.<br />

II- Experiência e representação do trabalho entre camponesas nos cerrados piauienses<br />

Os temas experiência e trabalho, segundo Silva, Lima e Martins (1991), vinculam-se diretamente dentre famílias camponesas e se<br />

ligam a subtemas como trabalho leve ou pesado, espaço produtivo ou reprodutivo, trabalho visível ou invisível e à própria apreensão<br />

do trabalho, tal como existe e como é percebido pelas mulheres e homens. Tais questões apontam, teoricamente, para a concepção de<br />

trabalho, labor e ação, segundo Hanna Arendt, elementos da vita activa:<br />

“O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano (...). O trabalho é a atividade correspondente<br />

ao artificialismo da existência humana. Porduz um mundo artificail d ecoisas nitidamente diferentes de qualquer ambiente<br />

natural (...). A ação corresponde à condição humana da pluralidade” (Arendt, 2001: 15) “O labor assegura não apenas a<br />

sobrevivência do indivíduo, mas a vida da espécie. O trabalho e seu produto, o artefato humano, emprestam certa permanência<br />

e durabilidade à utilidade da vida mortal e ao caráter efêmero do tempo humano. A ação (...) cria a condição para a lembrança,<br />

ou seja, para a história “ (Arendt, 2001: 16-17).<br />

Mas o trabalho é, sobretudo, experiência humana, o que corresponde às formas de ação e de pensamento, como posto por E. P.<br />

Thompson:<br />

“os homens e mulheres também retornam como sujeitos, dentro desse termo [experiência humana] (...) como essoas que<br />

experimentam suas situações e relações produtivas determinadas como necessidades e interesses e como antagonismo e, em<br />

seguida, ‘tratam’ essa experiência em sua consciência e sua cultura (...) das mais complexas maneiras (...) e em seguida (...)<br />

agem, por sua vez, sobre sua situação determinada” (Thompson, 1981: 182).<br />

Para E. P. Thompson, experiência é uma caregoria que “ (...) compreende a resposta mental e emocional, seja de um indivíduo ou de<br />

um grupo social, a muitos acontecimentos interrelacionados ou a muitas repetições do mesmo tipo de acontecimento” (Thompsom,<br />

1981: 15). Em assim sendo, a experiência corresponde às formas de ação e pensamento, já que ela “(...) não surge sem pensamento.<br />

Surge porque homens e mulheres (...) são racionais e refletem sobre o que acontece a eles e ao mundo (...). Pois não podemos conceber<br />

nenhuma forma de ser social independemente de seus conceitos e expectativas organizadores (...)” (Thompson, 1981: 16).<br />

574


Isto significa que “as pessoas não experimentam sua própria experiência apenas como idéias, no âmbito do pensamento e de seus<br />

procedimentos (...) Elas também experimentam sua experiência como sentimento e lidam com esses sentimentos na cultura, como<br />

normas, obrigações familiares e de parentesco, e reciprocidades, como valores (...)” (Thompson, 1981: 189). Nesse sentido, o trabalho<br />

das mulheres camponesas, cujo significado circula pelos pólos livre/pesado, produtivo/reprodutivo, visível/invisível, trabalho/ajuda,<br />

é um momento da vida e da experiência humana dessas pessoas e de suas famílias e grupos sociais.<br />

Isto faz supor, de acordo com Silva, Lima e Martins (1991), a construção de uma visão não-fragmentada do trabalho, no<br />

tempo e no espaço. O trabalho é um momento da vida e da experiência humana e, portanto, um elemento da história, tanto da social,<br />

mais ampla, quanto das histórias individuais. Importa, pois, compreender o trabalho dessas camponesas como parte de sua condição,<br />

de sua história, ou seja, pela ótica das experiências e da condição dessas mulheres. Não faz sentido, aqui, portanto, permanecer na<br />

superfície das dicotomias referidas (pelas idéias de trabalho leve ou pesado; no espaço produtivo ou reprodutivo; visível ou invisível) 13 .<br />

Esta superfície é um ponto de partida para a apreensão do trabalho tal como existe e é percebido pelas mulheres e homens, numa<br />

simbiose indivíduo/família. De fato, em suas próprias histórias, as narradoras inserem as trajetórias dos irmãos, das irmãs, do pai e da<br />

mãe, dos filhos, das filhas e do marido, e percebe-se que a história do trabalho mescla-se com a da vida da família: migrações, relações<br />

com a terra, casamentos, mortes, etc.<br />

Essa perspectiva de avanço para além da superfície aponta para dois enfoques sobre trabalho feminino, importantes na reflexão sobre<br />

trabalho de mulheres camponesas. Um deles encontra-se na análise de Elizabeth Souza Lobo que, utilizando-se do conceito de<br />

experiência de Thompson (1981), analisa a trajetória de mulheres operárias, cujo resgate das histórias de vida, permitiu-lhe trabalhar<br />

a idéia de um destino de gênero: “E o destino sob a forma da necessidade que está envolvido no trabalho doméstico como no trabalho<br />

assalariado. O trabalho, o casamento, a maternidade, se sucedem neutralizadas como ciclos da natureza” (Lobo, 1989: 177).<br />

Outro enfoque é o de ajuda atribuído ao trabalho feminino, tratado pela literatura antropológica na análise dos papéis e funções<br />

relativos à divisão sexual do trabalho e ao domínio dos espaços, por gênero, nas famílias camponesas. A propósito, lembro, com<br />

Maria José Carneiro, que<br />

“(...) é na relação de oposição e complementaridade entre casa e roça que esse tipo de agricultor constrói sua identidade social.<br />

É também por meio dessa relação que se organizam as relações entre os sexos, a definição dos gêneros e a hierarquia no interior<br />

do grupo doméstico. A roça é o espaço socialmente visto como masculino. As tarefas aí realizadas são genericamente<br />

reconhecidas como trabalho e conferem ao homem a condição social de lavrador. A casa, por outro lado, é o espaço da mulher,<br />

onde ela pode exercer suas funções de mãe e dona-de-casa. Ao contrário do homem, a mulher não trabalha – sua ocupação é<br />

vista como serviço de mulher ou como ajuda. As tarefas femininas mesmo que fundamentais à reprodução do grupo, são<br />

consideradas complementares e subordinadas, o que explica o predomínio da roça sobre a casa no que se refere à distribuição<br />

da força de trabalho disponível em cada família. Enquanto a posição social do homem é dada pelo trabalho, o que define a<br />

mulher é sua condição de reprodutora, cujo espaço ´natural´ é a casa” (Carneiro, 1986: 24).<br />

A associação desses dois aspectos, destino de gênero e trabalho como ajuda, constitui-se num forte elemento do imaginário entre<br />

populações camponesas, a ponto de manter-se como representação, mesmo apesar de, como lembra Silva (1999), a mulher rural<br />

exercer atividades tanto no âmbito doméstico quanto no trabalho na roça, de forma intensa e, a maioria até mesmo quando se encontra<br />

em adiantado estado de gravidez. Em geral, torna-se até mesmo difícil precisar a idade com que começaram a trabalhar, pois de acordo<br />

com suas lembranças, o trabalho sempre fez parte de suas vidas, numa história simbólica entre indivíduo e grupo familiar. De fato, as<br />

narradoras exerceram, desde crianças, o trabalho na roça e o extrativismo compartilhados com o trabalho doméstico, desempenhando<br />

várias tarefas desde o cuidado com os irmãos menores, passando pelas de limpeza e cozinha, até cuidados de animais de pequeno porte<br />

e trabalho na horta, como evidenciam esses excertos:<br />

“Maria Ribeiro de Moraes, cinqüenta e um anos. Minha sogra, o povo, me chamava de Mariinha, mas pode me chamar de<br />

Maria (...). a gente (...) trabalhava muito assim de lavoura, sabe, a gente brocava roça, coisa que eu mais adorava, aí, depois a<br />

gente plantava o milho, feijão, mandioca e arroz, depois, quando era tempo de colheita, a gente entrava na colheita, isso era<br />

muito animado, com muita gente, isso era bom demais! Desde criança, fui criada na roça. Quando [me] entendi, já foi na roça,<br />

meus pais já trabalhavam de roça e, ainda hoje, trabalha. Eu vou lhe contar (...) É, [tenho] essa experiência [viver e trabalhar na<br />

roça] bem de perto e não vou desistir não, porque pra mim foi donde eu nasci e me criei naquela região de lavoura. E ave Maria,<br />

Deus nos livre de passar um ano sem plantar! P, porque na hora em que começa, que a gente vê aquelas primeiras chuvas,<br />

aqueles trovãozinhos, sabe o que a gente lembra? Ddaqueles feijãozinho de primeiras águas. Aí, a gente não consegue deixar,<br />

não”. (M. R. M., camponesa, comunidade de Sangue/Uruçuí/PI).<br />

575


“A maniva é esta, ó [mostrando o pedaço do caule da mandioca usado para o plantio]! Agora a gente chega e cava<br />

a cova com a enxada e aí a gente vem e bota aqui e deixa uma pontinha de fora e aí a gente vai, ó! Ói o pé! Cobre e deixa aqui.<br />

E vai cavar bem aqui, né? Quando chega bem acolá, cava outra pra mode num ficar muito perto e engarranchar” (E. S.,<br />

camponesa, 82 anos, Uruçuí/PI).<br />

“Se você quer uma farinha bem boa... – porque o povo costuma assim... só lava mais quando vai vender... –, aí, tem essa treta.<br />

A farinha pra comer, [a gente] não tira a tapioca, fica mais gostosa” (M. R. M., camponesa, comunidade de Sangue, Uruçuí/<br />

PI).<br />

“Aqui na roça, a gente vive é assim. Do coco e do buriti, nada se perde. A gente aproveita até o carvão.” (H. A. S., camponesa<br />

da comunidade de Bananeira, Uruçuí/PI).<br />

Desde crianças, as narradoras trabalhavam no seio da família, como trabalhadoras não-remuneradas, um trabalho percebido e<br />

autopercebido como ajuda, trabalho menor, apêndice de um trabalho mais importante, embutido no do pai, chefe da família. Até<br />

mesmo na condição de assalariamento, caso em que sempre acompanhavam o pai, a mãe ou os irmãos mais velhos<br />

Com efeito, as narrativas evocam uma tradição de longa data, ainda em vigor entre populações camponesas, pela qual a hierarquia na<br />

família se expressa por categorias como ajuda e trabalho. Este (trabalho) realiza-se na roça e está associado ao homem (chefe da<br />

produção, pai e marido), enquanto aquela (ajuda) supõe a presença da mulher, filhos e filhas no espaço do trabalho, onde não são<br />

protagonistas. A recorrência do trabalho da mulher como ajuda é evidente. Se, entre populações camponesas, é comum as mulheres<br />

sempre exercerem a profissão de ajudante: da família de origem, quando solteiras; do marido, quando casadas, é comum que esses<br />

papéis sejam percebidos entre as próprias mulheres, como naturalizados, numa certa ordem, que caracteriza o lugar (destino?) de<br />

mulher: os homens têm uma história (protagonismo)e as mulheres, como diria Lobo (1989) um destino (determinismo).<br />

Nesse aspecto, chama a atenção o que Isabelle Bertaux-Wiame já observara:“os homens consideram a vida que viveram como sua”<br />

(apud Thompson, 1998: 204), usando o eu ativo, e assumindo o protagonismo das suas ações, por meio do discurso. Já para as<br />

mulheres, educadas para o decoro do esquecimento de si (Perrot, 1988), não é fácil dizer eu. O protagonismo costuma ser relativizado,<br />

com as narradoras, freqüentemente, se incluindo na narrativa mediante o uso do pronome nós e da expressão a gente – o que, parece<br />

indicar, no plano discursivo, uma subsunção da identidade funcional, e até mesmo de gênero, à do marido –, enquanto relata trechos<br />

do próprio discurso do marido nos quais este aparece usando o eu ativo:<br />

“(...) Foram sete anos lá, nesse local. Aí, depois, a gente veio ser vaqueiro e passei mais três anos nesse local donde a gente veio<br />

ser vaqueiro, que ele disse que queria pegar um gadinho, sabe? Aí, a gente veio, aí depois ele disse: “– Olha, Maria...” – o<br />

mesmo Sangue, só que num lugar chamado.... esqueci agora do nome. É a que hoje é a fazenda é... do menino, do Rochinha,<br />

daquele que trabalha na EMATER. A gente passou três anos aí, nessa fazenda. Depois aí, ele disse: “– Maria, a gente precisa<br />

de colocar os meninos pra estudar, que já tão bom de estudar e eu quero colocar ...” (M. R. M., camponesa, comunidade de<br />

Sangue/Uruçuí/PI).<br />

“A gente veio pra cá, ele [marido] já plantava aqui. A gente tem... já temos três anos que trabalha aqui no cerrado, só que teve<br />

um ano, em noventa e oito [1998], a gente perdeu totalmente [o plantio] porque não choveu. Pela seca. Teve a seca, ninguém<br />

produziu (...)” M. C. S., camponesa, líder do Movimento de Mulheres do STR/Uruçuí, Acampamento Saponga).<br />

Essa relativização, recorrente, do protagonismo na narrativa se dá, também, quando a narradora fala sobre sua própria vida,<br />

tipicamente em termos de relações, ou seja, sua história de vida está referenciada, quase sempre, por outras pessoas. No passado mais<br />

distante, os pais e outros membros da família de origem e num mais próximo, e no presente, o marido e filhos. As próprias ações são<br />

narradas de modo que as iniciativas relacionam-se às decisões do marido.<br />

Mas, como diz Carneiro (1986), não se trata de ver essas relações como estáticas e cristalizadas num padrão de família camponesa.<br />

É que tanto as novas condições socioeconômicas, que subordinam os camponeses, quanto os próprios movimentos de emancipação<br />

576


feminina, em curso também no meio rural, reorientam essas relações para diversas direções 14 , sem que isto signifique que essas<br />

populações deixem, por isso, necessariamente, de ser camponesas 15 .<br />

A propósito, para uma abrangência histórica dessa cultura que relaciona estreitamente a mulher ao espaço doméstico, privado,<br />

convém lembrar uma vez mais Michelle Perrot quando afirma que se nos tratados dos séculos X<strong>VI</strong>I e X<strong>VI</strong>II falava-se do dono-decasa,<br />

verdadeiro chefe de empresa rural, nas obras equivalentes, do final do século X<strong>VI</strong>II e início do XIX, desenha-se a concepção de<br />

uma economia doméstica feminina, com os discursos, nessa época, sendo dirigidos com exclusividade às mulheres, donas-de-casa e<br />

encarregadas do lar, idéias que ainda vigem entre determinados grupos sociais, e com grande força entre populações camponesas.<br />

Essa concepção de uma economia doméstica feminina tem grande vigor entre as narradoras aqui focalizadas, com a reprodução de<br />

protótipos e símbolos de um olhar fraternal e maternal, numa subcultura e numa geração em que a socialização da mulher direciona(va)se,<br />

em grande parte, para a maternidade, cujo aprendizado se dava, na prática, pelo papel de irmã, o que lembra análise de Simone de<br />

Beauvoir quanto ao processo de tornar-se mulher, pela educação diferenciada, resultante da discriminação 16 . A respeito, segundo<br />

Heleieth Saffioti,<br />

“o gênero é mais um tácito projeto de vivenciar a história cultural de acordo com os termos corporais próprios de cada pessoa<br />

do que um ato radical de criação. Esta não é uma tarefa prescritiva que devemo-nos esforçar para fazer, mas uma tarefa na qual<br />

nós temos nos empenhado todo o tempo (...). A ideologia de gênero, como qualquer outra ideologia, tem profundas raízes na<br />

subjetividade dos agentes sociais, bem como no terreno objetivo” (Safiotti, 1992: 189).<br />

Nessa construção social, em famílias camponesas, as filhas, em geral também, irmãs, partilham, desde cedo, com a mãe, a responsabilidade<br />

de certas tarefas, como cuidar dos filhos e irmãos menores, dos bichos e plantas do quintal 17 , os quais compõem um conjunto de seres<br />

dependentes do cuidado feminino e para os quais se volta um olhar fraternal/maternal. Esse olhar para coisas (produtos em volume<br />

pequeno, produzidos no quintal, por exemplo), seres pequenos (crianças, animais, plantas), tarefas femininas (pilar arroz, fiar, tecer,<br />

transportar água, preparar alimentos...) é acompanhado de um vocabulário carregado de diminutivos, que expressa um lugar distante<br />

dos negócios grandes, a cargo dos homens:<br />

“Nas áreas de baixão, lá nas roças, a gente planta aqueles canteirinhos, mas sabe como é, o canteirinho, não é, assim, horta não.<br />

A gente pega os paus lá, aquelas forquilhas, aí faz o canteirinho pra gente ter aquela verdurinha, mas não é assim verdurona<br />

muita, não! Só pra plantar aquela cebola, plantar o coentinho [coentro], para dar um cheiro na comida. O pimentão, às vezes,<br />

planta um tomatinho... mas é pouquinho, sabe? Não é essa coisa com coisa. É. Minha nora mesmo, lá, ela não passa sem uns<br />

canteirinhos. (...) Pois é, a gente faz os canteirinhos mesmo. A gente pisa arroz no pilão, arroz mais gostoso, Dione, tem mais<br />

vitamina. Quando a gente morava lá, onde meus pais – aqui mesmo, ninguém ia com negócio de pagar arroz pra pilar, não.<br />

Quando era dia de domingo, a gente não tinha pra onde ir, né, eu pegava uma lata de arroz, botava assim no sol, numa esteira,<br />

num negócio, botava pra esquentar. Quando era assim umas três horas da tarde eu ia pilando... Achava bom pisar [pilar]. Não<br />

achava bom pisar – , achava bom ver o arroz pilado lá na lata pra passar a semana trabalhando, fiando, que eu fiava rede, e<br />

muito. Olha, fiava no fuso e na roda. Nós plantava algodão, lá no interior, lá no Sangue. E aí, fazia a linha e depois tecia e fazia<br />

o lençol... Não tinha condição de comprar... Era, fazia tudo. Ah não, agora ficou mais assim um pouco difícil, mas às vezes tem<br />

mulher que [ainda] faz isso (...). Aí, de madrugada eu levantava, batia o algodão ali, aquelas coisinhas ali, quando o dia clareava,<br />

ia cuidar do quebra-jejum, ia buscar água. O quebra-jejum era cuscuz de milho, às vezes, de arroz, beiju.... Eu pisava o milho<br />

de tardezinha. A gente pisa o milho, bem pisadinho, a gente bota de molho na agüinha morna, quando é de madrugadinha a gente<br />

levanta e pisa ele, peneirado numa peneira bem fininha, é um cuscuz mais gostoso do que esse [flocos de milho industrializado]<br />

que a gente compra. Depois, “– Vamos botar o feijãozinho no fogo!”. Aí, botava o feijão no fogo, o foguinho já tava ali, fazia<br />

um fogãozinho bem feitinho, assim dessa altura assim, de barro, colocava ali o feijãozinho no fogo, o interesse aí, de fiar o<br />

algodão, fazer a redinha, sentava ali, sabe, só levantava pra colocar, lá, o fogo no feijão (...)” (M. R. M., camponesa,<br />

comunidade de Sangue, Uruçuí/PI).<br />

Seria, no entanto, ilusório confundir a divisão sexual do trabalho interna à família com um total alheamento da mulher camponesa em<br />

relação aos negócios grandes, afeitos ao domínio masculino. Concretamente, essas mulheres não estão ausentes do trabalho nas roças<br />

– embora tratado como ajuda – e da comercialização dos produtos, em que pese não sejam estas suas áreas de domínio, a não ser em<br />

condições excepcionais, como no caso de serem mulheres sozinhas, por viuvez ou outros motivos. O que ocorre, de fato, é que mesmo<br />

não tendo o domínio dessas atividades, as mulheres as acompanham e até influenciam seus rumos. Isto faz pensar o cotidiano através<br />

de uma aparente disjunção entre o fático e a representação, o simbólico. Essa suposta dicotomia só pode ser compreendida no nível<br />

das práticas culturais e das representações e idealizações dos grupos sociais. Esse cotidiano pode ser visto, portanto, como uma área<br />

de improvisação de papéis informais novos e de potencialidades de conflitos e confrontos, como sugere Dias (1984). Dessa forma, “o<br />

mundo das mulheres e a vida doméstica [são, de fato, um] palco de lutas e de articulação de micro-poderes” (Sâmara, 1991: 231).<br />

577


No caso das narradoras, a participação nas atividades maiores ganha visibilidade, principalmente em relação ao cultivo de arroz nas<br />

chapadas, o chamado negócio do cerrado (Moraes, 2000, 2001), no qual são introduzidas pelos maridos, visando, estes, à ampliação<br />

do acesso à terra, ao crédito e ao volume da produção. De fato, os camponeses, na crise ecológica (Moraes, 2000), face do processo<br />

de incorporação das chapadas pela moderna agricultura do complexo carnes/grãos, utilizam essa estratégia de ampliação da participação<br />

familiar, pela inserção de um ou mais membros da família, alem deles próprios, nos grupos de cultivo de arroz na chapada, experiência,<br />

através da qual as narradoras circulam para além da esfera do privado:<br />

“O arroz na chapada eu achei bom. Foi a primeira experiência que ele [o marido] teve foi no ano retrasado [1997]. (...). Nós<br />

era dezenove. Foi muito bom o grupo, foi boa essa experiência. Foi a primeira vez que eu entrei. Ontem, mesmo, eu assinei<br />

lá os papel pra prestar conta. Aí, ele conseguiu um financiamento e eu outro, porque a gente já vive na organização de<br />

cooperativa. (...) ... Agora esse plantio na chapada é assim: às vezes [a gente – as mulheres] vai, a gente vai lá faz a comida...<br />

eu mesmo não fui [por]que ele [o marido] foi quem dominou [fez] meu todo trabalho; eu não fui. Mas as outras mulheres<br />

foram, sabe? A gente viu que muita mulher este ano... eu vi, muito, elas lá no banco, sabe, mas não dá pra dizer se o casal tava<br />

junto [no grupo]. Mas já tinha mais mulheres. A gente [grupo] foi lá assim: quando foi pra olhar que o arroz tava bom de<br />

apanhar, aí foi. Na limpeza a gente [grupo] não foi, só foi [serviço] contratado mesmo, que o dinheiro é pra isso, né? (...) Na<br />

época de aradar, nós fica acompanhando. Não deixa [o tratorista] sozinho não, eles [homens do grupo] ficam acompanhando<br />

sempre, olhando se o trabalho está sendo bem feito. Aí, depois disso vem o plantio, né? O plantio também é com máquina,<br />

mas a gente fica lá, o pessoal [do grupo] fica lá assessorando, botando o veneno... ele mesmo, o meu esposo, ele é quem fica<br />

na frente pra colocar o veneno, aquilo que precisar. No ano passado, mesmo, se prejudicou foi muito [lidando com agrotóxicos].<br />

[Colocar] o veneno na semente é trabalho nosso [do grupo], também. Agora, depois que o arroz já nasceu, nós, o pequeno,<br />

não usa veneno, não. Isso porque se a gente jogar, assim, é sujeito se envenenar, não é, Dione? Não, aqui não usa esse veneno<br />

[agrotóxicos] que os grandes usa, não. Aí, no plantio volta de novo o serviço contratado, que é na plantadeira. Aí, depois disso<br />

pronto, tá plantado, né? Aí, pronto. Aí, a chuva vai e chove e chega o tempo de tirar a moita, a gente junta o grupo – É. Os<br />

mesmos do grupo. É. Não bota ninguém de fora [contratado] não, que esse trabalho é na mão mesmo. E, aí, o grupo se reúne<br />

e faz o seguinte: fica unido. Aí, a gente combina: essa semana vai um grupo, né? Aí, na outra semana aquele que foi não vai,<br />

já vai outro, entendeu?, até quando termina. E na colheita é a mesma coisa [trabalho coletivo]. É limpar o arroz, de mato. Se a<br />

gente deixar no mato, não presta também. Aí, na colheita é um serviço contratado de novo, com as máquinas pra colher, né?<br />

Aí, a colhedeira vai colher, aí eles [camponeses] pagam a colhedeira, pagam secador, etc. Aí, depois tem aquele trabalho de<br />

pagar o caminhão pra trazer pra casa. Já vem ensacado. Eles mesmos [camponeses] é que ensacam. [A colheitadeira] só faz<br />

colher, despeja no chão, a gente, aí, vai levar pra secador. É um sofrer. A gente sofre muito: bota aqui, bota acolá... Esse ano foi<br />

muito pesado porque, logo, tava chovendo muito, chovendo mesmo, que a gente imaginava de perder o arroz. Aí, levava pra<br />

um secador, diziam: “– Nnão, aquele ali não tá bom não, vamos levar pra outro!”. “ – Ai!, mas eu tenho medo porque, lá, o<br />

secador come o arroz todo!...”. Eita! Eera um cinema!... (...). No baixão, a gente mesmo roçava o mato e capinava, e ciscava,<br />

queimava e depois a gente plantava o arroz, feijão e tudo. Aí, quando o matinho ia [crescendo] nós vamos cuidar logo com<br />

tempo pra não crescer, porque você sabe, era na mão. Eram pequeninhas [as roças], por isso que dava [pra fazer na mão].<br />

Agora, não. Agora tem que ser contratado um recurso [pra fazer o que antes] tinha que fazer na mão, né? Pois é muito bom,<br />

eu gosto dessas luta. Mas sempre Gervásio planta assim... ele planta lá no projeto mas sempre ele nunca deixa de plantar o<br />

arrozinho lá na rocinha, no brejozinho que a gente tem, a gente planta sempre lá, né? Lá nós temos o poço bem na porta. Agora,<br />

o arroz na chapada eu achei que trouxe... [num]a comparação... só não é boa a renda porque perde muito, mas melhorou muito<br />

[em relação à quantidade que se produzia antes, no baixão] porque a gente, no bracinho[enxada], é difícil, pra gente fazer um<br />

paiolzão de arroz. É difícil, só faz pouco. A gente trabalha muito e colhe pouco porque a gente não tem condição de pagar o<br />

trabalhador e é a gente mesmo, ... então, a colheita sai pequena. Agora no projeto [chapada] não é assim. (...)” 18 (M. R. M.,<br />

camponesa, comunidade de Sangue, Uruçuí/PI).<br />

III- Articulando os espaços privado e público<br />

No processo de desterritorialização e reterritorialização das famílias camponesas nos cerrados (Moraes, 2000), as narradoras se<br />

reterritorializam, também, gradativamente, como sujeitos da esfera pública. Isto transparece nas narrativas, que apresentam, de forma<br />

afirmativa, maior presença do self, como quando falam, por exemplo, de outras estratégias de sobrevivência:<br />

“Aqui, eu tenho um negocinho, mas é bem pequeninho, não dá pra sobreviver, não. Vendo umas pecinhas de roupa, mas é<br />

pouquinha... A gente vende, Dione, mas a renda é pouquinha, não dá não. Eu não compro, sabe como é? As pessoas botam pra<br />

mim vender, aí eu vendo para aquelas pessoas e elas me dão uma coisinha, um lucruzinho de um real, dois reais, é assim. É gente<br />

que já tem comércio, que já me dão, né? O lucro, acaba que, não é grande. É não, não tem lucro, não Olha aí [apontando em<br />

volta] como é a casa da gente, né? (...) (M. R. M., camponesa, comunidade de Sangue/Uruçuí/PI)<br />

Há ainda outros espaços, nos quais atuam as narradoras e sobre os quais falam na primeira pessoa, sem ignorar o trabalho coletivo<br />

no qual se inserem (sócia da Cooperativa de Pequenos Produtores, sócia do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, voluntária na<br />

Pastoral da Criança...). Isto se expressa na alternância do eu e dos nós, que pode ser vista, nesse contexto, como uma consciência do<br />

indivíduo que atua no coletivo (cooperativa, sindicato, pastoral...) e para a coletividade (vizinhança, populações dos bairros<br />

considerados carentes...).<br />

578


“Eu sou sócia da cooperativa, nós participamos das reuniões da cooperativa e também sou sócia do sindicato e faço parte não<br />

da diretoria, mas toda reunião que tem do sindicato eu gosto de participar. E trabalho na Pastoral da Criança, que é aquela coisa<br />

da gente pesar menino. É, é... e participo da igreja também, reunião da igreja, escola da fé, um bocado de coisa que a gente<br />

participa. A gente faz aquelas atividades, ensina pras mães, a gente pesa os meninos, aí, depois, o menino tá desnutrido, aí a<br />

gente vai e... – aqui tem muito, muito mesmo, muito problema mesmo, de desnutrição! – Aaí a gente ensina as mães fazerem<br />

aquelas mistura, né?, Eesse monte de mistura! (...) Eu gosto muito desse trabalho, gosto muito, ando muito (...). É bonito.<br />

Gosto muito do trabalho (...).” (M. R. M., camponesa, comunidade de Sangue/Uruçuí/PI)<br />

Nesse trânsito, a experiência das narradoras transcende, gradativamente, a esfera do privado, num movimento que acompanha sua<br />

própria trajetória, do interior 19 para a periferia da sede do município, e que corresponde a um outro trânsito: o que vai da menor à<br />

maior presença na esfera pública. De fato, essas camponesas vivem em um ambiente rurbano, cuja maioria dos habitantes é oriunda<br />

de áreas rurais, em decorrência de deslocamentos ocorridos nas últimas décadas, em função do processo de incorporação das chapadas<br />

da região pela agricultura moderna. Isto as leva a avaliar sua trajetória, no tempo e no espaço, e a traçar projetos para as filhas:<br />

“Agora, minhas filhas não sabem [tecer] não, porque logo botei pra estudar, queria que elas estudassem, né, que eu sempre<br />

dizia assim: “– Óó, minhas filhas, eu vou botar vocês pra estudar [por]que é tão ruim a gente não saber fazer as coisas... e eu<br />

não aprendi quase nada, aprendi só isso, né?, então eu não quero isso pra vocês não, eu quero que vocês estudem, pra vocês<br />

arrumarem um empreguinho quem sabe, pra não ficar como eu, na roça...”. E aí, não sabem não, não vou dizer que sabe, né?<br />

mas eu aprendi muito. Olha, eu aprendi a fazer tarrafa... sei fazer ainda, se eu for fazer eu faço” (M. R. M., camponesa,<br />

comuniddae de Sangue, Uruçuí/PI).<br />

Vale ressaltar que esses bairros habitados por essas camponesas, são locus de uma mistura de práticas culturais urbanas e rurais,<br />

presentes e passadas. Como dito por Elizabeth David Novaes:<br />

“Recria-se no presente o estoque simbólico adquirido nas experiências passadas, resgatadas em meio às necessidades e<br />

desejos vividos. O saber tradicional, adquirido por meio da transmissão de experiências (...), permite a manutenção e a<br />

recriação de práticas culturais que favorecem os laços de convivência e união, bem como as alternativas de sobrevivência”<br />

(Novaes, 2001:197).<br />

De fato, como trabalhado por esta autora, e como se aplica à situação investigada, redes femininas de solidariedade recriam, sem<br />

dúvida, o espaço de vida e de convivência nos bairros. Dessas redes participam as narradoras, através de trabalho voluntário que lhes<br />

proporciona novas experiências e até mesmo autoconfiança para se perceberem como sujeito da esfera pública e para assumirem<br />

consciência do protagonismo nas ações, como por exemplo, quando uma das narradoras se refere à sua atuação na Pastoral da Criança.<br />

Agora não se trata mais de ajuda; é trabalho. A narradora, é que se diz, hoje, ajudada pela filha, cujas habilidades de escrita e leitura<br />

são aproveitadas nas tarefas de organização do trabalho na Pastoral:<br />

“(...) Agora o meu trabalho é o seguinte... - (...) Aí, agora, só que eu gosto do trabalho... Assim, eu coordeno, eu tenho minha<br />

moça [filha] que é ela quem pesa os meninos, ela entende de tudo, do [preenchimento do] cartão... ela fez cursinho fora, mas<br />

eu é que fico ali no bairro convidando o povo, fazendo reunião. [Funciona] por bairro. Aqui na Água Branca tem cinco líderes...<br />

Eu ando muito. Esse bairro cresceu. Cresceu. (...) É todo de gente que veio expulso do campo, do interior, que é uma pena, né?<br />

Aqui na Água [Branca] tem muita gente mas só que Água Branca é mais pequeno do que o bairro Aeroporto. É mais antigo,<br />

tem muita gente assim pobre, todos nós somo pobres mesmo... que tá vindo aí do interior, né?” (M. R. M., camponesa,<br />

comuniddae de Sangue, Uruçuí/PI).<br />

Quem outrora cuidou de irmãos, filhos, filhas e marido agencia também, agora, em outro nível, necessidades coletivas de filhos e filhas<br />

alheios e, assim, atualiza a experiência maternal que protagonizou com os seus, transitando entre tempos e espaços, ressignificando<br />

experiências e identidades. Essas mulheres são “sujeitos históricos que rearticulam público e privado, desfazendo rupturas. (...) [Elas]<br />

transitam por esses dois mundos mostrando seu entrelaçar, através de ações informais sempre presentes em seu cotidiano” (Novaes,<br />

2001: 203).<br />

De fato, são várias as frentes de atuação dessas camponesas, incluindo-se, aí, além das redes de solidariedade, movimentos de luta pela<br />

terra e de inclusão no negócio do cerrado, temas sobre os quais não apenas os homens falam, e espaços nos quais não apenas os<br />

homens atuam:<br />

579


“Sim, a gente diz assim, os gaúchos chegam aqui batendo os pés no povo do Piauí, mas a gente sempre cita pra eles: “– Boi<br />

erado nas suas terras, quando chega nas terras alheia é bezerro”. Aí a gente pede pro governo desapropriar uma área de cerrado,<br />

para nós também ter informação do próprio Piauí. Nós piauienses precisa de cerrado, será que nós só pode ser explorado? Nós<br />

não tem capacidade de ter uma parte do cerrado também? Do jeitinho do próprio gaúcho, porque os gaúchos que vêm pra cá<br />

produzir, só vêm explorar as terras do Piauí, como tem os cerrados de Uruçuí que tá todo complicado, você encontra muitas<br />

fazendas sem dono e muita máquina enterrada [da época dos projeteiros]” (M. C. S., camponesa, líder do Movimento de<br />

Mulheres do STR/Uruçuí, Acampamento Saponga).<br />

Nessas frentes, e nessa gradativa reterritorialização no espaço público, há mulheres diretamente envolvidas no processo de uma nova<br />

institucionalidade, na região, participando da organização e até mesmo da direção de entidades, como cooperativas de pequenos<br />

produtores rurais e, a partir desses espaços, projetando falas quanto ao impacto da incorporação das chapadas sobre o modo de vida<br />

das famílias camponesas:<br />

“usava a chapada pra sobrevivência dela porque tirava o piqui e comia, né? Fazia sabão e tingui também era tirado, que é uma<br />

planta que faz sabão... É... eles criavam. Tinha gente que tinha gado. Não era muito, mas criava à vontade. Tinha um espaço<br />

que ele usava à vontade. Então eu, na minha opinião, pelo que eu conheço daqui, eles foram expulsos, não que eles chegaram<br />

e expulsaram: “– Vai embora daqui!”. Mas eles [projeteiros] compraram. Eles tinham muito dinheiro, jogavam nas mãos deles<br />

[camponeses] coitados, pensavam que o dinheiro nunca ia se acabar. Quando o dono não queria vender, eles cercavam tudo,<br />

tudo! Como é que a criatura ia ficar lá? Acostumado a viver num campo grande, como é que ia viver sem poder criar uma<br />

galinha? Houve isso. Isso é comprovado. Muita gente viveu isso” (M. P. P., presidente da Cooperativa de Pequenos Produtores<br />

Rurais, do município de Ribeiro Gonçalves/ PI).<br />

Na luta pela terra, mulheres porta-vozes de experiências de acampamento, expressam trajetórias de participação em movimentos<br />

coletivos:<br />

“(...)Aí, a gente colocou, como eu torno a lhe falar, as famílias. A gente que ocupou aqui na Saponga, veio quarenta e nove<br />

família, veio no dia cinco de dezembro de noventa e oito [1998], essas quarenta e nove famílias. Passou até de cinquenta pra<br />

cá 20 , mas a gente lutou e não tivemos condição de colocar água aqui, [nem] energia. Porque a energia, o débito da energia são<br />

vinte e um mil reais, a gente não teve ajuda. A gente não teve como conseguir manter as famílias aqui dentro. Hoje se encontra<br />

cinco famílias – dessas cinco famílias, tem três crianças — que tamo aqui sofrendo (...). Mas a gente tá encontrando muita<br />

dificuldade [por]que não tem água, a água a gente tá comprando uma pipa de oito mil litros de água, e o custo é de oitenta reais.<br />

Essa água, quando não vem de Uruçuí vem dos projetos do cerrado (...). Eles dão a água pra gente, agora só que a gente paga<br />

o caminhoneiro pra ir pegar a água. Oitenta reais é o frete do caminhão, não é da água. Só que essa água se torna, pra gente,<br />

comprada, porque quem não tem renda como nós aqui na Saponga, não tem água. Tem vez que [a água] atura [dura] oito dia,<br />

nove dia, porque todos companheiro tão pegando dessa pipa de água. E tem companheiro que não tem condição, que quando<br />

ele veio chegar aqui já ele não teve condição de plantar uma roça pra colher o arroz, ele tá vivendo mesmo como Deus tá dando<br />

o poder (...)” (M. C. S., camponesa, líder do Movimento de Mulheres do STR/Uruçuí, Acampamento Saponga).<br />

Nesse processo de participação direta na luta pela terra, a narradora experiencia, também, a interlocução com instituições ligadas à<br />

questão, elaborando o seu próprio ponto de vista e seu discurso quanto ao que é melhor para os acampados:<br />

“Olha, eu tive lá no INCRA , ontem, e a nossa esperança é desapropriar uma área pra colocar cento e cinquenta famílias. Eu<br />

tive lá no INCRA e tive com a FETAG do Piauí – somos é uma entidade que luta pela agricultura familiar também – ele<br />

garantiu que a gente vai ser desapropriado. O INCRA que garantiu. O presidente [superintendente] do INCRA que trabalha<br />

lá. Tá chegando a desapropriação da fazenda Flores e da Santa Teresa I, mas por enquanto a gente tá interessado na fazenda<br />

Saponga 21 . Ele quer desapropriar uma área, a fazenda Tucuns, aqui em frente. Disse que se torna mais barato (...) “.<br />

“(...) [O melhor] pra nós, ou é a Saponga ou então a fazenda Cariri. Olha, nós tamo querendo a área da fazenda Cariri. Só que<br />

o INCRA me falou ontem que eles estão pedindo o decreto de desapropriação é da fazenda Tucuns, que é ela que vai<br />

desapropriada, que é privilégio, que tem água e cabe as cento e cinquenta famílias. Nós tamo querendo setenta hectares para<br />

cada família do cerrado. Porque se não for setenta, não tem como a gente produzir, porque todos os anos a gente planta dez<br />

hectare de terra [na chapada], a gente tem um criatório de gado, temos que cercar dez hectares. A gente já tem o cadastro das<br />

famílias cadastrada, porque em abril o INCRA veio, pegou o nome das famílias, de todo mundo que tava aqui no assentamento<br />

e cadastrou. Agora, os companheiro da fazenda Tucuns são cadastrado também, porque eles tão trabalhando lá. O INCRA<br />

pegou [cadastrou] eles. Eles tão trabalhando, tem três anos que eles trabalha lá dentro. É isso que eles [INCRA] querem:<br />

desapropriar uma área que é a área mais pequena, porque a área da Saponga são onze mil hectares de terra e só tem cadastrado<br />

cento e cinquenta famílias. Lá na área da Tucuns são cento e cinquenta famílias também. Foi isso que ele teve citando pra mim<br />

ontem no INCRA, lá em Teresina, o presidente do INCRA. Mas eu tô querendo a área da fazenda Cariri, fazenda Saponga,<br />

580


porque são vários tipos de nome de fazenda 22 . Essa Cariri ela tá dentro da Saponga. É uma ponta da Saponga e a ponta do lado<br />

que vem de Uruçuí (...). Umas quarenta família pode caber na fazenda Cariri, mas aqui tem seis família não tão falando em ir<br />

embora, tão falando que vão ficar na terra. (...)<br />

Eu tive lá no Banco do Brasil, pedi meno [ao menos] óleo pra eles dá o trator pra gente aceirar [isolar] a área da Saponga pra<br />

não queimar, ele falou pra mim que não tinha condição, o que que era de fazer? Deixar o fogo queimar, sair das casas pro mode<br />

[para] não ser queimada também. E o feijão, que foi plantado quarenta hectares de terra e os sem-terra tiveram um grande<br />

prejuízo. Foi plantado com o próprio recurso deles, só que a gente teve uma ajuda, adoação pelas prefeitura, do óleo diesel e<br />

o trator. O feijão foi arrumado pelos próprios companheiro. Quando o feijão já tava todo embageado [com vagens] deu uma<br />

doença porque a gente não tinha técnico, não tinha nada, o feijão amarelou a bage [vagem], cresceu a bage e caiu todos o canivete<br />

[vagens] de quarenta e um hectares de feijão. Aí, tá todo mundo no prejuízo (...). Mas se esse assentamento tivesse água, aqui<br />

tinha mais de cem família, nesse cerrado”<br />

“O governo mais própria [mais certo] ele tem é de desapropriar essas áreas, que temos que manter o povo nas área rural pra<br />

produzir agricultura, porque não tá tendo agricultura, porque todo mundo tá indo embora pra São Paulo, tá tendo desemprego<br />

muito grande. O pessoal tão indo embora ocupando as área aí, invadindo, mesmo como o pessoal chama, mas a gente chama<br />

ocupação, porque ou vamo ocupar ou então não come, porque não tem emprego. (...)” M. C. S., camponesa, líder do<br />

Movimento de Mulheres do STR/Uruçuí, Acampamento Saponga).<br />

III- Conclusão<br />

Metaforicamente, os percursos dessas narradoras podem ser pensados como um contínuo transitar do interior para o<br />

exterior e vice-versa. Explico: no vocabulário local, interior é o baixão, o sítio, o lugar da atividade agrícola, em geral, local de origem.<br />

A trajetória dessas camponesas evidencia, nos últimos anos, um trânsito continuado no sentido interior-cidade-interior-cidade...,<br />

reunindo, simbolicamente, ambas as dimensões referidas por Walter Benjamin: a do narrador que vem de fora (e narra suas viagens<br />

vencendo distâncias no espaço e voltando para contar suas aventuras naquele lugar do mundo no qual estas possuem significação)<br />

e a daquele que ficou (e conhece sua terra e seus conterrâneos habitados pelo passado, vencendo distâncias no tempo para contar sua<br />

experiência naquele lugar do mundo capaz de a ela conferir significado).<br />

A categoria interior, na fala das narradoras refere o lugar onde vivem/viveram, em algum meio rural, e denota o outro da cidade. Isto<br />

significa que o sítio, a roça, o local de nascimento, de vida e de trabalho na agricultura é, assim, um topus vivencial e geográfico, em<br />

alguma parte de algum baixão, território-lugar, a partir do qual se olha para o resto do mundo. Em sua dimensão temporal, reporta<br />

sobretudo ao passado, ao estabelecimento de territorialidades familiares quando, a partir destas, podia-se espalhar pelas chapadas.<br />

Tempo da terra voluntária, anterior às épocas dos projeteiros e gaúchos (Moraes, 2000), que aportam na região, a partir da segunda<br />

metade dos anos 70. Essa é também uma metáfora para se pensar a localização no tempo-espaço das narradoras na esfera do privado,<br />

com toda a sua carga cultural e simbólica.<br />

O avanço das narradoras, na esfera pública, processa-se com maior intensidade no cerne das transformações provocadas pela<br />

incorporação das chapadas, que provocou, entre outras coisas, a vinda para a cidade, o alter da categoria interior. Essa vinda faz-se<br />

pelo conjunto familiar, de uma única vez, e de forma definitiva, em casos de expropriação, como ocorreu com muitas famílias dos<br />

baixões, ou através de uma migração parcial. Nesse caso, há várias formas, sendo que predomina entre as famílias camponesas que<br />

conseguiram manter a sua área de terra no baixão, a prática de procurar adquirir uma casa da cidade 23 , arranjo familiar ligado às<br />

necessidades de sobrevivência e a resoluções de questões ligadas a estudo emprego para membros da família.<br />

Nesse contexto, essas mulheres, mães, esposas e camponesas que, além de se responsabilizarem pela esfera doméstica, ajudavam o<br />

marido nas lides da roça, assumem, agora, outras identidades: comerciante no pequeno entreposto de confecções de baixo custo, numa<br />

pequena banca de rua; liderança local da Pastoral da Criança; associada de Cooperativa de Pequenos Produtores; membro de grupo<br />

de agricultores no negócio do cerrado, líder de movimento de mulheres do STR; líder de acampamento, entre outras. Nesse processo<br />

utilizam, contra a fragmentação do eu, o estar sempre voltando ao berço, à origem, ao interior, ou seja, as novas experiências não<br />

abdicam das anteriores; somam-se a elas, num exercício de potencialidades latentes e que, agora, emergem em várias frentes, tecendo<br />

tramas novas e novas falas.<br />

581


V- Bibliografia<br />

ANDERSON, B. Nação e consciência nacional. São Paulo: Ática, 1989, 191 p.<br />

ANDRADE, M. P. Os gaúchos descobrem o Brasil: os pequenos produtores agrícolas do sertão maranhense frente à implantação de<br />

projetos agropecuários. São Luís: Cáritas Brasileira Estudos e Pesquisa, 1984, 147 p.<br />

ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987.<br />

BAKHTIN, M. M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: HUCITEC,<br />

1996, 419 p..<br />

BHABHA, H. H. (Ed.) Introducion. In: Nation and narration. London: Routledge, 1994, p. 1-7.<br />

BENJAMIN, W. O narrador. Observações acerca da obra de Nicolau Lescov. In: ABRIL CULTURAL (São Paulo, SP). Os pensadores.<br />

São Paulo, 1975, p. 63-81. (Tradução Erwin Theodor Rosental).<br />

BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, 484 p.<br />

BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, M. M., AMADO, J. (Org.) Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV,<br />

1996, p. 183-191.<br />

BRANDÃO, C. R. Memória Sertão; cenários, pessoas e gestos nos sertões de João Guimarães Rosa e de Manuelzão. São Paulo:<br />

Cone Sul/Editora UNIUBE, 1998.<br />

CARNEIRO, M. J. Vidas irrigantes. Ciência Hoje, Rio de janeiro, v. 4, n. 24, p. 66-72, 1986.<br />

CATANI, D. B. et al. História, memória e autobiografia na pesquisa educacional e na formação. In: CATANI. D. B. (Org.) Docência,<br />

memória e gênero: estudos sobre formação. São Paulo: Escrituras, 1997, pp. 15-48.<br />

DAYRELL, C. A. A questão ecológica no limiar da questão agrária: o caso dos cerrados do norte de Minas. Reforma Agrária, v. 23,<br />

n. 1, p. 70-80, jan./abr., 1993.<br />

DIAS, M. L. O. Quotidiano e poder em São Paulo – século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1984.<br />

ENGEL, M. G. Imagens femininas em romances naturalistas brasileiros (1881-1903). Revista Brasileira de História, v. 9, n. 17, pp.<br />

237-258, ago./set./89.<br />

FELDMAN-BIANCO, B., HUSE, D. Entre a saudade da terra e a América: memória cultural, trajetórias de vida (re)construções de<br />

identidade feminina na intersecção de culturas. In: BRANDÃO, C. R. (Org.) As faces da memória. Campinas: CMU, [199-],<br />

p. 25-60.<br />

FENTRESS, J., WICKHAM, C. Social memory. Cambridge: Blackwell, 1994, 229 p.<br />

GINZBURG, C. O queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, 309 p.<br />

GODOI, E. P. O trabalho da memória: cotidiano e história no sertão do Piauí. Campinas: UNICAMP, 1999, 165 p.<br />

GRAMSCI, A. Introdução à filosofia da práxis. Lisboa: Antídoto, 1978, 165 p.<br />

GUTBERLET, J. Pequena produção dos cerrados e transformações sócio-ambientais recentes: o caso do município de Acorizal na<br />

Baixada Cuiabana. Cuiabá: Editora Universitária, 1994. (Cadernos do NERU – Ambiente: uma abordagem sócio-econômica, 3).<br />

HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990, 189 p.<br />

HEREDIA, B. M. A. A morada da vida. Trabalho familiar de pequenos produtores do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e<br />

Terra, 1979, 164 p.<br />

LOBO, E. S. Experiências de mulheres. Destinos de gênero. Tempo Social, USP, SP, (1): 169-182, primeiro semestre/1989.<br />

MALUF, W. S. Antropologia, narrativas e a busca de sentido. Horizontes Antropológicos, ano 5. n. 12, dezembro de 1999 (Número<br />

temático: Cultura Oral e Narrativas), 353 p, pp. 69-82.<br />

582


MENESES, A. B. Memória: matéria de mimese. In: BRANDÃO, C. R. (Org.). As faces da memória. Campinas: CMU, [199-], p.<br />

11-24.<br />

MORAES, M. D. C. Memórias de um sertão desencantado (modernização agrícola, narrativas e atores sociais nos cerrados do<br />

sudoeste piauiense). Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Universidade Estadual de Campinas. Campinas: UNICAMP,<br />

2000, 475 p.<br />

————. O negócio do cerrados: inclusões e exclusões (ou dos impactos sociais da modernização agrícola nos cerrados piauienses).<br />

IN: <strong>CONGRESSO</strong> BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 39, Recife, PE. ANAIS..., SOBER: Recife,<br />

2001, CD ROM.<br />

——— Tramas de tempos e espaços: memória e narrativa de uma camponesa nos baixões do sudoeste piauiense. (Artigo<br />

apresentado e debatido no GT1 “Memória, Identidade, Narrativas e História Oral”, <strong>VI</strong>I ABANNE, Recife, PE, 28 a 30/11/<br />

20001).<br />

————. Fronteiras da memória: atores e memórias no sudoeste piauiense. In: GICO, V. V.; LINDOSO, A. S.; COSTA SOBRINHO,<br />

V. P. (org.) As ciências sociais desafios do milênio. Natal: EdUFRN-PPGCS, 2001, pp.386-409.<br />

————.Tempos e tramas: da terra voluntária à terra arrendada (ou: da memória apalavrada de um camponês nos cerrados do<br />

Piauí) Artigo aceito pelo <strong>VI</strong> Encontro Nacional de História Oral, de 28 a 31 de maio de 2002, em São Paulo-SP, GT<br />

“Narrativa e narradores”.<br />

————. Maria Ribeiro de Morais: urdindo novos enredos entre tempos e espaços (Memória e narrativa de uma camponesa, nos<br />

baixões do sudoeste piauiense) Artigo apresentado no I Encontro Estadual de História e III NE de História Oral, de 10 a 13/<br />

04/2002, em Teresina-PI.<br />

NEVES, F. C. Imagens do Nordeste: a construção da memória regional. Fortaleza: SECULT/RCV, 1994, 128 p.<br />

NOVAES, E. D. Mulheres: sociabilidade e solidariedade nas redes sociais. In: DÍNCAO, M. A. (org.) Sociabilidade: espaço e<br />

sociedade. São Paulo: grupo editores, 2001, pp. 185-217.<br />

PERROT, M. Os excluídos da história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.<br />

————.Práticas da memória feminina. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 9, n. 18, ago/set., 1989, pp. 9-18.<br />

PORTELLI, A. O Massacre de Civitella Val di Chiana (Toscana: 29 de junho de 1944): mito, política, luto e senso comum. In:<br />

FERREIRA, M. M., AMADO, J. (Orgs.) Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV. 1996, p.103-130.<br />

PLATÃO. Sofista. In: ABRIL CULTURAL (São Paulo, SP). Os pensadores. São Paulo, 1972, p. 135-204. (Tradução de Jorge<br />

Paleikat e João Cruz Costa).<br />

SAFIOTI, H.Rearticulando gênero e classe social. In: COSTA, A. O., BRUSCHINI, C. (org.) Uma questão de gênero, Rio de Janeiro:<br />

Rosa dos Tempos, 1992, 183-215.<br />

SAHLINS, M. Sociedades tribais. Rio de Janeiro: Zahar, 1983, 148 p.<br />

SAMARA, E. M. Mulheres das Américas: um repasse pela historiografia latino-americana recente. Revista Brasileira de História, São<br />

Paulo, v. 11, n. 21, pp. 227-240, set. 90/fev. 91.<br />

SCHILLER, N. G., FOURON, G. “Laços de sangue”: os fundamentos do estado-nação transnacional. Revista Crítica de Ciências<br />

Sociais, n. 48, p. 33-66, junho de 1997.<br />

SCHMIDT, B. B. Anita Xavier da Costa: memórias da filha de um pioneiro do socialismo no Rio Grande do sul – da fogueira das<br />

lembranças ao álbum de recordações. Horizontes Antropológicos, ano 5. n. 12, dezembro de 1999 (Número temático: Cultura<br />

Oral e Narrativas), 353 p, pp. 168-182.<br />

SILVA, J. C. Corpo e saúde como espaço privilegiado para o resgate da cidadania feminina. In: FERREIRA, M. (org.). Mulheres,<br />

Gênero e políticas públicas. São Luis: Grupo de Mulheres da Ilha/UFMA, 1999, pp.53-76.<br />

SILVA, M. A. M., LIMA, G., MARTINS, E. S. Mulheres assentadas: costurando certo por linhas tortas. Reforma Agrária, n. 2, vol.<br />

21, mai/ago/1991, pp.10-19.<br />

SOUZA FILHO, B. A produção de soja no Sul do Maranhão e suas implicações para a pequena produção de alimentos. Boletim do<br />

Museu Paraense Emílio Goeldi. Antropologia, Belém, v. 12, n. 1, julho de 1996, pp. 37-53.<br />

583


THOMPSON, E. A miséria da teoria ou um planetário de erros. Rio de Janeiro: Zahar, 1981, 231 p.<br />

THOMPSON, P. A voz do passado – História oral. São Paulo: Paz e Terra, 1998, 385 p.<br />

WOORTMANN, k. Com parente não se neguceia. Série Antropológica nº 69, Brasília: UnB, [198-], 101 p.<br />

1 Artigo para o GT 2 “Gênero e Desenvolvimento Rural” , <strong>VI</strong> Congresso da <strong>ALASRU</strong>, Porto Alegre, RS, de 25 a 29/11/2002. Este<br />

artigo tem origem na tese de doutorado da autora (Moraes, 20000.<br />

2 Maria Dione Carvalho de Moraes, socióloga, doutora em Ciências Sociais pelo IFCH/UNICAMP, professora no Departamento de<br />

Ciências Sociais do Centro de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Piauí. E-mail: mdione@uol.com.br<br />

3 Para detalhamento dessas idéias, ver Moraes (2000).<br />

4 A propósito, postura contemporânea, pós-movimento feminista, sem abdicar das conquistas pela igualdade de direitos entre<br />

homens e mulheres, e sem se retrair na luta por novas vitórias, afirma a diferença de gêneros como uma nova qualidade: “uma<br />

epistemologia feminista não descarta a emoção enquanto via do conhecimento (...), mesmo porque a emoção pode muito bem<br />

fecundar a razão” (Saffioti, 1992: 208)<br />

584


5 Lembro ainda, como relevante para a questão da narração, que em Benjamim (1975), a experiência (Erfharung) refere-se às<br />

sociedades artesanais, em oposição à vivência (Erlebnis), que se reporta às sociedades ditas modernas.<br />

6 Um dos aspectos dessa crítica refere-se ao que esse autor considera o absurdo da tentativa de compreender uma vida como<br />

acontecimentos sucessivos apenas em associação a um sujeito. Mas como diz Hanna Arendt, “ Quase sempre a ação e o discurso se<br />

referem a essa mediação [entre seres humanos], de sorte que a maior parte das palavras e atos, além de revelar ao agente que fala,<br />

refere-se a alguma realidade mundana objetiva(..)” (Arendt, 2002: 195)<br />

7 Sobre a relação entre memória, imaginação, desejo e repressão, no pensamento aristotélico e freudiano ver Moraes (2000).<br />

8 Ver, entre outroa, Halbwachs (1990), Feldman-Bianco e Huse ([199-]), Bossi (19914), Maluf (1999), Brandão (1998).<br />

9 Para uma análise do modo de vida camponês nos cerrados, entre o baixão e a chapada, ver Moraes (2000), especialmente, capítulos<br />

V e <strong>VI</strong>.<br />

10 Sobre as implicações várias que envolvem o complexo e delicado trabalho de transposição de um texto oral para um escrito, ver<br />

Moraes (2000), principalmente a introdução e os capítulos V e <strong>VI</strong>.<br />

11 Sobre a importância das omissões, ver Feldman Bianco e Huse ([199- ]) e Portelli (1996).<br />

12 Para situar-se no contexto mais amplo do acontecendo – as situações históricas sucessivas e o conjunto das relações objetivas que<br />

o constituem, ver Moraes ( 2000).<br />

13 Quanto a essas dicotomias, é interessante a crítica de Hanna Arendt à era moderna que segundo ela, não foi capaz de teorizar<br />

quanto à diferenças entre o labor do nosso corpo e o trabalho de nossas mãos (Arendt, 2001: 96)<br />

14 A exemplo, D. Maria Aparecida Morais, camponesa e dirigente do Comitê das Mulheres Trabalhadoras Rurais (CMMTR) do<br />

Piauí, falou da luta deste movimento pela valorização do trabalho feminino, no campo, e no âmbito de suas próprias famílias na Mesa-<br />

Redonda Populações Rurais Piauienses: Várias Faces, coordenada por mim, no dia 18/1/2000, Auditório Noé Mendes, CCHL/UFPI,<br />

Teresina/PI. Também o Movimento das Quebradeiras de Coco que, nos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins, e Pará, incorpora à<br />

temática do desenvolvimento sustentável a dimensão de gênero.<br />

15 Quanto a esta questão, vale a pena conferir Woortmann ([198-]), quanto ao enfoque da campesinidade<br />

16 Aliás, Como lembra Engel (1989), as representações da mulher elaboradas e difundidas, sobretudo pela literatura naturalista, ao<br />

longo do século XIX marcavam-se pela oposição rousseauniana homem/razão/cultura versus mulher/instinto/natureza, fundamentandose,<br />

assim, uma crença na existência de duas espécies distintas.<br />

17 Sobre a relação roça/quintal entre os camponeses pesquisados, ver Moraes (2000), especialmente os capítulos V e <strong>VI</strong>. Ainda sobre<br />

o tema desses espaços, entre camponeses, ver Heredia (1979) e Godoi (1999).<br />

18 Além das questões relativas aos lugares masculinos e femininos na atividade agrícola, os camponeses e camponesas, como sujeitos<br />

concretos, não permanecem à margem da história. Têm uma posição apropriada a uma situação objetivamente complexa, como é a<br />

relação com a modernidade: querem participar dos aspectos vistos como positivos do processo de modernização – acesso a tecnologias<br />

que permitam o uso agrícola das chapadas, através das quais possam ampliar as atividades de aprovisionamento e de produção para<br />

o mercado – mas, ao mesmo tempo desejam manter o uso tradicional dos baixões, como lugar, e suas estratégias – mesmo as de<br />

inserção no negócio do cerrado devem ser vistas como voltadas para a reprodução do grupo doméstico. Essa aparente incoerência é,<br />

na verdade, efeito de um ponto de vista externo, segundo o qual só há uma via de modernização, a que se dá como puro negócio agrícola<br />

(agribusiness), e nunca como desenvolvimento da vida humana.<br />

19 Definição utilizada por populações camponesas piauienses, para referirem o meio rural.<br />

20 Chegou a 63 o número de famílias no Acampamento Saponga, segundo informações de Francisco José dos Santos, ex-presidente<br />

do STR/Uruçuí e um dos líderes da ocupação.<br />

21 Em junho de 2000, acampados de Saponga aceitaram a proposta do INCRA, de assentamento na Fazenda Santa Teresa, em<br />

processo de desapropriação. A fazenda Saponga foi negociada com grupos empresariais gaúchos.<br />

22 A Saponga compreende, de fato, cinco fazendas: Mato Grosso, Cariri, Tropical, Santa Felicidade e Saponga, num total de 18.104<br />

hectares.<br />

23 Para detalhes, ver Moraes (2000)<br />

585


Relaciones de género en el contexto de la globalización: un estudio en<br />

comunidades rurales de Tlaxcala, México.<br />

1. Introducción<br />

586<br />

Marta B. Chiappe 1 , Emma Zapata Martelo 2<br />

Este trabajo analiza, desde una perspectiva de género, el impacto en zonas rurales de la globalización y de la liberalización económica,<br />

especialmente de la liberalización producida a partir del Tratado de Libre Comercio de América del Norte (TLCAN) firmado entre<br />

México, Canadá y Estados Unidos. En particular, se enfatizan los efectos sociales y las repercusiones en los grupos domésticos de<br />

tres comunidades rurales de México. Las comunidades estudiadas son Benito Juárez, Lázaro Cárdenas y Emiliano Zapata, las cuales<br />

se ubican al este de Tlaxcala dentro de la zona de influencia de Ciudad Industrial Xicohténcatl. En este estudio se aplicó una encuesta<br />

a hogares donde se recabó información referente a las condiciones de vida y de trabajo de 60 grupos domésticos. El trabajo aborda los<br />

elementos teóricos como globalización, liberalización de la economía, industrialización y el impacto que todos ellos tienen en mujeres<br />

y hombres de la zona. Los datos del estado de Tlaxcala ponen en evidencia los procesos que se desencadenan como resultado de las<br />

transformaciones globales.<br />

1.1 Globalización 3 .<br />

El proceso que hoy conocemos como globalización se aceleró en las últimas dos o tres<br />

décadas como resultado del desarrollo tecnológico que proporcionó la base material indispensable para la nueva economía. De allí que<br />

Castells (1999) lo vea como proceso informacional y global porque, en las nuevas condiciones históricas, la productividad se genera<br />

y se ejerce por medio de una red global de interacción.<br />

Desde una perspectiva fundamentalmente económica, la globalización puede ser entendida como un proceso mediante el cual<br />

la producción, el consumo y la circulación, así como sus componentes (capital, mano de obra, materias primas, gestión, información,<br />

tecnología, y mercados), están organizados a escala global, bien de forma directa, bien mediante una red de vínculos entre los agentes<br />

económicos. En este contexto, Benería (1999) relaciona la globalización con mercados siempre en expansión que traspasan los límites<br />

nacionales, donde las transformaciones tecnológicas ya mencionadas propician los espacios para su acción.<br />

Los fenómenos anteriores permitieron que durante los ochenta, las economías más avanzadas, que habían tenido una crisis de<br />

productividad—exceso de productividad vs. capacidad de consumo—pudieran desarrollar nuevas ramas industriales. Éstas, apoyadas<br />

por la revolución de la informática y las telecomunicaciones, transformaron el paradigma productivo, y recuperaron los mercados y<br />

el ritmo de crecimiento. El proceso implicó reubicar la producción hacia estados menos desarrollados como los del sur de Estados<br />

Unidos, con sindicatos menos combativos, y hacia los países del Tercer Mundo. Estas políticas significaron un ataque al estado de<br />

bienestar, al sindicalismo y al nivel de vida de los trabajadores (Otero, 1996). Mientras tanto, en los países menos desarrollados, el<br />

peso de la deuda externa, entre otros, fortaleció el estancamiento y les impidió avanzar al ritmo de la revolución tecnológica (Carrillo,<br />

2002). Khor (2001) señala como fundamental, en este contexto, las políticas de liberalización que han recorrido todo el mundo y que<br />

están dirigidas a disminuir la participación del Estado. En este proceso incluye tres aspectos: la liberalización de las finanzas, del<br />

comercio y de las inversiones. Con relación a las finanzas muchas de éstas son especulativas y aumentan la preocupación por la<br />

fragilidad del sistema, que ya tuvo su punto álgido durante la crisis del este asiático y repercutió en países como Rusia y Brasil<br />

(Benería, 1999; Khor, 2001). En su dimensión política, la globalización sustituye al Estado corporativo por formas basadas en la<br />

universalización de la sociedad mercantil-capitalista, eliminando las consideradas “arcaicas” o “tradicionales”. Supone el reemplazo<br />

de los valores keynesianos de justicia distributiva y bienestar material por una nueva forma de relación basada en el individualismo y<br />

la cultura del éxito personal. Además, propone la destrucción de identidades colectivas para reemplazarlas por la negociación<br />

individual y la fragmentación de la vida social (Roux, 2002). Las presiones para que los países subdesarrollados reduzcan la inversión<br />

social se exacerban a medida que la economía se hace más global (Otero, 1996).<br />

La globalización ha traído cambios de índole económica, política, social y cultural con implicaciones en la vida cotidiana<br />

de las y los individuos y en los ámbitos meso y macro. Éstos repercuten de manera diferencial en los varios sectores de la economía<br />

y de la sociedad, beneficiando a una minoría y desfavoreciendo a una mayoría, especialmente a los sectores más desprotegidos y de<br />

menores recursos como son los pequeños agricultores y las mujeres en particular. Se han creado brechas más profundas entre el sector<br />

urbano y el rural y en el rural, entre los sectores que pueden exportar y en los otros dedicados a la agricultura de subsistencia. Además,<br />

los datos globales con los que generalmente se aborda el proceso, ocultan la contribución que las mujeres hacen a la economía<br />

participando en innumerables actividades productivas y reproductivas y extendiendo su jornadas de trabajo dentro del espacio<br />

cotidiano.<br />

1.2 El Tratado de Libre Comercio de América del Norte (TLCAN).<br />

La firma del TLCAN en 1993 entre México, Estados Unidos y Canadá surge como una de las manifestaciones<br />

concretas de los procesos de globalización y de liberalización económica que ocurren a escala mundial. La adhesión de México a este<br />

bloque comercial se justificó desde el punto de vista ideológico como la única opción económica para salir de la marginación y del


atraso, y como el mecanismo más apropiado para no quedar fuera de los beneficios de la globalización. Los objetivos planteados con<br />

el Tratado fueron la creación de nuevas oportunidades económicas a través de la eliminación de obstáculos al comercio y la promoción<br />

de la circulación de bienes y servicios entre los territorios de las partes involucradas, la ampliación de las exportaciones, el aumento<br />

de la inversión productiva y la generación de empleos bien remunerados. También pretendía mejorar la competitividad a través de un<br />

mejor aprovechamiento de los recursos y de la capacidad productiva (Salinas O., 2000). Tal como argumenta Aguilar (1993), se partía<br />

de la premisa que el TLCAN, al constituirse como el bloque comercial regional más grande, posibilitaría que los tres países maximizaran<br />

su habilidad para competir y prosperar en el comercio mundial. La reducción de costos, precios más competitivos y mayor poder de<br />

comercialización global serían los principales beneficios. México sería el país que más se beneficiaría de su nueva condición de socio<br />

comercial de América del Norte.<br />

La visión anterior contrasta con la de otros autores que consideran que el TLCAN traería mayormente consecuencias negativas,<br />

sobre todo para la clase trabajadora. Uno de los principales problemas que se vislumbra es la pérdida de empleos en Estados Unidos<br />

y Canadá por el traslado de empresas de estos países a México. La mayor reducción ocurriría, según algunos estudios, en aquellos<br />

empleos que demandan menor calificación y en las zonas rurales donde tradicionalmente se han instalado fábricas e industrias<br />

manufactureras que tienden a pagar bajos salarios (Sizer y Porterfield, 1996), y que presentan condiciones desventajosas de trabajo<br />

y poco reconocimiento de los beneficios sociales.<br />

La apertura económica también ocasionaría pérdida de competitividad de muchos productos agropecuarios en el mercado<br />

interno y la consecuente reducción de la actividad productiva. Dentro el agro, la agricultura de subsistencia se vería más perjudicada<br />

que el sector agroexportador, lo cual repercutiría a su vez en la disminución de fuentes de trabajo, el avance de la descampesinización<br />

y la emigración campo-ciudad y fuera del país (Salinas O., 2000).<br />

Con la firma del TLCAN 4 se acentúan los problemas relacionados con la economía campesina. Antes del GATT 5 todas las<br />

importaciones requerían permisos previos del gobierno y estaban sujetas a una tarifa tope de 100 % y un promedio tarifario de 27%.<br />

En 1990 no se requirieron permisos para casi ninguna importación y los impuestos más altos fueron del 16% con un promedio de<br />

11%. Además, las nuevas regulaciones propuestas en 1989, permiten la inversión externa del 100% en casi todos los sectores de la<br />

economía (Otero, 1996: 7).<br />

Según estudios recientes, un 85% de la población rural está por debajo de la línea de pobreza y el 61.8% se encuentra en<br />

extrema pobreza (Salinas O., 2000). Uno de los factores que incidió fuertemente en la disminución de ingresos de los productores y<br />

el estancamiento o disminución en la producción de granos básicos fue la eliminación a la protección y el favorecer las importaciones<br />

masivas. Por ejemplo, la liberalización total del comercio del maíz, la cual fue realizada al tercer año después de la firma del tratado<br />

y no en el año 15 como estaba previsto, provocó una caída en los ingresos efectivos de los productores superior al 30%. El TLCAN<br />

preveía que se importaran libre de impuestos 2.5 millones de toneladas de maíz proveniente de Estados Unidos y mil toneladas<br />

provenientes de Canadá. Una vez rebasado ese cupo, México podría aplicar un arancel-cuota según la base importada y la categoría<br />

de desgravación (Garduño y Pérez, 2001).<br />

Sin embargo, entre 1994 y 1998 se importaron de EEUU y Canadá 5.3 millones de toneladas de maíz por encima de la cuota de<br />

importación sin pagar el arancel acordado, lo cual significó dejar de cobrar 1500 millones de dólares. Además, en tres de los cinco años<br />

no se respetó la cuota de importación libre de arancel y entre 1996 y 1998 se importó maíz por encima de la cuota prevista para el año<br />

14 del TLCAN (2007). Con el frijol sucedió lo mismo en cuanto a que se liberó totalmente el comercio a partir del tercer año y no del<br />

año 15, y para el arroz, trigo y soya en 5 años se completó el 50% del proceso de desgravación arancelaria (Peñaloza Méndez, 2000).<br />

La disminución de los aranceles por importación se traduce en reducción de la inversión social del Estado y en especial, en recorte<br />

de los subsidios para el sector rural.<br />

La importación indiscriminada de productos agropecuarios ha provocado la reacción del sector político. En efecto, un<br />

informe de la Comisión de Agricultura de la Cámara de Diputados planteó en abril del 2002 la necesidad de una urgente renegociación<br />

del Tratado en su capítulo agrícola. El argumento básico para este reclamo es que en el período 87-93 se importaron 17.4 millones<br />

de toneladas de maíz, mientras entre 1994 y 1999 se compraron 29.3 toneladas de ese grano. Es decir que en el primer período del<br />

TLCAN se incrementó en 68% las importaciones del producto principal. En soya se pasó de 10.2 toneladas a 23.1 millones y en<br />

sorgo de 18.6 a 22.6 millones de toneladas de importación. Señala el informe que «se percibe la magnitud del proceso señalado al pasar<br />

de 52.3 millones de toneladas de importación entre 1987 y 1993, a 89.5 millones de toneladas en el período 1994 a 1999. Es decir que<br />

las importaciones crecieron 37.2 millones en el período señalado.” Para de modificar este proceso, se propone establecer un arancel<br />

cuota que está contemplado en el artículo 701 del tratado comercial (Garduño, 2002).<br />

Aunque debido al poco tiempo que ha transcurrido desde la firma del Tratado no es posible realizar una evaluación<br />

definitiva del mismo, algunos analistas (por ejemplo, Calva Téllez, 1998; y Globerman y Walker, 1994) consideran que las consecuencias<br />

para México han sido más negativas que positivas. Además de la profundización de las diferencias entre los países, el tratado implicó<br />

la pérdida de la soberanía nacional, el establecimiento de empresas maquiladoras en todo el país (en la década del 60 existían sólo en<br />

la frontera norte), la desarticulación del aparato productivo (desaparición de procesos tradicionales de producción), y cambios tanto<br />

a nivel urbano como rural, principalmente en el empleo. Las pequeñas industrias nacionales no pudieron competir con las grandes<br />

empresas y con la avalancha de importaciones que desplazaron la producción nacional. El aumento del desempleo en la industria y<br />

en el agro agudizó la inequidad en la distribución del ingreso y provocó una degradación generalizada de la calidad de vida de la<br />

población, afectando tanto a los estratos medios como a los de menores recursos.<br />

587


La población no ha sido pasiva ante esta avalancha de cambios: el rechazo ante el Plan Puebla Panamá, la oposición al<br />

proyecto del Istmo de Tehuantepec, el resguardo de la milenaria área cultural mesoamericana expresada en la defensa del maíz y la<br />

oposición a los productos transgénicos son algunos de los elementos del proceso (Roux, 2002).<br />

1. 3 Género y globalización<br />

Una de las características relevantes del siglo XX ha sido la masiva incorporación de la mujer al mercado de trabajo en el<br />

ámbito mundial. Si nos suscribimos al mercado de trabajo de los países de América del Norte, la tasa de participación femenina en<br />

1995 era de 59% en USA, 58% en Canadá y 37% en México. Si bien en México la tasa es menor, es el país que ha tenido mayor<br />

crecimiento debido tanto a una tasa más alta de aumento de la población en edad de trabajar como a la mayor incorporación de las<br />

mujeres al mercado de trabajo, motivada por factores económicos, sociales y culturales. La naturaleza del trabajo femenino es<br />

diferente entre los tres países. En Canadá y Estados Unidos, el empleo de las mujeres es fundamentalmente de carácter asalariado: un<br />

90% de las trabajadoras reciben salarios. En cambio, en México, la proporción de mujeres trabajadoras que reciben salario es sólo del<br />

59%, lo cual significa que muchas mujeres no reciben pago. Uno de los sectores donde se produce esta situación es precisamente el<br />

agropecuario, ya que las mujeres trabajan principalmente en las parcelas de la familia (Martínez Medina, 2000).<br />

En el sector rural la participación de la mujer también ha aumentado aunque todavía se mantiene en valores más bajos que<br />

a nivel urbano. Específicamente para la agricultura, los porcentajes de empleo femenino son: Canadá, 2.1%; EEUU, 4% y México,<br />

11.1%. El mayor porcentaje observado en México se debe al predominio de la agricultura campesina, aún cuando el trabajo femenino<br />

en el grupo doméstico muchas veces no se considera como trabajo en sí sino como apoyo a la familia y por eso es probable que esté<br />

subestimado. Sin embargo, muchas mujeres que viven en grupos domésticos campesinos han optado por el trabajo asalariado. En<br />

efecto, entre 1975 y 1985, el porcentaje de mujeres asalariadas en el campo aumentó de 5.2% a 20% del total. El incremento de la<br />

población económicamente activa (PEA) del sector agropecuario fue mucho mayor para las mujeres que para los hombres. Mientras<br />

el crecimiento anual entre 1970 y 1980 para las primeras fue de 10.8%, para la población masculina fue de 0.25% (Martínez Medina,<br />

2000).<br />

Las mujeres que trabajan como jornaleras en México (o sea, como trabajadoras asalariadas ocupadas en labores del campo)<br />

son contratadas fundamentalmente por el sector capitalista. Los cultivos que absorben más mano de obra femenina son aquellos<br />

promovidos en el contexto de una política neoliberal con base en el desarrollo de las ventajas competitivas y con un fin fundamentalmente<br />

exportador. Estos cultivos son flores, frutas, hortalizas, y café. Otros cultivos, al mecanizarse, incluso reducen la participación de<br />

las mujeres, como es el caso de la cebada, uno de los cultivos principales del estado de Tlaxcala (Zapata, 1996). Según Salinas O.<br />

(2000), la incorporación femenina al mercado de trabajo en el sector rural es resultado de la crisis económica y de la apertura comercial<br />

asociada al TLCAN, el cual no representa un mejoramiento de las condiciones familiares sino una alternativa al deterioro del ingreso<br />

familiar. La falta de recursos y el poco apoyo que recibe el sector rural dinamizó el proceso de incorporación de las mujeres en el<br />

mercado laboral formal e informal y resultó en un empeoramiento de las condiciones de trabajo (Cagatay y _zler, 1995), modificando<br />

las aportaciones que hombres y mujeres hacen a la economía del grupo doméstico. Además, como menciona Espino (2001), los<br />

efectos de la expansión comercial pueden ser distintos entre hombres y mujeres, lo que tiene implicaciones en la equidad de género así<br />

como en los objetivos para reducir la pobreza. También, los postulados para analizar la economía global ignoran y tornan invisibles<br />

las formas específicas en las que el proceso afecta a las mujeres. Al tomarse indicadores tan generales, se esconden las aportaciones<br />

que se realizan en los niveles locales y regionales.<br />

2. Transformaciones en el Estado de Tlaxcala<br />

El estado de Tlaxcala no es ajeno a la dinámica mundial. A pesar de su extensión, el más pequeño de la república mexicana,<br />

ha jugado un papel muy importante en el proceso de industrialización del país, siendo uno de los estados más dinámicos en los últimos<br />

años en cuanto a la instalación de industrias provenientes de otros países. El personal contratado en éstas proviene en gran<br />

proporción de comunidades en proceso de transición con una base rural. En 1998 la población ocupada (PEA-Población desocupada<br />

abierta) era de 394.888, distribuida de la siguiente manera: 18% en el sector primario, 51,3% en el secundario, y 30,5% en el terciario.<br />

En el sector primario, el porcentaje de la población ocupada según sexo era de 22,55% hombres y 8% mujeres; en el sector secundario,<br />

51,45% hombres y 51,15% mujeres; y en el terciario 25,8% hombres y 40,7% mujeres (INEGI, 1999). Esta distribución puede<br />

interpretarse como la imposibilidad del sector rural para dar trabajo a los hombres los cuales se ven en la necesidad de migrar hacia las<br />

ciudades. La agricultura de subsistencia queda en mano de las mujeres mayores, la mayor parte del tiempo sin salario y sin que su<br />

trabajo se considere productivo.<br />

A partir de la década de 1970, cuando fue autorizado el establecimiento de industrias maquiladoras en todo el país, la<br />

manufactura rural adquirió importancia bajo la forma de diversas modalidades productivas, desde la subcontratación a través del<br />

trabajo a domicilio, hasta la instalación de pequeños y medianos talleres 6 . Tlaxcala no permaneció ajeno a este proceso de industrialización,<br />

el cual aunado a la incipiente industria iniciada en 1840, cobró un nuevo impulso a partir de los años sesenta. Esto ha ocasionado que<br />

haya pasado de contar con una población eminentemente rural dedicada a las actividades agrícolas, a contar con una población<br />

diversificada en los tres sectores productivos, pero concentrada en el sector secundario. El establecimiento de centros fabriles<br />

comenzó a darse en la zona sur del estado de Tlaxcala, (en donde actualmente se concentra la mayor parte de la industria) y es recién<br />

en 1978 cuando se instala en la parte norte del estado un centro de actividades industriales (Ciudad Industrial Xicohténcatl), con el<br />

objetivo de generar empleos y aprovechar las materias primas existentes en la región (Barrientos, 2000). En general, el cambio<br />

organizacional consistió en una “integración compleja” que descentralizó y flexibilizó un amplio espectro de funciones y centros<br />

de decisión (con exclusión del mando estratégico y la gestión financiera global) las cuales pasaron a radicarse en filiales importantes<br />

o centros regionales de dirección intermedia y aprovechar las ventajas y oportunidades locales y aportación específica a la estrategia<br />

global de la empresa (Dabat, 2000).<br />

588


Para los años ochenta la estructura productiva en Tlaxcala incluía dos actividades principales: la agrícola y la industrial. En<br />

estos años, la situación de la actividad agrícola trajo consigo un alto índice de desempleo, miseria e incertidumbre. Una de las opciones<br />

para el sector campesino fue la migración hacia centros urbanos a vender su fuerza de trabajo en las industrias de Tlaxcala (Leñero<br />

Franco, 1984). Aunado a ello surgieron nuevas formas de contratación como el trabajo domiciliario, tendencia que empezó a generarse<br />

desde los años setenta y que en los ochenta se acrecentó (Alonso, 1991).<br />

Para el año 2000 el estado de Tlaxcala contaba con 313 industrias (incluyendo la pequeña,<br />

mediana y grande) dedicadas a la manufactura de productos alimenticios, bebidas, calzado,<br />

eléctricas y electrónicas, sustancias químicas, productos derivados del petróleo, carbón,<br />

hule, plásticos, textiles, prendas de vestir, productos de madera, industrias metálicas básicas<br />

y productos minerales no metálicos. La Ciudad Industrial Xicohténcatl es la más extensa<br />

de las nueve ciudades industriales que hay en Tlaxcala. Comprende dos fracciones, una<br />

ubicada en el municipio de Tetla (Ciudad Industrial I), en un área rural aislada a<br />

aproximadamente 20 minutos de la ciudad de Apizaco; la otra, más pequeña y de más<br />

reciente fundación, está ubicada en el municipio de Huamantla y a 10 minutos de la ciudad<br />

de Huamantla (Ciudad Industrial II). Actualmente está constituida por 40 industrias (34 en<br />

la primera fracción y 6 en la segunda) siendo uno de los centros fabriles que más empleos<br />

ha generado en los últimos años. De las 40, 23 se instalaron después de la firma del<br />

TLCAN. Las industrias principales incluyen la fabricación automotriz, producción química y la fabricación de ropa junto con la<br />

industria textil tradicional. El origen de estas empresas es variado. Teniendo en cuenta las dos fracciones, 21 empresas provienen de<br />

México, 8 empresas provienen de Alemania, 6 de EEUU, 3 de Francia, una de Holanda y una de Italia.<br />

De acuerdo con datos suministrados por el Fideicomiso de Ciudad Industrial, en el mes de enero del 2001 se empleaban entre<br />

ambas fracciones un total de 9,635 trabajadores en las diferentes empresas, aunque sólo tres de ellas (Linda Vista, Vista de Huamantla<br />

y Olivetti) concentraban el 55% de los trabajadores. Tomando solamente Linda Vista y Vista de Huamantla (son de una misma<br />

empresa de origen estadounidense) el número de trabajadores ocupados era en enero del 2001 de 3,881 (40% del total). Las mujeres<br />

principalmente son empleadas por las industrias maquiladoras de la confección y del ensamble de máquinas de escribir (Linda Vista,<br />

Vista de Huamantla y Olivetti respectivamente) mientras que las industrias dedicadas a otra rama de la producción contratan<br />

preferentemente a varones y las mujeres se emplean sólo para realizar las actividades de limpieza, lo que muestra la preferencia<br />

selectiva de hombres o mujeres para determinadas actividades (Com. Pers., Fideicomiso CIXI, marzo 2001).<br />

2.1 Principales características de las comunidades estudiadas.<br />

La información referente a las áreas rurales fue recabada en tres comunidades del estado de Tlaxcala: Emiliano Zapata,<br />

Lázaro Cárdenas y Benito Juárez. Las dos primeras son cabezas de municipio mientras que la última pertenece al municipio de<br />

Huamantla. Estas tres comunidades se encuentran próximas a la Ciudad Industrial (Emiliano Zapata y Lázaro Cárdenas a la Ciudad<br />

Industrial Xicohténcatl I y Benito Juárez a la Ciudad Industrial Xicohténcatl II). Las tres comunidades son de base principalmente<br />

agrícola. Emiliano Zapata se dedica fundamentalmente a maíz, frijol, papa, avena, y otros cereales siendo su destino principal el<br />

autoconsumo, excepto la papa que se destina principalmente al mercado. En Benito Juárez predominan los cultivos de maíz, trigo y<br />

cebada para autoconsumo, mientras que en Lázaro Cárdenas la mitad de la superficie agrícola (unas 500 has) es ocupada con cultivos<br />

hortícolas, ya que se dispone de riego por gravedad. por dos represas ubicadas en los extremos del pueblo. Los cultivos principales<br />

bajo riego son lechuga (el más importante en superficie), bróccoli, zanahoria, betabel, coliflor, papas y habas, entre otros. Otras<br />

actividades agropecuarias incluyen la producción de ganado lechero, bovino y caprino, y algunas granjas porcinas (Serrano Camacho,<br />

2001). La población de Emiliano Zapata y Lázaro Cárdenas está entre 2.500 y 2.600 habitantes, mientras que en Benito Juárez<br />

sobrepasa levemente los 4.600 habitantes. En las tres comunidades las ocupaciones principales son la de campesino, ama de casa y<br />

estudiante, siendo una minoría la que se emplea como obrero u obrera. En Emiliano Zapata los obreros salen a trabajar a Ciudad<br />

Industrial Xicohténcatl o se emplean en talleres de maquila locales. Funcionan 30-40 pequeños talleres de costura diseminados en la<br />

comunidad, y una pequeña industria maderera en tierra ejidal. Cuatro de los talleres son grandes (emplean más o menos 50 personas)<br />

y los demás son familiares (se autoemplean de 4 a 10 personas familiares); en ambos predominan jóvenes varones y mujeres. La<br />

existencia de empleo en los talleres de costura ofrece una alternativa a ciudad Xicohténcatl. Las mujeres de esta comunidad a muy<br />

temprana edad (entre 11 y 16 años) comienzan a laborar en la maquila, los talleres familiares son los espacios donde inician el<br />

aprendizaje, para posteriormente emplearse en los más grandes o en las empresas (Barrientos, 2000; Chávez Márquez, 2000; Nelson,<br />

1999).<br />

589


2.2 Transformaciones y permanencias en las comunidades<br />

En cada comunidad se entrevistaron 20 familias tomando una casa por manzana. La mayoría de las familias entrevistadas<br />

(51 de las 60) tienen acceso a tierras ejidales. La superficie de las parcelas oscila entre 1 y 8 hectáreas; el promedio entre los<br />

entrevistados en Benito Juárez es de 3.5 has, en Lázaro Cárdenas de 2.6 has 7 , y en Emiliano Zapata de 1.8 has. Ocho familias tienen<br />

además vacas lecheras; su producción se destina principalmente al consumo familiar y se vende el remanente a comerciantes locales.<br />

La ocupación principal de los hombres e el trabajo en la parcela. Si bien la responsabilidad mayor de las labores del campo recae en<br />

el hombre, también realizan faenas en éste las mujeres e hijos. Lo hacen los fines de semana y fundamentalmente en los períodos en<br />

que el trabajo es más intenso, como la época de siembra o de cosecha. El resto del año es frecuente que los hombres se empleen en<br />

forma temporal como albañiles en sus comunidades o incluso en ciudades cercanas (Tlaxcala, Puebla, México DF), y/o trabajen como<br />

jornaleros en campos vecinos. Esto es frecuente también entre los hijos mayores de los entrevistados. Estas actividades son<br />

esenciales para complementar el ingreso de la familia y poder subsistir durante el año. El comisario ejidal de una de las comunidades<br />

comentó al respecto: “Trabajo de albañil y me pagan $100 diarios si voy a Puebla a trabajar, gano más como albañil que como<br />

campesino.” Uno de los sectores más afectados con el TLCAN es el sector agrícola. Los precios bajos que reciben los campesinos<br />

por su producción y la dificultad de competir con los rendimientos de los otros países queda de manifiesto en los siguientes<br />

comentarios:<br />

El TLC nos afecta porque se han metido muchos productos y el de la comunidad se queda estancado. Hace un año<br />

se heló el maíz, lo llevé a vender a Huamantla, me lo rechazaron y lo tuve que vender a $ 1.00 para poder venderlo.<br />

Allá [en Estados Unidos] levantan 10 toneladas por hectárea y acá se levanta 3 toneladas por hectárea; allá utilizan<br />

mucha química y aquí sólo se produce de manera tradicional; para la gran industria sí conviene pero para el sector<br />

campesino es una desventaja.” (Comisario ejidal, Benito Juárez).<br />

Sigo amolado con el campo... según la política, el campo es lo primero pero no sacamos nada. Usted mete dinero<br />

pero no vale el maíz, están pagando $1. Usted escarda, barbecha, limpia, pizca, amogota, y quién le paga?<br />

(campesino, 63 años, Benito Juárez).<br />

Sólo cinco de los entrevistados trabajan como empleados de fábricas de la Ciudad Industrial Xicohténcatl I, y son en todos los casos<br />

menores a 25 años. Algunos hombres desempeñan otro tipo de actividades, que en algunos casos son de tiempo parcial y en otros de<br />

tiempo completo. Estas incluyen electricista (1), carpintero (1), chofer de empresa (1), comercio (1), inspector de transporte (1), y<br />

taller familiar de costura (3). A diferencia de los que trabajan por cuenta propia, los que están empleados por contrato tienen seguro<br />

social, licencia, salario vacacional y aguinaldo. Si se compara con otros trabajos estos obreros tienen algunas ventajas, pero resultan<br />

mínimas si se comparan con los salarios recibidos en el ámbito internacional 8 .<br />

Según un joven entrevistado, trabajador de una de las fábricas de CIXI, hay unos 20 jóvenes menores de 25 años, oriundos<br />

de Benito Juárez que trabajan en las industrias. Dadas las precarias condiciones de vida de los campesinos(as) y el proceso de<br />

industrialización en el estado, la población agrícola se ha convertido de manera significativa en una fuente de mano de obra barata y<br />

abundante para la industria, lo cual ha transformado la estructura productiva. Las comunidades campesinas se han ido adaptando a<br />

la combinación de actividades agrícolas y manufactureras, y de ahí que el viejo estereotipo del campesinado autosuficiente hace mucho<br />

tiempo que no existe. Las familias rurales no se hallan en posibilidad de cubrir sus necesidades de maíz y frijol, y por lo tanto los<br />

campesinos se han visto forzados al trabajo asalariado en las empresas locales, o a la migración; más aún, el ingreso obtenido del trabajo<br />

asalariado se ha tornado indispensable para la inversión y productividad del campo. Como lo señala Lara (1996): las comunidades<br />

entrelazan actividades agrarias y extra-agrarias, formales e informales, en un mismo espacio físico, e incorporan a una población cada<br />

vez más diversificada, en donde las mujeres tienen un papel central. A la vez se generan otras formas de organización que no pueden<br />

ser definidas en sus formas más simples como rurales o urbanas.<br />

Las consecuencias de la liberalización de la economía y de la expansión comercial sobre las mujeres en el ámbito laboral,<br />

tanto en números absolutos como relativos, parece arrojar resultados positivos o negativos dependiendo de un rango de factores y<br />

condiciones previas: patrones de acceso a los recursos, tasas femeninas de participación, los niveles educativos y salariales por<br />

género, discriminación del mercado laboral y la segregación en el contexto sociocultural (Fontana, Joekes y Masika, 1998 citado por<br />

Espino, 2001).<br />

En nuestro caso, la mayoría de las mujeres entrevistadas se dedican principalmente a tareas vinculadas al ámbito doméstico.<br />

El hecho de contraer matrimonio hizo que muchas de ellas abandonaran las ocupaciones remuneradas que desempeñaban cuando<br />

solteras. Éstas eran diversas: cuidado de niños, empleadas domésticas, empleadas en las fábricas de Ciudad Industrial o en talleres de<br />

costura. La principal razón por la cual dejaron estos trabajos era que sus esposos no deseaban que continuaran con sus ocupaciones<br />

y que se dedicaran a la familia y al hogar, lo cual es una tradición arraigada en las comunidades y representa para algunas mujeres<br />

motivo de frustración.<br />

590


La crianza de niños pequeños también hace que las mujeres se vean limitadas en sus posibilidades de trabajar fuera del<br />

ámbito doméstico: “Dicen los hombres que la mujer que se casa es para la casa. Yo pienso que deben ayudarse uno al otro” (mujer de<br />

19 años, Emiliano Zapata). Otras manifestaciones de las mujeres respecto de su situación fueron:<br />

Si pudiera trabajaría fuera de la casa, pero no me deja mi esposo. Me gustaría tener un trabajo en mi casa que me permita estar<br />

al pendiente de mis niños, porque tampoco los puedo dejar solos porque sino llego y ya quien sabe qué hicieron. Pero sí me<br />

gustaría tener alguna cosa que hacer en mi casa para tener dinero, para poder ayudar un poquito a mi esposo (mujer, Lázaro<br />

Cárdenas, 33 años).<br />

La verdad me gusta mucho trabajar. Siempre he sido muy inquieta, se da uno cuenta que sí hace falta, y yo siento que me<br />

desarrollo más, que aprendo cosas nuevas... Donde he estado (fábrica Lindavista) me han brindado mucha confianza, mucha<br />

ayuda para aprender cosas que en la casa no las aprende uno... Me tuve que salir... Mi marido no quería que siguiera trabajando<br />

(mujer, Lázaro Cárdenas, 39 años).<br />

En relación a este punto, Benería (1999) señala que al mismo tiempo que se profundizan las relaciones de mercado en la<br />

sociedad, aumentan las actividades no pagadas, y todas aquellas indirectamente relacionadas (trabajo doméstico y actividades<br />

comunitarias) donde las mujeres están desproporcionadamente representadas 9 . El trabajo de las mujeres que producen bienes y<br />

servicios para uso y no para intercambio, no se considera dentro del comportamiento del mercado. Según Townsend (2002), las<br />

mujeres se ubican en el hogar donde las actividades productivas son secundarias y catalogadas como “ayuda o apoyo” y son labores<br />

estacionales. Mientras el trabajo de los varones es linear y acumulativo, el de las mujeres es cíclico y discontínuo.<br />

Para las mujeres de la zona hay dos alternativas en cuanto a trabajo remunerado: Los realizados en sus propias casas (como<br />

extensión de las tareas domésticas) o los realizados en la comunidad. Así, cinco mujeres planchaban o lavaban en sus hogares para<br />

otras familias o para talleres de costura, dos habían instalado talleres de costura (en cuyo caso era encarado como una actividad<br />

familiar), dos trabajaban en talleres de costura de la comunidad, otra trabajaba en una tienda y la restante trabajaba en una fábrica de<br />

CIX. Estas mujeres consideraban muy necesario para la economía de sus hogares el estar generando un ingreso extra para la familia<br />

o, en el caso que fueran solteras, para sus gastos personales. En general las mujeres, independientemente que trabajaran en forma<br />

remunerada o no, valoraban positivamente la existencia de otras fuentes de trabajo extra-prediales, tales como los talleres de costura<br />

y las fábricas de Ciudad Industrial, ya que representan la posibilidad de permanecer en la comunidad y frenan la emigración.<br />

Las mujeres ven como ventajosos los talleres domiciliarios 10 debido a que trabajan a destajo dentro del hogar y no<br />

desatienden a los hijos. Sin embargo, la situación allí es más precaria que en las fábricas ya que no tienen prestaciones sociales, están<br />

aisladas y no pueden organizarse para demandar sus derechos laborales. Muchas veces los talleres son propiedad o los administra un<br />

pariente masculino y la “economía moral” dicta que las mujeres permanezcan invisibles como trabajadoras. Ninguna mujer se<br />

registraría como obrera para hacer que su pariente masculino pague la seguridad social (Afshar, 2001). No obstante, algunos<br />

comentarios fueron también críticos respecto a los efectos de las fábricas en las comunidades valorando en forma positiva el que se<br />

hacía dentro de la casa.<br />

Hubo un avance de los talleres de costura, van a traer su costura desde México. Antes era muy trabajoso para tener un<br />

dinero, los niños antes andaban descalzos. Las familias se van menos a otros lados (mujer, 59 años, Emiliano Zapata).<br />

Yo digo que está mejor, antes no había en qué trabajar, ahora que hay talleres está mejor (mujer, 19 años, Emiliano<br />

Zapata).<br />

Las fábricas han ayudado mucho, era una colonia pobrísima. Cuando menos las muchachas se fueron arreglando,<br />

vistiendo (mujer, 62 años, Emiliano Zapata).<br />

Desde que mis hijas trabajan (en los talleres) ya uno no sufre como antes. Antes no tenía uno dinero (mujer, 55 años,<br />

Emiliano Zapata).<br />

Las fábricas han traído mejoras pero no para los trabajadores, sí para los patrones. Los trabajadores no mejoran, no<br />

progresan. Preferimos trabajar en la casa porque en las fábricas igual uno se cansa, se aburre (mujer, 23 años, Emiliano<br />

Zapata).<br />

591


Desde hace 4 años que se empezaron a instalar esas fábricas se veía más apoyo para la gente, para la juventud, pero de ahí<br />

para acá... Casi solamente entra juventud, personas mayores no. Pero para la juventud sí ha servido de algo. Mucha gente<br />

ha evitado irse a las ciudades, a Puebla, a México. No se gana mucho, los sueldos son bajos. Lo que compran es más caro,<br />

pero es un alivio, por lo menos para que se vayan vistiendo y calzando... Yo veo que hasta las poblaciones como que se van<br />

ampliando más, porque la gente va a trabajar en las industrias, regresan, se conocen por ahí entre jóvenes, se casan, y van<br />

formando su hogar, ya la gente no se va (hombre, 59 años, Lázaro Cárdenas).<br />

Volviendo a Espino (2001), es importante tener en cuenta los niveles educativos de las mujeres para evaluar los efectos de<br />

la liberalización económica. El nivel de capacitación requerido para el ingreso como trabajadores de las industrias es la secundaria<br />

terminada, lo cual restringe significativamente las posibilidades de empleo de la mayoría de los pobladores rurales. Este requerimiento<br />

se constituye en una barrera para el ingreso y debido a ello la mayor parte de la población no está en condiciones de ser contratada.<br />

Además, la falta de empleo en la economía ha provocado que los trabajadores calificados se integren a las maquiladoras constituyendo<br />

una competencia inequitativa para las mujeres obreras de esta industria, quienes por tener pocas oportunidades de capacitación son<br />

desplazadas y deben reubicarse en lugares en donde existen condiciones de trabajo fuera de la ley, es decir, los talleres y la maquila<br />

domiciliaria, los cuales se convierten en opciones de trabajo alternativas para las mujeres (Barrientos, 2000). A este respecto Espino<br />

(2001) señala cómo estas formas son un retroceso a la armonización de los estándares laborales, incluidos los de particular importancia<br />

para las mujeres (por ejemplo, los referidos en los acuerdos de la OIT, como licencia de maternidad igualdad de oportunidades en el<br />

empleo e igual pago por igual tarea). Un testimonio recogido por Barrientos (2000) en la misma zona ejemplifica el fenómeno:<br />

Es mucha la presión que tenemos y veo que es poco el sueldo, ahora si tenemos una producción del bono de 70%,<br />

es como nos pagan bonos si no, no nos dan y están muy difíciles los estilos como para llegar al 70%, si siguen así las cosas<br />

me voy a buscar otro trabajo en otro lado, y es que es mucha la presión, antes no nos exigían tanta calidad y ahorita con este<br />

sistema mucha calidad nos están exigiendo y aparte de que quieren calidad, quieren cantidad, entonces pues sí está siendo<br />

difícil ahorita, a lo mejor lo sentimos porque no habíamos trabajado así (mujer, 35 años, en Barrientos, 2000:103).<br />

Sin embargo, a pesar de la existencia de las industrias, la emigración a otras ciudades y aun fuera del país continúa siendo utilizada<br />

como un mecanismo de generación de ingresos: “Mucha gente emigra, dejando rentada la tierra” (Comisario Ejidal, Benito Juárez). En<br />

algunos casos, la emigración es sólo por algunos meses al año, regresando a la comunidad una vez que se termina la actividad para la<br />

cual fueron contratados. Una señora de Lázaro Cárdenas manifestaba respecto a sus hijos:<br />

Ya van tres años los solteros, el casado es la primera vez (que va a Estados Unidos). Han estado trayendo (dinero)<br />

pero no habían podido construir. Van por medio año a Carolina del Norte, a la cosecha de tabaco y pepino. Dicen<br />

que se sufre mucho... No es que los traten mal, el trabajo es muy pesado. Dicen que hay que ir de rodillas, y que<br />

unos ya van hasta llorando, que ya no aguantan de cansados (mujer, 53 años, Lázaro Cárdenas)<br />

A través de la oficina del Servicio Estatal de Empleo de Tlaxcala se administra además un programa federal de colocación para<br />

trabajadores agrícolas en el extranjero (Canadá) que ha estado operando durante los últimos cinco años. Mediante este programa,<br />

campesinos entre 22 y 45 años que tengan dependientes económicos pueden postularse para trabajar en forma temporal en Canadá<br />

en tareas agrícolas; el resultado es que cada mes se envían 60 personas de distintos puntos del estado (Com. Pers. Servicio Estatal<br />

de Empleo de Tlaxcala).<br />

Otro elemento para el análisis es que se pensó, en las dos últimas décadas, que el modelo maquilador era una alternativa de<br />

desarrollo para el país. No obstante, hoy parece tener un escenario modificado pues en poco menos de un año (a partir de junio del<br />

2001) 545 maquiladoras decidieron abandonar el país y trasladar sus plantas a otras naciones, especialmente China. El saldo es una<br />

pérdida de 150 mil puestos de trabajo para el país. En este contexto se ubican tres aspectos desfavorables: las maquilas se limitan a<br />

ensamblar materiales frecuentemente traídos del extranjero, por lo que se agrega poco valor en términos económicos y poco fomenta<br />

la cadena productiva mexicana. Los trabajos ofrecidos son de baja remuneración para los trabajadores, puesto que desde 1982 a la<br />

fecha los salarios no han dejado de caer en términos reales y no se han realizado esfuerzos para capacitar a los trabajadores para optar<br />

por mejores empleos en otros sectores de la economía (La Jornada, Editorial Julio 17, 2002: p. 2).<br />

3. Conclusiones<br />

La liberalización de la economía y la firma del TLCAN en el contexto de la aplicación de políticas económicas neoliberales<br />

ha provocado cambios sociales y económicos de envergadura en las comunidades rurales, y los efectos no puede decirse que sean<br />

favorables. El análisis de la información revela que si bien la penetración industrial ha influido en la estructura social y económica de<br />

las zonas estudiadas, los patrones de comportamiento laboral de sus habitantes y y la calidad de vida de la población rural no se han<br />

visto sustancialmente modificados. Las industrias emplean mano de obra fundamentalmente joven y con un nivel educativo<br />

medianamente alto (secundaria completa), con lo cual gran parte de la población queda excluida de la posibilidad de insertarse en ellas.<br />

La actividad principal de los pobladores continúa siendo la producción agrícola a nivel de las tierras ejidales, la cual proporciona el<br />

592


sustento básico para las familias. En los casos en que existe excedente, la venta de productos agrícolas no resulta suficiente para la<br />

manutención de las familias, por lo cual la mayoría complementa sus ingresos con otras actividades de carácter temporal.<br />

La creación de talleres domésticos de maquila se ha constituido en una estrategia alternativa que ha suplido en parte la falta<br />

de posibilidades de empleo a través de la industria y que ha permitido contrarrestar la pérdida de ingresos asociada a la disminución<br />

de precios de los productos agrícolas producida a partir del TLCAN. Además de aparecer como una alternativa laboral para hombres<br />

y mujeres, la maquila doméstica resulta compatible con las tareas vinculadas al hogar y a la familia, por lo cual las mujeres pueden<br />

insertarse fácilmente y sin la oposición de sus cónyuges. La marcada división sexual del trabajo en las comunidades estudiadas, donde<br />

la mujer juega un papel fundamental en la preparación de alimentos para la familia y en la realización de todas las tareas de índole<br />

doméstica, tales como crianza de los hijos y de animales domésticos, hace que sea muy difícil para las mujeres incorporarse al ámbito<br />

laboral fuera de sus propios hogares. De ahí que la maquila doméstica constituya una de las pocas opciones existentes para la<br />

inserción de las mujeres en el mercado laboral.<br />

593


Bibliografía<br />

Afshar, Haleh. 2001. “Los Estudios de la Mujer en el Reino Unido: Problemas y Perspectivas”. In E. Zapata-Martelo; V. Vázquez<br />

García and P. Alberti (Eds). Género, Feminismo y Educación Superior. Una Visión Internacional, (pp. 233-249). Colegio de<br />

Postgraduados, MIAC y ANUIES: México.<br />

Aguilar, Linda M. 1993. “Nafta: A review of the issues.” Economic Perspectives 17(1): 12-20.<br />

Alonso, José A. (1991). Mujeres maquiladoras y microindustria doméstica. Fontamara: México.<br />

Barrientos, María del Socorro. 2000. “Género y maquila. Situación laboral e identidad de género de mujeres trabajadoras de tres<br />

comunidades de Tlaxcala.” Tesis de Maestría. Colegio de Postgraduados: Montecillo, México.<br />

Benería, Lourdes. 1999. Globalization, Gender and the Davos Man. Feminist Economics, 5 (3): 61-83.<br />

G agatay, Nilufer and Sule _zler. 1995. “Feminization of the Labor Force: the Effects of Long-Term Development and Structural<br />

Adjustment.” World Development, 23 (11): 1883-1894.<br />

Calva Téllez, José Luis. 1998. “La economía nacional y la agricultura de México a tres años de operación del TLCAN.” In R.<br />

Schwentesius Rindermann, M. A. Gómez Cruz y G. W. Williams (Coords.). TLC y agricultura: ¿Funciona el experimento? (Pp. 85-<br />

110). CIESTAAM, Universidad Autónoma de Chapingo: México.<br />

Carrillo, Graciela. 2002. La empresa mexicana y los mercados ambientales en la globalización. Comercio Exterior 52 (3): 188-196.<br />

Castells, Manuel. 1999. La Era de la Información. La Sociedad Red. Vol. 1. Siglo Veintiuno: México.<br />

Chávez Márquez, E. (2000). Diagnóstico de salud / Estudio de comunidad. Pueblo de Benito Juárez, Municipio de Huamantla.<br />

Jurisdicción Sanitaria II. 1o. febrero 1999 - 31 enero 2000. UNAM-Facultad de Medicina, Organismo Público Descentralizado de<br />

Salud de Tlaxcala (inédito).<br />

Dabat, Alejandro. 2000. Empresa transnacional, globalización y países en desarrollo. In J. Basave Kunhardt (Coord.). Empresas<br />

mexicanas ante la globalización. (Pp. 19-47). UNAM, DGAPA, Porrúa: México.<br />

De Villota, Paloma. 1999. “Introducción.” In Paloma de Villota (Ed.). Globalización y género (Pp. 21-24). Síntesis: Madrid.<br />

Dussel, Enrique. 1999. Beyond Eurocentrism: the World-System and the Limits of Modernity. In Jameson, Frederic and Masao<br />

Miyoshi (Eds). The Cultures of Globalization. (Pp. 3-31). Duke University Press: London.<br />

Espino, Alma. 2001. Análisis de género de las políticas comerciales. In R. Todaro y R. Rodríguez (Eds.). El género en la economía.<br />

Centro de Estudios de la Mujer e Isis Internacional: Santiago de Chile.<br />

Garduño, Roberto. 2002. Demandan diputados replantear el TLCAN en su capítulo agrícola. La Jornada, México. 14 de abril. P. 4.<br />

Garduño, Roberto y C. Pérez. 2001. El TLC, obstáculo al agro, revela análisis en la Cámara de Diputados. La Jornada. 15 de<br />

setiembre. P. 24.<br />

Globerman, S. and Walker, M. (Comps.). 1994. El tratado de Libre Comercio de América del Norte, tal y como se negoció: Una<br />

perspectiva estadounidense. Fondo de Cultura Económica: México.<br />

INEGI. 1999. Encuesta Nacional de Empleo. 1998. Tlaxcala. Instituto Nacional de Estadística, Geografía e Informática:<br />

Aguascalientes, México.<br />

Khor, Martin. 2001. Rethinking globalization. Critical Issues and Policy Choices. London: Zed Books.<br />

Lara Flores, Sara M. 1996. “El papel de las mujeres en la nueva estructura de los mercados de trabajo rur-urbanos.” In Hubert C. de<br />

Grammont, Hector Tejeda Gaona (Coords.). La sociedad rural mexicana frente al nuevo milenio (pp. 145- 166). Vol. II. INAH,<br />

UNAM, Plaza de Valdés Editores: México.<br />

Leñero Franco, Estela. 1984. El heno y el sexo (la mujer obrera en dos industrias de Tlaxcala). Centro de Investigaciones y Estudios<br />

Superiores en Antropología Social. Cuadernos de la Casa Chata Hidalgo y Matamoros: México.<br />

Martínez Medina, María C. 2000. “TLC y trabajo femenino asalariado en el sector agropecuario.” In M. L. González Marín<br />

(Coord.). Globalización en México y desafíos del empleo femenino (pp. 65-82). UNAM, IIE: México.<br />

594


Nelson, Becky M. 1999. Economic and social impacts of the North American Free Trade Agreement in Tlaxcala, México. Master´s<br />

Thesis. Oklahoma State University: U. S. A.<br />

Otero, Gerardo. 1996. Introduction. Chapter 1, pp.1-25. In G. Otero (Ed.), Neoliberalism Revisited. Economic Restructuring and<br />

Mexico´s Political Future. Boulder, Colorado: Westview Press.<br />

Peñaloza Méndez, A. (2000). “Tratado de Libre Comercio de América del Norte: Tiro por la culata. Una evaluación a seis años de<br />

haber entrado en vigencia.” In B. Schmid (Comp.). Libre comercio: Promesas versus realidades (pp. 153-168). Ed. Boll: El<br />

Salvador.<br />

Petras, James y Henry Veltmeyer. 2001. Globalization unmasked. Imperialism in the 21 st Century. Zed Books: London.<br />

Roux, Rhina. 2002. En la globalización neoliberal el Estado pierde el control del espacio económico y político nacional. Triple<br />

Jornada, No. 44, Lunes 1 de abril. P. 4.<br />

Salinas O., Argelia. 2000. “El impacto del TLCAN en la agricultura mexicana. El caso del mercado de trabajo femenino.” In María<br />

Luisa González Marín (Coord.). Globalización en México y desafíos del empleo femenino (pp. 83-106). UNAM, IIE: México .<br />

Sizer, Molly and Shirley L. Porterfield. 1996. Early employment impacts of the NAFTA: A search for adversely affected workers,<br />

Part I (inédito).<br />

Wallerstein, Inmanuel. 1998. Impensar las ciencias sociales. Límites de los paradigmas decimonónicos. Siglo XXI: México.<br />

Zapata-Martelo, Emma. 1996. Modernization, Adjustment, and Peasant Production. A Gender Analysis. Latin American Perspectives,<br />

23(1): 118-130.<br />

1 Marta B. Chiappe. Departamento de Ciencias Sociales, Facultad de Agronomía, Universidad de la República, Uruguay.<br />

martac@internet.com.uy<br />

2 Emma Zapata Martelo. Departamento de Desarrollo Rural, Colegio de Postgraduados en Ciencias Agrícolas, México.<br />

emzapata@colpos.colpos.mx<br />

3 El fenómeno de la globalización no es nuevo. Algunos autores lo ubican en el siglo XV cuando se constituyó el sistema mundo<br />

(Dussel, 1999; Wallerstein, 1998). Otros como Petras y Veltmeyer (2001) argumentan que se trata de una forma de imperialismo que<br />

se transforma con los adelantos tecnológicos y la revolución en las comunicaciones.<br />

4 La apertura comercial del sector agropecuario de México se inició en 1986 con la incorporación de México al General Agreement on<br />

Tariffs and Trade (GATT).<br />

5 Por sus siglas en inglés.<br />

6 Muchos de ellos no tienen reconocimiento legal y no están registrados como establecimientos industriales.<br />

7 Este promedio no incluye una de las fincas, cuya superficie era de 74 has en total.<br />

8 Según el U.S Bureau of Statistics, la compensación por hora para los trabajadores en la producción era de 1.75 dórares en México.<br />

Comaparado con los que recibían por hora en 1997 en los países de industrialización reciente: en Hong Kong 5.42; en Corea 7.22 y<br />

en Taiwan 5.98 (Gerber, 1999).<br />

9 Benería cita datos de UNDP en donde se estima que en el ámbito global, si las actividades no pagadas se contabilizaran a precios de<br />

salarios actuales, tendrían un valor de $16 trillones, o el 70% del total de la producción mundial ($23 trillones). De estos $16 trillones,<br />

el trabajo de las mujeres representa $11 trillones, o sea casi el 69% (UNDP, citado por Benería, 1999:70).<br />

10 Muchos de ellos no tienen reconocimiento legal., es decir, no están registradas como establecimientos industriales.<br />

595


ALGUNOS RESULTADOS SOBRE LA RELACION MUJER - FORMAS<br />

ORGANIZATIVAS AGROPECUARIA EN CUBA.<br />

Introducción.<br />

596<br />

Autoras: Miriam García Aguiar<br />

Niurka Pérez Rojas<br />

Equipo de Estudios Rurales.<br />

Universidad de La Habana.<br />

A partir de 1990, Cuba, enfrenta una situación de crisis económica provocada por la desaparición de la mayoría de los vínculos<br />

comerciales y el recrudecimiento del bloqueo de los Estados Unidos, que ha implicado una reorientación de la fuerza laboral hacia los<br />

sectores prioritarios, entre ellos el agropecuario con el objetivo de producir alimentos.<br />

Hasta la primera mitad de 1993 en la agricultura cubana existían cuatro tipos de estructuras, el campesino-parcelero, formado por la<br />

Cooperativas de Créditos y Servicios, CCS, y un número inferior de parceleros; el colectivo-cooperativo compuesto por las Cooperativas<br />

de Producción Agropecuaria, CPA; del tipo estatal compuesto fundamentalmente por grandes extensiones patrimonio de los<br />

Complejos Agroindustriales, de Empresas Agropecuarias y las Granjas Militares.<br />

A partir de septiembre de1993 se implementa dentro de la propiedad estatal una nueva forma de<br />

organización productiva en búsqueda de hacer más eficiente la agricultura y aplicar fórmulas<br />

que incentiven y motiven a los hombres a entregar sus reservas productivas en función de lograr<br />

mayores volúmenes de producción con el menor gasto posible de recursos. La Unidad Básica de Producción. Cooperativa, UBPC, es<br />

la nueva forma de organización resultante dentro de la propiedad estatal.<br />

Se estima que en 1990 unas 200 000 mujeres participaban en la agricultura – ya fueran movilizadas en forma temporal o por períodos<br />

más largos en los contingentes. No obstante, .... en general, el empleo femenino se contrae en los 90, para el sector agropecuario en<br />

alrededor de un 2%, es en el medio rural donde la mujer vuelve más a las actividades que tradicionalmente le fueron asignadas....Así<br />

lo señala la Dra María de los Angeles Arias Guevara en su artículo: “Un enfoque socioclasista hacia el interior del movimiento<br />

cooperativo, en diciembre de 1996”<br />

Es necesario mencionar algunas de las condiciones históricas en el desarrollo de la agricultura cubana que determinan la participación<br />

femenina. A continuación señalamos como la situación de crisis económica que experimenta el país, en el contexto del período<br />

especial, va encontrando alternativas de solución a través de nuevas formas organizativas de la producción y al mismo tiempo<br />

incorporar de forma progresiva prácticas productivas y agroeco1ógicas sustentables. El propósito es transitar hacia un modelo<br />

donde se sustituya el uso de productos químicos y primen las prácticas de la agricultura orgánicas.<br />

En 1959 se heredan un conjunto de problemas agroecológicos, provocados por la existencia de grandes plantaciones de monocultivos,<br />

con fines comerciales, especialmente caña de azúcar y la cría extensiva de ganados. Esto causó una sensible reducción de la<br />

biodiversidad y degradación de los suelos. La forma latifundiaria de propiedad de la tierra se caracterizaba por una alta concentración<br />

del recurso natural tecnológico y humano. La sobreexplotación y destrucción de los recursos naturales estaba asociada no solo al<br />

monopolio del patrón tecnológico sino también a las desigualdades de la estructura social de tenencia de la tierra que obligaba a los<br />

trabajadores del campo a vivir en condiciones infrahumanas. Estos efectos de hoy no son únicamente resultados históricos, además<br />

hay que tomar en cuenta que la aplicación de un modelo convencional durante 30 años, introdujo técnicas modernas, sin una evaluación<br />

sistemática de sus efectos.<br />

La mujer apenas es mencionada en la caracterización de la estructura agraria antes del 59. El censo de 1946 no contempla su<br />

participación, su labor no se hace visible como actividad económica en tanto cubría las necesidades de la familia y otras actividades<br />

como la crianza de animales destinados al consumo familiar o a la venta. La difícil situación de la fuerza de trabajo que imperaba en el<br />

campo cubano, se acentuaba para las mujeres. El censo de 1953 muestra su limitada participación en el área rural, solo un 5%<br />

participaban como fuerza económicamente activa. (De Armas.T; 1997)<br />

El desarrollo del modelo- convencional- industrial se vio impulsado por la apertura de mercados con los países socialistas, el<br />

suministro de créditos y financiamiento, asesoramiento científico, maquinarias y agroquímicos a precios mutuamente ventajosos. Así<br />

se conformó una agricultura de altos insumos dependiente en gran medida de las importaciones de renglones de todo tipo. Estos<br />

factores nos ayudan a comprender el porque este modelo caló tan hondo en las concepciones, estilos y métodos de trabajo de los<br />

dirigentes, funcionarios, científicos, técnicos, campesinos y pueblo en general.<br />

El desarrollo de la agricultura cubana hasta el año 1990 se basó en una gran disponibilidad y uso de recursos materiales (en su mayoría<br />

importados), que la hacían dependiente y vulnerable de insumos foráneos, tanto la producción dedicada a la exportación, como al<br />

consumo interno. Entre los productores se crea una mentalidad que concebía que los altos niveles de productividad sólo podían<br />

lograrse si se empleaba una elevada mecanización y un alto suministro de insumos.


Estas características, muy particulares, en que se asume en nuestro país el modelo convencional tiene efectos importantes en la<br />

participación femenina. Para las mujeres rurales el desarrollo del modelo agrícola convencional marcó el inicio de una política<br />

encaminada hacia la incorporación de forma significativa al sector estatal de la agricultura, se crearon diferentes contingentes femeninos<br />

en todo el país. En 1980 existían 72 590 brigadistas organizadas en 5996 brigadas de ayuda mutua (FMC-ANAP), que participaban<br />

en la cosechas de cultivo y en las zafras azucareras (FMC;1980).<br />

En 1985 las mujeres constituían cerca del 25% de la fuerza de trabajo del sector agropecuario y de ellas, eran obreras agrícolas el 52,7<br />

%.(Arias. M.A; 1997). En 1989 laboraban en el sector agropecuario 690 300 trabajadores, de los cuales 165 692 eran mujeres,<br />

equivalentes a un 24 %. (CEE 1991) El sector estatal de entonces era responsable de casi la totalidad de la producción de caña, de los<br />

cítricos, del arroz, de las aves y los huevos, de la carne de cerdo y de res.<br />

En las Cooperativas de Producción Agropecuarias a partir de 1977, se incorporaron un gran número de mujeres como socias, esta<br />

forma productiva aumentó las posibilidades de empleo y de desarrollo sociocultural de las mujeres, la posibilidad de ser miembros con<br />

iguales derechos y deberes, acceder a la seguridad social, recibir una capacitación y especialización como fuerza de trabajo, elevar su<br />

nivel cultural, lograr espacios de participación y de toma de decisiones, disponer en su mayoría de nuevas viviendas, y de un mayor<br />

acceso a los principales servicios sociales y tener garantizado el autoconsumo. (Ravenet, M; 1989)<br />

Estos elementos favorables no pueden hacer perder de vista que hacia finales del primer quinquenio de 80 se produjo un decrecimiento<br />

tanto de incorporación, como de baja retención de las mujeres en el movimiento cooperativo. Eso se ha traducido al menos para la<br />

mujer en: promoción insuficiente de fuentes de empleo para ella, o puestos existentes pero poco atrayentes, tanto por la remuneración<br />

como por su contenido. Además en muchas cooperativas la mujer puede recibir su autoconsumo como ama de casa, lo que no estimula<br />

su incorporación al trabajo. También en la mayoría de las comunidades de las cooperativas el desarrollo de la infraestructura social se<br />

ha rezagado, aspecto que resulta vital para la incorporación de la mujer. (Pérez, N; 1996)<br />

En las Cooperativas de Créditos y Servicios, aunque las mujeres se han integrado como socias, su trabajo pocas veces se relaciona<br />

directamente con la producción de la tierra Dentro de la unidad campesina se combinan elementos de carácter estructural e<br />

ideológicos, que contribuyen a hacer menos visible y específico los roles que la mujer ejecuta. Por una parte la convergencia, muchas<br />

veces espaciales de las tareas domésticas y productivas que la mujer realiza al interior de la propiedad familiar, hace que sea difícil<br />

definir donde terminan unas y empiezan las otras. En este sentido se añade la autodefinición de las mujeres como “dueñas de casas”,<br />

sin reparar en distinciones en cuanto a la naturaleza de las actividades que desempeñan (domésticas-productivas), en la medida que<br />

para ellas responden a un objetivo común: el bienestar familiar.<br />

La urgencia del Programa Alimentario Nacional (1989) llamó la atención sobre el importante papel de los productores individuales en<br />

cuanto a garantizar al país el suministro de alimentos. (CIP; 1996) Por ello, en este sector, se fortalece la diversificación de las<br />

producciones, con lo que se garantizó en cierto sentido, la subsistencia alimentaria de la familia campesina. Como parte de este<br />

programa se crearon los contingentes de trabajadores urbanos que iban a la agricultura por etapas de uno a dos años, en estos<br />

contingentes hubo una participación significativa de mujeres, fundamentalmente jóvenes.<br />

Entre los años 1990-1993 se implementan en la agricultura distintas estrategias, en búsqueda de lograr una salida a la difícil situación<br />

económica y alimentaria y uno de los objetivos principales es el aumento de la producción, aún con pocos recursos, y el incremento<br />

de la producción.<br />

Dentro de este contexto de transformaciones, se postulan como principios importantes de la política agrícola la descentralización<br />

estatal y el redimensionamiento de las grandes extensiones de las empresas estatales. En este sentido uno de los cambios más<br />

importantes fue la creación de las Unidades Básicas de Producción Cooperativa, en septiembre de 1993. Esta transformación influyó<br />

de forma decisiva en las formas de laborar y procesar diferentes cultivos en el país. En no pocos casos, la búsqueda de la sostenibilidad<br />

económica de la Unidad y la escasez de recursos han inducido el retorno a prácticas tradicionales y ecológicas.<br />

Según datos ofrecidos por el MINAGRI en 1997, 18 722 mujeres pertenecían a las UBPC; en 1998 esta cifra reveló un ligero ascenso,<br />

siendo de 18 746 el número de mujeres vinculadas a esta forma organizativa. Si se comparan las incorporaciones femeninas actuales<br />

a la UBPC con el año de su creación, se puede decir que esta cifra ha descendido, esto puede estar relacionado con el hecho de que el<br />

año 1993 marcó el punto más crítico de la crisis; la incorporación a las UBPC significaba una forma de garantizar el autoconsumo<br />

familiar. A partir de 1995, comienzan a surgir otras alternativas de empleo y posibilidades de ingreso familiar, no necesariamente<br />

limitadas a la agricultura.<br />

Estudios realizados por el equipo de Estudios Rurales muestran algunos resultados, en las distintas formas organizativas<br />

que se ajustan además a la especificidad del cultivo en cada una de las UBPC.<br />

Las UBPC de cultivos varios muestran mayores potencialidades para desarrollar dentro de sus actividades productivas la incorporación<br />

femenina. En dos UBPC estudiadas en el municipio de Guines: La Rolando Pérez Quintosa y la Restituto Alonso se plantea que el<br />

uso de diferentes estrategias para producir mas con menos costos y sin uso de insumos químicos, pocos fertilizante, esto provoca<br />

la necesidad de incorporar mas fuerza de trabajo y da la posibilidad de generar empleo para las mujeres. La diversificación de los<br />

cultivos permite que las mujeres se vinculen directamente a diferentes labores agrícolas que van desde la preparación de la tierra, la<br />

siembra y la cosecha, hasta la actual incorporación en los huertos y autoconsumos.<br />

Aunque las mujeres tuvieron los mismos derechos jurídicos que los hombres para incorporarse en su fundación a las UBPC, estudios<br />

de casos realizados en las cooperativas del municipio de Guines: Rolando Pérez Quintosa y Restituto Alonso, mostraron que en la<br />

597


selección se preferenciaron a los hombres 1 . Es interesante señalar que en este proceder, subyace una clara distinción de género que<br />

hace que el rol doméstico asignado a las mujeres se vea como un elemento limitante que en ocasiones puede interponerse y limitar el<br />

rol productivo que las mujeres desempeñan. No sólo los hombres son portadores de esta concepción, las propias mujeres entrevistadas<br />

en estas cooperativas al analizar la situación se califican de “problemáticas”, dadas las “complicaciones” de sus tareas domésticas.<br />

(Cristóbal, D; 1997)<br />

Las características de la producción en las UBPC tabacaleras, con el predominio de la organización familiar del trabajo en las distintas<br />

vegas, hace que la participación femenina se ejecute de modo semejante para las parceleras y más específicamente con las campesinas.<br />

El vínculo entre la unidad doméstica y productiva es un rasgo distintivo de las cooperativas dedicadas a este cultivo. De modo general<br />

las mujeres se dedican a las labores de reproducción agrícola y a las del ámbito reproductivo dirigidas a apoyar el trabajo productivo.<br />

El monocultivo que ha caracterizado a las UBPC cañeras ha limitado la actividad productiva agrícola de las mujeres. Son minoritarias<br />

las mujeres que se vinculan a las labores de la caña. El actual proceso de diversificación que se esta generando en estas cooperativas<br />

hace que las mujeres tengan otras opciones, como es las labores de autoconsumo y en los semilleros. Los estudios realizados en la<br />

UBPC Carlos de la Rosa y la Olo Pantoja evidenciaron la presencia de la mujer en la Juntas Administrativas y entro del personal<br />

especializado, como ingenieras o técnicas. En las dos últimas zafras, en distintas regiones del país en las Unidades Básicas de<br />

Producción Cooperativas cañeras se ha estimulado la creación de contingentes femeninos que participan en la siembra, limpia y otras<br />

muchas actividades relacionadas con el cultivo de caña.<br />

En el sector campesino (CCS- Parceleros) comienzan también, a partir de los noventa, a establecerse un conjunto de transformaciones<br />

y medidas con el objetivo explícito de aumentar la atención a este sector agrícola. Se crea la estructura de los jefes de áreas, se<br />

multiplican y se acercan a las fincas campesinas los centros de Acopio, se facilito y se flexibilizó el proceso de comercialización<br />

campesina en los diferentes espacios de ventas locales.<br />

No obstante las severas reducciones en los insumos en estos años, el apego del campesino por las practicas tradicionales, le permitió<br />

enfrentar la producción en las nuevas condiciones. En estos años de crisis, la economía campesina ha mostrado que sus prácticas<br />

productivas además de alternativas económica, son ecológicamente sustentables.<br />

En estudios de casos (CCS Armando Perera y Ovidio Rivero, municipio de Santo Domingo, provincia Villa Clara) se constató el<br />

trabajo de la mujer campesina en la unidad familiar se conforma por la dualidad trabajo productivo-reproductivo. La participación real<br />

que en cada uno de estos ámbitos la mujer desempeña evidencia claras diferencias, a pesar de realizarse en condiciones (tanto<br />

estructurales como ideológicas) que hacen difusa la delimitación de sus fronteras.<br />

Desde la percepción de las mujeres su trabajo se define como ayuda al intervenir en determinadas labores. En los picos de cosecha o<br />

cuando hay una actividad priorizada la participación de la mujer se acrecienta. La siembra y recogida de los siguientes cultivos: ajo,<br />

tomate, frijol, tabaco, constituyen las actividades donde más intervienen las entrevistadas en estas CCS. Por el contrario cuando la<br />

atención del cultivo se estabiliza la participación de las mujeres se disminuye.<br />

Estos estudios demostraron también, que existe una nítida división sexual del trabajo que pauta la intervención femenina en la toma<br />

de decisiones. Sobre la base de un patrón genérico, las mujeres son consultadas en aquellas decisiones que precisamente son más<br />

sensibles al género femenino. En este sentido, la mujer puede decidir con mayor acierto sobre la finalidad de la producción, pues su<br />

rol de dueña de casa le permite determinar lo que se necesita en el hogar para el autoconsumo. Se le atribuyen a lo femenino ciertas<br />

cualidades para la comercialización, sobre todo si se realiza en el mercado negro, al ser la mujer más discreta y hábil.<br />

En esta etapa de crisis alimentaria, se extendió la explotación de pequeñas parcelas. En áreas ociosas, se les permitió a los trabajadores<br />

estatales, agrícolas o no, sembrar para su autoconsumo, mediante contratos individuales a cambio de la entrega de una parte de la<br />

cosecha. En 1993, se aprobó la entrega en usufructo, al nivel nacional, de parcelas no mayores de 0,5 ha. (Granma; 1993)<br />

En febrero de 1995 las 5097,7 miles de ha del área estatal habían sido parceladas en un 53,2 % a favor Las Unidades Básicas de<br />

Producción Cooperativa vinculadas a la producción de cultivo varios muestran en comparación con las cañeras y tabacaleras, mayores<br />

del sector de las UBPC, un 0,4 % entre tenedores individuales, las granjas militares el 4,3 % y el resto un 39,9 % se mantenían<br />

formando parte del sector público. (Figueroa, V; 1996)<br />

Aunque existen diferentes niveles productivos entre este grupo de productores puede afirmarse que la diversificación y la siembra<br />

intercalada de los cultivos es una práctica común entre ellos. La preparación de la tierra se efectúa en su mayoría de modo manual,<br />

privilegiando el uso de tecnologías alternativas como el uso de bueyes.<br />

La participación de las mujeres en esta forma de producción no ha sido ampliamente estudiada, aunque como parte del Equipo de<br />

Estudio Rurales se desarrollo en 1997-1998, por la socióloga Tania de Armas, un estudio en la región de Santo Domingo, Villa Clara<br />

que muestra que las mujeres han presentado solicitudes de parcelas, de un total de 200 solicitudes de tierra realizadas a la Empresa<br />

de Cultivo Varios, 40 habían sido realizadas por mujeres.<br />

Este estudio mostró que las mujeres se sentían motivadas a realizar las solicitudes por su núcleo familiar, sobre todo por sus hijos y<br />

esposos. Además, en la generalidad de los casos señalan que en sus hogares solo ellas reunían los requisitos establecidos por la<br />

resolución que ampara la entrega de las tierras. La participación de las mujeres en las actividades agrícolas relacionadas con la<br />

preparación de las tierras es muy limitada; aunque hay que señalar que en la parcela se realizan un conjunto de actividades de<br />

598


eproducción agrícola en la que si se constató la participación femenina. Entre estas actividades se pueden mencionarlas relacionadas<br />

con el cultivo del tomate, ya sea cuando recolectan las semillas para la siembra o lo procesan, la atención de los animales, que por lo<br />

general no son numerosos y requieren atenciones más simples, como: alimentación de las gallinas y el cuidado de los cerdos.<br />

Uno de los aspectos interesantes de este trabajo, es el considerar la importancia que tiene analizar las tareas que estas mujeres realizan<br />

dentro del espacio reproductivo, en la medida que muchas de ellas se ejecutan en función del proceso productivo.<br />

La participación de las parceleras en la toma de las decisiones relativas al proceso productivo, se ubica en el nivel informativo o<br />

consultivo, lo que significa que en la mayoría de los casos las mujeres solo se les informa y consulta, pero son muy pocas las que se<br />

ubican en el nivel ejecutivo de la toma de las decisiones (intervienen directamente en el momento de decidir), estas son aquellas que<br />

participan directamente en las labores agrícolas.<br />

De lo antes señalado se puede afirmar que la participación de la mujer en forma de organización de la producción agrícola, mediante<br />

la parcelería, se desarrolla por un intercambio y combinación de funciones entre el ámbito doméstico-reproductivo, que dependiendo<br />

del nivel de relación y dependencia entre estos hace más o menos imprescindible el rol femenino. Son precisamente estos elementos<br />

estructurales, que determinan y pautan dentro de cada forma organizativa lo que es trabajo productivo o no, unido a elementos de<br />

género que permea la subjetividad de los actores (incluidas las mujeres), factores que contribuyen a hacer menos visible y específico<br />

el rol de las mujeres.<br />

Los profesores Carmen Ramos Alonso, Grisel Valdés Cotayo y Emerio Fernández realizaron una investigación en la CCS José Marttí<br />

de Catalina de Guines, provincia La Habana. Sus principales resultados lo exponen en el artículo “Mujer campesina agrupada en CCS.<br />

Un enfoque de género por construir”. Allí señalan que esta cooperativa fundada en 1961 está integrada por 51 socios de los cuales 9<br />

son mujeres incluyéndose a portadoras de tierras y con pleno ejercicio a su condición de propietarias. En los momentos en que se<br />

realiza el estudio ninguna de ellas forma parte de la Junta Directiva, no se están superando y todas tienen la opinión que el trabajo<br />

doméstico no es trabajo y que solo es trabajo aquel que aporta medios materiales al hogar; entienden solamente al hombre como el que<br />

realmente trabaja, gasta mas energía, hace mayor esfuerzo por el hecho de trabajar fuera de la casa y estar expuesto a condiciones<br />

climáticas severas y por estas mismas razones es preciso alimentarlo, con una dieta mejor balanceada y sobre todo con mayores<br />

raciones que la propiamente consumidas por ellas.<br />

En las Cooperativas de Producción Agropecuaria (CPA) la caída de las producciones, a partir de los años noventa, fue menos abrupta.<br />

La mayoría de las CPA implementó diferentes alternativas para fortalecer la producción de alimentos y la cría de ganado mayor y<br />

menor.<br />

Otro de los experimentos que ocurrió en este sector fue la creación de CPA mixtas dentro del MINAZ, entre caña y cultivos varios.<br />

Su objetivo fundamental se centró en el aprovechamiento de las posibilidades de asimilación de recursos laborales y materiales,<br />

incluyendo la tierra, en la producción de alimentos. Esto debía influir sobre la estabilidad de las cooperativas en la CPA.<br />

Estudios de casos muestran las diferentes estrategias productivas y organizativas implementadas por las CPA por la incidencia de la<br />

crisis. Las investigaciones realizadas por el Equipo de Estudios Rurales, permitieron conocer una de las transformaciones más<br />

exitosas en la cooperativa José Santiago Ercilla, ubicada en la zona de Villa Nueva, en la provincia de las Tunas. En esta CPA se<br />

descentralizaron las 106. 12 caballerías de tierra en 20 fincas (de 6-8 caballerias cada una), esta estrategia les permitió diversificar su<br />

producción entre la agricultura y la ganadería. Según la organización de la producción implementada, una de las fincas se dedicó a la<br />

ganadería, mientras que el resto son de producción mixta (agrícola-ganadera). Cada una de estas fincas mixtas garantiza la producción<br />

de autoconsumo de los trabajadores de cada una de las fincas y además tienen un plan de producción de aporte para la cooperativa en<br />

general y para la localidad donde esta se ubica.<br />

Dos de los jefes de estas fincas son mujeres y coinciden al plantear que esta iniciativa tuvo una gran aceptación entre todos los<br />

miembros de la CPA y señalan las siguientes ventajas de esta modalidad productiva: mejor organización y control del trabajo, mayores<br />

resultados financieros y garantía de autoconsumo.<br />

“ El papel de la mujer en la cooperativa: José Santiago Ercilla, de la Comunidad de Villa Nueva” investigación realizada por las<br />

Licenciadas Moraima Dieguez Pupo y Clara Guzmán Góngora, profesoras de la Universidad de Las Tunas señala los principales<br />

obstáculos que enfrenta la mujer para alcanzar una ocupación laboral significativa en esta cooperativa ganadera... – podemos<br />

mencionar algunas dificultades de carácter objetivo como son las insuficiencias en las alternativas de empleo, que solo posibilitan éste,<br />

en áreas de la finca de autoconsumo (no siendo esta la labor económica principal de la cooperativa) y por otro lado, el número de<br />

empleos en la vaquería es todavía mas reducido al estar cubiertas las plantillas mayoritariamente por hombres. No son suficientes en<br />

la zona las instituciones educacionales con régimen de seminternado para los hijos de las trabajadoras.<br />

En los de carácter subjetivo las autoras señalan... la consideración de que la mujer es productivamente de menor rendimiento que el<br />

hombre y a ello se le suman además otras razones como son: la atención de los hijos, de ancianos y las propias limitaciones del trabajo<br />

doméstico reducido solo a la mujer. Aunque la mayoría de las mujeres conocen algunos oficios vinculados a las actividades manuales,<br />

estas solo son ejercidas para beneficio familiar y no son utilizados de manera social como fuente potencial de empleo.<br />

Conclusiones<br />

• En el contexto de las transformaciones actuales se evidencia la necesidad de desarrollar formas de organización productivas,<br />

a partir del menor costo económico y la obtención de la mayor productividad, indispensable para lograr el autoabastecimiento<br />

alimentario del país y la inserción y competitividad en el contexto de las relaciones mercantiles externas. Diferentes factores de<br />

carácter socioeconómico han hecho insostenible continuar desarrollando el modelo convencional—industrial en la producción<br />

agrícola.<br />

599


• Dentro de este modelo alternativo, el desarrollo de prácticas agroecológicas tiene amplias potencialidades. En la actualidad<br />

aunque se evidencian notables resultados agroecológicos en el sistema agrícola cubano, no puede hablarse aún de la existencia de<br />

un modelo estructurado totalmente.<br />

• Es importante además lograr un cambio de la concepción general o paradigma de como hacer y conceptualizar la agricultura,<br />

para ello es necesario educar a los actores, de manera que se produzcan en ellos nuevas actitudes. La clave para el progreso del<br />

cambio no es puramente técnica, también son necesarios factores organizativos y sociales importantes, con los cuales contamos,<br />

destacando entre ellos el desarrollo científico y educacional (Mayari, G; 1997).<br />

• Los efectos de la crisis impactaron de modo sensible en la participación de las mujeres. Las transformaciones actuales en la<br />

agricultura han abierto en general nuevos espacios de participación femenina. La participación femenina se diferencia en cada uno<br />

de estos ámbitos, en relación con las características organizativas de cada una de las formas productivas.<br />

• Aunque existe una política explícita en Cuba que ha permitido que las mujeres cuenten con los mismos derechos y se<br />

garanticen iguales oportunidades de participación para hombres y mujeres, subyace aún en las estructuras productivas una<br />

división sexual del trabajo, que estereotipa al hombre como el de mayores potencialidades productivas (ya sea por sus potencialidades<br />

físicas como socioculturales), mientras que a la mujer dada la ineludible combinación que tiene que realizar de su rol reproductivoproductivo,<br />

se le subvalora y subregistra su participación.<br />

600


BIBLIOGRAFIA.<br />

Arias Guevara, Maria de los Angeles (1993): Cambios Fundamentales de la estructura interna de los obreros agrícolas después del<br />

triunfo de la revolución. “La clase obrera agrícola en la región oriental. Tesis de Dra en Ciencias Filosóficas”. Universidad de La<br />

Habana. Facultad de Filosofía e Historia. p.79. En Niurka Pérez Roja y Miriam García Aguiar. Algunas consideraciones sobre<br />

género y producción agraria en Cuba, a través de estudios de casos. Equipo de Estudios Rurales. Departamento de Sociología.<br />

Universidad de la Habana, noviembre de 1997, p.1.<br />

Altieri, M. (1994): Agricultura Sustentable . Un Caso de Simulación para Chile. En CLADES. La Voz del Campo. Editorial<br />

de Universidad de Talca.<br />

————————. (1997): Agroecología. Bases científicas para una agricultura sustentable. La Habana, CLADES.<br />

Alfonso, A. (1996): Período Especial.. La Habana. Centro de Información para la Prensa.<br />

Cristóbal, Desiree y Tania de Armas (1997): Algunas características de la mujer en las formas de producción agrícola en Cuba.<br />

Estudio de Caso de la UBPC Rolando Pérez Quintosa. Equipo de Estudios Rurales de la Universidad de la Habana.<br />

De Armas Perdraza, Tania (1997): Participación de la mujer campesina y parcelera en el proceso de producción agrícola. Un estudio<br />

de caso. Trabajo de Tesis, Universidad de la Habana, Departamento de Sociología, Universidad de la Habana, Ciudad de la Habana.<br />

Federación de Mujeres Cubanas (1980). III Congreso. Proyecto de Tesis “ Participación de la mujer en la vida económica, política,<br />

cultural y social del país. Editora Política, la Habana.<br />

Equipo de trabajo del Centro de Información Científica y Técnica del Ministerio del Azúcar (1998): Fidel Castro y la Producción<br />

Azucarera. Fuente: Obra Revolucionaria, No 28, 1964. Publicaciones Azucareras Ministerio del Azúcar, 1998, p. 339.<br />

Funes, F. (1997): Experiencias cubanas en agroecología. Revista Agricultura Orgánica, Año 3, No. 2 y 3: pp.14.<br />

García Aguiar, Miriam (1999). Prácticas Productivas y Ecológicas en las UBPC. Realidades y Desafíos. Estudios de Casos. Equipo<br />

de Estudios Rurales. Departamento de Sociología. Universidad de la Habana, junio.<br />

Guevara, E. (1997): Agroecología y desarrollo sostenible en Cuba: obstáculos y perspectivas. En Agroecología y Agricultura<br />

Sostenible. CLADES, CEAS-ISCAH.<br />

Kolmans, E. y Vázquez D: (1996): Manual de Agricultura Ecológica. Managua, Editorial Enlace.<br />

Lane, P. (1997): El Modelo Cubano de Desarrollo Sostenible. Seminario Internacional Medio Ambiente y Sociedad. La Habana.<br />

León Magdalena y Carmen Diana Deere (1994): Mujeres campesinas en América Latina. Desarrollo rural acceso a la tierra,<br />

migraciones y legislación. Organización de las Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentación, Roma ..<br />

Nivia, E. (1992): Peligros en el uso de plaguicidas, en la degradación de los suelos.. Seminario Manejo Integrado de Suelos para una<br />

Agricultura Sostenible. C.I.A.T, Palmira, Colombia.<br />

Pérez Roja NIurka y Miriam García Aguiar. (1996): Mujer de campo: Campesina, Cooperativista, Obrera-Cooperativista. Algunas<br />

Consideraciones Preliminares. Equipo de Estudios Rurales. Departamento de Sociología. Universidad de la Habana. pp. 5-6.<br />

Programa Chile Sustentable. (1999): Por un Chile Sustentable. Agenda Ciudadana para el Cambio; I.S.B.N.: 956-7889. Santiago.<br />

Edición Abril. Publicación por apoyo de la fundación Heinrich Bôll de Alemania e Hivos de Holanda.<br />

Proyecto de Investigación II-71-972. (1998). La transformación de la Agricultura Cubana a partir de 1993. Segundo Informe de<br />

Investigación.. Centro de Estudios de la Economía Cubana, Equipo de Estudios Rurales de la Universidad de La Habana, y<br />

Universidad de Hannover.<br />

Quiroga, R. y S. Van Hauwermeiren. (1966): Globalización e insustentabilidad. Una mirada desde la economía ecológica. Programa<br />

de economía ecológica. Instituto de Ecología Política.<br />

601


Ravenet Ramírez, Mariana, Niurka Pérez Roja y Marta Toledo Fraga. (1989) La mujer rural y urbana. Estudios de casos.. Editorial<br />

de las Ciencias Sociales.<br />

Rozas, M.E. (1995): Plaguicidas en Chile. La Guerra Química y sus Víctimas.. Observatorio Latinoamericano de Conflictos<br />

Ambientales, Instituto de Ecología Política.<br />

República de Cuba. Comité Estatal de Estadística. Anuario Estadístico de Cuba, 1989. Abril de 1991, tabla iv.2, p.111. En Niurka<br />

Pérez Roja y Miriam García Aguiar. Algunas.... op.cit.<br />

Seminario Internacional a un año de la Cumbre de los Pueblos. (1999): Globalización en las Américas. Acuerdos Comerciales y<br />

Alternativas. Santiago de Chile.<br />

602


EVALORIZAÇÃO PESSOAL E AUTO-ESTIMA ATRAVÉS DO TRABALHO COLETIVO<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

603<br />

Poppy Brunini Pereira Nuñez 1<br />

O seguinte trabalho, analisa as características próprias da divisão sexual do trabalho no mundo rural e a maneira como as<br />

organizações de mulheres tem procurado solucionar a problemática se revalorizando através do trabalho coletivo.<br />

Trabalhos acadêmicos tem confirmado que homens e mulheres desenvolvem atividades diferentes no meio rural com<br />

hierarquias diferentes. Essas hierarquias colocam geralmente a mulher numa posição inferior ao homem.<br />

O trabalho analisa duas organizações de mulheres rurais o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do estado de<br />

Rio Grande do Sul (MMTR)e a Associação Nacional de Grupos de Mulheres Rurais do Uruguai (ANGMRU) e as estratégias por elas<br />

utilizadas para superar as problemáticas de gênero no meio rural, revalorizando as mulheres participantes destas organizações.<br />

A partir desta problemática os objetivos deste trabalho são os seguintes:<br />

• Analisar as características de gênero no meio rural.<br />

• Caracterizar a hierarquização do trabalho rural, demostrando que a mulher desenvolve atividades consideradas<br />

inferiores ou complemento de uma atividade maior.<br />

• Desenvolver uma rápida apresentação das organizações de mulheres rurais em estudo.<br />

• Verificar a hipótese que diz que a partir do trabalho coletivo as mulheres organizadas conseguem sair de sua<br />

posição de inferioridade e reivindicar seus direitos como cidadãs.<br />

A metodologia utilizada no trabalho baseia-se numa revisão bibliográfica sobre as características de gênero no meio rural,<br />

análise de materiais escritos elaborados pelas organizações e uma pesquisa de campo desenvolvida com as dirigentes do MMTR e a<br />

ANGMRU.<br />

2. CARACTERÍSTICAS DE GÊNERO NA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA<br />

mulheres.<br />

2.1. Hierarquias de gênero no meio rural<br />

Em praticamente todas as sociedades humanas existem diferenças e complementaridade de papéis entre homens e<br />

De acordo com Hartmann (1976) citado por Brumer (1996), muitos estudos antropológicos sugerem que a estratificação<br />

social ocorreu concomitantemente com o aumento da produtividade, da especialização e da complexidade da sociedade.<br />

De acordo com Nobre citada por Siliprandi (1999) a forma de dividir o trabalho entre homens e mulheres na agricultura e<br />

a desvalorização de um trabalho em relação a outro, às vezes toma a forma de divisão entre produtos (aqueles para a venda e aqueles<br />

para consumo) ou entre trabalho chamado “leve” e aquele “pesado”, etc. O que permanece, em qualquer situação, é a desvalorização<br />

da mulher e das atividades que ela faz, mesmo que essas atividades mudem de acordo com o contexto.<br />

Ainda hoje a divisão sexual do trabalho parte do princípio de que os homens são responsáveis pelo trabalho produtivo<br />

(a agricultura, a pecuária, enfim tudo o que se associa ao mercado) e as mulheres, pelo trabalho reprodutivo (o trabalho<br />

doméstico, o cuidado da horta e dos pequenos animais , tudo o que é feito para o consumo próprio, sem contar a


eprodução da própria família pelo nascimento e cuidado dos herdeiros). Nos estudos brasileiros sobre campesinato<br />

essa divisão se expressou na oposição entre casa e roçado (Nobre, 1998, apud Siliprandi, 1999, p. 175).<br />

Para Moraes também citada por Siliprandi (1999) essa divisão entre casa e roçado, tal como se pensava, não é totalmente<br />

válida. Segundo a autora, não existe uma separação rígida entre casa e roçado, a mulher transita por esses dois espaços . As mulheres<br />

fazem ou podem fazer todos os serviços nessas unidades camponesas, dependendo não só do ciclo produtivo, como também da<br />

ausência ou não do marido e filhos adultos na terra.<br />

A existência de uma divisão de trabalho entre homens e mulheres não seria um problema se todos os trabalhos fossem<br />

valorizados igualmente.<br />

A valorização diferente do trabalho de mulheres e homens se explica pela existência de uma relação de hierarquia entre<br />

os gêneros. Essa relação tem sua base material na divisão sexual do trabalho, mas organiza, sem ordem de prioridades,<br />

aspetos econômicos, sociais, vivências particulares, símbolos e representações em imagens de constante movimento,<br />

como em um caleidoscópio (Nobre apud Siliprandi, 1999, p. 176).<br />

Essas discriminações, e diferenças de gênero estão muito presentes nos grupos de mulheres rurais, as quais lutam para<br />

eliminá-las. Segundo o MMTR-RS em sua cartilha “Missão do MMTR-RS”<br />

O MMTR nasceu da necessidade de lutar pela transformação das relações sociais de gênero, ou seja, da necessidade<br />

de transformar as relações, os valores, as posturas e comportamentos entre mulheres e homens na sociedade. Ainda<br />

hoje prevalecem as relações de dominação, de desigualdade, de discriminação e de violência. O MMTR acredita que<br />

é possível construir, desde já, na família e na comunidade, novos valores, novas maneiras de ser e de se relacionar, com<br />

solidariedade, onde o ser humano, seja homem ou mulher, seja respeitado na sua dignidade e de forma igualitária.<br />

(MMTR, 1998, p. 30)<br />

Para Fong (1980), especialista da FAO em estatística demográfica, é incompreensível que não se contabilize como<br />

trabalhadoras e participantes da economia nacional as mulheres que trabalham de sol a sol, semeando, coletando, secando grãos,<br />

criando galinhas, carregando água, alimentando a sua família, e muitas vezes, vendendo no mercado frutas e verduras. Não obstante,<br />

ela assegura que é justamente o que fazem as estatísticas nacionais.<br />

2.2. A exclusão das mulheres das atividades de formação profissional<br />

Siliprandi (1999), cita que a partir de oficinas realizadas para discutir “Gênero e Agricultura Familiar”, foram inúmeras as<br />

queixas das mulheres sobre a forma como são tratadas pelos órgãos de assistência técnica e extensão rural, assim como pelos<br />

programas de capacitação e formação promovidos por ONG’S (ainda que o discurso sobre a participação de mulher esteja presente<br />

em toda parte).<br />

Segundo Sicoli (1980) em seu artigo “La mujer y el desarrollo rural” na revista da FAO, as mulheres têm uma vital<br />

importância na produção, preparação, e distribuição de alimentos, porém são escassas as estratégias dos países em desenvolvimento<br />

que promovem a capacitação efetiva e a participação da mulher na produção agrícola, armazenamento, comercialização e elaboração<br />

dos produtos alimentares. Os responsáveis destes países , junto com os organismos de assistência, reservam aos homens a formação<br />

e divulgação destas técnicas, limitando a participação das mulheres no ciclo alimentar.<br />

Quanto ao caso das mulheres assalariadas, também ocorre uma exclusão no que diz respeito à sua participação nas<br />

atividades de capacitação. Cursos sobre utilização de máquinas, equipamentos, utilização de agrotóxicos, novas técnicas de plantio ou<br />

tratos culturais não são acessíveis para as mulheres, que naturalmente se desqualificam na busca de melhores postos de trabalho em<br />

relação aos homens. Se as mulheres não são treinadas, em qualquer setor, não terão preferência na disputa de oportunidades de<br />

trabalho, ou ficarão segregadas àqueles setores pior remunerados (Siliprandi, 1999).<br />

604


É importante ter em conta também, que é impossível apostar no desenvolvimento de qualquer setor produtivo, se a<br />

metade de sua população está excluída por uma questão de gênero.<br />

Dentro das demandas que fizeram as mulheres integrantes da ANGMRU, num documento que foi apresentado ao sistema<br />

político através da “Rede de Mulheres Políticas do Uruguai” em 1998, destaca-se a necessidade da capacitação das mulheres rurais em<br />

áreas como produção, comercialização e marketing, para que os produtos que elas elaboram em suas pequenas empresas, sejam de boa<br />

qualidade e competitivas no mercado.<br />

No entanto, existem algumas atividades de formação que historicamente se dirigem às mulheres, e estão perfeitamente<br />

dentro do espírito de manutenção da divisão sexual do trabalho descrita acima. São aquelas atividades que reforçam o papel tradicional<br />

da mulher, e têm o objetivo de melhorar atividades que normalmente são feitas por elas, tais como doces, bordados, artesanato em<br />

geral. Durante muitos anos, esta foi a orientação seguida pela extensão rural feita pelas equipes da EMATER, e também por muitos<br />

trabalhos da igreja (Siliprandi, 1999).<br />

Siliprandi (1999), também afirma, que algumas vezes essas atividades de formação acima descritas acabam tendo aspectos<br />

positivos, pois proporcionam espaços de socialização dessas mulheres, de engajamento em trabalhos que podem gerar algum ingresso<br />

e alguma formação profissional, promovendo um reforço da sua auto-estima levando a questionamentos sobre a sua situação de<br />

desigualdade, ainda que nem sempre esta tenha sido a intenção inicial desses trabalhos. Temos que aclarar também que muitas vezes<br />

essas atividades não dão certo, originando um retrocesso na área social e às vezes econômica das mulheres incluídas nas atividades<br />

Segundo o MMTR/RS (1998) “a primeira condição para agir é conhecer. Se não sei onde piso e para onde vou, andarei por<br />

descaminhos e aportarei eternamente na dúvida e no erro” (p. 3).<br />

2.3. Trabalho da mulher vs. capitalismo<br />

É bastante difundida a idéia de que a mulher camponesa é liberada das atividades agrícolas com o desenvolvimento do<br />

capitalismo. A introdução de maquinaria agrícola provocaria uma maior quantidade de produto com menor trabalho humano,<br />

possibilitando então uma liberalização da mulher das atividades agrícolas, passando a dedicar-se apenas às atividades domésticas<br />

(Brumer & Freire, 1993/1994).<br />

Existem várias pesquisas realizadas na América Latina, que examinam os principais fatores que afetam a inserção das<br />

mulheres em atividades produtivas e como o desenvolvimento rural pode modificá-las. Para isso, são considerados os resultados de<br />

algumas pesquisas realizadas na América Latina e citadas por Brumer (1996), junto com trabalhos desenvolvidos no Brasil por vários<br />

autores<br />

A hipótese manejada por Brumer (1996) foi que existe uma relação entre o tipo de produção desenvolvido, a<br />

tecnologia utilizada pelos produtores e sua forma de inserção no mercado e a divisão de trabalho que se institui no<br />

interior dos estabelecimentos produtivos. Isto é, na pequena produção diversificada, com alto índice de produção para<br />

autoconsumo, a participação das mulheres nos trabalhos produtivos é maior que a que ocorre na grande produção de<br />

grãos, destinada ao mercado e baseada num elevado grau de utilização de maquinarias. Algumas situações diferenciadas<br />

de uso intensivo de tecnologia, envolvendo um número maior de mulheres, ocorre principalmente quando essas<br />

atividades requerem um trabalho constante e duradouro, como na produção de leite.<br />

Segundo Deere e Leal citadas por Brumer (1996) logo de analisar três regiões dos Andes, com desigual desenvolvimento<br />

do capitalismo (Garcia Rovira e El Espiral na Colômbia e Cajamarca no Peru) se obteve a seguinte conclusão: “a variação na divisão<br />

sexual do trabalho através do tempo e entre classes sugere que a divisão do trabalho por sexo em atividades produtivas não é apenas<br />

culturalmente determinada, mas também é sensível às condições materiais de produção” (p. 42).<br />

A comparação feita pelas autoras entre as três regiões mostra que a composição sexual da força de trabalho familiar na<br />

atividade agrícola relaciona-se com a acesso das mesmas aos meios de produção. Mulheres cujas famílias têm acesso limitado a meios<br />

de produção representam um porcentagem maior da força de trabalho familiar agrícola do que aquelas cujas famílias têm acesso a uma<br />

área de terra suficiente para garantir sua subsistência. Isto sugere que a participação da mão-de-obra feminina na lavoura está<br />

diretamente relacionada a condições de pobreza rural.<br />

Com respeito ao trabalho assalariado, o perfil é semelhante: mulheres cujas famílias não possuem terra ou possuem lotes<br />

muito pequenos, trabalham como assalariadas numa proporção muito maior do que mulheres cujas famílias caracterizam-se como<br />

camponesa média ou rica. Igualmente, a percentagem de homens no trabalho assalariado é maior, assim como seu salário.<br />

605


Quando se examina o tipo de trabalho assalariado, novamente verificam-se diferenças de gênero: os homens detêm os<br />

empregos agrícolas permanentes e as mulheres atuam durante o período de grande demanda de serviço, geralmente a colheita. A<br />

maioria das trabalhadoras rurais assalariadas trabalha menos de quatro meses por ano. O setor de emprego também gera uma diferença<br />

de gênero: as mulheres têm um emprego predominantemente não agrícola (domésticas, cozinheiras, lavadeiras), enquanto que o<br />

emprego rural é mais importante para os homens.<br />

Em nível de Brasil destaca-se o trabalho realizado por Brumer & Giacobbo (1993) em pequenos estabelecimentos<br />

produtores de soja e trigo da região de Ijui (RS), em torno dos quais ocorreu uma acentuada modernização nos últimos 25 anos. Nesta<br />

pesquisa também se estudou o trabalho da mulher na produção agropecuária, levando-se em conta que a maioria dos produtores da<br />

região, apesar de integrados numa produção considerada como “dinâmica” ou de “rico”, possuem áreas pequenas, geralmente<br />

insuficientes para a realização da produção dentro dos padrões técnicos requerido pelo tipo de produção adotado.<br />

Dentre as conclusões do trabalho destaca-se:<br />

Detectou-se a existência de uma divisão de trabalho por sexo, entre a unidade de produção a unidade de consumo.<br />

Algumas atividades, tais como o uso de máquinas, a contabilidade e a comercialização dos produtos, são “tipicamente”<br />

masculinas, pois são principalmente desenvolvidas por homens. Ao mesmo tempo, as mulheres são dominantes em<br />

atividades como a horta, o cuidado do quintal e as tarefas domésticas propriamente ditas (Brumer & Giacobbo, p<br />

154).<br />

Conclusões semelhantes obtiveram outras pesquisas realizadas também em nível de Brasil por autoras como Fonseca<br />

(1979-1980) e Brumer e Freire (1993-1994).<br />

Olhando a realidade dos outros estabelecimentos que lograram se desenvolver, Savané (1980), socióloga senegalesa em<br />

entrevista à revista CERES da FAO, afirma que a capitalização e mecanização da propriedade, origina um afastamento da mulher da<br />

produção. O trabalho que ela fazia manualmente, está sendo substituído por maquinaria. Porém, ela se pergunta “o que passará com<br />

a mão-de-obra feminina ?”. “Dará um passo atrás, relegando a mulher ao lar, ou será possível formar pequenas industrias ou outras<br />

formas de produção que respondam às necessidades das mulheres?” (p. 24). Segundo ela, dificilmente os governos de seus países se<br />

preocuparam na criação de fontes de emprego para as mulheres. Para ela a única possibilidade é “promover o espírito de iniciativa, que<br />

as próprias mulheres se organizem” (p. 25).<br />

Segundo “As Margaridas” (grupo de mulheres pertencentes ao Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais) as mulheres<br />

representam 48% da população rural do Brasil, 36% da população economicamente ativa no mercado de trabalho rural e são<br />

responsáveis pela produção de 1/3 dos alimentos básicos no país. Ao mesmo tempo, 56% destas mulheres começam a trabalhar antes<br />

dos 10 anos de idade, com jornadas de 10 a 18 horas diárias e apenas 15% têm carteira assinada. Para “As Margaridas” esses dados<br />

retratam a condição excludente em que vive a mulher no meio rural, e a discriminação sexista à que é exposta. Afirmam também que<br />

a implementação do neoliberalismo, o processo de globalização da economia e a modernização tecnológica agravam ainda mais esta<br />

situação (Sempreviva Organização Feminista, 2000).<br />

Segundo a socióloga Rivera (2000) na década de 90 os países latinoamericanos pressionados pelas políticas de ajuste do<br />

Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM) se inserem numa série de políticas e ajustes econômicos que<br />

asseguram um crescimento da região. Para isso era necessário conseguir estabilidade macroeconômica, liberalizar os mercados e<br />

desregularizar a atividade econômica, de modo que as próprias forças do mercado se auto regulassem, começava assim a era do<br />

neoliberalismo.<br />

Junto com essas medidas se solicitou aos países que fizeram recortes no gasto público para eliminar os “déficits” em que<br />

geralmente funcionavam os governos e conseguir a “sustentabilidade do crescimento”.. Porém esta estratégia trouxe elevados custos<br />

sociais que afetaram principalmente as mulheres dos setores mais pobres ao limitar os apoios estatais em áreas como saúde, nutrição,<br />

moradia e educação. As mulheres rurais se encontram altamente afetadas por estas medidas levando em conta que seu baixo poder<br />

aquisitivo as leva a ter que recorrer aos serviços do estado cada vez mais sucateados.<br />

Isto nos leva a generalizar que a divisão sexual do trabalho em atividades produtivas não é determinada só culturalmente,<br />

também é afetada pelas condições materiais de produção. Nos estabelecimentos não mecanizados, o trabalho da mulher é muito mais<br />

intenso que naqueles onde a mecanização foi introduzida. No primeiro caso, além do trabalho doméstico, a mulher deve colaborar em<br />

praticamente todas as atividades da propriedade, como forma de poupar mão-de-obra assalariada. Nos casos em que o ingresso gerado<br />

pela produção agrícola não é suficiente para subsistir, a mulher tem que procurar um trabalho assalariado em um mercado que têm os<br />

mesmos ou piores problemas de divisão sexual de trabalho.<br />

Por último cabe destacar que os movimentos de mulheres rurais têm todos estes problemas muito claros, e dentro das<br />

lutas que levam adiante está o fato de trocar esta realidade, fazendo-a mais justa e igualitária.<br />

606


3. AS DUAS ORGANIZAÇÕES ESTUDADAS<br />

A seguir serão apresentadas as duas organizações estudadas, seu funcionamento, bandeiras de luta e reivindicações. Alem<br />

disso se apresentarão as entrevistas desenvolvidas com as dirigentes de ambas organizações, pretendendo demostrar a partir do<br />

trabalho coletivo as mulheres integrantes destes grupos se revalorizam como mulheres e como cidadãs.<br />

3.1. A ANGMRU<br />

A associação surge em 1994 no município de Tacuarembó logo de vários encontros e anos prévios de trabalho entre<br />

mulheres interessadas em criar uma organização que respeitasse suas idéias e necessidades.<br />

Atualmente a ANGMRU está formada por aproximadamente 150 grupos de mulheres rurais abrangendo todos os<br />

municípios do país. O número de mulheres integrantes chega perto das 1500 e seus grupos se classificam em produtivos ou sociais.<br />

Essa classificação interna dos grupos está baseada na função principal que eles desenvolvem. Os grupos sociais trabalham<br />

em suas zonas de influência para melhorar aspetos vinculados com a moradia, educação, saúde, etc., ou trabalham procurando<br />

melhorar a condição da mulher e valorizar seu papel no meio rural. Os grupos produtivos se dedicam principalmente a desenvolver<br />

atividades produtivas, como forma de aportar um maior ingresso monetário no núcleo familiar. Isso não significa que os grupos<br />

chamados produtivos não desenvolvam atividades sociais, simplesmente não são o objetivo principal das mulheres que o integram.<br />

A maioria das mulheres que integram a ANGMRU vivem e trabalham no meio rural em pequenos estabelecimentos<br />

familiares. A maioria delas sãos pequenas produtoras rurais e geralmente formam parte da mão de obra não remunerada do<br />

estabelecimento, combinando seu tempo entre o trabalho na propriedade e o trabalho nas suas pequenas empresas.<br />

Para a organização institucional da Associação são eleitas, de maneira democrática, pela totalidade dos grupos de cada<br />

município, cada uma das delegadas municipais e suas respetivas suplentes. A eleição acontece a cada dois anos durante a Assembléia<br />

Geral Ordinária que se desenvolve todos os fins de ano na cidade de Montevidéu. As 19 delegadas formam o Conselho Diretivo<br />

Nacional que se reúne cada dois ou três meses. Sua função é elaborar o plano de atividades do ano, fortalecer a organização interna,<br />

desenhar estratégias de comercialização, procurar parcerias e seguir as deliberações da Assembléia. A partir do Conselho Diretivo,<br />

conforma-se a Mesa Executiva, com 6 integrantes, uma de cada regional e que é responsável por executar as políticas institucionais<br />

acordadas pelo Conselho. Existe também o Comitê de Crédito, criado em 1998, que define quais serão os grupos beneficiados com o<br />

“Fundo Rotatório” que a Associação possui (FRA) e uma Comissão de Comercialização que coordena os eventos e lugares de<br />

comercialização dos produtos elaborados pelos grupos sócios. Isto mostra um modelo organizativo relativamente complexo, com<br />

lideranças municipais, regionais e nacionais.<br />

Em nível interno a Associação tem definidas quatro áreas de trabalho, coordenadas principalmente pela Mesa Executiva.<br />

As mesmas são trabalhadas pelas dirigentes, num número de dois ou três por área (ANGMRU, 2000a, 2000b):<br />

Área institucional: Coordena os diferentes apoios brindados em infra-estrutura e financiamento para os diferentes cursos,<br />

oficinas e demais eventos organizados pela Associação. Além disso, seleciona os diferentes técnicos que trabalham e têm trabalhado<br />

para a ANGMRU.<br />

Área social: organiza principalmente as oficinas desenvolvidas em temas referentes à Valorização da Mulher Rural e<br />

Formação de Dirigentes. As oficinas foram positivamente avaliadas pelas mulheres participantes, lamentavelmente as mesmas têm<br />

sido trabalhos pontuais sem um adequado seguimento.<br />

Área de produção: Desenvolve os diferentes cursos de capacitação produtiva e de gestão brindados aos grupos de base,<br />

e define quais serão os grupos beneficiados, dependendo das necessidades e as demandas dos próprios grupos.<br />

Área de comercialização: Coordena os diferentes eventos em que a Associação participa para vender os diferentes<br />

produtos elaborados pelos grupos de base. Alem disso coordena junto com FUNDASOL o Fundo Rotatório da Associação (FRA),<br />

que oferece créditos de baixo custo para seus grupos de mulheres.<br />

As bandeiras de luta da associação priorizam a consolidação dos empreendimentos coletivos formados por mulheres<br />

rurais, brindando para isso apoio através de cursos de capacitação, empréstimo de dinheiro através do Fundo Rotatório criado em<br />

1998 e procurando diferentes locais de comercialização para a produção elaborada pelos grupos sócios.<br />

607


3.2. O MMTR<br />

O MMTR se origina como um forte movimento de oposição ligado aos sindicatos rurais e às lutas dos “sem terra”, assim<br />

como no vínculo com o Partido dos Trabalhadores (PT), com o qual até hoje mantém contatos significativos e consistentes.<br />

A maioria das mulheres fundadoras do MMTR, formavam parte de outros movimentos sociais, nas quais geralmente eram<br />

excluídas dos âmbitos de decisão, e não eram aceitas discussões referentes ao gênero. Disso tiraram o ensinamento que as ajudaram a<br />

criar um modelo organizacional e uma estrutura de funcionamento que não se distanciasse do processo decisório o conjunto de<br />

mulheres que o movimento se propôs a organizar. O ponto de partida que originou o movimento foram discussões referentes às<br />

necessidades reais da agricultora, como aposentadoria, reconhecimento de sua profissão como trabalhadora rural, sindicalização e<br />

melhores condições no atendimento à saúde (Stephen, 1996).<br />

Em maio de 1988 foi realizado um debate onde participou o Movimento dos Sem Terra, Movimento dos Atingidos por<br />

Barragem, Movimento Sindical, Pastoral da Terra, Pastoral da Juventude e lideranças de base e direção da Organização de Mulheres<br />

da Roça. Nesse encontro foi definido a fundação do MMTR a realizar-se em agosto de 1989, num primeiro encontro estadual.<br />

Atualmente o MMTR está formado por aproximadamente 600 Grupos de Base, espalhados em mais de 90 municípios,<br />

abrangendo umas 8000 mulheres rurais, principalmente pequenas produtoras familiares, divididas em 12 regionais. Dos grupos de<br />

base surgem as direções municipais e regionais, formadas por mulheres rurais democraticamente eleitas por suas companheiras.<br />

Acima das direções municipais e regionais se encontra a Direção Estadual formada por 24 membros, duas mulheres de<br />

cada uma das regionais em que o movimento está dividido. Existe também uma Direção Executiva, formada por uma mulher de cada<br />

regional mais uma representante da Direção Estadual. A Direção Estadual se reúne a cada dois ou três meses, planejando o trabalho<br />

anual da organização, seguindo as deliberações das Plenárias e da Assembléia Estadual. A Direção Executiva se reúne uma vez por mês<br />

sendo responsável pela execução das políticas institucionais acordadas pela Direção Estadual. A Assembléia Estadual acontece a cada<br />

três anos e nela se definem as principais linhas de trabalho assim como a eleição das dirigentes. A sede principal do Movimento se<br />

encontra em Passo Fundo, onde possui sede própria.<br />

Estima-se que 80% das integrantes do movimento são pequenas produtoras rurais e assentadas da reforma agrária. A<br />

maioria mora nos seus estabelecimentos formando parte da mão de obra não remunerada da sua propriedade.<br />

Nos mais de dez anos de vida política organizada do MMTR, as lutas e conquistas logradas têm sido muitas e de<br />

diferentes tipos, sempre mantendo como alvo dessas lutas a melhoria da qualidade de vida da mulher rural (MMTR, 2000).<br />

Reconhecimento da profissão de trabalhadora rural: foi uma das grandes lutas do Movimento, e tinha como principal<br />

objetivo tirar as agricultoras da “invisibilidade social” em que viviam.<br />

Aposentadoria para a mulher rural: também foi uma luta coletiva com o resto da comunidade rural, a aposentadoria para<br />

a mulher rural aos 55 anos e para os homens aos 60. Segundo o MMTR, essa luta trouxe um profundo sentimento de valorização,<br />

inclusão, força, união e luta no povo da roça, em especial às mulheres trabalhadoras rurais.<br />

Salário Maternidade para a Mulher Trabalhadora Rural: o salário maternidade foi uma grande luta da organização e<br />

persistência das mulheres trabalhadora rurais, trazendo consigo o reconhecimento da função social da maternidade, a valorização da<br />

mulher como mãe, trabalhadora e cidadã.<br />

Documentação da Mulher Trabalhadora Rural: é outra grande bandeira de luta que vem sendo trabalhada até o momento<br />

e que contribui na construção da valorização e cidadania da mulher. O MMTR vem desenvolvendo várias campanhas de conscientização<br />

sobre onde e como fazer os documentos e a importância e a necessidade dos mesmos.<br />

Direito à saúde pública pela mulher e pela família rural: é uma das bandeiras que o MMTR tem empunhado com grande<br />

garra e compromisso e pela qual atualmente muito trabalha.<br />

Criação de grupos produtores de ervas medicinais: este projeto desenvolvido em parceria com a EMATER, visa organizar<br />

grupos de mulheres que trabalhem na produção e comercialização de ervas medicinais. Através do mesmo o MMTR dá o primeiro<br />

passo na área de trabalho produtivo, onde se pretende que as mulheres integrantes dos grupos desenvolvam uma atividade econômica<br />

remunerada e se consentissem da necessidade de produzir de forma ecológica e sustentável ervas aromáticas.<br />

Essas bandeiras de luta mostram ao MMTR como um movimento que prioriza mais as questões de direitos sociais e<br />

cidadania das mulheres, entretanto a ANGMRU, prioriza mais aspectos produtivos e econômicos.<br />

608


3.3. Discutindo os papeis da mulher rural<br />

Seguidamente se fará um curto análise dos depoimentos colhidos nas entrevistas desenvolvidas com parte das dirigentes<br />

do MMTR e a ANGMRU. Através das entrevistas busca-se analisar dados que nos permitam confirmar a hipótese que diz que o<br />

trabalho coletivo permite uma revalorização das mulheres integrantes, procurando superar pelo menos parte dos problemas constatados<br />

na revisão bibliográfica.<br />

Foram entrevistadas 30% das dirigentes estaduais e nacionais de ambas organizações, a maioria das mulheres entrevistadas,<br />

já formavam parte de outra organização antes de ingressar no movimento. Formavam parte da igreja, de clubes de mães, da comissão<br />

da escola, da juventude rural, de cooperativas agrárias ou de algum outro movimento social do campo. Apesar disso como elas<br />

afirmam, nenhuma dessas organizações preocupava-se com a problemática de gênero no meio rural. Por esse motivo e aprendendo das<br />

experiências anteriores, estas mulheres se encorajam e criam sua própria organização onde procuram não cometer os erros das<br />

anteriores.<br />

Todas começaram participando como integrante de um grupo de base, a partir daí foram assumindo cada vez mais<br />

responsabilidades até chegar hoje a serem as principais líderes de sua organizações. Como as próprias entrevistadas afirmam, suas<br />

vidas mudaram totalmente, dando-se conta de sua anterior submissão e assumindo a partir daí um papel mais protagônico 2 .<br />

Rita do MMTR, comenta: “minha vida mudou totalmente, no sentido de ser mãe, ser companheira, dentro da comunidade.<br />

O Movimento para mi foi uma espécie de libertação”. Lúcia do MMTR, afirma que “no movimento de mulheres a gente se descobre<br />

como mulher além de que você vai construindo e contribuindo para que outras mulheres também o façam. Quando a gente se descobre<br />

muda nossa concepção da vida e a de nossos filhos, assim você muda a sociedade”.<br />

Noelia da ANGMRU afirma que seu ingresso não foi muito consciente, porém afirmou que era a única maneira que ela<br />

achava de melhorar a situação das mulheres.<br />

Isto nos mostra que desde o começo a necessidade de um espaço estava presente, indica que estas mulheres sempre foram<br />

um pouco conscientes de sua situação de inferioridade, estava só faltando um espaço para que suas potencialidades fossem desenvolvidas.<br />

São várias as experiências que as mulheres resgatam da sua participação na organização, destacando a valorização pessoal,<br />

a capacitação e o fato de aprender a trabalhar juntas e lutar por seus direitos. Vanessa do MMTR, afirma que o melhor é o<br />

“aprendizado, a formação, o conviver com as outras companheiras, a amizade que se faz no movimento. Essas coisas fazem<br />

maravilhas na vida da gente”. Para Noelia o principal foi “conhecer gente que me reivindique com o gênero humano, quando estou<br />

muito desencantada descubro coisas na gente que acho muito boas” No entanto Jasmim do MMTR, destaca que o principal que o<br />

movimento lhe deu foi “aprender a lutar por meus direitos e me reconhecer como mulher trabalhadora rural”.<br />

É muito importante fazer ênfase no fato de que através do trabalho em grupo estas mulheres conseguiram se valorizar,<br />

capacitar-se e principalmente aprenderam a lutar por seus direitos, descobrindo-se como cidadãs com seus direitos e deveres.<br />

É necessário destacar também que durante essa caminhada, várias barreiras foram enfrentadas, vários problemas tiveram<br />

que ser superados, porém nenhuma das entrevistadas está arrependida do caminho percorrido. Durante a entrevista, ao consultar<br />

sobre esse assunto a maioria delas considerou como a maior barreira a superar o medo de não conseguir enfrentar os desafios. Lorena<br />

do MMTR colocou que “no começo achei que estava remando contra o mar. A discriminação contra a mulher é ainda muito grande,<br />

os homens têm medo de mulher organizada por que ganha poder”. Para Noemi da ANGMRU o principal problema foi “a pouca<br />

facilidade de palavra e o medo de falar em público, atualmente tenho superado esse problema”. Isso mostra que as barreiras colocadas<br />

para a participação pública da mulher, principalmente no meio rural as fazia duvidar de sua capacidade. Atualmente todas afirmam ter<br />

superado seus medos iniciais. Apesar de que sempre surgem barreiras e inconvenientes hoje sentem-se mais fortes e capazes de<br />

superá-las.<br />

Outro ponto importante à analisar é a opinião da família com respeito a participação delas na organização, tendo em conta<br />

que, segundo vários autores a família é uma das principais responsáveis pela posição de submissão da mulher na sociedade. A maioria<br />

das entrevistadas afirma ter atualmente todo o apoio de seus companheiros e filhos, porém esse respeito e esse apoio foi muito<br />

trabalhado por elas mesmas nas suas casas. Joseli afirma que “atualmente estão mais convencidos, no começo meu marido dizia, tá<br />

bom eu te deixo ir, como fazendo um favor, atualmente são mais conscientes de minhas responsabilidades”. Sandra conta que “eles<br />

gostam do que a gente faz. Algumas vezes ficam com um pouco de ciúmes pelo tempo que eu tiro da família para dedicar a ANGMRU.<br />

Igualmente eles se sentem muito orgulhosos do que sua mãe faz”.<br />

Outro aspeto importante é que as mudanças não ficam só restritas à vida familiar, elas ultrapassam os limites do “jardim”,<br />

chegando às comunidades onde estas mulheres participam. Os resultados das entrevistas mostra que, a maioria das mulheres afirma<br />

que sua comunidade respeita e admira a participação delas na organização. Lúcia conta que “nós temos conquistado um respeito muito<br />

grande das mulheres da comunidade, principalmente com temas como saúde e participação, isso mexe com a vida delas”. Porém, nem<br />

todo o mundo reconhece o admira o trabalho destas mulheres, como afirma Jasmim: “algumas pessoas têm admiração pela minha<br />

capacidade, por minha coragem, outras pessoas criticam. Muitos criticam por inveja por não terem a mesma capacidade e a mesma<br />

609


coragem”. Maria conta que “alguns confundem, acham que eu estou dedicada à política. A gente entende mal o termo política, eu acho<br />

que entender-se com outras pessoas e política, eles confundem com política partidária. Acham que eu estou na associação para<br />

conseguir coisas particulares, não têm consciência do que é trabalhar em uma organização”.<br />

Todos estes depoimentos demostram que o trabalho destas mulheres não fica desapercebido, muito pelo contrário ele é<br />

comentado e julgado pelo resto da comunidade, algumas vezes de forma positiva, outras de forma negativa, porém sempre está<br />

presente convertendo-se lentamente em algo comum, algo que forma parte desta sociedade.<br />

É interessante caracterizar qual o papel que desempenham e qual o espaço que ocupam essas mulheres na sociedade em<br />

que vivem, segundo suas próprias percepções. Ao consultá-las ao respeito, todas afirmaram se sentir mulheres participantes, ativas,<br />

com muitas coisas para solucionar ainda, porém, conscientes da importância de sua participação. Renata afirma que ela se sente “por<br />

um lado pequena pela situação das pessoas, por outro preocupada pela vida no meio rural cada vez mais degradada, porém partícipe<br />

e lutadora”. Todas elas reconhecem a importância do trabalho em grupo e o papel importante que elas desenvolvem, não só para elas<br />

mesmas, também para outras mulheres que ainda não encontraram seu próprio caminho. Segundo elas a maioria das mulheres rurais<br />

vivem em estado de submissão e isolamento. Para Lúcia “o resto das mulheres sofrem uma apatia muito grande por essa falta de idéia<br />

de liberdade, falta de idéia de vida, ficam acomodadas no seu canto que no fundo pode ser uma forma de resistência”.. Por esse motivo<br />

o caminho a percorrer ainda é muito longo, apesar disso, força e vontade de superação não é o que falta na vida dessas corajosas<br />

mulheres.<br />

Para aquelas mulheres que ainda se encontram isoladas, vivendo no seu pequeno mundo, onde seus sonhos e desejos são<br />

reprimidos sem um motivo visível, as mulheres pertencentes ao MMTR deixaram sua mensagem, algumas delas são colocados a<br />

seguir:<br />

“Eu faria um convite de coração, para que as companheiras tomem coragem e venham conhecer o movimento de<br />

mulheres, que participem e tenham certeza de que ninguém se arrepende. Todas as que participam têm uma retribuição<br />

muito grande na sua vida, na sua família e na sua comunidade” (Jasmin, MMTR).<br />

“Que se aproximem, que participem, que cresçam como mulheres, que sejam úteis para a sociedade. Não tenham<br />

vergonha de ser rurais, de ser mulher, por que no momento que elas se desvalorizam os demais vão desvalorizá-las.<br />

Que não tenham medo de mudar, o mais importante é a família mas não é tudo, a vida não termina na família, têm que<br />

crescer sempre” (Sandra, ANGMRU).<br />

4. CONCLUSÃO<br />

Através do trabalho demostrou-se que homens e mulheres desempenham na sociedade atividades diferentes, nitidamente<br />

constatadas no meio rural. Porem, o problema não está no desenvolvimento de atividades distintas e sim na hierarquização que as<br />

mesmas apresentam. Geralmente a mulher desenvolve atividades hierarquicamente inferiores ou consideradas como complemento ou<br />

“ajuda” de uma atividade maior. Essas atividades consideradas inferiores provocam uma sub-valorização na própria mulher, que<br />

muitas vezes aceita passivamente as funções outorgadas, apesar de que isso leve a uma sobrecarga de serviços junto com uma pouca<br />

valorização do seu trabalho por parte do resto do núcleo familiar.<br />

As organizações analisadas, através do seu trabalho de base, reivindicações e bandeiras de luta, procura tirar a mulher desse<br />

papel passivo, fazendo que ela enxergue sua realidade e intente mudá-la.<br />

As bandeiras de lutas que orientam as ações coletivas de ambas organizações são diferentes. Como foi colocado<br />

anteriormente as lutas do MMTR são principalmente pelo resgate da cidadania das mulheres rurais, lutando por previdência social,<br />

salário maternidade, documentação, direito a saúde, etc. Já as mulheres uruguaias trabalham principalmente a área econômica produtiva,<br />

promovendo os diferentes empreendimentos produtivos desenvolvidos pelas mulheres associadas, criando para isso um fundo<br />

rotatório e uma rede de comercialização, entre outros.<br />

A diferencia nas bandeiras de luta de ambas organizações podem estar relacionadas ao contexto político, econômico e<br />

social de ambos países. No Brasil, até que as próprias mulheres não começaram a lutar para obter os direitos acima mencionados, o<br />

governo não tinha sequer falado no desenvolvimento dos mesmos. No Uruguai, esses direitos há muito tempo se encontram<br />

universalizados para todas as mulheres rurais, além de que não foi necessário lutar ou entrar em confronto com o governo para lográlos,<br />

foi o próprio governo que concedeu esses direitos para suas mulheres rurais. Em contraposição, o principal problema que vive o<br />

campo uruguaio hoje é o êxodo rural, e a falta de oportunidades econômicas principalmente para os pequenos produtores. Enfrentando<br />

essa problemática, as mulheres uruguaias começaram a desenvolver empreendimentos produtivos e a se juntar umas com as outras<br />

para poder superar seus problemas econômicos, evitar o êxodo rural e o isolamento em que muitas delas se encontram.<br />

610


Apesar das diferentes formas de ação, apesar de que ambas organizações percorram caminhos diferentes para conseguir<br />

seus objetivos, as mulheres que formam parte delas desenvolvem uma consciência crítica muito similar. Isso ficou claro na análise das<br />

entrevistas com suas dirigentes, onde as respostas foram muito similares e com o mesmo espírito, independentemente da instituição<br />

que representavam. Através desta afirmação podemos intuir como confirmada a hipótese de nosso trabalho com respeito a revalorização<br />

das mulheres que trabalham de forma coletiva.<br />

Através do trabalho participativo, estas mulheres, conseguiram se fortalecer e valorizar pessoal e coletivamente. Elas<br />

mesmas valorizaram seu trabalho e o fundamental que ele é para o bom funcionamento tanto de suas atividades produtivas como<br />

afetivas. Conseguiram mudar o pensamento da gente que as rodeia como sua família e comunidade, apostando numa sociedade mais<br />

justa e igualitária para com suas mulheres.<br />

Ainda fica muito para fazer, se tomamos em conta que estas mulheres são ainda uma minoria, mas a semente está plantada<br />

e ela tem tudo para crescer e dar frutos.<br />

Por tudo o anteriormente colocado, o trabalho e o crescimento destas mulheres é um exemplo para a sociedade toda, além<br />

disso como afirma Siliprandi (2000b), já é hora que as mulheres rurais deixem de formar parte do segmento invisível da sociedade, e<br />

comecem a ser levadas em conta, pela produção acadêmica, pelas políticas públicas e como exemplo de ações coletivas exitosas.<br />

611


5. RE<strong>VI</strong>SÃO BIBLIOGRÁFICA<br />

ASOCIACIÓN NACIONAL DE GRUPOS DE MUJERES RURALES DEL URUGUAY. Políticas públicas para la mujer rural:<br />

requerimientos y propuestas. Montevideo, 1998. 25 p.<br />

___. Memoria del período 1997-1998. 5 Asamblea Anual General Ordinaria. Montevideo, 19989. 10 p.<br />

___. Memória 7 a Asamblea anual ordinaria. Montevideo, 2000a. 8 p.<br />

___. Origem da ANGMRU. Montevideo, 2000b. 10 p.<br />

___. Mobilização Nacional de Mulheres Trabalhadora Rurais. Brasilia 13 a 17/03/2000. Passo Fundo: Pe. Berthier, 1999. 16 p.<br />

BRUMER, A. Mulher e desenvolvimento rural. In: Rodrigues, Almeida, F.; Almeida, J. A.; Presvelov, C. Mulher, família e<br />

desenvolvimento rural. Santa Maria: UFSM, 1996. p. 39-58.<br />

BRUMER, A., GIACOBBO, E. O. A mulher na pequena agricultura modernizada. Humanas. Porto Alegre: NFH/UFRGS, 1993. v.<br />

16, n. 1, p. 139-157.<br />

BRUMER, A ., FREIRE, E. O. O trabalho da mulher na pequena produção agrícola. Revista do Instituto de Filosofia e Ciências<br />

Humanas da UFRGS. Porto Alegre, 1993/1994. v. 11-12, p. 305-322.<br />

BRUNINI, P. Mulheres rurais e suas perspectivas de gênero. Santa Maria: UFSM, 2001. 156p. Dissertação (Mestrado em<br />

Extensão Rural) - Universidade Federal de Santa Maria, 2001.<br />

FONG, M. Victimas de una estadistica anticuada. Ceres. Roma: FAO. v. 13, n. 3. may-jun 1980. p. 28-32.<br />

FONSECA, C. Trabalhadoras sem terra: um estudo de caso de trabalho feminino no campo. Revista do Instituto de Filosofia e<br />

Ciências Humanas da UFRGS. Porto Alegre, 1979/1980. v. 8, p. 273-283.<br />

MO<strong>VI</strong>MENTO DE MULHERES TRABALHADORAS RURAIS DE RIO GRANDE DO SUL. Projeto político do MMTR-RS<br />

1995 a 1997. Passo Fundo: Battistel, 1995. 27 p.<br />

___. Missão do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais – RS. Passo fundo: Berthier, 1998. 36 p.<br />

___. 10 anos do MMTR/RS. Passo Fundo, 2000. 4 p.<br />

RIVERA, M. Panorama general de la región a fin de siglo. In: Memoria del II Seminario Regional. De poderes y saberes.<br />

Montevideo: DAWN-REPEM, 2000. p. 73-114.<br />

SAVANE, M., A. La modernizaciõn de la agricultura no beneficia a las mujeres. Ceres.. Roma: FAO. v. 13, n. 3. may-jun 1980. p. 23-<br />

27.<br />

SEMPRE<strong>VI</strong>VA ORGANIZAÇÃO FEMINISTA. Marcha das margaridas disponível em: . Acesso em: 10 out. 2000.<br />

___. Marcha Mundial das Mulheres 2000. Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2000.<br />

SICOLI, F. La mujer y el desarrollo rural: recomendaciones y realidades. Ceres.. Roma: FAO. v. 13, n. 3. may-jun 1980. p. 15-22.<br />

SILIPRANDI, E. Para pensar políticas de formação para mulheres rurais. In: BRACAGIOLI NETO, A. Sustentabilidade e<br />

cidadania: o papel da extensão rural. Porto Alegre: EMATER-RS, 1999. p. 173-184.<br />

___. Ecofeminismo: contribuições e limites para a abordagem de políticas ambientais. Agroecologia e desenvolvimento rural<br />

sustentável. Porto Alegre: EMATER-RS. v. 1, n. 1, jan-mar 2000. p. 61-71.<br />

STEPHEN, L. Relações de gênero: um estudo comparativo sobre organizações de mulheres rurais no México e no Brasil.<br />

In NAVARRO, Z.. (org). Política, protesto e cidadania no campo. Porto Alegre: UFRGS, 1996. p. 29-61.<br />

1 Engenheira Agrônoma, Mestre em Extensão Rural<br />

poppyblues@hotmail.com<br />

2 É importante aclarar que os nomes das mulheres entrevistadas foram trocados para manter sua privacidade, sendo utilizados nomes<br />

fantasias.<br />

612


HOMENS E MULHERES, AGROTÓXICOS E PERCEPÇÕES DE RISCO:<br />

notas de pesquisa 1<br />

Apresentação<br />

613<br />

Renata Menasche 2<br />

Este trabalho se propõe a discutir as injunções entre os papéis sociais de gênero na agricultura familiar e as representações e práticas<br />

desses agricultores em relação à utilização de agrotóxicos.<br />

Os dados de campo aqui apresentados foram obtidos a partir de pesquisa etnográfica realizada, entre junho e setembro de 2000, junto<br />

a agricultores – homens e mulheres – de duas distintas regiões do Rio Grande do Sul (Brasil) em que a soja é cultivada de forma<br />

intensiva, Getúlio Vargas e Cachoeira do Sul. Os nomes dos informantes foram substituídos por nomes fictícios.<br />

A agricultora Neusa narra que quando a horta é capinada, mais especificamente quando é seu marido quem realiza o trabalho,<br />

conhecidos que passam pela estrada junto à propriedade – de onde se pode avistar a horta – buzinam, gritando “joga fora essa<br />

enxada!”, caçoando “o que você quer com essa enxada?”.. O que faz com que, entre esses agricultores, a cena de um homem capinando<br />

a horta junto a sua casa seja percebida como motivo de deboche?<br />

Uma ética invertida<br />

A utilização de agrotóxicos na produção agrícola parece ser percebida por esses agricultores não apenas como necessária, mas como<br />

condição de viabilidade da atividade. Assim, “se não é prá passar veneno, não adianta nem plantar”.<br />

E seu emprego intensivo é justificado a partir de alegada redução da eficácia desses produtos: “estão mais fracos os inseticidas, ou as<br />

borboletas e as lagartas estão mais resistentes?”. Manifesta-se, em alguns dos depoimentos, o entendimento de que os agrotóxicos<br />

utilizados atualmente, considerados menos eficientes, seriam também menos perigosos do que os produtos empregados em época<br />

anterior: “aquilo era veneno mesmo, DDT, não era esses tonteador”.<br />

Ao argumento utilitário, que justifica o emprego dos agrotóxicos, soma-se outro, uma espécie de ética do trabalho invertida. “A<br />

mentalidade do pessoal hoje é fazer pelo mais fácil, se vai carpir uma semana, com uma hora de serviço está pronto”, afirma Nilton,<br />

lamentando-se sobre a generalização do uso de herbicidas.<br />

Nilton narra que até recentemente costumava, com uma turma de peões, carpir os 50 hectares da terra do pai. Nos últimos anos,<br />

entretanto, por não mais encontrar trabalhadores dispostos a serem contratados para a realização do serviço, tem se visto obrigado a<br />

abandonar a prática, aderindo ao uso de herbicidas. Por muito tempo escutara críticas e recomendações: “vocês são loucos, passem<br />

veneno e deitem na sombra”.<br />

Também Vitor, agricultor que se propõe a adotar práticas agroecológicas, identifica no que poderíamos interpretar como uma ética do<br />

trabalho invertida a base da resistência entre seus pares à adoção de tecnologias que, buscando a redução ou eliminação da utilização<br />

de agroquímicos, acabam por demandar maior intensidade de trabalho: “o pessoal pensa pelo mais fácil”.<br />

É interessante notar que a crítica a essa ética do trabalho invertida é explicitada nas falas de agricultores de origem italiana, que habitam<br />

em região colonizada predominantemente por descendentes de imigrantes italianos. Em um trabalho em que se dedica a estudar a<br />

etnicidade em grupos de origem européia no Sul do Brasil, SEYFERTH (1986) mostra como, na construção da categoria “colono” como<br />

marcadora da identidade étnica de alemães, italianos ou poloneses, a representação da etnicidade tem por base um ethos do trabalho,<br />

que se contrapõe à visão estereotipada do brasileiro (caboclo) “preguiçoso”.<br />

É assim que, nas falas dos agricultores que criticam o emprego massivo de agrotóxicos, poupador de trabalho, pode estar sendo<br />

evidenciada uma contradição dessa prática com a própria identidade “colono”, à qual estaria associado o atributo “trabalhador”. Ou<br />

seria a própria identidade “colono” ressemantizada a partir da introdução das tecnologias características da dita “agricultura moderna”?<br />

Vimos que enquanto a utilização de agrotóxicos é, entre esses agricultores, afirmada como condição necessária à viabilidade da<br />

produção agrícola, o trabalho decorrente de sua não utilização parece ser percebido como inútil, insensato, passível de ridicularização.<br />

Por que seria esse trabalho tão desvalorizado?<br />

Antes de centrarmos o foco em pistas que poderão nos ajudar a elucidar essa questão, vejamos brevemente algo acerca das percepções<br />

de risco desses agricultores em relação aos agrotóxicos.<br />

Agrotóxicos: perigo?<br />

Dentre todos os agricultores ouvidos durante essa pesquisa, nas duas regiões em que o trabalho de campo foi realizado, um único<br />

admitiu ter tido algum tipo de intoxicação decorrente do manuseio de agrotóxicos, ocorrida em uma época em que, segundo ele, era mais<br />

descuidado, quando “ia até de calção”.


Mais comuns foram comentários do tipo “um lá do Ipiranga, que estava lidando com veneno, ficou bem mal”, que remetem a casos<br />

distantes, sempre referentes a “outros”; ou a negação de qualquer efeito nocivo comprovado – “nunca deu problema” –; ou a<br />

desconfiança de que tais efeitos existam mas não sejam reconhecidos – “pode ser que morria, e se dizia que era de outra coisa”–; ou<br />

ainda, como na resposta oferecida por um deles, quando indagado se já havia tido algum problema de saúde relacionado ao manuseio<br />

desses produtos, o receio de que esses efeitos possam ainda, num futuro longínquo, vir a se manifestar: “até hoje nada, mas talvez com<br />

o tempo...”.<br />

No entanto, estima-se que, no Brasil, cerca de dois terços dos agricultores já sofreram intoxicação aguda em razão do uso de<br />

agrotóxicos (GUIVANT, 1994:49). Como, então, compreender a laconicidade de meus informantes a respeito de casos de intoxicação?<br />

Certamente não podemos atribuir a esses agricultores desconhecimento quanto à toxicidade dos venenos com que lidam cotidianamente.<br />

Vejamos o que dizem alguns deles:<br />

Seu Milton, referindo-se aos inseticidas que não o fisiológico, que prefere utilizar: “é veneno puro, às vezes [as lagartas]<br />

começa a morrer em cinco minutos. É uma judiaria, mata passarinho”. Ao que sua esposa acrescenta: “até as galinhas que estão no<br />

pátio!”.<br />

IBAMA”.<br />

Valter, narrando um episódio recente: “o veneno prá lagarta, andou dando problema no açude, morreu peixe, veio até o<br />

Distinguindo inseticidas e herbicidas, Seu João explica que “o inseticida é mais perigoso, a pessoa pode se intoxicar; o<br />

herbicida é perigoso, mas só se for ingerido”; enquanto que para Seu Milton “inseticida é prá matar seres vivos; o herbicida, ele vai<br />

matando aos poucos”.<br />

Mas se associam aos agrotóxicos a idéia de perigo mortal – veneno –, por que se calam a respeito do risco com que se deparam em seu<br />

manuseio? Ou haveria entre eles um sentimento de imunidade a esse risco?<br />

O estudo etnográfico realizado por ZONABEND (1989) junto a trabalhadores e moradores dos arredores de uma usina francesa de<br />

reciclagem de resíduos nucleares, bem como a análise realizada por GUIVANT (1994) a partir de pesquisa junto a olericultores<br />

catarinenses utilizadores de agrotóxicos – ambos os trabalhos centrados na compreensão das percepções de risco – apresentam pistas<br />

interessantes para a reflexão que aqui se desenvolve.<br />

Nesses dois estudos, as autoras concluem ser condição de conforto moral a não admissão da condição de convivência cotidiana com<br />

o perigo. Já DOUGLAS (1985:29-30), discutindo a noção de imunidade subjetiva, mostrara que os indivíduos tendem a ignorar os perigos<br />

cotidianos, de forma a que seu mundo imediato lhes pareça mais seguro do que é.<br />

Ainda em consonância com o que apontara DOUGLAS (1985), os dois trabalhos aqui tomados por referência identificam, nos grupos<br />

sociais que focalizam, a existência de conjuntos de normas culturalmente estabelecidas de cuidados, a serem observadas quando do<br />

manuseio das tecnologias em suas atividades de trabalho.<br />

Voltando aos agricultores gaúchos aqui analisados, podemos identificar entre eles a existência de algo como um conjunto de “medidas<br />

profiláticas”, a serem respeitadas de forma a garantir sua imunidade contra possíveis efeitos decorrentes da utilização de agrotóxicos.<br />

Vejamos:<br />

Inácio, voltando prá casa na hora do almoço, após passar a manhã aplicando herbicida em uma área em que pretende semear<br />

milho, comenta: “agora o jeito é tomar um banho, prá terminar com o veneno”. Vestia as mesmas roupas de trabalho de sempre, que<br />

após o banho seriam deixadas no tanque, para serem lavadas.<br />

Seu Mário, contando como, sendo cuidadoso, jamais teve qualquer problema ocasionado pelo manuseio de agrotóxicos:<br />

“por 20 anos, nunca deu nenhuma dor de cabeça. Meu irmão teve, mas eu não. Mas sempre me cuidei, lavava as mãos, não fumava.<br />

Mas tem gente que é relaxado”.<br />

Podemos, assim, inferir que, no sistema de representações desses agricultores, o risco de intoxicação decorrente do manuseio de<br />

agrotóxicos se apresentaria apenas àqueles que, burlando as medidas de cautela tidas por eficazes para contornar o perigo, são<br />

considerados “relaxados”.<br />

Retomando os trabalhos de ZONABEND (1989) e GUIVANT (1994), ambos mostram que, em casos de acidente, a tecnologia perigosa tende<br />

a ser absolvida como fonte de risco – assim como parecem fazer nossos agricultores.<br />

E que, uma vez absolvida a tecnologia, a culpa pela contaminação ou intoxicação recai sobre a pessoa que a provoca (e sofre): seja por<br />

não ter agido com a necessária cautela; seja por azar; seja por insuficiente habilidade ou força física.<br />

Relacionada à insuficiente habilidade ou força física como “causa” da contaminação/intoxicação, ambas as autoras apontam que a<br />

omissão em relação aos riscos estaria associada à afirmação de masculinidade. Poderíamos supor que essa associação faça parte<br />

também do imaginário dos sojicultores gaúchos aqui em foco?<br />

614


Homens, mulheres e tecnologia<br />

Muito já se tem dito acerca da divisão sexual do trabalho na agricultura familiar, sendo que o estudo de HEREDIA et allii (1984) – em que<br />

os autores analisam as relações sociais no interior de unidades domésticas de pequenos produtores em região açucareira do Nordeste<br />

brasileiro – pode ser considerado representativo da abordagem que se propõe a compreender as injunções entre o processo de trabalho<br />

nessa agricultura e a organização da família. Nas palavras dos autores:<br />

“Os produtos do roçado são os que fornecem os meios necessários para o consumo, o que se efetiva na casa. O roçado é o<br />

resultado do esforço conjunto dos membros do grupo doméstico... (...) por serem as tarefas desenvolvidas no roçado as responsáveis<br />

pelo consumo familiar, as atividades nesse âmbito são reconhecidas como trabalho. Por oposição a elas, as atividades desempenhadas<br />

no âmbito que corresponde à casa não são consideradas como tais. (...) É o pai quem encarna o trabalho no roçado, logo, o trabalho ali<br />

realizado é o trabalho dele; os filhos e a esposa, mesmo quando desempenham atividades, apenas ‘ajudam’, como se diz. Se o lugar do<br />

homem é o roçado, o lugar da mulher, mãe de família, é a casa. (...) A casa não se restringe ao espaço físico ocupado pela construção;<br />

ela inclui também o terreiro (pátio) que a rodeia, local onde vive a criação (aves de quintal), cabras e porcos. (...) As atividades que<br />

esses animais exigem são também, como a casa, de responsabilidade feminina e não reconhecidas como trabalho.” (HEREDIA et allii,<br />

1984:30-31)<br />

Mas se é verdade que muito já se tem dito acerca da divisão sexual do trabalho na agricultura familiar, o mesmo não se pode afirmar<br />

a respeito de como nela vem interferindo a introdução das tecnologias da denominada “agricultura moderna”.<br />

Talvez trabalhos como o de WAJCMAN (1998), que se dedica a compreender o impacto das novas tecnologias – microeletrônica,<br />

informática, telecomunicações – na divisão sexual do trabalho remunerado urbano, possam contribuir para essa reflexão.<br />

Essa autora aponta como tendência geral que “as mudanças geradas pela tecnologia reforçam e operam dentro das diferenças préexistentes<br />

nos padrões do trabalho”, inclusive no que se refere às relações sociais de gênero. A tecnologia não seria, assim, uma força<br />

independente: “a maneira pela qual ela afeta a natureza do trabalho é condicionada pelas relações existentes”. Daí a autora recomendar<br />

que o domínio masculino sobre a tecnologia seja compreendido como produto social (WAJCMAN, 1998:212-226).<br />

Voltando ao meio rural, em um estudo que busca compreender o cotidiano de vida e trabalho de mulheres e homens na produção de leite<br />

– realizado junto a agricultores familiares de sete municípios do Paraná (DESER & CEMTR/PR, 1996) –, pode-se observar que à medida que<br />

a produção de leite é tecnificada, deixa de estar sob responsabilidade da mulher, passando ao controle masculino 3 .<br />

Tendo em conta a análise de WAJCMAN (1998), comentada anteriormente, podemos sugerir que, para o caso paranaense, a introdução<br />

de tecnologia na produção leiteira estaria alterando não a hierarquia entre homens e mulheres 4 , mas o lugar da atividade leiteira na<br />

hierarquia da unidade doméstica: a produção de leite, agora tecnificada, atingiria o estatuto de trabalho – atributo masculino (conforme<br />

HEREDIA et allii). O fato da produção de leite atingir esse novo estatuto seria, assim, explicativo da exclusão das mulheres da atividade.<br />

Retornemos ao tema dos agrotóxicos. Enquanto que, no Sul do Brasil, é comum haver participação de homens e mulheres no trabalho<br />

nas várias fases e atividades da lavoura, a aplicação de agrotóxicos é – talvez a única – atividade quase que estritamente masculina 5 .<br />

Podemos intuir que a origem da predominância masculina nessa atividade esteja relacionada à forma como as tecnologias chegam à<br />

agricultura familiar, uma vez que é aos homens que cotidianamente se dirige a ação difusora de tecnologias realizada pelos diferentes<br />

agentes de extensão rural 6 .<br />

Entretanto, o manejo de agrotóxicos é percebido nessa agricultura familiar como atividade mais intensamente restrita ao universo<br />

masculino do que aquelas que envolvem a utilização de outras tecnologias da dita “agricultura moderna”, compreendendo o emprego<br />

de máquinas, equipamentos ou outros agroquímicos.<br />

Isso nos leva a supor que a particular exclusão das mulheres dessa atividade encontre legitimidade em justificativas específicas,<br />

construídas no imaginário social desses agricultores. Vejamos.<br />

Em vários dos depoimentos colhidos, alguns agricultores e agricultoras, referindo-se a plantas, relacionam o contato com agrotóxicos<br />

à idéia de perda da capacidade de frutificação:<br />

“Ali antes havia pés de pêssego, que deixaram de dar frutas.”<br />

“O roundup, diz que não é veneno, fica só 140 dias na terra. Passaram embaixo do parreiral, e terminaram com o<br />

parreiral. Eu disse que fazia mal. Hoje em dia não tem mais parreiral na nossa região.”<br />

“Umas horas, o soja já nem produz mais, porque está tão queimado de veneno.”<br />

Talvez, então, a negação às mulheres da participação nas atividades agrícolas que exigem contato direto com agrotóxicos esteja<br />

associada à busca de preservação de sua função reprodutiva.<br />

Essa relação me foi sugerida a partir da suposição apresentada por um de meus informantes, Inácio, quando conversávamos com um<br />

de seus vizinhos a respeito da atual generalização da utilização de agrotóxicos na região em que vivem: “hoje em dia, a dificuldade prás<br />

mulheres terem filho, não pode ter a ver?”.<br />

615


Há alguns anos, Inácio e Neusa, tendo já os filhos adolescentes, haviam decidido conceber uma outra criança. Seus planos foram,<br />

entretanto, frustrados, sucedendo-se vários abortos espontâneos. Inácio encontra na idéia expressa na suposição anteriormente<br />

explicitada – em que associa redução da fertilidade feminina e agrotóxicos – a explicação para o insucesso que tiveram, ele e sua esposa,<br />

na concepção do bebê desejado.<br />

Horta e lavoura, mulheres e homens<br />

Diferentemente das áreas de lavoura, dedicadas prioritariamente ao cultivo das culturas comerciais, espaço de controle eminentemente<br />

masculino, a horta, reservada a produtos destinados ao auto-consumo da família, é domínio feminino.<br />

Na horta, afirmam frequentemente os agricultores, a utilização de agrotóxicos é inexistente, sendo muitas vezes substituída por outros<br />

tipos de tratamento, como a utilização de cinza ou fumo; ou reduzida ao mínimo inevitável, através, por exemplo, de produtos que em<br />

sua ação prescindem do contato com as plantas, como as iscas utilizadas no combate a formigas; ou, quando imprescindível,<br />

submetida a normas de segurança, particularmente a obediência a prazos de carência recomendados para o consumo de alimento em<br />

que tenha sido aplicado algum veneno enquanto cultivado.<br />

Afinal, como explica Dona Lúcia – que, a propósito, justifica a opção pelo óleo de girassol em detrimento do óleo de soja por saber<br />

bem que a soja é produzida a partir da utilização intensiva de agrotóxicos –, afirmando preferir abster-se de verduras a utilizar nelas<br />

agrotóxicos, “eles [os homens da família] já lidam com veneno na soja, e se chegam em casa e tem veneno na mesa, onde é que fica<br />

a saúde?”.<br />

Mas não são apenas as mulheres que afirmam a horta como um espaço a ser preservado do contato com agrotóxicos. “Se tiver que usar<br />

veneno, deixe que termine”, ou “naquilo que come a gente não usa” são alguns dos comentários proferidos por agricultores com quem<br />

conversei.<br />

Mas se, como parece, é unanimemente condenada a utilização de agrotóxicos na horta, como explicar o deboche de que é vítima o<br />

marido de Neusa quando capina aquele espaço?<br />

* * *<br />

Talvez essa ridicularização não seja motivada pelo ato de carpir a horta, mas sim por ser a tarefa realizada por um homem.<br />

Tendo presente o estudo – realizado junto a trabalhadores rurais assalariados paraibanos e agricultores familiares catarinenses – em<br />

que PAULILO (1987) observa que a mesma tarefa é considerada trabalho “leve” ou “pesado” dependendo de quem a realiza, respectivamente<br />

mulheres ou homens, poderíamos pensar que, entre os sojicultores aqui em foco, a introdução de uma tecnologia – a utilização de<br />

agrotóxicos –, associada, como vimos aqui, ao universo masculino, tenha, por oposição, deslocado a atividade de capina ao domínio<br />

feminino.<br />

Se é verdade que, com a disseminação dos agrotóxicos, capinar passa a ser, nessa agricultura familiar, verbo conjugado no feminino,<br />

podemos compreender porque passa a ser um trabalho desvalorizado, ou um não-trabalho.<br />

Assim é que a cena de Inácio capinando a horta provoca uma reação semelhante à que possivelmente poderíamos observar se vizinhos<br />

o flagrassem junto ao tanque, ao lado da casa, lavando a roupa da família.<br />

616


Referência bibliográficas<br />

CARNEIRO, Maria José. “Ajuda e trabalho: a subordinação da mulher no campo”. Trabalho apresentado ao GT “A mulher na força de<br />

trabalho”, no V Encontro da ANPOCS. Friburgo, 1981. (mimeo.)<br />

DESER & CEMTR/PR. Gênero e agricultura familiar: cotidiano de vida e trabalho na produção de leite. Curitiba: DESER/CEMTR, 1996.<br />

DOUGLAS, Mary. Risk acceptability according to the social sciences. New York: Sage, 1985.<br />

FARIA, Neice M.X.; FACCHINI, Luiz A.; FASSA, Anaclaudia G.; TORNASI, Elaine. “Estudo transversal sobre saúde mental de agricultores da<br />

Serra Gaúcha”. Revista de saúde pública, 33(4):391-400, 1999.<br />

GUIVANT, Julia. “Percepção dos olericultores da Grande Florianópolis (SC) sobre os riscos decorrentes do uso de agrotóxicos”.<br />

Revista brasileira de saúde ocupacional, 22(82):47-57, 1994.<br />

HEREDIA, Beatriz; GARCIA, Marie France; GARCIA Jr., Afrânio. “O lugar da mulher em unidades domésticas camponesas”. In: AGUIAR,<br />

Neuma (coord.), Mulheres na força de trabalho na América Latina. Petrópolis: Vozes, 1984.<br />

NOBRE, Miriam; SILIPRANDI, Emma; QUINTELA, Sandra; MENASCHE, Renata (orgs.). Gênero e agricultura familiar. São Paulo: SOF,<br />

1998.<br />

PAULILO, Maria Ignez Silveira. “O peso do trabalho leve”.. Ciência hoje, 5(28):64-71, 1987.<br />

SEYFERTH, Giralda. “Imigração, colonização e identidade étnica: notas sobre a emergência da etnicidade em grupos de origem européia<br />

no Sul do Brasil”. Revista de antropologia, Rio de Janeiro, 29:57-71, 1986.<br />

WAJCMAN, Judy. “Tecnologia de produção: fazendo um trabalho em gênero”. Cadernos Pagu – gênero, tecnologia e ciência,<br />

Campinas, 10:201-256, 1998.<br />

ZONABEND, Françoise. La presqu’île au nucléaire. Paris: Odile Jacob, 1989.<br />

1 Trabalho submetido à discussão no Grupo Temático “Género y Desarrollo Rural”, no <strong>VI</strong> Congresso da Asociación Latinoamericana<br />

de Sociología Rural (<strong>ALASRU</strong>). Porto Alegre, 25 a 29 de novembro de 2002.<br />

2 Pesquisadora da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO), professora da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul<br />

(UERGS) e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAS/<br />

UFRGS). E-mail: menasche@portoweb.com.br<br />

3 Da mesma forma, em um estudo realizado no Piauí, CARNEIRO (1981:9) observa que quando o beneficiamento do arroz se transforma,<br />

sendo o pilão – instrumento de trabalho estritamente feminino – substituído pelo processo mecânico, a máquina é sempre operada por<br />

homem.<br />

4 O conceito gênero é aqui compreendido como pressupondo uma relação hierárquica entre homens e mulheres.<br />

5 O que pôde ser observado nas regiões estudadas, e é evidenciado em DESER & CEMTR/PR (1996:86) e em FARIA et allii (1999:398).<br />

6 Ver: DESER & CEMTR/PR (1996:78-82).<br />

617


EL FENÓMENO DE LA PLURIACTI<strong>VI</strong>DAD DESDE UN ENFOQUE DE GÉNERO<br />

I. INTRODUCCION<br />

618<br />

Rossana Vitelli<br />

rossanav@adinet.com.uy<br />

Facultad de Ciencias Sociales<br />

Universidad de la República<br />

Uruguay<br />

Las transformaciones ocurridas en las últimas décadas en el agro, han sido de gran envergadura y han tenido diferentes<br />

manifestaciones tanto en lo productivo, como en lo económico y lo social. Las investigaciones y debates teóricos se han ido generando<br />

en las temáticas más sensibles y donde los impactos se pueden ir midiendo y analizando.<br />

Una de esas manifestaciones de los cambios es el de la pluriactividad o pluriempleo, un fenómeno que si bien para algunos<br />

autores no es tan nuevo, parece haber adquirido dimensiones relevantes en los últimos tiempos. Lo que presentamos en este trabajo<br />

son unas reflexiones acerca del fenómeno en sí del trabajo predial a tiempo parcial o pluriempleo en general, para luego ver algún<br />

enfoque teórico que nos sirva para estudiar el tema con una perspectiva de género.<br />

Finalmente se presentan algunos datos preliminares para el caso uruguayo, tomando como fuente de información la<br />

Encuesta Nacional Rural realizada por la Oficina de Planeamiento y Programación Agropecuaria (OPYPA) del Ministerio de Ganadería,<br />

Agricultura y Pesca.<br />

II. EL CONTEXTO EN EL CUAL SE DESARROLLA LA PLURIACTI<strong>VI</strong>DAD.<br />

El fenómeno de la pluriactividad en el medio rural que queremos analizar como un factor que se viene operando desde hace<br />

algún tiempo, y que está adquiriendo dimensiones relevantes, se enmarca en procesos más generales de transformaciones que -si bien<br />

no se pretenden estudiar en este trabajo- parecen ineludibles de presentar en forma sintética para poder entender la lógica dentro de<br />

la cual se produce esta dinámica de incorporación de nuevas actividades y trabajos a los productores.<br />

Parece inevitable establecer cierta asociación entre el fenómeno de la pluriactividad y el de los procesos de globalización y<br />

mundialización de la economía. Básicamente lo que estamos afirmando con esto es que la ubicación de nuestro país “jugando” dentro<br />

de los mercados complejos y competitivos, interdependientes, ha ido generando ciertas condiciones para los productores, que los han<br />

colocado en situación de mayor vulnerabilidad y que se traducen en una baja de los precios de sus productos y de la rentabilidad de<br />

sus establecimientos, generando así problemas de endeudamiento, y de sustentabilidad de sus predios.<br />

La mayoría de los autores parecen coincidir con que si bien no es la economía lo único que se ha globalizado, los<br />

procesos de interdependencia mundial comenzaron por este sector de la actividad. Para Glyn y Sutcliffe “los procesos de globalización<br />

describen la expansión de las relaciones capitalistas de ‘mercado’, la creciente mercantilización de numerosas esferas de la actividad<br />

económica, social y cultural que anteriormente no estaban incorporadas a él.” Estos procesos estarían contribuyendo a la integración<br />

de diversas partes de la economía mundial conformando un auténtico “mercado mundial”. (Teubal,2001)<br />

Por su parte, Entrena Durán menciona que los dos procesos de cambios operados a lo largo del período y que han afectado<br />

el mundo rural son los de modernización y globalización. Considera la modernización como el “proceso de gradual inserción de lo rural<br />

dentro de la esfera de influencia socioeconómica, política y cultural de la sociedad urbano-industrial articulada por el Estado moderno”;<br />

y sobre el segundo de los conceptos manifiesta que la “globalización está implicando procesos de tránsito de una sociedad que se ha<br />

venido desenvolviendo en el ámbito del Estado moderno a otra que lo hace a escala planetaria” (Entrena Durán, 1998) .<br />

Muchos de los fenómenos que se han verificado con intensidad en el medio rural en el último período, y que normalmente<br />

son identificados dentro del marco de procesos de grandes transformaciones agrarias, están íntimamente relacionados con la naturaleza<br />

y las consecuencias de la evolución general de la globalización de la economía. La capitalización voluminosa que se ha trasladado desde<br />

otros sectores económicos hacia el agro ha transformado las viejas estructuras del mismo verificándose procesos de exclusión social,<br />

aumento del trabajo asalariado con formas precarias de empleo, expulsión de pequeños y medianos productores, multiocupación y<br />

migraciones.<br />

Este sería el marco económico dentro del cual debemos encuadrar los fenómenos actuales. Desde otra perspectiva se puede<br />

enfatizar más en los cambios y consecuencias operadas en aspectos más sociales y que incluyen lo cultural, las formas y estilos de vida<br />

cotidiana, las valoraciones sobre el campo, las nuevas formas rururbanas, y otros; que podríamos definir como “nueva ruralidad”


III. LA NUEVA RURALIDAD COMO FENÓMENO MULTIDIMENSIONAL<br />

Las nuevas lecturas que se hacen sobre el medio rural y los fenómenos que allí ocurren han superado algunas de las<br />

concepciones más tradicionales que veían las esferas campo-ciudad como dos ámbitos separados por una divisoria muy rígida, con un<br />

modelo rural autárquico y con poca conexión e intercambio con el mundo urbano.<br />

Esto nos obliga a repensar lo rural desde una óptica más abierta. En las nuevas corrientes enmarcadas dentro de la llamada<br />

“nueva ruralidad” las fronteras entre lo urbano y lo rural ya no son tan marcadas como en la visión tradicional y lo rural no estaría sólo<br />

asociado a la producción de alimentos. Según Edelmira Pérez estaríamos quebrando un pensamiento legado desde el SXIX, donde el<br />

progreso se consideraba el tránsito de lo atrasado a lo moderno, de lo rural a lo urbano y de lo agrícola a lo industrial. Uno de los<br />

“quiebres” más importantes en la forma de mirar el campo, es abandonar la idea de lo rural como una entidad “autárquica”, cerrada,<br />

donde las pautas y valores son atrasados y se reproducen sin contacto con el mundo urbano. La autora afirma que “lo rural trasciende<br />

lo agropecuario, y mantiene nexos fuertes de intercambio con lo urbano, en la provisión no sólo de alimentos sino también de gran<br />

cantidad de bienes y servicios, entre los que vale la pena destacar la oferta y cuidado de recursos naturales, los espacios para el<br />

descanso, y los aportes al mantenimiento y desarrollo de la cultura” (Pérez, E, 2001)<br />

En este sentido tomaría importancia el concepto de “territorio” que además de considerar campo y producción agraria,<br />

incorporara el medioambiente como un todo, con una población llevando a cabo una serie de actividades diversas, y con un fuerte<br />

intercambio social, financiero y comercial con el resto de la región, el país y el mundo.<br />

Este hecho -entre otras cosas- ha implicado una mayor exposición por parte de la población rural a los modos y culturas<br />

urbanas globalizadas, transformando pautas, valores y tradiciones. Del mismo modo la cultura urbana ha reformulado su imaginario<br />

y percepción acerca de lo rural, revalorizándolo como reservorio y fuente de recursos naturales frente al deterioro de la calidad de vida<br />

y la contaminación en las ciudades. Como menciona Entrena Durán “las presentes tendencias hacia la revalorización de lo rural no son<br />

sólo nostalgias de un pasado perdido, sino también la manifestación de actitudes ante la crisis ambiental y existencial en la que se<br />

encuentran muchas de las sociedades urbano-industriales, frente a las que lo rural es propuesto como forma de vida vinculada a la<br />

naturaleza y apetecible por su calidad, como ámbito de desarrollo de actividades de esparcimiento, de turismo, etc” ( Entrena Durán,<br />

1998)<br />

Ecologistas, integrantes de los movimientos “back to the land”, profesionales que tomaron como filosofía de vida la<br />

naturaleza y se mudaron al campo, junto con empresarios y capitalistas que tratan de encontrar nuevos negocios en rubros no<br />

tradicionales, fábricas y empresas que se instalan en el medio rural cambiando la fisonomía medioambiental, turistas que aprecian el<br />

entorno, son nuevos elementos que se agregan a los productores familiares tradicionales que -en muy poco tiempo- han debido y<br />

deben adaptarse y reorientar sus conductas de acuerdo a la nueva realidad decodificando estos nuevos símbolos y reconvirtiéndose<br />

(los que pueden) con los nuevos patrones para subsistir: tarea nada fácil.<br />

IV. LA PLURIACTI<strong>VI</strong>DAD COMO ESTRATEGIA<br />

La otra cara de lo que podíamos considerar en el capítulo anterior como elementos potencializadores o positivos<br />

que han dejado los procesos de globalización enmarcados en cuanto a nuevas posibilidades y desafíos para el medio rural, son los<br />

efectos perversos que han caído sobre la mayoría de los pequeños y medianos productores, que se han visto desbordados y<br />

“aplanados” por las grandes empresas capitalistas y los procesos de concentración en la producción y comercialización de los<br />

alimentos.<br />

Este panorama mencionado ha afectado lo que es el trabajo y las formas de subsistencia, encontrándose ahora fenómenos<br />

nuevos como ser el trabajo asalariado “part time” agregado al productivo en el propio establecimiento con variantes como veremos<br />

más adelante, y otros fenómenos no tan nuevos como el de una mayor precariedad, inestabilidad y flexibilidad en las formas<br />

contractuales de trabajo incluyendo variantes como la agricultura por contrato y otras.<br />

La manifestación de esta “agricultura a tiempo parcial” ha cobrado mucha importancia en el último período, y que está<br />

asociado a factores multicausales, está profundamente vinculado a los procesos de transformaciones de capitalización,<br />

agroindustrialización y globalización ya mencionados. Este fenómeno ha sido planteado por algunos autores en términos de agricultura<br />

“part-time versus full-time” haciendo referencia al tiempo dedicado al trabajo directo del productor sobre la agricultura, mientras que<br />

otros adoptan la denominación “pluriactividad” en contraposición a la de “monoactividad” haciendo mayor hincapié en la combinación<br />

de ocupaciones y la integración de distintos sectores de la actividad económica. “En cualquier caso se apunta a describir situaciones<br />

en las que el empleo y los ingresos se diversifican entre fuentes agrícolas y no agrícolas, o prediales y extraprediales”. (Neiman,G.,1999)<br />

El intento de interpretación de esta realidad nos confronta necesariamente al momento de dar cuenta de los orígenes y causas<br />

del fenómeno. Como ya se afirmara posiblemente sea una confluencia de factores lo que incide sobre este proceso, y por lo tanto<br />

proponemos primero hacer el análisis del tipo de pluriactivo que se trate ya que al encontrarnos con casos y situaciones bastante<br />

diferentes, es posible que la estrategia de la multiactividad responda también a factores distintos.<br />

Se señala frecuentemente el descenso de la rentabilidad de las explotaciones, y la crisis económica de las familias como factor<br />

desencadenante y principal del trabajo extrapredial. Si bien acordamos que el componente económico debe pesar mucho y ser una de<br />

las claves explicativas del fenómeno, no parece agotar toda la interpretación.<br />

619


Para algunos autores más que responder a situaciones de crisis coyunturales, el fenómeno responde a una tendencia<br />

generalizada que se viene operando desde hace tiempo y que responde nuevas formas de insertarse en la división social del trabajo<br />

(Schneider,2001). De esta forma la pluriactividad se estaría constituyendo como rasgo estructural de las agriculturas, como “fuerza<br />

fundamental que modela la estructura agraria” (Buttel y La Ramee, citados en Giarraca, 2001)<br />

Podemos acordar con estos autores, ya que parecen existir razones culturales y valorativos que están por detrás de lo<br />

estrictamente económico. La integración de una actividad productiva en el predio, con otra fuera del mismo -y sobre todo si responde<br />

a otro sector de la economía- ha requerido un proceso de cambio y una operación importante en la mentalidad y racionalidad del<br />

productor. No se pueden desconocer en tal sentido, nuevas actitudes y visiones de los actores involucrados.<br />

Neiman incorpora lo valorativo en el análisis para explicar el intento de los actores de preservar la tradición familiar y no<br />

abandonar el campo. Es una perspectiva que entiende el fenómeno como una forma de “persistencia” fuerte. Así afirma que “La<br />

decisión de adoptar otra actividad puede estar motivada por una estrategia familiar de supervivencia, destinada a mantener explotaciones<br />

pequeñas de escasa rentabilidad e, incluso, a persistir con la tradición agrícola familiar explicitada más en términos culturales que<br />

estrictamente económicos”.(Neiman, 1999)<br />

El autor se pregunta por qué -incluso en situaciones de subsistencia- algunos de los productores buscan estas estrategias<br />

para mantenerse en el campo, como en una actitud empecinada de “persistencia”. Concluye que -entre otras- hay razones de tipo<br />

tradicional y valorativo de apego hacia la tierra, así como de considerarla un “reaseguro” para futuras generaciones.<br />

Esta persistencia, también puede ser mirada desde la idea de “resistencia” empleada por Piñeiro para un estudio totalmente<br />

diferente, pero que en cierta medida nos es útil reconceptualizándola para el caso de la pluriactividad. Piñeiro construye el “concepto<br />

de resistencia como un instrumento teórico para explicar las distintas formas en que los campesinos tratan de asegurar su reproducción<br />

como una fracción de clase” (Piñeiro,D. 1985), e incluye formas de resistencia colectivas e individuales. Es una forma de lucha a través<br />

de acciones concretas para impedir que la permanente extracción de sus excedentes les impida su reproducción. Si bien esta<br />

“resistencia” está vista como mecanismos utilizados por los campesinos pobres, se puede considerar en el caso de la pluriactividad.<br />

Podríamos utilizar el concepto de resistencia para referirnos a estrategias o mecanismos utilizados también por productores medios<br />

para mantener sus explotaciones y sus familias sin tener que llegar al punto de ser excluidos del sistema productivo agrario –o sea su<br />

reproducción como fracción de clase.<br />

Desde otro ángulo Neiman señala la incidencia de los ciclos familiares en la búsqueda de estrategias de pluriactividad. El<br />

crecimiento de los hijos presiona sobre la economía del establecimiento, obligando a buscar soluciones de aumento de ingresos.<br />

Finalmente concluye que “La transformación de un productor “puro” a uno pluriactivo puede ser visto, entonces, como un proceso<br />

multicausal que incluye factores relacionados con el contexto económico y productivo así como con cuestiones de orden cultural,<br />

familiar e incluso personal de los propios productores”. (Neiman,1999)<br />

Otro aspecto a destacar, son los impactos que esta realidad produce sobre la vida y la organización de la familia. El<br />

incorporar una nueva actividad implica una presión extra sobre la mano de obra familiar, así como exigencias en términos de<br />

capacitación y desarrollo de nuevas habilidades para otras tareas específicas. Esto tiene consecuencias en la reorganización de las<br />

tareas y los roles, con un fuerte componente de género y generacional, que desarrollaremos después.<br />

Como se puede apreciar el fenómeno es en sí complejo y reconoce multicausalidad, y para algunos autores que no sería<br />

reversible. Así Schneider (1999) asegura que el espacio rural dejará de tener como función exclusiva la producción agrícola, pasando<br />

a ser un espacio polisémico en que coexistan actividades económicas de naturaleza diversa como la propia agricultura, el comercio, el<br />

turismo rural, el ambientalismo, o lugar de descanso.<br />

V. MUJER, FAMILIA, PLURIACTI<strong>VI</strong>DAD ¿EL FIN DE LA SOCIEDAD DOMESTICA?<br />

Desde una perspectiva de género, el estudio de los impactos que la pluriactividad y las transformaciones agrarias están<br />

generando en el medio rural, implica necesariamente un análisis diferencial de cómo afecta a mujeres y hombres, y también de cómo<br />

afecta la estructura interna familiar, lo que incluye a los demás integrantes del núcleo como ser los hijos, y la organización interna de<br />

división de roles y el poder.<br />

Para tener una mejor comprensión de los cambios que se están operando al interior de la estructura familiar y la sociedad<br />

rural, es necesario poner en perspectiva, y dentro de un marco histórico, el significado social y económico de la sociedad agraria de<br />

tipo doméstica. Esto supone ver su función dentro de un modelo de acumulación determinado y los roles que ejercen los actores<br />

involucrados.<br />

Meillassoux (1978) señala que “la comunidad doméstica agrícola, por sus capacidades ordenadas de producción y de<br />

reproducción, representa una forma de organización social integral que persiste desde el neolítico y sobre la que aún descansa una<br />

parte importantes de la reproducción de la fuerza de trabajo necesaria para el desarrollo capitalista” En este sentido, lo que se trata<br />

de evitar es el pensamiento más simple de considerar la economía doméstica como algo constituido de forma totalmente “espontánea<br />

o natural”. De hecho para algunas corrientes provenientes del marxismo estas formas de producción han sido tema de debate al no ser<br />

teóricamente fácil de abordar desde la teoría general de Marx, dado que el autor no profundiza demasiado en el tema. Pero en la visión<br />

620


más clásica marxista “el problema de la reproducción en las comunidades es reconocido por Marx en El Capital como su ‘fin último’,<br />

reproducción no sólo física de los individuos, sino social”. (Meillassoux, 1978). Asimismo de algunos textos de Engels se puede<br />

concluir como resumen de su idea que la comunidad estaría compuesta por individuos que practican una agricultura de autosubsistencia,<br />

producen y consumen sobre una tierra común cuyo acceso está subordinado a la pertenencia a dicha comunidad, ligados por relaciones<br />

desiguales de dependencia personal.<br />

En este esquema queda, entonces, por explicar el problema de la reproducción -ya reconocido por Marx- desde el punto de<br />

vista del lugar que ocupan las relaciones de reproducción en la constitución de la comunidad. Desde lo social y lo antropológico, lo que<br />

se puede aportar a estas primeras lecturas es un estudio de la conformación y comportamiento de los actores implicados en estas<br />

comunidades.<br />

Si bien han existido formas distintas, la que se desarrolló más, prevaleciendo, es la organización de la producción y la<br />

reproducción física y social en unidades domésticas de producción y consumo familiares. Hubo diferentes visiones que enfatizaban<br />

el carácter autárquico y cerrado de estas unidades familiares y –casi por extensión- de las comunidades que conforman, considerándolas<br />

totalmente autosuficientes. Esto no puede considerarse totalmente cierto (tal vez sólo en sus orígenes) en los aspectos económicos y<br />

de mercado donde se verifica el intercambio con otras comunidades y con las ciudades; y para nada cierto en el aspecto reproductivo.<br />

Más bien, el interrelacionamiento entre las distintas unidades y entre las distintas comunidades, a través del intercambio<br />

de personas y de bienes ha asegurado la reproducción de este tipo de comunidad doméstica y ha hecho que, de este modo, su economía<br />

doméstica articule con el modelo de acumulación capitalista.<br />

En este punto del análisis es donde queremos introducir el tema del rol que le ha sido conferido a la mujer dentro de esta<br />

organización familiar rural. La pregunta es –entonces- de qué forma una unidad que es productiva y de consumo a la vez, se organiza<br />

para su reproducción. Según algunos autores existirían ciertos principios de movilidad masculina y de inmovilidad de las mujeres en<br />

su lugar de origen, facilitando así la formación de parejas para establecerse. Cuando en una comunidad las mujeres eran pocas, los<br />

hombres las “raptaban” de otra, acto violento tanto en su práctica como en su simbolismo para la mujer que no oponía resistencia.<br />

Para poder ser capturada la mujer debe estar ubicada tácticamente en una situación de inferioridad. En esta práctica se resume y se<br />

imprime a fuego todos los elementos de desvalorización e inferiorización de la mujer. (Meillassoux, 1978) A partir de esta conformación<br />

de la pareja, quedan establecidas las futuras relaciones de género y los roles que deben cumplir cada integrante del núcleo familiar. La<br />

mujer ha pasado a ser una pertenencia del esposo, y su rol es el reproductivo físico y social de las nuevas generaciones. Debe criar a<br />

sus niños hasta que estén en edad productiva, y debe generar todas las condiciones domésticas necesarias para que el hombre pueda<br />

dedicarse a su tarea.<br />

Desde esta situación de origen han permanecido por mucho tiempo esas reglas de organización familiar (algunos vestigios<br />

se mantienen hasta hoy) generando situaciones de inequidad entre los sexos, que se reproducen en su interior y se trasmiten a las<br />

nuevas generaciones.<br />

Pero volviendo al principio de nuestra idea, esta organización no se produce en forma espontánea sino que cumple una<br />

función económica. Dentro del sistema capitalista más tradicional, la incorporación de la mujer y los hijos a la producción, aseguró<br />

fuerza de trabajo “gratis” al predio. Hay una directa conexión entre la apertura de la economía doméstica y la necesidad de generar<br />

excedentes para volcar al mercado.<br />

Esto supone para la mujer, que además del trabajo y rol doméstico, ahora trabaja en la producción aumentando así su<br />

autoexplotación en carga horaria. Pero como la cultura y los valores en el medio rural tienen (o tenían) más permanencia y hay<br />

resistencia a los cambios, las relaciones de inequidad permanecen estables y los ingresos que se obtienen con la ayuda del trabajo de<br />

la mujer entran en la administración del predio que dirige el hombre y donde ella no tiene decisión.<br />

Hay otro factor importante que se establece con este modelo de organización económica, y es la superposición de dos<br />

esferas: la doméstica y la productiva, con lo cual resulta difícil visualizar claramente la división entre roles y funciones de un orden o<br />

el otro, diferenciar el trabajo productivo del reproductivo, o manejar los ingresos del predio con criterios o categorías diferentes. En<br />

este esquema, es difícil encontrar un espacio para negociar al interior de la familia una división diferente del trabajo y de las cuotas de<br />

poder.<br />

Sin embargo, algunas de las transformaciones que se han operado a nivel del agro en los últimos años vinculadas a una etapa<br />

nueva de acumulación capitalista, han operado sobre la estructura de la producción familiar afectando también y de modo diferencial<br />

a las mujeres. De esta forma, cabe preguntarnos si este modelo que veníamos analizando no está sufriendo alteraciones también.<br />

Como ya se señaló, el fenómeno de la pluriactividad es una de las manifestaciones de las transformaciones ocurridas. En el<br />

debate sobre este tema, generalmente se enfatizan los aspectos económicos y productivos del pluriempleo, pero hace poca mención<br />

o ninguna al tema de género o las modificaciones al interior de las familias. Pero hay algunos autores (Schneider,1999; Neiman, 2000,<br />

entre otros) que introducen el punto.<br />

La incorporación de una nueva actividad extrapredial reorganiza en todos los casos la estructura de tareas, roles y la división<br />

del trabajo al interior de la familia. Esto pasa tanto si el cónyuge que realiza el trabajo fuera de la explotación sea el hombre o la mujer.<br />

Para algunos autores hay un proceso de “feminización” de la producción al ir creciendo el número de predios donde la principal<br />

responsable de las tareas agrícolas es la mujer, mientras el hombre sale a trabajar fuera. En muchos casos el ingreso producido por esta<br />

621


actividad del hombre es reinvertida en la explotación, lo que genera aumento de trabajo que en la mayoría de los casos supone una<br />

recarga para la mujer. ( Pfeffer,1989; Rupena-Osolnik, 1983; citados en Schneider, 1999)<br />

Pero también en muchos casos la que sale a trabajar afuera es la mujer, el aumento de la PEA femenina y cierta oferta en el<br />

sector servicios para mano de obra femenina estarían indicando que ante la necesidad de aumentar el ingreso del predio, o asociado al<br />

aumento de la jefatura familiar femenina, la mujer se vuelca al mercado de trabajo para asalariarse, o se introduce en la economía<br />

informal comercializando productos de tipo artesanal o comestibles para obtener una ganancia.<br />

Esta situación ya ha sido estudiada en trabajos anteriores como la medición realizada por el proyecto IICA-BID que<br />

estimaba el aporte femenino al hogar rural en un 33% del total de los ingresos, agregando que de ese aporte una cuarta parte provenían<br />

de actividades no prediales (Peaguda, 1996). Ante la pérdida de la rentabilidad en contextos de crisis el ingreso por trabajo femenino<br />

ha implicado para muchas familias productoras estar sobre la línea de pobreza, o sencillamente subsistir y no caer en la indigencia.<br />

Sin embargo, no son siempre las mujeres de los predios más marginalizados las que buscan un trabajo extra-agrícola. Dentro<br />

del estudio más general de la pluriactividad esto nos lleva a preguntarnos a qué responde esta tendencia de las mujeres rurales por tener<br />

otra actividad<br />

Si volvemos a la idea que desde la nueva ruralidad se observan los vínculos urbano-rural cada vez más estrechos, con una<br />

interpenetración de valores y costumbres, y un cambio cultural de apreciación entre ambos espacios, podríamos acordar con<br />

Schneider, (1999) en que en muchos casos esposas, jóvenes, mujeres, buscan trabajo fuera del predio para satisfacer otro tipo de<br />

necesidades o establecer vínculo con la ciudad y el estilo de vida urbano.<br />

En este sentido, no serían sólo razones económicas las que estarían detrás, sino que también podríamos mencionar la<br />

conquista de status, la búsquedad de reconocimiento social y mayor seguridad individual y familiar. (Schneider,1999)<br />

La independencia económica que obtiene la mujer al romper el círculo “trabajador familiar no remunerado” en el predio, se<br />

traslada a esferas de mayor autonomía en su vida personal y en aumentote la autoestima. Por otro lado, al trabajar fuera del predio, la<br />

mujer logra separar lo que es el ámbito doméstico y reproductivo del ámbito laboral y productivo. Comienza a tener un mejor control<br />

dentro de las dos esferas y a administrarlas más a su favor.<br />

Pero sin duda lo más importante es que se produce un quiebre en las relaciones de género que mencionábamos en el modelo<br />

anterior. Dentro de la desigual distribución del poder al interior de la pareja, y dentro del esquema anterior de “adueñamiento” de la<br />

mujer para cumplir sus roles tradicionales en una forma de dominio, este fenómeno de la salida de la mujer del predio puede<br />

interpretarse como la lucha por establecer un nuevo escenario más equitativo para la negociación de las cuotas de poder. Se trata de una<br />

construcción social diferente basada en unas relaciones entre los sexos que ha modificado la estructura imperante por mucho tiempo.<br />

Ahora bien, si la sociedad doméstica no fue una conformación espontánea –como vimos- sería un error teórico considerar<br />

estas transformaciones dentro de organización familiar como natural y basado sólo en la voluntad de los actores que reconvierten sus<br />

conductas y valores por sí solos. Tiene que existir un punto donde se articule con el sistema económico. Si la participación de la mujer<br />

en el mercado de trabajo se explica por demandas de capital, y también en la distribución desigual del poder entre los sexos la<br />

interpretación debe introducir ambas esferas. En este sentido, las relaciones de género podrían se comprendidas como “procesos<br />

resultantes de la interacción entre patriarcado y capitalismo, en una dimensión que va del espacio local al internacional” (Deseran y<br />

Simpkins, 1991, Mahar,1991- citados en Schneider,1999)<br />

En función de lo anterior, podríamos decir que en la etapa del capitalismo actual, que ha profundizado sus relaciones de<br />

producción en el agro, y que ha instalado la trasnacionalización de los capitales y la producción en el campo, el modelo de economía<br />

doméstica le está resultando poco funcional.<br />

La pregunta que podríamos formularnos es si estamos frente al final del modelo de sociedad económica doméstica, con sus<br />

unidades de producción dedicadas sólo a la producción de alimentos y sus relaciones de género tradicionales. Esto implicaría para las<br />

mujeres rurales las mismas dificultades, desafíos y oportunidades que tuvieron las mujeres de las ciudades cuando salieron masivamente<br />

al mercado de trabajo. Una segunda alternativa podría ser la persistencia -dentro de un nuevo modelo imperante-de “pequeños<br />

núcleos” donde se mantenga la tradición y estaríamos frente a una comunidad rural donde convivan ambas situaciones.<br />

Pero este proceso es complejo, y no es claro que sea unilineal. Según Meillasoux (1978), para que exista una transformación<br />

radical de la sociedad doméstica “es necesario que la reproducción social se ejerza en provecho de un grupo orgánico a expensas de<br />

otro. Es necesario que exista disociación de los ciclos productivo y reproductivo, institucional y orgánicamente confundidos en el<br />

modo de producción doméstico”.<br />

Por otra parte, el modelo de reproducción de la fuerza de trabajo a través de la economía doméstica presentaría una<br />

contradicción para el capitalismo. Para Meillasoux el capitalismo se apropiaría de fuerza de trabajo gratuita y la reproducción del<br />

“trabajador libre”, pero llevado esto a su máxima expresión si las mujeres y los jóvenes se vuelcan al mercado de trabajo dejan a la<br />

unidad productiva sin mano de obra gratuita. En este autor, la conclusión es que esta contradicción no tiene solución y el desarrollo<br />

del capital en ese punto aparecería como un modelo en desintegración.<br />

622


En este trabajo estamos manteniendo la hipótesis de que la creciente incorporación de las mujeres rurales en actividades<br />

extraprediales es una manifestación de un proceso de cambio en la estructura de la comunidad económica doméstica, y por tanto de<br />

las unidades productivas domésticas entendidas en el esquema tradicional de contar con toda la mano de obra familiar destinada a la<br />

explotación del predio.<br />

Posiblemente estemos todavía en una etapa de transición hacia un modelo todavía no muy definido, pero que de cualquier<br />

forma implica cambios en la estructura misma de la organización familiar anterior.<br />

En este sentido podemos considerar que lo expuesto como válido por Meillasoux hace veinte años como contradicción sin<br />

solución del capitalismo para este tipo de reproducción social, se ha ido perfilando hacia una salida alternativa. La incorporación de<br />

tecnología y la concentración de capital en el sector agrario han significado cada vez más, que sea innecesaria toda la mano de obra<br />

“gratis” de la producción familiar, y más bien está expulsando esta mano de obra hacia otros sectores que podríamos considerar como<br />

en expansión. Cierto desarrollo industrial difuso, como describe Shneider (1999) en el medio rural que necesita mano de obra poco<br />

calificada y a la que se le pueden pagar salarios más bajos que en las ciudades, demanda por parte de la agroindustria, ampliación del<br />

sector servicios y otros.<br />

En este sentido, lo que estaría sucediendo en este esquema del capital es que las mujeres funcionan como “variable de ajuste”<br />

siendo las que en forma más elástica entran y salen de actividades extraprediales para reforzar el trabajo en la explotación en la medida<br />

que sea necesario. La contradicción que genera el propio capitalismo estaría siendo trasladado a las mujeres en el sentido de ser<br />

“dominadas” o “autoexplotadas” por el predio en la figura visible de su marido, o ser explotadas por el capital, al volcarse al mercado<br />

de trabajo.<br />

<strong>VI</strong>. ALGUNAS CONSIDERACIONES SOBRE LA PLURIACTI<strong>VI</strong>DAD Y LAS MUJERES PARA EL CASO URUGUAYO.<br />

No existe en el país material abundante ni demasiado avance en el tema de la pluriactividad femenina rural. Existen<br />

antecedentes de estudios sobre ingresos de las mujeres (Peaguda, 1996) y algunos trabajos sobre las mujeres rurales, pero no hay<br />

referencias sobre el multiempleo y los trabajos extraprediales. Esto significa que queda mucha investigación por hacer en este campo.<br />

Un problema que se ha manifestado como recurrente es que la metodología y los instrumentos utilizados para la medición<br />

de información en los Censos de población ha generado subregistros y no se han mostrado como los más adecuados para medir la<br />

situación de las mujeres rurales. Por otro lado la Encuesta de Hogares realizada por el Instituto Nacional de Estadística no cubre la<br />

población rural, teniendo entonces que la información no es mucha.<br />

En la actualidad contamos con una Encuesta Nacional Rural realizada por la Oficina de Programación y Planeamiento<br />

Agropecuario (OPYPA) del Ministerio de Ganadería, Agricultura y Pesca, cuyos datos fueron publicados en el año 2001.<br />

Si bien algunas de las observaciones que hacíamos sobre los instrumentos se mantienen, es una fuente de información valiosa<br />

como para empezar a hacernos un primer borrador del tema, y continuar investigando.<br />

El primer punto a resaltar es el carácter profundamente urbano de nuestra población femenina siendo en el momento del<br />

93% del total de mujeres. Por lo que hay que destacar que cuando hablamos de mujeres rurales estamos refiriéndonos a unas 108.149<br />

mujeres que representan un 7% del total. (INFM, MEC, 2000) El hecho de que sea una población escasa no le quita relevancia, sino<br />

más bien implica la necesidad de estudiarla sobre todo cuando se tratan de temas vinculados entre otras cosas, a su continua tendencia<br />

a emigrar del campo.<br />

Un segundo punto a resaltar es el importantísimo incremento de la PEA femenina rural que pasó de ser el 19% en 1975 a ser<br />

el 50% en 1996. (INFM, MEC,2000). Si bien se reconoce que parte de este incremento se debe a una mejora de los registros, es<br />

significativo es pasaje de tal porcentaje de mujeres rurales a la condición de activas.<br />

Hay otro rasgo demográfico distintivo que es el envejecimiento de la población femenina rural. De acuerdo a la encuesta<br />

antes mencionada, hay un 25% de mujeres mayores de 51 años, pero sólo hay un 9% en el tramo de 18 a 25 años. Este dato es<br />

importante, ya que demuestra que la emigración de las mujeres del campo se da justamente en la edad en que generalmente se<br />

conforman las familias. También se comprueba que el medio rural expulsa a las mujeres jóvenes, sobre todo en las zonas de ganadería<br />

extensiva al no tener –justamente- oferta de trabajo alternativo ni estudio.<br />

De las mujeres registradas por la encuesta, el 62% tienen compañero, el 13% son jefas de familia y el 18% son hijas.<br />

Si nos fijamos en la condición de actividad, este fenómeno demográfico se traduce claramente al darnos que un 28% de las<br />

mujeres son jubiladas o pensionistas, y un 9% estudiantes. Si consideramos a estas mujeres inactivas, y le agregamos un 2% que viven<br />

de rentas, nos daría un 40% del total de las encuestadas.<br />

Por otro lado tenemos otro 40% que declara trabajar, y de esas que trabajan un 8% declaran tener dos trabajos.<br />

623


En principio, pero sólo en principio, este 8% no aparece como un rasgo importante de pluriactividad. Pero la interpretación<br />

no puede ir por ahí, tampoco se puede afirmar con seguridad que esos dos trabajos sean uno en el predio y otro fuera. Tenemos que<br />

recordar la dificultad de las mujeres que están en los predios para reconocer que “trabajan”, ya que más bien se autoperciben como que<br />

“ayudan al marido”.<br />

Pero sí hay otros datos que nos pintan un escenario laboral rural bastante heterogéneo y variopinto, algo que parece<br />

diferente a lo que se podía suponer para nuestro campo.<br />

Del total de mujeres que declaran trabajar nos quedaría el siguiente cuadro:<br />

32% - en tareas productivas rurales<br />

25% - servicio doméstico, cocineras, caseras, limpiadoras<br />

11% - vendedoras en tiendas, quioscos o ferias, cajeras, cobradoras<br />

7% - oficinistas, secretarias, telefonistas, administrativas<br />

7% - artesanas, tejedoras, bordadoras, costureras, modistas<br />

6% - maestras y profesoras<br />

3% - cuidadoras niños o ancianos<br />

2% -enfermeras, auxiliares enfermería<br />

2% -operarias máquinas en pequeñas industrias vinculadas al agro<br />

1% - trabajan como obreras en la construcción<br />

1% - profesionales: Agrónomas, Veterinarias, Médicas, Escribanas.<br />

. 3% - otros varios<br />

Como se puede observar por estos datos, parece particularmente interesante que sólo el 32% se dedique a trabajos en<br />

predios, cuando estamos hablando del medio rural. También se destaca la concentración en el sector servicios, algo que concuerda con<br />

lo que veníamos manejando a nivel teórico. Pero básicamente la dispersión de las tareas mostrada en los otros renglones y en el 3% de<br />

varios -que reúne un conjunto de otras actividades totalmente variadas y mínimas en sus números- nos muestra que por lo pronto,<br />

cuando estudiemos el sector rural y a las mujeres que viven en él, tendremos que pensarlo de forma bastante diferente del manejado<br />

hasta ahora.<br />

Las jornadas laborales de las mujeres son largas: el 22% de ellas trabajan más de 50 hs. semanales, un 38% lo hace entre 31<br />

y 50 hs. semanales.<br />

En cuanto a los ingresos se comprueban que son muy bajos. El 53% de las trabajadoras ganan menos de $2.000 (70U$S<br />

aproximadamente). Un 26% se declara como trabajadora familiar no remunerada. Esto responde como se ha reiterado, al trabajo de la<br />

mujer en el predio que no es valorado, se suma al trabajo incorporado a la explotación de cuyos ingresos se hace cargo el hombre.<br />

Como ya se afirmó, de estos datos, sin seguir investigando no podemos sacar resultados concluyentes sobre la pluriactividad<br />

en sí misma; pero hay un conjunto de reflexiones que nos pueden servir de punto de partida.<br />

Algo a tener en cuenta es que nuestra población rural dispersa es cada vez menor, conformándose nuestra sociedad rural en<br />

base a pequeños poblados y ciudades pequeñas de 2000 y 3000 habitantes. La encuesta de donde hemos sacado los datos cubre<br />

poblaciones de hasta 5000 habitantes. Esto también se inscribe dentro del proceso de transformaciones sufridas en las últimas décadas<br />

y este factor también es coadyuvante y se articula con el tema ocupacional de las mujeres. Lógicamente la organización de estos<br />

poblados genera demanda de servicios nuevos.<br />

Lo que parece importante a destacar –de todos modos- es ese mapa laboral nuevo para el sector rural, donde las mujeres se<br />

dedican a muy diferentes trabajos. Podríamos coincidir con Murmis en el sentido que la pluriactividad también puede entenderse<br />

como un proceso de heterogeneización creciente de capas sociales anteriormente homogéneas. (citado en Giarraca, 2001). O sea la<br />

diversidad y la diferenciación forma parte de este proceso de reestructuración del medio rural, como contrapartida de los procesos de<br />

desagrarización crecientes.<br />

624


<strong>VI</strong>I. ALGUNAS CONCLUSIONES<br />

Cuando hablamos de pluriactividad en el agro, y queremos estudiar qué sucede con las mujeres en este sentido, nos<br />

encontramos frente a un tema que está en este mismo momento sufriendo cambios y no es tarea sencilla encontrar explicaciones<br />

contundentes.<br />

La idea que se expuso en este trabajo, es en primer lugar, que los fenómenos de pluriactividad efectivamente afectan de<br />

diferentes modos a las mujeres. Tanto en el caso que sea el hombre o la mujer quien ejerza un trabajo fuera del predio, esto redunda en<br />

una sobrecarga para la mujer. Pero en segundo lugar, planteamos que existen razones diversas para afirmar que es creciente la tendencia<br />

a que sea la mujer quien sale a buscar otra actividad rentada fuera de la explotación.<br />

En este sentido, y desde una perspectiva teórica, sostenemos que el rol cumplido tradicionalmente como reproductora de<br />

fuerza de trabajo en el campo con el modelo de la economía doméstica está sufriendo cambios estructurales que suponen nuevos<br />

espacios de negociación y reorganización de la división del trabajo y los espacios de poder en la familia. Del mismo modo exponemos<br />

que estos cambios se articulan y acompañan los cambios operados a nivel del sistema de acumulación capitalista, que –de necesitar<br />

mano de obra gratis en el predio- ahora parece expulsarla por sobrante, y derivarla a nuevos sectores demandantes de mano de obra<br />

barata como ser el de servicios o la agroindustria.<br />

Para el caso uruguayo, una consideración aparte merece ese 8% de mujeres que declaran tener dos ocupaciones. Podríamos<br />

considerar que mejorando los instrumentos de medición o incorporando metodología de tipo cualitativa, evitaríamos subregistros y<br />

nos acercaríamos más a la realidad. De cualquier forma el panorama observado para nuestro país, ya muestra cambios de índole<br />

muy interesante.<br />

625


BIBLIOGRAFIA<br />

Entrena Durán, Francisco. “Cambios en la construcción social de lo rural. De la autarquía a la globalización”, Tecnos,<br />

Madrid, 1998.<br />

Giarraca,N; Aparicio,S.; Gras, C . Multiocupación en el agro argentino: el caso de los Cañeros Tucumanos. Desarrollo<br />

Económico. Revista de Ciencias Sociales. No.162. julio-setiembre 2001. IDES, Buenos Aires, 2001.<br />

Gómez, Sergio. ¿Nueva Ruralidad? Un aporte al debate. Trabajo presentado en el panel “Construyendo una Nueva<br />

Ruralidad” Talca 13 al 19 agosto,2001 mimeo, Argentina,2001.<br />

Instituto Nacional de la Familia y la Mujer, Ministerio de Educación y Cultura.- UNICEF. Mujer y Estadísticas. Febrero<br />

2000<br />

Meillassoux, Claude. Mujeres, graneros y capitales. Siglo XXI, México, 1978.<br />

Ministerio de Ganadería, Agricultura y Pesca. OPYPA. Encuesta sobre el empleo, los ingresos y las condiciones de vida<br />

de los hogares rurales. Montevideo, 2001.<br />

Murmis, Miguel. “Temas de la sociología rural latinoamericana: reestructuración, desestructuración y problemas de<br />

excluidos e incluidos”, Ruralia No.5, Buenos Aires.1994.<br />

Neiman, Guillermo, Quaranta, Germán. “Trabajo flexible o producción flexible? Sobre los cambios en la organización<br />

del trabajo en la agricultura Argentina”, CEIL, mimeo, 2000.<br />

Neiman,G.; Bardomás,S.; y Jiménez,D. “Continuidad y cambio en las explotaciones familiares pampeanas. El caso de<br />

la pluriactividad en la provincia de Buenos Aires. Primeras Jornadas Interdisciplinarias de Estudios Agrarios y<br />

Agroindustriales. UBA. 1999.<br />

Peaguda, C. “Las mujeres productoras de alimentos en Uruguay”. IICA/BID, Montevideo, 1996.<br />

Pérez, Edelmira. “Hacia una nueva visión de lo rural”. En ¿Una nueva ruralidad en América Latina?” Norma Giarraca<br />

compiladora. CLACSO, Buenos Aires. 2001.<br />

Piñeiro, Diego. “Formas de resistencia de la agricultura familiar” CIESU, Montevideo, 1985.<br />

Schneider, Sergio. “Perspectivas recentes do emprego no meio rural. Uma análise preliminar da emergencia das<br />

atividades rurais nao agrícolas e da pluriatividades”. En Transformaciones Agrarias y Empleo rural. Alberto Riella y<br />

Mauricio Tubio, compiladores. Universidad de la República. Montevideo, 2001.<br />

Schneider, Sergio. “Agricultura familiar e industrializaçao: pluriatividade e descentralizaçao industrial no Rio Grande<br />

do Sul.” Ed. Universidade/UFRGS, Porto Alegre. 1999.<br />

Teubal, Miguel. “Globalización y nueva ruralidad en América Latina”. En ¿Una nueva ruralidad en América Latina?”<br />

Norma Giarraca compiladora. CLACSO, Buenos Aires. 2001.<br />

Vitelli, Rossana. Pluriactividad en el medio rural uruguayo. Una propuesta de turismo en San Pedro. Ponencia<br />

presentada en las XI Jornadas Nacionales de Extensión Rural, 18 al 20 de setiembre 2002. La Plata, Argentina. Mimeo.<br />

626


GENERO, ETNICIDAD:UN BINOMIO QUE TEJE SOLIDARIDADES EN LAS<br />

MIGRACIONES ESTACIONALES, AL NOROESTE DE MÉXICO<br />

627<br />

Sara María Lara Flores<br />

Instituto de Investigaciones Sociales-UNAM<br />

México<br />

Este artículo analiza las condiciones en las que se da la incorporación de las mujeres en un mercado de trabajo generado por<br />

un sector de la economía que se orienta a la exportación de productos agrícolas de exportación.<br />

Este sector genera una fuerte demanda de mano de obra a nivel nacional, 1 provocando importantes flujos de migración en los<br />

cuales las mujeres intervienen de una manera significativa. En su interior opera un conjunto de empresas exportadoras de productos de<br />

“lujo” (hortalizas frescas o congeladas, frutas exóticas y flores), principalmente para las clases medias o altas de los países desarrollados. 2<br />

No obstante, la competencia que estas empresas enfrentan en el mercado internacional, frente a los productores norteamericanos o de<br />

otros países que producen el mismo tipo de productos, 3 las ha llevado a fundamentar sus ventajas en una flexibilidad “salvaje” (De la<br />

Garza, 1993). Es decir, basan su competitividad tanto en el mejoramiento tecnológico como en una estricta división sexual y étnica del<br />

trabajo, lo que les permite el uso de una mano de obra disponible, barata y en ocasiones calificada.<br />

Las preguntas que surgen al respecto se interrogan sobre el carácter de las relaciones sociales que sustentan esta organización<br />

del trabajo que permite la incorporación de mujeres e indígenas en condiciones de desigualdad. Es decir:<br />

- ¿cómo se pone en marcha una organización del trabajo que clasifica a los trabajadores y crea entre ellos jerarquías basadas en<br />

distinciones de sexo y étnicas?,<br />

- ¿cómo una organización que no utiliza la violencia directa, 4 sino en forma de amenazas, engaños, presión y hostigamiento,<br />

pero sobre todo de menosprecio, desata los peores sentimientos vis a vis del “otro”, entre los trabajadores y trabajadoras?,<br />

violencia que estalla en forma de cascada especialmente en el espacio doméstico y contra las mujeres indígenas.<br />

La hipótesis que sustenta esta contribución es que esa organización se apoya sobre relaciones sociales de dominación. Una<br />

dominación que se inscribe en los cuerpos sexuados y etnicizados de los trabajadores, lo que legitima no sólo el lugar que ocupan en el<br />

trabajo sino en la sociedad. La transversalidad de las relaciones de clase y de género (Kergoat, 1992), con relaciones étnicas, e incluso<br />

generacionales (estas últimas que no he explotado en este texto) crean las condiciones para una mejor utilización de la fuerza de trabajo,<br />

sin recurrir directamente a la violencia física.<br />

El análisis en términos de género y de etnia (y no de raza) 5 supone un enfoque relacional que subraya el carácter fundamentalmente<br />

social de las distinciones basadas en el sexo o en la diferencia sexual, de la misma manera que la etnicidad refiere a la comprensión de<br />

un proceso social de designación, atribución y apropiación de identidades que mantiene de manera duradera la diferencia entre<br />

“nosotros” y “los otros”, sustentando las bases de la constitución de desigualdades, jerarquías y discriminaciones (Goldberg-Salinas,<br />

1996). 6<br />

No obstante, surge una tercera pregunta: ¿cómo las mujeres indígenas, que constituyen el eslabón más frágil de la cadena de<br />

dominaciones de clase, de género y étnicas, logran generar espacios de interacción entre mujeres de diferentes grupos étnicos?<br />

La hipótesis que sostenemos es que en un contexto de desestabilización creado por las migraciones, ciertas mujeres logran<br />

crear un contrapoder que no tienen en sus pueblos a través de la organización del espacio doméstico y logran convertirse en sujetos<br />

colectivos (Kergoat, 2001).<br />

Este trabajo se apoya sobre una investigación cuantitativa y cualitativa llevada a cabo por un equipo de investigadores del IIS-<br />

UNAM en las empresas agrícolas ubicadas en cuatro estados del noroeste de México (Sinaloa, Sonora, Baja California Sur y Jalisco).<br />

De un lado, saca conclusiones de una encuesta aplicada a 8 117 hogares de jornaleros agrícolas migrantes, lo que reagrupa a 32 573<br />

personas. 7 De otro lado, se basa en entrevistas a profundidad con trabajadores y trabajadoras, empresarios y contratistas, así como en<br />

observación de campo.


1.- Distribución desigual de las mujeres en la economía<br />

La distribución de las mujeres en la economía, y particularmente en el sector agrícola muestra de entrada una desigualdad en relación a<br />

los hombres. Mientras la población masculina se distribuye de manera equilibrada entre el sector de servicios (32%), la industria<br />

manufacturera (27.1%), el sector agropecuario (27%) y el comercio (13.4%), la población femenina se ocupa fundamentalmente en el<br />

sector servicios (45.7%), en el comercio (26.3%), seguidos de la industria manufacturera (21%) y de la agricultura (9.2%). Sin<br />

embargo, debe agregarse que una tercera parte de estas mujeres laboran en servicios personales, como empleadas domésticas, y en el<br />

comercio informal (De la Garza, Lara y Torres, 2001). 8<br />

En la agricultura la participación de las mujeres no es significativa (9.2%) en comparación con los hombres (27%), pero,<br />

además, su incorporación se da básicamente como trabajadoras agrícolas (90%); sólo 10% de la población femenina ocupada son<br />

agricultoras. En cambio, en el caso de los hombres hay una participación considerable (46%) como agricultores, si bien más de la mitad<br />

son también trabajadores. 9 Sin embargo, como vemos en el cuadro n°1, 66% de las trabajadoras agrícolas laboran sin recibir ningún<br />

pago. Este tipo de trabajo se da en el marco de la ayuda familiar o como intercambio de fuerza de trabajo en la comunidad, lo que permite<br />

resolver la falta de dinero para cultivar las parcelas. 10 El resto de las mujeres trabajadoras son jornaleras agrícolas (23%) y una mínima<br />

parte son empleadas de una agroempresa (1%).<br />

Cuadro 1<br />

Tipo de actividad Total Total Hombres % Total<br />

Mujeres<br />

Total<br />

Productores<br />

3 756 988 3 566 739 46% 190 249 10%<br />

Propietarios 1 151 693 1 085 471 14% 66 222 4%<br />

Ejidatarios 1 797 454 1 734 437 22% 63 017 3%<br />

Otros 808 841 746 831 10% 61 010 3%<br />

Total<br />

Trabajadores<br />

5 708 186 4 145 164 54% 1 563 022 90%<br />

Jornaleros 2 516 113 2 126 010 27% 390 103 23%<br />

Empleados 163 936 153 416 3% 10 520 1%<br />

trabajadores s/pago 3 028 137 1 865 738 24% 1 162 399 66%<br />

TOTAL SUJETOS<br />

AGROPECUARIOS<br />

9 465 174 7 711903 100 1 753 271 100<br />

Encuesta Nacional de Empleo 1999, Instituto Nacional de Geografía y Estadística, México.<br />

La importancia del trabajo asalariado entre la población dedicada a las actividades agropecuarias, y especialmente el trabajo no pagado<br />

que asciende a más de tres millones de personas, entre hombres y mujeres, se explica por la crisis y pauperización de la economía<br />

campesina. 11 A la vez, permite entender la magnitud y las condiciones de incorporación de esta población a las migraciones nacionales<br />

e internacionales (Encuesta Nacional de Empleo, 1999). 12<br />

De acuerdo con la Encuesta a Hogares de jornaleros agrícolas migrantes en regiones hortícolas de México, 13 observamos<br />

que la presencia de las mujeres en estos flujos migratorios es significativa, representan prácticamente la mitad del total de los migrantes<br />

(46%), mientras la población infantil, masculina y femenina (de 0 a 14 años), asciende a 40%, lo que muestra que la mayor parte de la<br />

migración es de carácter familiar. Sin embargo, es importante mencionar que esta participación de mujeres y de niños no supone un<br />

simple acompañamiento de los hombres sino su incorporación al trabajo asalariado. Las mujeres representan 41.3% del total de los<br />

migrantes que trabajan y los niños 21.8%.<br />

628<br />

%<br />

. e tF


2.- División sexual y étnica: del trabajo y del espacio social<br />

Pero, ¿dónde trabaja esa población y en que condiciones viven y laboran?<br />

La mayor parte de la población que migra trabaja en la cosecha de diferentes productos: café, tabaco, algodón, caña de azúcar.<br />

Pero la demanda más importante se concentra en las empresas que producen frutas, flores y hortalizas de exportación.<br />

En México existen aproximadamente 1 400 empresas que exportan frutas y hortalizas, 300 de las más importantes se ubican<br />

en el noroeste del país. Estas empresas provocan una demanda temporal de poco más de 300 000 trabajadores, la mayoría migrantes<br />

originarios del sur del país, lo que significa desplazamientos de hasta 3000 kilómetros.<br />

La gestión de la mano se ha convertido en piedra angular del éxito de dichas empresas en el mercado internacional. Si bien utilizan<br />

tecnologías de punta (biotecnología, informática, cultivo bajo invernadero, etc.) ellas descansan su competitividad en una flexibilidad<br />

“salvaje” con el fin de lograr la completa disponibilidad de la mano de obra en términos de horarios y de ritmos de trabajo, así como para<br />

adaptarse a las distintas tareas que se requieren cotidianamente. 14 A la vez, logran contar con una mano de obra calificada, o al menos<br />

especializada, en relación al uso de las nuevas tecnologías que se han puesto en marcha (invernaderos, hidroponía, biotecnología,<br />

sistemas computarizados de empaque, etc.), dispuesta a implicarse con las necesidades empresa. 15 Es decir, se trata de una flexibilidad<br />

que se pone en marcha bajo condiciones de empleo muy precarias y con una rígida división sexual y étnica del trabajo.<br />

De esta manera, se genera una demanda selectiva de mano de obra para cada etapa del proceso productivo. De un lado, los<br />

migrantes: hombres, mujeres y niños, son contratados para laborar en las cosechas de diferentes productos y para otras tareas en pleno<br />

campo. En cambio, la población local que vive en la región, es solicitada para trabajar: las mujeres en los invernaderos, empaques y<br />

fábricas de procesamiento de productos, y los hombres (que representan la minoría), para realizar tareas de supervisión del personal,<br />

manejo y reparación de maquinaria o en otras tareas de apoyo.<br />

No obstante, esta división entre población local y migrante es mucho más que una distribución de tareas, es una división sexual y<br />

étnica del trabajo sustentada en relaciones de poder que se extiende a todos los ámbitos del trabajo y de la vida cotidiana. Son relaciones<br />

de desigualdad que se expresan en las formas de contratación y de remuneración, en los servicios y prestaciones, en las condiciones de<br />

trabajo y de vida que se les ofrecen a los distintos tipos de trabajadores.<br />

Así, mientras la población local accede directamente a las empresas para solicitar empleo, los migrantes tienen que pasar por una<br />

cadena de intermediarios y enganchadores que los traslada de sus lugares de origen a las empresas, quienes los engañan sobre las<br />

condiciones en las que serán empleados; mientras los primeros laboran en espacios cerrados y con ciertas condiciones de higiene, los<br />

segundos laboran a campo abierto, en contacto con la tierra, pesticidas y agroquímicos, bajo el sol y con un calor extremo (40° en<br />

promedio), sin contar con sanitarios ni agua potable para beber; mientras los locales viven en sus propias casas, los migrantes viven en<br />

campamentos al interior de las empresas y no pueden salir libremente de allí sin un permiso previo; mientras los primeros pueden decidir<br />

cuándo dejan de trabajar para una empresa, los segundos viven bajo la amenaza de trabajar para la empresa, al menos hasta pagar el gasto<br />

del traslado desde sus lugares de origen; mientras los hijos de los locales pueden ir a la escuela, los de los migrantes tienen que trabajar<br />

para sobrevivir; mientras los primeros pueden ejercer sus derechos cívicos y participar en la vida política de la región y del país, los<br />

migrantes resultan como extranjeros en su propio país y sus derechos cívicos son restringidos. 16<br />

Los campamentos se encuentran en propiedad privada de las empresas. Son lugares cerrados y vigilados por un trabajador de<br />

confianza (“campero”) del patrón, con el fin de impedir que se vayan los trabajadores; están construidos con materiales precarios<br />

(cartón, láminas, plásticos), no tienen suficientes WC, lavaderos, ni regaderas para toda la población que alojan (pueden tener hasta 5<br />

000 personas), no cuentan con agua corriente por lo que tienen que transportarla en cubetas hasta sus cuartos. Las familias de cada grupo<br />

étnico viven allí en hacinamiento, en cuartos de 3 por 3 metros, con pisos de tierra. Para sobrevivir, se ven obligados a hacer sus compras<br />

en una tienda manejada por el propio “campero”, quien les vende los productos más caros que en el comercio local. No tienen fácil<br />

acceso a servicios médicos ni de educación. 17<br />

El conjunto de los trabajadores está sometido a condiciones de trabajo precario, puesto que los salarios son bajos y no hay<br />

ninguna forma de protección laboral (no se firman contratos, se escamotean las prestaciones sociales o no se otorgan). La mayoría son<br />

pagados por tarea, lo que hace que los trabajadores laboren bajo ritmos de trabajo extenuantes, algunos con exigencias de calificación<br />

e implicación. Esta situación crea un clima de tensión y desata una cadena de violencias entre los trabajadores.<br />

Entre la población local las mayores tensiones se generan entre mujeres y hombres. Las mujeres laboran principalmente en los<br />

invernaderos, empaques o fábricas de procesamiento (productos enlatados), y aunque en su trabajo descansa la calidad de los productos<br />

que se exportan, opera un mecanismo sexista de naturalización de sus competencias, 18 lo que permite que la calificación con que cuentan<br />

y la implicación que les solicitan las empresas, no les sean reconocidas, ni pagadas. Las mujeres aparecen como naturalmente más<br />

capacitadas para estas labores, y más dispuestas a colaborar, aun si ellas se han calificado en las empresas y en el hogar (Lara, 1993,<br />

1998). 19 Soportan una imposición que las coloca en desventaja en relación con la población masculina encargada de asignarles cuotas<br />

de trabajo, vigilar la calidad de los productos seleccionados y embalados, así como decidir las tasas de remuneración para cada una de<br />

ellas, sobre todo cuando se trata de otorgar premios o de estímulos por su productividad.<br />

Sin embargo, la población migrante es la que se encuentra en una situación de mayor vulnerabilidad e indefensión. Bajo<br />

argumentos racistas, hombres, mujeres y niños migrantes son tratados con menosprecio por la población local. Desde que salen de sus<br />

pueblos, los enganchadores o intermediarios los transportan en las peores condiciones a las zonas de trabajo (en camiones viejos, sin<br />

629


darles de comer, sin ofrecerles agua); en los campos en los cuales laboran son los capataces, empleadores, tractoristas y choferes, y en<br />

los campamentos, en donde viven, son los “camperos”, quienes les dan los peores tratos y amenazas.<br />

Los migrantes realizan las tareas más rudas en el campo, reciben los salarios más bajos, son sometidos a las peores<br />

condiciones de trabajo, pero sobre todo a las peores condiciones de vida. A su condición de clase se agrega una etnización, que provoca<br />

actitudes racistas, de menosprecio y discriminación, bajo el pretexto de que son indios, lo que equivale a ser: sucios, flojos, ignorantes<br />

y violentos.<br />

Participan de una organización del trabajo que, si bien, no se ejerce como violencia directa en contra de ellos, entendida como<br />

agresiones físicas hacia los trabajadores (Dejours, 1999), funciona como un sistema de dominación que se inscribe en los cuerpos<br />

sexuados o etnicizados de los trabajadores, legitimando las diferencias sociales. Dicha violencia que se expresa en todos los ámbitos de<br />

la vida de los trabajadores, incluyendo el espacio doméstico.<br />

La violencia directa estalla fácilmente y en sus formas más brutales entre los propios trabajadores migrantes de diferente<br />

origen étnico. Por lo regular se genera por el hacinamiento en el cual viven, y por los escasos recursos que existen en los campamentos<br />

(los cuartos para vivir, el agua, la leña, los baños, etc.). Es esta violencia la que alimenta el estigma del indígena, como persona agresiva<br />

que requiere de un estricto control en los lugares de trabajo y en los campamentos. A la vez, se expresa fácilmente en el espacio<br />

doméstico, como violencia familiar, principalmente en contra de las mujeres y de los niños.<br />

De acuerdo con nuestra encuesta vemos que las mujeres se incorporan al trabajo en los campos agrícolas, entre los 6 y los 14<br />

años (25%), en una mayor proporción que los hombres (19%); 40% de las mujeres no sabe leer ni escribir, mientras el porcentaje se<br />

reduce a 29% para los hombres; el promedio de años de asistencia a la escuela, para quienes han tenido una instrucción, se reduce a 4<br />

años en el caso de las mujeres y a 5 años para los hombres. La mayoría de las mujeres que tienen hijos los llevan al campo y tienen que<br />

ocuparse de ellos mientras trabajan. Pero, además, en los campamentos son ellas y sus hijos quienes se encargan de acarrear el agua<br />

desde los tanques de almacenamiento hasta los cuartos, de buscar y cargar la leña, de cocinar, de lavar la ropa, de asear los cuartos y los<br />

espacios comunes de los campamentos (duchas, letrinas, lavaderos, etc.), así como de cuidar a niños y enfermos.<br />

Cuadro 2<br />

GRUPO DE EDAD HOMBRES MUJERES TOTAL<br />

De 6 a 11 años 1 212 9% 1 149 12% 2 361<br />

De 12 a 14 1 367 10% 1 283 13% 2 650<br />

De 15 a 19 3 136 23% 2 251 28% 5 387<br />

De 20 a 24 2 360 18% 1 420 15% 3 780<br />

De 25 a 29 1 395 10% 952 10% 2 347<br />

De 30 a 34 989 7% 708 7% 1 697<br />

De 35 a 39 826 6% 640 6% 1 466<br />

De 40 a 44 679 5% 409 4% 1088<br />

De 45 a 49 505 4% 263 3% 768<br />

De 50 y más 978 7% 390 4% 1 368<br />

Total que trabaja 13 447 100% 9 465 100% 22 912<br />

Fte. Encuesta a hogares de jornaleros agrícolas migrantes en México, 2001.<br />

Eso explica seguramente que, a partir de los 50 años, la participación de las mujeres en el trabajo se reduzca casi a la mitad<br />

(4%) en comparación con los hombres (7%) lo que da cuenta de un sobreuso del cuerpo femenino, que las lleva a un envejecimiento<br />

prematuro.<br />

Las mujeres indígenas constituyen el eslabón que soporta la cadena en donde se entrecruzan las desigualdades de clase, de<br />

género y étnicas. Como trabajadoras y como indígenas ellas están sometidas a una discriminación en el ámbito laboral, a la vez que<br />

630


enfrentan una violencia física brutal en el ámbito doméstico, de parte de sus padres, hermanos o maridos, como mujeres. Pese a que se<br />

incorporan al trabajo desde niñas, en condiciones de mayor desventaja que los hombres, siguen siendo las responsables de un trabajo<br />

doméstico realizado en condiciones de extrema precaridad. Estas desventajas muestran cómo las relaciones de dominación de clase y de<br />

etnia no sólo se entrecruzan con las relaciones de género, sino se multiplican y encadenan en forma de cascada.<br />

3.- Violencia y solidaridad<br />

La situación migratoria, como lo señala Catherine Quiminal 20 desestabiliza profundamente a las familias y los itinerarios individuales.<br />

Son situaciones de desestabilización justamente porque ponen en tensión las relaciones de sexo al interior de los grupos domésticos y<br />

entre los individuos.<br />

Esta desestabilización, en el caso de la población que analizo, se produce por las tensiones y agresiones que sufre desde el<br />

momento mismo en el que sale sus pueblos de origen hasta que llega a las empresas a laborar y a vivir, se mantiene a todo lo largo de<br />

los ciclos migratorios y muchas veces continúa cuando regresa a sus lugares de origen. Pero, a la vez, desestabiliza las relaciones<br />

sociales al interior de las familias y de los grupos étnicos.<br />

El hecho migratorio, en condiciones de pobreza extrema, supone en sí una agresión porque se trata de un desplazamiento<br />

forzado por la necesidad. La pobreza extrema en la que viven, y la falta de alternativas de empleo remunerado en sus lugares de origen,<br />

los lleva a desplazarse cientos de kilómetros para lograr emplearse de manera temporal, por periodos de seis a ocho meses. Un buen<br />

número de familias no tienen otra mejor opción en sus pueblos, por lo que continúan en un ciclo de migración circular y sin retorno, lo<br />

que significa que pasan su vida viviendo en estos campamentos.<br />

Sin embargo, las situaciones migratorias también contribuyen a la puesta en marcha de nuevas formas de solidaridad que<br />

rebasan en mucho la familia. De acuerdo a nuestra encuesta observamos que la mayoría de los migrantes se desplazan en familias para<br />

vivir: sea en hogares nucleares compuestos por parejas solas o con sus hijos (42%), o en hogares extensos, es decir en pareja con<br />

algunos otros miembros de la familia o de la comunidad (12.3%), mientas que la migración individual de hombres y mujeres solas es<br />

menor (20%). Sin embargo, resulta interesante ver que surgen nuevas configuraciones 21 provocadas por la migración, de hogares con<br />

jefatura de hombres o mujeres solos, acompañados de sus hijos, de otros familiares o miembros de la comunidad (18.8%).<br />

Estos hogares generan una solidaridad entre parientes lejanos y rituales, 22 así como con otros miembros de la comunidad<br />

étnica. Se trata de configuraciones creadas para migrar, potencializando los recursos de cada individuo y de cada grupo familiar.<br />

Funcionan como estructuras cambiantes y flexibles a lo largo del ciclo migratorio, y permiten reunir los precarios recursos económicos<br />

y culturales de que cada familia o individuo dispone para migrar. Por ejemplo, si bien son los patrones que envían el camión que<br />

transporta a los migrantes desde sus comunidades de origen, 23 esta forma de organización les ayuda a reunir dinero para los gastos que<br />

tienen que hacer mientras reciben su primer salario; permite reunir ciertos utensilios que les servirán en los campamentos para cocinar<br />

y dormir; pero, sobre todo les permite aprovechar las ventajas que unos tienen por hablar mejor el español o por saber escribir, leer y<br />

contar. Lo que resulta un capital importante cuando se trata de una población con un porcentaje importante de analfabetas (34.%).<br />

Estas configuraciones ayudan a los indígenas a enfrentar, de manera colectiva, las distintas contingencias y agresiones que se<br />

suceden desde el momento en el que salen de la comunidad hasta que regresan a ella, o hasta que encuentran otro lugar de residencia<br />

alternativo. Son, a la vez, la base de una etnicidad en positivo que funciona como estrategia de identificación y de reconocimiento de un<br />

“nosotros” que busca la valorización de un grupo sometido a un proceso de etnización discriminatorio. Sin embargo, al interior de dichas<br />

configuraciones se reproduce una división sexual del trabajo que deja a cargo de las mujeres las tareas domésticas del grupo. A la vez,<br />

a su interior pueden surgir rivalidades por las mujeres y conflictos que desencadenan una violencia que se expresa en contra de ellas.<br />

Observamos una participación de mujeres en la jefatura de algunos de estos hogares, 24 así como en la migración femenina<br />

individual (10% del total de los hogares), lo que resulta relevante porque es un fenómeno nuevo en el contexto de las migraciones rurales<br />

en México. También, porque muestra la pérdida de poder económico y del rol de proveedor de los hombres, lo que pone en peligro los<br />

fundamentos del control sobre las mujeres (Doumit el Khoury, 1996). Como jefas de hogar no sólo pueden disponer de un ingreso<br />

propio sino administrar por sí mismas los recursos de su trabajo y del de sus hijos, a la vez que les permite escapar al control y la<br />

violencia ejercida por sus padres, sus maridos, la familia y el grupo étnico. Si bien supone otras contingencias por el hecho de atreverse<br />

a migrar solas.<br />

La cadena de abusos y violencias múltiples afecta principalmente a las mujeres y a sus hijos. Son abusos de poder que ejercen<br />

hombres y mujeres locales contra ellas, por ser indígenas. Son abusos que llegan a la violencia física y sexual de parte de otros<br />

trabajadores porque son mujeres, pero son abusos que encuentran sus peores expresiones de parte de los miembros de sus grupos<br />

propios étnicos o de su familia.<br />

En este contexto, paradójicamente los campamentos se convierten en un espacio de interacción para ciertas mujeres. En la<br />

medida en que además de trabajar son ellas las responsables de las tareas domésticas, las mujeres intervienen en la gestión de los<br />

campamentos.<br />

Con ayuda de la “trabajadora social” 25 que atiende el campamento, se crean “comités” de organización para el abasto de leña,<br />

631


la distribución del agua potable, el uso de lavaderos y de letrinas, así como la limpieza de áreas comunes. Pero lo que resulta<br />

especialmente revelador, es la capacidad de participar en la organización de guarderías, en donde las mujeres que trabajan dejan a sus<br />

hijos más pequeños mientras van a los campos. Estas guarderías, que pagan en parte las empresas y en parte los trabajadores, son<br />

atendidas por mujeres de diferentes grupos étnicos, que hablan distintas lenguas indígenas. Su organización supone un esfuerzo de<br />

conciliación, tanto para atreverse a dejar a sus hijos (situación que no es común en el caso de las mujeres campesinas), como para<br />

solventar las diferencias que entre grupos étnicos.<br />

También, a través de estos comités, las mujeres no sólo logran negociar con los patrones ciertas mejoras en las condiciones<br />

de vida de los campamentos, como la instalación de escuelas y de centros de salud, sino que consiguen que las empresas les paguen a<br />

ellas directamente su salario y el de sus hijos. Esto les permite una mejor utilización de su salario en el bienestar de la familia, e impide<br />

que los hombres lo cobren po0r ellas y lo gasten en alcohol o en juegos de azar. Puede decirse que, a través de su participación en los<br />

comités ciertas mujeres logran un contrapoder que no tienen en sus pueblos.<br />

Los pueblos o comunidades son espacios de poder masculino que se sustenta en la posesión y gestión de la tierra,<br />

en la organización de la vida religiosa, política y civil. En ellos, las mujeres tienen pocas posibilidades de intervenir, en la media en que<br />

por lo regular están excluidas como agricultoras. Las bases de este poder masculino se debilitan en los campamentos en tanto espacios<br />

domésticos de reproducción social. Las condiciones de precariedad y la disputa por los recursos más elementales para la sobrevivencia,<br />

llevan a interactuar a las mujeres de diferentes etnias y a rebasar sus “diferencias culturales”, lo que resulta ser una experiencia<br />

interesante, aun si poco generalizada.<br />

Conclusiones<br />

En esta comunicación me ha interesado mostrar que la incorporación de la mano de obra femenina en el sector agrícola de exportación<br />

en México pone en juego desigualdades de sexo y, a la vez, moviliza desigualdades étnicas entre trabajadores y trabajadoras.<br />

Esta realidad remite a un orden social estructurado por el entrecruzamiento de relaciones sociales de género y étnicas, como<br />

relaciones de dominación y de violencia al interior de una clase social. Sin embargo, no sólo muestra la desigualdad en la que se insertan<br />

hombres y mujeres al trabajo, sino las jerarquías que se producen en el ámbito de lo social, entre unos y otras, evocando una pertenencia<br />

étnica.<br />

Las migraciones, que genera esta agricultura de exportación en el país, crean situaciones de ruptura, de movimientos y de<br />

cambios que modifican en diferentes direcciones tanto las relaciones de género, como las relaciones interétnicas. Las mujeres indígenas<br />

que migran solas, en familia, o en grupos creados ad hoc para ir a trabajar a las empresas agrícolas, se sitúan en la convergencia misma<br />

de estas relaciones, soportando una fuerte carga de violencia racista y sexista.<br />

Resulta interesante que ciertas mujeres generan espacios de participación que muy seguido pierden al regresar a sus pueblos<br />

de origen. Situadas en un contexto de extrema precarización, ellas intervienen como sujetos activos de los cambios provocados por las<br />

migraciones. La manera como ellas transforman las relaciones sociales movilizando solidaridades y redes sociales que rebasan en<br />

mucho el ámbito de la familia y del grupo étnico, podría decirse que constituye el paso entre el sujeto y el colectivo (Kergoat, 2001).<br />

632


Bibliografía<br />

C. de Grammont, Hubert (2001), “El campo mexicano a fines del siglo XXI)”, Revista Mexicana de Sociología, núm.4, 2001.<br />

Cook, Roberta (2000), “Tendencias internacionales en el sector de frutas y hortalizas” en Rita Schwentesius y Manuel Angel Gómez-<br />

Cruz (coord.), Internacionalización de la horticultura, México, CIESTAAM-Mundi Prensa.<br />

Corona, Rodolfo (2000), “Medición de la migración interestatal, Demos, núm. 13.<br />

De la Garza, Enrique, Sara Lara y José Luis Torres (2001), “Flexibilidad y trabajo femenino en la industria manufacturera de México”,<br />

Revista Mexicana de Sociología, vol.63, núm.2, pp.113-136.<br />

Dejours, Christophe (1999), Violence ou domination? en Travailler, núm. 3.<br />

Doumit el Khoury, Arlene ( ), “Les femmes chefs de famille. État de la recherche et réflexions méthodologiques” en Jeanne Bisilliat<br />

(dir.) Femmes du Sud, chefs de famille, Paris, Ed. Karthala.<br />

Heinen, Jacqueline (2001), “Introduction”, Cahiers du Genre, núm.30.<br />

Hirata, Helena “Nouvelles technologies, qualification et división sexuelle du travail: une perspective comparative” en XII Congreso<br />

Mundial de Sociología, Madrid.<br />

Encuesta Nacional de Empleo 1999, México, INEGI.<br />

Kergoat, Danièle (1980), Les ouvrières, Paris, Le Sycomore.<br />

(1998), “La división du travail entre le sexes”, in D. Kergoat, J. Boutet, H. Jacot, D. Linhart (dir.), Le monde du travail, Paris,<br />

L’Harmattan, pp. 165-180, 1998.<br />

(2001) “El syllogisme de la constitution du sujet sexué féminin. Le cas des ouvrères spécialisés”, Travailler, Núm.6.<br />

Lara, Sara (1993), “Le conditionnement des produits maraîchers dans l’état de Sinaloa: ou comment une solidarité se faconne à travers<br />

solidarités et conflits”, en Cahiers du GEDISST, núm. 7.<br />

(1998), Nuevas experiencias productivas y nuevas formas de organización flexible del trabajo en la agricultura mexicana, México,<br />

Procuraduría Agraria-Juan Pablos.<br />

Oso, Laura y Christine Catarino (1996) “Femmes chefs de menaje et migration” en Jeanne Bisilliat (dir.) Femmes du Sud, chefs de<br />

famille, Paris, Ed. Karthala.<br />

Pook, Cynthia (2001), “Vulnerabilidad laboral y vulnerabilidad metodológica: Desafíos del nuevo escenario”, en Ximena Días y<br />

Eugenia Hola (ed.), Trabajo, flexibilidad y Género: tensiones de un proceso, Santiago de Chile, Centro de Estudios de la Mujer.<br />

Rigoni, Isabelle (2000), “Introduction” , in I. Rigoni (dir.) Turquie, les mille visages. Polítique, religión, femmes, immigration, Paris,<br />

Editions Syllepse.<br />

Rogerat, Chantal (1996), “Marché du Travail et Genre”, en Les cahiers du Mage, núm. 3.<br />

SECOFI (Secretaría de Comercio y Fomento Industrial) (1999), Directorio de empresas agroexportadoras, México, documento<br />

inédito.<br />

Taguieff, P.A. (1987),La force du préjugé: essai sur le racisme et ses doubles, Paris, Galimard (Éditions la Découverte).<br />

633


1 La migración a las regiones hortícolas a nivel nacional involucra aproximadamente a un millón de personas. La que se dirige al<br />

noroeste del país puede llegar a 300 000 personas.<br />

2 A nivel nacional se calcula que existen 1 454 empresas agroexportadoras, 300 de las cuales se ubican en el noroeste del país, doce son<br />

de capital norteamericano (SECOFI, 1999). Sin embargo, las más grandes son empresas mexicanas que se asocian con capital<br />

norteamericano, en forma de joint venture, para la exportación de una gran diversidad de hortalizas tanto por su cantidad (una centena<br />

de productos), como por la calidad (orgánicas, baby vegetables, hortalizas para comidas exóticas, etc.). En promedio, estas empresas<br />

cuentan con un área de mil a dos mil hectáreas, una pequeña parte en invernadero; tienen con sus propios empaques (pakings) tanto del<br />

lado mexicano como en Estados Unidos, utilizan las tecnologías más modernas en el ramo y controlan toda la cadena de enfriamiento<br />

y de distribución hasta que el producto llega al consumidor. Operan en México, Estados Unidos, Canadá y Centro América (C. de<br />

Grammont, 2002).<br />

3 Estados Unidos es el principal país exportador de frutas y hortalizas frescas, principalmente de manzanas, naranjas, uvas, tomates,<br />

lechugas, brócoli y cebollas. A la vez, es el principal importador mundial. Siguen en importancia los Países Bajos, España (como líder<br />

mundial en la exportación de cítricos), Italia y Francia (R. Cook, 2000)<br />

4 De acuerdo con Dejurs: La violence suppose un comportement, c’est-à-dire un ensemble d’ actes, de gestes –ou de décisions ayant<br />

pour conséquences des actes ou des gestes- dûment observables.<br />

Une conduite est violente lorsqu’elle met à execution une intention de destruction ou d’alteration de l’objet ou de la personne désignée<br />

pou cible. Il y a donc intention, mais pas seulement intention. Il y a aussi mis en acte (1999: pp.15).<br />

5 En el caso de México, el concepto de “raza” como distinción fenotípica de individuos de diferente color de piel no tiene la misma<br />

aplicación que en otros países (como en Norteamérica o en Brasil), en tanto que la mayor parte de la población puede considerarse<br />

racialmente “mestiza”.. Sin embargo, la diferencia entre “mestizo” o “ladino” e “indio”, supone un racismo entendido en un sentido<br />

amplio que no se refiere a la raza biológica sino a las actitudes, comportamientos y prácticas sociales discriminatorias (Taguieff, 1987).<br />

6 Anette Goldberg-Salinas señala bien cómo se trata de un proceso que mantiene de manera duradera estas distinciones aun cuando<br />

cambien las diferencias que tanto para el “nosotros” como para los “otros” justifiquen y legitimen esas distinciones (1996, pp.85).<br />

7 Encuesta a hogares de jornaleros agrícolas migrantes en regiones hortícolas de México, Hubert C. de Grammont y S. Lara (2001),<br />

Instituto de Investigaciones Sociales de la UNAM., México.<br />

8 En cambio, los hombres se ubican en servicios profesionales y en el comercio formal.<br />

9 Hablamos de 5.7 millones de trabajadores agropecuarios a nivel nacional, 4.2 son hombres y 1.5 mujeres.<br />

10 En las comunidades campesinas se acostumbra el intercambio de bienes y de trabajo, como un sistema tradicional de “dando y dando”<br />

(llamado tequio o mano vuelta) lo que permite poner en producción una parcela con el mínimo de inversión monetaria. El porcentaje de<br />

hombres en este renglón también es importante (45% del total de hombres trabajadores).<br />

11 El 70% son originarios de tres de estados de la república (Guerrero, 29.3%; Oaxaca, 24.2% y Veracruz, 17.6%) ubicados al sur del<br />

país. El 36.5% del total de esa población habla alguna lengua indígena local y pertenecen principalmente a once grupos étnicos<br />

diferentes.<br />

12 Se calcula en 4 millones la población que migra hacia Estados Unidos y en 2.5 millones que migran internamente, de los cuales más<br />

de un millón circulan en las distintas regiones hortícolas del noroeste del país. Cabe señalar que se trata de estimaciones en la medida que<br />

las estadísticas no logran captar la magnitud y frecuencia de la migración temporal.<br />

13 C. De Grammont y Lara, op.cit.<br />

14 Por ejemplo, después de cosechar los trabajadores pueden ser solicitados para transportar productos químicos, las mujeres para hacer<br />

la limpieza de los empaques o en las oficinas de la empresa.<br />

15 Por ejemplo, extender horarios de trabajo, proponer mejoras en las formas de trabajo para hacerlas más eficientes, calificarse en<br />

nuevas actividades, etc.<br />

16 Por ejemplo, no pueden participar en elecciones locales y muchas veces se les impide participar en votaciones nacionales por no ser<br />

residentes del lugar, tampoco pueden participar abiertamente en la formación de sindicatos o de asociaciones con fines de defensa de sus<br />

derechos como ciudadanos y como trabajadores. Los sindicatos son patronales y no funcionan en la práctica.<br />

17 Como los campamentos se encuentran situados en la propiedad privada de los patrones, ha sido necesario llegar a acuerdos con ellos<br />

para que permitan la entrada de servicios públicos de salud (Instituto Mexicano del Seguro Social) de educación (Secretaría de<br />

Educación Pública), legales (Policía, Ministerio Público, Comisión Nacional de Derechos Humanos, etc.) y otros, para dar atención a<br />

los trabajadores.<br />

18 Véase: Kergoat, 1982; Hirata, 1990 , entre otros trabajos en donde han analizado la calificación como construcción social sexuada.<br />

19 En otros textos he mostrado cómo la mayoría de las empacadoras son hijas y nietas de otras empacadoras que las han entrenado en<br />

el oficio de empacar, lo que requiere de un fuerte aprendizaje para seleccionar los productos por tamaño, color, grado de maduración.<br />

Las empresas aprovechan estas competencias adquiridas previamente y las ponen al servicio de los procesos de reestructuración.<br />

20 En “Evolution de la production des connaissances sur les femmes immigrés en France et en Europe (Entretien avec Anne Golub,<br />

Mirjana Morokvasic y Catherine Quiminal)” en Migrations & Societé, vol: IX, núm 52 , 1997.<br />

21 El concepto de configuraciones utilizado por Jacqueline Heinen (2001) hace referencia al pensamiento de Norbert Elias, para ilustrar<br />

la complejidad de vínculos que unen al individuo el conjunto social en el que vive y actúa. Así mismo, para dar cuenta de las formas<br />

cambiantes que toman las familias y para significar que las relaciones entre ellas se establecen en términos de interacción.<br />

22 El parentesco ritual es el que se realiza a partir de un lazo simbólico establecido a partir de un compadrazgo, sea a través de un acto<br />

religioso: (un bautizo, comunión, boda); sea por algún ritual propio de la organización de una comunidad (mayordomías, fiestas de los<br />

santos patrones, etc.).<br />

23 Se trata de distancias de mil a tres mil kilómetros de carreteras y transportes en mal estado, lo que puede significar viajes de hasta tres<br />

días.<br />

24 Tomando en cuenta la polémica que existe para definir lo que significa “jefaturas de hogar”, me parece pertinente considerar a las<br />

“jefaturas femeninas” como aquellas en donde las mujeres tienen la autoridad sobre el conjunto de sus miembros, toman, en lo esencial,<br />

las decisiones relativas a los gastos cotidianos y a largo plazo, al mismo tiempo que asumen la contribución económica principal para<br />

solventar los gastos del hogar (Doumit et Khoury, 1996)<br />

25 La “trabajadora social” es contratada por la empresa para manejar los conflictos que surgen en los campamentos en relación a los<br />

servicios. A través de ellas, se permite que las instituciones de salud y de educación entren a los campamentos a atender a la población<br />

allí alojada. Su papel en la vida cotidiana de los campamentos es central.<br />

634


PADRÃO E COMPORTAMENTO DA MÃO-DE-OBRA FEMININA NA REGIÃO<br />

ATINGIDA PELA FEBRE AFTOSA NO MUNICÍPIO DE JÓIA - RS<br />

INTRODUÇÃO<br />

Tanice Andreatta 1<br />

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural/PGDR<br />

UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.<br />

A agricultura familiar é um tema que têm engajado pesquisadores de diferentes ramos do conhecimento – economistas,<br />

historiadores, antropólogos, sociólogos, etc. No âmbito da agricultura familiar, a produção leiteira tem se constituído numa atividade<br />

estratégica para sustentabilidade dos sistemas de produção. Por ser uma atividade que agrega um bom nível de renda por unidade de área<br />

e por Ter um mercado efetivo, a produção de leite é, seguramente, indicada para as explorações agrícolas de menores dimensões, que<br />

pela sua estrutura dependem de atividades mais intensivas para assegurar níveis mínimos de renda para garantir sua reprodução (Basso<br />

e Neto, 1999).<br />

A tradição do trabalho familiar e, conseqüentemente, as relações de gênero na agricultura são discussões que vem crescendo<br />

entre os pesquisadores do mundo rural ao longo dos anos. Diversos estudos em relações de gênero que examinaram a divisão do<br />

trabalho por sexo na agricultura indicam que as mulheres, estão em condição de subordinação e seu trabalho normalmente aparece como<br />

“ajuda”, mesmo quando estas trabalham tanto quanto os homens ou executam a mesma atividade que eles (Brumer, 1996).<br />

Em agosto de 2000, bovinos contaminados com o vírus da febre aftosa foram detectados no Município de Jóia, região<br />

noroeste do estado. Os procedimentos de combate e controle da doença implicaram na eliminação do rebanho de 543 famílias de<br />

agricultores de uma região do Município composta basicamente por pequenas unidades de produção, onde a área média das mesmas<br />

é de 20,2 hectares (Ministério da Agricultura e Abastecimento do Brasil: 2001). Dos 10.393 animais abatidos, 75.9% correspondiam a<br />

bovinos, sendo a maioria destinada à atividade leiteira; atividade esta desenvolvida com participação efetiva de mão-de-obra feminina.<br />

Neste sentido, o objetivo deste trabalho consiste numa comparação entre o período anterior e posterior à febre aftosa, do<br />

padrão e comportamento da mão-de-obra feminina nas unidades de produção diretamente impactadas pela doença no município de Jóia/<br />

RS.<br />

RELAÇÕES DE GÊNERO NA AGRICULTURA FAMILIAR E ATI<strong>VI</strong>DADE LEITEIRA<br />

O reconhecimento da agricultura familiar como um setor estratégico da economia brasileira se deu hegemonicamente a<br />

partir da década de 80 e a evidência disso foi o crescente número de estudos sobre o assunto. A partir dos anos 90, as propostas de<br />

desenvolvimento do meio rural brasileiro cada vez mais passaram a reafirmar a importância do papel estratégico do fortalecimento da<br />

agricultura familiar como parte deste processo de transformações (Bianchini e Bitencourt, 1997). Este reconhecimento trouxe consigo<br />

um contingente de novos elementos para discussão do mundo rural; neste ambiente despontam uma série estudos sobre relações de<br />

gênero, que analisam o papel da mulher nas atividades rurais.<br />

No Rio Grande do Sul, Brumer (UFRGS) tem se destacado em pesquisas envolvendo relações de gênero. A mesma autora<br />

(1996), citando Hartmann (1976) aponta que a estratificação social emergiu juntamente com “o aumento da produtividade, da especialização<br />

e da complexidade da sociedade”. A partir disso, três conseqüências básicas emergem da hierarquização e ‘diminuição social das<br />

mulheres’. A primeira pode ser atribuída à perda do controle dos meios de subsistência – função de sua responsabilidade nas sociedades<br />

mais primitivas – devido às transformações nos métodos de produção. A segunda conseqüência foi que em substituição a um trabalho<br />

de característica social e focalizado no grupo de parentesco, seu trabalho passou a ser privado e centrado na família. A terceira foi que<br />

alguns homens asseguraram seu poder sobre os outros, e como forma de compensação, elevaram a posição dos homens subordinados<br />

no interior de sua família e utilizaram a família nuclear contra os grupos de parentesco. A partir disso, o controle sobre as mulheres é<br />

mantido diretamente nas famílias pelos homens, mas ao mesmo tempo, é apoiada pelas instituições sociais, como a religião e o Estado.<br />

De acordo com a autora acima citada, ainda hoje, praticamente em todas as sociedades existem diferenciação e<br />

complementaridade de papéis entre homens e mulheres. Estudos sobre a situação da mulher revelam a existência de variações consideráveis<br />

quando estas são comparadas entre países, ou entre regiões diferentes de um mesmo país.<br />

No entanto, embora haja variações significativas nestas diferentes sociedades quanto à participação da mulher na divisão do<br />

trabalho produtivo “...existe muita semelhança entre elas no que se refere à sua participação nas atividades de reprodução, tanto as<br />

ligadas ao ciclo curto, tais como trabalho doméstico e as atividades diárias de manutenção, como as relacionadas como relacionadas ao<br />

ciclo longo, geracional, tais como reprodução biológica e educação das crianças” (Brumer, 1996 p. 40).<br />

Ainda de acordo com autora acima referida, diversos estudos que examinaram a divisão do trabalho por sexo na agricultura<br />

permitem a conclusão que as mulheres 2 , estão em condição de subordinação e seu trabalho normalmente aparece como “ajuda”, mesmo<br />

635


quando estas trabalham tanto quanto os homens ou executam a mesma atividade 3 que eles. Quanto à divisão do trabalho que se<br />

estabelece entre homens e mulheres na atividade rural, dois aspectos precisam ser considerados. O primeiro é que a unidade de produção<br />

familiar constitui-se a partir da reunião de esforços de todos os membros da família, com vistas ao benefício de todos, havendo uma<br />

aproximação entre unidade de produção e unidade de consumo 4 . O segundo, resume-se ao fato de que se vive numa sociedade<br />

paternalista, onde é atribuída ao homem a responsabilidade de manutenção do grupo familiar.<br />

Ao voltar-se para o interior da unidade de produção agropecuária, a produção leiteira é uma das atividades que mais<br />

demandam mão-de-obra feminina. Para evidenciar a importante participação da mulher nesta atividade, Brumer (1999) cita Denardi<br />

(1995), que analisa a atividade leiteira na região Sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Para este:<br />

“Excluindo a mesorregião Norte do Paraná, que apresenta condições distintas, a maioria dos produtores de<br />

leite sul-brasileiros são agricultores familiares, com sistemas de produção razoavelmente diversificados.<br />

Entre 60% e 70% da área agriculturável é utilizado com culturas anuais e a venda de leite representa entre<br />

10% e 40% da receita bruta total dos estabelecimentos. Nestes, trabalham em média 3 a 4 pessoas e, mais<br />

da metade do trabalho na produção de leite é realizada pelas mulheres. Observações empíricas indicam que<br />

os sistemas de produção mais eficientes apresentam duas características: a) a pecuária leiteira é uma<br />

atividade extensiva ou semi-extensiva que resulta muitas vezes em menor rendimento físico-produção/<br />

vaca/ano; B) que a mão-de-obra é predominantemente familiar e, não raras vezes, quem trabalha na<br />

produção de leite são mulheres, crianças e velhos, isto é, forças ‘marginais’ ou ‘não-transferíveis” (Denardi,<br />

1995 apud Brumer, 1999. p.233/234).<br />

CONTEXTUALIZAÇÃO E MÉTODO<br />

O presente estudo foi desenvolvido na região diretamente impactada pela febre aftosa no município de Jóia. Localizado no<br />

Planalto Médio, Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, o mesmo possui extensão territorial de 1.272 km 2 e a população total<br />

é 8.270 habitantes. 76,15% da população é considerada rural e depende basicamente de rendas oriundas de atividades agropecuárias. De<br />

acordo com censo agropecuário 95/96 5 as terras estão distribuídas em 1.144 estabelecimentos 6 agropecuários.<br />

A febre aftosa ficou circunscrita a uma região do município típica de pequenas unidades de produção com área média de<br />

20,2 hectares e caracterizada predominantemente por agricultura familiar. Parte das famílias atingidas corresponde a agricultores<br />

descendentes dos imigrantes que colonizaram a região de matas do Município ainda início do século XX e, parte é correspondente a<br />

famílias de quatro assentamentos instalados no Município a partir de 1995.<br />

Como procedimento de contenção e erradicação da doença, foram conduzidos ao sacrifício sanitário no município, entre os<br />

meses de agosto e outubro de 2000, 11.067 animais passíveis de contaminação pela doença (bovinos, ovinos, suínos, caprinos); 7.898<br />

dos animais sacrificados correspondiam a bovinos destinados basicamente à produção de leite.<br />

A população considerada e passível de análise são as 543 famílias diretamente atingidas pela febre aftosa. A amostra 7 é<br />

constituída de 28 unidades de produção selecionadas a partir de informações de técnicos da EMATER 8 atuantes no Município,<br />

cadastros das famílias que tiveram animais abatidos e cadastros de produtores de leite obtidos junto às industrias processadoras que<br />

coletam o produto no município. As entrevistas foram feitas entre os meses de abril e junho de 2002. As entrevistas efetuadas nas<br />

unidades de produção continham questões fechadas e abertas elaboradas para dar conta da estrutura agro-econômica, das formas e<br />

estratégias de reprodução e, o que nos interessa diretamente neste estudo, da participação da mulher na atividade leiteira em dois<br />

momentos, quais sejam: antes e depois da febre aftosa.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

A monocultura do binômio trigo/soja amplamente predominante na região de Jóia nos anos 80, já impunha ao produtor e<br />

às próprias cooperativas uma instabilidade muito grande em virtude dos riscos de frustração de safras. Para fazer frente aos sinais<br />

nefastos da monocultura, as cooperativas, principalmente a Cotrijuí 9 , passaram a alertar e deflagrar programas de alternativos para a<br />

agricultura e pecuária, principalmente para pequenos produtores que vinham ficando à margem do progresso geral de acumulação de<br />

capital (Ruckert, 1985). Neste sentido, a Cotrijuí passa a incentivar seus associados à produção de leite à medida que torna-se sóciafundadora<br />

da CCGL 10 , que instala uma planta beneficiadora de leite e queijos em Ijuí. (Ruckert, 1985).<br />

A produção de leite no Município se deu inicialmente de maneira simples e rudimentar, no entanto, gerava uma renda<br />

considerada satisfatória. O comum era a ordenha de três a cinco vacas, alimentadas basicamente a pasto e sem maiores preocupações<br />

sanitárias, seja com os animais ou instalações. O leite era acondicionado em geladeiras ou freezers e dispostos para o recolhimento e<br />

transporte pela indústria processadora em tarros. O manejo e ordenha dos animais eram tarefas atribuídas basicamente as mulheres e<br />

filhos(as) menores; neste sentido as mulheres tornaram-se pioneiras na atividade leiteira no Município. Já os homens dedicavam-se<br />

basicamente à lavoura e a esta também eram direcionados os investimentos.<br />

636


Instigada a falar da trajetória da atividade leiteira na respectiva unidade de produção, relata uma agricultora do município:<br />

“No início começamos com a ordenha de duas a três vacas de raça mista (15 a 20 litros de leite/dia), com o dinheiro do leite recebido<br />

no final do mês comprava-se medicamentos e algumas sacas de ração para os animais, fazia-se o rancho para o mês, comprava-se<br />

roupa para a família toda, material escolar para as crianças, e ainda, alguns eletrodomésticos para a casa” (Pesquisa de campo,<br />

2002).<br />

Com a intensificação da crise agrícola no final da década de 80 e as dificuldades impostas pela queda dos preços da soja,<br />

a produção leiteira, por ser uma atividade intensiva em mão-de-obra e viável em pequenas áreas de terra passou a se constituir numa boa<br />

alternativa de agregação de renda mensal, principalmente para os pequenos produtores do município. Na década de 90 houve também<br />

mudanças significativas na Cadeia Agroindustrial do Leite. Os dois fatores acima enumerados forçaram de certo modo, a especialização<br />

e produção em escala de leite; neste sentido, a atividade passou a envolver mais efetivamente a mão-de-obra masculina. Com o uso de<br />

áreas de pastagens, cultivo de milho para silagem e mesmo para o manuseio dos animais e da matéria-prima, o homem, com exceção do<br />

período intenso do plantio e colheita de grãos, passou a participar de forma mais efetiva da produção, principalmente em sistemas de<br />

produção em que atividade leiteira é do tipo semi-intensivo ou intensivo.<br />

Ao longo dos anos a produção de leite aumentou consideravelmente. Em 1993 a coleta de leite formal no município foi de<br />

2.615 11 mil litros, alcançando 3.078 mil litros no ano de 1995. No ano de 1999, a coleta de leite formal no município foi de 7, 8 mil litros.<br />

Em 2001 a produção formal de leite foi de 8,0 mil litros, superando inclusive, o período anterior à aftosa. Com exceção de 2000 (7,1 mil<br />

litros), ano da incidência da febre aftosa, a captação anual de leite no município apresentou um comportamento ascendente ao longo dos<br />

anos em relação à produção. No entanto, se a produção de leite foi levemente afetada e vem se recuperando consideravelmente, a<br />

incidência da febre aftosa acentuou em Jóia a redução do número de produtores envolvidos na atividade (Andreatta, 2002).<br />

Entre as Unidades de Produção de Jóia diretamente atingidas pela febre aftosa, foi possível identificar seis Sistemas de<br />

Produção, todos eles com presença de produção leiteira, sendo a mesma em níveis extensivo, semi-intensivo ou intensivo. A partir das<br />

entrevistas efetuadas junto às unidades de produção observou-se que em 23 delas (82% da amostra), a atividade leiteira era desenvolvida<br />

com a participação efetiva de mão-de-obra feminina, variando em intensidade de acordo com grau de especialização dos sistemas de<br />

criação. Das vinte e três UPAs que desenvolviam a produção de leite com participação de mão-de-obra feminina, em 11,0 % delas, além<br />

das funções tradicionais delegadas à mulher na unidade de produção, as mesmas ainda exerciam outra atividade complementar<br />

remunerada (Gráfico 1).<br />

Fonte: Pesquisa de campo – 2002<br />

Gráfico 1 - Participação da mão-de-obra feminina na atividade leiteira anterior à febre aftosa - 2000<br />

18%<br />

11%<br />

Com mão-de-obra feminina<br />

Sem mão-de-obra-feminina<br />

mão-de-obra feminina e renda não-agrícola<br />

Passados praticamente dois anos da incidência da doença, entre as vinte e oito unidades de produção estudadas, desesseis<br />

(57%) retornaram à atividade leiteira. Entre estas, três (19%) atualmente desenvolvem a produção leiteira sem a participação da mulher;<br />

três (19%) além de executar atividades ligadas à produção leiteira, as mulheres desenvolvem paralelamente outra atividade remunerada<br />

e, dez (62%) entre das UPAs estudadas que retornaram a atividade leiteira as mulheres participam efetivamente das atividades ligadas<br />

à produção de leite (Gráfico 2).<br />

637<br />

71%


19%<br />

Fonte: Pesquisa de Campo – 2002<br />

Gráfico 2 -Comportamento da mão-de-obra feminina em UPAs que retornaram à<br />

atividade leiteira após a Febre Aftosa - 2002<br />

19%<br />

UPAs que retornaram à atividade leiteira c/ participação da mulher<br />

UPAs que retornaram à atividade leiteira com mão-de-obra exclusivamente masculina<br />

UPAs que retornaram à atividade leiteira c/ mão-de-obra masculinae a mulher exerce outra atividade remunerada<br />

No entanto, doze (43%) das famílias observadas não voltaram a desenvolver atividade leiteira em suas respectivas<br />

unidades de produção. Entre os motivos atribuídos a este comportamento, conforme informações dos agricultores entrevistados,<br />

estão os baixos preços do leite pago ao produtor, os custos da produção e a incerteza quanto à Portaria 56 (Portaria que trata da<br />

granelização do leite nas UPAs). Entre as causas secundárias, permeiam a idade avançada de alguns produtores, bem como o<br />

direcionamento dos recursos das indenizações para o pagamento de dívidas ou para outras atividades produtivas.<br />

Entre as doze UPAs avaliadas que aboliram a atividade leiteira de seus sistemas de produção, em duas (17%) as mulheres<br />

passaram a desenvolver atividades alternativas a produção de leite; duas (17%) das que não retornaram à produção de leite desenvolviam<br />

a atividade sem a participação feminina anterior à febre aftosa, nas demais oito (66%), as mulheres não implementaram nenhum tipo de<br />

atividade remunerada que permitisse contribuir na renda familiar após a incidência da doença (Gráfico 3).<br />

Pesquisa de Campo – 2002<br />

Gráfico 3- Comportamento da mão-de-obra feminina em UPAs que não retornaram à<br />

atividade leiteira após a Febre Aftosa - 2002<br />

17%<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

17%<br />

UPAs que não retornaram à atividade leiteira e mulheres não adotaram outra atividade remunerada<br />

UPAs que não retornaram à atividade leiteira e mulheres adotaram outra atividade remunerada<br />

UPAs não retornaram à atividade leiteira sem presença de mão-de-obra feminina no período anterior à aftosa<br />

Nas unidades de produção estudadas o comportamento quanto à divisão do trabalho converge para resultados obtidos na<br />

grande maioria dos estudos de gênero na agricultura, ou seja, aos homens cabem as tarefas da lavoura e outras que envolvem<br />

equipamentos mecanizados, ou ainda atividades que demandam mais força física. Já as mulheres, além de dar conta das atividades<br />

domésticas, educação dos filhos, horta e cuidados de pequenos animais, de um modo geral participam efetivamente da atividade leiteira<br />

e ainda, desenvolvem outros tipos de atividades remuneradas.<br />

A partir da síntese das entrevistas é possível inferir que o inicío da atividade leiteira para comercialização no município está<br />

intimamente associado a uma iniciativa feminina no interior das unidades de produção. A partir da reconstituição da trajetória das<br />

mesmas é evidente que produção de leite nos durante os anos 70/80, era coordenada e executada basicamente pelas mulheres, bem como,<br />

era das mesmas a decisão e gestão da renda oriunda da atividade. Já na década de 90, a atividade cresceu em escala, tornou-se de certo<br />

modo mais especializada e ganhou o reforço da mão-de-obra masculina, o mesmo acontecendo em relação à gestão da produção e renda<br />

ligadas à atividade.<br />

638<br />

66%<br />

62%


No entanto, a incidência da febre aftosa em 2000 impôs uma série de dificuldades, principalmente aos agricultores<br />

diretamente atingidos pelos procedimentos de erradicação e contenção da doença, que além de terem os animais suscetíveis abatidos,<br />

ficaram impossibilitados de exercer atividades que envolviam estes animais por seis meses.<br />

Passados quase dois anos da incidência da doença, muitas unidades de produção optaram pelo não-retorno à atividade<br />

leiteira. Nas unidades de produção que não retornaram à atividade, as mulheres, com exceção daquelas que adotaram atividades<br />

remuneradas alternativas, acabaram de certa forma, perdendo a participação na renda familiar e uma certa autonomia que a atividade lhes<br />

assegurava. Se por um lado reduziu a quantidade de trabalho, pois a produção leiteira exige dedicação e é dispendiosa em termos de mãode-obra;<br />

ao mesmo tempo, de um modo geral, as mulheres das unidades de produção consideradas no estudo se ressentem da ausência<br />

do valor mensal que elas parcialmente administravam, sem ter que consultar os demais membros da família.<br />

639


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ANDREATTA, T. Febre Aftosa no Rio Grande do Sul: impactos sócio-econômicos sobre agricultores familiares produtores de leite no<br />

município de Jóia. In: <strong>VI</strong> Colóquio de Transformaciones Territoyales. Montevidéo-UY, 2001. Publicado em CD. 15 p.<br />

BASSO, D. ; SILVA NETO, B. Controvérsias sobre profissionalização e desenvolvimento da agricultura: o caso dos produtores de<br />

leite no Rio grande do Sul. Indicadores Econômicos - FEE. Porto Alegre: FEE, março de 1999, v. 26, n°4, p. 232-246.<br />

BITTENCOURT, Gilson Alceu e BIANCHINI, Valter. Agricultura familiar na região sul: relatório síntese. FAO/INCRA. Projeto UTF/<br />

BRA/036/BRA. Brasília: 1997. 96 p.<br />

BRUMER, Anita. Mulher e desenvolvimento rural. In: PRESVELOU, Cio; ALMEIDA, Francesa Rodrigues; ALMEIDA, Joaquim<br />

(Orgs). In: Mulher, Família e desenvolvimento rural. Santa Maria: Ed. da UFSM, 1996. 15 p.<br />

BRUMER, Anita. Qual a ‘vocação’ produtiva da agricultura familiar? Globalização, produção familiar e trabalho na agricultura familiar.<br />

In: TEDESCO, José Carlos. (org.). Agricultura familiar: realidades e perspectivas. Passo Fundo: EDIUPF, 1999. P. 219-49.<br />

BRUMER, Anita. Gênero e agricultura: a situação da mulher na agricultura do Rio Grande do Sul. XXII Congresso Internacional da<br />

Latin American Studies Association (LASA), Hyatt Regency Miami: 16-18 de março de 2000.<br />

BRUMER, Anita. Transformações e Estratégias Produtivas na Produção Familiar na Agricultura Gaúcha. Produção Familiar, Processos<br />

e Conflitos Agrários, Porto Alegre: Cadernos de Sociologia, Vol 6, p. 89-111, 1994.<br />

BRUMER, Anita; FREIRE, Nádia Maria Schuch. O trabalho da mulher na pequena produção agrícola. Revista do Instituto de Filosofia<br />

e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: ano XI,XI, p.305-322, 1983/1984.<br />

COTRIJUÍ. Demonstrativo de produção e número de produtores de leite - 1993/2001 – Unidade de Jóia. Jóia: 2001. 08 p.<br />

GEHLEN, Ivaldo. Impactos sociais das transformações tecnológicas sobre os produtores familiares de leite no Sul do Brasil. In:<br />

Globalisation, Localisation and Sustainable Livelihoods.. Edited by Reidar Almas and Geoffrey Lawrence. 2002.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico. Rio de Janeiro: Instituto Brasileira<br />

de Geografia e Estatística, 2000.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Agropecuário 95/96. Rio d Janeiro: Instituto<br />

Brasileira de Geografia e Estatística, 1995. Disponível na internet: http://www.ibge.gov.br/. Consultado em 15.12.2001<br />

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO – MAA. Emergência sanitária no estado do Rio Grande do Sul: relatório<br />

sobre as ações executadas para eliminação dos focos de febre aftosa ocorridos no ano de 2000. Brasília: 2000. 63 p.<br />

PARMALAT. Demonstrativo de produção e número de produtores de leite 1998/2001. Augusto Pestana: 2001<br />

PARMALAT. Entrevista com Everson Beschorner: Responsável técnico da atividade leiteira. Augusto Pestana: Nov. de 2001<br />

RIO GRANDE DO SUL. Emater. Relatório de Atividades EMATER/RS na Campanha de Combate à Febre Aftosa em Jóia. 2001. 06<br />

p.<br />

RUCKERT, Aldomar Arnaldo. O Município de Jóia no Contexto das Transformações da Agropecuária no Planalto: um Estudo numa<br />

Região de Transição Campo-Colônia no Rio Grande do Sul . Rio Claro: Departamento de Planejamento Regional do Instituto de<br />

Geociências e Ciências Exatas. UNESP, 1985. Relatório de Estágio de Especialização em Desenvolvimento Rural. 89 p.<br />

TORRENS. José Carlos S., O Lugar da Agricultura Familiar e das Relações De Gênero no Desenvolvimento Sustentável. 2000.<br />

DESER - Departamento de Estudos Sócio-econômicos Rurais. Disponível na Internet: http://www.deser.org.br extraído 06.12.2001.<br />

1Economista e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural/PGDR – Universidade Federal do Rio Grande<br />

do Sul. Email: tanice.andreatta@ufrgs.br.<br />

2 Conforme a autora, também crianças e jovens estão em posição de subordinação na agricultura.<br />

3Tal situação foi verificada por Brumer e Freire em pesquisa realizada em Cruzeiro do Sul (RS): “Na divisão de trabalho que se<br />

estabelece entre os sexos, ao homem cabe geralmente a exclusividade de desenvolver serviços que requerem maior força física, tais<br />

como, lavrar, cortar lenha, fazer curvas de nível, derrubar árvores e fazer cerca. Também cabe ao homem o uso do maquinário agrícola<br />

mais sofisticado, tal como o trator. À mulher, de um modo geral, compete executar tanto atividades mais rotineiras, ligadas à casa ou ao<br />

serviço agrícola, como as de caráter mais leve. Entre as tarefas em geral executadas pelas mulheres, estão praticamente todas as<br />

atividades domésticas, o trato dos animais, principalmente os menores (galinhas, porcos e animais domésticos), a ordenha das vacas e<br />

o cuidado do quintal, que inclui horta, pomar e jardim (1983/1984: p.318).<br />

4 Esta relação é muito bem explicitada nas Teorias de Chayanov.<br />

5 A partir de 1995 houve no município um processo intenso de distribuição de terras pela Política de Reforma Agrária. Este<br />

procedimento resultou no assentamento de 512 famílias de agricultores oriundas de diversas regiões do Rio Grande do Sul. EMATER/<br />

JÓIA, 2001.<br />

6 20,1% destes possuem menos de 10 hectares, 65,6% estabelecimentos possuem de 10 a menos de 100 hectares, 4,37% dos<br />

estabelecimentos possuem de 100 a menos de 200 hectares; 4,81% possuem de 200 a menos de 500 hectares e 4,90% dos estabelecimentos<br />

possuem mais de 500 hectares (Censo Agropecuário 95/96).<br />

7 Como os dados compreendem uma pesquisa maior, sobre sistemas de produção, foi optado pela amostra do tipo não-extratificada ou<br />

não-aleatória. Esta metodologia é muito usada em pesquisas de Sistemas Agrários e Sistemas de produção Esta opção foi feita para dar<br />

conta da diversidade existente na região que uma amostragem aleatória poderia deixar de incluir “tipos” significativos.<br />

8 Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural<br />

9 Cooperativa Tritícola Serrana Ltda.<br />

10 Cooperativa Central Gaúcha de Leite<br />

11 Nesta informação não está incluída a produção leiteira da Varig Agropecuária, que sozinha produzia uma média diária de 9.500 litros<br />

de leite.<br />

640


PODER E IGUALDADE: AS RELAÇÕES DE GÊNERO ENTRE SINDICALISTAS<br />

RURAIS - CHAPECÓ/SC 1<br />

641<br />

Valdete Boni /UFSC<br />

O campo, no Brasil, passou por significativas mudanças nas últimas três décadas. A modernização da agricultura alterou<br />

também as relações sociais no meio rural.<br />

Os pequenos proprietários, arrendatários e meeiros sofreram um intenso processo de empobrecimento por não poderem<br />

acompanhar os preços dos novos insumos, enquanto a mecanização das lavouras substituiu a mão-de-obra, fazendo com que os<br />

assalariados formassem contingentes de desempregados. Isso se refletiu na organização de vários movimentos sociais. Entre eles,<br />

destacam-se o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento dos Sem Terra (MST), o Movimento de Mulheres<br />

Trabalhadoras Rurais (MMTR), que tem o nome de Movimento de Mulheres Agricultoras – MMA- em Santa Catarina, e o<br />

movimento de Oposições Sindicais aos Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs) existentes.<br />

O oeste de Santa Catarina foi palco do surgimento destes movimentos. Apoiados pelo trabalho das alas Progressistas da<br />

Igreja Católica, por meio das Comunidades Eclesiais de Base e das Pastorais Rurais, as oposições sindicais foram conquistando vários<br />

sindicatos considerados conservadores. Entre eles o STR de Chapecó, conquistado em 1982, um dos maiores sindicatos de trabalhadores<br />

rurais do estado.<br />

A sindicalização das trabalhadoras foi uma das principais bandeiras da campanha da oposição sindical em Chapecó, uma vez<br />

que até o início dos anos 80 eram poucas as mulheres rurais associadas a sindicatos da categoria. Destas associadas, muitas eram<br />

viúvas. As casadas, na sua maioria, eram tidas como dependentes do marido, enquanto as solteiras eram dependentes do pai. Poucas<br />

insistiam em se associar, sendo que os sindicatos não incentivavam a filiação das mulheres. Elas não eram consideradas agricultoras,<br />

eram “esposas de agricultor”.<br />

Uma vez conquistada a direção do STR de Chapecó em 1982, foi promovida uma campanha para a sindicalização da mulher.<br />

Logo depois foram feitas campanhas também pela documentação, ou seja, as mulheres foram incentivadas a requerer Carteira de<br />

Identidade, Título de Eleitora, CPF e a também insistir para que seu nome constasse no bloco de produtor, documento que registra as<br />

transações comerciais da propriedade. Isso fazia com que a mulher fosse reconhecida enquanto trabalhadora rural, garantindo seus<br />

direitos à aposentadoria, a salário maternidade e auxílio doença. Direitos já garantidos às trabalhadoras urbanas. Em 1983 o Movimento<br />

de Mulheres Agricultoras (MMA) é criado definitivamente, já tendo hoje, portanto, 19 anos de existência.<br />

Ainda na década de oitenta, mesmo com a forte presença feminina na luta pelos direitos dos trabalhadores e o avanço do<br />

MMA, as mulheres detinham poucos cargos nas direções dos STRs e estes eram, geralmente, menos importantes que os ocupados<br />

pelos homens.<br />

A partir dos anos noventa foram surgindo, com mais intensidade, os questionamentos de gênero e uma participação mais<br />

efetiva, por parte das mulheres, nas direções. Em 1996, no STR de Chapecó, uma mulher ocupava o cargo de presidente. Na direção<br />

executiva, ela era a única liberada 2 . Outros STRs da região tinham mulheres como presidentes ou em outro cargo na direção executiva,<br />

entre eles os de São Carlos, Quilombo, Marema, Nova Itaberaba e Coronel Freitas.<br />

Mesmo as mulheres ocupando a presidência dos sindicatos, isto não significa que estes tenham mudado totalmente suas<br />

práticas discriminatórias. Mostrar a situação vivida por elas é um dos principais objetivos deste trabalho.<br />

O Sindicato de Trabalhadores Rurais de Chapecó e Região representa cinco municípios: Chapecó, com uma população de<br />

aproximadamente 130 mil habitantes; Nova Itaberaba, Guatambú, Cordilheira Alta e Arvoredo, nos quais a população não passa de<br />

cinco mil habitantes 3 . Nos municípios menores a economia predominante é a agricultura, com destaques para avicultura, suinocultura<br />

e fumicultura. Em Chapecó encontram-se as agroindústrias.<br />

A atual diretoria executiva do sindicato é composta por cinco homens e seis mulheres. Mas toda a direção do sindicato<br />

compreende mais de cinqüenta agricultores e agricultoras dirigentes nos cinco municípios. Tanto os dirigentes homens como as<br />

mulheres vieram de outras militâncias, ou seja, de outros movimentos sociais. Em geral todos começaram pela Igreja. Mas hoje, pelo<br />

menos grande parte deles acumulam em seus currículos vários movimentos diferentes, partidos políticos, Igreja (catequese, Pastorais,<br />

ministros de Eucaristia), cooperativas de crédito, associações de agricultores, grupos de cooperação, conselhos municipais.<br />

A Construção de um Novo Sindicalismo no Campo<br />

O surgimento, no campo, dos movimentos de oposição sindical no final da década de 1970 coincide com o surgimento e o<br />

fortalecimento de outros movimentos sociais ligados ao campo. Não apenas o movimento de oposição sindical, mas os demais<br />

movimentos tiveram em sua organização a presença de lideranças católicas. Setores progressistas da Igreja Católica foram formando


essas lideranças para que pudessem assumir a coordenação dos movimentos. Esse processo era parte das ações de grupos da Igreja<br />

identificados com a Teologia da Libertação 4 , que buscava a construção de um sindicalismo “autêntico”, combativo, envolvido com as<br />

bases (SCHMITT: 1996).<br />

Esse novo sindicalismo procurou romper com a postura assistencialista e paternalista dos sindicatos tradicionais ou<br />

“acomodados”. Enquanto o antigo priorizava audiências com o governo e também alianças feitas apenas pela direção, o novo preferia<br />

a mobilização dos agricultores e o engajamento do maior número possível de trabalhadores.<br />

Na região Oeste de Santa Catarina, o movimento de oposição sindical e também os outros movimentos surgiram no final de<br />

década de 70 e início dos anos 80. Vale destacar que a base de seu surgimento foram os demais movimentos, principalmente o<br />

Movimento dos Sem Terra (MST) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), apoiados pela Comissão Pastoral da Terra<br />

(CPT) e pela Diocese de Chapecó.<br />

A Igreja na região oeste, como em outros locais, teve papel fundamental na organização dos movimentos sociais. A Igreja<br />

Católica, a partir do Concilio Vaticano II e dos Encontros Episcopais de Medellín e Puebla, desencadeou um movimento de renovação<br />

de suas práticas e concepções. Na América Latina esse movimento foi bastante forte. Na região Oeste de Santa Catarina essas idéias<br />

foram largamente difundidas, principalmente após a chegada do bispo Dom José Gomes à Diocese de Chapecó em 1968.<br />

Em 1982, a oposição sindical conquistou a direção do sindicato através de eleições. A partir de então, o Sindicato de<br />

Trabalhadores Rurais de Chapecó passou a se organizar com base nas propostas de sua campanha. Assim, começou a promover<br />

ações, mobilizações e manifestações em favor dos preços dos produtos agrícolas, contra os altos juros dos financiamentos e a política<br />

agrícola como um todo.<br />

Com a fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1983, a maioria dos sindicatos da região, que haviam se<br />

reestruturado segundo os moldes do sindicalismo autêntico e de base – entre eles o STR de Chapecó – filiaram-se à entidade,<br />

acrescentando assim mais força às suas reivindicações. Os dirigentes sindicais do campo tiveram – e ainda tem – uma participação<br />

expressiva na CUT. No início esse fator foi alvo de intensas discussões. A discussão girava em torno da categoria de trabalhadores<br />

rurais. Segundo algumas posições, os pequenos proprietários poderiam ser enquadrados como empresários rurais e assim não<br />

poderiam ser representados pela entidade. Esta postura foi vencida com o tempo, também por terem sido as oposições sindicais rurais<br />

responsáveis pela consolidação da CUT no campo.<br />

Não podemos esquecer da participação e influência que teve o Partido dos Trabalhadores (PT). Muitos dos novos<br />

dirigentes eram ligados às Pastorais da Igreja e ao PT. Na verdade foram, muitas vezes, as próprias lideranças destes movimentos que<br />

estruturaram o Partido dos Trabalhadores na região. Tanto que várias lideranças do partido destacaram-se nos movimentos sociais<br />

ligados ao campo.<br />

Os movimentos sociais do Oeste de Santa Catarina, nos quais se incluem as Oposições Sindicais, fazem parte de um<br />

movimento mais amplo chamado, pelos cientistas sociais, de Novos Movimentos Sociais. Segundo Scherer-Warren (1987: 42), os<br />

novos movimentos sociais são movimentos contestadores da realidade excludente gerada pelo modelo capitalista que assumem uma<br />

forma de participação mais igualitária, democrática. Eles também “representam um novo momento dentro da história do campesinato<br />

brasileiro, o qual passa a romper com alguns dos seus principais limites no que diz respeito à sua participação política” (POLI,<br />

1999: 165).<br />

Eles também apontam para a construção de um novo projeto para a sociedade, um projeto alternativo que vai sendo<br />

elaborado com a vivência dos próprios militantes.<br />

Gênero e Sindicalismo<br />

A participação das mulheres na força de trabalho no setor industrial aumentou entre as décadas de 70 e 80. Junto com este<br />

crescimento, houve também um aumento significativo da sindicalização das mulheres ainda na década de 70. Esse crescimento pode<br />

ser explicado por vários motivos. O primeiro deles diz respeito à renovação na prática sindical que se deu a partir de meados de 1970.<br />

Outro fator determinante na sindicalização das mulheres foi o surgimento de movimentos de mulheres, muitos dos quais surgiram por<br />

volta de 1975, ano considerado como Internacional da Mulher pela ONU. Entre eles podemos citar o Movimento das Mulheres pela<br />

Anistia, movimentos de lutas por berçários e creches, grupos de mães, movimentos de bairros, grupos de mulheres organizados pela<br />

Igreja através das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) e demais grupos que levantaram a problemática dos direitos de homens e<br />

mulheres. Além disso, os serviços de assistência prestados pelos sindicatos também podem ter influenciado na sindicalização das<br />

mulheres, principalmente no período anterior a 1978, quando o sindicalismo brasileiro passou por uma séria transformação nas<br />

práticas de atuação, como será dito adiante.<br />

No período de 1970-1980, as trabalhadoras tiveram importante participação nas lutas sindicais que vão desde as diferentes<br />

formas de resistências interna nas fábricas até as mobilizações e greves (SOUSA-LOBO: 1991). Mas com relação à participação na<br />

vida sindical (reuniões, direção) não avançou muito, mesmo no chamado “novo sindicalismo”. No final dos anos 70 e início dos anos<br />

80, o sindicalismo no Brasil passou por intensas transformações. Greves, grandes mobilizações, novas formas de luta, se tornaram<br />

práticas desse novo sindicalismo, que se denominava classista, autêntico e combativo. Isso contribuiu intensamente na criação, em<br />

1980, do Partido dos Trabalhadores (PT) e, em 1983, da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Somente com a consolidação do<br />

novo sindicalismo enquanto ator coletivo nos anos 80 é que as questões de gênero passaram a ter importância no movimento sindical<br />

(ARAÚJO e FERREIRA:2000).<br />

642


Quanto às trabalhadoras rurais, pode-se dizer que sua participação nos sindicatos e também nos demais movimentos e<br />

organizações teve início no mesmo período em que se organizaram os movimentos e as aposições sindicais, na década de 1980. O<br />

principal movimento que colocou em discussão a temática de gênero em Santa Catarina foi o MMA (Movimento de Mulheres<br />

Agricultoras)..<br />

O passo inicial para a criação do MMA foi dado no ano de 1981, no distrito de Nova Itaberaba, pertencente a Chapecó,<br />

durante a comemoração do Dia do Colono em 25 de julho. Neste mesmo evento surgiu também a proposta de chapa de oposição para<br />

o Sindicato de Trabalhadores Rurais do município. Como vemos, um movimento é ligado ao outro, pelo menos no seu início, uma vez<br />

que tiveram na Igreja a sua raiz organizacional e que os interesses que os movem são semelhantes. Entre a equipe que articulava a<br />

oposição ao sindicato haviam mulheres “que na oportunidade levantaram a questão da impossibilidade da sindicalização da mulher<br />

agricultora, propondo que essa questão fosse assumida pela chapa de oposição” (POLI:1999). A chapa, então, levantou a bandeira<br />

da sindicalização da mulher agricultora, o que gerou uma discussão maior em torno da participação da mulher, ganhando mais força<br />

nas comunidades e trazendo mais mulheres para esse debate.<br />

Com a vitória da oposição nas eleições de 1982, as mulheres puderam, enfim, associar-se ao sindicato. O direito à sindicalização<br />

foi mais um estímulo à construção do movimento de mulheres.<br />

No ano de 1983, o MMA surge enquanto movimento. Segundo relatório do I Encontro, os principais temas debatidos<br />

foram: 1) A necessidade da mulher entrar na luta. 2) Igualdade entre homens e mulheres. 3) A necessidade das agricultoras se unirem<br />

e se organizarem para terem seus direitos e dignidade respeitados.<br />

A partir disso, nota-se que não eram apenas interesses de classe que moviam as mulheres, como sugerem alguns trabalhos.<br />

As lutas pelos direitos previdenciários – aposentadoria, salário maternidade, auxílio doença – e reconhecimento da profissão de<br />

agricultora eram bandeiras do movimento. Mas buscava-se também um espaço de participação mais igualitário para as mulheres<br />

dentro dos movimentos populares e das próprias unidades de produção. O MMA, sendo um movimento autônomo e onde participam<br />

apenas mulheres, torna-se um lugar privilegiado para as discussões de gênero.<br />

Para Casagrande (1991), o Movimento das Mulheres Agricultoras surge com as perspectivas de gênero e de classe, mas o<br />

que movia as mulheres, no início, eram as questões ligadas à classe.<br />

Já Poli (1999), questiona essa afirmação. Segundo ele, não se trata de negar que o MMA tenha surgido com as perspectivas<br />

de gênero e classe. O que se coloca em dúvida é o fato de uma dessas perspectivas – no caso a classe – ter sido principal ou única num<br />

primeiro momento e que as questões de gênero só teriam sido levantadas posteriormente, o que, para ele, não aconteceu. As duas<br />

perspectivas estiveram sempre presentes.<br />

É muito difícil falar das dirigentes sindicais do STR de Chapecó sem falar da influência que o MMA exerceu sobre elas. As<br />

primeiras dirigentes mulheres vieram do MMA, e algumas ainda participam do movimento. Hoje pode-se dizer que está se formando<br />

uma nova geração que não vem do MMA, mas que já tem sua formação através do próprio movimento sindical.<br />

Porém, dentro da estrutura sindical, a discussão de classe é mais forte que a de gênero. E se a discussão de classe está mais<br />

presente no discurso das sindicalistas é devido a representação de classe e gênero que elas próprias fazem. Para a historiadora Joan<br />

SCOTT, classe e gênero são construções/representações. Assim, se levarmos em conta que as mulheres fazem parte da classe<br />

trabalhadora, classe e gênero andariam juntos. Mas na história das idéias essas duas representações se excluem, uma vez que o<br />

universo do trabalho e os direitos trabalhistas trazem em suas origens iluministas uma visão masculina de mundo na qual as mulheres<br />

aparecem como subordinadas. Portanto, o próprio conceito de classe trabalhadora enquanto categorias universal traz consigo essa<br />

discriminação.<br />

Para as sindicalistas então, a concepção de gênero se subordina à de classe, uma vez que as trabalhadoras rurais são vistas<br />

como um exemplo específico do fenômeno geral das classes sociais.<br />

Scott separa o conceito de sexo biológico do conceito de gênero e, sendo este último uma construção social, a cada mudança<br />

na organização do poder ocorre também uma mudança na representação do poder. As sindicalistas buscam essa representação do<br />

poder no espaço público, buscam ocupar espaços que historicamente foram ocupados pelos homens.<br />

Scott lembra ainda que gênero é uma construção social e que é necessário “desconstruir” o caráter da oposição masculinofeminino.<br />

Guacira LOURO, analisando o texto de Joan Scott, argumenta que essa oposição binária dos gêneros masculino-feminino<br />

faz surgir outros conceitos dicotômicos derivados deste, como por exemplo, “produção-reprodução”, “público-privado”, “razãosentimento”,<br />

etc. Essa lógica torna possível naturalizar e tornar fixo um lugar para cada gênero. Segundo esta autora, a idéia de<br />

desconstrução trabalha contra essa lógica dicotômica na medida em que mostra que a oposição é construída e não inerente e fixa<br />

(LOURO, 1997:32).<br />

Já Siqueira (1992:80-81) defende idéias diferentes. Classe e gênero não se opõem, se complementam. Segundo ela, gênero e<br />

classe social encontram-se entrelaçadas, uma vez que o “gênero se realiza numa sociedade de classes”. Assim, não importa se a<br />

discussão de gênero se inicia pela maternidade ou por questões salariais, “ambas chegarão, em sua continuidade, ao entrelaçamento<br />

dos lugares sociais simultânea e historicamente definidos tanto pela classe social quanto pelo gênero” .<br />

643


A busca pelo poder dentro dos sindicatos se dá através do discurso da capacidade da mulher e a viabilização desse discurso<br />

ocorre por meio da ocupação de cargos na direção. “Ou seja, foi escolhido como estratégia inicial a ocupação dos espaços políticos<br />

já definidos pela estrutura sindical – os cargos – e não a criação de novos espaços e de novas redes de estruturação de poder dentro<br />

do sindicalismo rural brasileiro” (Id. Ibid.).<br />

As trabalhadoras rurais querem assim, demonstrar que são capazes de exercer as mesmas funções que seus companheiros<br />

e que para participarem do Movimento Sindical de Trabalhadores Rurais (MSTR) tem que participar de sua estrutura através dos<br />

cargos eletivos. Essa ocupação é também uma forma de superação da suposta incapacidade feminina e a garantia para si e para as<br />

demais companheiras da participação efetiva nas decisões e nos espaços sindicais, inclusive a posse da fala. O uso da fala é a<br />

manifestação de sua legitimidade. “Ocupar espaços significa ocupar espaços de fala, de tomada de decisões e de poder, antes<br />

reservados aos homens dentro da estrutura sindical” (Id. Ibid.).<br />

A análise das relações de gênero parte da premissa que a divisão de trabalho e as relações entre homens e mulheres não são<br />

construídas em função de suas características biológicas, mas sim são um produto social que legitima as relações de poder. “Portanto,<br />

gênero é uma categoria social, que permite analisar papéis, responsabilidades, limitações e oportunidades, que se dão de forma<br />

diferente, para homens e mulheres, no interior da unidade de produção, da família, da comunidade e da sociedade”. (ABRAMOVAY<br />

e SILVA: 2000)<br />

Aqui, as autoras se aproximam do conceito de gênero proposto pela historiadora Joan Scott, que se baseia em duas<br />

pressuposições. A primeira é a de gênero como um elemento constitutivo das relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre<br />

os sexos. Ou seja, como a sociedade, baseada no sexo biológico, constrói as diferenças. E a segunda é a de gênero como forma de dar<br />

significado às relações de poder. Para a autora, gênero e poder não podem ser dissociados. Para se analisar um, deve-se levar em conta<br />

o outro.<br />

Para Abramovay e Silva, a participação das mulheres tem crescido no movimento sindical, porém a sua incorporação nas<br />

direções é lenta. A cultura masculina na sociedade, que reserva ao homem o espaço público e os cargos de direção, funciona dessa<br />

maneira também nas instituições e sindicatos rurais.<br />

Bourdieu (1995) afirma que nas sociedades onde predomina a dominação masculina, mudar esse quadro não é tão fácil,<br />

porque uma ruptura supõe mudança de consciência não apenas dos dominados, mas também dos dominantes. A divisão sexual, que<br />

assegura a dominação masculina, está fortemente presente nas práticas cotidianas, na ocupação e divisão do espaço, na organização<br />

do tempo, ou seja, no habitus de cada indivíduo e de tal forma que pareça natural.<br />

A naturalidade com que é construída a divisão social entre os sexos a torna legítima. A diferença biológica entre masculino<br />

e feminino aparece para justificar a diferença socialmente construída entre os sexos. Bourdieu (1995:145) justifica que esse sexismo<br />

é um essencialismo que, como no caso de etnia ou de classe, serve para atribuir diferenças sociais a características naturais e biológicas,<br />

funcionando como essência de onde se justificam os atos da existência. Esse essencialismo é muito difícil de desarraigar, visto todo<br />

um trabalho milenar de socialização do biológico e de biologização do social que faz “uma construção social naturalizada aparecer<br />

como a justificação natural da representação arbitrária da natureza que está no princípio da realidade e da representação da<br />

realidade”.<br />

As mulheres muitas vezes são admitidas como companheiras de luta, mas não de poder. A discussão das cotas 5 mínimas<br />

de participação de mulheres nas direções é um tanto difícil. Os argumentos são muitos. Há os que sustentam -e entre eles mulheresque<br />

a política de cotas pode se transformar numa simples formalidade para conquistar espaços, o que não significa poder. Porém o<br />

próprio processo de discussão sobre as cotas trouxe as mulheres para o debate. Isso gerou nelas a consciência de brigar por seus<br />

espaços de decisão e de poder.<br />

As Dirigentes Sindicais do STR de Chapecó e Região: gênero, poder e igualdade<br />

Mesmo com a vitória da oposição sindical em Chapecó, em 1982, e com o direito à sindicalização garantido, as mulheres não<br />

se sentiram representadas neste órgão. Afinal, não participavam efetivamente da estrutura organizativa do sindicato.<br />

Como nós tínhamos a bandeira sindicalização, a gente tinha também a bandeira muito forte que a<br />

mulher deveria fazer parte da direção do sindicato também. Então na primeira eleição a gente não teve<br />

mulheres em vista que a gente não tinha passado por uma aprovação antes, não tinha sindicalização, então<br />

já na segunda eleição já começou 2 companheiras fazendo parte da direção e eu entrei a partir da terceira<br />

eleição a partir do momento da oposição ter vencido, eu comecei a fazer parte da direção do sindicato, não<br />

de linha de frente mas sempre atuando. (Dirigente sindical – mulher)<br />

644


As mulheres, que lutaram pela mudança no sindicato participavam também do MMA, como já foi dito. No MMA elas<br />

sentiam-se mais representadas e também mais à vontade para se exporem e exporem suas idéias. Porém, esse movimento constituiuse<br />

mais num meio que num fim. Ele funciona, como afirmam algumas militantes, como uma instância preparatória para as mulheres<br />

assumirem outros movimentos.<br />

(...) eu acho que o movimento de mulheres, o movimento específico de mulheres, e a gente atuou no<br />

MMA, é pra preparar realmente as mulheres e qualificar as mulheres. É um espaço onde a mulher passa a<br />

sair de casa, participar, a não ver aquele mundo somente de casa, mas começar a participar dos debates das<br />

organizações e tal. E é um espaço onde a mulher adquire a consciência política, por exemplo, de poder se<br />

qualificar pra ir podendo ocupar outros espaços. Então, minha atuação também foi forte no MMA e acho que<br />

foi um dos espaços que também me convenceu mais do espaço que deveria trabalhar e discutir em relação<br />

aos espaços da mulher nas organizações e na sociedade e a partir daí, lógico que as mulheres não podem<br />

ficar, especifico no MMA, têm que ir ocupando outros espaços, outras instâncias pra ela poder não só ocupar<br />

por ocupar, mas também somar força diante das lutas. (Dirigente sindical – mulher)<br />

Somente a partir da segunda eleição após a vitória da oposição, é que duas mulheres fizeram parte da composição da<br />

direção, ainda assim, em cargos considerados inferiores na hierarquia de poder, como elas mesmo colocam.<br />

Das quatro dirigentes entrevistadas que passaram pelo MMA, duas delas continuam participando neste momento. Mas,<br />

mesmo em relação a estas, a atuação prioritária é no sindicato. Quando entram para as direções executivas dos sindicatos acabam,<br />

muitas vezes, deixando de lado o movimento de mulheres.<br />

Já, para outras, a demanda de trabalho no STR pode exigir tanto que não sobra tempo para militar também no MMA. Um<br />

bom exemplo disso é que as mulheres agricultoras têm diferentes militâncias que vão desde a comunidade, passando pela Igreja até os<br />

movimentos sociais. Ou seja, elas fazem parte – juntamente com seus maridos – de grupos na comunidades, são catequistas,<br />

coordenadoras de grupos de reflexão, além de participantes dos movimentos sociais. Essas são as tarefas na esfera pública. Existe<br />

também a esfera privada, onde as mulheres são mais cobradas, uma vez que tradicionalmente foram considerados seus papéis a<br />

educação dos filhos, os afazeres domésticos, a lida com as pequenas criações e também o trabalho na lavoura. Conciliar tantas<br />

atribuições com militância não é uma tarefa fácil.<br />

Outra coisa que pesa sobre a mulher é a discriminação por estar saindo de casa, indo do espaço privado ou comunitário para<br />

o público.<br />

Eu me sinto muito discriminada. Uma por sair de casa, a dificuldade de sair de casa, deixar a família.<br />

As pessoas falam por você ser mulher, por você estar saindo de casa. Eles acham que você não vai trabalhar,<br />

que você não tem capacidade de construir alguma coisa e sim de só ser uma mulher de programa. É isso que<br />

os homens pensam, né? (Dirigente sindical – mulher)<br />

Tem muitos problemas. Mas um dos principais é que parece, assim, que por a gente ser mulher, os<br />

outros acham que a gente não tem capacidade de administrar e de estar envolvido. Então muita coisa que a<br />

gente poderia estar fazendo eles dizem assim: Não, nessa parte não. Pode ser feito, mas não pela (...), pode<br />

ser feito por uma outra pessoa. Porque a (...) fica ruim porque ela é mulher e tal.. E de outra parte a gente,<br />

a gente mesmo acha que a gente é frágil, e a gente perde muito com isso. (Dirigente sindical – mulher)<br />

As próprias dirigentes se cobram muito por não terem o mesmo ritmo que os homens, por terem que assumir seus outros<br />

papéis (mãe, esposa), enquanto justificam que para os homens essas questões são mais “tranqüilas”.<br />

Motivos financeiros podem explicar um pouco a priorização da militância no STR, já que esse remunera os dias dispensados<br />

ao trabalho no sindicato ou reuniões e cursos que duram alguns dias. O Movimento de Mulheres, como não possui muitos recursos,<br />

não dispõe desse ressarcimento. Ainda existem dirigentes que tentam conciliar a atuação no sindicato e no MMA. Mas a pressão é<br />

muito grande. De um lado, a demanda de trabalho aumenta no STR e elas têm que garantir o espaço conquistado. De outro, a cobrança<br />

e a discriminação dos companheiros dirigentes em relação ao movimento contribui para desestimular a dupla militância. Comentários<br />

como o seguinte, a respeito das reuniões do MMA, aparecem nas falas dos dirigentes sindicais. “Elas ficam fazendo reuniõezinhas<br />

que não levam adiante a luta, que não é nada prático, não sai da discussão”.<br />

Hoje, há na direção executiva do STR de Chapecó e Região seis mulheres e cinco homens. As mulheres ocupam as seguintes<br />

secretarias: secretaria geral, de formação, de finanças, de políticas públicas, de política agro-industrial e a comissão de gênero. Os<br />

homens estão com a presidência e as secretarias de desenvolvimento rural, de organização sindical, de comunicação e a comissão de<br />

jovens. Esse quadro é otimista, já que garante às mulheres a mesma participação que os homens nos cargos da executiva. Porém, o<br />

mesmo não acontece nas coordenações municipais, onde a grande maioria é composta por homens.<br />

645


Quando iniciei essa pesquisa em 2000, havia três mulheres na direção. Uma ocupava a Secretaria de Finanças, outra a<br />

Secretaria de Organização Sindical e a terceira, a Secretaria de Desenvolvimento Rural. As secretarias de Finanças e Organização<br />

Sindical estão entre as mais importantes. Consideramos, desse modo, um grande avanço. Por outro lado, o nível de exigência dessas<br />

funções é extremamente grande, o que impede que essas dirigentes pensem e discutam políticas de gênero.<br />

Em abril de 2001, ocorreram eleições sindicais. No mês de janeiro, quando estava em campo realizando a pesquisa,<br />

acompanhei algumas reuniões no interior dos municípios que participam do Sindicato Regional. Essas reuniões tinham como um dos<br />

objetivos eleger delegados e delegadas para o Congresso onde se daria a composição das chapas para a eleição. Pude assim perceber<br />

que havia poucas mulheres nas reuniões e, dependendo de quem coordenava e de como a reunião era conduzida, elas se retraíam e não<br />

participavam. O número pouco significativo de mulheres nas reuniões da base repercutiu na pouca participação de delegadas no<br />

congresso. Cerca de 80% dos delegados eram homens.<br />

Havia uma preocupação muito grande por parte das mulheres dirigentes em relação ao alcance da cota de 30% de mulheres<br />

para a direção. Essa preocupação nem sempre era compartilhada pelos homens, pois caso a cota mínima de 30% de mulheres não fosse<br />

alcançada, a eleição seria realizada do mesmo modo. O que preocupava as dirigentes mulheres era um número muito pequeno de<br />

delegadas, o que não daria opções para a escolha de dirigentes mais atuantes.<br />

Dentre as mudanças de valores e da compreensão das relações sociais, advindas das discussões de gênero na CUT e nos<br />

sindicatos, as que mais se destacam são a discussão da cota mínima de participação feminina nas direções e a do aborto. Entre as<br />

sindicalistas rurais, especialmente as da região oeste, a discussão a respeito do aborto praticamente não existe, ou ainda, pode-se dizer<br />

que é tabu. E o principal motivo é a orientação cristã/católica das(os) militantes.<br />

Em relação às cotas muito pode ser dito. O principal é que o sindicato segue as orientações estatutárias da CUT a esse<br />

respeito e que, na medida do possível, tenta encontrar mulheres suficientes para preencher os 30% estipulados.<br />

A gente tem uma determinação que deveria ter 30% de mulheres, mas nem sempre isso é possível. A<br />

gente encontra barreiras pra conseguir encontrar o 30% de mulheres. A própria mulher não desafia pra<br />

enfrentar uma liderança. (Dirigente sindical – mulher)<br />

Homens e mulheres têm opiniões diversas a respeito das cotas. Tanto os dirigentes homens quanto as dirigentes mulheres<br />

concordam e discordam da cota, mas todos eles assumem que ela é um forte instrumento de garantia para a democratização dos<br />

sindicatos, partido político e demais movimentos.<br />

Eu acho que não deveria existir essa cota. Acho que devia ser uma coisa mais livre, mas que tivesse a<br />

participação da mulher. Às vezes se coloca uma ou duas mulher a mais só pra fechar essa cota ou, às vezes,<br />

se deixa de colocar. Porque ao mesmo tempo poderia ter a quota de 30% para os homens. Acho que não tem<br />

que ser porque a lei exige. Tem que ser uma coisa que precisa acontecer. (Dirigente sindical – homem)<br />

Eu acho que não haveria necessidade se as mulheres participassem mais e brigassem pelo seu espaço.<br />

Mas também acho que é importante porque quando o homem gosta de ser prepotente nessas escolhas, é a<br />

garantia pelo menos de 30% ..mesmo que, muitas vezes, as mulheres não tenham muita... não tenha o<br />

número de mulheres pra completar. Mas é importante para que as mulheres busquem conquistar pelo menos<br />

esse espaço. (Dirigente sindical – homem)<br />

Mudar o habitus, como coloca Bourdieu, não depende apenas das mulheres, uma vez que elas vão incorporar outros papéis<br />

além de mãe, esposa, e trabalhadora. Muitas vezes será necessário uma reordenação das tarefas rotineiras, com maior participação do<br />

marido e dos filhos, para que a mulher assuma um lugar no sindicato. Quando é o homem que assume esse papel, a mulher, na maioria<br />

das vezes, desempenha as suas funções na propriedade geralmente com a ajuda dos filhos. No caso da mulher assumir, há diferenças,<br />

principalmente se os filhos são pequenos e não há nenhuma filha mulher que possa assumir o papel da mãe.<br />

O peso do habitus não é do tipo que se possa suprimir por um simples esforço da vontade, baseado numa tomada de<br />

consciência libertadora (Bourdieu, 1995: 147). Assim, não é tão simples conseguir a igualdade proclamada pelos dirigentes sindicais.<br />

A socialização da mulher rural foi muito dura. Ela foi educada para aceitar o que os homens decidem ou, se não para aceitar, ma s para<br />

não decidir. Isso sempre foi uma tarefa de seu pai ou de seu marido. Não é tranqüilo, como os dirigentes afirmam, buscar a igualdade<br />

na família, pois ali existem muitas diferenças. Para a mulher não é fácil abandonar o habitus de ser dominada e para o homem é também<br />

muito difícil deixar de ser o dominador.<br />

Agora com o trabalho de gênero, a gente vai trabalhar também nas reuniões que vai ter porque vai estar<br />

os homens também lá participando. Então daí é mais fácil pra ver essa igualdade, porque eles vão ceder. E<br />

646


eles vão ceder sabendo porque estão cedendo e porque que a mulher tem que ser igual a eles. Então com esse<br />

trabalho de gênero agora, nós estamos esperando que vamos conseguir chegar mais perto. (Dirigente<br />

sindical – mulher)<br />

A mudança na família é que permite à mulher maior participação no sindicato.<br />

A gente quando discute gênero, não quer discutir as coisas separadas, discutir só jovens, só a mulher,<br />

ou a partir da mulher. O que nós discutimos é o envolvimento dessa geração no debate. E também o<br />

movimento está pensando propostas para essas pessoas, prá essas relações. (Dirigente sindical – homem)<br />

Este dirigente acha que a discussão de gênero separada pode causar “problemas”, divergências na família. Nota-se aqui que<br />

ele tenta evitar “tocar na ferida”. É preferível, às vezes, mascarar as diferenças e inventar uma igualdade para não criar conflito, como<br />

na declaração a seguir, de outro dirigente.<br />

A mulher também ajuda também na renda da família, ajuda na organização das pessoas, da categoria.<br />

E ajuda na construção desse projeto que nós queremos construir. É importantíssima a participação da<br />

mulher. Sem a mulher a luta fica pela metade. Então com certeza é importante dar continuidade a isso.<br />

(dirigente sindical – homem)<br />

Nota-se na fala deste dirigente que ele quer nos convencer de sua postura em relação a participação das mulheres, mas usa<br />

termos como “a mulher também ajuda”. Isso mostra uma posição secundária da mulher na igualdade proposta pelos homens. Por ser<br />

o sindicato ainda muito masculino, a militância da mulher é vista como um complemento, uma ajuda, uma contribuição na luta<br />

encabeçada pelos homens.<br />

Tanto os homens quanto as mulheres pertencentes ao sindicato têm opiniões iguais em relação às discussões de gênero. Para<br />

eles, esta deve ser feita também com os homens, o que inclui críticas ao MMA do qual só participam mulheres. Na opinião das<br />

dirigentes, se os homens participarem vão entender mais facilmente as reivindicações das mulheres. Por isso o sindicato está<br />

realizando reuniões de gênero nas comunidades para que a participação seja mais heterogênea.<br />

As questões de gênero que nós temos trabalhado aqui não é só gênero homem e gênero mulher. Mas o<br />

que mais nós temos trabalhado é as pessoas, o valor da pessoa, né. Pra pessoa parar de ser discriminada.<br />

Eu acho que agora é a campanha de documentação. (...)O nosso trabalho aqui de gênero é pra ela ser<br />

valorizada enquanto pessoa, não pelo que ela é, homem ou mulher, mas sim como pessoa. (Dirigente sindical<br />

– mulher)<br />

Os homens não levam em conta a socialização, tanto das mulheres, quanto deles próprios. As mulheres não estão livres da<br />

dependência, a educação preparou-as para a subordinação, para participar do poder através dos homens (seus pais, maridos).<br />

Ao serem questionadas quanto à discriminação que sofrem dentro do movimento sindical, as dirigentes colocaram dois tipos<br />

de discriminação: a dos companheiros dirigentes e a da comunidade em geral.<br />

Muito discriminada. Uma por sair de casa, a dificuldade de sair de casa, deixar a família. As pessoas<br />

falam por você ser mulher, por você estar saindo de casa. (Dirigente sindical – mulher)<br />

Eles (os dirigentes homens) acham que a gente não sabe falar. Ou então não consegue. Quando é uma<br />

coisa mais complicada dizem: deixa que vou eu, você não vai dar conta. Então assim, parece que a gente não<br />

tem capacidade, não vêem a gente como quem tem capacidade. (Dirigente sindical – mulher)<br />

No que se refere a poder, as dirigentes sindicais são categóricas ao afirmarem que os homens não querem abrir mão de seus<br />

espaços e que mesmo cedendo em alguns pontos, em outros mostram que na prática não estão dispostos a dividir o poder.<br />

647


A autonomia que nós temos aqui dentro como mulheres, às vezes temos e às vezes não temos. Porque<br />

no nosso trabalho aqui tem várias mulheres, mas a autonomia ainda é dos homens. Não adianta nós dizer<br />

que é nós mulheres, que não é. Embora que a gente consiga construir junto, né, mas a palavra final, na<br />

maioria das vezes, é deles. (Dirigente sindical – mulher)<br />

Declarações como estas mostram que, para os homens, é muito difícil abrir mão de um espaço que era só seu e também<br />

permitir que suas companheiras saiam de casa. Aqui também está bem presente o discurso da capacidade feminina no sentido de ser<br />

igual ao homem. A superação da suposta incapacidade e a garantia da legitimação de seus direitos deve se dar através da ocupação dos<br />

cargos de direção e o pleno desenvolvimento de suas funções, “não perder o que já foi conquistado” e lutar para que suas propostas<br />

sejam respeitadas (SIQUEIRA, 1992).<br />

Percebe-se nesta fala uma auto cobrança muito grande por parte da dirigente. O padrão de comportamento esperado no<br />

sindicato é masculino. Elas chegam a sentir-se até mais cobradas que os homens.<br />

Bom, eu posso dizer que no começo, quando a gente começou vem melhorando, mas tem uma diferença<br />

muito grande ainda, sabe? A gente sente isso por exemplo nas oportunidades, na maneira de ser, uma das<br />

coisas, por exemplo, a liderança homem pode errar, pode fazer as coisas erradas, ele não é muito questionado.<br />

Agora a mulher, como o erro é muitas vezes independente, contra a vontade, porque tu pode ter também suas<br />

falhas, ninguém é perfeito. Mas então parece que é mais, mais presente o erro da mulher ou a falha da mulher<br />

(...).(Dirigente sindical – mulher)<br />

Bourdieu afirma que a dominação masculina está suficientemente assegurada para precisar de justificação. Ou seja, não há<br />

necessidade de argumentar ou justificar uma posição superior. As práticas, os discursos, reproduzem a dominação.<br />

Em relação ao uso da palavra em reuniões, as mulheres ainda têm um certo receio. O falar está associado à idéia de poder. E<br />

os sindicatos ainda são identificados como espaços masculinos, por mais que se tente mudar esse quadro. E em se tratando de<br />

sindicatos rurais pode ser até mesmo mais forte, uma vez que há menos de duas décadas as mulheres sequer podiam associar-se e<br />

também não faziam parte da categoria profissional: agricultores.<br />

Nas reuniões da direção percebi que a maioria das mulheres não falava, mantinha-se calada ouvindo os dirigentes homens.<br />

Apenas as lideranças mais atuantes manifestavam-se com mais freqüência. Falar diante de muitos, principalmente lideranças, pareceme<br />

que ainda é uma dificuldade para as mulheres que estão iniciando sua participação no sindicato.<br />

É por isso que muitas vezes a própria mulher, se ela não tem claro e a força de se desafiar pra isso, ela<br />

acaba desistindo, acaba achando que não vale a pena ou que não tem o espaço e desanima e desiste.<br />

(Dirigente sindical – mulher)<br />

Essa dirigente coloca ainda que a mulher tem que perder a vergonha de se comunicar em público. As dirigentes têm que falar<br />

as coisas certas, convencer os homens e as outras mulheres que suas propostas são viáveis, mas para isso é preciso que ela própria<br />

esteja convencida. A igualdade não é um meio termo, é “ser como os homens” em público. As que não conseguem é porque “não<br />

possuem força suficiente para se desafiar”, como mostra a fala da dirigente. Esse discurso reforça ainda mais o seu fardo, culpandoa<br />

não avanço nas direções.<br />

Considerações finais<br />

Apesar dos últimos avanços das mulheres e das novas estruturas das direções dos sindicatos, nota-se muito ainda a<br />

discriminação.<br />

Nos sindicatos com os quais tive algum contato, em geral não há uma participação muito expressiva das mulheres nas<br />

direções. Já no STR de Chapecó, as mulheres são um número representativo na executiva. Porém, isso não é suficiente para garantir<br />

direitos iguais.<br />

O “novo sindicalismo” surgido na década de 80, vem atravessando uma crise de identidade. Um pouco em decorrência da<br />

enorme crise pela qual vem passando não só a agricultura familiar, mas também diversos setores.<br />

648


Novas formas de atuação e de lutas sindicais vêm sendo elaboradas. Essas “novas formas” estão levando em conta as<br />

questões de gênero.<br />

A mulher agricultora foi socializada no espaço privado e foi qualificada para os afazeres domésticos, o trabalho na lavoura,<br />

o cuidado e a educação dos filhos, a lida com os animais e a sair sempre acompanhada pelo marido, pelo pai ou pelos irmãos. Enquanto<br />

que ao homem foram dadas tarefas como o relacionamento com o banco, a cooperativa, o comércio e também o sindicato.<br />

Mesmo que, com o decorrer do tempo, isso tenha mudado, essas mudanças não são tão profundas a ponto de eliminar<br />

preconceitos e práticas. A mulher carrega consigo particularidades femininas, adquiridas na sua socialização, que não se restringem ao<br />

biológico, mas ao comportamento, ao modo de agir. As militantes falavam constantemente de “um jeito de trabalhar” e de organizar<br />

as tarefas no sindicato que vem da sua experiência de casa, da experiência com o mundo privado, mas acabam incorporando a práticas<br />

dos homens, pois estas sim, são aceitas por eles. Os dirigentes, embora tenham desejo de mudanças, não conseguem livrar-se do<br />

habitus.<br />

Essa maneira de ver a igualdade entre homens e mulheres no sindicato é muito injusta para com a mulher por não levar em<br />

conta a educação a qual a mulher foi submetida. E também muito restritiva por nem sequer cogitar em incorporar o que o “jeito<br />

feminino de ser” pode trazer de positivo. Defender a idéia de que homens e mulheres devem discutir juntos seus problemas pode<br />

parecer um grande avanço para o sindicalismo rural, mas pode também inibir a participação feminina. Como elas têm pouco espaço<br />

próprio, fica difícil elaborar um contra discurso. Isso pode ser percebido no MMA, por exemplo, onde as mulheres ficam mais à<br />

vontade para se exporem e debater questões ligadas a gênero e não somente à classe.<br />

Mas se assumirmos gênero como uma categoria de construção histórica, como acredita Scott, poderemos ver novas<br />

possibilidades quanto à participação das mulheres nos movimentos sociais. Se pensarmos na possibilidade de desconstrução das<br />

categorias de análise tradicionais, não somente a da dominação, mas também da construção da igualdade proposta pelo sindicato,<br />

tentando revelar o quanto de discriminação existe nela, haverá avanços. Scott discute a importância da desconstrução até que se veja<br />

o viés machista da construção, no qual a mulher é tida apenas como um fenômeno geral da classe trabalhadora para, a partir daí, buscar<br />

outras formas de construções.<br />

O mundo dos homens foi sempre de desigualdade, de miséria, de guerras. O que vivemos hoje é decorrência da construção<br />

de mundo dos homens. Será que o fato das mulheres terem outro tipo de socialização, mais altruísta, mais preocupada com o outro,<br />

não pode trazer contribuições positivas?<br />

649


Referências Bibliográficas<br />

ABRAMOVAY, Mirian e SILVA, Rosicleide da. 2000. As relações de gênero na Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais<br />

(CONTAG). In Trabalho e Gênero: mudanças, permanências e desafios. Maria Isabel Baltar da Rocha (org.) CEDEPLAR/<br />

UFMG. Ed. 34; São Paulo.<br />

ARAÜJO, Angela M. Carneiro e FERREIRA, Verônica Clemente. 2000. Sindicalismo e Relações de Gênero no contexto da reestruturação<br />

produtiva. In. Trabalho e Gênero: mudanças, permanências e desafios. Maria Isabel Baltar da Rocha (org.) CEDEPLAR/<br />

UFMG. Ed. 34; São Paulo.<br />

BIANCHI, Jaime e ZANINI, Rogério. 2000. O despertar político da Mulher Agricultora da Regional de Chapecó nas décadas de 80<br />

a 90. Monografia de Conclusão de Curso em História. UNOESC. Chapecó.<br />

BOURDIEU, Pierre, 1995. A dominação masculina. In: Educação e Realidade. V.20(2), jul./dez. Porto Alegre :FE - UFRGS<br />

CARNEIRO, Maria J. 1994. Esposa de agricultor ou agricultora? Ruptura e continuidade nas relações sociais de gênero no campo<br />

francês. Reunião da ABA, mimeo.<br />

CASAGRANDE, Jacir L. 1991. Movimentos Sociais no campo: mulheres agricultoras em Santa Catarina. Diss. de mestrado defendida<br />

junto ao PPGSP/UFSC. Fpolis, mimeo.<br />

COSER, Silvana Leal. 1990. E no princípio era o verbo... Ou reflexões sobre a relação da mulher com a fala e a política. In. Educação<br />

e Realidade. V. 16. N.º 2, jul-dez. , Porto Alegre: FE – UFRGS;<br />

CUT: Comissão Nacional sobre a Mulher Trabalhadora: Construção de uma História. In: www.cut.org.br.<br />

CUT: Comissão Nacional sobre a Mulher Trabalhadora: Cidadania: Igualdade de Oportunidade na Vida, no Trabalho e no Movimento<br />

Sindical. In: www.cut.org.br.<br />

DE GRANDI, Alessandra B. 1999. Relações de Gênero na Famílias Agricultoras associadas a Mini Usinas de Leite no Estado de<br />

Santa Catarina. Dissertação de Mestrado em Sociologia Política/UFSC, Fpolis.<br />

DELGADO, Maria B. Godinho: Mulheres na CUT: um novo olhar sobre o sindicalismo. In: Mulher e Política: Gênero e feminismo<br />

no Partido dos Trabalhadores. Angela BORBA, Nalu FARIA, Tatau GODINHO (org.). Editora Fundação Perseu Abramo. São<br />

Paulo. 1998.<br />

ESCOLA SUL: Textos para Debate. Ação Política Feminina. Núcleo Temático de Gênero, Trabalho e Relações Sindicais. Escola<br />

Sindical Sul/CUT.<br />

ESCOLA SUL: Gênero: de onde vens, para onde vais? Núcleo Temático de Gênero, Trabalho e Relações Sindicais. Escola Sindical Sul/<br />

CUT.<br />

FETRAF – SUL. 2000. Caderno de Resoluções do 1º Congresso Sindical da Agricultura Familiar, Chapecó, SC.<br />

LOBO, Elizabeth Souza. 1991. A Classe Operária Tem Dois Sexos.. Editora Brasiliense, São Paulo.<br />

LOURO, Guacira Lopes, 1997. Gênero, Sexualidade e Educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis, RJ : Vozes.<br />

OLIVEIRA, Eleonora M. 1999. A mulher, a sexualidade e o trabalho. São Paulo: CUT.<br />

PAULILO, Maria Ignez, 2000. Movimento de mulheres agricultoras: terra e matrimonio. Cadernos de Pesquisa , Fpolis.<br />

POLI, Odilon. 1999. Leituras em Movimentos Sociais. Editora Grifos, UNOESC. Chapecó.<br />

SARTORI, Ari. 1999. Homens e as Políticas de “Empoderamento” das Mulheres – a emergência do “gênero” entre sindicalistas de<br />

esquerda em Florianópolis. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social/UFSC, Fpolis.<br />

SCHERER-WARREN, Ilse & KRISCHE, Paulo, 1987. Uma revolução no cotidiano: os novos movimentos sociais na América Latina.<br />

Brasiliense: São Paulo.<br />

SCHMITT, Cláudia Job, 1996. A CUT dos colonos: histórias da construção de um novo sindicalismo no campo no Rio Grande Sul.<br />

In: Política, protesto e cidadania no campo. As lutas sociais dos colonos e dos trabalhadores rurais no Rio Grande do Sul. Zander<br />

Navarro (org.) Ed. da UFRGS, Porto Alegre.<br />

650


SCOTT, Joan. 1995. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e Realidade, V 20(2), jul./dez, Porto Alegre: FE –<br />

UFRGS;<br />

SIQUEIRA, Deis Elucy, 1992. A organização das trabalhadoras rurais: o cruzamento de gênero e classe social. IN. TEIXEIRA, J.<br />

G. (org.) Tecnologia agropecuária e a organização dos trabalhadores rurais. Brasília: UNB, p. 57/89.<br />

1 Este trabalho é parte da pesquisa da pesquisa de conclusão de curso em Ciências Sociais. Agradeço ao CNPq a bolsa de pesquisa que<br />

permitiu a sua realização.<br />

2 O termo liberada é utilizado quando a dirigente sindical participa de atividades de interesse da entidade e é remunerada.<br />

3 Dados de 1996, IBGE.<br />

4 Processo que iniciou com o Concilio Vaticano II (1962-1965) e reforçado pelos encontros Episcopais de Medellín e Puebla em 1969<br />

e 1979 respectivamente. Nestes encontros foram elaboradas as novas diretrizes da Igreja na América Latina. É no encontro de Puebla<br />

que os Bispos latino-americanos fazem a opção preferencial pelos pobres.<br />

5 A aprovação da cota mínima de 30% e máxima de 70% para cada sexo, aconteceu na IV Plenária Nacional da CUT , em 1993. Essa<br />

medida tinha a preocupação inicial de construir relações políticas igualitárias. Também para os sindicatos e entidades filiadas foi<br />

recomendada a adoção desta porcentagem para compor as direções.<br />

651


A FOFOCA NA <strong>VI</strong>DA COTIDIANA: ENTRETENIMENTO E INTRIGAS*<br />

652<br />

(V.A. da SILVA)∗∗<br />

Poderia iniciar esta conversa acerca da fofoca, tomando por premissa o fato de que esta seria uma prática genuinamente das<br />

mulheres. Neste caso, deveria pedir para que os do sexo oposto que estivessem por perto, se afastassem pois tratar de fofoca é<br />

assunto de mulheres e, por isso mesmo, não caberia aos homens ficar ouvindo ou participando de algo que poderia comprometer sua<br />

imagem... Deste modo, estaria reproduzindo um estereótipo que associa a figura feminina aos rumores, à fofoca e, muito provavelmente,<br />

atribuindo a esse estereótipo um valor negativo. Todavia, as peregrinações etnográficas por um município do Vale do Jequitinhonha,<br />

no Estado de Minas Gerais, colocam-nos outros elementos para pensarmos que a fofoca não é “coisa” só de mulheres.<br />

Assim sendo, a idéia principal é refletir sobre os vários papéis que a fofoca e a intriga têm na vida das pessoas, sobretudo<br />

dos jovens e o modo como homens e mulheres praticam tal fenômeno. O ponto de partida: as investigações que venho realizando sobre<br />

sexualidade e família entre jovens de origem rural numa pequena cidade da citada região.<br />

Neste sentido, as observações no referido município têm indicado a possibilidade de pensarmos sobre os vários sentidos<br />

que a fofoca pode ter num determinado grupo social, num determinado município. Assim sendo, diria que tal fenômeno concentra-se<br />

em dois eixos fundamentais: um, o de entretenimento coletivo podendo ter simplesmente o caráter de notícia ( e ser interpretado a<br />

partir da idéia de rede – Hannerz, U., 1980); o outro, o de instrumento de regulação social (“correção dos costumes”) 1 .. Sendo que<br />

neste, simultaneamente, se teria o elemento de fomentador de intrigas, mecanismo de vingança ou represália e ao mesmo tempo de<br />

disputas. Muitas vezes, com conseqüências mais graves, tais como discussões, brigas, desonra, etc.<br />

Entretanto, talvez seja preciso ponderar sobre o que caracterizo como fofoca. Por isto vou tomar emprestado a definição<br />

que o pesquisador Francisco Dias (1999) utiliza para definir o rumor. Entendo por rumor algo que é transmitido no cotidiano através<br />

da conversação, de pessoa a pessoa e que assume uma forma mais difusa. Mesmo que, eventualmente, possa ser lançado por outras<br />

vias, tais como panfletos, cartazes, jornais. Portanto, caracteriza-se pela informação com algum fundo de verdade. Trata-se de uma<br />

“verdade extra-oficial” que poderá ser comprovada ou não (p.20). Sendo que a intenção principal é a do convencimento. “O boato<br />

procura convencer” (Kapferer, 1987:14).<br />

Neste sentido, a fofoca, sobretudo no município em questão, com os seus vários outros nomes, tanto nesse município como<br />

em demais regiões do Brasil: mexerico, bisbilhotice, disse-que-disse, boato, falatório, falação caracteriza-se, do meu ponto de vista,<br />

pela transmissão oral através de conversas segredadas a alguém, nem sempre muito confiável (porque, quase sempre, pretende-se que<br />

o receptor passe adiante o “segredo”) com a intenção da intriga, porque até mesmo a informação, o “segredo” poderá ser mentiroso.<br />

Noutras palavras, tudo o que for dito sobre outrém, no referido município, tem a intenção da vingança, de causar intriga, de conferir<br />

a si (no caso o emissor da fofoca) um certo status ou mesmo assegurar perante o grupo social ou pares, o seu poder de influenciar, de<br />

estigmatizar. Como observou Norbert Elias em suas considerações sobre a fofoca em Winston Parva: “(...) na maioria dos casos, o<br />

valor de entretenimento dos boatos parecia estar ligado a ingredientes que enalteciam o ego do narrador, do ouvinte ou de ambos. (...)”<br />

(2000: 123).<br />

De toda forma, fofoca, boatos, rumores, mexericos e outros, etimologicamente dão origem aos mesmos efeitos, pois<br />

produzem “sons de intensidade e de duração variáveis” (Kapferer, 1987:26). Entretanto, sobre esta “abundância de léxico” é<br />

importante observarmos, tal como o fez Kapferer que, todo e “qualquer acto de comunicar pode ser caracterizado de seis modos: a)<br />

pela sua origem; b) pelo seu conteúdo; c) pelo seu processo de difusão; d) pelo meio de ser difundido; e) pelo objecto sobre o qual<br />

incide e f) pela natureza dos seus efeitos” (op. cit.).<br />

Deste modo, fofoca e rumor poderão ser abordados com sentidos equivalentes, podendo, apenas apresentar matizes que<br />

derivam da intensidade (o tempo de circulação, a persistência dentro dos grupos sociais), da intencionalidade (simples informação<br />

elogiosa ou não, vingativa, invejosa) e da forma com que são lançados, comunicados no grupo social, por noticiários, cartazes, por<br />

conversação, por cartas, panfletos, bilhetes anônimos.<br />

Observa-se, então, que a fofoca não surge do nada, da simples manifestação de maldade humana mas, antes, responde ou<br />

corresponde às normas, crenças e relações de um determinado grupo. Tal como observa Norbert Elias: “ (...) a fofoca, em outras<br />

palavras, não é um fenômeno independente. O que é digno dele depende das normas e crenças coletivas e das relações comunitárias”<br />

(2000, p.121). Porém, a intriga como inspiração da maldade humana poderia ser visto como a interpretação enviesada, deformada<br />

dessas mesmas normas e crenças.<br />

Todavia, para um(a) pesquisador(a) ou mesmo alguém que chega a um espaço onde as pessoas falam ao mesmo tempo (por<br />

exemplo, num café, num restaurante), ou mesmo num pequeno município, tudo parecerá aos ouvidos, apenas ruídos: um amontoado<br />

de palavras emitidas por bocas nervosas ou tranqüilas, em tons altos, baixos ou em sussurros. O que corresponde à própria origem do<br />

termo rumor, que vem do latim = rumóre e que significa ruído confuso de vozes. Ou, ainda, comentários desconexos que num primeiro<br />

instante, não farão nenhum sentido, somente à medida que o rumor ou a fofoca, vistos como um dos instrumentos de regulação social,<br />

sustentar uma organização lógica orientará a percepção do “estrangeiro” para a compreensão das informações. Neste caso, considerase<br />

que o rumor é um “processo informal de comunicação grupal”, enfatizando o caráter da oralidade (Dias, 1999) para o caso que<br />

venho investigando, através da fofoca.<br />

A capacidade de divertir, entreter as pessoas, também demonstra que a fofoca diminui as barreiras que impossibilitam a<br />

comunicação ou a possibilidade de divulgar notícias sobre uns e outros, moradores de um determinado local (Elias, 2000). Entretanto,


a fofoca como regulador social não age apenas na esfera da vida dos membros de uma determinada comunidade ou grupo, mas também<br />

na vida do “estrangeiro”, do visitante. Até mesmo porque, aquele que vem de fora, é objeto dos olhares vigilantes, às vezes, discretos,<br />

dos moradores dessa pequena cidade no Vale do Jequitinhonha. Os olhares que capturam a imagem do outsider, automaticamente<br />

informam através de rumores, a notícia sobre aquele ou aquela que acabou de chegar 2 .<br />

Todavia, no momento em que a intensidade e os limites sobre o que comunicar do “outro” são diluídos, entra em cena a<br />

imaginação dos indivíduos sobre os que são alvo direto das fofocas. O uso da imaginação pode nos remeter às seguintes questões: uma,<br />

a necessidade que as pessoas têm de dar uma explicação rápida, às vezes, nem muito lógica, mas sobretudo, fantástica para a dúvida<br />

ou incerteza de um fato ocorrido ou mesmo sobre uma pessoa; outra, é que quando a imaginação extrapola perde-se a dimensão das<br />

conseqüências que terá sobre a vida ou a imagem do outro, daquele que foi alvo da fofoca. Assim, ao mesmo tempo em que cria a<br />

imaginação através da fofoca, reforça estigmas sociais.<br />

Segundo Francisco Dias (1999) podemos identificar três características dentro do processo de rumorização:1 a ) – “os<br />

rumores não s<br />

‘e3o forçosamente fenômenos efêmeros”, porque segundo o pesquisador, as crenças coletivas e a memória social é que<br />

determinarão a interpretação dos indícios contidos nos rumores e a partir dos quais serão interpretados (op. cit.: p.15); ou seja, tal<br />

como diz o dito popular: “onde há fumaça há fogo”;<br />

2 a ) – “a um mesmo rumor associam-se diferentes interpretações e implicações sociais para os diversos grupos envolvidos”; portanto,<br />

com base nas classificações de Knapp (1944) o conteúdo dos rumores podem aparecer sob três tipos: “hostilidade, medo ou<br />

desejo”(op. cit..: p.15). O que nos possibilita lembrar um outro dito popular que diz que “mente ociosa é oficina do diabo”, uma vez<br />

que, as fofocas são polissêmicas e, por isso mesmo, permitem aos indivíduos, diferentes interpretaçð5es. No município por mim<br />

investigado penso que, ainda, podemos considerar o fator tempo, pois a falta de trabalho deixa um grande espaço para que os<br />

moradores preocupem-se ou ocupem-se do “alheio”, tal como o dito popular nos sugere e sejam vigilantes sobre o comportamento das<br />

demais pessoas, sobretudo das mulheres, jovens e adultas;<br />

3 a ) – “o rumor desempenha funções instrumentais semelhantes às dos estereótipos sociais: causalidade social, justificação social e<br />

diferenciação social”.. Portanto, para Francisco Dias (1999), podemos identificar três pontos de entrecruzamentos dos rumores com<br />

os estereótipos, são eles:<br />

a)“os temas e os conteúdos dos rumores correspondem aos temas mais significativos da agenda social, num dado tempo e espaço”.<br />

Sendo que neste caso, enfatizo que o tema da sexualidade está muito presente nas fofocas do município que venho investigando.<br />

b) “os alvos de rumores negativos são, geralmente, elementos de exogrupos (grupos minoritários, rivais ou elites dotadas de poder)<br />

que podem ser facilmente responsabilizados pelos problemas que afetam os membros do grupo que veicula os rumores”.<br />

Pensar este ponto de entrecruzamento, para o caso estudado, é ter que relativizá-lo, pois observa-se neste município que as<br />

fofocas não derivam de grupos específicos, mas antes, como têm a peculiaridade da intriga são práxis individuais a partir das “ácidas<br />

picuinhas” que são geradas nas relações pessoais no dia-a-dia dos moradores.<br />

c) rumores negativos sobre um grupo permitem exprimir, reforçar e validar as crenças estereotípicas partilhadas pelos membros do<br />

grupo que os veicula” (op. cit.:p.17).<br />

Inspirada, principalmente, pelo terceiro ponto de entrecruzamento recordo um outro ditado popular, muito referendado<br />

entre os gregos, que ouvi dos lábios de uma colega grega (dito em castelhano), logo nas minhas primeiras semanas em Lisboa: “a língua<br />

não tem ossos, mas sem ossos massacra”. Portanto, não é do desconhecimento popular o poder que a língua do “outro” tem sobre a<br />

imagem, a vida de uma pessoa. Como no caso de uma jovem entrevistada (20 anos) de origem rural, que contou-me ter sido vítima de<br />

assédio sexual, ficou sem trabalho, foi acusada de ladra e, na época de nosso último encontro (outubro/2001), não conseguia arrumar<br />

outro trabalho e procurava as ruas mais desertas da cidade para andar, devido ao sentimento de vergonha ou, porque não dizer, devido<br />

à tensão provocada a partir do momento que sua integridade moral foi atingida, tornando-se pública dentro de uma rede de “parentela”,<br />

pois dizem: ...aqui é tudo parente. Aqui divide entre duas famílias: os Soares e os Oliveira [mulher, 38 anos] 3 . Não obstante, a moça<br />

fora duplamente agredida, caso consideremos ser verdade, o depoimento de ter sido assediada sexualmente por seu ex-patrão e,<br />

também, ser ele, a pessoa que a acusou de roubo de uma quantia em dinheiro.<br />

Este caso contém, porém, elementos ambíguos que podem levar-nos a interpretar que, o fato de seu ex-patrão tê-la acusado<br />

publicamente do roubo do dinheiro, pode significar um ato ou boato de vingança. Pois, outrora, o ex-patrão já havia lançado uma outra<br />

fofoca a seu respeito, porém, com mensagem diferente. Em seu depoimento, a jovem disse-me que ele (ex-patrão) havia contado para<br />

um namorado dela, que ela “ficava” com outro rapaz. Alegou-me indignação, uma vez que o referido ex-patrão não tinha nada com sua<br />

vida. Depois, conta-me da proposta do ex-patrão oferendo-lhe dinheiro para que ela mantivesse relações sexuais com ele. Ela recusa<br />

ambos. Ele insiste e tenta agarrar-lhe. Ela diz ter-lhe dado uma mordida no braço para livrar-se dele. A consequência drástica ou o limite<br />

foi que ao acusar a moça de roubo, tempos depois da jovem deixar a casa do casal, a mesma deu queixa do ex-patrão à polícia por<br />

assédio. O ex-patrão, então, esquiva-se da acusação alegando que ela estaria dizendo tal coisa porque havia lhes roubado dinheiro.<br />

653


(...) os rumores surgem em momentos de insegurança colectiva, são um sintoma de ansiedade generalizada e constituem<br />

o primeiro passo do processo de descarga que permite à colectividade desembaraçar-se do medo. (...) o rumor associase<br />

também a uma função catártica, a uma clarificação e a uma definição de uma situação ambígua, assim como à<br />

justificação de comportamentos colectivos motivados pelo medo e pela incerteza. [Delumeau, J. (1989) apud Francisco<br />

Dias, 1999:p.26]<br />

A dúvida sobre a conduta, o comportamento de uma determinada pessoa, na pequena cidade, também exerce poder na mente<br />

dos demais. Pude observar isto em vários momentos e situações. Alguns desses momentos e que dizem respeito aos jovens, a<br />

sexualidade de rapazes e moças, não menos de uma pesquisadora jovem.<br />

Histórias distintas, mas com os mesmos enfoques: a pesquisadora chega no município e passa a conversar com moças e<br />

rapazes. Um rapaz, na época 23 anos, concede-lhe entrevista, demonstra-lhe ser um bom informante, pois além de bom falante,<br />

trabalhava na prefeitura da cidade e se colocava como alguém que poderia levar-lhe a outros rapazes. A pesquisadora viaja. Numa<br />

conversa por telefone, quando estava para retornar, novamente, ao campo de pesquisa fica sabendo que o referido rapaz andou<br />

dizendo que havia namorado a pesquisadora. O que fazer, então, se o boato estava feito e, ao que tudo indicava, estavam esperando<br />

a reação da pesquisadora? Se o boato circulou ou não, a pesquisadora não ficou sabendo porque decidiu nada fazer. Porém, apenas<br />

após ter resolvido o sentimento de surpresa porque não era verdade tal comentário– muito embora, até isso possa ser colocado em<br />

dúvida porque ninguém poderá provar o contrário 4 -, foi que ouviu e assimilou o comentário.<br />

No entanto, o episódio serviu para que a pesquisadora ficasse sabendo que ela, também, era alvo das fofocas que eram<br />

tecidas no cotidiano dos moradores. Constatou que, o fato de ser uma mulher e jovem abria o leque das possibilidades de desejos de<br />

conquista por parte dos homens, bem como, despertava o sentimento de ameaça e temor nas mulheres do lugar, pois a mesma poderia<br />

atrair ou despertar o interesse dos seus respectivos companheiros, namorados, maridos ou amantes. Além de tal experiência possibilitar<br />

o alargamento teórico-metodológico sensibilizando-a para o fenômeno.<br />

Por outro lado, se para o rapaz dizer que “namorou” a pesquisadora significou estar em melhor posição do que os demais<br />

rapazes; para as mulheres, um motivo ainda maior para que elas passassem a criar ou enfatizar as fofocas a respeito daquela – a<br />

visitante, a estranha - que para elas poderia representar uma ameaça, para então, sossegarem suas próprias consciências. Como<br />

escreveu Durkheim, “a repressão dos criminosos não visa combater os criminosos, mas visa sossegar a ansiedade dos que advogam<br />

contra os criminosos” (1999).<br />

Depois, a pesquisadora também constatou que a invenção 5 do jovem entrevistado, sendo verdadeira ou não, porque a<br />

pesquisadora nunca lhe perguntou sobre tal boato, abriu-lhe os ouvidos para o fato de que o rapazes eram capazes de fofocar, inventar<br />

que teriam namorado, beijado, transado com esta ou aquela moça. Isto ficou mais evidente com os depoimentos, alguns indignados, das<br />

moças que disseram que em [diz o nome do lugar] o rapaz é capaz de dizer que “ficou” com uma moça sem nunca ter “ficado” (Silva,<br />

V., 2000). Também apontam os homens, os rapazes como machistas: são machistas! Esta entrevistada (23 anos, op.cit.), associa o<br />

machismo à “criação”, ao modo como são educados os rapazes e, por isto, para ela, trata-se de uma reprodução deste tipo de educação<br />

dos pais. O que ela vê como uma questão que chega a ser: maldosa (op.cit, p. 134). Além de indicar que criar boatos de sucesso na<br />

investida sexual, por parte dos rapazes, pode representar a auto-afirmação diante dos pares, além de uma espécie de “vingança” contra<br />

a moça que o frustou. Se ampliarmos esta observação, também, será possível pensarmos que os rapazes estão se espelhando num<br />

modelo ou práxis social que já está dada, ou seja, a prática da fofoca.<br />

Por outro lado, é complementar a esta idéia a fala de um rapaz (20 anos) durante os festejos de Nossa Senhora do Rosário,<br />

outubro de 2001, pois pode ser indicativo para um resumo da imagem que fazem de si ou dos homens do lugar: o homem em [nome<br />

do município] pode tudo!<br />

Deste modo, a partir das experiências empíricas, passei a observar que a fofoca é um instrumento que pode ser manejado,<br />

cotidianamente, tanto por homens como por mulheres nesse município do Vale do Jequitinhonha, expressando, portanto, as preocupações<br />

do grupo social, as dúvidas, os medos, os receios e os desejos. O que acaba por conferir ao cotidiano desses moradores um processo<br />

dinâmico de regulação social e moral. Dinâmico porque age conforme o jogo de interesses e disputa de poder pessoal ou social.<br />

Homens e mulheres contribuem com boatos, muitas vezes, difamadores sobre as moças (as raparigas) que vivem a sua<br />

sexualidade de maneira que, por vezes, pode não corresponder ao esperado pelo coletivo. Ou seja, difamam as jovens que não seguem<br />

as regras do bom comportamento, pois, ao que tudo indica, devem ter namorados fixos e públicos, do tipo que foi apresentado aos<br />

pais. Entretanto, caso isso não ocorra, e muitas vezes isso não ocorre, as moças são chamadas de “putas” (diminutivo da palavra<br />

prostituta), no dizer de que elas ficam com “todos” os homens 6 .<br />

Então os falatórios, neste município, muitas vezes, giram em torno da conduta desta ou daquela moça (rapariga) que ao sair<br />

da escola ficou aos beijinhos com um rapaz no banco da praça; no baile beijou outro; e na Festa de Nossa Senhora do Rosário, também<br />

foi vista aos beijos e abraços com o rapaz que veio de fora. Para então compreendermos o depoimento de uma moça: “ah! mas se eles<br />

dizem que sou puta, não sou...” 7 , insinuando que não ligava para o que diziam. Entretanto, ouvindo duas jovens portuguesas (uma<br />

de 23 anos, a outra com 20 anos de idade) de uma Aldeia próxima à Serra da Estrela, portanto de contextos diferentes mas que vivem<br />

situações semelhantes, pude constatar que comentários desse tipo, também ocorrem. A jovem (23 anos) enfatiza:<br />

654


E: Acontece que eu tenho uma prima minha que está a morar no Porto e, ela troca, tipo de ano em ano, troca de namorado.<br />

E no início começou a levar os namorados todos lá, à Aldeia. E depois vem um, no ano a seguir vem outro, depois vem<br />

outro e as pessoas começam a falar que ela é isto, que é aquilo...<br />

P: O que eles falam, quais os termos que usam?<br />

E: Posso ser curta e grossa?<br />

P: Curta e grossa, pode falar.<br />

E: Puta.<br />

Numa das visitas ao campo de pesquisa, em outubro de 2001, ouvi outros boatos que envolviam moças solteiras, algumas,<br />

mães-solteiras classificando-as como “prostitutas” ou “vagabundas”, como me disse uma jovem mãe-solteira (23 anos) de um<br />

pequeno município do Vale do Jequitinhonha: “(...) Não é porque você tem um filho que você é vagabunda, né” 8 . Tomei conhecimento<br />

de um caso de falatório que envolvia uma jovem de 22 anos, mãe-solteira, e sua relação com um homem de estado civil, casado. Soube<br />

da história por várias fontes, mas um contexto específico chamou-me a atenção.<br />

Chegava à prefeitura municipal, como já fazia em outros dias, para pesquisar. A mulher que ocupava um cargo de Chefia,<br />

sempre simpática, cumprimentou-me convidativamente para que entrasse em sua sala. Especificamente, naquele dia, com a passagem<br />

da moça de 22 anos, funcionária da prefeitura, a mulher no cargo de Chefia, silenciou-se e com o olhar acompanhou a jovem até que<br />

saísse da sala. Em seguida, inclinou-se sobre a mesa, aproximou-se mais ainda em minha direcção e, quase sussurrando, iniciou o<br />

seguinte comentário: “Você já sabe...? Póde menina, está desmanchando uma família!”<br />

Por acaso já sabia. Mas a mesma mulher em cargo de Chefia ainda queria testar minha capacidade de jurada, além de testar<br />

ou verificar se a pesquisadora, também solteira, não seria outra ameaça; pois, seu comentário seguinte induzia-me a emitir minha<br />

opinião sobre tal fato. Acrescentou: “(...) uma moça solteira deveria procurar um rapaz solteiro para se envolver, não?”. Como já<br />

vinha tendo algumas conversas que procuravam informar e demarcar minha condição de pesquisadora e de outsider, não foi muito<br />

difícil sair-me do constrangimento que aquela mulher tentava me impor. Entretanto, passei a observar melhor sobre o caso, uma vez<br />

que estava próxima à jovem envolvida, pois ela trabalhava na prefeitura municipal da cidade e no local onde realizava algumas<br />

pesquisas em documentos. E, por outro lado, conversava com a esposa cujo marido não lhe dedicava fidelidade, pois a mesma tinha<br />

um pequeno Bar que, por vezes, fui freguesa.<br />

Pude constatar que, por parte dos envolvidos havia um certo compasso de espera sobre a resolução de tal questão, pois a<br />

esposa julgava-se culpada pelo desamor do marido. Por outro lado, a jovem mostrava-se receosa dos julgamentos do grupo social. Por<br />

parte dos amigos da moça, de mesma faixa etária, notei o silêncio que mais parecia de cumplicidade, uma vez que evitavam fazer<br />

qualquer comentário sobre seu comportamento. Outras mulheres casadas que pronunciaram-se, comentavam ora sobre a moça, ora<br />

sobre o comentário de outras mulheres casadas. Especificamente, duas mulheres casadas que julgavam e condenavam a postura da<br />

jovem enamorada, tinham posições públicas. Uma era a própria mulher em cargo de chefia, a outra, esposa de um ex-candidato<br />

(derrotado) à prefeitura da cidade. Segundo contam, também traziam e contradiziam seus históricos na vida pública da cidade, pois<br />

uma tinha as marcas (simbólicas) da violência doméstica (no caso da mulher em cargo de Chefia); bem como, à ambas, o conhecimento<br />

público das amantes de seus respectivos maridos.<br />

Disso tudo, penso que poderíamos recorrer às análises ou pesquisas que fizeram uso da “idéia de rede”, uma vez que, em<br />

se tratando de rumor, o acima citado tinha o fato de que não se tratava de mera fofoca intrigueira, tratava-se de um fato real e que,<br />

estendeu-se a outros moradores que direta ou indiretamente estavam sendo chamados a tomar partido. Neste sentido e segundo<br />

Hannerz (1980), a importância do conceito de rede seria adequada porque “(...) han sido um paso adicional hacia la comprensión de<br />

tales unidades, en la medida em que hacen posible una especificación mas exacta de la naturaleza de los vínculos dentro de dicho<br />

campo” (p.197). Portanto, circunscrevendo as relações individuais e dos grupos de amigos, vizinhos e parentes num determinado<br />

sistema social (p. 197, rever), sendo que “(...) mediante el rumor, se pude dañar a enemigos y sancionar a los disidentes dentro del<br />

grupo. Se puede también mantener afuera a los intrusos ya que carecen de conocimientos acumulados sobre las personas y su pasado<br />

que son la base del rumor como arte noble” (p. 213).<br />

Neste sentido, é possível uma análise de rede sobre a fofoca, principalmente porque poderemos ter a possibilidade de<br />

compreendermos as complicações do relacionamento social, nesta sociedade rural ou “rurbana” 9 .. Complicações que, num primeiro<br />

olhar, mostrar-se-ão simplesmente banais. Deste modo, veremos que no conteúdo das fofocas, também estarão contidos as intenções<br />

da intriga ou da vingança.<br />

Assim sendo, analisemos um outro caso de fofoca que afeta, diretamente, a honra das pessoas: após uma quadrilha realizada<br />

em um dos bairros rurais, no m_eas de julho começaram os boatos de que na referida festa algumas mulheres casadas (que não estavam<br />

com seus maridos) tinham “ficado” com outros homens, assim como, homens casados (sem suas esposas) “ficado” com outras<br />

mulheres. O falatório piorou quando algumas mulheres, que foram citadas pelos fofoqueiros, vieram a público reclamar porque não<br />

estiveram na festa. Num dos casos que presenciei, a mulher, moradora de um bairro rural, veio até a cidade acompanhada de seu marido<br />

655


para saber quem foi que iniciou tal boato. Porém, a preocupação maior tanto da mulher quanto do marido era de recuperar a “boa<br />

reputação” de ambos, uma vez que o marido não poderia passar por “traído”, numa sociedade em que “oficialmente”, o homem é que<br />

“pode” ou tem “direito” de trair. Quem foi não souberam 10 , portanto, disseram que iriam queixar-se à polícia.<br />

(...) Sentir-se ofendido é, portanto, a pedra de toque da honra, porque uma afronta física é uma desonra, independentemente<br />

das questões morais em causa, e cria uma situação em que a honra da pessoa afrontada está em risco e exige uma<br />

“satisfação” sem a qual não pode reencontrar a sua situação normal. [Julian Pitt-Rivers, 1965, p.17].<br />

Neste sentido, podemos considerar que a mulher indignada também tinha o sentimento de vergonha, gerado a partir deste<br />

falatório. Mas se ela nada devia, do que envergonhar-se? Uma vez que sua boa conduta, o seu bom comportamento foi colocado em<br />

dúvida, viu refletido, o que para ela já estava estabelecido, sua honra num espelho obscuro. Ou seja, a imagem que ela fazia de si não<br />

foi reconhecida pelos demais ou por alguém (Pitt-Rivers, 1992).<br />

Também é certo que, não obtendo a reparação pública com um pedido de desculpas, por exemplo - até porque o boateiro<br />

jamais se declarará como “culpado”-, é legítimo que se instaure o sentimento de vingança por parte de quem foi ofendido ou teve sua<br />

honra (imagem) manchada. No caso investigado, pouco pude observar pedidos públicos de desculpa sobre um boato plantado. Isto,<br />

muito provavelmente porque um pedido público de desculpas colocaria em descrédito a palavra daquele ou daquela que deu início a<br />

fofoca, pois o original da fofoca e do rumor é, justamente, não saber a fonte. Sobretudo, quando esta prática tem um caráter<br />

moralizador dentro do grupo social, além de destacar a pessoa que se intitula como moralizador.<br />

O que nos remeteria para a seguinte questão: poderá a fofoca assegurar que as pessoas, sobretudo os jovens vivam em<br />

conformidade com as normas sociais, tais como iniciarem-se nos namoros com objetivo do casamento, assegurar a virgindade, no caso<br />

das moças, serem fiéis no casamento, etc.?<br />

Se retomarmos o exemplo de boatos que estigmatizam as moças dizendo que são “putas”, poderíamos ler como um tipo de<br />

comentário que induz uma pessoa, sobretudo quando não se está seguro da imagem de si, a assumir o “rótulo” que lhe impõem, a<br />

assumir uma “identidade projetada”. Seja para confrontar seja por resignação. Em Outubro (2001) pareceu-me que tais boatos<br />

estigmatizantes vêm assumido proporções mais representativas, bem como o seu caráter, pois havia comentários de que estava se<br />

formando um grupinho de moças “que não prestavam” na cidade. Até onde pude apurar, tal grupinho era formado por moças solteiras,<br />

algumas com segundo grau completo, com experiência de terem morado fora da cidade, algumas, também mães. O que era apontado<br />

como agravante ou desviante em seus comportamentos: tornavam público ou não se preocupavam em deixar transparecer os<br />

envolvimentos descompromissados, mesmo com os homens casados, a busca mais frequente por divertimentos noturnos.<br />

O que levou-me a pensar se, no caso de estarem unindo-se para encontrarem apoio uma nas outras em confronto com a<br />

norma ideal ou dominante, talvez, estejamos diante de um caso semelhante ao que observou Hannerz (1980) junto a um bairro negro<br />

em Washington, em que “ (...) o rumor podia levar, às vezes, ao reforçamento da norma mas podia também ser um catalisador para<br />

romper ou atenuar relações com gente que insistira nas normas com as que havia chegado a ser indesejável, inconveniente ou<br />

simplesmente impossível concordar” 11 . Por outro lado, podem representar uma dimensão fatalista da realidade em que vivem de<br />

poucas opções ou motivações afetivo-amorosas. Além, de colocar em questão, a priori, o poder dos que através da fofoca são capazes<br />

de enquadrar socialmente a conduta de moças e mulheres.<br />

Não obstante, um parêntesis se faz necessário para refletirmos sobre o que a tradição da cultura oral pode desencadear junto<br />

a populações que são, por herança ou origem, orais. Talvez este seja o caso da cidadezinha investigada, uma vez que trata-se de uma<br />

população predominantemente negra e semi-analfabeta. Uma população cuja origem histórica traduz imprecisões e ambiguidades,<br />

pois apesar do fato de haver muitos negros nesta localidade, não se tem indicações precisas de sua origem, tampouco se tem, até o<br />

presente, histórias que expliquem de onde vieram os primeiros habitantes que deram origem ao município. Há, porém, rumores de que<br />

seriam descendentes de ex-escravos que vieram atraídos pela descoberta de ouro 12 .<br />

Com essa digressão pretendo recuperar a hipótese de que para uma população que se constituiu pela oralidade, ou que a<br />

tradição da oralidade tenha sido referência por muitos anos, poderíamos pensar na idéia de que, se uote quem conta um conto aumenta<br />

um ponto”, como na transmissão de ensinamentos morais, de experiências que traduzam modos práticos para se viver, então, a fofoca<br />

seria a representação do outro lado dessa mesma oralidade. Na narrativa que visa imprimir um ensinamento através da experiência, esta<br />

quase sempre foi comunicada em tom de advertência ou numa tentativa de aconselhar ou impor respeito para com aquele que está<br />

transmitindo algo, no caso, um avô ou avó, por exemplo, mas sempre alguém mais velho e que já viveu bastante (Benjamin, 1994 ).<br />

Entretanto, será que nesse município não se teria nessa virtude de narrar, a contrapartida, na fofoca, o avesso dessa virtude<br />

transformada em sentido de punição, coerção, ou mesmo de ensinamento através de uma espécie de condenação? Caso consideremos<br />

que sim, então, a fofoca, os falatórios desempenhariam um papel “pedagógico”, sobretudo junto aos mais novos, rapazes e moças,<br />

assim como, junto às mulheres casadas, porque assim a família também estaria protegida de qualquer conduta tida como desviante,<br />

frente a uma moral que é defendida por determinados adultos e adultas mais velhos. Talvez muito próximo do que diz o ditado<br />

português: “ninguém se ria do mal do vizinho, que o seu já vem a caminho”. Portanto, exercendo o papel de “pedagogia” através da<br />

fofoca inibidora. Mas, em contrapartida ou contraditoriamente há uma espécie de fofoca libertadora 13 que funcionaria como um<br />

656


instrumento que vai minando os “muros” da moral, que vai atenuando situações que outrora poderiam ser consideradas inaceitáveis,<br />

tais como: a separação de casais, o adultério, o não casamento quando um rapaz engravida uma moça.<br />

Noutros termos, poderíamos dizer que à fofoca inibidora corresponderia um fluxo de comentários de alerta, de lembranças<br />

do que é moralmente aceito pelo grupo social (os que defendem uma moral “antiga), ou o que se espera da pessoa. E, neste fluxo está<br />

contido, do meu ponto de vista, tudo que diz respeito ao comportar-se bem e corretamente nos assuntos da sexualidade, assim como<br />

os que envolvam dinheiro. A fofoca libertadora, por sua vez, seria o refluxo ou um movimento que vai contra o fluxo da inibição,<br />

porque as pessoas que dão início às transgressões, sobretudo quando dizem respeito a sexualidade (namoricos descompromissados,<br />

diversões noturnas, ousadias nas vestimentas, tomar a iniciativa na conquista dos rapazes – no caso das moças, por exemplo), sabem<br />

que serão alvo certeiro das fofocas, no entanto, não desistem. Deste modo, podemos perceber que o relacionamento social do<br />

município em questão é marcado por relações inter e intra- pessoais tensas. Porém, parece-me que, justamente, o clima de tensão é o<br />

que sustenta as duas hipóteses estarem presentes nesta reflexão sobre a fofoca.<br />

O que nos levaria a pensar sobre o sentimento de vergonha. Assim sendo, a vergonha seria, portanto, a autoridade a quem<br />

os boateiros – autores da fofoca inibidora – devem obediência. Em contrapartida, os que se dizem honestos, corretos, são os que mais<br />

temem as fofocas; são os que proclamam-se como “pessoas de vergonha na cara”. Mas o fato de temer não significa que o morador será<br />

isentado das mesmas. Todavia, podemos entender que a vergonha como disciplinadora corresponde ao que dita o “costume social”.<br />

Entretanto, se o “costume” já não diz, já não faz sentido para um determinado segmento da sociedade, inevitavelmente, ele modificará<br />

a “tradição” “(...) à qual ele geralmente está associado”, conforme Hobsbawn (1997:10). Então, na contracorrente da pequena<br />

cidadade, remam alguns moradores, jovens, moças e rapazes, homens e mulheres que, na dinâmica sutil do banal, desempenham no<br />

cotidiano, ações que reproduzem, talvez, um modo diferente de pensar sobre o mesmo, sobre como viver os seus desejos ou como dar<br />

sentido aos dias, tentando realizar seus desejos. Talvez sejam vistos pelos que temem a mudança, seja ela qual for, como pessoas de<br />

pouca vergonha, “os que não têm vergonha na cara”.<br />

Para Julian Pitt-Rivers (1992) a honra é um “valor moral e fato social objetivo ao mesmo tempo” e, portanto, existe uma<br />

grande dificuldade de compreensão do significado da honra em diferentes grupos ou sociedades porque o “reconhecimento desse<br />

modelo ideal” não é aceito por todos. Ou seja, é inegável que os conflitos daí resultem e por isto mesmo, eles sejam um fenômeno<br />

universal. Deste modo: “os critérios segundo os quais a honra é concebida dependem da identidade de cada comunidade e do ponto de<br />

vista coletivo comum a ela. A aprovação ou as dúvidas suscitadas pela conduta do outro na vida cotidiana já contêm a origem de uma<br />

noção de honra que será formulada, no final de contas, pelos moralistas ou legisladores, e integrada aos costumes” [op. cit., p.22-23].<br />

Em estando as fofocas, na maioria da vezes, ligadas ou associadas à conduta sexual dos moradores, sobretudo, das mulheres<br />

e que, de certa maneira, a honra sexual é que ganhe maior proeminência, será que há por parte desses moradores, realmente, a<br />

preocupação com a honra da mulher ou será com a dos homens? Ou com a de ambos? Mas aí terão as mesmas implicações práticas?<br />

Antes de responder ou refletir sobre esta questão, talvez fosse interessante tentar fazer um esboço dos boatos que envolvem<br />

os homens, os rapazes dessa cidadezinha, ou o que dizem sobre o universo masculino deste município. Penso que a tônica das fofocas<br />

a respeito dos homens estão associados ao dinheiro, ganho, poder. Dinheiro e poder gravitando, sobretudo, nas relações políticas.<br />

Então, o trabalho é muito importante na constituição da identidade masculina e, por isso mesmo, seja ele a fonte de preocupações ou<br />

mesmo, motivação para os jogos de intriga, impulsionados, muitas vezes, pelo puro sentimento de inveja, assim como, do clientelismo<br />

ou mesmo das amizades para se obter prestígio e melhores salários.<br />

É fato que, também, ter trabalho, seja ele qual for, para os rapazes, pode representar mais um elemento para os jogos da<br />

conquista das mulheres. Pude observar que os rapazes que vão para o corte da cana-de-açúcar, em fazendas no estado de São Paulo<br />

ou para outras localidades e outros tipos de trabalhos temporários, conseguindo algum dinheiro, imediatamente, compram algum bem<br />

de consumo que possa ter visibilidade: roupas ou tênis de marca, motocicleta, aparelhos de som. De certo modo, isto também poderá<br />

despertar a inveja porque poderão julgar que o rapaz deseja mostrar-se em melhores condições que os demais mas, contraditoriamente,<br />

há a expectativa por parte dos que ficaram, sejam eles amigos, parentes, vizinhos que o homem, o rapaz que esteve fora, para ganhar<br />

dinheiro, demonstre que teve êxito. No plano da sedução, o homem adulto ou rapaz solteiro, ao retornar desperta nas moças,<br />

sobretudo nas solteiras, um olhar mais interessado.<br />

Outras fofocas que ouvi, muitas, envolviam os homens que estavam ligados, diretamente, ao universo da política local:<br />

prefeito, adversários, vereadores, militantes políticos. Num dos boatos, o tema era os desvios de verba que os vereadores realizaram.<br />

Num programa do Governo Federal de envio de cestas básicas que deveriam ser distribuídas às famílias carentes, estas foram<br />

apropriadas por alguns vereadores, sobretudo os que eram da situação (apoiavam o atual prefeito) para serem dadas a um possível<br />

eleitorado em eleições seguintes. Tal falatório perdurara até o mês de outubro (2001), sendo que o ocorrido tinha sido no início do<br />

referido ano.<br />

Por outro lado, as fofocas sobre os deslizes políticos, neste município – campo de domínio masculino – são marcados, muito<br />

mais, pelo misto de indignação e admiração pelo homem que representa um tipo de poder no lugar. Os comentários sobre desvios de<br />

dinheiro público, por parte dos governantes locais, tornam-se mais fortes à medida em que um homem adquire algum bem material de<br />

visibilidade, tais como: carro, moto, casa. Ou mesmo a reforma da casa, a compra de alguma extensão de terra ou, ainda, abrir um<br />

pequeno comércio. Insinuam a falta de caráter do homem, mas em contrapartida, parece-me que há uma atenuação no discurso porque,<br />

de certo modo, talvez achem que para se chegar ao poder tem que se roubar; ou, talvez seja mesmo o misto desse pensamento<br />

compensatório de admiração e projeção. Consequentemente, algo que desperta o sentimento de inveja, a traição e a dissimulação.<br />

Como neste depoimento: Aqui em [nome da cidade], eles matam e depois vêem chorar no seu caixão [mulher, 40 anos] 14 .<br />

657


Algo que demonstrava um misto de admiração e projeção ouvi no depoimento de um rapaz de 23 anos, migrante sazonal<br />

para os corte da cana-de-açúcar nas fazendas da região da agroindústria no estado de São Paulo, ou colheita de café nas fazendas no sul<br />

do estado de Minas Gerais, disse-me que só seguia para estes trabalhos levado pelo “gato” – agenciador desse tipo de mão-de-obra na<br />

região que serve de intermediário entre o patrão e esses empregados, ganhando sempre uma porcentagem sobre o salário desses<br />

trabalhadores – até aprender a ir sozinho. Depois que aprendesse não precisaria mais do “gato”, assim como não precisaria dividir com<br />

este o que ganhava. Ou seja, quando aprendesse os caminhos do “gato”, iria juntar “sua” própria turma, iria concretizar o desejo, nem<br />

sempre abertamente confesso, de também ser chefe, “gato” 15 . Enquanto no pequeno município tecem boatos sobre a honestidade do<br />

“gato”.<br />

Por outro lado, comentários que envolvem os rapazes, sobretudo os que “engravidam” – sem assumirem a paternidade ou<br />

mesmo o relacionamento com a moça – pareceu-me que não têm tanto peso ou são acentuados na condenação, quase como se<br />

dissessem que dos rapazes isso já é esperado. Como se ainda estivesse marcado no imaginário um dito popular que diz: “segurem suas<br />

cabras que meu bode está solto”.. Muito comum entre as famílias do meio rural ou das camadas populares no Brasil, quase sempre<br />

presente num processo de socialização familiar ou coletivo, podendo ser dito pelo pai ou pela mãe, mas sobretudo às filhas, indicando<br />

que devem ter recato. Indiretamente aos rapazes, tal dito sinaliza que podem avançar os sinais, mais livremente 16 .<br />

Entretanto, ouvi um boato, até onde pude apurar, de pouca circulação emitido por um adulto, que colocava em dúvida a<br />

masculinidade de um rapaz. Tratava-se de um entrevistado (15 anos) e, minutos antes de sua chegada para nossa entrevista, fui<br />

informada de que o rapaz não seria muito interessado em mulheres. Tal informação poderia ter pouca relevância, caso não estivesse<br />

realizando uma pesquisa sobre a relação dos jovens com a sexualidade. Também não teria muito propósito o comentário do interlocutor<br />

adulto, caso não tivesse comentado com ele sobre minha pesquisa, até porque queria sua autorização para realizar a entrevista na casa<br />

em que estava hospedada, que era sua.<br />

A partir desse comentário passei a observar melhor tais pistas. Portanto, convivendo por um determinado tempo nesse<br />

município, no cotidiano de seus moradores percebi alguns grupinhos de rapazes, às vezes, até duplas que se auto-representavam como<br />

viris, quando andavam com rapazes tidos como mais “afeminados”, os comentários – muitas vezes, até entre os próprios jovens -<br />

eram em tons de gozação ou brincadeiras do tipo maliciosas. Como se o contato com um rapaz de aparência “menos” viril representasse<br />

uma ameaça à virilidade 17 .<br />

Contudo e para finalizar, o presente ensaio trouxe algumas das reflexões que venho realizando acerca do tema da fofoca,<br />

buscando compreender o seu papel na formação das identidades dos jovens, moças e rapazes de um pequeno município rural ou<br />

“rurbano”, na região do Vale do Jequitinhonha (MG). Tal fenômeno vem se mostrando com um forte poder de influenciar nas<br />

trajetórias e experiências da sexualidade dos jovens investigados.<br />

658


Referências bibliográficas<br />

BENJAMIN, W. “O Narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”. Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre<br />

literatura e história da cultura. (Col. Obras Escolhidas. Vol. 1). São Paulo: Brasiliense, 1994.<br />

CARNEIRO, M. J. “o ideal rurbano: campo e cidade no imaginário de jovens rurais”. DA SILVA, F.C.T., SANTOS, R., COSTA,<br />

L.F.de C. (orgs.) Mundo Rural e Política: ensaios interdisciplinares.. Rio de Janeiro: Campus, 1998.<br />

CASTORIADIS, C. A Instituição Imaginária da Sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.<br />

CUTILEIRO, J. “A vizinhança”. Ricos e Pobres no Alentejo. Livraria Sá da Costa Editora, 1977.<br />

DIAS, F. Rumor: A Realidade Improvisada. Lisboa: Editora Estratégias Criativas,1999.<br />

DURKHEIM, E. Da Divisão do Trabalho Social. Tradução: Eduardo Brandão. São Paulo: M. Fontes, 1999.<br />

ELIAS, N. & SCOTSIN, J. L. “Introdução: Ensaio teórico sobre as relações estabelecidos-outsiders”. “Considerações sobre a fofoca”.<br />

Os Estabelecidos e os Outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge<br />

Zahar Ed., 2000.<br />

EPSTEIN, A. L. “Gossip, Norms and Social Network”. Scenes from African Urban Life: Collected Copperbelt Papers. Edinburgh<br />

University Press, 1992.<br />

HANNERZ, U. “El Rumor: Chisme y Red”Exploración de la ciudad: hacia uma antropología urbana. Fondo de Cultura Económica,<br />

1980.<br />

GALIZONI, F. M. A Terra Construída: família, trabalho, ambiente e migrações no Alto Jequitinhonha, Minas Gerais. Dissertação<br />

de Mestrado. Departamento de Antropologia Social. F.F.L.C.H./USP, 2000.<br />

GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.<br />

HEILBORN, M. L. (org.) Sexualidade: o olhar das ciências sociais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.<br />

HOBSBAWN, E. & RANGER, T. A Invenção das Tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.<br />

KAPFERER, J-N. Boatos: O meio de comunicação mais Velho do Mundo. Publicações Europa-América, 1987.<br />

MARTINS, J. de S. (org.) Vergonha e Decoro na Vida Cotidiana da Metrópole. São Paulo: Editora Hucitec, 1999.<br />

PARKER, R. G. Corpos, Prazeres e Paixões: a cultura sexual no Brasil contemorâneo. São Paulo: Editora Best Seller, 1991.<br />

PITT-RIVERS, J. “Honra e Posição Social”. PERISTIANY, J.G. (org.) Honra e Vergonha: Valores das Sociedades Mediterrânicas.<br />

Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1965.<br />

PITT-RIVERS, J. “A doença da honra”. CZECHOWSKY, N. (org.) A honra: imagem de si ou dom de si. Porto Alegre: L & PM, 1992.<br />

SILVA, V. A. da. “Eles não têm nada na cabeça...”: jovens do sertão mineiro entre a tradição e a mudança. Faculdade de Educação.<br />

Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas, 2000.<br />

∗ A primeira versão deste ensaio foi apresentada numa conferência aos alunos do I.S.C.T.E. (Instituto Superior de Ciências do<br />

Trabalho e da Empresa da Universidade de Lisboa), no Ciclo de Conferências de Sociologia do Cotidiano, a convite do professor Dr.<br />

José Machado Pais, durante o período em que estive como pesquisadora-visitante no Instituto de Ciências Sociais da Universidade<br />

de Lisboa (fevereiro-agosto/2002).<br />

∗∗ Vanda Aparecida da Silva. Doutoranda no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas-SP<br />

(UNICAMP). Projeto: Menina carregando menino...: sexualidade e família entre jovens rurais num município do Vale do Jequitinhonha-<br />

MG. Financiamento: FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). E-mail: vandas7@yaho.c oom.br<br />

No texto a seguir oculto os nomes do município e dos sujeitos investigados, pois, até o momento, acho que será melhor tanto para a<br />

preservação dos mesmos, quanto da própria investigadora.<br />

659


1 José Cutileiro, para o caso de uma Aldeia no Alentejo, observou: “A bisbilhotice é, por conseguinte, a expressão de juízos de toda<br />

a gente e de ninguém, o que faz dela uma forma particularmente eficaz de controle social. Torna-se necessário prestar a máxima atenção<br />

aos pormenores mais insignificantes da aparência e conduta pessoais, porquanto os comentários serão inevitáveis e, além disso, os<br />

comentários desfavoráveis espalhar-se-ão por toda a aldeia”. Ricos e Pobres no Alentejo. Livraria Sá da Costa Editora, 1977: p.186.<br />

2 Clifford Geertz (1989) viveu situação semelhante na Ilha de Bali. Incomodado com a indiferença dos moradores, a partir de um<br />

episódio vivido durante a “briga de galos”, foi surpreendido com uma descrição tão densa como não poderia imaginar. Escreveu: “(...)<br />

Vendo minha mulher e eu, brancos, lá no pátio, o policial executou a clássica aproximação dúbia. Quando recobrou a voz, ele<br />

perguntou, em tradução aproximada que diabos estávamos fazendo ali. Nosso hospedeiro de cinco minutos saltou instantaneamente<br />

em nossa defesa, fazendo uma descrição tão apaixonada de quem e do que éramos, com tantos detalhes e tão correta que eu, que mal<br />

me havia comunicado com um ser humano vivo, a não ser meu senhorio e o chefe da aldeia, durante mais de uma semana, cheguei a ficar<br />

assombrado(...)”. Notas sobre a Briga de Galos Balinesa. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989, p. 281.<br />

3 Ouvindo outros moradores identifiquei outro sobrenome de família tida como tradicional e de influência no município, a família dos<br />

Lourenço (Silva, V., 2000: p. 35). Entretanto, podemos também enfatizar que família, articula-se com significado duplo, pois pode<br />

significar tanto “(...) a unidade de reprodução constituída pelo marido, mulher e filhos, quase sempre coincidindo como grupo<br />

doméstico, mas nem sempre com o de residência. Significa também rede de parentesco – tios, primos, sobrinhos etc. – uma família<br />

ampliada derivada de um ancestral comum. No termo família estão articuladas estas duas definições, sendo que podemos entender a<br />

família nuclear como um ciclo de fragmentação da família extensa. Esta assertiva local de família está muito próxima da explicação<br />

oferecida por Pereira de Queiróz (1973:53) em sua reflexão sobre o campesinato brasileiro: a família do sitiante se apresenta como<br />

conjugal do ponto de vista econômico, porém se define como parentela, quando tomamos a perspectiva das relações sociais”.<br />

GALIZONI, F. A Terra Construída: família, trabalho, ambiente e migrações no alto Jequitinhonha, Minas Gerais. Dissertação<br />

de Mestrado. USP – Universidade de São Paulo, 2000, pp. 47-48.<br />

4 E, caso o rapaz tenha dito mesmo que namorou a pesquisadora, que controle terá o pesquisador sobre a imaginação do outro...?<br />

5 Segundo Castoriadis, “(...) falamos de imaginário quando queremos falar de alguma coisa inventada – quer se trate de uma invenção<br />

absoluta (uma história imaginada em todas as suas partes), ou de um deslizamento, de um deslocamento de sentido, onde símbolos<br />

já disponíveis são investidos de outras significações que não suas significações normais ou canônicas (o que você está imaginando,<br />

diz a mulher ao homem que recrimina um sorriso trocado por ela com um terceiro). Nos dois casos, é evidente que o imaginário se<br />

separa do real, que pretende colocar-se em seu lugar (uma mentira) ou que não pretende fazê-lo (um romance). A Instituição<br />

Imaginária da Sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, pp.154.<br />

6 Desenvolverei as idéias de Estigma e Honra (conforme definicão de Julian Pritt-Rivers: guia da consciência, como regra de conduta<br />

ou como medida de status social).<br />

7 Diário de campo – período 1998-1999 – para elaboração da dissertação de mestrado.<br />

8 Diário de campo - período 1998-1999 – para elaboração da dissertação de mestrado.<br />

9 Ver Maria José Carneiro, “O ideal rurbano: campo e cidade no imaginário de jovens rurais”, 1998.<br />

10 Conforme observou José Cutileiro: “Quem propala mexericos tem o cuidado de evitar a possibilidade de um confronto directo com<br />

as suas vítimas. Quando a vítima de uma intriga pretende investigar a sua origem, a tentativa é geralmente frustrada; mesmo que as<br />

suspeitas possam ter algum fundamento, não se consegue apurar responsabilidades. As intrigas são transmitidas por pessoas<br />

identificáveis; a origem das informações em que aquelas se baseiam permanece, no entanto, anónima”. Ricos e Pobres no Alentejo.<br />

Livraria Sá da Costa Editora, 1977:185).<br />

11 Interpretação livre.<br />

12 Tal como observa Francisco Dias: “(...) os rumores transmitem verdades extra-oficiais, são uma manifestação dos processos<br />

grupais, e quando as informações são retransmitidas de gerações em geração correspondem a uma expressão da memória social e<br />

colectiva”. Rumor: a realidade improvisada. Porto: Estratégias Criativas- Sistema de Edição e Comunicação, 1999, p. 21.<br />

13 Agradeço a sugestão do professor Dr. José Machado Pais.<br />

14 Em “Otelo”, Shakespeare nos oferece sua compreensão desse lado da alma humana, através do triângulo de relações entre Otelo, sua<br />

bem-amada e Iago que condensa a intriga, a inveja, a traição. Recuperar tal obra, portanto, nos ilumina o olhar e a reflexão sobre esse<br />

“humano demasiado humano” que há em nós, nos homens e mulheres do sertão mineiro, por vezes, tão cruel, tão universal.<br />

15 Diário de campo 1998-1999.<br />

16 Cf. Richard Parker sobre o caso brasileiro: “Deduz-se a força que as estruturas patriarcais continuam a exercer sobre a vida<br />

contemporânea brasileira ao se contrastar os silêncios, as proibições e as repressões que caracterizam a socialização das mulheres com<br />

a radicalmente diferente educação sexual dos homens. (...)”. Corpos, Prazeres e Paixões: A cultura sexual no Brasil contemporâneo.<br />

São Paulo: Editora Best Seller, 1991: p. 95.<br />

17 Cf. Parker : “Constantemente ameaçadas, como se viu, por forças exercidas por todos os lados, a virilidade, determinante da<br />

sexualidade do homem maduro, deve seguir um caminho tortuoso e problemático no seu desenvolvimento. Precisa ser cultivada<br />

através de um complexo processo de masculinização, começando na primeira infância” (op. cit. p. 96).<br />

660


LAS FERIAS FRANCAS DE MISIONES, ARGENTINA: UNA RED DE ACTORES<br />

SOCIALES Y UNA NUEVA <strong>VI</strong>SÓN DE MUNDO RURAL<br />

Introducción<br />

662<br />

Alcides J. Ricotto 1<br />

Jalcione Almeida 2<br />

En este trabajo se presentan los resultados de un análisis de las ferias francas de Misiones, Argentina. Primeramente, se<br />

analiza al conjunto de actores sociales que dan sustento a las ferias, bajo la noción de red de poder, en un segundo momento se presenta<br />

una breve descripción de la visión de mundo rural que están construyendo los actores que participan en tres de las ferias pero que están<br />

involucrados en la totalidad de la experiencia. El trabajo está divido en tres tópicos además de esta introducción. Primeramente se<br />

presenta el objeto de estudio y se describe la localización y el contexto socioeconómico en que están insertas las ferias, se hace<br />

también una pequeña descripción de los actores sociales. En el segundo punto se utiliza la noción de red de poder para entender al<br />

conjunto de actores sociales comprometidos con las ferias y se presenta la noción de mundo rural que está siendo construida por estos<br />

actores. Finalmente se colocan los orígenes y principalmente los efectos de las ferias francas sobre la realidad social estudiada.<br />

El objeto de estudio y el contexto donde se desarrolla<br />

Las transformaciones tecnológicas, económicas, sociales y políticas ocurridas en el mundo en el último cuarto de siglo<br />

afectaron diversas estructuras de la sociedad. En el ámbito social estas transformaciones presentan a la sociedad actual como una<br />

estructura de organizaciones colectivas, caracterizada por la presencia de grupos de poder, organizaciones civiles y movimientos<br />

sociales que disputan poder de decisión y recursos públicos.<br />

En el ámbito de la economía, con la consolidación de la propuesta neoliberal, el Estado se fue transformando en un ente<br />

fragmentado, con poco poder de reglamentar e intervenir en la economía y con una nueva relación con las organizaciones lucrativas y<br />

no lucrativas de la sociedad.<br />

En el ámbito de la agricultura, el padrón conocido como agricultura moderna, que logró un aumento significativo en la<br />

producción de alimentos comienza a mostrar sus “efectos no deseados” tanto económicos, sociales como ambientales. Así, surgen<br />

críticas al proceso de desarrollo en general y al modelo de agricultura en particular, críticas basadas en la existencia de propuestas<br />

“alternativas” las cuales encierran diversas concepciones que van desde las preocupaciones para entender las dinámicas de la<br />

naturaleza hasta el cuestionamiento del modelo socioeconómico vigente (Almeida, 1999).<br />

Las experiencias de agricultura alternativa existentes en la Argentina, en general, poseen un carácter local y no tienen gran<br />

difusión. No obstante, en la mitad de la década del 90 aparecen las ferias francas de Misiones, que actualmente representan la<br />

experiencia de producción y comercialización “alternativa” de mayor importancia social.<br />

Entre las principales características de las ferias francas como proceso social se destacan: un avance en la organización y<br />

representación de los agricultores simbolizada por la consolidación de 40 asociaciones de productores y la creación de la Asociación<br />

Provincial de Ferias Francas (AFF); la circulación (considerando todas las ferias) de cinco millones de pesos 3 anuales, lo que significa<br />

una posibilidad de ingresos constantes para las 2500 familias participantes; la oferta de alimentos de calidad (sin agroquímicos) para<br />

los habitantes urbanos; el proceso de participación de los agricultores en todas las decisiones sobre la producción y organización y el<br />

acceso a distintas instancias de capacitación; la integración de las familias rurales con las que viven en los centros urbanos; la<br />

consolidación de un espacio de discusión sobre un nuevo modelo de agricultura a ser practicado y la construcción de un espacio de<br />

trabajo conjunto entre instituciones públicas y de la sociedad civil, entre otras.<br />

Frente a la complejidad de este proceso social surgen las siguientes indagaciones: ¿cómo se constituye este conjunto de<br />

actores sociales alrededor de las ferias francas? ¿Qué relaciones se establecen entre ellos, ¿Cómo ven el mundo rural estos actores?.<br />

Estos interrogantes guían este trabajo en la búsqueda de los siguientes objetivos: comprender lo que lleva a los actores sociales a<br />

confluir en la experiencia de las ferias francas; captar las interrelaciones establecidas, los principales intereses y significados que los<br />

actores dan a las ferias e identificar en el imaginario de los actores algunos elementos que indiquen la visión de mundo rural que está<br />

siendo construida en el seno de la experiencia.<br />

Conceptualmente se optó por abordar las ferias como una red de poder compuesta por actores colectivos, al mismo<br />

tiempo se le dio importancia a los actores individuales que, si bien, en su mayoría centran su actividad en una feria, conocen y<br />

participan de todo este proceso social. En primer lugar, se enfocaron las interrelaciones establecidas entre los distintos actores, los<br />

recursos de poder intercambiados y en los intereses. En un segundo momento, se analizó a los actores bajo un eje analítico (la visión<br />

sobre mundo rural), en este caso a través de los actores individuales que representan a los actores colectivos y los que centran su<br />

trabajo en las ferias de Oberá, San Vicente y Posadas.


La colecta de los datos se realizó a través de entrevistas semi-estructuradas realizadas con los actores de la red, estos<br />

fueron divididos en cuatro grupos: los mediadores técnicos, los representantes del poder público (municipal y provincial) los<br />

productores que venden en las ferias y los consumidores.<br />

La provincia de Misiones ocupa el extremo nordeste de la República Argentina (figura 1), posee 29.801 Km 2 de<br />

superficie, apenas un poco mas del 1% del total del país. El clima que domina en esa región es sub-tropical húmedo con mas de 1.700<br />

mm de precipitaciones anuales uniformemente distribuidas durante todo el año, la temperatura media ronda los 20º C y durante cada<br />

año pueden registrarse 10 heladas. (Golberg, 1999).<br />

El principal cultivo agrícola es la yerba mate, primeramente explotada en su carácter de monte nativo y posteriormente<br />

a través de su cultivo. A partir de 1880 comienza en el territorio de Misiones un proceso de colonización gobernada principalmente<br />

por el Estado nacional, que se extiende hasta pasados los años 1945. La colonización se realizó sobre las tierras remanentes de una<br />

masiva venta (a 38 grandes compradores) que se organizó unos años antes. Fruto de esta situación es que hoy existen grandes<br />

latifundios en la provincia y un gran número de propiedades familiares surgidos del padrón de colonización fijado en 25 has por<br />

familia. Los colonos fueron obligados a plantar el 20% de su parcela de tierra con yerba mate y el resto lo dedicaron a la producción<br />

de maíz, poroto, mandioca, y animales de granja, todo para el consumo familiar y venta de excedentes.<br />

De esta forma quedó conformada la sociedad agraria misionera compuesta por el “colono” (agricultor familiar con 25 a 50<br />

has, en su mayoría inmigrantes europeos); el “ocupante” (agricultor familiar con 1 a 5 has, origen criollo o inmigrante brasilero y<br />

paraguayo); el “estanciero” (productor ganadero con entre 100 y 1.000 has) y el absentista (latifundista extractivista) (Jaume, et al,<br />

1989).<br />

En la década de 1990, producto de las grandes reformas neoliberales, desparece la CRYM, lo cual trajo aparejado una<br />

fuerte caída del precio 4 del producto cosechado provocando una crisis 5 en el ingreso de los agricultores familiares, llevando a algunos<br />

de ellos a abandonar la propiedad.<br />

Al mismo tiempo en que se produce la caída del precio de la yerba mate aparecen algunos programas destinados a los<br />

“pequeños productores” 6 , se crean nuevas organizaciones sociales y las ya existentes pasan por un proceso de reorganización.<br />

Ejemplo de esto, en 1993 se crea el Programa Social Agropecuario (PSA), se crean también algunos programas dependientes del<br />

Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria (INTA) como son Cambio Rural y Pro-Huerta, se crea la Red de Agricultura Orgánica<br />

de Misiones (RAOM) y al mismo tiempo el Movimiento Agrario de Misiones (MAM) transita un proceso de redefinición de<br />

objetivos y estrategias pasando de acciones puramente reivindicativas a propuestas más amplias que incluyen la opción por una<br />

agricultura diversificada, que proteja los suelos y recupere el saber local.<br />

Figura 1: Localización geográfica de la provincia de Misiones<br />

Fuente: Golsberg, 1999.<br />

663<br />

Província de<br />

Misiones


En ese contexto, en un grupo de agricultores en una colonia (Los Helechos) cercana a la ciudad de Oberá y vinculado al<br />

programa Cambio Rural 7 , comienzan las discusiones que originaron la primera feria franca en la ciudad de Oberá. De este grupo<br />

participaban algunos agricultores integrantes del MAM los cuales llevaron la propuesta de la feria al grupo, al mismo tiempo esta<br />

discusión fue llevada, (por los representantes del MAM) a la Unidad Técnica de Coordinación Provincial (UTCP) 8 del PSA donde<br />

se decide financiar proyectos destinados a mejorar la auto-producción de alimentos, generándose excedentes de productos de chacra 9 .<br />

Esto motivó la necesidad de investigar propuestas para la comercialización, así se realizaron diversos talleres sobre comercialización.<br />

La discusión iniciada en el grupo de productores de Los Helechos llega al municipio de Oberá donde se crea un ámbito de discusión<br />

(del cual participaban representantes del MAM, un técnico del municipio y algunos técnicos del INTA local) para la organización de<br />

la feria. Finalmente los agricultores viajan al municipio de Santa Rosa (Rio Grande do Sul, Brasil) y conocen una feria franca, este<br />

hecho coaguló definitivamente la decisión de crear la feria. Esto fue narrado por una autoridad municipal, entonces en ejercicio, con las<br />

siguientes palabras:<br />

... ahí entonces, a través de la municipalidad y del MAM, que une a los productores chicos, se llega a la<br />

conclusión de que se tiene que hacer una prueba de feria franca. Pero básicamente el primer impulso<br />

grande se tiene porque fuimos a Santa Rosa, la gente fue a Santa Rosa, el MAM principalmente, porque<br />

vamos a Santa Rosa y ellos vieron en vivo y en directo...<br />

De esta forma, el día 26 de agosto de 1995 a las 7:00 hs de la mañana comienza el primer día de feria en Oberá, desde<br />

entonces todos los sábados en dos sectores públicos de la ciudad ocurren los encuentros entre el productor local y los consumidores<br />

generando una dinámica social caracterizada por el intercambio de productos y la generación de nuevas relaciones sociales. Con el<br />

pasar del tiempo lo que era una experiencia local se fue convirtiendo en un movimiento que se expandió por toda la provincia.<br />

Actualmente existen en Misiones 40 ferias francas.<br />

Los actores colectivos aquí presentados fueron reconocidos como integrantes de la red por un informante calificado y por<br />

los propios actores entrevistados.<br />

La Asociación de Ferias francas de Misiones (AFF) reúne las 40 asociaciones de agricultores feriantes (cada asociación<br />

organiza y administra una feria en su localidad), estructuralmente está formada por una comisión directiva y la asamblea de delegados.<br />

La comisión directiva se reúne mensualmente para tratar todos los temas relacionados a las ferias, también es quien representa a las<br />

ferias ante las autoridades y otras organizaciones, además de eso fiscaliza la realización de la fiesta de las ferias francas.<br />

La Dirección Provincial de Pequeños Agricultores Huertas y Ferias Francas, creada por el gobierno provincial en<br />

1999. La dirección posee un pequeño presupuesto y poca infraestructura, actualmente está a cargo de una persona surgida del<br />

movimiento de las ferias francas. La principal tarea propuesta para el año 2001 era la creación de un proyecto de ley capaz de dar<br />

cobertura jurídica a las ferias.<br />

El Instituto de Desarrollo y Promoción Humana (INDES) es una ONG creada en 1974, tiene origen cristiano, poca<br />

vinculación con el Estado y su financiamiento viene de otras instituciones y de organizaciones internacionales (Cowan Ros, 1999). El<br />

INDES lleva adelante proyectos de desarrollo propios y en acuerdos con otras instituciones. En Misiones, su actividad principal se<br />

concentra en la localidad de San Pedro donde acompaña un emprendimiento de producción orgánica desarrollado por mujeres que,<br />

actualmente, forman parte de las ferias.<br />

El Movimiento Agrario de Misiones (MAM), creado en 1971 fruto de la acción del movimiento rural cristiano. El<br />

MAM es una entidad sindical que representa a los “pequeños y medianos productores” de la provincia, su objetivo principal es<br />

constituirse en un instrumento de defensa y control de los intereses económicos y sociales de los agricultores de toda la provincia<br />

(MAM, 1972). Esta gobernado por una comisión coordinadora central y la asamblea de delgados de núcleos de base, estos son<br />

formados en las distintas colonias entre 20 y 100 agricultores. Desde su creación hasta 1976 10 sus acciones eran de carácter<br />

típicamente reivindicativo (huelgas, movilizaciones, cortes de rutas). A partir de 1983, el MAM, comienza un proceso de reorganización,<br />

desde entonces sus acciones tiene un carácter mas propositivo y de dialogo (agricultura diversificada, dar valor agregado a la<br />

producción, recuperar el conocimiento local, proteger el medio ambiente etc.).<br />

El Programa Social Agropecuario (PSA), programa nacional destinado a los “pequeños productores minifundistas”.<br />

Sus herramientas son: capacitación, asistencia técnica y financiera, con ellas intenta desarrollar acciones comunitarias y solidarias que<br />

permitan superar las limitaciones de lo productores minifundistas. El PSA es un programa descentralizado, basado en la participación<br />

de los beneficiarios. Posee en cada provincia una Unidad Técnica de Coordinación Provincial (UTCP) de la cual participan, el<br />

coordinador del PSA, un representante del gobierno provincial, uno del INTA, un representante de las ONGs y dos representantes<br />

de los agricultores.<br />

La Red de Agricultura Orgánica de Misiones (RAOM), es una organización de la sociedad civil, sus integrantes se<br />

definen como auto-convocados, la integran técnicos de los diferentes programas e instituciones que actúan en el medio rural misionero,<br />

productores agropecuarios y algunas instituciones (INDES y MAM). La RAOM desarrolla actividades de difusión y experimentación<br />

664


en el área de la agroecología, sus integrantes venden servicios de capacitación y asesoramiento a algunos programa e instituciones<br />

oficiales.<br />

Los actores individuales son los representantes de los actores colectivos (organizaciones e instituciones), los que sin<br />

pertenecer a ninguna institución trabajan con un fuerte compromiso para las ferias, los agricultores que participan y los consumidores.<br />

Los agricultores que fueron entrevistados (un grupo de agricultores de Oberá, San Vicente y Posadas) poseen la chacra<br />

como su única fuente de ingresos, 12 de los 14 entrevistados vivieron toda su vida en la chacra solo dos vienen de otras actividades.<br />

Todos reconocen haber modificado sus producciones a partir de ingresar en las ferias, seis solamente en cantidad y los otros ocho tanto<br />

en cantidad como en calidad. La mayoría manifiestan no usar productos químicos en la producción, solo dos reconocieron usar algún<br />

insecticida cuando el cultivo esta en implantación, trabajan con bio-fertilizantes, abonos orgánicos y repelentes. La totalidad de los<br />

entrevistados reconocen, a partir de su participación en la feria, una mejoría en el ingreso económico y 12 de los 14 mencionan mejoría<br />

en varios aspectos que hacen a la calidad de vida (autoestima, alimentación familiar, relaciones sociales, conocimientos).<br />

Cerrando el listado de actores 11 se presentan los consumidores, fueron entrevistadas 29 personas de entre 22 y 73 años<br />

de edad. El 86,2% son habituales compradores de las ferias, todos expresan confianza en los agricultores feriantes, aunque algunos<br />

(cuatro) no compren carnes y dos no compren leche, 14 de los 29 entrevistados son atraídos por la condición de frescura de los<br />

productos y otros por la variedad, la buena atención o algún producto particular.<br />

La red de poder que sustenta las ferias y una visión de mundo rural<br />

La noción de red viene siendo utilizada por distintas áreas del conocimiento, la ingeniería, biología, medicina y ciencias<br />

sociales entre otras. Interesa para este trabajo el abordaje resultante de la unión de los estudios de redes sociales con los estudios sobre<br />

la formulación de políticas públicas, llamado redes de poder (policy networks). Las redes de poder se forman en un ambiente<br />

caracterizado por creciente movilización e influencia de los intereses privados en las políticas publicas, la fragmentación del Estado,<br />

el avance de la globalización y la complejidad de la sociedad civil. De esta forma: “la sociedad ya no está controlada por una inteligencia<br />

central (el Estado), sino que los mecanismos de control están dispersos y la inteligencia se distribuye entre una multiplicidad de<br />

actores” (Kenis y Schneider [s.d.] apud Porras, 1999).<br />

La idea de red de poder fue utilizada por Paulillo (2000) para analizar el complejo agroindustrial de la naranja caracterizado<br />

por la interdependencia de los actores, la complementariedad dinámica entre sus segmentos, el intercambio de recursos de poder, y la<br />

articulación de los intereses, provocando diferentes arreglos institucionales entre actores públicos y privados.<br />

Para Fleschfresser (1999) lo que tiene de importante y de nuevo la idea de red de poder es la participación de diversos<br />

actores sociales en la elaboración e implementación de políticas públicas.<br />

Las redes de poder pueden ser identificadas como “una estructura configurada por vínculos, mas o menos estables, que<br />

mantienen un determinado número de actores (públicos y privados) que intercambian recursos (materiales e inmateriales) por la<br />

mutua dependencia” (Porras, 1999, p.14).<br />

Una noción un poco más amplia es expresada por Rodees (1998) (apud Paulillo, 2000), para este autor:<br />

Uma rede de poder é uma construção social definida a partir de conexões complexas entre organizações<br />

distintas e dependentes de recursos de poder (constitucionais, jurídicos, organizacionais, financeiros,<br />

políticos ou de informação). Esses recursos são buscados pelos autores visando obter melhores resultados<br />

e evitar uma possível dependência de outros atores. Assim, cada rede de poder distingue-se das demais<br />

pela diversidade na estrutura dessa dependência.<br />

Para analizar las redes de poder es necesario centrase en los vínculos entre los actores que la forman. Estos vínculos son<br />

los canales por donde circulan los diferentes recursos (materiales, simbólicos, políticos etc.). El primer paso a dar en el análisis de las<br />

redes sociales es su delimitación y su especificación.<br />

Según el reconocimiento realizado por el informante calificado y por lo propios actores, la red de poder constituida en<br />

torno a las ferias francas esta formada por: la Asociación de ferias Francas de Misiones, (AFF), el Programa social Agropecuario<br />

(PSA), el Movimiento Agrario de Misiones (MAM), la Red de Agricultura Orgánica de Misiones (RAOM), el Instituto de Desarrollo<br />

y Promoción Humana (INDES), los municipios, y el Gobierno Provincial.<br />

Para iniciar el análisis de la red de poder se presenta una sistematización de las relaciones encontradas entre los actores,<br />

estas relaciones no son estáticas y muchas veces no son institucionales sino que son fruto del esfuerzo de algunos actores individuales,<br />

por lo tanto algunas de las relaciones encontradas pueden ya no estar presentes y al mismo tiempo pueden existir otras no mencionadas.<br />

665


La relación detectada entre el PSA y la AFF está compuesta por varios elementos, el programa es quien administra los<br />

recursos del Fondo Especial del Tabaco (FET) que fueron repasados desde el gobierno nacional para la AFF. Otra vía de relacionamiento<br />

entre estos dos actores es la capacitación, el programa organiza talleres para los técnicos y agricultores de las ferias. El PSA apoya la<br />

realización de la fiesta de las ferias francas que se realiza anualmente en algún municipio que posee una feria franca y también financia<br />

algunos viajes de representación de las ferias. En contrapartida las ferias francas constituyen la experiencia socialmente más importante<br />

de producción y comercialización alternativa entre los agricultores familiares argentinos y el programa es parte de esa experiencia, por<br />

lo tanto es también un éxito del programa, no solamente en el ámbito provincial sino también en el ámbito nacional. Este hecho es<br />

expresado por un dirigente de la AFF en los siguiente términos:<br />

Y el PSA como logro principal de su trabajo en la provincia es, se multiplicó en toda la Argentina por lo<br />

que el PSA, la experiencia misionera del PSA. Muchas veces me tocó, ya como 10 veces, ir afuera de la<br />

provincia para hablar de, yendo a los encuentros anuales del PSA, hablar sobre las ferias y hablar como<br />

modelos del PSA, yo decía no era el PSA, era una organización de pequeños productores los que<br />

hacíamos el trabajo, (...) ellos en la Argentina tienen algo para mostrar.<br />

Otra retribución para el PSA es el reconocimiento de los agricultores, existe una gran apropiación del programa en la<br />

provincia que los agricultores llegaron a movilizarse para defender el programa ante una intervención que sufrió desde el gobierno<br />

nacional,<br />

Los dos actores se interrelacionan de manera complementar, haciendo que los recursos que poseen individualmente sean<br />

útiles para ambos generando una interdependencia. De esta forma, esta relación de intercambio de recursos resulta, al mismo tiempo,<br />

de confianza y colaboración. La relación hasta aquí descrita no es estable, seguramente no era así en el 95, cuando las ferias eran apenas<br />

una meta y el programa poseía importantes recursos para financiar proyectos, y seguramente no será igual en el futuro. En el inicio<br />

de la experiencia de las ferias, el PSA tenía mas recursos (principalmente económicos) frente a una organización de productores<br />

incipiente, actualmente el PSA es cada vez más dependiente del éxito de las ferias francas como una forma de justificar su existencia<br />

y su presupuesto ante el poder público. Esto muestra que la interacción estratégica entre los actores es asimétrica y dinámica y esta<br />

asimetría se refleja en el poder dentro de la red, así el PSA pasó de una posición relativamente de mayor poder para una posición<br />

menos favorable y lo contrario ocurrió con la AFF.<br />

Otra relación importante a ser descripta es la que mantiene el PSA con el MAM. El PSA cumplió un rol fundamental en<br />

la financiación de proyectos presentados por el MAM (y consecuentemente a la propia organización), principalmente en los<br />

primeros años de existencia del programa, de esta forma, varios técnicos (mismo no siendo ellos profesionales) vinculados al MAM<br />

condujeron proyectos destinados a la mejora de la producción para auto-consumo, lo cual generó también excedentes que obligaron a<br />

desarrollar una idea de comercialización.<br />

El MAM aportó sus cuadros técnicos y políticos, los que defendieron y diseminaron el Programa, permitiendo la<br />

apropiación del mismo, entre los agricultores. El MAM aportó el trabajo organizativo para el lanzamiento de la feria (contactos,<br />

motivación de los agricultores, viajes etc.) lo cual resultó un éxito para el PSA también. En las palabras de un dirigente del MAM queda<br />

expreso el esfuerzo de militancia realizado para comenzar las ferias:<br />

... del jueves al sábado, dijimos, bueno si, aceptamos (iniciar con la primera feria) tan es así que yo tenía<br />

para cosechar tomate, tenía un montón de cosas para traer y ese sábado yo no aparezco, porque yo, el<br />

día viernes fue una corrida por todos lados a ver quien se animaba a traer, la gente me mostraba mira<br />

tengo la lechuga quemada, se me quemo toda por la helada, no puedo traer hasta que rescatamos de 7<br />

productores que tenían, dijimos bueno, y había algunos que tenían producción y no tenían en que traer,<br />

entonces, le trajimos la producción y era una cosa, me acuerdo bien así la imagen ...<br />

El PSA se relaciona estrechamente con la RAOM. Esta organización nace de un encuentro de agricultura orgánica donde<br />

participaron técnicos y agricultores que están vinculados a este tipo de agricultura. Uno de los principales promotores de ese<br />

encuentro (y de otros espacios de discusión sobre este tema) fue el entonces coordinador provincial del PSA 12 , actualmente muchos<br />

técnicos vinculados al PSA son miembros de la RAOM. Esta red aporta las experiencias de sus agricultores y los conocimientos de<br />

sus técnicos en los distintos talleres organizados y financiados por el PSA. La red también se relaciona con el Centro Ecológico (CE)<br />

de Rio Grande do Sul, lo cual le permite actuar como un puente capaz de traducir y socializar el saber agroecológico en toda la red.<br />

La relación entre el PSA y el INDES posee mas o menos las mismas características que las anteriores, el PSA financia<br />

algunos proyectos que el INDES lleva a adelante con los agricultores que atiende, en contrapartida, el INDES aporta su experiencia<br />

de muchos años de trabajo en la región. La organización conjunta de talleres de capacitación también forma parte de esta relación.<br />

666


El gobierno provincial posee un representante en la Unidad Técnica de Coordinación Provincial del PSA, aporta algunos<br />

recursos para el funcionamiento del programa (la infraestructura de la sede por ejemplo), mientras que el PSA cumple la función de<br />

repasar recursos desde el gobierno nacional a la economía de la provincia (todos los recursos del programa vienen del gobierno nacional<br />

y son aplicados dentro de la provincia).<br />

El MAM posee una estrecha relación con la AFF, el actual presidente de esta asociación es el actual secretario general del<br />

MAM. El movimiento aporta la capacidad y la experiencia de sus dirigentes, asesoramiento jurídico, capacidad de negociación con el<br />

poder público y gestión de fuentes de financiamiento. En reciprocidad, la AFF legitima socialmente al MAM, las ferias se convirtieron<br />

en una sus actividades centrales, al mismo tiempo, le permitieron reactivar una vieja cooperativa de agricultores par la comercialización<br />

de insumos y productos, a partir de esto, consiguieron recursos para la construcción de una planta para procesar alimentos que serán<br />

vendidos en las ferias. Esto lo relata un dirigente del MAM en un pasaje de su entrevista de la siguiente manera:<br />

... entonces a nosotros como gremio nos favoreció, la feria, la imagen, es decir, estar involucrados<br />

siempre con la gente, y tal es de que de golpe aparecía yo, (...) u otro y éramos, por ahí, como quien dice,<br />

en algunos feriantes, como mal vistos y en algunos éramos bien recibidos, pero por decisión propia, hace<br />

dos semanas atrás le festejan (se refiere a los feriantes de Oberá) el cumpleaños a (...) entonces de golpe<br />

la feria sirvió para eso, viste...<br />

El MAM cultivó relaciones con el gobierno provincial a partir de la modificación de sus estrategias (ver ítem anterior)<br />

esto resultó en legitimidad y reconocimiento para las ferias por parte del gobierno. Esta relación le permitió al MAM ser uno de los<br />

impulsores de la creación de la Dirección Provincial de Pequeños Agricultores Huertas y Ferias Francas. Con la creación de esta<br />

dirección las ferias ganaron en reconocimiento y legitimidad ante el poder público.<br />

El INDES, además de las relaciones mencionadas, se relaciona con la AFF principalmente a través del acompañamiento<br />

de algunas ferias francas, la más importante es la de San Pedro en la cual participan exclusivamente mujeres y la producción es<br />

totalmente orgánica. Esta ONG encontró en las ferias una alternativa de comercialización para proponer a los grupos de agricultores<br />

con los cuales trabaja.<br />

El INDES forma parte de la RAOM desde su creación, realizan talleres de capacitación conjunta, y la experiencia de San<br />

Pedro acabó siendo una referencia también para la RAOM.<br />

Los municipios, en mayor o menor medida participan como actores de la red y se relacionan de diversas maneras con los<br />

otros actores, estas relaciones son más puntuales y de diversa intensidad en los distintos municipios. En general, los municipios<br />

realizan el control de los alimentos a ser vendidos en las ferias, legislan (a través de ordenanza) en torno a la regulación de la actividad<br />

de la feria (lo cual también la legitima) y dan apoyo en el transporte e infraestructura para los agricultores que se trasladan con sus<br />

productos para vender en la feria de Posadas.<br />

El Estado provincial a través de la creación de la Dirección Provincial de Pequeños Agricultores Huertas y Ferias Francas<br />

le otorga legitimidad y reconocimiento a las ferias, en contrapartida el gobierno puede mostrar que está atendiendo a los agricultores<br />

familiares de su provincia. A partir de este relacionamiento el gobierno participa oficialmente de los actos de inauguración de nuevas<br />

ferias y muestra la feria de Posadas a visitantes de importancia nacional. 13<br />

En los intersticios de este cuerpo de relaciones detalladas existen relaciones de carácter local y desarrolladas por actores<br />

individuales, principalmente algunos técnicos del Ministerio del Agro y la Producción, del INTA, de la Pastoral Social y de otras<br />

organizaciones, mismo que éstas no tengan un compromiso institucional con las ferias. En este sentido un técnico del Ministerio<br />

trabaja con la feria de Andresito, técnicos del INTA en la feria de San Vicente, militantes de la Pastoral Social en ferias como la de El<br />

Soberbio y un militante de Cáritas trabaja con la feria de Posadas. Algunos de estos actores individuales poseen un amplio conocimiento<br />

y compromiso con las ferias en general.<br />

Presentadas las interrelaciones entre los actores que componen la experiencia de las ferias francas en Misiones, queda<br />

constituida la red de poder formada por actores colectivos. En la figura 2 se muestra, en un sociograma, la representación gráfica de la<br />

red de poder con los actores y las interrelaciones.<br />

667


Figura 2: Sociograma de la red de poder que caracteriza a las ferias francas de Misiones<br />

Gobierno<br />

Provincial<br />

Municipios<br />

Relaciones inexistentes o muy débiles<br />

Relaciones Fuertes<br />

Fuente: Elaboración propia con datos de las entrevistas<br />

MAM<br />

AFF<br />

INDES<br />

Las redes de poder pueden organizarse en torno a las acciones de los actores conformando una auto-organización, pero<br />

también pueden hacerlo a partir de la articulación de los actores con las agencias del Estado lo que genera un mecanismo de heteroregulación.<br />

El modelo de autorregulación es posible cuando la gobernabilidad de la red es ejercida por un único actor que posee una<br />

monopolización de los recursos de poder o cuando existe una concertación entre los actores sin la existencia de un actor hegemónico<br />

(Paulillo, 2000).<br />

En el caso de la red de poder que se analiza en este trabajo la gobernabilidad se da por un proceso de auto-organización<br />

caracterizado por la concertación de intereses entre los distintos actores que la componen. No existe ningún actor que posea la<br />

monopolización de los recursos de poder, por el contrario, como fue mostrado en las diferentes relaciones se percibe que los recursos<br />

de poder están distribuidos, mismo que asimétricamente, entre los distintos actores y que son puestos en juego dentro de la red. La<br />

relación de poder establecida entre los actores es dinámica, variando en el tiempo, el poder que posee un actor en un determinado<br />

momento puede pasar para otro actor en otro momento, este es el caso de la relación entre el PSA y la AFF, ya señalado.<br />

La AFF es el actor que mas poder acumuló desde su creación, tanto es así que la Asociación de Ferias se convirtió en la<br />

legítima representante de las ferias tanto frente a las autoridades públicas, la prensa y las otras organizaciones.<br />

La cuestión de la representación de los agricultores de las ferias es el principal interés de los actores de la red, por tanto<br />

los actores invierten sus recursos con el fin de no quedar fuera de la representación de este emprendimiento exitoso. Los distintos<br />

actores ponen en juego e intercambian sus recursos de poder con el objetivo de satisfacer sus intereses particulares e al mismo tiempo<br />

apropiarse de una parte de la representación de la experiencia.<br />

Los actores, de esta forma, dejaron de disputar los agricultores como sus “clientes” (cosa que ocurre actualmente en<br />

distintas regiones del país) para pelear por pertenecer y ser reconocido dentro de la red de las ferias.<br />

Así, la noción de red de poder permite entender las interrelaciones entre los actores sociales que forman parte de la<br />

experiencia de las ferias francas de Misiones. Esta red al permitir la sustentación de la experiencia permite, al mismo tiempo, la<br />

movilización de los recursos (materiales e inmateriales) locales en busca de una fuente de renta para los agricultores y la generación de<br />

nuevas dinámicas sociales en las comunidades.<br />

668<br />

PSA<br />

RAOM


Los elementos mencionados hasta aquí se relacionan con los abordajes sobre el desarrollo local. Para Albuquerque (1997),<br />

(apud Fleschfresser, 1999), el desarrollo local es un proceso de transformación de la economía y de la sociedad por una actuación<br />

acordada entre los actores locales, públicos y privados, intentando aprovechar de manera sustentable los recursos locales y generando<br />

un ambiente motivador en el territorio.<br />

Según Abramovay (2000) existen regiones rurales muy dispares con relación a su dinamismo, en general las regiones de<br />

mayor dinamismo se caracterizan por la existencia de una densa red de relaciones servicios, organizaciones públicas, y privadas,<br />

emprendimientos agrícolas e industriales, rurales y urbanos. La proximidad social entre los actores en estas regiones permite valorizar<br />

el ambiente en una intensidad mayor que las propias ventajas oriundas de los atributos naturales y de localización.<br />

En correlación con esta constatación sobre regiones más dinámicas, Abramovay coloca: “Una visión territorial de<br />

desarrollo puede revelar potencialidades que hasta hoy en el medio rural no reveló a la sociedad (...) construir instituciones propicias<br />

al desarrollo rural consiste en fortalecer el capital social de los territorios, mucho más que en favorecer el crecimiento de esta o aquella<br />

actividad económica” (Abramovay, 2000, p. 13).<br />

Considerando ahora a los actores individuales, los participantes en las ferias de tres ciudades (Oberá, San Vicente y<br />

Posadas) y los representantes de los actores colectivos, se presentan algunas de sus ideas (mas o menos claras, mas o menos<br />

estructuradas) sobre el mundo rural que están siendo construidas en el seno de la experiencia de las ferias francas.<br />

El hecho de que las ferias hayan conseguido consolidarse a través de una actuación acordada entre varios actores, que<br />

hasta entonces competían por la representación de los agricultores, junto a las expresiones volcadas por los actores muestra que se<br />

está desarrollando alguna noción sobre el mundo rural que se diferencia de la tradicional idea de considerar lo rural como una simple<br />

base donde se desarrollan actividades agrícolas bajo cualquier forma social, por tanto vinculando el desarrollo rural con desarrollo de<br />

la agricultura.<br />

Los actores de la red reconocen un cambio en el contexto socioeconómico nacional y, con esto, la imposibilidad de<br />

recuperación de los precios y de la demanda de los productos tradicionales (principalmente yerba mate y té). Ellos también muestran<br />

claramente que los agricultores deben relacionarse, necesariamente, con actores del medio urbano, existe un cierto consenso de que es<br />

necesario trabajar en una integración con los consumidores.<br />

Un miembro de la RAOM describe la necesidad de relacionarse con el consumidor de la siguiente forma:<br />

Yo creo que, el punto, el cuello de botella para el futuro es lo que hoy llamamos consumidor, nuestra visión<br />

del consumidor esta totalmente en pañales (...) pero normalmente el consumidor, la sociedad como tal va<br />

a tener que reconocer lo que es el productor comprometido con la tierra, no le queda otra a corto,<br />

mediano plazo....<br />

Los actores reconocen, también, que los agricultores no necesariamente deben vivir de la agricultura como única actividad<br />

económica, las entrevistan muestran que reconocen la necesidad de ampliar las actividades. Así, aparece con claridad la idea de<br />

agroindustrias y turismo rural. Los siguientes fragmentos de entrevistas hablan de la ampliación de las actividades mas allá de las<br />

actividades agrícolas:<br />

... un modelo de industrialización, una industrialización, algo de industrias chicas, por ejemplo, yo me<br />

imagino, Misiones con 1000 pequeñas agroindustrias familiares, de grupos de productores (Técnico del<br />

PSA).<br />

... atrás de esto puede desarrollarse todo lo que es el turismo, el agroturismo, toda una cuestión de que<br />

se pueda avanzar, acá todos nosotros tenemos, nos queda grande la casa (Dirigente de la AFF).<br />

Otro elemento que compone la visión sobre el medio rural que se esta desarrollando en el seno de las ferias es la<br />

importancia de los agricultores familiares en la preservación del medio ambiente, en la protección del suelo, del agua para consumo<br />

humano, del propio paisaje, etc. Esta constatación muestra el reconocimiento, por parte de los actores sociales, de una nueva función<br />

de la agricultura, expresada de la siguiente manera en estos fragmentos de las entrevistas con un asesor del MAM y uno de la RAOM,<br />

respectivamente:<br />

669


... yo creo que por lo menos hay una conciencia, bueno, de la contaminación, hay una conciencia de que<br />

no se puede seguir destruyendo, es decir, esto va a permitir que una experiencia como ésta se vaya<br />

insertando en lo que puede ser una sociedad del futuro, mas justa, mas armoniosa ...<br />

...el lema de la RAOM en ese sentido es: “protección del suelo en el lugar”, evitar la erosión, por supuesto<br />

NO a represas como Corpus, también NO a las forestaciones masivas con exóticas, que el colono plante<br />

algunos pinos en el colegio o en su chacra si le gusta, es una cosa, pero que se desmonten tierras acá para<br />

plantar pinos y eucalipto, eso es, mas que una barbaridad, es una cosa que no tiene realmente, es<br />

impensable, una barbaridad, y entonces, tenemos veinte mil respuestas o alternativas que falta solamente<br />

la decisión de hacerlas y las ganas de hacerlas, y lo vamos a seguir haciendo entre todos, creo que<br />

estamos en buen camino...<br />

Mismo no exista una total homogeneidad en las ideas expresadas por los actores entrevistados, lo que surge, con mas o<br />

menos profundidad, es una nueva idea de pensar el mundo rural como un espacio y no como un sector económico (en este caso<br />

agrícola). Anteriormente las acciones en favor de los agricultores familiares desarrolladas por las propias organizaciones de representación,<br />

ONGs y asociaciones de los agricultores se centraban exclusivamente en el reclamo por mejores precios para la producción. En el caso<br />

de las instituciones oficiales y programas de extensión rural la mayoría de sus acciones eran dirigidas a aumentar la productividad de<br />

alguna actividad (cultivo agrícola o producción animal). Estas actividades tenían como presupuesto que los agricultores familiares<br />

desaparecerían por su falta de escala en el avance de la economía de mercado, por tanto era necesario hacer algo para aumentar la escala<br />

o, en último caso, disminuir la penuria hasta el momento en que emigran para la ciudad.<br />

A partir de ahora parece existir, por lo menos entre los actores que participantes de la experiencia de las ferias francas,<br />

el reconocimiento de que no se deja de ser agricultor por realizar actividades no agrícolas. Por el contrario, ahora el medio rural esta<br />

siendo pensado como un espacio multifuncional donde los agricultores familiares ya no son una categoría residual, sino que son<br />

revalorizados y cumplen un importante papel en la sociedad, realizando diversas actividades que van mas allá de lo estrictamente<br />

agrícola, suministrando alimentos de calidad, producidos con conocimientos acumulados localmente y comprometiéndose con la<br />

preservación del medio ambiente. Otra característica de este espacio multidimencional es la concreción de mercados construidos<br />

socialmente como es el caso de las ferias francas; la articulación de diferentes sectores de la sociedad, como la relación de los habitantes<br />

urbanos y rurales, como los distintos actores que mantienen una relación de competencia-cooperación dentro de la red de poder; etc.<br />

El surgimiento y el papel de las ferias en la transformación de la realidad social de Misiones<br />

Las transformaciones económicas, sociales y políticas ocurridas en los últimos años han generado un contexto en que el<br />

Estado se retiró de diferentes espacios económicos, sociales y políticos, lo cual generó espacios que, en algunos casos 14 , fueron<br />

cubiertos por distintos actores sociales. Esto fue lo que ocurrió en el caso de las ferias francas, distintos actores sociales fueron<br />

relacionándose hasta componer lo que hoy son las ferias francas. La crisis de precios de los cultivos tradicionales junto a la aparición<br />

de los programas públicos y la reorganización de algunas organizaciones de la sociedad civil formaron un contexto que le permitió al<br />

Movimiento Agrario de Misiones involucrar y comprometer a distintos actores en pos de generar la primera feria franca de la<br />

provincia. Esta propuesta al llegar a la UTCP del PSA, un espacio de discusión participativa, permite la gestación de una estructura<br />

de vínculos horizontales entre los actores sociales participantes (en forma de red) que sustenta a todo este proceso social que<br />

constituyen las ferias francas en toda la provincia, .<br />

La consolidación de la red de poder permitió la convivencia entre los diferentes actores colectivos (públicos y privados)<br />

a través de la concertación de sus intereses y el intercambio de sus recursos de poder. De esta forma lo que está en juego dentro de la<br />

red es la representación de la experiencia, en definitiva todos los actores compiten, luchan por mantenerse y en la medida de lo posible<br />

consolidarse como representante de los agricultores familiares que integran las ferias francas.<br />

Al mismo tiempo, el clima de competición-cooperación creado en el seno de la red permite la generación de diferentes<br />

espacios de integración y discusión resultando en la construcción, mas o menos elaborada, mas o menos homogénea, de una idea de<br />

mundo rural como un espacio multidimencional que incluye agricultores familiares como un grupo social capaz de protagonizar un<br />

proceso de desarrollo y de brindar servicios a la sociedad como un todo.<br />

Finalmente, con la consolidación de este proceso social de las ferias francas define un espacio donde comienza a<br />

desarrollarse una nueva dinámica social con nuevas relaciones de género en las familias de los agricultores participantes (el papel de<br />

la mujer dentro de la familia se modificó a partir de su protagonismo en las ferias), un fluido relacionamiento entre las familias de los<br />

agricultores y las familias de los consumidores que acuden a las ferias, un aumento en la autoestima de los propios agricultores y de<br />

los técnicos comprometidos y un nuevo ambiente propicio para la capacitación y la educación de los habitantes rurales.<br />

670


Bibliografia<br />

ABRAMOVAY, Ricardo. O capital social dos territórios: repensando o desenvolvimento rural. Economia Aplicada [s.l.] v.4, n.<br />

2. abr./jun. 2000.<br />

ALMEIDA, Jalcione. A construção social de uma nova agricultura: tecnologia agrícola e movimentos sociais no sul do<br />

Brasil. Porto Alegre : Editora da Universidade (UFRGS), 1999.<br />

COWAN ROS, Carlos. Organizaciones No Gubernamentales de Desarrollo Rural: Dimensión y Estrategias en la Argentina<br />

de Fin de Siglo. Buenos Aires : UBA, 1999. Tesis de Grado (Ingeniería Agronómica) Facultad de Agronomía, Universidad de<br />

Buenos Aires.<br />

FLEISCHFRESSER, Vanessa. Nas redes da conservação: políticas públicas e contribuição social das microbacias hidrográficas.<br />

Curitiba, 1999. (Tese de Doutorado) Universidade Federal do Paraná.<br />

GOLSBERG, Celeste. El Movimiento Agrario de Misiones en un escenario en transformación. Buenos Aires : UBA, 1999.<br />

(Tesis de Grado) Ingeniería Agronómica Facultad de Agronomía, Universidad de Buenos Aires.<br />

JAUME, Fernando; <strong>VI</strong>LLAR GONZALES, Carlos; URQUIZA, Yolanda et al. Notas Sobre la Historia de Misiones: El Proceso<br />

de Formación de la Región Histórica. Posadas : PISPAD, 1989.<br />

MO<strong>VI</strong>MIENTO AGRARIO de MISIONES. Estatuto Fundacional. Oberá, Misiones, 1972 (mimeo).<br />

PAULILLO, Luiz Fernando. Redes de poder & territórios produtivos: indústria, citricultura e políticas públicas no Brasil do<br />

século XX. São Carlos : Rimas : Editora da UFSCar, 2000.<br />

PORRAS, José Ignacio. Policy Networks o Redes de Políticas Públicas: Su aplicación al estudio de los vínculos entre las<br />

asociaciones de interés y el Estado. 1999. (Artículo no publicado)<br />

671


1 Mestre em Desenvolvimento Rural. Professor da Universidad Nacional de Rio Cuarto, Córdoba, Argentina. Endereço: Av. João<br />

Pessoa 41/311 Bº Centro CEP: 90040-000 Porto Alegre (RS) Brasil. E. Mail: alcidesr@vortex.ufrgs.br<br />

2 Professor, Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural e da Faculdade de Agronomia, ambos da<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Endereço: Av. João Pessoa 31 Bº Centro CEP: 90040-000 Porto Alegre (RS) Brasil. E.<br />

Mail: jal@vortex.ufrgs.br<br />

3 Referido a datos de 1998 en la moneda oficial de la República Argentina.<br />

4 El kilogramo de hoja verde pasó de $0,137 en 1992 para $0,067 en 2000<br />

5 Considerando la importancia de la yerba mate, ya que todos los colonos fueron obligados a estructurar sus propiedades sobre la base<br />

de ese cultivo, la caída en el precio dejó sin ingresos a un importante número de familias rurales. Esta situación generó diversas huelgas<br />

y movilizaciones, la más expresiva ocurrió en 1994 cuando los agricultores ocuparon la plaza frente al palacio de gobierno, en la capital<br />

provincial.<br />

6 La noción de productor rural (pequeño o grande) se refiere a un tipo social que produce mercaderías para el mercado, cuya<br />

racionalidad está gobernada por la búsqueda de máximo lucro. La noción de agricultor familiar se refiere a un grupo familiar cuya<br />

racionalidad está ligada a la necesidad de reproducción familiar, al vínculo con la tierra, a la auto-producción de alimentos que asegure<br />

la subsistencia e el empleo de la mano de obra familiares. Para este tipo social la integración al mercado es variable, existiendo desde<br />

los que mantienen poca relación con el mercado hasta aquellos que están totalmente integrados, pero su racionalidad no está gobernada<br />

por la búsqueda de máximo lucro. En la Argentina, esta diferencia conceptual entre productor y agricultor no está consolidada en los<br />

medios académicos, ni en la administración pública, por lo tanto, en las entrevistas aparecerán utilizados indistintamente, mas siempre<br />

haciendo referencia al agricultor familiar. En este trabajo se utilizará el término agricultor o agricultor familiar.<br />

7 Programa de reconversión productiva destinado a medianos productores. Con relación a las ferias francas, inicialmente, este<br />

programa trabajó con algunos grupos de agricultores, poco tiempo después por falta de recursos y cumplimiento del plazo de<br />

ejecución perdió presencia entre los agricultores.<br />

8 Para mas detalles sobre la UTCP, ver Programa Social Agropecuario en este mismo tópico.<br />

9 Hace referencia a productos innatura y con cierto grado de procesamiento (quesos, dulces, conservas, chacinados) todos producidos<br />

por los agricultores familiares en sus propiedades.<br />

10 El 24 de marzo de 1976 se produce el último y más sangriento golpe de Estado que sufrió la República Argentina. Desde esta fecha<br />

hasta diciembre de 1983 se desató una feroz represión (torturas, asesinatos y desaparición de personas) sobre todos los militantes<br />

políticos y sociales sembrando miedo y terror en toda la sociedad.<br />

11 El INTA no fue considerado como un actor ya que institucionalmente no muestra trabajo ni compromiso con las ferias, si bien<br />

existen varios técnicos vinculados a sus programas (Cambio Rural, Pro Huerta, Minifundios) que trabajan, con un gran compromiso,<br />

para las ferias, lo hacen individualmente y por propia vocación, y no con un compromiso emanado desde la institución.<br />

12 Se hace referencia aquí al Ingeniero Agrónomo Roberto Cametti actualmente fallecido.<br />

13 En las ultimas elecciones presidenciales argentinas, en 1999, los dos candidatos más importantes a la presidencia de la república,<br />

visitaron la feria franca de Posadas.<br />

14 En otros casos los espacios dejados por el estado no fueron cubiertos ni por el mercado (como se propone desde el neoliberalismo)<br />

ni por actores de la sociedad civil resultando en la mayor desatención y abandono de una importe parte de la población.<br />

672


O PÓLO DE MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGICA DO VALE DO RIO PARDO, RIO<br />

GRANDE DO SUL, BRASIL COMO ELEMENTO DE MOBILIZAÇÃO PARA O<br />

DESENVOL<strong>VI</strong>MENTO LOCAL 1<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O espaço rural constitui elemento fundamental para compreender processos de desenvolvimento, pela plêiade de interrelações<br />

e conexões que mantém com outras dimensões. Em termos de variáveis relevantes, a ciência, tecnologia e inovação, no cenário<br />

atual, reforçam a existência de um processo contínuo de avanço e aperfeiçoamento – ou, sob outra ótica, de modernização e inovação<br />

- buscando atingir a excelência em termos de qualidade, produtividade e competitividade. Neste contexto, a Universidade o Setor<br />

Público e o Setor Privado têm, conjuntamente, importantes papéis a desempenhar, ancorados em relações de parceria que criem<br />

espaços pró–ativos nos ambientes locais, considerando as imposições da globalização. Neste propósito, considerando a necessidade<br />

de suprir as demandas científico-tecnológicas regionais, foi criado o Pólo de Modernização Tecnológica do Vale do Rio Pardo – PMT/<br />

VRP, objetivando favorecer o desenvolvimento regional, através da integração com a comunidade, visando à qualificação e à modernização<br />

das cadeias produtivas rurais e urbanas, a partir de trajetórias baseadas em suas vocações. A importância deste estudo vincula-se,<br />

fortemente, à caracterização da região do Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul, Brasil, tipicamente formada por pequenos produtores<br />

rurais, ainda que com uma indústria relativamente diversificada, à exceção da dominante cadeia agroindustrial do tabaco. Este Pólo<br />

motivou a realização de um trabalho de pesquisa que resultou em uma dissertação de Mestrado, aprovada no ano de 2001 junto ao<br />

Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, sob o título “Pólos de<br />

Modernização Tecnológica e Desenvolvimento Regional: o caso do Pólo de Modernização Tecnológica do Vale do Rio Pardo, Rio<br />

Grande do Sul, Brasil”. O presente artigo propõe-se a apresentar uma síntese ou resumo das discussões fartamente desenvolvidas na<br />

dissertação supra referendada, procurando enfocar a questão rural, ainda que este recorte não tenha sido o privilegiado no estudo<br />

original. Para tanto – e sem a pretensão de esgotar o debate - consta de uma breve discussão sobre a complementaridade existente entre<br />

regionalização e globalização sob a ótica do desenvolvimento sustentável e, em seguida, acerca da ciência e tecnologia sob enfoque<br />

social associado à cooperação para a sua geração e difusão. Após, abarca o Pólo de Modernização Tecnológica do Vale do Rio Pardo,<br />

a caracterização da região de estudo e a sua dinâmica para, finalmente, serem apresentados alguns dos resultados alcançados, dentro<br />

dos quais o meio rural está fortemente inserido.<br />

1 A COMPLEMENTARIDADE ENTRE REGIONALIZAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO SOB A ÓTICA DO<br />

DESENVOL<strong>VI</strong>MENTO SUSTENTÁVEL<br />

No tocante à discussão sobre crescimento e desenvolvimento 2 , até a década de 70 ambos eram tratados praticamente como<br />

sinônimos. Entender o que é desenvolvimento em relação ao crescimento e aos requisitos de sustentabilidade – muitas vezes associado<br />

pelo senso comum unicamente a aspectos de valorização do ambiente natural – assim como o que é, efetivamente, o locus global e<br />

quais as perspectivas de inserção do local nessa perspectiva, constituem pontos fulcrais para compreender o contexto no qual se<br />

insere o Pólo de Modernização Tecnológica do Vale do Rio Pardo. As preocupações dos economistas em relação ao crescimento não<br />

constituem fato recente. Adam Smith, por exemplo, conferia o êxito do crescimento econômico de uma nação à divisão do trabalho,<br />

progresso tecnológico e, também, à acumulação física de capital. Apenas em 1986, com um trabalho de Paul Romer, surgiu uma “nova<br />

teoria do crescimento”, que questionou, dentre outros, a lei ricardiana dos rendimentos decrescentes. Segundo Romer, se cada parcela<br />

extra de capital não produzir, de fato, um retorno menor do que a sua predecessora, o crescimento poderá continuar de forma<br />

indefinida, mesmo sem progresso tecnológico. Isto se daria através do capital humano 3 , traduzido pelo conhecimento e pelas<br />

habilidades incluídas na força de trabalho, o qual garantiria um retorno crescente do investimento, contrariando Ricardo,<br />

complementarmente à ausência de progresso tecnológico.<br />

Esta visão de desenvolvimento vinculado estritamente ao crescimento de variáveis físicas, porém, parece ser um tanto<br />

limitada, sobretudo no mundo pós-crise de 1929, onde problemas ligados à inflação e ao desemprego deram margem ao surgimento de<br />

novas interpretações às dinâmicas das economias mundiais. Conseqüência de tais problemas, passou-se a tratar o crescimento<br />

econômico como elemento importante, todavia não único no processo, uma vez que a qualidade de vida dos indivíduos passou a<br />

assumir nuances diversas daquelas previamente observadas 4 . Dito isto, pode-se inferir com segurança que crescimento e desenvolvimento<br />

econômico não são sinônimos. Nesse sentido, Souza apresenta que “Desenvolvimento econômico se define, portanto, pela existência<br />

de crescimento econômico contínuo(...), em ritmo superior ao crescimento demográfico (...), envolvendo mudanças nas estruturas e<br />

melhoria de indicadores econômicos e sociais per capita“ (SOUZA, 1993, p.17). Este conceito sinaliza para o fato de que, em<br />

economias sobretudo contemporâneas, o crescimento é importante, mas não se configura condição sine qua non, na medida em que<br />

não garante o desenvolvimento, esse último entendido como um processo que inclui uma gama de conquistas sociais, tais como justiça,<br />

saúde e segurança, onde o desenvolvimento econômico é parte integrante do desenvolvimento geral 5 , não podendo estar vinculado<br />

unicamente ao fenômeno da industrialização. É o que diz, por exemplo, ROMAN (1996). Segundo ele:<br />

“A diferença básica entre crescimento e desenvolvimento econômico (...)<br />

é que aquele depende apenas da elevação de variáveis quantitativas, tais<br />

como o Produto Nacional Bruto, e esse inclui também, ou principalmente,<br />

a melhoria de variáveis de bem-estar, tais como expectativa de vida, taxa<br />

de alfabetização, saneamento básico, saúde pública, entre outros.”<br />

(ROMAN, 1996, p.104) (itálico do original)<br />

673


No que se refere à questão da sustentabilidade, sua origem reporta-se à Conferência sobre Meio Ambiente organizada pela<br />

Organização das Nações Unidas – ONU, em Estocolmo, Suécia, no ano de 1972 e, num segundo momento, à sistematização publicada<br />

no Relatório Nosso Futuro Comum, em 1988, a qual serviu de base à discussão da Conferência das Nações Unidas sobre Meio<br />

Ambiente e Desenvolvimento Humano – Rio 92. Em síntese, ainda que haja uma plêiade de conceitos sobre o caráter sustentável do<br />

desenvolvimento, a convergência vai no sentido do que é definido pela UNESCO como sendo desenvolvimento sustentável 6 : aquele<br />

que permite responder às necessidades presentes sem comprometer a capacidade das futuras gerações em responder às suas próprias<br />

necessidades. Nota-se que este conceito extrapola a esfera puramente econômica, comum à visão menos vanguardista, vigente até<br />

então. A incorporação de outros elementos que não apenas o econômico, voltado ao quantitativismo, conferem ao desenvolvimento<br />

sustentável característica especiais 7 .<br />

As mudanças recentes na economia global passaram a valorizar ainda mais estratégias voltadas ao âmbito local. Mais do que<br />

isto, passaram a agregar outros elementos com maior destaque, tal como o social e o ambiental, merecedores de crescente atenção por<br />

parte dos analistas, inclusive quanto a projetos, programas e ações na área rural. O fenômeno da globalização, sobretudo após os anos<br />

90, vem promovendo modificações representativas nos diversos campos da sociedade, não apenas econômico, num processo que<br />

forçou a uma reavaliação das formas de se pensar e agir para o desenvolvimento, por parte do conjunto de forças vivas da sociedade.<br />

A regionalização, em tal contexto, pode surgir como um movimento complementar ao da globalização. A inserção competitiva das<br />

regiões na economia global é oportunizada pelas inovações tecnológicas, que possibilitam a geração de emprego e renda, a partir da<br />

adição de valor a produtos, processos e técnicas de gestão, com base na valorização do capital humano.<br />

Em se considerando a discussão entre globalização e regionalização, certamente não se trata de um debate propriamente de<br />

consenso entre os autores. BAUMANN (2000), dentre outros, aponta que exige esforço para conceituação o fenômeno da globalização,<br />

a qual é considerada pela maior parte dos autores uma variável dada (processo irreversível). A convergência teórica mostra que<br />

globalização e regionalização são fenômenos complementares, e não dicotômicos, e que mais importante do que empreender esforços<br />

para conceituar os fenômenos, é entender a sua dinâmica 8 . A discussão sobre o arranjo inovativo voltado ao âmbito local, ao levar em<br />

consideração todos estes elementos até aqui apresentados e sumariamente discutidos, torna-se fundamental para entender a tecnologia<br />

e a ciência como elementos-chave para o desenvolvimento e aumento da competitividade 9 . À luz desta discussão, está a necessidade<br />

do estabelecimento de parcerias para o desenvolvimento, as quais tornaram-se “pressuposto do próprio processo de desenvolvimento<br />

contemporâneo” (BECKER, In: COREDE, 1999, p.5). A existência de um paradigma global que, ao mesmo tempo que ameaça,<br />

representa oportunidades às economias regionais, transforma a questão do desenvolvimento em um desafio colocado à sociedade.<br />

1 A CIÊNCIA E TECNOLOGIA SOB ENFOQUE SOCIAL ASSOCIADO À COOPERAÇÃO PARA A SUA<br />

GERAÇÃO E DIFUSÃO<br />

Vários autores enfatizam que a inovação tecnológica é considerada a variável-chave para o desenvolvimento, correspondendo<br />

a um meio à disposição das economias para a inserção competitiva no mercado, e não apenas a um apelo passageiro 10 . Ela pode ser<br />

entendida sumariamente como “aquilo que se consegue como um over price para a produção normal de coisas.” (FIESP/CIESP, 1996),<br />

isto é, um elemento que oportuniza agregar algo a um produto, processo ou atividade de gestão 11 . Todavia, ao entender o desenvolvimento<br />

não apenas com um fundamento econômico, é pertinente lembrar que além de criar as bases para o crescimento do setor produtivo e<br />

favorecer o espaço econômico rural, o desenvolvimento tecnológico é estratégico para viabilizar soluções inovadoras para problemas<br />

na área social. Isto possibilita inferir sobre as relações entre invenção e inovação: a primeira vincula-se à esfera da ciência e da<br />

tecnologia 12 e a outra à econômica.<br />

A partir disto, é possível entender os sistemas de inovação. Esses, via de regra, podem ser locais, regionais ou nacionais,<br />

constituindo-se em um conjunto articulado de políticas, instituições públicas e privadas, e seus agentes, que conectam a matriz de<br />

conhecimento à esfera produtiva. A essência, pois, está nas relações que se estabelecem e não somente nas organizações em si mesmas,<br />

o que não significa relegar a uma importância secundária o papel dessas. Nestas relações, muitos estudiosos debruçam-se exatamente<br />

sobre o conjunto de inter-relações entre três atores principais da inovação: o setor público, o setor privado e as universidades. Agindo<br />

de forma sistemática e parceira para o desenvolvimento, difusão e aplicação de inovações tecnológicas relevantes, podem ser atingidos<br />

resultados entusiasmadores em termos de projetos de desenvolvimento regional. As funções de cada um dos elementos também são<br />

importantes. No tocante ao setor público, ele é tradicionalmente responsável pelo aporte maciço de recursos financeiros para financiar<br />

atividades de pesquisa e desenvolvimento. Atualmente há um esforço para que o Estado seja organizador e articulador de ações<br />

descentralizadas em C&T. As empresas, geralmente têm contribuição marginal, sendo consideradas por SUTZ (1996) um setor tímido<br />

e desconfiado. A Universidade, por seu turno, deve prover à sociedade tecnologias tangíveis (como um novo produto, desenvolvido<br />

a partir da pesquisa básica) e não tangíveis (como conhecimentos), passíveis de gerar resultados sociais ou economicamente úteis, a<br />

serem aplicados pelo setor produtivo, não representando, exatamente o ator principal da inovação.<br />

ASHEIM e COOKE (1998), ao tratar das redes de inovação, ponderam que na promoção da regionalização, dentro de um<br />

contexto de forte competição, a formação de redes inovação representa um importante papel, sendo as formas de promover a<br />

organização das capacidades e atividades inovativas. Para eles, a dimensão regional é crucial para as redes de inovação em função de<br />

algumas razões: a capacidade para o desenvolvimento do capital humano é facilitada pelas interações entre firmas, escolas, universidades<br />

e mediadores de instrução vocacional; a importância de redes não apenas formais, mas principalmente contatos informais entre os<br />

membros da rede; a formação de sinergias que podem aumentar o compartilhamento de perspectivas culturais, psicológicas ou<br />

políticas de um espaço ou região; e a freqüente existência de forças administrativas estratégicas e legítimas em campos como educação,<br />

inovação e suporte à empresa. Outras características dos modelos de inovação interativos, são 13 : parcerias envolvendo o setor<br />

privado, governo, universidades, agências intermediárias, institutos de pesquisa e pequenas firmas; uma administração clara e<br />

transparente, flexível e aberta, não burocrática nem hierarquizada; infra-estrutura leve de suporte à empresa para desenvolvimento de<br />

negócios e treinamento da administração para o crescimento da tecnologia e da inovação; ligação policêntrica com outros nós-chave da<br />

rede local e nacional de inovação; e centros de tecnologia que supram serviços técnicos de tecnologia para transferir conhecimento.<br />

Nesta perspectiva se insere o Programa de Apoio aos Pólos de Modernização Tecnológica – PAPMT da Secretaria da Ciência e<br />

Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul – SCT, o qual constitui um exemplo de formatação com ênfase em arranjos locais de<br />

inovação que contribui para a geração e difusão de tecnologias apropriadas.<br />

674


4 O PROGRAMA DE APOIO AOS PÓLOS DE MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGICA E O CASO DO VALE DO RIO<br />

PARDO, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL<br />

O Programa de Apoio aos Pólos de Modernização Tecnológica surgiu em 1989 por iniciativa do Governo do Estado do RS,<br />

através da Secretaria da Ciência e Tecnologia – SCT, inserindo-se perfeitamente na estratégia de descentralização do desenvolvimento<br />

do Estado 14 . A partir de 1995, conforme é mostrado por VARGAS, FILHO e ALIE<strong>VI</strong> (1999), após reestruturação do Programa, fica<br />

sublinhada a preocupação do governo com a sistematização do modelo de desenvolvimento regional preconizado. A efetividade dos<br />

Pólos de Modernização Tecnológica vem a ocorrer através da assinatura de protocolos de intenções entre o Governo do Estado do Rio<br />

Grande do Sul e IES ou Centros de Pesquisa consolidados do interior 15 , respaldados pelos Conselhos Regionais de Desenvolvimento<br />

– COREDES 16 , sendo que atualmente existem 16 Pólos de Modernização Tecnológica no Estado 17 .<br />

Em termos da caracterização da região de estudo, o Vale do Rio Pardo, que leva o nome do afluente do Rio Jacuí que banha<br />

parte dos municípios da área, situa-se na região centro-oriental do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil (COREDE-VRP, 1998), e é<br />

composta atualmente por vinte e cinco municípios, tendo população estimada pelo Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia<br />

e Estatística – IBGE em cerca de 415 mil habitantes, a maior parte localizada no meio rural, e abrangendo uma área total correspondente<br />

a cerca de 14.350 Km 2 . A Figura 1, à página seguinte, mostra a localização da região considerada.<br />

Em termos gerais, a maior parte desta população reside no meio rural, dedicando-se a atividades inerentes a este ambiente,<br />

sendo que esta tendência se verifica mais fortemente no município de Vale do Sol, onde cerca de 94% da população situa-se no campo.<br />

A atividade agrícola tem forte participação na renda gerada na região, podendo ser destacadas, em termos de valor da produção, como<br />

culturas temporárias, o fumo, mandioca, milho e arroz, que juntas respondem por cerca de 87% da produção da região. No que<br />

concerne às culturas permanentes, o principal destaque é a erva-mate, que participa com cerca de um terço do valor da produção deste<br />

tipo de lavoura no Vale do Rio Pardo (COREDE-VRP, 1998). HANEFELD et al. (1999), apresentam que no que tange à estrutura da<br />

terra, a região é caracterizada por pequenas unidades familiares (predominância de minifúndios), existindo, em 1992, 37.640 propriedades<br />

com até 50 hectares, representando cerca de 91% do total, sendo, ainda, que 70% do número de propriedades ocupava menos de 20<br />

hectares. A presença de minifúndios associa-se à diversificada produção agropecuária da região 18 . Em síntese, a partir da caracterização<br />

da região considerada se percebe claramente a importância socioeconômica do ambiente rural, assim como as relações entre o rural e<br />

o urbano. Projetar e executar ações para o meio rural constitui uma necessidade em termos de qualquer projeto consubstanciado de<br />

desenvolvimento para a região do Vale do Rio Pardo.<br />

FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO DA REGIÃO DO VALE DO RIO PARDO,<br />

RIO GRANDE DO SUL, BRASIL<br />

FONTE: HANEFELD (2001).<br />

675


5 A DINÂMICA DO PÓLO E ALGUNS DOS RESULTADOS ALCANÇADOS<br />

Através de projeto datado de setembro de 1993, a Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC registrou seu interesse, junto<br />

ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul, em implantar o Pólo de Modernização Tecnológica do Vale do Rio Pardo – PMT/VRP,<br />

com o objetivo geral de fomentar o desenvolvimento da região, integrando a Universidade com outros Centros de Pesquisa e o setor<br />

produtivo, contando com o apoio do setor público. O PMT/VRP tem sua sede nas dependências da UNISC – que é a Unidade Gestora<br />

- a qual, conforme seus relatórios anuais de atividades, é uma universidade comunitária que tem sua origem em 1962 19 . O ano de<br />

reconhecimento da UNISC coincide com o início da articulação para a criação, no Vale do Rio Pardo, de um Pólo de Modernização<br />

Tecnológica – o que ocorreu em dezembro de 1993 -, tendo sido criado o Escritório do PMT/VRP em agosto de 1994, “com o objetivo<br />

de atender às necessidades detectadas na região do Vale do Rio Pardo.” (UNISC, 1994, p.33). Na mesma época, através de consulta<br />

à sociedade local, foram identificadas três áreas prioritárias de atuação em pesquisa e prestação de serviços: alimentos, meio ambiente<br />

e materiais. Na área de Alimentos, as linhas de pesquisa dizem respeito a análises físico-químicas em alimentos, tecnologia em<br />

indústrias alimentícias e controle de qualidade higiênico-sanitária. Como prestação de serviços, têm-se, dentre outras, análises<br />

cromatográficas, bromatológicas e microbiológicas. Na área de Meio Ambiente, há potencial para o desenvolvimento de pesquisas<br />

voltadas ao monitoramento da qualidade de águas superficiais e subterrâneas, identificação de fungos com possibilidade de utilização<br />

como controladores biológicos de insetos e destinação de resíduos sólidos, dentre outros. Análise de algas diatomáceas, análises<br />

biológicas em fumo, análise de águas (potabilidade e caracterização físico-química), análises de efluentes, pesticidas, solos, fertilizantes<br />

(orgânicos e inorgânicos) e corretivos de acidez do solo, sensoriamento remoto e geoprocessamento são os serviços prestados pela<br />

área de Meio Ambiente do PMT/VRP à comunidade. A área de Materiais atua na transferência de produtos e processos envolvendo<br />

plásticos, transferência de formulações de compostos elastoméricos e no beneficiamento e avaliação de aditivos, prestando serviços<br />

em análises de dureza, compressão, tração, densidade, cinzas em ceras e outros produtos de petróleo, infravermelho e impacto.<br />

Muitos projetos e prestações de serviços são realizadas sob a ótica multidisciplinar, envolvendo mais de uma área prioritária.<br />

Em termos de estrutura, o PMT/VRP conta, atualmente, com dez setores e programas de interface, que fornecem suporte às<br />

demandas emanadas da comunidade regional, quais sejam, a Central Analítica, o Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas - CEPE,<br />

o Escritório de Projetos, o Laboratório de Geoprocessamento, o Núcleo de Pesquisa e Extensão em Gerenciamento de Recursos<br />

Hídricos - NRH, o Núcleo de Pesquisa Social - NUPES, o Núcleo de Planejamento Urbano e Gestão Municipal - NPU, o Programa<br />

de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional – PPGDR/Mestrado, o Programa Universidade-Empresa e o Programa de<br />

Desenvolvimento Rural Sustentável - PDRS. Externamente, está vinculado ao Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio<br />

Pardo e ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul, através da Secretaria da Ciência e Tecnologia. Tendo a Universidade de Santa<br />

Cruz do Sul – UNISC como unidade gestora, internamente está vinculado à Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão 20 .<br />

O PMT/VRP pertence à comunidade regional e, para valorizar esta inter-relação entre a universidade, setor público e comunidade em<br />

geral, possui um Conselho Consultivo, que se reúne quadrimestralmente e a quem compete auxiliar na definição das diretrizes gerais<br />

de atuação do PMT/VRP, e é constituído pelos seguintes membros: representante do COREDE/VRP, representante da Associação de<br />

Municípios do Vale do Rio Pardo – AMVARP, Associação de Municípios do Centro-Serra – AMCSerra, representante da EMATER<br />

Regional, Reitor da UNISC, Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da UNISC, Gestor do PMT/VRP e por um representante<br />

das Associações Comerciais e Industriais.<br />

O PMT/VRP tem se consolidado, no decorrer dos anos, desde a sua implantação, em 1993, como um importante elemento<br />

indutor do desenvolvimento da região – inclusive rural - respeitando as especificidades e vocações do Vale do Rio Pardo e a inclusão<br />

no panorama global vigente. Em termos de resultados alcançados, sinteticamente, podem ser destacados 21 : a) execução de 105<br />

projetos de pesquisa e extensão entre os anos de 1993 e 2000, todos formalizados através de instrumentos jurídicos específicos; b)<br />

prestação permanente de serviços tecnológicos à comunidade; c) ligação dos municípios da região Vale do Rio Pardo à Secretaria da<br />

Ciência e Tecnologia do RS; d) participação nas reuniões ordinárias do COREDE-VRP e em Comissões de trabalho desse Conselho;<br />

e) participação em comissões, seminários, encontros, conselhos, comitês, congressos e discussões de interesse ao desenvolvimento<br />

regional, procurando auferir benefícios aplicáveis ao Vale do Rio Pardo, RS; f) promoção e co-promoção de palestras e seminários de<br />

interesse e relevância científico-tecnológica; g) transferência de tecnologia: dias de campo, palestras de sensibilização, orientação<br />

técnica, visitas orientadas à comunidade (empresas, municípios, etc.); diálogo permanente com a comunidade regional, somo através<br />

do Conselho Consultivo do PMT/VRP, o qual possui dentre seus representantes, entidades com atuação no meio rural. Parcela<br />

representativa dos 105 projetos executados no período supramencionado foi executada direta ou indiretamente no meio rural, o que<br />

salienta a importância do Pólo enquanto agente tecnológico comprometido com o desenvolvimento local e seus desdobramentos<br />

socioeconômicos. Pelo apresentado, constitui um modelo de referência que pode ser adotado em outras regiões, a partir de ajustes que<br />

incorporem elementos locais.<br />

676


6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ALIE<strong>VI</strong>, Rejane. Principais programas em C&T realizados pela Secretaria da Ciência e Tecnologia. In: LAHORGUE, Maria Alice;<br />

COSTA, Carlos Fernando (orgs.). Anais dos Seminários OMPI de Propriedade Intelectual e Mecanismos de Transferência<br />

de Tecnologia. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1999.<br />

ASHEIM, Bjorn; COOKE, Philip. Local learning and interactive innovation networks in a global economy. In: MALECKI, Edward;<br />

OINAS, Päivi (editors). Making connections: technological learning and regional economic change. Aldershot: Ashgate,<br />

1998.<br />

BAUMANN, Renato. Uma visão econômica da globalização. In: BAUMANN, Renato (org.). O Brasil e a economia global. Rio<br />

de Janeiro: Campus: SOEET, 1996.<br />

BECKER, Dinizar Fermiano. Sustentabilidade: um novo (velho) paradigma de desenvolvimento regional. Redes, Santa Cruz do Sul,<br />

v.1, n. 2, p.17-73, dez 1996.<br />

BECKER, Dinizar Fermiano. REDENEP: A pesquisa, o planejamento e a gestão em rede do desenvolvimento local-regional.<br />

Lajeado: UNIVATES, 2000.<br />

BEZERRA, Maria do Carmo de Lima; BURSZTYN, Marcel (coords.). Ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável.<br />

Brasília: Ministério do Meio Ambiente; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; Consórcio<br />

CDS/UnB/ABIPTI, 2000.<br />

BEZERRA, Maria do Carmo de Lima; MUNHOZ, Tania Maria Tonelli (coords.). Gestão dos recursos naturais: subsídios à<br />

elaboração da Agenda 21 brasileira. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos<br />

Recursos Naturais Renováveis; Consórcio TC/BR/FUNATURA, 2000.<br />

BOISIER, Sergio. El desarollo territorial a partir de la construccion de capitalismo sinergetico. Redes, Santa Cruz do Sul, v.4, n. 1, p.<br />

61-78, jan-abr 1999.<br />

CAMPIS, Luiz Augusto Costa a. O Pólo de Modernização Tecnológica do Vale do Rio Pardo: uma análise crítica. Redes, Santa Cruz<br />

do Sul, v.2, n.1, p.9-36, jul. 1997.<br />

COREDE-RS. CONSELHO REGIONAL DE DESENVOL<strong>VI</strong>MENTO DO RIO GRANDE DO SUL. Pró-RS: estratégias regionais<br />

pró-desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1999.<br />

COREDE-VRP. CONSELHO REGIONAL DE DESENVOL<strong>VI</strong>MENTO DO VALE DO RIO PARDO. Projeto de implantação do<br />

Pólo de Modernização Tecnológica do Vale do Rio Pardo. Santa Cruz do Sul, set 1993.<br />

COREDE-VRP. CONSELHO REGIONAL DE DESENVOL<strong>VI</strong>MENTO DO VALE DO RIO PARDO. Plano Estratégico de<br />

Desenvolvimento do Vale do Rio Pardo – 1ª Parte. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1998.<br />

ESTEVA, Gustavo. Desenvolvimento. In. SACHS, Wolfgang (editor). Dicionário do desenvolvimento: guia para o conhecimento<br />

como poder. Petrópolis: Vozes, 2000.<br />

FIESP/CIESP. FEDERAÇÃO E CENTRO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Anais do Seminário Internacional<br />

Transferência de Tecnologia e Proteção Legal ao Design. São Paulo: FIESP/CIESP, 1996.<br />

GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Ciência e Tecnologia. Relatório Técnico Gerencial -<br />

Secretaria da Ciência e Tecnologia/RS (versão preliminar). Porto Alegre, abr 1999 (mimeo).<br />

HANEFELD, Alexandro Oto. Pólos de Modernização Tecnológica e desenvolvimento regional: o caso do Pólo de Modernização<br />

Tecnológica do Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul, Brasil. Porto Alegre, UFRGS, 2001 (Dissertação de Mestrado).<br />

KUPFER, David. Uma abordagem neo-schumpeteriana da competitividade industrial. Ensaios FEE, Porto Alegre, Ano 17, v.33, n.<br />

1, 1996.<br />

MALECKI, Edward J. Technology & Economic development: the dynamics of local, regional and national competitiveness.<br />

Addison Wesley Longman Limited Essex (England), 1997.<br />

MARCO<strong>VI</strong>TCH, Jacques. A questão da competitividade. In: VELLOSO, João Paulo dos Reis (org.). As bases do desenvolvimento<br />

moderno: fórum nacional (1994: São Paulo) desenvolvimento, tecnologia e governabilidade. São Paulo: Nobel, 1994.<br />

MEYER, Geraldo. Leading Issues in Development Economics. São Paulo: McGraw-Hill, 1993.<br />

MORETTO, Cleide Fátima. O capital humano e a ciência econômica: algumas considerações. Teoria e Evidência Econômica. Passo<br />

Fundo, v.5, n. 9, p.65-78, mai 1997.<br />

NOVAES Washington (coord.); RIBAS, Otto; NOVAES, Pedro da Costa. Agenda 21 Brasileira: bases para discussão. Brasília:<br />

MMA/PNUD, 2000.<br />

PIRES, Valdemir A. Crise ambiental, teoria econômica e desenvolvimento sustentável. Cadernos da FACECA, Campinas, v.5, n. 1,<br />

p.152-162, jan-jun 1996.<br />

ROMAN, Carla Rose. A ciência econômica e o meio ambiente: uma discussão sobre crescimento e preservação ambiental. Teoria e<br />

Evidência Econômica. Passo Fundo, v.4, n. 7/8, p.99-109, mai-nov 1996.<br />

SILVEIRA, Carlos Eduardo da. Tecnologia e competitividade na economia brasileira. In: COSTA, Carlos Anibal Nogueira; ARRUDA,<br />

Carlos Alberto (orgs.). Em busca do futuro: competitividade no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1999.<br />

SOUZA, Nali de Jesus de. Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Atlas, 1993.<br />

SUTZ, Judith. Universidad, producción, gobierno: encuentros y desencuentros. Competitividad sistémica e innovación en<br />

Uruguay. Serie Estudios. Montevideo: Centro de Informaciones y Estudios del Uruguay (CIESU), 1996.<br />

UNISC. UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL. Relatório de Atividades 1994. Santa Cruz do Sul, 1994.<br />

VARGAS, Marco Antônio; FILHO, Nery dos Santos; ALIE<strong>VI</strong>, Rejane Maria. Sistema Gaúcho de Inovação: avaliação de arranjos<br />

locais selecionados. In: CASSIOLATO, José Eduardo; LASTRES, Helena Maria Martins. Globalização e inovação localizada:<br />

experiências de sistemas locais no Mercosul. Brasília: IBICT/MCT,1999.<br />

VARGAS, Marco Antônio. Tecnologia e desenvolvimento regional. Redes, Santa Cruz do Sul, v.1, n. 1, p.95-97, jul 1996.<br />

677


1 Alexandro Oto Hanefeld Mestre em Economia Aplicada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS,<br />

Professor Horista do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC e Coordenador do<br />

Escritório do Pólo de Modernização Tecnológica do Vale do Rio Pardo, na Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. E-mail:<br />

aoh@polo.unisc.br.<br />

2 Termo que segundo ESTEVA (2000, p. 61) “ocupa o centro de uma constelação semântica incrivelmente poderosa”.<br />

3 Ao capital humano está subjacente o papel do indivíduo enquanto elemento com valor econômico, o que remete a definição de capital<br />

humano a discussões que transitam na questão social, mantendo vínculo com o econômico, na medida em que dá margem a entender<br />

o homem enquanto fator de produção; em contrapartida, pode arguir-se que o indivíduo é o próprio capital, gerando mercadorias com<br />

valor econômico a partir da sua própria mercadoria, que é o seu conhecimento. O conceito de capital humano adotado simplificadamente<br />

neste artigo é aquele que o associa ao conhecimento, porém, para maior aprofundamento, sugerimos a leitura de BECKER (2000),<br />

BOISIER (1999), MALECKI (1997) e MORETTO (1997).<br />

4 Esta característica do desenvolvimento é realçada por BECKER (2000, p.95), que pondera que “o processo de desenvolvimento<br />

contemporâneo convive com uma dinâmica de transformações que extrapolam as transformações quantitativas.”<br />

5 MEYER (1993, p.5) apóia esta idéia, ao afirmar que “economic development is not equivalent to the total development of a society:<br />

it is only a part – or one dimension – of general development.”<br />

6 Convém ressaltar que controvérsias cercam a conceituação de desenvolvimento sustentável, com alguns autores argumentando que<br />

um processo de desenvolvimento, quando em curso, cria condições de auto-sustentar-se, e que, assim, o termo sustentável acoplado<br />

ao desenvolvimento torna-se, por corolário, desnecessário. Sobre isto ver, por exemplo, PIRES (1996) e NOVAES, RIBAS e<br />

NOVAES (2000),<br />

7 BEZERRA E BURSZTYN (2000), muito apropriadamente, ponderam que: “A sustentabilidade funda, portanto, um sentido éticopolítico<br />

para o desenvolvimento. Deve ser percebida como um fenômeno complexo de múltiplas dimensões (social, espacial, ecológica,<br />

político-institucional, econômica, cultural, etc.) integradas como ‘vasos comunicantes’ de um sistema.” (BEZERRA e BURSZTYN,<br />

2000, p.16) (parênteses do original).<br />

8 Afinal, “é do interior do processo de standartização global que emergem as afirmações das identidades locais, como princípio<br />

essencial da vida pessoal e da mobilização social, da afirmação de autonomia e tentativas de defesa das diferenças culturais. Estabelecer<br />

as passarelas entre as identidades culturais nacionais, regionais e locais e a organização econômica global é o desafio maior da<br />

sustentabilidade.” (BEZERRA e BURSZTYN, 2000, p.52).<br />

9 A competividade é um elemento importante no processo, que está subliminar a boa parte das discussões que tocam à ciência e<br />

tecnologia. De acordo com MARCO<strong>VI</strong>TCH (1994, p.173), “A globalização dos mercados, as tecnologias emergentes e a privatização<br />

das atividades empresariais são tendências mundiais que explicam o interesse de governos e de empresas na questão da competitividade<br />

internacional.” Esse autor amplia a discussão sobre competitividade, apresentando e caracterizando-a nas modalidades estrutural,<br />

setorial e empresarial, razão pela qual sugere-se a sua leitura. José Graça Aranha, presidente do Instituto Nacional de Propriedade<br />

Industrial – INPI, ao comentar a importância da competitividade para o Brasil, enfatiza que “a competitividade é a palavra chave na<br />

cruzada que o país realiza na busca do desenvolvimento sustentado.” (ABIPTI, 2000, p.7). O conceito de competitividade adotado<br />

neste artigo é o de KUPFER (1996) - também adotado por SILVEIRA (1999, p.191) - segundo o qual “Competitividade é definida<br />

como a capacidade de a empresa formular e implementar estratégias concorrenciais que lhe permitam ampliar ou conservar,<br />

de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado.” (KUPFER, 1996, p.367) (grifo do original).<br />

10 Nesta linha, VARGAS (1996, p.95), pondera que “Apesar da ênfase que recai atualmente sobre a variável tecnologia na busca de<br />

um novo padrão de competitividade, a inovação tecnológica foi, desde os primórdios do sistema capitalista, apontada como fator de<br />

crucial importância no processo de desenvolvimento.”<br />

11 ASHEIM e COOKE (1998), ao tratar das relações entre industrialização (como um processo territorial) e inovação (como um<br />

processo social), entendem essa última como sendo não linear e absolutamente interativa, cumprindo importante papel enquanto prérequisito<br />

ao desenvolvimento regional, Ressaltam, por igual, que as teorias modernas sobre inovação, além de tratarem a inovação<br />

como uma ação puramente técnica, conferem excessiva ênfase à pesquisa, sobretudo básica, enquanto origem de novas tecnologias.<br />

12 “Por C&T compreende-se um conjunto de instituições e grupos, mecanismos, instrumentos e atividades que se articulam de forma<br />

sistemática (sic), refletindo estratégias específicas de geração e utilização dos conhecimentos por meio de pesquisa, desenvolvimento<br />

e inovação.” (BEZERRA e BURSZTYN, 2000, p.39).<br />

13 Dentre outras características lembradas por ASHEIM e COOKE (1998, p.172).<br />

14 A sua proposta original, conforme VARGAS, FILHO E ALIE<strong>VI</strong> (1999), era: “possibilitar maior descentralização do ensino<br />

superior nas áreas de ciências naturais e engenharias, mediante o apoio financeiro a investimentos em infra-estrutura laboratorial nas<br />

universidades sediadas no interior do Estado. Ao mesmo tempo, buscava aproximar as universidades e os diversos agentes econômicos<br />

localizados na região de atuação das mesmas, visando a utilizar esta nova capacitação no apoio a projetos considerados prioritários<br />

para o desenvolvimento econômico de cada região.” (VARGAS, FILHO e ALIE<strong>VI</strong>, 1999, p.427-428).<br />

15 O primeiro protocolo de intenções foi firmado em 27 de setembro de 1989, entre o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, a<br />

Universidade Federal de Pelotas – UFPel, Universidade Católica de Pelotas – UCPel e a Fundação Universidade de Rio Grande –<br />

FURG, com vistas à implantação do Pólo Tecnológico da Zona Sul. Em 04 de março de 1993, outro protocolo de intenções foi<br />

firmado, implantando o Pólo de Modernização Tecnológica em Alimentos (UFPel), o Pólo de Modernização Tecnológica Industrial<br />

da Região Sul (UCPel) e o Pólo de Modernização Tecnológica do Litoral Sul – Setor Pesqueiro (FURG). Seguiram-se a esses três Pólos<br />

iniciais outros quinze, com abrangência distribuída por todo o território gaúcho (GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO<br />

SUL, 1999).<br />

16 ALIE<strong>VI</strong> (1999, p.292), reportando-se ao Programa de Apoio aos Pólos de Modernização Tecnológica, pondera que os COREDES<br />

“atuam como instância máxima na definição dos projetos demandados.” O início da instalação dos Conselhos Regionais de<br />

Desenvolvimento - COREDES ocorreu em 1991, em uma discussão conduzida na esfera da então Secretaria do Desenvolvimento -<br />

678


SEDES, atual Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais - SEDAI. Três anos mais tarde o Governo do Estado do<br />

Rio Grande do Sul procedeu à divisão do território gaúcho em vinte e duas regiões, tendo sido criados para cada região um COREDE,<br />

os quais foram oficializados pela Lei Estadual nº 10283, de 17 de outubro de 1994, cuja proposta apresentava como objetivo<br />

fundamental “descentralizar a discussão da elaboração do orçamento de governo, agregando projetos de interesse das regiões”<br />

(VARGAS, FILHO e ALIE<strong>VI</strong>, 1999, p.428). A Política de Desenvolvimento Regional do Rio Grande do Sul, inclusive, prevê a adoção<br />

da divisão regional dos COREDES como base territorial, conforme preconiza o artigo 5º do Decreto nº 38438, de 28 de abril de 1998.<br />

Antes da constituição dos COREDES, as relações eram estabelecidas diretamente entre as IES e Centros de Pesquisa e o Governo, por<br />

interveniência da Secretaria Estadual da Ciência e Tecnologia.<br />

17 Os quais estão vinculados às regiões dos COREDES e a uma unidade executora, que corresponde a um Centro de Pesquisa ou<br />

Universidade de referência na região considerada. Ressalta-se que esta informação reporta-se a levantamento realizado com base em<br />

GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (1999). Atualmente há em estudo a implantação de outros Pólos.<br />

18 A caracterização completa da região do Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul, Brasil, pode ser buscada em HANEFELD (2001).<br />

Os dados apresentados foram retirados dessa fonte.<br />

19 Em 1962 foi fundada a Associação Pró-Ensino em Santa Cruz do Sul – APESC, entidade mantenedora da Universidade. Em 1964<br />

foi aprovada a criação da primeira Faculdade, a de Ciências Contábeis; três anos mais tarde, foram instaladas a Faculdade de Filosofia,<br />

Ciências e Letras (com os cursos de Letras e Pedagogia). A partir de então, novas Faculdades e cursos foram sendo disponibilizados<br />

para a população, em aulas que passaram a ocorrer em campus universitário próprio a partir de 1984. Na transição para o status de<br />

Universidade, foi primeiramente aprovada uma Carta-Consulta, conforme o Parecer nº 91/91 do Conselho Federal de Educação - CFE,<br />

de 19 de fevereiro de 1991. O reconhecimento da Universidade se deu através da Portaria nº 880, de 23 de junho de 1993, publicada<br />

no Diário Oficial da União de 25 de junho de 1993, emitida com base no parecer CFE nº 282, de 05 de maio de 1993 (COREDE-VRP,<br />

1993).<br />

20 Desde 15 de março de 2002 passou a vincular-se à recém-criada Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - PROPPG.<br />

21 Aprofundamentos quali-quantitativos sobre os resultados alcançados, assim como da sistemática operacional do PMT/VRP<br />

podem ser obtidos em HANEFELD (2001), especialmente no capítulo terceiro.<br />

679


POTENCIANDO RECURSOS SOCIALES Y PRODUCTIVOS A PARTIR DE UNA<br />

INTERVENCIÓN DE SABERES COMPLEMENTARIOS: ESTUDIO DE CASO CON<br />

COMUNIDADES MAPUCHE. 1<br />

680<br />

Andrea Alvarez Díaz<br />

rayuela@ctcinternet.cl<br />

Universidad Diego Portales<br />

Temuco, Chile<br />

Durante un tiempo se pensó que la globalización iba a tener efectos esencialmente homogeneizadores dada la configuración<br />

de las relaciones de poder a nivel internacional, y la concentración de la propiedad de los medios de comunicación y producción. La<br />

imposición de una ideología y de un orden económico dominante (occidental y capitalista) conduciría a la formación de una “aldea<br />

planetaria monocultural y uniforme” (De Jonge, 1999; La Feber, 1999 en Boccara, 2000). Paradójicamente, el desarrollo histórico del<br />

proceso ha dado cuenta de la emergencia de nuevas culturas e identidades, y de procesos de re-emergencia de culturas e identidades<br />

cuya existencia había sido negada hasta entonces (Boccara, op.cit.).<br />

Se puede observar que los años 90 constituyeron en América Latina una expresión del mundo indígena. Los propios estados<br />

nacionales comenzaron a avanzar en el re-establecimiento de regímenes democráticos, y operaba en el campo del conocimiento un<br />

retroceso de la hegemonía postpositivista; condiciones que permitían avanzar hacia el establecimiento de bases para un diálogo con el<br />

Otro.<br />

En Chile, existe cierto consenso en reconocer que las relaciones interétnicas con la sociedad mapuche 2 han sido, y siguen siendo<br />

desequilibradas e injustas, en los campos socioeconómico, sociolingüístico y cultural (Citarella, 1995). En un sentido estricto, nuestro<br />

país no asume plenamente su condición de país multicultural y pluriétnico, y el estado chileno, así como la mayoría de los países<br />

latinoamericanos con población indígena, no ha querido ratificar el convenio 169 de la OIT (Durán, 2000). Los grandes temas<br />

pendientes en esta relación atañen básicamente lo relativo a: los derechos culturales, los aspectos jurídicos y legales de la tierra y los<br />

territorios, del desarrollo social y económico, y de las formas de gobierno local o regional. Como lo indica el académico y dirigente<br />

mapuche, José Quidel (2000) “las iglesias han quebrado sino totalmente, gran parte de la religiosidad mapuche; la salud ha desprestigiado<br />

y subvalorado a la medicina mapuche; las estructuras estatales han desconocido a nuestras autoridades propias y han impuesto las de<br />

ellas. La educación ha restringido, castigado y expulsado la lengua, el conocimiento, la cultura y toda manifestación mapuche en el<br />

niño. Asímismo la justicia, en tanto jamás aceptó las normas mapuche y los fundamentos de la jurisprudencia propia”.<br />

1. La política de salud intercultural en Chile<br />

Existen grandes brechas en las condiciones de vida y salud que presentan las poblaciones indígenas de Chile en comparación con<br />

el resto de la sociedad. Se observa que las zonas, o comunas de mayores carencias socioeconómicas coinciden en gran parte con las<br />

comunas de alta presencia indígena, lo que se contrasta según los ingresos de la población y de acuerdo al Indíce de Vulnerabilidad<br />

Infantil de la UNICEF (Ministerio de Salud/OPS, 1997). Un indicador clásico de salud, como la Mortalidad Infantil, ubica a Chile en<br />

el contexto de los países desarrollados (Mortalidad Infantil menor a 20 por mil nacidos vivos); sin embargo, en áreas territoriales<br />

indígenas esta cifra llega a duplicarse. La misma situación se presenta en otras patologías denominadas “del subdesarrollo”, como la<br />

Tuberculosis, Bronconeumonia, Hepatitis, etc (Ibacache, 1997).<br />

El uso generalizado de este tipo de indicadores relativos a las condiciones de vida, tales como el grado de alfabetización, el tipo<br />

de vivienda, conexión a alcantarillado, abastecimiento de energía eléctrica y agua potable, puede sin embargo conducir a interpretaciones<br />

equívocas. Se trata de constructos metodológicos basados en una lógica desarrollista, impregnada por un proyecto “civilizatorio”<br />

urbanizador, en el que el ideal imaginario de la elite, se orienta a buscar ser “como los europeos” (Toledo Llancaqueo, 1997; Pérez,<br />

2000,). Un primer desafío que surge entonces es la necesidad de construir indicadores apropiados que posibiliten comparaciones<br />

válidas de condiciones de vida entre culturas diferentes, y que tengan como referente la perspectiva cultural del desarrollo desde las<br />

comunidades indígenas.<br />

En el ámbito de la salud, recién en la década de los 90, con la instalación de los gobiernos post-dictadura, se ha producido en Chile<br />

una toma de conciencia explícita, por parte de los personeros de la cartera de salud, de la pluralidad étnica del país. Asegurar el acceso<br />

a la salud de las poblaciones indígenas, en términos de cobertura y mejor calidad de la atención en salud son los primeros obje tivos de<br />

la política de salud intercultural impulsada desde el Ministerio de Salud. Para lograrlo se ha propiciado la formación de “facilitadores<br />

interculturales” en las Oficinas de Amulzugun en hospitales y consultorios, y al menos en la IX región, la constitución de Comités de<br />

cogestión, conformados por representantes de diferentes identidades territoriales para mejorar la pertinencia cultural de las acciones<br />

de salud. Se ha intentado también diseñar estrategias que permitan desarrollar un enfoque epidemiológico intercultural que estudie “la<br />

ocurrencia de la enfermedad desde el punto de vista de un contexto o de una cultura particular” (Minsal, 1998).


En términos generales, se trata sin duda de una política bien encaminada. Sin embargo, desde un principio surgen serias<br />

interrogantes, sobre todo si es que la población afectada concibe la política de interculturalidad en salud no sólo como una simple<br />

extensión de la cobertura, sino como una relación complementaria del saber médico oficial con los saberes tradicionales de las culturas<br />

indígenas. Dicho de otra manera, la política oficial no parece hacerse cargo del problema de decidir si por interculturalidad se va a<br />

entender realmente un reconocimiento mutuo de los discursos y saberes del otro, o si se va a aplicar simplemente a las poblaciones de<br />

origen étnico diferente, la misma política de salud científica occidental que se aplica al resto del país. En efecto, una política integral<br />

de interculturalidad implicaría resolver los problemas filosóficos de valoración y reconocimiento de la alteridad, a lo cual se agregan<br />

dificultades de índole ideológica, como la necesaria convivencia de un saber con fundamentos mágico-religioso con un saber con<br />

fundamento estrictamente bioquímico (Citarella, 1995; Alvarez, Alvarez y Facuse, en prensa).<br />

Es necesario también enfrentar problemas de índole económica, como la necesaria coexistencia de prácticas curativas comunitarias<br />

con la maquinaria invasora de la industria tecnológica del “mercado de la salud”. Así como la mundialización opera fragmentando las<br />

economías nacionales, permitiendo que circulen óptimamente los productos de las grandes multinacionales, la medicina globalizada<br />

neoliberal instala en la práctica (legitimada en el discurso biomédico) la salud como mercado, tendiendo a ocupar la mayor parte del<br />

espacio de la atención en salud, a través de la privatización y el control de las industrias farmacológicas nacionales por los laboratorios<br />

multinacionales. Basta recordar el debate durante la última Conferencia Internacional en Burkina Fasso con respecto a la polémica<br />

situación sobre el tratamiento del SIDA en el continente africano, dónde los laboratorios, convertidos en centros de poder económicosanitario,<br />

no permiten la distribución masiva y a bajo precio de remedios existentes para no dejar de percibir sus “royalties” (AFP,<br />

2001).<br />

2. Enfoque teórico-metodológico<br />

Asumiendo que las relaciones entre individuos y grupos son enormemente complejas, me parece altamente necesario continuar<br />

este espacio de reflexión orientado a la práctica metodológica, para clarificar algunos aspectos de la articulación del entremado social<br />

en el cual se enmarca cualquier proceso de desarrollo.<br />

Al respecto, me acomoda bastante ubicarme desde el constructivismo para comprender la realidad social, ya que va más allá del<br />

espejismo de la objetividad en el que hemos sido educados en Latinoamérica. Me hace sentido porque se propone un razonamiento<br />

dialéctico, en vez de considerar los contextos sociales como un agregado de individuos únicamente, o las situaciones individuales como<br />

procedentes tan sólo de la determinación social de las vidas de los sujetos. Más bien propone desenredar las interrelaciones dinámicas,<br />

interactivas, mutuamente constitutivas entre la vida del individuo y la vida social, pero también entre la teoría y la práctica considerando<br />

que ambas están socialmente construidas e históricamente determinadas.<br />

En este sentido, el conocimiento es el resultado de la interacción de puntos de vista subjetivos de la interacción social con<br />

localizaciones externas al sujeto que las produce. Lo que nos lleva al terreno de la intersubjetividad como proceso de construcción y<br />

contínua reinterpretación de la realidad, y a sostener que la realidad se construye socialmente, o dicho de otra manera, intersubjetivamente<br />

(Berger y Luckman, 1986; Foucault, 1970, 1973, 1976, 1996).<br />

En este proceso, el lenguaje, o más bien dicho el discurso, constituye un elemento central tanto de construcción de esta realidad<br />

compartida como en el intercambio de representaciones comunes o diferentes con respecto a una realidad determinada. Los individuos<br />

y cada actor social construye una representación del «mundo real», lo que se ha llamado también un imaginario social de determinados<br />

fenómenos (Baeza, 2000; Castoriadis, 1975; Jodelet, 1989). Lo que se nos revela en el discurso, en el acto del lenguaje, es el mundo<br />

representado y no el mundo empírico; no los hechos reales, sino que se trata siempre de una significación y representación de los<br />

hechos que construye cada sujeto individualmente pero con todas las determinaciones sociales del conocimiento acumulado de su<br />

época. Como personas significamos la realidad en forma individual pero no podemos zafarnos del imaginario social colectivo en el cual<br />

nos desarrollamos cotidianamente.<br />

Situada desde el paradigma estructural constructivista, esta investigación busca: dar cuenta, de las potencialidades que el<br />

modelo de salud complementario presenta para el desarrollo de las comunidades mapuche, en el contexto de relaciones interétnicas<br />

con el estado chileno desequilibradas e injustas, y desde una perspectiva analítica de las representaciones sociales. Esto es, develar<br />

los imaginarios colectivos socialmente compartidos sobre el mundo, presentes en esta interacción de saberes médicos diversos: por<br />

una parte, el imaginario de la ciencia que se ha instalado como una realidad natural en el sentido común occidental chileno. Por otra<br />

parte, el imaginario de la cosmovisión indígena que se tiende a mitificar como un marco mental estático y arcaico en la visión<br />

tradicionalista (Ibacache, 2000) o se tiende a invisibilizar producto de su supuesta disolución en el proceso de mestizaje cultural con<br />

la tradición española, y luego chilena (Pérez, 2000).<br />

En este sentido, la noción de cultura es entendida como producto dinámico de las relaciones sociales, vehiculizadas por el<br />

lenguaje, como un permanente proceso de construcción, deconstrucción y reconstrucción, asumiendo que los agentes sociales<br />

(colectivos e individuales) participan en la producción, reproducción y transformación de las estructuras a través de una praxis y de<br />

la elaboración de estrategias de distinta índole (Boccara, 2000).<br />

Metodológicamente, se adopta un enfoque de producción de conocimiento ubicado en la escuela de la antropología<br />

interpretativa (Ranibow, 1986), por cuanto se sitúa más allá de la descripción etnográfica, asumiendo la necesaria relación de<br />

implicancia y de interacción entre investigador/investigado para detonar significados (Geertz, 1973) que den cuenta de la realidad<br />

analizada. En términos epistemológicos, se plantea una relación diferente entre sujeto investigador y sujeto investigado, desde la<br />

681


definición y comprensión del problema de investigación –que es necesariamente consensuado-, hasta la elaboración del producto del<br />

conocimiento, o de la etnografía, para utilizar palabras de la antropología. Como lo afirma Clifford, los paradigmas dialógico y<br />

constructivista dispersan la autoridad etnográfica, en tanto que las narraciones de iniciación confirman su especial competencia. Los<br />

paradigmas de la interpretación y de la experiencia pueden convertirse entonces en paradigmas discursivos, de diálogo y de polifonía<br />

(Clifford, J. & Marcus, G., 1983, en Ranibow, 1991), y es en este sentido que se utilizarán como marco referencial para el análisis e<br />

interpretación de la información construida.<br />

2.1 Acceso<br />

Conviene precisar que paralelamente a la política oficial de interculturalidad en salud, anterior a ella e independientemente<br />

de ella, en el país coexisten prácticas de complementariedad entre el sistema oficial y los sistemas médicos indígena y popular,<br />

articuladas desde la población mapuche y no mapuche que transita por cada uno de ellos en búsqueda de una resolución a su problema<br />

de salud (Citarella, 1995).<br />

En este estudio, se analiza la experiencia implementada en el Hospital Rural de Makewe, inserto en el territorio histórico<br />

wenteche del centro sur de Chile. Este fue fundado en 1927 por los misioneros de la Iglesia Anglicana y recibe desde el año 1962 una<br />

subvención del Ministerio de Salud. En 1999, la organización comunitaria «Asociación Indígena para la Salud Makewe-Pelale» asume<br />

la gestión del establecimiento como resultado de un proceso de participación y autogestión de la comunidad para asegurar su<br />

funcionamiento. Como lo indica el profesional a cargo del equipo técnico “no se trata simplemente de desarrollar un hospital<br />

intercultural, sino de poner en acción otra dinámica: un modelo de gestión mapuche de la salud. Se implementan programas relacionados<br />

con otros aspectos del desarrollo: el fortalecimiento de la identidad cultural mapuche; fortalecimiento de la medicina tradicional<br />

mapuche y programas de fortalecimiento de la autonomía territorial”. Se trata de un conjunto de programas que ubican el problema de<br />

la salud dentro de una problemática mayor, como es el fortalecimiento de la identidad social, cultural y territorial de la nación mapuche<br />

(Ibacache, 2000).<br />

Cursando un programa de Magister en desarrollo en la universidad católica local, tomo contacto en febrero del 2002 con el<br />

presidente de la Asociación Indígena para la salud Makewe Pelale, explicitando la motivación en llevar a cabo este estudio. En junio<br />

del mismo año me traslado a la ciudad de Temuco por el tiempo de duración de la investigación, y a través de una entrevista personal<br />

y un protocolo de trabajo firmado con el Sr. Francisco Chureo Zúñiga, se formaliza mi inserción en la institución 3 por un período de<br />

seis meses y suscribo el compromiso de realizar un Taller de discusión de los resultados el término del estudio con agentes relevantes<br />

del sector.<br />

2.2 Diseño muestral<br />

El diseño de investigación implementado articula, en torno a un movimiento temporal en espiral, las diferentes etapas del<br />

proceso de investigación. Este diseño flexible y dinámico permite que, a partir de un arranque muestral inicial (Glasser y Strauss,<br />

1967) comience la recolección de información, y luego del análisis de los primeros datos se definan nuevas categorías relevantes para<br />

la selección de los siguientes sujetos a entrevistar.<br />

Utilizando un muestreo teórico (Glasser y Strauss, op. cit.), se contrastan categorías relevantes al problema de investigación,<br />

que se irán saturando, completando teóricamente, con la información de terreno. Las tres comunidades seleccionadas a través de este<br />

procedimiento, son parte del territorio de impacto del Hospital Makewe: poseen diferentes niveles de participación e implicancia en<br />

el modelo de salud puesto en práctica, y están asociadas a la influencia de diferentes grupos religiosos (católico, anglicano y<br />

evangélico).<br />

2.3 Dispositivo de producción de información<br />

Desde el modelo etnográfico interpretativo, Geertz (1973) recomienda a los investigadores enfrentados en trabajo de campo<br />

“que se las arreglen” para instalar dispositivos gatilladores, “detonadores de significados”, lo que sólo puede ocurrir en la necesaria<br />

interacción con las personas, a través de la mutua afectación, con el investigador.<br />

A dos meses de iniciado el trabajo en terreno, se cuenta con información primaria de una de las tres comunidades seleccionadas,<br />

correspondiente al Lof Boroa Filu Lawen 4 , obtenida en un trabajo de recuperación de la historia local. En la cultura mapuche, la<br />

transmisión de la historia local se da en el ámbito familiar, en la vinculación intergeneracional entre los niños y sus abuelos, por lo que<br />

la recuperación de la memoria de la comunidad pasa por reposicionar el rol del anciano en la sociedad mapuche, como portador de<br />

conocimiento. En ese marco, junto al Presidente y al Secretario de la Coordinadora de Salud Integral Filu Lawen, estamos generando<br />

conversaciones con ancianos de las comunidades del lof, quienes a través de su relato de vida dan cuenta de la memoria colectiva<br />

presente en el sector.<br />

Por otra parte, mi inserción en el Hospital Makewe se ha materializado en un espacio de atención psicológica a los pacientes<br />

del Policlínico externo, consultantes en forma espontánea o derivados por los profesionales del establecimiento (a la fecha médicos,<br />

682


enfermera y matrona han realizado derivaciones a psicóloga). Se trata de pacientes mapuche, en su mayoría de sexo femenino,<br />

ubicados en un rango de edad entre 12 y 68 años, consultantes por diferentes trastornos socio-emocionales, algunos de ellos con<br />

componentes espirituales presentes explícitamente en el motivo de consulta.<br />

Por último, como parte de la formación necesaria para profundizar la comprensión cultural del contexto analizado, estoy<br />

asistiendo un curso de mapudungun dictado por el Instituto de Estudios Indígenas, de la Universidad de la Frontera. El curso tiene una<br />

duración de dos meses y es impartido por docentes mapuche de importante trayectoria en el área de la educación bilingüe en la IX<br />

región. Esta instancia interactiva se constituye sin duda en un tercer escenario gatillador de significados con respecto al problema de<br />

investigación, por cuanto abre una puerta al pensamiento y cosmovisión mapuche, desde una mirada particular de la cultura.<br />

2.4 Dispositivo de análisis e interpretación de la información<br />

Profundizando la lectura del problema de investigación inicialmente propuesto, develar los imaginarios colectivos, presentes<br />

en esta interacción de saberes diversos, permitirá reconocer el aporte de cada uno y de su complementariedad desde el campo de la<br />

salud, en función de la potenciación de los recursos sociales y productivos de las comunidades, puestos al servicio de sus estrategias<br />

de desarrollo.<br />

Tras este objetivo de búsqueda de conocimiento, se incorpora al diseño analítico aportes de las teorías discursivas, en<br />

particular de la escuela de la enunciación (Benveniste, 1970; Pecheux, 1969; Maingueneau, 1991), aportes del análisis de relato de vida<br />

desde la escuela antropológica biográfica (Bertaux, Correa, de Villers, de Gaulejac, 1999), y la cuestionadora mirada de Foucault<br />

(op.cit.) sobre las relaciones de poder y los procesos de objetivación de sujeto que se establecen en las relaciones discursivas.<br />

3. Interculturalidad y relaciones de poder<br />

Los pueblos indígenas de Chile requieren garantías para el desarrollo con identidad, un marco jurídico y político que les<br />

permita ejercer plenamente los derechos indígenas. Mientras no se les reconozca, como sujetos de derecho, prácticas culturales<br />

propias como la lengua, la medicina, la organización de su sociedad, estarán limitados a la clandestinidad y/o la gradual desaparición.<br />

La experiencia de salud analizada en Makewe, así como la reciente propuesta en salud generada desde las comunidades de Filu<br />

Lawen, responde a la voluntad de recuperación de control social que se observa en diferentes procesos de recuperación de identidad<br />

por parte de pueblos originarios a través de Latinoamérica. La meta que se ha fijado la Asociación para la Salud Makewe es participar<br />

en el mejoramiento de la calidad de vida de la población del sector, a través de la implementación de un modelo de salud intercultural<br />

que fortalezca los recursos locales, considerando las distintas concepciones de salud-enfermedad y fortaleciendo la complementación<br />

con la medicina biomédica, lo que se enmarca dentro de un proyecto general de etnodesarrollo, tendiente a la recuperación del control<br />

sociocultural por parte del pueblo mapuche (Chureo, 2000).<br />

Una primera lectura del proceso permite reconocer la relevancia socio-política que poseen estas experiencias de desarrollo<br />

local que han convertido un problema de salud (sectorial, desde la lógica estatal occidental) en una herramienta de construcción y reelaboración<br />

identitaria de las comunidades mapuche, y que puede significar una puerta de entrada hacia el trabajo de constitución del<br />

sujeto mapuche.<br />

Asumir la gestión de la salud desde las comunidades ha sido un proceso de lenta recuperación del conocimiento cultural<br />

local, lo que ha significado además ir validando el rol de las autoridades tradicionales, como el logko, la machi, y otros agentes de salud;<br />

recuperar las formas de relación y de convivencia basadas en el respeto y la reciprocidad, y en definitiva reconstruir la cosmovisión<br />

y conocimiento mapuche. En particular, destaca la importancia del reposicionamiento social de la figura de la machi como depositaria<br />

de la cultura, de la recuperación de la salud y del mantenimiento de la cultura (Mac Fall e Ibacache, 2001).<br />

Vista desde la perspectiva de los derechos humanos, se concibe la salud como concepto integrado a las condiciones de vida<br />

de las comunidades, en el marco del ejercicio de los derechos propios y del derecho a la autodeterminación. En este sentido, plantear<br />

salud es plantear desarrollo, integrando la educación y la producción a una propuesta de desarrollo desde la identidad mapuche 5 .<br />

La interculturalidad para los mapuche, como lo indica Chureo (2000) es un asunto de sobrevivencia. Además de haber tenido<br />

que practicarla, la conceptualizan, la elaboran. No son ni se sienten nuevos practicantes de las relaciones interétnicas, sino que son<br />

“actores pensantes” de este proceso universal a través del cual dos pueblos entran en contacto y generan redes múltiples de relaciones<br />

y acuerdos.<br />

La interculturalidad sitúa entonces el problema en torno a las relaciones de poder, y si no ocurre una modificación que<br />

signifique una transferencia del poder entre las partes involucradas, no es posible hablar realmente de procesos inter-culturales. El<br />

protagonismo que han asumido las comunidades mapuche de Makewe al enfrentar la responsabilidad de su salud, implica necesariamente<br />

un reconocimiento, una valoración de su conocimiento y del derecho a construir desarrollo de acuerdo a su visión de mundo.<br />

Pero las relaciones de poder no se constituyen solamente en el campo del hacer, sino que lo hacen fundamentalmente en el<br />

campo del decir (Austin, 1973), por lo que se propone examinar más atentamente la interacción que se ha establecido entre los saberes<br />

indígena y el saber occidental, aquí representado en la figura de las instituciones del estado chileno. Análisis ya no abocado a la<br />

683


constitución de identidad étnica, tarea a la que se aboca intensamente la antropología local, sino más bien a la interacción entre saberes,<br />

entre representaciones de mundo, aporte relevante desde la disciplina de la psicología social constructivista.<br />

4. Interculturalidad, poder y saberes<br />

Existen diferentes formas en que los conocimientos, representaciones, imaginarios colectivos, o ideologías pueden interactuar<br />

y relacionarse en el campo de los saberes. Como estados nacionales, tenemos la nefasta experiencia en nuestro continente, de la<br />

aplicación sistemática y sostenida de las formas más autoritarias y totalitarias, durante las dictaduras militares, que negaron la<br />

existencia del Otro, construyendo dispositivos ideológicos basados en el temor, y en la amenaza latente de un enemigo ideológico 6 .<br />

Si bien no es posible negar la huella autoritaria que dejó ese episodio histórico en las formas que tenemos, aún a trece años de<br />

recuperación de la democracia, de interactuar y de relacionarnos en lo cotidiano y en el campo de las ideas, en este análisis nos<br />

remitiremos a algunas formas de diálogo que se establecen con el saber del Otro desde una “genuina” voluntad de comunicación y de<br />

respeto.<br />

Una primera consideración por el saber del Otro consiste en reconocer la opinión de los actores, por ejemplo campesinos o<br />

productores, como los participantes más cercanos a la realidad analizada o a modificar, ya sea que se trate de un estudio o de un<br />

proyecto de intervención. Se realizan entonces diagnósticos participativos, investigación-acción participativa, con mayor o menor<br />

grado de participación en la planificación de las actividades, en la toma de decisiones del proceso y en la ejecución de las actividades.<br />

En las experiencias de mayor participación los actores también se involucran en la evaluación de los logros alcanzados.<br />

Se incluye la participación del Otro porque es portador de un ángulo de análisis más cercano, “desde dentro” de la problemática<br />

social a abordar. El estado chileno y su institucionalidad, habiendo asumido recientemente acciones ante la realidad pluriétnica del país,<br />

se sitúa aún desde esta forma de participación y de reconocimiento del saber del Otro. La realidad es definida, representada, construida<br />

desde la óptica institucional, occidental y requiere “complementar” su constructo acerca de la realidad, con la mirada de los participantes;<br />

mirada a la que el profesional no puede acceder por sí mismo debido a las barreras culturales y sociales que existen. Se les reconoce a<br />

los participantes un lugar privilegiado de observación y de experiencia de “lo que ocurre”; de lo que el saber técnico, o médico,<br />

científico define que “ocurre”.<br />

Para ejemplificar esta forma de considerar la participación del saber del Otro (o de no considerar realmente el saber del Otro),<br />

se analiza a continuación la problemática del cuidado del medio ambiente en su relación con la producción silvoagropecuaria y la salud<br />

humana, en una descripción desde la ecología medioambiental.<br />

Tanto las ciencias de la salud como las ciencias del desarrollo en general, y últimamente con gran ímpetu, las ciencias ecológicas,<br />

sostienen la necesidad de mantener un medio ambiente natural con sus propiedades “biofísico-químicas” en un estado que permita la<br />

existencia de biodiversidad y asegure la reproducción de los sistemas ecológicos. Desde esta lógica, los aportes de la ecología pueden<br />

contribuir a realizar una evaluación del grado de deterioro de los recursos naturales desde la perspectiva de la realidad ambiental.<br />

Una descripción del sector de Makewe Pelale, ubicado en territorio histórico wenteche, señala:<br />

“se puede situar el área geográfica en estudio en el valle central sur, y caracterizarla por la presencia<br />

predominante de ecosistemas terrestres con gran influencia antrópica traducidos en áreas agrícolas<br />

principalmente de monocultivo y de subsistencia por parte de campesinos e indígenas. Es posible observar<br />

la presencia de otros ecosistemas terrestres representados por pequeños bosquetes y praderas naturales,<br />

restringidos fundamentalmente a particulares, donde ha sido posible conservar parte de la biodiversidad<br />

propia de la zona biogeográfica. Las hoyas hidrográficas de la región que atraviesan de cordillera a mar tienen<br />

su relevancia en estas áreas, conformando distintos tipos de ecosistemas humedales: ríos, lagunas, pantanos<br />

y hualves, los que son utilizados por la población humana” (Parada, 2000).<br />

En la misma descripción, se mencionan los principales problemas ambientales en torno a los recursos<br />

agua y suelo, haciendo referencia a: las grandes diferencias de niveles de caudal a lo largo del año, las<br />

frecuentes inundaciones con la consiguiente pérdida de tierras por la erosión de las riberas, y la extracción de<br />

áridos cada vez más demandada por la construcción de viviendas y carreteras. Los ríos son depositarios de<br />

una gran cantidad de contaminantes agrícolas (pesticidas y fertilizantes) y residuos domiciliarios sólidos y<br />

líquidos urbanos e industriales lo que unido a la falta de un sistema de tratamiento de aguas en los grandes<br />

centros urbanos, como Temuco, hacen que la calidad de ésta sea cada vez más deficitaria.<br />

Descripción que se efectúa desde el conocimiento de la etnoecología, definida como una nueva<br />

fracción de la Etnociencia. Si se asume que esta última estudia la suma total del conocimiento que una cultura<br />

tiene sobre su universo natural y social y sobre sí misma, la Etnoecología sería el área encargada de estudiar<br />

aquella porción del conocimiento tradicional relativo a la naturaleza. Esto es, “la manera como los agricultores<br />

tradicionales conceptualizan los ecosistemas de los cuales dependen” (Brosius et al., 1986 en Parada, 2000).<br />

La Etnoecología por tanto es una ciencia interdisciplinaria que requiere del conocimiento proveniente de las<br />

Ciencias Sociales y Naturales, en especial de la Ecología para la comprensión de lo relativo a las relaciones<br />

sociedad-naturaleza.<br />

684


A pesar de las buenas intenciones propuestas por los autores, que buscan conocer las “percepciones indígenas de las divisiones<br />

naturales del mundo biológico y las relaciones humanas con el medio ambiente”, la propuesta está casada con el dispositivo de<br />

conocimiento dominante en la ciencia: el postpositivismo racionalista y naturalista.<br />

Volviendo al ámbito del desarrollo, la Etnoecología, no puede sino valorar el medio ambiente como recurso ecológico, en cuanto<br />

naturales, y en términos de calidad de vida biológica y a lo sumo psicológica en su dimensión paisajista. Pero no puede, por sus<br />

amarres paradigmáticos, sostener seriamente, “científicamente” que cada uno de esos seres vivos de la naturaleza posee una fuerza<br />

espiritual que nos ayuda a vivir sobre la faz de la tierra 7 .<br />

A través del proceso de recuperación y re-apropiación de la identidad mapuche, se ha hecho evidente la necesidad de considerar<br />

la relación de imbricación que supera los niveles de materialidad y objetividad, propios de la ciencia (ecológica o médica), e integrar<br />

dimensiones cósmico-espirituales y socio-comunitarias.<br />

En el transcurso del tiempo los mapuche llegaron a determinar y a explicar la estructuración de su propio mundo; es decir,<br />

lograron comprender, articular e interrelacionar todos y cada uno de los elementos existentes que conforman el mundo mapuche en que<br />

vivimos. Esto es, lograron comprender cómo se vinculan ellos con la tierra y el medio ambiente que los rodea, de dónde emana la fuerza<br />

o el poder que le permite la vida a la naturaleza; en qué contexto se ubica el sol, la luna, el día, la noche y el hombre (Marileo, 1995,<br />

en Cuyul, 2002). La relación del mapuche con la tierra y los ciclos de la naturaleza emana, además, de su condición de persona rural,<br />

cercana al medio ambiente, con el cual constantemente convive durante todas las etapas de su existencia. De esta manera, tanto la<br />

agricultura como la organización social y la religión, prácticas rituales y creencias, están íntimamente ligadas como partes constitutivas<br />

de un todo sistematizado en la persona o en el che (Cuyul, 2002).<br />

El universo está compuesto de seres vivos que como unidades poseen igual valor entre sí; cada uno posee su newen o fuerza,<br />

cada ser humano, cada elemento de la naturaleza pertenece a una fuerza, cada persona tiene su propio newen; aún cuando no todas<br />

pertenecen al mismo pullu, o espíritu (Caniullan, 2000). El orden del Universo se rige por una serie de fuerzas opuestas y<br />

complementarias, necesarias unas para las otras 8 , cuyas relaciones entre sí deben guardar cierto estado de armonía, lo que remite a las<br />

relaciones de respeto que deben mantener los seres vivos entre sí. El respeto a otros seres vivos, en este caso es más complejo que el<br />

uso moderado de los recursos naturales, sino que implica también resguardar la armonía que existe entre las personas y los gen, o<br />

dueños de determinados lugares que poseen una fuerza particular (p.e. menoko) que es necesario resguardar para el desarrollo<br />

armónico de los habitantes, flora y fauna (Coordinadora de Salud Filu Lawen, 2002). El medio ambiente es el todo, el Waj mapu, un<br />

espacio donde el ser humano es un elemento entre muchos, donde no se diferencia el mundo visible y un mundo espiritual. Manteniendo<br />

una relación de reciprocidad con las fuerzas del medio ambiente se conserva la salud, se asegura que los ecosistemas frágiles y los<br />

espíritus amenazados se preserven (Coordinadora de Salud Filu Lawen, op.cit.).<br />

El equilibrio de cada persona se relaciona por una parte con su fuerza, estar en armonía con su newen, lo que también quiere decir<br />

encontrar su sentido en este mundo, su forma de insertarse de contribuir, su destino, su función y llevarla a cabo.<br />

La comprensión simbólica que sostiene del proceso de salud-enfermedad mapuche, en tanto construcción de significados articulados<br />

y (re)producidos socialmente, pone en interacción y en relaciones de intercambio, a veces de reciprocidad y otras veces de conflicto,<br />

al che, la naturaleza, las fuerzas sobrenaturales (distinción entre lo natural y lo sobrenatural proveniente de nuestra lógica dualista<br />

racionalista), las personas miembros de una comunidad en un determinado territorio (lof), y los miembros de las familias de ese<br />

territorio.<br />

En este sentido, el cuidado del bienestar, de la calidad de vida familiar, individual y colectiva se relacionan íntimamente con el<br />

cuidado de los recursos naturales en un sentido diferente al que se asocia desde la visión occidental. Se trata entonces de reconocer en<br />

la cosmovisión mapuche concepciones acerca de la realidad - tal vez propias de una matriz representacional indígena, u oriental -, un<br />

pensamiento como constructo, elaborado sobre supuestos ontológicos radicalmente diferentes al realismo científico de raigambre<br />

empiricista que tiende a hablar de la cultura mapuche en términos de “mitos y leyendas”. En efecto, al no visualizar la representación<br />

del Otro como una construcción de la realidad tan válida como la propia, y con la profundidad que ello requiere, instituciones como<br />

CONAF, INDAP y CONADI, han impulsado y lo siguen haciendo, programas y acciones desde una lógica wigka (no indígena), que<br />

ha derivado en endeudamientos, separación de familias y comunidades con traslados a diferentes sectores geográficos e impulso a la<br />

forestación de pinos y eucaliptos, destruyendo espacios de la Medicina Mapuche” (Promap, 2002).<br />

Potencialmente, el pensamiento indígena puede constituirse en un aporte conceptual, en términos de modelo de desarrollo<br />

integral, ya que otorga una concepción integral del desarrollo humano o bienestar, que supera las dicotomías propias del positivismo,<br />

entre realidad natural/sobrenatural. A la hora de intervenir en la realidad social brinda una concepción integral del desarrollo territorial<br />

local en una relación complementaria entre: salud y medioambiente; y salud y desarrollo comunitario, o desarrollo en comunidad.<br />

Propone además una perspectiva de salud positiva y holística, que, haciendo la analogía con las artes guerreras podría tener su<br />

equivalencia en el siguiente refrán:<br />

“así como se considera victorioso al buen estratega sin librar batalla, el buen médico<br />

es el que evita que nos enfermemos”.<br />

685


Conclusiones<br />

El compromiso que he asumido conmigo misma en esta investigación no ha sido descubrir una verdad que hasta ahora haya<br />

escapado a otras personas, en una visión iluminista, ya que considero que buscar “la verdad” en un mundo de constante cambio es una<br />

iniciativa ilusoria que es necesario cuestionar. Es más bien este sentido develatorio de ilusiones y de espejismos lo que motiva mi<br />

búsqueda de conocimiento en el ámbito de la complementariedad de saberes, particularmente en el campo del saber dirigido a la<br />

sanación, a la mantención del equilibrio, de la salud, de la calidad de vida de las poblaciones, desde una perspectiva holística que<br />

necesariamente implique bienestar en las dimensiones socio-comunitarias, cósmico-espirituales e individual-familiares.<br />

En este momento histórico social, las comunidades mapuche se encuentran en una compleja situación sociocultural,<br />

enfrentadas a generar estrategias de desarrollo en un marco escindido de (post)modernización, que tiende a disociar los resultados<br />

económicos con los valores propios y la identidad cultural y étnica.<br />

El desafío de fortalecer el desarrollo productivo y social de comunidades mapuche impone altas exigencias ya que implica<br />

la conjugación, no siempre exenta de contradicciones, de racionalidades y culturas diferentes. Por una parte, la lógica institucional con<br />

miras hacia la productividad y la eficiencia, con una fuerte tendencia reduccionista y fragmentadora de la realidad, y por otra parte una<br />

racionalidad holística propia de la cosmovisión de los pueblos originarios, caracterizada por la inclusión de elementos mágicoreligiosos<br />

y basada en relaciones de respeto hacia la Naturaleza.<br />

En este complejo escenario de relaciones entre actores sociales mapuche y no mapuche, caracterizado por conflictos entre<br />

intereses contrapuestos y entre proyectos de desarrollo particulares, y relaciones de poder interétnicas asimétricas, se instala la tesis<br />

central de esta ponencia que remite a la dimensión simbólica, a la construcción social imaginaria de la realidad: se argumenta y evidencia<br />

la fuerte presencia de la lógica cartesiana racionalista en las estrategias de contacto desde la cultura occidental. Se manifiesta la<br />

representación objetivadora y naturalista del mundo que niega en su profundidad la cosmovisión del Otro, del mundo mapuche al<br />

representarla como una “sociedad animista” en una mirada que sigue siendo etnocéntrica al situarse desde la cientificidad racional.<br />

De este modo, la denuncia del equipo de salud del Programa de Atención con Población Mapuche del Servicio de Salud<br />

Araucanía Sur, tal vez asuma esta doble crítica al oponerse a los intentos desde el gobierno de someter a la medicina mapuche a la<br />

legalidad del estado chileno, que en primer lugar debería reconocer constitucionalmente a los pueblos indígenas, con sus derechos<br />

territoriales (…) y que asegura que la Medicina mapuche sólo puede fortalecerse en un contexto de autonomía y autodeterminación,<br />

donde exista control pleno de las comunidades sobre el uso del territorio y no exclusivamente de la capa superficial del suelo (Promap,<br />

2002).<br />

686


Referencias bibliográficas<br />

AFP (7 diciembre 2001) Acceso a los medicamentos antisida: Africa en la batalla, Uagadugu.<br />

Alvarez, G, Alvarez, A. y Facuse M. (en prensa) Discurso, cultura y salud. La política de salud intercultural. Por aparecer en Revista<br />

Atenea, Concepción: U. de Concepción.<br />

Amuley Rañin Suam Lliuco et al. (2002) Nuestra visión del desarrollo territorial. Reflexión colectiva de las identidades lafkenche,<br />

calafkenche, nagche, wenteche, huilio, makewe y pewenche. Temuko: Doc. de trabajo.<br />

Austin, J.L. (1982) Cómo hacer cosas con las palabras. Bs. Aires: Paidos.<br />

Baeza, M.A. (2000) Los caminos invisibles de la realidad social. Concepción: U. de Concepción.<br />

Benveniste, E. (1970) L’appareil formel de l’énontiation. En: Langages. N° 17.<br />

Berger, P. y Luckman, T. (1986). La construcción social de la realidad. Bs. Aires: Amorrortu.<br />

Bertaux, D. (1999). El enfoque biográfico: su validez metodológica, sus potencialidades. En: SUR Profesionales, Revista Proposiciones.<br />

N° 29, pps: 52-70.<br />

Boccara, G (2000) Cap. 1. Antropología diacrónica. Dinámicas culturales, procesos históricos y poder político. En: Lógica mestiza<br />

en América. Instituto de Estudios Indígenas. UFRO – Ed. LOM.<br />

Caniullan, machi Víctor (2000). Cap. 9 El mundo mapuche y su medicina. En: Durán, Parada y Carrasco, Acercamientos metodológicos<br />

hacia pueblos indígenas. Temuco: Universidad Católica de Temuco – CES<br />

Castoriadis, C. (1975). L’institution imaginaire de la société. Paris: Ed. du Seuil.<br />

Citarella, L. (Comp.) (1995) Medicinas y culturas en La Araucanía. Santiago: Ed. Sudamericana.<br />

Chureo, F. (2000). Ponencia en: Seminario de salud Intercultural y políticas públicas. Santiago: MIDEPLAN – MINSAL<br />

Clifford, J. y Marcus, G. (1991). Retóricas de la Antropología. Barcelona: Júcar Universidad.<br />

Coordinadora de salud Boroa Filu Lawen. (2002). Propuesta Creación de Centro de salud integral para el territorio mapuche Boroa –<br />

Filulawen, Comuna Nueva Imperial, IX Región de la Araucanía. Lof Boroa: Doc. de trabajo.<br />

Correa, R. (1999). La aproximación biográfica como una opción epistemológica, ética y metodológica. En: SUR Profesionales, Revista<br />

Proposiciones. N° 29, pps: 35-44.<br />

Cuyul, A. (2002). Influencias y consecuencias que el funcionamiento del vertedero “Boyeko” de Temuco ha provocado en la<br />

convivancia de las comunidades y familias mapuche aledañas. Tesis de Grado para optar al Título de Asistente Social. Temuco: Univ.<br />

La Frontera<br />

De Gaulejac, V. (1999). Historia de vida y sociología clínica. En: SUR Profesionales, Revista Proposiciones. N° 29, pps:<br />

89-102.<br />

De Villers, G. (1999). La historia de vida como método clínico. En: SUR Profesionales, Revista Proposiciones. N° 29,<br />

pps: 103-114.<br />

Durán, T. (2000) Cap. 1. La planificación del impacto en la senda intercultural. En: Durán, Parada y Carrasco, Acercamientos<br />

metodológicos hacia pueblos indígenas. Temuco: Universidad Católica de Temuco – CES<br />

Foucault, M. (1970). La arqueología del saber. México/Madrid: Siglo XXI.<br />

——————— (1973). El orden del discurso. Barcelona: Tusquets Ed.<br />

——————— (1976). Historia de la locura en la época clásica. México: Fondo de Cultura Económica.<br />

——————— (1996). La vida de los hombres infames. La Plata (Arg.): Altamira.<br />

Geertz C. (1973) La interpretación de las culturas. Barcelona: Gedisa.<br />

687


Ibacache, J. (1997). La salud, el desarrollo y la equidad en un contexto intercultural. En:<br />

http://www.xs4all.nl/rehue Rehue Foundation.<br />

—————— (2000). Ponencia en: Seminario de salud Intercultural y políticas públicas.<br />

Santiago: MIDEPLAN – MINSAL.<br />

Jodelet, D. (1989) Les représentations sociales. Paris: P.U.F.<br />

Mac Fall, S. e Ibacache, J (2000) Makewe-Pelale: un estudio de caso en la complementariedad en salud. Santiago: OPS-OMS.<br />

Maingueneau, D. (1991). L’analyse du discours. Introduction aux lectures de l’archive. Paris: Hachette.<br />

Ministerio de Salud (1998). Salud, cultura y territorio: Bases para una epidemiología intercultural.Licanray: Chile.<br />

Moulián, T. (1998). Chile actual. Anatomía de un mito.Santiago: LOM.<br />

Parada, E. (2000). Cap. 7. Aportes de la Ecología y de las Ciencias Ambientales para un acercamiento a los pueblos indígenas.<br />

Conceptualizaciones básicas. En: Durán, Parada y Carrasco, Acercamientos metodológicos hacia pueblos indígenas. Temuco:<br />

Universidad Católica de Temuco – CES.<br />

Pecheux, M. (1969). Analyse automatique du discours. Paris: Dunod.<br />

Pérez A, E. (2000). Desarrollo local y sostenible ¿una nueva utopía?. En: Caro, Durán y Tereucan. Estilos de desarrollo en América<br />

latina. Identidad-cultura-territorio-Medio ambiente. Temuco: U. Católica – U. de la Frontera.<br />

PROMAP (2002) Carta abierta sobre el Programa Orígenes. Temuco: Doc. de distribución pública.<br />

Quidel, J. (2000). Las relaciones interétnicas desde la perspectiva mapuche. En: Durán, Parada y Carrasco, op.cit.<br />

Ranibow, P. (1991). Las representaciones son hechos sociales: Modernidad y posmodernidad en la antropología. En: Clifford, J. y<br />

Marcus, G. (Eds.) Retóricas de la antropología Barcelona: Júcar Universidad.<br />

Strauss y Glasser (1967) The Grounded Theory. Chicago: University Press.<br />

Toledo Llancaqueo, V. (1997) Situación de salud de los pueblos indígenas de Chile. Santiago: Ministerio de salud de Chile – OPS/<br />

OMS.<br />

688


1 Estudio en curso, en el marco de la Tesis para optar al Grado de Magister en Desarrollo, con mención en Desarrollo Local de la<br />

Universidad Católica de Temuco, Chile.<br />

2 Los mapuche constituyen el mayor pueblo indígena del Cono Sur de América. El asentamiento tradicional mapuche abarca una vasta<br />

zona meridional que limita, de norte a sur, con el 38 y el 42. Aunque la delimitación de identidades territoriales es un tema de<br />

permanente discusión y revisión, Toledo Llancaqueo (1997) identifica cuatro agrupaciones mayores al interior del pueblo mapuche:<br />

pehuenche, huilliche y mapuche de la Araucanía, bajo la jurisdicción chilena, y mapuche puelche, bajo jurisdicción argentina.<br />

3 Esta línea de investigación se inicia en el año 2000, con un proyecto Fondecyt - U. de Concepción desarrollado en la <strong>VI</strong>II Región,<br />

titulado “Representaciones discursivas del cuerpo (salud/enfermedad) en la medicina popular chilena”, junto al lingüista Gerardo<br />

Alvarez M. y la socióloga Marisol Facuse M. En el marco de ese proyecto, el equipo toma conocimiento de la experiencia que se está<br />

realizando en el Hospital y sostiene una primera entrevista con el Dr. Ibacache, Director técnico del establecimiento.<br />

4 Filu Lawen correponde a una hierba medicinal que se encuentra en el territorio (o lof), y que por su forma se donomina hierba (o<br />

remedio) de serpiente. Desde fines del año 2000, se inicia un proceso de participación en el lof Boroa Filu Lawen, territorio que reúne<br />

a 16 comunidades mapuche de la comuna de Nueva Imperial. Se genera un espacio de reflexión y discusión de las necesidades de salud<br />

y de la manera en que son abordadas en el contexto de diversidad cultural, y se genera una propuesta de Salud Integral, gestionado por<br />

la comunidad que considera en un primer momento atención médica coordinada, en una ronda mensual, desde el Hospital Makewe y<br />

desde el equipo de profesionales del Dpto. de Salud Municipal de Nueva Imperial.<br />

5 Un reciente encuentro entre dirigentes representantes de distintas identidades mapuche da cuenta del avance de la reflexión colectiva<br />

relativa a la construcción de una propuesta de desarrollo territorial mapuche (2002). Desde una mirada que definen como incluyente,<br />

que no se excluye de la sociedad chilena, sus aspiraciones territoriales, de bienestar social y respeto cultural pueden lograrse en una<br />

convivencia sana y pacífica. Los dirigentes reafirman su convencimiento de que ambas culturas son necesarias en un mundo en que los<br />

desafíos del resguardo del planeta, de la lucha por la sustentabilidad, la pobreza y la exclusión son luchas colectivas e integ radoras que<br />

no pueden prescindir de ninguna voz, de ninguna mirada.<br />

6 Para un análisis detallado del uso de mecanismos simbólicos, ideológicos como soporte a la instalación de una nueva institucionalidad<br />

política y un proyecto económico neoliberal en Chile, durante los años de dictadura militar 1973-1989, consultar Tomás Moulian.<br />

(1998). Chile actual. Anatomía de un mito.<br />

7 El dominio del positivismo y luego del post-positivismo han hecho equivalente ciencia con realidad empirica, lo que no se asume<br />

en este artículo. Desde la diversidad paradigmática, la ciencia es un método de conocimiento sistemático y riguroso, coherente<br />

internamente con los supuestos epistemológicos que asume.<br />

8 Llama la atención la similitud con las concepciones de la medicina china, la que sostiene que la enfermedad llega cuando el equilibrio<br />

del organismo está perturbado por ataques externos - los seis «excesos»: el viento, el frío, el calor, la humedad, la sequedad, el fuego<br />

- o por factores internos, como las siete emociones. Lo que se entiende hoy por medicina tradicional china es el fruto de una historia<br />

más que milenaria y de una voluntad política. De las diversas doctrinas sobre la enfermedad que surgieron hace mucho tiempo, de los<br />

múltiples modos terapéuticos que se destacaron en algún momento, las autoridades gubernamentales escogieron algunas teorías y<br />

técnicas para constituir una disciplina que se enseña oficialmente. En la realidad cotidiana, las familias chinas no vacilan en recurrir, a<br />

veces al mismo tiempo, a esta medicina tanto como a la de tipo occidental.<br />

689


DE LOS PROGRAMAS DE INTERVENCIÓN AL APOYO DE PROCESOS DE<br />

DESARROLLO LOCAL. EL CASO DE CAMBIO RURAL EN LOS VALLES<br />

IRRIGADOS DE LA NORPATAGONIA ARGENTINA.<br />

690<br />

Carlos Alemany 1<br />

María Sol Ozino Caligaris 2<br />

1- Años ‘90, época de ajuste estructural e instalación de una inédita “cuestión agraria” en Argentina.<br />

A comienzos de la década del 90, Argentina inició una reforma económica dirigida principalmente a aplicar políticas de<br />

ajuste estructural para resolver los desequilibrios externos y la crisis fiscal. Sin embargo, la profundidad y extensión que alcanzó la<br />

transformación económica y social en el país, fue de tal magnitud que no solo logró realizar en muy poco tiempo profundos cambios<br />

estructurales, sino que consiguió imponer un nuevo paradigma en el pensamiento económico y en la forma de ver el funcionamiento<br />

del Estado. Estos cambios, significaron de hecho, el abandono de la estrategia de sustitución de importaciones, de matriz keynesiana,<br />

y la definición y consolidación de un nuevo modelo de intervención estatal y de distribución del ingreso, sustentado en las bases<br />

conceptuales del neoliberalismo.<br />

Se partió de un diagnóstico que adjudicaba las causas del deterioro al proteccionismo, a excesos en la intervención y al<br />

sobredimensionamiento del aparato público, a la asfixiante regulación estatal, y a la escasa decisión política por mantener la disciplina<br />

fiscal. Se concibió al Estado como problema, y se postuló su retiro de campos de actividad en los que había desempeñado un papel<br />

central (Arroyo, 1998).<br />

Este cuestionamiento dio sustento valorativo al proceso de apertura y reforma de la economía argentina, a la redefinición del<br />

papel y funciones del Estado y al achicamiento de su aparato público. En él se basaron los programas de apertura, desregulación y<br />

privatización, así como la transferencia de servicios a las provincias y a los gobiernos locales, los intentos de “tercerización” y el<br />

despliegue de nuevos instrumentos para el financiamiento de acciones de interés público, pero ejecutados por el sector privado<br />

(Martínez Nogueira, 1998).<br />

El nuevo paradigma quebró el tradicional equilibrio existente entre las políticas macroeconómicas y las políticas agrícolas/<br />

agrarias, de tal manera que prácticamente hizo desaparecer de las preocupaciones del Estado las cuestiones de política sectorial y/o<br />

regional.<br />

En este contexto de hegemonía de la macroeconomía sobre la política agrícola/agraria, a ésta última sólo le quedó manejar<br />

“resortes” de adaptación a la dinámica de la competencia internacional como: la sanidad agropecuaria y la calidad comercial, la<br />

promoción de las exportaciones, y la innovación tecnológica.<br />

Esta nueva visión del desarrollo afectó sustancialmente el funcionamiento de la extensión rural del Instituto Nacional de<br />

Tecnología Agropecuaria (INTA), la organización pública nacional de desarrollo de mayor envergadura en la Argentina, recortando sus<br />

presupuestos, reduciendo su personal e iniciando la más importante campaña tendiente a su privatización. Se intentaba dejar librado<br />

al mercado la asignación “autorregulada” del conocimiento y la información tecnológica.<br />

El ajuste estructural de la economía desencadenó transformaciones muy rápidas, profundas y extremadamente traumáticas<br />

en el sector agropecuario del país. Impuso a los actores económicos del sector la realización de grandes esfuerzos de adaptación y<br />

reconversión productiva, comercial y organizacional que iniciaron cambios muy profundos, tanto en las tradicionales formas de<br />

producir y comercializar como en la estructura de poder y distribución de los ingresos.<br />

El paradigma de los años 90, impulsor del libre mercado y del Estado prescindente generó un nuevo modelo de desarrollo<br />

concentrador y excluyente que instaló una inédita “cuestión agraria” en Argentina. Esto era impensado algunos años atrás, donde se<br />

mantenía vigente el fuerte imaginario de caso único en Latinoamérica de modernización agrícola vinculada fuertemente al desarrollo de<br />

los mercados, sin campesinado y acompañado por una inclusión progresiva de la población inmigrante (Neiman,1997). Según esta<br />

visión el tipo social agrario predominante en la Argentina comprendía a la empresa agraria capitalista y al colono, siendo este último<br />

una de las expresiones acabadas de las corrientes migratorias europeas de comienzo del siglo XX, que deviene, al cabo de un siglo, en<br />

empresario familiar capitalizado (Aparicio, 1993).<br />

Los cambios dramáticos producidos en el sector agropecuario han profundizado el proceso de concentración económica,<br />

desplazando del mercado a numerosas pequeñas y medianas explotaciones familiares. Muchos de los tradicionales “incluidos”<br />

comenzaron a formar parte de la sociedad de riesgo, tornándolos empobrecidos y vulnerables, configurando de este modo una nueva<br />

categoría social: los “nuevos pobres rurales”. Se quebró la tradicional estructura agraria en Argentina, caracterizada por la presencia<br />

importante de la clase media con movilidad social ascendente, y se avanzó hacia una sociedad dual, con numerosos sectores sin<br />

posibilidad de acceder al nuevo sistema productivo y sus beneficios laborales y sociales, profundizándose así la desigualdad y la<br />

inequidad.<br />

2- El intento de respuesta a la crisis: los programas de intervención en el campo.<br />

Para intentar dar respuesta a los fuertes efectos negativos que empezaban a producir la política de ajuste estructural de la<br />

economía, el Estado Nacional decidió apoyar procesos de reconversión productiva y mitigación de la pobreza rural. De esta manera<br />

y bajo la influencia de las nuevas ideas de focalización y complementariedad 3 , en la década de los ’90 el Estado Nacional crea, desde<br />

distintas áreas de su administración algunos programas y proyectos de intervención para actuar en las nuevas problemáticas de los<br />

pequeños y medianos productores, el minifundio, el desarrollo forestal, la reconversión de áreas tabacaleras, la autoproducción de<br />

alimentos para enfrentar la inseguridad alimentaria, etc.<br />

De la nueva política de intervención nacional el Programa Federal de Reconversión Productiva para la Pequeña y Mediana<br />

Empresa Agropecuaria “Cambio Rural”, constituye el intento más ambicioso del Estado para facilitar a los pequeños y medianos<br />

productores su participación en procesos de reconversión productiva y adaptación a las nuevas reglas del juego impuestas por el<br />

ajuste estructural y la nueva inserción de Argentina en el mundo globalizado.<br />

Cambio Rural se creó el 4 de mayo de 1993, y sus objetivos específicos más relevantes fueron: capacitar y entrenar a los<br />

actores sociales responsables de viabilizar los cambios necesarios en el ámbito de las Pymes agropecuarias; asistir al productor


agropecuario en todos los aspectos vinculados con la intensificación y/o reconversión productiva e integración al desarrollo agroindustrial;<br />

crear condiciones básicas que promuevan y faciliten el financiamiento del desarrollo agropecuario; generar capacidad intelectual,<br />

organizacional y operativa para consolidar e institucionalizar el proceso de cambio (INTA, 1993).<br />

La estrategia de intervención de Cambio Rural consistió en incentivar el trabajo en grupo de productores para fortalecer<br />

diferentes formas de organización e identificar alternativas de acción que permitieran superar la crisis agraria. Se buscaba que las<br />

formas de organización de los productores tendieran a generar escala en lo intelectual, económico y social para asegurar mayor<br />

eficiencia empresarial y poder de negociación a lo largo de los procesos que articulan al productor con los mercados.<br />

Se pensaba que al fortalecer un sólido proceso de organización de los productores que permitiera pasar de la acción<br />

individual a la base asociativa, junto a una mejor coordinación interinstitucional el programa generaría un ambiente favorable para que<br />

las Pymes agropecuarias mejoraran su competitividad.<br />

Para implementar esta estrategia el programa diseñó dos componentes: la asistencia técnica y la vinculación al crédito. Para<br />

ordenar las acciones que se desarrollaron en ambos componentes se utilizaron dos instrumentos de intervención: el plan de trabajo del<br />

grupo y el plan técnico-económico y financiero de cada empresa agropecuaria. A través del primero, el grupo compartió el diagnóstico<br />

básico de situación, planteó los objetivos a alcanzar y definió las líneas de acción que pretendía desarrollar. Con el segundo instrumento<br />

cada productor realizó su diagnóstico específico, planteó alternativas superadoras y formuló la propuesta de acción que consideraba<br />

más satisfactoria para incrementar el ingreso neto de su empresa.<br />

Durante nueve años y con altibajos en su implementación, el programa puso en terreno una gran cantidad de promotoresasesores,<br />

que eran los animadores del proceso de organización de los grupos de productores. Estos técnicos eran profesionales de las<br />

ciencias agropecuarias de la actividad privada. El Estado subsidió el pago de esa asistencia técnica con montos decrecientes durante los<br />

primeros cuatro años de labor. Paralelamente el grupo se comprometía a aportar una proporción creciente del salario del promotor.<br />

El Estado puso en marcha un ambicioso programa de capacitación para profesionales y productores e instaló un dispositivo<br />

de apoyo interdisciplinario descentralizado, de nivel regional, como estructura de contención técnica y organizativa de las necesidades<br />

del programa. Como la Secretaría de Agricultura, Ganadería, Pesca y Alimentación delegó en el INTA las funciones de coordinación<br />

operativa, esta institución volcó su aparato de generación y transferencia tecnológica en apoyo al programa.<br />

De acuerdo a la mayoría de los análisis y estudios de impacto del programa (Carballo González, 1995; Cheppi, 2000;<br />

Alemany, 2000; INTA, 1995, 1997, 1998 y 1999; Wood, 1997; Lattuada, 1997), existe consenso en que en Cambio Rural los<br />

pequeños y medianos productores encontraron una importante herramienta para organizarse, especialmente para el intercambio de<br />

experiencias y la asistencia tecnológica productiva. Los indicadores de formación de grupos de productores, incorporación tecnológica,<br />

de aumento de la producción y de la calidad, como así también el aumento de la diversificación productiva, así lo demuestran (Cheppi,<br />

2000; INTA, 1998 y 1999). También hay acuerdo en que los avances en las propuestas e iniciativas asociativas, como la compra<br />

conjunta de insumos, la venta en común de la producción, la integración empresarial, la formación de alianzas estratégicas con la<br />

agroindustria y el emprendimiento asociativo de nuevas alternativas de producción, fueron más lentos y de menor impacto que los de<br />

índole productivo e individual.<br />

Un aspecto que no ha sido estudiado suficientemente en el impacto de Cambio Rural es la relación existente entre el<br />

fortalecimiento de la organización de productores y el desarrollo local. Entendemos a este como el proceso reactivador de la economía<br />

y dinamizador de la sociedad local que, mediante el aprovechamiento eficiente de los recursos endógenos existentes en una determinada<br />

zona, es capaz de estimular su crecimiento económico, crear empleo y mejorar la calidad de vida de la comunidad local (Alburquerque,<br />

1996).<br />

La hipótesis que orienta este trabajo, es que algunos grupos de Cambio Rural que se han consolidado están siendo<br />

instrumentos válidos para fortalecer procesos de desarrollo local. Si bien esto último no fue objetivo explícito del programa, las<br />

reconfiguraciones y reconstrucciones que se hicieron en el terreno a partir de la diversidad de actores participantes y de las diferentes<br />

situaciones problemáticas a resolver, hicieron que una propuesta que tenía su eje en la organización de los productores, en algunos<br />

casos comenzara a trascender y a actuar como impulsora de procesos de desarrollo locales.<br />

En este trabajo se analizan cuatro experiencias desarrolladas por productores organizados en grupos participantes en<br />

Cambio Rural en los valles irrigados de la Norpatagonia argentina y se analizan algunas variables que se consideran relevantes para<br />

explicar estos procesos de fortalecimiento de la acción grupal y comunitaria a nivel local.<br />

3- Lo valles irrigados de la Norpatagonia.<br />

Los valles irrigados de la Norpatagonia argentina corresponden a las áreas bajo riego localizadas en las provincias de Río<br />

Negro y Neuquén. Las recorren los ríos Limay, Neuquén, Negro y Colorado, pero se destacan por su relevancia productiva: el Alto<br />

Valle y el Valle Medio del río Negro y el Valle Medio del río Neuquén,. Estas áreas, sumadas a otras de menor importancia, conforman<br />

el complejo agroindustrial frutícola exportador más importante del país. Aunque con ciertas particularidades, tienen una historia<br />

común, con una clara impronta de gesta de pioneros inmigrantes que colonizaron la región y le impusieron una fuerte cultura que<br />

valoriza el trabajo, la organización familiar de la producción y el vínculo con la tierra.<br />

La región, en un inicio prácticamente despoblada, se ha desarrollado a partir de la segunda década del siglo XX, a través de<br />

la construcción de canales de distinta envergadura, y un proceso amplio de colonización, que permitieron la puesta en producción de<br />

las tierras. Los colonos (chacareros), se dedicaron, en una primera etapa, a la producción de forrajes y hortalizas, diversificando<br />

posteriormente hacia la producción de manzanas y peras, orientada al mercado externo y interno. A lo largo del siglo la fruticultura se<br />

expandió significativamente y generó un complejo agroindustrial exportador que pasó a constituir el eje de la organización socioproductiva<br />

de la Patagonia norte. Durante la década del setenta, grandes empresas empacadoras profundizaron la integración hacia<br />

atrás, completando el proceso de asalarización en las etapas primarias y agroindustrial. Dicho proceso de integración y concentración<br />

del capital, generó una competencia con la oferta atomizada de los chacareros que incidió en la fijación de menores precios.<br />

Como consecuencia de ello, en la década de los noventa se dieron condiciones críticas que indujeron a muchos chacareros a<br />

iniciar procesos defensivos, tendientes a revisar sus estrategias comerciales avanzando hacia diferentes formas de asociación, integración<br />

y alianzas para la venta de sus productos.<br />

691


4- Selección de cuatro experiencias de organización en el marco de Cambio Rural y métodos utilizados para su estudio<br />

En este trabajo se analizan las siguientes experiencias, todas ellas con precedente en grupos de Cambio Rural<br />

• El caso de la alianza estratégica entre un grupo de productores de Allen y una empresa empacadora de Cipolletti.<br />

• La creación de una empresa asociativa entre el Municipio de San Patricio del Chañar y un grupo de productores.<br />

• La emergencia y consolidación de los apicultores como actores económicos relevantes de la norpatagonia.<br />

• La experiencia de los grupos de productores del Valle Medio del río Negro, que fortalecen y recrean la Cámara de productores de<br />

la región.<br />

Los métodos utilizados se basaron en un abordaje cualitativo y se recolectaron datos primarios mediante entrevistas con<br />

informantes clave y entrevistas en profundidad con actores involucrados en las distintas experiencias. Se recurrió también a la<br />

triangulación de datos y de observadores, al análisis de información secundaria y a fuentes periodísticas regionales.<br />

5- La experiencia del grupo de Allen.<br />

La localidad de Allen se encuentra en el área del Alto Valle del río Negro, donde se estableció la fruticultura en fecha temprana<br />

bajo la forma de explotaciones familiares chacareras y donde en la actualidad la fuerte compartimentación de la tierra, la virtual<br />

monoproducción y la existencia de montes frutales antiguos, con variedades poco demandadas en el mercado, vuelven dudosa la<br />

viabilidad de las explotaciones en el nuevo marco ya descripto.<br />

En la localidad de Allen se formaron cinco grupos de productores en el marco del programa Cambio Rural. El que nos ocupa<br />

se constituyó a fines de 1993, a partir de un grupo inicial de diez chacareros, amigos entre sí, que invitaron a participar a otros<br />

conocidos, con lo que se estabilizaron en un número de dieciséis productores.<br />

El grupo se caracterizaba por la heterogeneidad de sus integrantes, tanto en cuanto al tamaño y estructura productiva de sus<br />

explotaciones, como en la importancia de su dedicación a la fruticultura, existiendo chacareros que vivían exclusivamente de los<br />

ingresos generados por ésta, los que la complementaban con otras actividades e, incluso, comerciantes y profesionales que encontraban<br />

en el negocio frutícola un complemento a sus restantes actividades remuneradas.<br />

Sin embargo, estos actores compartían un objetivo inicial, muy central y claro para ellos: mejorar la calidad de la fruta<br />

producida y en especial solucionar los problemas sanitarios de sus montes. Incluso el nombre con que designaron al grupo refería a<br />

estas preocupaciones por alcanzar una buena sanidad y reducir los porcentajes de descarte de su fruta.<br />

El buen funcionamiento del grupo permitió que alcanzaran y reconocieran logros técnicos y productivos muy importantes<br />

para ellos. En palabras de uno de sus integrantes:<br />

“Toda mi vida viví en la chacra, pero en dos años creo que aprendí lo que no había aprendido en treinta<br />

(......) ...lo que ayuda son tanto las experiencias de uno como del otro, porque hay gente que puede cometer un error<br />

y entonces uno está para apuntalarlo o corregirlo y eso a su vez uno lo traslada a su propia chacra”<br />

La construcción de esta confianza en sus posibilidades y la heterogeneidad de sus experiencias previas permitió que<br />

empezaran a pensar juntos en cómo abordar el núcleo más complejo del negocio frutícola: la comercialización. Las participación en el<br />

grupo de un profesional en Ciencias Económicas, con experiencia previa en comercialización de frutas, fue un importante factor para<br />

empezar a revisar este aspecto, que era el que producía el drenaje de las utilidades generadas por los nuevos logros productivos.<br />

Fue así como maduraron la idea de avanzar un escalón más en la cadena de valor frutícola, analizando las alternativas<br />

posibles de participación en el empaque y la comercialización directa, para participar no sólo de los riesgos, sino también de los<br />

beneficios del negocio.<br />

A partir del análisis y del proceso de negociación concreta con algunos comercializadores de la región, el grupo decidió<br />

conformar una “alianza estratégica” con una firma productora, empacadora y comercializadora de frutas de la localidad de Cipolletti,<br />

la que fue elegida por tratarse de una empresa mediana “... con la cual íbamos a poder negociar en términos de igualdad”. Otro factor<br />

de la decisión fue el hecho de que la firma tenía un alto potencial, ya que estaba trabajando al 50% de sus capacidades de empaque, y<br />

que disponía de una marca reconocida en el mercado interno y brasileño.<br />

La alianza comercial fijó como premisa básica para su integración, desarrollar un proyecto a mediano y largo plazo, que<br />

tuviera a la producción de frutas de calidad como objetivo principal a alcanzar juntos. Como la empresa tenía por su parte algunos<br />

socios que eran productores, éstos se integraron al programa técnico desarrollado por los miembros del grupo en el marco de Cambio<br />

Rural.<br />

El proceso de asociación no tuvo una figura jurídica que le diera marco legal, ni entre los chacareros del grupo, ni entre éstos<br />

y la empresa. Las acciones conjuntas se basaban en la confianza mutua y en el cumplimiento de un contrato interno que fijaba derechos<br />

y obligaciones de cada parte. El grupo nombraba un representante que actuaba como veedor ante la firma, para conocer y participar<br />

de las decisiones generales de producción, procesamiento, administración, financiamiento y comercialización, intentando establecer el<br />

criterio de transparencia de la información como el insumo más importante para mantener la confianza adquirida.<br />

La alianza decidió establecer un sistema de liquidación “transparente y que premie la calidad de la producción entregada”,<br />

como instrumento clave para consolidar su proyecto empresarial. Se partía de diferenciar los lotes de fruta ingresados y clasificados<br />

de acuerdo a las pautas de calidad previamente fijadas; se establecían, de común acuerdo, los costos de empaque, conservación y<br />

comercialización, y se liquidaba la producción en función de un precio base inicial por kilo de fruta. Al concluir el ejercicio y de acuerdo<br />

al resultado obtenido, realizaban los ajustes necesarios, de acuerdo a la calidad entregada por cada productor.<br />

Con la alianza estratégica los integrantes del grupo introdujeron innovaciones importantes en su forma tradicional de<br />

comercializar la fruta y consiguieron establecer un cambio sustancial en la histórica relación donde los productores quedaban<br />

subordinados a los empacadores.<br />

Durante los primeros cuatro años, desde 1995 hasta 1998, la alianza comercial se fue profundizando. La participación del<br />

grupo en el total de fruta comercializada por la empresa pasó del 35% al 52%. Asimismo, el volumen de fruta trabajado por la empresa<br />

aumentó de un poco más de 4 millones de kilos a 11 millones en 1998. 4<br />

Motivados por el éxito de la asociación y el análisis de las posibilidades del mercado, los productores avanzaron en procesos<br />

de reconversión -de distinta envergadura según las diversas posibilidades-, mientras que la empresa decidió en determinado momento<br />

realizar una importante inversión para aumentar su infraestructura de empaque.<br />

692


Sin embargo, cierto factores contextuales, como la baja en los precios internacionales de manzanas y peras ocurrida a finales<br />

de los ’90, la rigidez cambiaria derivada del programa de convertibilidad y el alto costo del financiamiento interno, hicieron entrar en<br />

crisis a numerosas empresas frutícolas de la región, proceso donde la empresa que nos ocupa no fue le excepción ya que, al no poder<br />

afrontar el alto costo del endeudamiento contraído para ampliar su capacidad de empaque, entró en convocatoria de acreedores.<br />

Esta situación afectó el funcionamiento de la alianza estratégica, generando fuertes tensiones y desencuentros entre los<br />

participantes, producto de diferentes visiones acerca de la manera de salir de la crisis. A pesar de esto, el grupo de productores se<br />

mantuvo unido, continuó con la comercialización directa, manteniendo algunos canales establecidos en la época de la alianza estratégica<br />

y definió una nueva relación con la empresa, quien pasó a ser proveedora de servicios de empaque y conservación.<br />

6- El caso de un grupo en San Patricio del Chañar.<br />

La localidad de San Patricio del Chañar pertenece a la provincia de Neuquén y se encuentra en el llamado Valle Medio del río<br />

Neuquén, sobre el borde occidental del área frutícola norpatagónica. Se trata de un asentamiento humano de reciente consolidación, ya<br />

que se desarrolló a partir de políticas públicas provinciales de fomento a partir de la década de 1970. En esta área, la producción<br />

frutícola está mucho más centrada en unidades empresariales, con escasa participación de productores familiares, y con empleo de<br />

tecnología de punta, lo que la diferencia del Alto Valle, que es el contexto del caso anterior (Radonich et alii, 1999)<br />

El grupo que nos interesa se formó a partir de Cambio Rural en 1994, convocado por un ingeniero agrónomo que actuaba en<br />

la zona, y agrupó a productores de diversa envergadura, incluyendo algunos que tenían importantes emprendimientos industriales o<br />

de servicios y un perfil personal definidamente empresario. En la caracterización de uno de sus miembros, si bien sus integrantes<br />

pertenecían tanto a la provincia de Neuquén como de Río Negro y no eran estrictamente vecinos de la localidad, había entre ellos un<br />

importante ingrediente de afinidad personal<br />

El grupo se propuso comercializar por sí mismo su fruta y realizar la reconversión de sus montes, para remplazar las<br />

variedades que tenían ya poca demanda externa y para producir frutas de una calidad que les permitiera insertarse rentable y<br />

competitivamente en el mercado internacional. La reconversión que se emprendió fue completa y para el momento actual ningún<br />

monte perteneciente a los que permanecen en el grupo tiene una antigüedad mayor a veinte años. Además de esto último, se cuentan<br />

entre los logros del grupo la concreción de exportaciones directas a España e Italia ya que algunos de sus integrantes comenzaron a<br />

empacar por sí mismos su fruta.<br />

En el año 2000 el intendente municipal de San Patricio del Chañar convoca a los cien productores de la localidad a integrar<br />

una empresa asociativa formada entre el Municipio y los productores. El objetivo del municipio al proponer esta iniciativa era<br />

reactivar la actividad frutícola, que atravesaba la aguda crisis que hemos esbozado anteriormente, crear puestos de trabajo, posibilitar<br />

una mayor recaudación de tasas e impuestos y reducir el ya manifiesto y preocupante conflicto social.<br />

Diez productores de la región respondieron positivamente, de los cuales cinco pertenecían al grupo de Cambio Rural que<br />

estamos analizando, dos provenían de otros grupos y tres no habían tenido participación en el programa. Se constituyó en el año 2001<br />

una Sociedad Anónima, presidida por el intendente, donde las acciones pertenecen en un 51% al municipio y en un 49% a los<br />

productores. La propuesta básica consistió en nuclear la producción de los fruticultores de la localidad, lograr que el estado provincial<br />

financiara la construcción de una planta de empaque y un frigorífico para conservarla, y vender de manera directa en el exterior, con<br />

una marca única.<br />

Para principios del 2002 se habían establecido los contactos necesarios para viajar a Italia y firmar una carta de intención<br />

con un grupo importador que posibilitaría la distribución de la producción, contraparte que se buscó no fuera tan grande como los<br />

“grandes pulpos”, sino más bien “parecida a nosotros”, en palabras de uno de los productores involucrados. Se habían realizado,<br />

además todas las gestiones necesarias para la obtención del financiamiento para la adquisición de la planta de empaque. A partir de la<br />

crisis financiera argentina del 2002 esta posibilidad de financiamiento comenzó a presentar muchas dificultades e incertidumbres.<br />

Sin embargo, aunque el proyecto de asociación público-privado no se haya aún concretado es importante destacar que<br />

constituye una innovadora iniciativa municipal que tiende, en definitiva, a superar el cuello de botella de la comercialización y<br />

posibilitar que los productores accedan al control de la parte sustantiva del negocio frutícola, facilitando la llegada a los mercados de<br />

ultramar con volúmenes importantes de fruta de calidad. Es de destacar que del diez por ciento de los productores de la localidad que<br />

respondieron positivamente a la iniciativa asociativa, el setenta por ciento de ellos pertenecen o pertenecieron a Cambio Rural y<br />

habían desarrollado una experiencia importante de vida asociativa.<br />

7- La emergencia de los apicultores como actores económicos en la Norpatagonia.<br />

La producción de miel tiene una historia diferente a la de manzanas y peras en la zona de los valles irrigados del norte de la<br />

Patagonia argentina. Si bien el uso de colmenas para la polinización de los frutales tiene larga data en la región y nace prácticamente<br />

junto con la fruticultura, la producción específica de miel es mucho más reciente y está sometida a particularidades, ya que requiere<br />

de traslados y tiempos especiales para las colmenas a fin de acompañar los períodos de floración de los frutales y de las otras plantas.<br />

Por otra parte, también es reciente la emergencia de la Argentina como uno de los principales productores y exportadores<br />

mundiales de miel, actividad en la que, en la última década ha alcanzado el primer puesto o bien ha figurado entre los tres primeros.<br />

En el marco del programa Cambio Rural, se constituyeron entre los años 1993 y 1994 ocho grupos de apicultores,<br />

localizados en dos casos en el Valle Medio del río Negro, en otros dos en el Alto Valle, uno en Río Colorado, dos en Valle Inferior, y<br />

uno en la localidad de Cutral-có, la que no corresponde a ningún valle irrigado, sino a un área de meseta con importante y antigua<br />

actividad petrolera. La envergadura productiva de los integrantes de estos grupos era diferente, y había quienes producían simplemente<br />

para la venta local y de persona a persona, los que vendían el producto fraccionado en el mercado interno y los que lo exportaban a<br />

granel. Uno de los grupos se formó sobre la base de una asociación preexistente de productores apícolas, constituido por propietarios<br />

de unidades económicas medianas y grandes.<br />

La actividad que desarrollaron estos grupos fue intensa, y abarcó desde sus inicios los aspectos netamente productivos,<br />

como el desarrollo de los planes sanitarios y tecnológicos para aumentar la producción de miel de calidad, hasta los propios de la<br />

organización, como la compra conjunta de insumos, la vinculación con los productores frutícolas, a fin de acordar acciones conjuntas<br />

para mejorar la polinización de los frutales, y el diseño, armado y gestión de salas de extracción comunitarias.<br />

693


La preocupación de los grupos por la organización global de la actividad apícola en la región hizo que éstos se articularan<br />

entre sí y comenzaran a impulsar actividades y proyectos de interés regional. Fue así como iniciaron un programa de mejora genética<br />

con la participación de todos los grupos apícolas de la Norpatagonia y el apoyo técnico del programa apícola del INTA (Proapi).<br />

Frente a la problemática del ingreso de colmenas portadoras de enfermedades, provenientes de otras regiones productoras, los grupos<br />

actuaron como activos demandantes al Estado Nacional y a los gobiernos provinciales para que éstos iniciaran acciones de control<br />

sanitario fiscalizando el ingreso de las colmenas a la región.<br />

También apoyaron la capacitación de los inspectores apícolas del Servicio Nacional de Sanidad Agroalimentaria (SENASA),<br />

para mejorar la calidad de los controles sanitarios. Asimismo, los grupos comenzaron a ofertar conjuntamente el servicio de polinización<br />

a los fruticultores, garantizando los estándares de calidad preestablecidos. El diseño de la instalación de salas de extracción tanto<br />

comunitarias como privadas en la región responde mayoritariamente a un desarrollo planificado por los grupos. Finalmente, los<br />

grupos apícolas del Alto Valle se han unido formando una Cooperativa con la intención de posicionar en el mercado externo a los<br />

productos patagónicos diferenciando geográfica y botánicamente las mieles, los pólenes y los propóleos.<br />

El haber enfocado la problemática de la organización de la actividad apícola como el centro de sus preocupaciones transformó<br />

a los grupos de Cambio Rural en los actores sociales y económicos más relevantes de la producción apícola de la Norpatagonia, incluso<br />

con activa participación en la definición de políticas públicas provinciales.<br />

Estas últimas son muy diferente según se trate de la Provincia del Neuquén o de Río Negro. En la primera se ha instrumentado<br />

un programa apícola a partir del año 2000 en cuyo marco se está brindando asesoramiento técnico a los productores, se hace<br />

investigación sobre los distintos productos apícolas, se realizan jornadas anuales provinciales para todos los apicultores adheridos al<br />

programa y se están preparando líneas de crédito para la compra de maquinarias y materiales. A partir de esta iniciativa provincial los<br />

grupos de Cambio Rural se han integrado a las actividades del programa provincial.<br />

En Río Negro la presencia del estado provincial en la actividad es menor, lo que sin duda está vinculado a la muy seria crisis<br />

de las finanzas provinciales, que no tiene equivalente en Neuquén, dada su diferente matriz productiva.(Taranda et al. 1996). En ese<br />

marco, la provincia de Río Negro concentra sus esfuerzos en intentar la implementación de programas sanitarios<br />

El caso que nos ocupa es una interesante experiencia de emergencia de un actor social y económico, que se transforma en el<br />

principal promotor del desarrollo de la actividad en lo regional, con distintas incidencias en su devenir de acuerdo a la articulación<br />

lograda con la actividad pública y a la importancia que ésta le asigne.<br />

8- La experiencia de un grupo de productores del Valle Medio del río Negro.<br />

El Valle Medio del río Negro está situado al este de las áreas frutícolas a que se ha hecho referencia y su poblamiento data<br />

de fines del siglo XIX, un poco antes que en el Alto Valle. Su estructura productiva fue en un inicio predominantemente ganadera y<br />

a lo largo del siglo XX incorporó progresivamente una significativa actividad hortícola, que no alcanzó sin embargo el dinamismo de<br />

la fruticultura, centrada en el Alto Valle. De todos modos, las actividades frutícolas también se practicaban en el área.<br />

A partir de 1980, bajo el incentivo de una ley nacional de desgravación impositiva, comenzaron a aparecer nuevos agentes<br />

económicos, que en muchos casos provenían de la fruticultura del Alto Valle, y a partir de los ’90, se radicaron grandes empresas<br />

frutícolas que introdujeron tecnología de punta y nuevas prácticas agronómicas y empresariales. (Radonich et alii, 1999).<br />

El grupo cuya trayectoria nos interesa reseñar puede considerarse originado en un proyecto de asfalto rural destinado a una<br />

fértil y activa área frutícola de la isla de Choele-choel. Este proyecto, que tenía varios años de antigüedad, fue reflotado en 1984 por<br />

algunos líderes naturales de la comunidad y requirió ocho años de gestiones y de recaudación de fondos entre todos los chacareros para<br />

su concreción definitiva. Por el tiempo de su finalización comenzaban a organizarse los grupos de Cambio Rural y en este paraje se<br />

organizó uno, entre cuyos miembros figuraban chacareros con fuerte preocupación e interés por la actualización tecnológica. Cabe<br />

consignar que la producción frutícola en esta área no estaba acotada a manzanas y peras, sino que incluía una significativa participación<br />

de frutas de carozo.<br />

El grupo tuvo recambios a lo largo de los años sobre una base de seis miembros constantes. Si bien en la mayoría de los<br />

grupos estos recambios eran frecuentes, en el que nos ocupa pueden atribuirse en buena parte a que se fijaron criterios muy exigentes<br />

para la incorporación de nuevos miembros como así también para la permanencia en el mismo, basados estos últimos en importantes<br />

requerimientos en cuanto a compromiso con la tarea y los acuerdos grupales.<br />

El grupo fue ganando solidez como tal, y sus integrantes lo atribuyen a que no emprendieron desde el comienzo tareas<br />

comprometidas y riesgosas, como la exportación directa, sino que, por el contrario, fueron dando “pequeños pasos que nos fueron<br />

consolidando”. Entre ellos se destacan la compra conjunta de insumos y el pago gradualmente creciente de los honorarios del técnico,<br />

inicialmente subsidiado por Cambio Rural. Para finales de la década otros grupos de Cambio Rural se habían ido desarmando y el que<br />

nos ocupa absorbió a integrantes de aquéllos, siempre con la condición de que “hablaran el mismo idioma”.<br />

En forma paralela a la actividad netamente productiva, el grupo fue comprendiendo que era necesario participar activamente<br />

en otras instancias institucionales que hacían al desarrollo de la localidad. Por ejemplo, al privatizarse en la década del ‘90 el sistema<br />

de riego algunos de los productores del grupo participaron en el nuevo consorcio que se formó a tal efecto, con el objetivo de obtener<br />

un riego eficiente que no fuera caro y que por lo tanto no recargara los costos de producción.<br />

Sobre fines de la década uno de los miembros del grupo llegó a la vice-presidencia de la cámara de productores del Valle<br />

Medio y, por renuncia del presidente, quedó a la cabeza de la institución en momentos de fuerte tensión social producto del<br />

enfrentamiento de los chacareros a las políticas nacionales y provinciales, expresadas en los “tractorazos” 5 .<br />

Dadas las nuevas condiciones económicas vigentes a partir de los ’90, un sector importante de los chacareros de toda la región<br />

había ido deteriorándose económicamente, hasta el punto de quedar prácticamente fuera de la actividad comercial y sin medios para<br />

reconvertir su producción y obtener productividad y calidades aptas para una colocación rentable de sus frutas en el mercado. Este<br />

cuadro se volvía más crudo en el Valle Medio, por sucesivas contingencias climáticas adversas, que erosionaron aún más la capacidad<br />

económica de sus productores. A partir de la emergencia y engrosamiento de este sector, asimilable al de “nuevos pobres rurales”, la<br />

nueva conducción de esta Cámara puso el eje en la integración de los aspectos productivos con el desarrollo social de todos sus<br />

asociados.<br />

A partir de ese momento la nueva conducción lidera el conflicto social de los chacareros en Valle Medio e inicia un proceso<br />

de acercamiento y vinculación con las otras instituciones de la localidad a los efectos de pensar en proyectos y acciones para el<br />

694


desarrollo local. Es así como a partir del año 2001 se empiezan a reunir nueve instituciones de la región, entre las cuales figuran<br />

representaciones de los productores, de los comerciantes y de los profesionales, nucleamiento que toma el nombre de “La coordinadora”.<br />

Este grupo de organizaciones locales amplía sus vinculaciones institucionales y desarrolla acuerdos de trabajo conjunto con<br />

instituciones provinciales y nacionales, tanto públicas como privadas. Se cuentan entre ellas la Universidad Nacional del Comahue,<br />

el INTA, la Fundación para el Desarrollo Humano Sustentable de la Patagonia Argentina, la Fundación Barrera Patagónica y, ya en el<br />

nivel internacional, la CEPAL.<br />

En el año 2001 se crea la Agencia del Desarrollo del Valle Medio, organizada desde el gobierno provincial, con amplia<br />

participación de las instituciones de la localidad. La Coordinadora decide participar activamente en la vida de la Agencia y la toma<br />

como el ámbito natural de trabajo para consensuar los proyectos y actividades para el desarrollo local.<br />

En este momento en el Valle Medio se está desarrollando una relevante actividad social y económica que gira en torno a<br />

estas instituciones nuevas o “renovadas”. Mientras el grupo de Cambio Rural que nos ocupa está concretando la integración comercial<br />

con productores de otras localidades más alejadas con el objetivo de exportar directamente fruta de calidad a España y Italia, la Cámara<br />

de Productores impulsa varios proyectos. Los más importantes entre ellos tienen participación de los integrantes del grupo reseñado<br />

y son: la promoción de la diversificación productiva experimentando e impulsando la producción de nueces y diferentes hortalizas y<br />

la introducción en la región del Programa de Producción de Fruta Integrada (PFI), que tiene el objetivo de certificar la producción local<br />

calificando y posicionando a los productos del Valle Medio en los mercados de exportación.<br />

Desde hace aproximadamente un año, un miembro de este grupo de Cambio Rural participa como vicepresidente en la<br />

conducción de la Federación de Productores de Río Negro y Neuquén, entidad que nuclea a todas las cámaras de productores agrícolas<br />

de la Norpatagonia. Esta elección es parte de un proceso en que un grupo de dirigentes acuerdan implementar un proyecto de cambio<br />

de la principal organización de los chacareros de la región.<br />

Este caso que estamos analizando presenta una interesante evolución de un grupo de productores y de su compromiso<br />

creciente con el desarrollo local, proceso que los fue transformando en un actor muy importante en la gestión de acuerdos y consensos<br />

interinstitucionales que tiene como fin el fortalecimiento socio-económico de las localidades del Valle Medio y su entorno rural.<br />

9- “La expansión de la capacidad de la gente”<br />

De acuerdo a la perspectiva en la cual el desarrollo debe estar centrado en “...la expansión de la capacidad de la gente para hacer<br />

las cosas que tienen motivo para valorar y elegir” (Sen, 1999), se visualiza una interdependencia entre la elevación del bienestar<br />

humano y las diferentes estrategias que pueden posibilitar el desarrollo.<br />

Este enfoque entiende al desarrollo como un proceso de generación de capacidades a nivel local que promueve el crecimiento<br />

económico, social y político de las personas y las comunidades en forma autosostenida, creciente, equitativa y respetuosa del medio<br />

ambiente, donde los gobiernos juegan un rol de facilitadores y las comunidades ejercen una función protagónica.<br />

Desde este punto de vista se puede observar que en los cuatro casos analizados los chacareros que participaron en la experiencia<br />

de Cambio Rural aumentaron sus capacidades de comprensión, tanto de los problemas como de las oportunidades, desafíos y<br />

limitaciones que enfrentaban. También expandieron sus capacidades de acuerdo, negociación y acción individual y colectiva para la<br />

solución de sus problemas más relevantes.<br />

Se podría hipotetizar que en todos los casos reseñados el programa funcionó como un elemento potenciador de la red de<br />

conocimiento y confianza preexistente, ayudando a fortalecerla y a expandirla significativamente. También se podría pensar que el<br />

haber contribuido a generar un ambiente favorable a la reflexión y al intercambio entre los chacareros fue el aporte más importante del<br />

programa.<br />

En ese sentido la práctica de la vida grupal, los talleres, seminarios, autoevaluaciones, encuentros entre grupos, entre los<br />

representantes de los grupos, etc, facilitaron la reflexión colectiva y la búsqueda de acuerdos y consensos como práctica social<br />

relevante para avanzar en la gestión de los intereses comunes.<br />

La incorporación activa al proceso de Cambio Rural de actores diferentes a los chacareros, como los grupos apícolas que<br />

tienen un origen mayoritariamente urbano o periurbano, o de numerosos comerciantes y profesionales que participaron en los grupos,<br />

amplió considerablemente el capital de experiencias y actuó en todos los casos como un importante catalizador de los procesos<br />

innovadores.<br />

Los casos analizados permiten ver que la experiencia de Cambio Rural, muy intensa en participación, reflexión y diálogo<br />

generó nuevos liderazgos que imprimieron un nuevo contenido a la práctica social en las comunidades. Fue así como cobró fuerza la<br />

idea de “tenemos que sumar”, es decir ampliar las posibilidades para articularse y cooperar con otros, para pensar y resolver los<br />

problemas comunes, tanto los sencillos, como el juntarse para el intercambio de conocimientos, o los más complejos como alcanzar<br />

la organización económica asociativa capaz de comercializar y exportar, o la organización social capaz de establecer nuevas demandas<br />

sociales, productivas y ambientales.<br />

La experiencia de la alianza estratégica entre el grupo de Allen y la empresa de Cipolletti es importante en este sentido,<br />

porque aunque las condiciones de contexto cambiaron fuertemente y se volvieron muy críticas, el grupo siempre tuvo presente la<br />

necesidad de preservar los acuerdos alcanzados y la búsqueda permanente de alternativas conjuntas para salir juntos de la crisis. El<br />

caso de los productores de la localidad de San Patricio del Chañar es un ejemplo que muestra a chacareros con experiencia asociativa<br />

previa respondiendo favorablemente a iniciativas públicas promotoras de desarrollo local.<br />

Los nuevos liderazgos redefinieron sus demandas en relación al Estado, requiriéndole ahora una presencia sólida e importante,<br />

capaz de fijar reglas claras de juego para todos los actores económicos y sociales. Forma parte del reclamo la demanda de un estilo de<br />

gestión en asociación con ellos, para la búsqueda conjunta de soluciones a las problemáticas productivas, sociales y ambientales de la<br />

localidad. Esto se puede ver muy claramente en las peticiones de los grupos apícolas a los estados provinciales, ya sea para abordar<br />

la problemática sanitaria o la fiscalización del ingreso de las colmenas de otras regiones. Estos nuevos tipos de demanda también se<br />

hacen presentes en las propuestas que la Cámara de Productores y la Coordinadora de organizaciones locales presentan en la Agencia<br />

de Desarrollo de Valle Medio.<br />

Sin embargo, en la articulación con el Estado de los grupos analizados se detectan dificultades para avanzar hacia procesos<br />

de desarrollo local. Por un lado se comprueba que las organizaciones públicas han tenido un deterioro significativo de sus capacidades<br />

institucionales, producto de los sucesivos ajustes que significaron en algunos casos, reducción de personal y presupuestos, y en otros<br />

695


la incorporación creciente de prácticas clientelísticas. Por otro lado se observa una marcada descoordinación en el sistema de<br />

organizaciones existentes en las localidades, predominando los estilos de trabajo aislados que preservan bastante rígidamente espacios<br />

de acción, en coexistencia con duplicaciones de funciones y “tierras de nadie”. En estas condiciones la articulación público-privada<br />

necesaria, capaz de facilitar los procesos autogestionarios de desarrollo, se ve seriamente afectada y por lo tanto el ambiente social y<br />

económico local no es el más favorable para contrapesar los procesos concentradores y excluyentes.<br />

Estas características detectadas en el contexto de los casos analizados de un programa de intervención como Cambio Rural,<br />

estarían indicando la necesidad de revisar algunas propuestas de acción desde el Estado, que enfaticen en mejorar las capacidades<br />

públicas de acuerdo a las nuevas demandas y en fortalecer la articulación del sistema público con el privado y con las organizaciones<br />

de la sociedad civil. Es a partir de mejorar el capital social de los actores individuales y colectivos y la institucionalidad como un todo<br />

que se podrá avanzar más efectivamente en procesos de desarrollo locales.<br />

696


Bibliografía<br />

Alburquerque, F (1996). Fomento productivo municipal y gestión del desarrollo económico local. ILPES, Santiago, Chile.<br />

Alemany, C (2000). La transición del Servicio de Extensión tradicional a un nuevo proyecto público-privado de innovación<br />

tecnológica, asistencia, información y capacitación regional. El caso del INTA Alto Valle. General Roca. INTA Alto Valle.<br />

Arroyo, D (1998). Modelos de gestión municipal y niveles de planificación en Argentina. Secretaría de Desarrollo Social de la Nación.<br />

Buenos Aires, Argentina<br />

Carballo González, C (1995). Programa Social Agropecuario y Cambio Rural. Dos intentos para atenuar la crisis entre los<br />

agricultores familiares. En revista ‘Realidad Económica’, Nº 136. Buenos Aires, Argentina.<br />

Cheppi, C (2000). La nueva arquitectura de los programas de intervención y su rol en el desarrollo rural. Mimeo.<br />

INTA-GTZ (1999). Fruticultura Moderna: Tecnología, transferencia, capacitación, organización. 9 años de cooperación técnica.<br />

General Roca, Argentina<br />

INTA-Unidad de Coordinación del Programa Cambio Rural (1993). Documento base para el lanzamiento del Programa Cambio<br />

Rural. Buenos Aires, Argentina.<br />

INTA- Unidad de Coordinación de Cambio Rural (1995). 2 años de Cambio Rural. Buenos. Aires, Argentina.<br />

INTA- Unidad de Coordinación de Cambio Rural (1997). Cambio Rural: Avances, logros y futuro del Programa. Buenos Aires,<br />

Argentina.<br />

INTA- Unidad de Coordinación de Cambio Rural (1999). Impacto de Cambio Rural en las Pymes agropecuarias. Documento de<br />

trabajo N° 29. Buenos Aires, Argentina.<br />

Lattuada, M (1997). La experiencia del Programa Federal de Reconversión Productiva de la Pequeña y Mediana Empresa Rural<br />

“Cambio Rural” en la Argentina. Organizaciópn de las Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentación (FAO). Santiago,<br />

Chile.<br />

Martínez Nogueira, R (1998). Las transformaciones de la agricultura y la nueva institucionalidad. En: Reca, L y Echeverría, G:<br />

Agricultura, medio ambiente y pobreza rural en América Latina. Washington, D.C. BID. NEIMAN???????<br />

Radonich, M; Steimbreger, N y Ozino Caligaris, M S (1999). Expansión productiva y espacial de grandes empresas frutícolas<br />

de la Norpatagonia argentina. Ponencia presentada en las Primeras Jornadas Interdisciplinarias de Estudios Agrarios y Agroindustriales,<br />

Facultad de Ciencias Económicas, Universidad de Buenos Aires, Argentina<br />

Sen, A (1999). Desarrollo y libertad. Planeta, Buenos Aires, Argentina.<br />

Taranda, D. y Ocaña, M. (1996). Neuquén: La ilusión de un desarrollo idílico. En Boletín de la Fundación Confluencia, año I, nº 6,<br />

Fundación Confluencia, Neuquén, Argentina.<br />

Wood, G (1997). Aspectos empresariales y comerciales de los productores y sus organizaciones. GTZ/INTA. Proyecto PFI. General<br />

Roca, Argentina.<br />

1 Ingeniero agrónomo, Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria (INTA), Argentina calemany@infovia.com.ar<br />

2 Licenciada en Sociología, Universidad Nacional del Comahue, Argentina msozino@hotmail.com<br />

3 Estos programas se introducen en Argentina bajo la influencia del paradigma de la gerencia social impulsado por el BID (Cepal,<br />

1995), que enfatiza en la necesidad de gerenciar eficientemente las políticas sociales. Para ello estas debían ser focalizadas y<br />

compensatorias. Debían estar dirigidas a sectores sociales muy precisos y claramente determinados y deberían compensar los efectos<br />

del ajuste estructural de la economía.<br />

4 Sobre esta experiencia existen datos estadísticos aportados por la empresa, en INTA-GTZ, 1999.<br />

5 Los tractorazos constituyen la expresión mas importante de la resistencia de los chacareros a la política de ajuste y retirada del<br />

Estado. Su nombre deriva de la presencia masiva de los chacareros con sus tractores y herramientas cortando las principales rutas de<br />

la región.<br />

697


« EXPERIENCIAS DE GESTION PARTICIPATIVA PARA EL DESARROLLO<br />

LOCAL » .<br />

Introducción<br />

698<br />

Ing. Agr . MSc. Carlos Schiavo<br />

El documento està basado en las experiencias de campo desarrolladas por el autor en actividades de promoción y apoyo a<br />

la organización de Grupos de Productores y sus familias, en el Proyecto de Manejo Sustentable de Recursos Naturales, Programa de<br />

Microcuencas del Prenader, bajo la órbita del Ministerio de Ganadería, Agricultura y Pesca del Uruguay, ejecutado con fondos del<br />

Banco Mundial desde 1996 al año 2001.<br />

El Proyecto, de carácter interinstitucional y multidisciplinar, tuvo como propósito fundamental promover y lograr el uso<br />

sustentable de los recursos naturales a través de la participación organizada de los productores y sus familias, para que en forma<br />

colectiva, adopten prácticas de manejo y uso conservacionista del agua y del suelo, tendientes a aumentar en forma sostenible la<br />

producción y los ingresos.<br />

A partir del mismo, se pudo abordar por primera vez en el Uruguay, un<br />

proceso de gestión territorial participativa con un enfoque de sostenibilidad de las explotaciones agropecuarias, involucrando fuertes<br />

cambios de reestructuración organizativa y productiva, encarados con una perspectiva conservacionista.<br />

Las actividades desarrolladas en cuatro Microcuencas del sur del país, tuvieron importantes niveles de intervención<br />

territorial, concertados e impulsados entre diferentes actores institucionales de acción local con los propios actores productivos del<br />

área de trabajo. Esta cuenta con un total de 18 mil hás y algo más de 400 productores, fundamentalmente lecheros y horticultores,<br />

dentro de la Cuenca del Río Santa Lucía. Este río, tiene en el Uruguay una importancia estratégica ya que abastece de agua a<br />

Montevideo, capital y principal ciudad del país.<br />

La metodología asumida, -Diagnóstico y Planificación Participativa-, se fué configurando bajo la coordinación del Programa,<br />

a través de la comunicación, interacción y retroalimentación lograda entre los técnicos de campo de varias instituciones afectadas al<br />

proyecto y los grupos de productores, sumándose importantes aportes de educadores/as rurales de las Escuelas Primarias de las<br />

Microcuencas.<br />

El desarrollo del proyecto, implicó desde el principio, la puesta en marcha de acciones de sensibilización y compromiso<br />

hacia los problemas ambientales, dirigidas a los agrupamientos de productores y sus familias, trabajadores rurales, e inclusive técnicos<br />

del área de influencia que no priorizaban dentro de su trabajo con el medio, las variables ambientales que afectan tanto el desarrollo de<br />

los procesos productivos como la propia calidad de vida de la gente del campo. En este sentido, los grupos de productores<br />

constituyeron un instrumento idóneo, -tradicionalmente subutilizado-, para potenciar procesos de mejoramiento productivo y de<br />

calidad de vida, en la base de programas que prioricen y consideren la gestión ambiental.<br />

Las acciones de organización de los actores productivos, fue trascendiendo el enfoque de trabajo grupal tradicional, que<br />

generalmente define objetivos exclusivamente productivos y económicos, para encarar en forma paralela a los mismos, una fuerte<br />

atención a los problemas sociales y ambientales.


Los niveles de intervención territorial, fijaron valiosos antecedentes de coordinación a nivel local, en apoyo al mejoramiento<br />

de los servicios y la infraestructura productiva de la población rural de las Microcuencas. Lográndose una notoria mejoría en las<br />

condiciones de vida de las comunidades rurales del Programa, ante la obtención de servicios fundamentales como caminería, drenaje,<br />

luz eléctrica, casas habitación, salas de ordeñe, embalses de agua, piletas y fosas sépticas para el tratamiento de efluentes, etc.<br />

Los apoyos brindados por el Programa de Microcuencas y otras instituciones de acción local, abarcaron desde la sensibilización<br />

y capacitación en el manejo sustentable de aguas y suelos, hasta la realización de laboreos verticales, curvas de nivel, sistematización<br />

de cultivos, forestación protectiva, etc.<br />

A niveles organizativos, fué trascendente el desarrollo de capacidades autogestionarias y la adopción de modalidades<br />

asociativas por parte de actores productivos que reflejaban anteriormente un acendrado individualismo. Los avances logrados en<br />

cuanto a los niveles de consolidación de los grupos de productores promovidos, integrados por un importante número de mujeres y<br />

jóvenes rurales, indican que el compromiso grupal y las modalidades asociativas asumidas, con un enfoque conservacionista en la<br />

explotación de los recursos naturales, expresó importantes avances de praxis colectiva.<br />

I.-Abordaje de Microcuencas y Desarrollo Territorial.<br />

Son múltiples las experiencias que se vienen realizando en América Latina, (Brasil, Costa Rica, México, El Salvador, etc.),<br />

de proyectos de manejo sustentable de los recursos naturales, basados en acciones que tienen como eje y delimitación territorial a<br />

cuencas hidrográficas y sus áreas de influencia. En Brasil, en el Estado de Santa Catarina, el Proyecto Microbacías/Bird contemplaba<br />

en su proyección, una escala de trabajo en 520 Microcuencas, en un área de 1,8 millones de hás (25 % de las tierras agrícolas)<br />

beneficiando a 81.000 productores, (31% del total); (Governo do Estado de Santa Catarina y SDA, 1996).<br />

El manejo integral de cuencas, permite abordar la problemática del desarrollo territorial en sus múltiples dimensiones y<br />

manifestaciones, con una visión holística e integradora, en la base de considerar como área geo-social y agroecosistémica de trabajo, a<br />

los cursos de agua que conforman una microcuenca o cuenca hidrográfica. Esto es muy difícil, cuando los límites de planificación e<br />

intervención territorial quedan exclusivamente circunscritos a jurisdicciones administrativas como departamentos o estados, municipios,<br />

distritos, etc. Sin tomar en cuenta los límites naturales que permiten racionalizar y optimizar los procesos de gestión, planificación y<br />

administración participativa del manejo de los recursos naturales y propenden además, a forjar condiciones de sostenibilidad favorables<br />

a la organización comunitaria.<br />

La importancia del trabajo en Microcuencas se resalta al considerar que “el agua que escurre no respeta los limites de cada<br />

chacra o parcela, por lo que tiene sobre el terreno efectos ùtiles o perjudiciales de acuerdo a como se le maneje. Si ésta arrastra restos<br />

de pesticidas o estiércol va a contaminar también a los vecinos ubicados aguas abajo. Si corre con fuerza y sin control va a provocar<br />

erosion. Los productores ubicados en la misma Microcuenca, sin proponérselo, comparten beneficios o perjuicios segùn el agua y el<br />

suelo se manejen bien o mal” (Prenader, 1997).<br />

Por otra parte, si bien “la adopcion de tecnologías està determinada en gran medida por variables económicas, resulta<br />

evidente que la investigación y la extensión deben contribuír a poner al alcance de los productores las alternativas conservacionistas<br />

de producción, garantizando planteos productivos que respeten la sustentabilidad .<br />

En Uruguay, el Proyecto Piloto de Manejo Sustentable de Recursos Naturales (Programa de Microcuencas), definió como<br />

propósito central, desarrollar en los principales sistemas productivos del universo de trabajo, –lechería y horticultura-, prácticas<br />

agrícolas conservacionistas de los recursos naturales tanto en los suelos como en las aguas. Tendiendo así, a lograr una explotación más<br />

racional de los suelos evitando su degradación. Apostando a la vez, a superar la problemática derivada de la contaminación de las<br />

aguas, mejorar su manejo y su posible reutilización con fines productivos. Coadyuvando en definitiva, a procesar una mejora<br />

sustancial del medio ambiente, con repercusiones positivas en los procesos productivos y en la calidad de vida de las familias rurales<br />

involucradas.<br />

699


II.-Elementos conceptuales y contexto<br />

El Programa, apostó al desarrollo y mejoramiento de las capacidades organizativas y autogestionarias de los actores<br />

productivos, con un enfoque participativo de la gestión socio ambiental y sustentable en la explotación de los suelos y el manejo de las<br />

aguas. Se partió de la referencia que el Proyecto -de carácter Piloto-, estaba sustentado en una serie de “ideas fuerza” que apuntaban<br />

a la sustentabilidad en su concepción más integrada y amplia, es decir contemplando no sólo la dimensión ambiental, sino la social,<br />

la económica y la técnico productiva.<br />

El “producir conservando” los recursos naturales, implica un camino alternativo y posible, que en la base de la legítima<br />

preocupación por la calidad ambiental, apunte a un mejoramiento integral y sostenible de la calidad de vida en el medio rural. De aquí<br />

la necesidad por generar condiciones que viabilicen su preservación y perdurabilidad en el tiempo. Para ello, una de las preocupaciones<br />

iniciales que marcó el desarrollo del proyecto, fue el cómo potenciar los espacios locales –como ámbitos idóneos- para la participación<br />

concertada y coordinada de diferentes actores, institucionales, públicos y privados, tras el objetivo compartido de impulsar una<br />

gestión territorial capaz de generar procesos sustentables en el manejo de los recursos naturales.<br />

Es así, que a nivel territorial, el desarrollo de este proyecto alternativo, involucró el desafío de encarar procesos de acción<br />

colectiva más amplios e integrales que los tradicionales, incluyendo una fuerte apuesta a despertar y potenciar las energías sociales<br />

presentes en las comunidades.<br />

Entendiendo por energías sociales a la capacidad de expresión, participación, gestión y realización que puedan colectivamente<br />

desarrollar los sujetos socialmente organizados de una comunidad, acorde a sus necesidades y prioridades.<br />

Resulta claro que este desarrollo de capacidades autogestionarias de los actores locales productivos, requiere de voluntades<br />

políticas y apoyos institucionales que lo viabilicen.<br />

Lamentablemente, en el actual contexto, no se vislumbran caminos alternativos que permitan alentar expectativas de<br />

apoyos y oportunidades para potenciar el desarrollo autogestionario en el medio rural.<br />

Ello no nos inhibe para analizar la incidencia de proyectos como el que nos ocupa y su real capacidad para incidir en la<br />

generación de nuevas dinámicas de transformación territorial que propugnen el desarrollo de capacidades autogestionarias que<br />

permitan a la población rural la puesta en marcha de modalidades organizativas grupales y asociativas, como soporte ineludible a su<br />

viabilidad productiva, al mejoramiento de sus niveles de vida y a ejercer su derecho inalienable de vivir y desarrollarse en su propio<br />

medio.<br />

III- Caracterización social de las unidades de producción .<br />

Los predios involucrados dentro del área de trabajo de las cuatro Microcuencas, localizadas en la Represa Canelón Grande<br />

y Arroyo Los Alamos (depto. de Canelones); Arroyo La Feliciana (depto. de Florida) y Arroyo Tala, (depto. de San José), disponen<br />

una superficie media de 44 hás. Existen sin embargo, diferencias entre Microcuencas y al interior de las mismas; por ejemplo en la<br />

Microcuenca Feliciana, la superficie media de los predios es de 116.5 hás., con algunas pocas explotaciones lecheras que cuentan con<br />

más de 160 hás. y una mayoría que no superan las 50 hás. Las microcuencas con predios de menor superficie son Alamos (18.3 hás.<br />

promedio) y Canelón Grande (34.7 hás.). En ésta microcuenca, -con preponderancia de productores hortícolas-, muchas explotaciones<br />

no alcanzan a las 10 hás.(Programa de Microcuencas, Prenader, 1998).<br />

700


Considerando la caracterización social de los predios, la mayoría corresponde a productores de carácter familiar, que<br />

radican en los establecimientos, tienen niveles educativos aceptables y composiciones etarias entre los 25 y 55 años, en su mayoría.<br />

En menor medida, se aprecian unidades productivas de perfil empresarial y otras de carácter transicional entre ambas.<br />

Esta mayoría de productores familiares de las cuatro microcuencas, se corresponden al estrato de productores más<br />

debilitados del agro uruguayo: con escasas superficies de tierra y problemas de escala, -sobre todo los lecheros-, limitados en capital,<br />

información, organización, tecnología y gestión, observaban al principio del proyecto, un notorio rezago tanto en lo productivo como<br />

en lo social. “Sus estrategias de producción y reproducción se han venido basando en la diversificación productiva y el autoconsumo.<br />

En términos económicos, sus limitaciones se expresan en niveles de endeudamiento, que les impiden desarrollar capacidades de<br />

acumulación y reinversión” (Schiavo C.; 1997).<br />

Todo lo anterior se agravaba ante la insustentabilidad derivada de la ausencia de prácticas conservacionistas en el manejo de<br />

suelos y aguas (laboreos a favor de pendientes, ausencia de curvas de nivel, contaminación de aguas por desechos de efluentes de<br />

tambos, por vertidos de envases de agroquímicos, etc).<br />

IV.-Objetivos del trabajo de apoyo y organización grupal.<br />

El Programa de Microcuencas ha perseguido promover y lograr el uso sustentable de los recursos naturales a través de la<br />

participación organizada de los productores y sus familias, para que en forma individual y colectiva, adopten prácticas de manejo y<br />

uso del agua y del suelo, que aumenten en<br />

forma sostenible, la producción, los ingresos y los niveles de calidad de vida de los mismos.<br />

V.-Metodología<br />

La metodología estuvo sustentada en procesos abiertos a la participación de los actores productivos en las modalidades de Diagnóstico<br />

y Planificación Participativa. Comprendió :<br />

• Un abordaje multidisciplinar, a través de diferentes profesionales exigidos a encarar un enfoque analítico de carácter<br />

holístico, sistémico y sostenible sobre los sistemas productivos y los procesos de cambio social.<br />

• Una permanente promoción a la participación activa de los productores y sus familias a través de la organización grupal,<br />

incorporando a la mujer y a los jóvenes rurales en los procesos de toma de decisiones y de gestión.<br />

• El fomento a la comunicación, concertación y articulación de acciones entre el Programa de Microcuencas e Instituciones<br />

y Organismos de acción local a niveles oficiales y privados. Entre las primeras, se destacaron los apoyos brindados por<br />

Escuelas Rurales, Intendencias Municipales, Movimiento de Erradicacion de la Vivienda Insalubre Rural (ME<strong>VI</strong>R),<br />

ANTEL (telefonía), UTE (electricidad), Regionales del Instituto Nacional de Colonizacion, Cooperativa Nacional de<br />

Productores de Leche (Conaprole), Facultades de Agronomia y Veterinaria de la Universidad de la República, etc.<br />

701


5.1.-Los pasos abarcaron:<br />

*Diseño del Mapa Social ; identificación y caracterización de actores –individuales, colectivos, institucionales-, agentes<br />

económicos, representaciones sociales, líderes, etc., tomando en cuenta niveles organizacionales, de interrelacionamiento y<br />

legitimación social local.<br />

*Apoyos de informantes clave locales; desde las primeras etapas del trabajo, resulto imprescindible contar con el soporte<br />

de informantes locales calificados, como técnicos, maestras rurales, autoridades, líderes, representantes de organismos e<br />

instituciones, gremialistas, etc.) .<br />

*Comunicación e interacción con productores y familias en sus predios y en los escenarios de la vida social local, –<br />

principalmente Escuelas Rurales-, Clubes Deportivos y Sociales, Capillas, etc.- incorporando las ideas fuerza del programa<br />

a diversos actores comunitarios como maestras/os, párrocos, lideres juveniles, etc. .<br />

*Puesta en marcha de Diagnósticos Participativos con agrupamientos de productores y sus familias, que incluyeron tal cual<br />

mencionamos, la participación de mujeres y jóvenes rurales. Proceso de comunicación e interacción ampliado a la participación<br />

de profesionales e instituciones locales.<br />

*Diseño y puesta en marcha del Proceso de Planificación Participativa.<br />

*Monitoreo y Evaluación de la puesta en marcha del Programa con los actores productivos.<br />

Con tal enfoque, se impulsaron las siguientes lineas de trabajo:<br />

i) convocatoria y puesta en marcha de procesos de organización y desarrollo grupal dirigidos a la familia productora, ii) priorización<br />

de apoyos y acciones conducentes a sensibilizar y comprometer a los actores productivos a modificar pràcticas agrícolas tradicionales,<br />

para encarar el desarrollo de otras tecnologías que derivan en un manejo sustentable de los recursos naturales; iii) enfoque y<br />

abordaje sistémico e integral de las acciones, previlegiando en forma paralela a la atención de los temas técnico productivos, el<br />

tratamiento de los problemas sociales y económicos más acuciantes que limitan las posibilidades para procesar un desarrollo<br />

sostenible; iv) instrumentación de una innovadora modalidad de Fondos de Ahorro colectivos para la compra de maquinaria<br />

conservacionista y v) desarrollo de modalidades organizativas de carácter asociativo.<br />

<strong>VI</strong>.-Estrategias para el desarrollo de los Grupos de Productores<br />

En síntesis, la estrategia que impulso el Programa, tuvo cuatro características esenciales:<br />

a) Enfoque integral y multidisciplinario de la gestión del establecimiento,<br />

b) Proceso grupal participativo e interactivo,<br />

c) Mejoramiento de la comprensión de la familia sobre la importancia del uso sostenible de los recursos naturales. No sólo en lo que<br />

corresponde a lo productivo, sino que se enfatizó con éxito, la natural sensibilidad de la mujer hacia los factores que afectan el<br />

ambiente y por ende, la calidad de vida de su familia.<br />

702


d) Dedicación de tiempos al análisis y tratamiento de las problemáticas más sentidas y finalmente priorizadas por la familia<br />

productora.<br />

En el proceso de promoción, formación y consolidación de los grupos de productores, el Programa transitó diferentes etapas:<br />

Ø *Motivacion, en jornadas explicativas de los objetivos y servicios del Programa.<br />

Ø *Desarrollo Grupal, a través de reuniones regulares de planificación, coordinación y seguimiento, procurándose el<br />

desarrollo de canales permanentes de información y la puesta en marcha de procesos de capacitación en los temas<br />

definidos conjuntamente con los productores y sus familias. Paralelamente se analizaban y evaluaban entre todos los<br />

actores involucrados, las prácticas de laboreo u otros servicios conservacionistas implementados.<br />

Ø *Consolidacion Grupal, a traves de la producción de rubros en común, la creación de Fondos de Ahorro para la compra<br />

colectiva de maquinaria, etc.<br />

A los elementos estratégicos impulsados, debemos agregar la base de estímulos sin costo que involucró diferentes apoyos a saber:<br />

<strong>VI</strong>I.-Paquete Integral de Manejo de los Recursos Naturales<br />

Comprendió diferentes apoyos del Programa de Microcuencas (Prenader), sin costo para los productores agrupados,<br />

durante dos años de ejercicio agrícola, a través de servicios en:<br />

ü *Manejo de suelos: sistematización, subsolado, laboreo vertical y movimiento de tierras para manejo de cárcavas.<br />

ü *Manejo de cultivos: Siembra directa, siembra convencional; agricultura orgánica, horticultura integrada.<br />

ü *Manejo de la fertilidad: Abono verde, orgánico y análisis de suelos.<br />

ü *Forestación: Protectiva, viveros comunitarios.<br />

ü *Manejo de la contaminación: Efluentes de tambos, Calibración y manejo adecuado de equipos de fumigación, manejo de<br />

residuos de agroquímicos y manejo integrado de plagas.<br />

ü *Manejo del agua: Obras de riego individuales y colectivas, obras de drenaje, análisis de agua.<br />

ü *Electrificación rural con el concurso de UTE.<br />

ü *Caminería, con apoyos de las Intendencias Municipales.<br />

ü *Maquinaria agrícola conservacionista para usufructo de varios grupos ( sembradora directa, estercolera, descoladora de<br />

cebolla, tradillas).<br />

703


Brindándose además, capacitación (jornadas técnicas, giras y visitas a otros predios); y asistencia técnica sin costo para los<br />

productores.<br />

<strong>VI</strong>II.-Avances y logros de las acciones grupales.<br />

Considerando los objetivos del Programa, se ha logrado:<br />

Ø El regular y pleno funcionamiento de 18 Grupos de Productores promovidos por el Programa en las cuatro Microcuencas.<br />

Entre 1996 y el primer semestre de 1999, se verificaron 413 reuniones con un total de 5966 productores, a razón de 14.4<br />

productores por reunión. En promedio, se verificó una reunión mensual con cada grupo.<br />

Ø Una mayor sensibilización y atención a la adopción de prácticas agrícolas tendientes a racionalizar el manejo sustentable<br />

de los recursos naturales con un enfoque conservacionista y sustentable, por una amplia mayoría de los productores<br />

agrupados.<br />

Ø El fortalecimiento de la acción grupal. El trabajo en forma participativa, las acciones de carácter asociativo, las planificaciones<br />

realizadas en forma grupal, los niveles de participación y la elevada asistencia de productores y familias a las reuniones, son<br />

algunos de los indicadores que nos demuestran importantes avances de práxis grupal.<br />

Ø Importantes niveles de coordinación y coparticipación institucional en las acciones.<br />

Ø Formación de nuevos Grupos de productores en atención a intereses económico-productivos definidos por los interesados<br />

. Ej. Agrupamiento de Productores de Cerdos de la Microcuenca Tala, promovido e integrado por familias productoras, con<br />

un enfoque de producción de carne de cerdo en condiciones naturales (manejo sustentable de producción porcina en base a<br />

pasturas).<br />

Ø Consolidación de subgrupos de maquinaria de uso compartido. En base a buenos niveles organizativos, se tuvo un<br />

adecuado funcionamiento en el manejo de maquinaria en común. Destacándose por ejemplo, que en el caso de las estercoleras<br />

suministradas por el programa para el manejo del sistema de tratamiento de efluentes de los tambos, se tuvo un cumplimiento<br />

aceptable de los productores en los aportes comprometidos para la disponibilidad de fondos de mantenimiento y depreciación<br />

de la maquinaria.<br />

Ø Adquisición de equipos de laboreos. Una mayoria de agrupamientos de productores adquirieron diversos implementos<br />

agricolas y maquinaria como contraparte de los aportados por el programa.<br />

Ø Creciente interés por la capacitación. Durante éstos años de actividades con los grupos, se realizaron múltiples jornadas de<br />

capacitación, en las áreas tecnológicas y de planificación grupal, lo cual despertó un fuerte interés de los productores y sus<br />

familias, alcanzándose buenos niveles de asistencias.<br />

Ø Actividades asociativas. Algunos grupos lograron desarrollar acciones de tipo asociativas cómo la producción de rubros en<br />

común o crear asociaciones para promover producciones complementarias a las que actualmente están desarrollando.<br />

Ejemplo adquisición de insumos en común (compra de alimento concentrado), por parte de Grupo de Productores de cerdos<br />

en la Colonia Carriquiri).<br />

Ø Concientización en el control de efluentes. Es relevante el número de productores lecheros agrupados del área de influencia<br />

del Programa que disponen de piletas y fosas sépticas para el manejo y tratamiento de los efluentes de tambo. Sin embardo<br />

existe aun hoy, más demanda que obras realizadas.<br />

704


Ø Creación de fondos de ahorro. Al finalizar las cuatro zafras de apoyos del Programa con laboreos de tierras sin costos al<br />

productor, se acordaron convenios de creación de fondos de ahorro con destino a la compra de maquinaria conservacionista,<br />

teniéndose un alto nivel de integración por parte de la mayoría de los grupos.<br />

Ø Creación de grupos Predeg. Grupos de productores familiares promovidos por el programa de Microcuencas, dieron origen<br />

a grupos Predeg (Programa de Desarrollo Granjero) que con apoyos del Ministerio de Ganadería, Agricultura y Pesca<br />

(MGAP), tuvieron acceso a asistencia técnica sin costo.<br />

IX.- Los logros de la planificación participativa.<br />

Se trabajó con una metodología participativa por entender que la misma es la más adecuada para la formación y<br />

consolidación de los grupos de productores, en un programa de manejo de recursos naturales, en áreas de microcuencas. La<br />

adopción de prácticas innovadoras implica un cambio en las prácticas actuales, en consecuencia es necesario un cambio en las<br />

conductas de los productores. Estos cambios son asumidos si se participa en todas las etapas del mismo.<br />

“En los grupos se trabajó aportando información, promoviendo la comunicación, buscando la participación en las<br />

actividades del programa, tanto en el análisis, la planificación, como en la coordinación de las diversas acciones ejecutadas. La<br />

capacitación jugó un papel de apoyo de todas las actividades desarrolladas, ésta incluyó charlas, jornadas, giras y visitas a otras<br />

experiencias productivas y organizativas. La capacitación en trabajo grupal se basó en aprender haciendo y evaluando<br />

colectivamente lo realizado. En la mayoría de los grupos, se realizaron análisis FODA donde participaron productores y<br />

familias. El papel desarrollado en la asistencia técnica grupal fue de facilitador, de un administrador del proceso participativo,<br />

buscando que el grupo opere bien, motivando los procesos y las acciones que desarrolla el programa. Asimismo, se desarrollaron<br />

acciones de coordinación de actividades al interior de los grupos y de articulación con instituciones y técnicos locales”. (Schiavo<br />

C. y C. Vasallo, 1999).<br />

X.-Frustraciones y desafíos<br />

El logro de organizaciones rurales conscientes y comprometidas con el manejo sustentable de los recursos naturales, es una<br />

realidad alcanzada en esta primera etapa de desarrollo del Programa de Microcuencas. Resaltando que la condición de Programa de<br />

carácter Piloto revaloriza sus alcances. Es necesario sin embargo, profundizar el trabajo de apoyo y promoción abordando una<br />

necesaria etapa de consolidación basada en una mayor coparticipación económica de los productores en el desarrollo de los<br />

paquetes tecnológicos conservacionistas. Ello podría procesarse en la base del mayor fortalecimiento que otorgan a los grupos de<br />

productores los niveles organizativos alcanzados.<br />

Se requiere para ésta etapa, que las diferentes instituciones oficiales que han coparticipado y apoyado este enfoque de<br />

trabajo de manejo sustentable de los recursos naturales, no se desentiendan de los mismos y mantengan niveles de compromiso y<br />

participación en lo futuro. Tema que no es fácil de dilucidar dada la actual prescindencia de la institucionalidad oficial en la<br />

promoción de acciones de desarrollo.<br />

Las condiciones derivadas del recorte de Programas y la falta de presupuestación del Ministerio de Ganadería Agricultura<br />

y Pesca (MGAP), “achicado” a su mínima expresión por el Ministerio de Economía, dentro del ajuste gubernamental, lo vuelve<br />

totalmente intrascendente e inoperante para articular o promover acciones de desarrollo en el sector agropecuario nacional.<br />

Situación que configura una lamentable realidad en un país de fuerte vocación, tradición y potencialidad agropecuaria como el<br />

Uruguay.<br />

705


La referida suspensión de los apoyos oficiales que canalizaba el Ministerio de Ganadería, Agricultura y Pesca del Uruguay,<br />

entre los que se incluye el Programa de Microcuencas del Prenader, dejan a medio camino y a la deriva los avances registrados.<br />

Frustrando las expectativas de medio millar de pequeños productores familiares que ven truncada la continuidad del programa.<br />

Frustrándose además, las expectativas de otros miles de productores de otras microcuencas que conociendo y compartiendo la<br />

filosofía del programa (“producir conservando”), aspiraban incorporarse –en una segunda etapa-, al Programa de desarrollo.<br />

La experiencia deja valiosos antecedentes de gestión territorial participativa que han permitido a uno de los estratos<br />

productivos más debilitados del agro uruguayo (colonos y pequeños productores familiares con problemas de escala, pobreza<br />

ancestral, acendrado individualismo, afectación ambiental –suelos erosionados, contaminación de aguas-, baja producción y rentabilidad<br />

nula) transitar lenta pero firmemente, los caminos de la sustentabilidad. Así lo indican los logros alcanzados por los productores<br />

familiares de las cuatro Microcuencas, en la compra de maquinaria agrícola conservacionista, en los niveles organizativos y capacitación<br />

alcanzada, en las modalidades asociativas adoptadas y en general, en los avances registrados para revertir las condiciones de<br />

empobrecimiento acelerado, insustentabilidad ambiental, socio económica y técnico productiva que caracterizaban a las explotaciones<br />

familiares antes de la puesta en marcha del proyecto.<br />

La profundidad de la crisis actual, debería motivar en un escenario de reactivación del aparato productivo, que el Estado<br />

priorice dentro del sector agropecuario uruguayo, considerado el verdadero “motor” para la superación de la misma, la definición de<br />

políticas y acciones que retomen el apoyo hacia los mayoritarios estratos de productores –que son los familiares- y se impulsen con<br />

fuerza y decisión apoyos que promuevan la sustentabilidad en el manejo de los recursos naturales y por ende, la sostenibilidad social,<br />

económica y técnico productiva de los actores fundamentales en la generación de riqueza.<br />

El reiterado slogan de “Uruguay Natural”, espera y desafía a la acción; la producción de carnes, vegetales, lácteos, etc. en la<br />

base de suelos mejorados y erosión controlada, aguas sin contaminantes y pasturas naturales, reclaman sin dilaciones el fomento y la<br />

promoción de un Estado que no puede volver a ser<br />

paternalista pero tampoco prescindente. El logro de competitividad exige la certificación de calidad de los productos alimenticios, la<br />

trazabilidad de procesos y variables que intervienen en las cadenas productivas y desde luego la participación y la gestión activa de<br />

los actores productivos. Todo esto requiere no sólo normatividad sino reales capacidades de implementación y sostenibilidad en el<br />

tiempo.<br />

El Estado tiene al respecto un papel insoslayable: debe contribuír a través de su institucionalidad, a promover el desarrollo<br />

de capacidades de los actores productivos, coadyuvando a la sensibilización, capacitación y organización autogestionaria de los<br />

mismos, para que encaren en forma sostenible tecnologías de manejo sustentable de los recursos naturales y puedan alcanzar niveles<br />

de competitividad en la base de una oferta que garantice en los mercados, una alta calificación de los productos alimenticios.<br />

706


XI.-Bibliografía<br />

INTA; Cambio Rural; “Los productores de Cambio Rural y la producción sustentable”; Pergamino, Argentina, 1998.<br />

Programa de Microcuencas; “Caracterización Social y Técnico Productiva de las Microcuencas Canelón Grande, Los Alamos,<br />

Feliciana y Tala”; Programa de Microcuencas, Prenader; Montevideo, 1998.<br />

Prenader; “Programa de Microcuencas en la Cuenca del Río Santa Lucía”; Impreso; Montevideo,1997.<br />

Schiavo C. y C. Silveira; “Organizaciones de Productores Rurales en las Microcuencas Embalse Canelón Grande, Cañada Los<br />

Alamos, Arroyo La Feliciana y Arroyo Tala” ; Programa de Microcuencas; Montevideo; 1996.<br />

Schiavo Carlos; “Diagnóstico-Resumen de la realidad socio-económica y técnico productiva de productores familiares de la Colonia<br />

Carriquiri”; Comunicación a Seminario-Taller de Coordinación Interinstitucional; Programa de Microcuencas Prenader, Intendencia<br />

Municipal de San José, Banco República, Conaprole, técnicos de ejercicio liberal; Sala de juntas de la Regional de Conaprole, San José,<br />

julio 1997.<br />

Schiavo, Carlos; “Territorialidad y Sustentabilidad ”; Comunicación a Seminario/Taller Sala de Consejo de Facultad de Veterinaria;<br />

Montevideo, 23 de setiembre , 1999.<br />

Schiavo, C. y C. Vassallo; “Actividades de Promoción y Apoyo a la Organización Grupal de Productores en el Programa Piloto de<br />

Manejo Sustentable de Recursos Naturales en Microcuencas, dentro de la Cuenca del Río Santa Lucía”; Docum. Interno, Prenader;<br />

Montevideo, octubre 1999.<br />

Secretaría de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura – SDA; Projeto Microbacias/BIRD; Estado de Santa Catarina;<br />

Florianópolis, Brasil, novembro, 1996.<br />

Secretaria de Estado da Agricultura do Abastecimiento e da Irrigacao; “Metodologia para priorizacao de Bacias Hidrográficas,<br />

Municipios e Microbacias Hidrograficas para o Estado de Santa Catarina”; Governo do Estado de Santa Catarina; Brasil, 1996.<br />

707


708


DESARROLLO LOCAL O IMPOSICIÓN NEOLIBERAL: LA DIFÍCIL<br />

CONSTRUCCIÓN DE UN PROYECTO ALTERNATIVO PARA LA REGIÓN ATENCO-<br />

TEXCOCO 1<br />

709<br />

César Adrián Ramírez Miranda<br />

Introducción<br />

En esta ponencia se exponen y discuten los esfuerzos y dificultades para construir un proyecto alternativo de desarrollo<br />

basado en la participación democrática de los pueblos y comunidades de la región Atenco-Texcoco, localizada en la colindancia<br />

oriental de la Ciudad de México. Estos problemas para movilizar los recursos locales hacia un proyecto de desarrollo regional, tienen<br />

que ver fundamentalmente con el papel que juegan los diferentes actores en torno al conflicto abierto por la decisión gubernamental<br />

de imponer en ese espacio un megaproyecto aeroportuario, destinado a sacar de su letargo a la decaída economía mexicana, pero que<br />

debió ser cancelado debido a la resistencia de los pobladores de la región.<br />

Las ideas aquí expresadas tienen sustento en un proyecto de investigación participante del Centro Interdisciplinario de Investigación<br />

y Servicio para el Medio Rural (CIISMER), de la Universidad Autónoma Chapingo, México, en el cual participa un grupo<br />

multidisciplinario de académicos. 2 Por esta razón se trata de una reflexión sobre un proceso en marcha, en el cual aún no se define el<br />

destino que tendrá la región, pues la necesidad de un nuevo aeropuerto para la Ciudad de México persiste y el movimiento social<br />

muestra señales de desgaste y problemas para construir una propuesta alternativa de desarrollo.<br />

La historia inmediata<br />

En octubre de 2001 el Gobierno Mexicano decretó la expropiación de 5 390 hectáreas en los municipios de Atenco, Texcoco<br />

y Chimalhuacán para destinarlas a la construcción del nuevo Aeropuerto de la Ciudad de México. Esta expropiación que afectaba a 3<br />

977 ejidatarios de trece comunidades y significaba la práctica desaparición de algunos de los ejidos de la región (cuadro 1), desató<br />

fuertes movilizaciones que expresaron el rechazo a un proyecto que pretendía despojar a los habitantes de la región de su modo de<br />

vida. Pero el problema no era sólo de los ejidatarios afectados, involucraba también a los habitantes de los municipios aledaños de<br />

Chiautla, Chiconcuac, Tezoyuca y Tepetlaoxtoc; además de poner en entredicho la sobrevivencia de la Ciudad de México, la segunda<br />

metrópoli más grande del mundo con sus 18 millones de habitantes.<br />

En julio de 2002 los pobladores de Atenco protagonizaron un levantamiento que obligó al gobierno mexicano a derogar el decreto<br />

expropiatorio, frente al riesgo de un derramamiento de sangre largamente anunciado.<br />

La cancelación del proyecto para construir el nuevo aeropuerto de la Ciudad de México en los terrenos de los municipios de<br />

Atenco, Texcoco y Chimalhuacán, representó una victoria para los ejidatarios que habían sido injustamente expropiados de sus tierras<br />

y que desde el primer momento se opusieron a este despojo, cuestionando en los espacios legales y de la resistencia civil, al principal<br />

megaproyecto económico del sexenio. Después de más de nueve meses de lucha y resistencia civil se obtuvo una victoria que<br />

constituye un ejemplo y un parteaguas para otros movimientos enfrentados al autoritarismo de los gobiernos neoliberales.<br />

La victoria de Atenco contribuye a minar el mito de la globalización avasallante y del neoliberalismo omnipotente. Este<br />

episodio mexicano invita a asumir que vivimos una época conflictiva abierta a las propuestas y la acción colectiva, y no el espacio<br />

cerrado de la globalización implacable que justifica el escepticismo y el refugio en las opciones estrictamente individuales.<br />

La victoria de Atenco también señala una característica central del capitalismo financista actual: su extremo nerviosismo,<br />

derivado de su carácter rentista y especulativo tanto como de su capacidad técnica para desplazarse de un lado a otro del mundo en<br />

cuestión de segundos. Esto significa que el Estado de competencia, como le llama Hirsh, es la expresión política de una fase del<br />

capitalismo cuya expresión económica es el Capital pusilánime. 3 Si esta conceptualización es válida, podemos anticipar la suerte que<br />

tendrá la resistencia comunitaria al Plan Puebla Panamá.<br />

El megaproyecto para construir una nueva terminal aérea en el país, obedeció a los intereses del capital financiero global y<br />

fue asumido como un interés de Estado a través de la operación política de las instancias del gobierno estatal y federal, con el sello local<br />

de un sistema político que la condenó a discurrir plagada de errores, dentro de un contexto de corrupción, impunidad e ineficiencia que<br />

han caracterizado a nuestros gobiernos. El manejo empresarial, la ignorancia y la falta de sensibilidad del gobierno, dieron cuenta de las<br />

restricciones que imponen las características locales a la operación del capital global.<br />

De esta manera la carencia de legitimidad y credibilidad del Estado, frente a una gran parte de los mexicanos, se magnificó<br />

ante la incapacidad de éste para justificar el megaproyecto aeropuertario como un asunto de interés nacional, sustentado en causas de<br />

utilidad pública. En consecuencia el decreto expropiatorio del 22 de octubre de 2001, que amenazó con la destrucción de formas de<br />

vida y sustento de las comunidades afectadas, apareció ante los habitantes de la región como un despojo patrimonial para favorecer<br />

negocios privados. Ello fue el origen y razón del movimiento de insurgencia de las comunidades de los municipios de Atenco y<br />

Texcoco. La repercusión del movimiento trascendió el ámbito rural-urbano de la región hacia el interés de la sociedad en su conjunto<br />

y diversificó las demandas y los componentes sociales del mismo.<br />

El fallido proyecto aeropuertario ofrecía a la región Texcoco Atenco una posibilidad de desarrollo que no era tal: acaso muchos<br />

empleos temporales en la fase de construcción y mucho menos puestos de trabajo en la fase de operación, por supuesto, ninguna<br />

participación en los jugosos negocios de la especulación inmobiliaria.<br />

La cuestión ambiental fue uno de los principales puntos de conflicto en lo que quizá será conocido como el caso del aeropuerto de<br />

Texcoco Atenco. No podía ser de otra manera en nuestros tiempos, sobre todo porque el daño causado a la Ciudad de México por este<br />

proyecto hubiera sido catastrófico en el corto plazo.<br />

No fue poco el tiempo en que se pudieron contrastar las ventajas y los problemas que traería la construcción del aeropuerto a la región.


Cuando las imágenes de los autos quemados y las carreteras bloquedas llegaron a los hogares de todo el país y a los periódicos de todo<br />

el mundo, habían pasado nueve meses del decreto expropiatorio y era claro que los campesinos de Atenco no iban a dejar sus tierras<br />

para que otros hicieran negocio con ellas. La ruta del enfrentamiento estaba abierta desde tiempo antes.<br />

La cultura del desarrollismo permeó incluso a las más altas esferas del poder municipal en Texcoco, donde con un comportamiento<br />

político ambivalente se interpuso una controversia por la violación al artículo 115 constitucional; pero al mismo tiempo se pagó la<br />

elaboración de un plan de desarrollo urbano municipal sustentado en la hipótesis de un aeropuerto ineludible. Esta actitud, acremente<br />

cuestionada por los ejidatarios de Atenco, mostró –en la mejor de las interpretaciones- el pragmatismo extremo con el que se conducen<br />

las fuerzas politicas que se suponen opuestas a la globalización financista, pero también la existencia de una tradicion derrotista que<br />

implicitamente cuestiona la posibilidad de dar marcha atrás a las políticas neoliberales y los proyectos en que estas se concretan.<br />

Es posible apuntar que la victoria de los campesinos de Atenco se debió a su capacidad de mantener en el núcleo de su lucha la<br />

reivindicación de su derecho a la tierra que les fue heredada por quienes lucharon por ella con las armas en la mano, a inicios del siglo<br />

pasado. A esta reivindicación se sumaron los criterios ambientalistas y un conjunto de argumentos técnicos, legales y de impacto<br />

social, que permitieron mostrar que la razón estaba de su lado. Sin embargo debe destacarse que el núcleo central del discurso de<br />

oposición al aeropuerto en Texcoco fue que los campesinos se negaban a ser despojados de sus tierras. En ese momento la defensa de<br />

la tierra se convirtió en una defensa del territorio, ni más ni menos.<br />

La cuestión del desarrollo siempre estuvo en entredicho en el caso de Atenco Texcoco y lo seguirá estando a lo largo del país en los<br />

próximos años. Ahora que el megaproyecto aeropuertario fue suspendido, toca a la Universidad Autónoma Chapingo expresar su<br />

potencial en la construcción de un proyecto de desarrrollo para la región Atenco Texcoco con el concurso activo de las comunidades.<br />

El acervo técnico, científico y social para este proyecto es vasto, de manera que el desafío será encontrar los esquemas organizativos<br />

más adecuados para que la región exprese su voluntad de cambio basada en la autodeterminación. Esto es más importante que nunca,<br />

pues el olvido y el rezago social de la región oriente de la Cuenca de México puede profundizarse con la respuesta anunciada del<br />

gobierno estatal a través de la represión hacia los dirigentes concebidos como delincuentes y hacia la restricción de los recursos<br />

económicos y materiales para la región.<br />

Caracterización regional<br />

Un planteamiento alternativo de desarrollo para la región Atenco Texcoco debe plantearse como su principal tarea escapar de la inercia<br />

de la Zona Metropolitana de la Ciudad de México (ZMCM), que forma parte de un proceso megalopolitano que abarca a 7 entidades<br />

federativas: Distrito Federal, Hidalgo, México, Puebla, Querétaro y Tlaxcala, con una población total de 25 millones de habitantes. Es<br />

urgente un plan de desarrollo alternativo porque las condiciones socio-económicas y ambientales actuales de la ZMCM, implican<br />

graves problemas de sustentabilidad dado el nivel de concentración económica, de la población y de consumo de energía, así como por<br />

el aumento exponencial de la degradación de su medio ambiente.<br />

En términos generales la región Atenco-Texcoco se ha caracterizado por un alto grado de desertificación de la Cuenca; el<br />

crecimiento demográfico continuo, la destrucción de los recursos naturales y un marcado rezago económico y social. Por ende, es<br />

necesario trabajar sobre alternativas y propuestas hacia un proyecto de desarrollo con legitimidad democrática que parta del diagnóstico<br />

y reconocimiento de la biodiversidad, de las iniciativas y necesidades de los actores sociales, de los recursos locales y del respeto a los<br />

derechos y a la cultura de los pueblos. En este proceso de elaboración de propuestas y promoción del proyecto de desarrollo regional,<br />

a partir de considerar la participación social como premisa fundamental, tomamos como punto de partida los siguientes elementos de<br />

diagnóstico.<br />

En primer lugar, el megaproyecto aeroportuario estaba destinado a abrir un nuevo cauce para la expansión urbana sobre una<br />

región que viene siendo salvaguardada por la presencia de actividades agropecuarias y la existencia de instituciones de enseñanza e<br />

investigación agrícola, así como por el Plan Lago y los trabajos de recuperación que en tres décadas lograron disminuir las tolvaneras<br />

que año con año sufría la capital del país. El crecimiento urbano desordenado, que en las décadas anteriores flanqueó esta región, desde<br />

la ruta Chalco-Los Reyes, hasta la Ecatepec-Lechería, recibiría un fuerte impulso para cerrar un cinturón de subempleo sobre la<br />

Ciudad de México, ejerciendo una presión sin precedente sobre los recursos naturales de la región y amenazando con el colapso a la<br />

propia capital del país.<br />

La Ciudad de México ve amenazada día con día su subsistencia y paga las consecuencias de un crecimiento concentrado y polarizador.<br />

Las deseconomías acumulativas que acercan a la gran urbe a su colapso se presentan en los costos de extracción y consumo de agua,<br />

en la cobertura del drenaje y la generación de desechos sólidos, en la insuficiencia del equipamiento urbano y el transporte público, en<br />

la contaminación ambiental y, por supuesto, en el patrón de uso del suelo (Rocha, 2001).<br />

Aún sin aeropuerto, la región vive actualmente un conjunto de problemas relacionados con la pérdida de centralidad de las actividades<br />

rurales y la acelerada urbanización de su territorio. Es sabido que la región formaba parte de una cuenca lechera que abastecía a la<br />

Ciudad de México, todavía a fines de los setenta; sin embargo, el deterioro generalizado de la rentabilidad agropecuaria en los ochenta,<br />

posibilitó que los agricultores fueran cediendo terrenos ante la presión de los constructores y los especuladores inmobiliarios para<br />

cambiar el uso agrícola por el habitacional, lo que generó posibilidades de residencia a núcleos poblacionales de otros municipios del<br />

Estado de México, como Coacalco, Tultitlán, Nezahualcoyotl, así como de colonias populares del Distrito Federal. Es importante<br />

señalar, que en 1990 la población inmigrante, estimada en 34 252 habitantes, representaba una cuarta parte de los habitantes del<br />

municipio de Texcoco; entre ellos, el 41% era procedente del Distrito Federal (Plan de Desarrollo Municipal 2000-2003).<br />

La region vive un proceso de fragilización ecológica que se expresa en los procesos de deforestación y erosión de la parte alta de la<br />

cuenca, en el abatimiento del manto freático y en la contaminación de los ríos, así como en la pérdida de terrenos agrícolas y en la<br />

erosión eólica. La interrupción del ciclo hidrológico, que contribuye al hundimiento de la Ciudad de México, sintetiza la problemática<br />

ecológica de esta región y señala al agua como uno de los principales recursos en disputa entre la población rural y urbana local para<br />

los años venideros. Vale señalar que en el municipio de Texcoco el volumen de extracción de los 74 pozos que abastecen de agua<br />

potable a la población equivale a casi el doble de su recarga (Plan de Desarrollo Municipal 2000-2003).<br />

Esta fragilizacion también se expresa en problemas de salud, ligados a la insuficiente cobertura del sistema de drenaje y alcantarillado,<br />

la descarga de aguas negras a los ríos y arroyos, tránsito de aguas negras a cielo abierto; inadecuado manejo de basura y desechos<br />

sólidos; falta de educación sobre alimentación y salud y falta de control de la población canina (Dirección de Planeación y Desarrollo<br />

Municipal, 1997).<br />

710


La fragilización económica esta expresada en la caída de la rentabilidad de la producción agropecuaria, así como del empleo formal;<br />

pero también en las dificultades para hacer crecer la inversión pública. En el municipio de Texcoco, sólo el 39.4% de la PEA cuenta con<br />

un empleo remunerado (DPDM, 1997; p. 9). Aunque Texcoco aparece como un municipio con bajo índice de marginación, este dato<br />

estadístico refleja la presencia de grupos de ingreso elevado, como son los profesionales del CIMMyT, el Colegio de Posgraduados<br />

y la UACh, hecho que vela la marginalidad real de muchas de sus localidades.<br />

La fragilización tecnológica está también presente en la región, pese a que en ella se asientan la Universidad Autónoma Chapingo, el<br />

Colegio de Postgraduados y el Centro Internacional de Mejoramiento de Maíz y Trigo. Esto es patente en los ejidos y comunidades<br />

de la región, en los que se puede apreciar la erosión tecnológica de los sistemas de producción tradicionales, escaso control de la<br />

ganadería de traspatio y erosión de los terrenos agrícolas<br />

La fragilización social e institucional de la región se hace patente sobre todo en las comunidades por la ausencia de una sana interacción<br />

entre la vida rural y la urbana; se expresa en problemas de delincuencia, en invasiones y conflictos agrarios o de linderos, en<br />

pulverización de la tenencia ejidal y rentismo de los terrenos agrícolas, en pérdida de la autosuficiencia alimentaria comunitaria, local<br />

y regional, en desinterés por la participación social, dotación precaria de servicios para el medio rural. También es patente en la región<br />

la desigualdad de condiciones de vida entre sus localidades, pues las ubicadas en las partes altas de la Sierra del Tlaloc y los nuevos<br />

asentamientos habitacionales muestran mayores índices de pobreza y marginación. Adicionalmente, el perfil demográfico de la región,<br />

en la cual predominan los jovenes en edad productiva, se expresa en problemas como la invasión del comercio informal;<br />

farmacodependencia y alcoholismo juvenil; déficit de alumbrado público y de centros deportivos.<br />

Esta realidad hace impostergable la construcción de un proyecto alternativo de desarrollo regional que incorpore la más amplia<br />

participación social.<br />

En la región centro oriente del Estado de México existe una tradición de participación social y política, que se refleja en la existencia<br />

de movilizaciones sociales en defensa de los recursos (Mata y López, 2001), así como en una capacidad de reflexión sobre la<br />

problemática regional. Esto se expresa en un conjunto de propuestas que serán importantes insumos para la construcción del<br />

proyecto alternativo de desarrollo. A reserva de realizar un inventario detallado y sistemático de las investigaciones y propuestas<br />

generadas por los centros de investigación asentados en la región, resulta ilustrativo señalar la existencia de un conjunto de planteamientos<br />

para enfrentar la problemática regional desde una perspectiva vinculada a la sustentabilidad. Así, podemos mencionar las siguientes<br />

propuestas:<br />

Propuesta integral para crear el Area Protegida del Tetzcotzinco<br />

Propuesta para declarar al Valle de México como Area Protegida (Mata, 2001).<br />

Programa Integral de Tratamiento del agua residual del Valle de México (Tolivia, 2001).<br />

Programa de planeación regional y ordenamiento territorial basado en el ambiente (Rocha, 2001).<br />

Crear el Sistema de Información Geográfica de la Cuenca de México (Noriega y Zapata, 2001).<br />

Promover el establecimiento de plantaciones forestales de protección en las cuencas de recepción del Valle de México (Sánchez y<br />

colaboradores, 2001).<br />

Conformar el Comité de Planeación del Desarrollo Regional de la Cuenca del Valle de México, que se aboque a diseñar el Plan de<br />

Desarrollo Regional, los planes de Desarrollo Municipales y los programas de Desarrollo Urbano-Rural (Almaguer y colaboradores,<br />

2001).<br />

Propuesta de ordenamiento territorial de la Cuenca del Río Texcoco (Rivera y colaboradores, 2001), en la que se plantean propuestas<br />

por faceta para las tres zonas de la cuenca.<br />

Zona Baja: Piscicultura, Criaderos de venado, proyectos de agricultura sustentable, ordenamiento legal para evitar la invasión de<br />

predios para uso urbano, y educación ambiental.<br />

Zona Media: Agricultura de conservación, agricultura biointensiva, reforestación, invernaderos, Frutales, agricultura multifuncional,<br />

criadero cinegético e invernaderos familiares y Ecoturismo.<br />

Zona Alta: Manejo pecuario, reforestación, ordenamiento legal del bosque, Ecoturismo y Turismo alternativo.<br />

Estas propuestas de tipo general se complementan con planteamientos específicos que enfatizan acciones como: Aprovechamiento<br />

racional de los bosques, impulso al turismo, producción artesanal, promoción a la agroindustria y manufacturas, clausura de los<br />

tiraderos de basura a cielo abierto y construcción de rellenos sanitarios regionales, entre otros.<br />

El Plan de Desarrollo Municipal 2000-2003 del H. Ayuntamiento Constitucional de Texcoco también ofrece un conjunto de líneas que<br />

reflejan un conocimiento suficiente de la problemática regional, pero cuya concreción se ha visto obstaculizada por falta de recursos<br />

o de participación social. 4<br />

Existe también un conjunto de propuestas específicas a nivel local. Tan sólo para el caso de San Salvador Atenco se plantean<br />

necesidades que implican acciones a nivel parcelario. 5<br />

En suma, existe un importante acervo que permite soportar la construcción de un proyecto alternativo de desarrollo para la región<br />

Texcoco-Atenco. Sin embargo, el hecho es que falta dar una estructura general y un soporte social al proyecto que sea capaz de<br />

movilizar al conjunto de los actores regionales en la búsqueda de un futuro común viable y sustentable.<br />

Planteamiento metodológico y relación con los actores<br />

Partimos del supuesto básico que no existe proyecto democrático sin la participación social por lo que las instancias de<br />

planeación, coordinación y ejecución del Proyecto deberán de iniciar desde la base. Sin embargo esta idea central debe ser confrontada<br />

con la certeza de que los académicos involucrados no pueden convertirse en cronistas o relatores de las intenciones o impresiones<br />

expresadas en las comunidades. Esta cuestión, presente en toda experiencia de desarrollo, interpela a los participantes en sus formas<br />

de trabajo y remite también a las expectativas de las comunidades sobre las aportaciones del equipo técnico. En principio, lo que<br />

resulta claro es que es imprescindible tener una visión regional a futuro, construida socialmente, para encauzar las fuerzas sociales<br />

hacia un proyecto de interés público.<br />

Toda vez que la sociedad regional cuenta con un acervo técnico, social y político suficiente para construir un proyecto alternativo de<br />

desarrollo regional, un primer paso es convocar a los actores regionales a construir esa visión de futuro de la región. En esta perspectiva<br />

el equipo técnico de Chapingo ha consensado los siguientes elementos dirigidos a dicho fin.<br />

1. En primer lugar se plantea la necesidad de delimitar el área de trabajo para una propuesta de desarrollo regional. En este caso se<br />

711


propone que ésta comprenda los municipios de Texcoco, Atenco, Chiconcuac, Tezoyuca, Chiautla, Tepetlaoxtoc y Papalotla,<br />

bajo la consideración de que los municipios de Ecatepec, Acolman, Nezahualcoyotl, Chimalhuacán, Chicoloapan, Los Reyes e<br />

Ixtapaluca, actualmente presentan una dinámica distinta a la del área de trabajo propuesta, que desde esta perspectiva se asumiría<br />

como una región plan (Figura 1).<br />

2. Lo anterior tiene relevancia, pues una de las tareas principales para construir un proyecto democrático para el desarrollo regional<br />

es develar y fortalecer una identidad regional que, como hipótesis, existe en los municipios propuestos como región plan. Esta<br />

identidad tiene que ver con la relación que los habitantes mantienen con la tierra y las actividades agropecuarias y se expresa<br />

actualmente con vigor en las festividades religiosas comunitarias, pero puede ser fortalecida mediante los referentes regionales al<br />

pasado precolombino y el orgullo acolhua.<br />

3. Llegados a este punto, es posible plantear que la región Texcoco-Atenco se oriente a un perfil específico que permita organizar<br />

un modo de desarrollo regional pertinente. En principio, puede postularse que corresponde a esta región la tarea nacional de<br />

contribuir a evitar el colapso metropolitano, mediante la salvaguarda del recurso agua y el establecimiento de una frontera al<br />

crecimiento urbano desordenado.<br />

4. La elevada demanda de empleo que existe en la región Texcoco-Atenco, obliga a la definición de una propuesta de desarrollo que<br />

incorpore a los jovenes a un conjunto de actividades económicas capaces de preservar el ambiente para las futuras generaciones.<br />

Como hipótesis de trabajo, puede plantearse que la región cuenta con las características y la infraestructura de comunicaciones<br />

para convertirse en una puerta ecológica para la Ciudad de México. Esta posibilidad, que supone recuperar las dimensiones<br />

originales del Plan Lago, quedará más clara una vez que se cuantifique el volumen de mercancías que ingresan a la capital del país<br />

por la carreteras que cruzan la cabecera municipal, lo que a su vez permitirá estimar el tipo de servicios que se pueden organizar<br />

en torno a esta actividad económica.<br />

5. En el mismo tenor, se puede plantear la pertinencia de constituir a la región Texcoco Atenco como un polo científico, tecnológico<br />

y humanístico nacional. Esto implica establecer una política de atracción de las instituciones educativas y de investigación más<br />

prestigiadas para profundizar un perfil ya existente y perfilarlo como un verdadero eje de desarrollo regional. La elevada demanda<br />

de servicios educativos en la región, así como la presencia de la autopista Peñón-Texcoco, permiten establecer la pertinencia de<br />

esta orientación.<br />

6. Complementando el perfil anterior, se considera pertinente concentrar esfuerzos en la conformación de un polo recreativo<br />

científico y cultural en la región Texcoco-Atenco. Aquí también resulta un privilegio contar con la autopista Peñón-Texcoco, pues<br />

permite el acceso desde una de las zonas más pobladas y depauperadas de la Ciudad de México, que puede constituirse en una<br />

población objetivo para una recreación masiva y de bajo costo.<br />

7. Por supuesto, estas orientaciones tienen como condición y soporte el fortalecimiento de las actividades agropecuarias y<br />

forestales en la región.<br />

Con base en lo expuesto, se considera que la primera tarea a construir es discutir a profundidad las propuestas del apartado anterior.<br />

Por ello, un primer nivel de acción es la difusión amplia de la propuesta para su análisis, sistematización y coordinación en las<br />

diferentes comunidades y pueblos de la región a través de las asambleas populares.<br />

En esta fase es fundamental resolver un conjunto de cuestiones teóricas y metodológicas, entre las que destacan:<br />

♦ El reconocimiento de las formas de reproducción social de los pobladores de la región y la consecuente necesidad de un<br />

planteamiento de desarrollo regional centrado en la sociedad rural, más que en las problemáticas agropecuarias específicas.<br />

♦ El compromiso con una escala de trabajo regional como condición para una propuesta de planeación que verdaderamente cuente<br />

con posibilidades de trascender.<br />

Una vez resuelta la pregunta central de cúal es el tipo de región que desean construir los pobladores de las diferentes<br />

comunidades, se puede iniciar una segunda fase de estructuración del programa, a través del establecimiento de compromisos y<br />

convenios con las representaciones locales ejidales, municipales y con los frentes y organizaciones sociales que participan activamente<br />

en la zona. Esta fase es fundamental para otorgar la máxima representatividad y soporte legal a la propuesta de desarrollo regional y<br />

abre paso a la fase más activa del estudio y análisis para la detección de problemáticas específicas, a través de talleres de autodiagnóstico<br />

y de planeación estratégica.<br />

Finalmente se plantea la presentación del Proyecto de Desarrollo para la Región Atenco Texcoco ante las instancias<br />

federales y estatales, así como ante los organismos internacionales para su discusión y financiamiento.<br />

Este planteamiento general se encuentra condicionado por la participación de los actores sociales, a partir de sus expectativas<br />

e intereses específicos. En general, la suerte del proyecto de desarrollo alternativo para la región Atenco Texcoco, dependerá de cómo<br />

se expresen los siguientes actores:<br />

♦ Los pueblos y comunidades de la región<br />

♦ La dirigencia del movimiento social<br />

♦ Los gobiernos municipales<br />

♦ Las instituciones educativas de la región.<br />

El megaproyecto aeropuertario dividió a los pueblos y comunidades de la región en dos percepciones, quienes tenían la<br />

expectativa de un mejoramiento económico y quienes vieron amenazado su modo de vida. Actualmente esta división tiene su mayor<br />

expresión precisamente en el municipio de Atenco, donde los campesinos movilizados desconocieron a las autoridades municipales<br />

y recientemente constituyeron un Consejo Popular Autónomo para encargarse de los asuntos comunitarios a semejanza de los<br />

municipios autónomos zapatistas de Chiapas. Sin embargo el presidente municipal legalmente en funciones, despacha en una<br />

comunidad vecina y amenaza con retomar las instalaciones municipales por la fuerza, con el apoyo de una parte de la población que<br />

cuestiona la persistencia de las movilizaciones una vez que el proyecto aeropuertario fue cancelado.<br />

Por esta razón el proyecto alternativo enfrenta la dificultad de comunidades y pueblos divididos y sumergidos en conflictos<br />

político partidarios.<br />

Otra vertiente de la problemática es la percepción que la dirigencia política y los campesinos movilizados tienen sobre un<br />

plan de desarrollo regional.<br />

Durante la fase de las movilizaciones, los campesinos de Atenco enfrentaron con justificado recelo las iniciativas para<br />

conformar un plan de desarrollo con la participación de las autoridades del municipio de Texcoco. Ello implicó perder un tiempo muy<br />

712


valioso ante la premura de resolver sobre la derogación del decreto expropiatorio. Pero ahora que se reconoce la pertinencia de elaborar<br />

un proyecto alternativo, aparecen las siguientes dicotomías, sujetas a consideraciones de orden político diverso:<br />

♦ Proyecto regional, o acciones inmediatas a escala parcelaria.<br />

♦ Enfoque de desarrollo rural sustentable, o acciones técnicas tradicionales.<br />

♦ Proyecto a largo plazo, o gestión inmediata de apoyos para la producción.<br />

Uno de los componentes destacados del movimiento contra el aeropuerto, fue su deslinde de los partidos políticos y de las<br />

autoridades municipales. Actualmente, uno de los retos del proyecto es constituirse en un espacio de convergencia de las diferentes<br />

fuerzas políticas y sociales preocupadas por un desarrollo alternativo para la región.<br />

Finalmente, las instituciones educativas y los equipos académicos enfrentan sus propias limitaciones, producto de dos<br />

décadas de neoliberalismo que han minado las capacidades de participación social. Este constituye uno de los principales retos a<br />

superar.<br />

Organización actual del proyecto de investigación<br />

El proyecto se encuentra organizado actualmente a través del siguiente esquema, en el cual se destaca la importancia de la<br />

perspectiva territorial, a partir del análisis regional, que integra las dimensiones de la identidad y la cultura, con una perspectiva sobre<br />

el tipo de inserción que puede lograr la región a su entorno para maximizar a favor de sus habitantes los elementos que la caracterizan.<br />

Análisis Regional (Territorio)<br />

Identidad y Cultura Agricultura y Recursos<br />

Naturales<br />

713<br />

Inserción Regional para<br />

el Desarrollo<br />

La dimensión de la agricultura y los recursos naturales se compone como el eje articulador desde una perspectiva de<br />

desarrollo rural que busca resolver los desafíos del empleo y la generación de ingresos para la región, capitalizando la cercanía con la<br />

Ciudad de México y sus millones de consumidores potenciales de servicios recreativos y culturales, así como de alimentos sanos.<br />

Este esquema permite dar cauce a los trabajos de cinco áreas estratégicas de desarrollo: (1) Identidad cultural de la región. (2)<br />

Fortalecimiento de la propiedad social. (3) Desarrollo sustentable. (4) Fortalecimiento de las actividades agropecuarias y forestales<br />

(5) Integración de servicios.<br />

Finalmente, es importante señalar que esta propuesta de desarrollo tiene como una de sus variables relevantes al tiempo. La<br />

región cuenta con una base de legitimidad y un acervo de participación social que juegan a favor de sus propuestas. Generar esquemas<br />

de trabajo incluyentes y eficaces se convierte por ello en uno de los principales retos para todos los participantes.<br />

Conclusión<br />

Resulta difícil establecer una conclusión sobre un proceso en marcha. Hasta el momento, puede destacarse la fuerte tensión<br />

entre los ritmos y propósitos académicos, que conforman un vector de fuerza, enfrentado al vector de las expectativas políticas y<br />

productivas locales. Manejar esta tensión a través de un programa de actividades riguroso, que ofrezca avances tangibles en la escala<br />

local y comunitaria, sin perder de vista los propósitos regionales, se constituye en uno de los principales desafíos del proyecto.<br />

En esta perspectiva, la definición más reciente del equipo académico consiste en centrar sus actividades en dos proyectos<br />

de acción local: el establecimiento de una parcela demostrativa en una localidad del municipio de Texcoco, orientada a la recuperación<br />

de suelos y la diversificacion productiva, y el establecimiento de un módulo agroturístico en un predio del municipio de Atenco,<br />

orientado a mostrar las posibilidades de la región a partir de una relación virtuosa con la Ciudad de México. Estos proyectos se están<br />

elaborando actualmente y serán presentados a las comunidades para su aprobación antes de finalizar el año.


Bibliografía citada<br />

♦ Almaguer, Gustavo, Adrián Lozano y Eugenio Santacruz. 2001. Consideraciones Finales del Foro Retos y Perspectivas ecológicas<br />

para la cuenca del Valle de México. Universidad Autónoma Chapingo, México, pp. 107-109.<br />

♦ Dirección de Planeación y Desarrollo Municipal. 1997. Diagnóstico del Municipio de Texcoco de Mora, Estado de México,<br />

México.<br />

♦ Mata, Bernardino y Sinecio López. 2001. “La ENA-UACh y la Investigación-Servicio en la región Oriente del Valle de México:<br />

1971-2001” En: Almaguer y colaboradores, Memoria del Foro Retos y Perspectivas ecológicas para la cuenca del Valle de<br />

México. Universidad Autónoma Chapingo, México, pp. 1-12.<br />

♦ Noriega, Gerardo y Raúl Zapata. 2001. “Integración del ordenamiento ecológico de la Cuenca de México”. En: Almaguer y<br />

colaboradores, Memoria del Foro Retos y Perspectivas ecológicas para la cuenca del Valle de México. Universidad Autónoma<br />

Chapingo, México, pp. 100-106.<br />

♦ Pájaro, David. 1992. Diagnóstico de la problemática del Ejido de San Salvador Atenco, Estado de México. Colegio de Postgraduados,<br />

México, 52 pp.<br />

♦ Plan de Desarrollo Municipal 2000-2003. H. Ayuntamiento Constitucional de Texcoco de Mora, Texcoco, Estado de México.<br />

♦ Rivera, Julio, César Moreno y Ricardo Gómez. 2001. “Ordenamiento ecológico de la cuenca del Río Texcoco: Zona representativa<br />

del Estado de México”. En: Almaguer y colaboradores, Memoria del Foro Retos y Perspectivas ecológicas para la cuenca del<br />

Valle de México. Universidad Autónoma Chapingo, México, pp. 88-99.<br />

♦ Rocha, Marco Antonio. 2001. “Planeación territorial y medio ambiente. La Zona Metropolitana de la Ciudad de México” En:<br />

Almaguer y colaboradores, Memoria del Foro Retos y Perspectivas ecológicas para la cuenca del Valle de México. Universidad<br />

Autónoma Chapingo, México, pp. 36-50.<br />

♦ Sánchez, Alejandro, A. Palma y R. M. García. 2001. “Algunas reflexiones sobre el impacto de la deforestación en la recarga de<br />

acuíferos del valle de México” En: Almaguer y colaboradores, Memoria del Foro Retos y Perspectivas ecológicas para la cuenca<br />

del Valle de México. Universidad Autónoma Chapingo, México, pp. 51-55.<br />

♦ Tolivia, Enrique. 2001. “El impacto económico, social y ambiental de la degradación del suelo en el Valle de México” En:<br />

Almaguer y colaboradores, Memoria del Foro Retos y Perspectivas ecológicas para la cuenca del Valle de México. Universidad<br />

Autónoma Chapingo, México, pp. 29-35.<br />

714


Cuadro 1. Superficies expropiadas para el megaproyecto aeropuertario, según comunidades<br />

y municipios<br />

Comunidad Municipio Dotación<br />

(ha)<br />

715<br />

Superficie<br />

expropiada<br />

(ha)<br />

Superficie<br />

expropiada/d<br />

otación (%)<br />

Número de<br />

ejidatarios<br />

Atenco Atenco 1 396 1 079 77.3 1 482<br />

Nexquipayac Atenco 972 889 91.5 677<br />

Francisco I. Madero Atenco 410 291 71.0 326<br />

Acuexcomac Atenco 333 231 69.4 296<br />

Santa Isabel Ixtapan Atenco 1 252 601<br />

Tocuila Texcoco 972 599 61.6 398<br />

San Martín Texcoco 145 38<br />

San Bernardino Texcoco 884 101 11.4 162<br />

Santiago<br />

Cuauhtlalpan<br />

Texcoco 134 78<br />

Santa Cruz de Abajo<br />

y San Felipe<br />

Texcoco 432 243 56.2<br />

La Magdalena Texcoco 24 24<br />

Panoaya<br />

Huexotla Texcoco 92 57<br />

Chimalhuacán Chimalhuacán 1 446 312 21.6<br />

Total 5 390 3977<br />

Fuente: Proyecto Alternativo de Desarrollo para la Región Atenco-Texcoco. Marzo de 2002.


Figura 1. Región oriente del Estado de México y localización de la Región Atenco-Texcoco<br />

716


EL PLAN DE DESARROLLO LOCAL DE LA PEDANÍA PICHANAS. ASPECTOS<br />

METODOLÓGICOS Y RESULTADOS<br />

1. INTRODUCCIÓN:<br />

717<br />

Saal, G. 1 ; y G. Bergamín 2<br />

Desde mediados de los ´90, comenzó a implementarse en diferentes comunidades del oeste del departamento Cruz del Eje,<br />

Córdoba, un proceso de promoción social orientado a productores minifundistas y trabajadores rurales. Este proceso, está basado en<br />

dos ejes, el primero centrado en la capacitación técnica productiva y el segundo en el desarrollo organizativo. Estas actividades fueron,<br />

en gran medida, promovidas a partir de una acción de un grupo de profesionales que se constituyeron como equipo técnico de apoyo<br />

a distintas actividades realizadas por los distintos grupos comunitarios que hoy integran la Asociación de Productores del Norte de<br />

Córdoba (APENOC), posiblemente la experiencia organizativa actual de mayor relevancia en el noroeste provincial.<br />

A partir de 1999, participa un equipo de trabajo de la Facultad de Ciencias Agropecuarias de la UNC, quienes aportan criterios<br />

metodológicos a un proceso de desarrollo regional que alcanza a un número importante de actores, esas actividades posibilitaron el<br />

desarrollo de un plan de acción para la región basado, principalmente, en el diagnóstico realizado por dichos actores y la planificación<br />

de acciones de promoción planteados de manera endógena por los participantes (Bergamín y otros, 2001).<br />

El área de éste trabajo es el oeste del departamento Cruz del Eje (Córdoba) en particular la pedanía Pichanas. La región,<br />

ubicada en región agroecológica del chaco árido, presenta una situación de marginalidad en los aspectos sociales y económico -<br />

productivos, en particular para el estrato minifundistas de productores definidos según el concepto de Margiotta y Benencia (1998),<br />

como aquellos que, por limitantes estructurales, no satisfacen todas sus necesidades básicas.<br />

Se realizaron estudios de fuentes de información secundaria, entrevistas a informantes calificados y espacios de concertación<br />

entre actores sociales representativos con talleres regionales y talleres comunitarios. El resultado fue un diagnóstico de la región y un<br />

plan de acción consensuado el cual se propone como instrumento de acción para orientar políticas públicas.<br />

2. ANTECEDENTES Y MARCO TEÓRICO<br />

A partir de una iniciativa de un grupo de profesionales de las ciencias Agropecuarias y Sociales, a mediados de los ´90<br />

comienzan a realizar acciones de capacitación y promoción de proceso organizativos en diferentes comunas y parajes rurales del oeste<br />

de la provincia de Córdoba. Estas acciones promueven un número importante de grupos organizados que posteriormente adquieren<br />

una estructura formal, la Asociación de Productores del Norte de Córdoba (APENOC).<br />

A partir de 1999, se comienza a trabajar en la profundización de estas acciones con el fin de promover un programa de<br />

desarrollo local, en éste caso con el apoyo de la Facultad de Ciencias Agropecuarias de la UNC (Bergamín y otros, 1999). El proceso,<br />

actualmente en desarrollo, permitió profundizar e integrar a las acciones comunitarias, una dimensión regional. Como producto<br />

principal de estas acciones se elaboró un plan director que hoy está siendo debatido para su apropiación y el cual, se espera se<br />

constituya en una herramienta para interactuar con el sector público en el reclamo de políticas para la región.<br />

La temática del desarrollo local comenzó a debatirse como concepción teórica y a aplicarse como propuesta metodológica<br />

en Argentina a mediados de los ´80 vinculada a otros conceptos como desarrollo endógeno, autocentrado, sostenible o ecodesarrollo.<br />

Se coincide en la necesidad de búsqueda de nuevas orientaciones, para avanzar y/o profundizar en el desarrollo de nuestro país. País<br />

en el cual, paradójicamente, hay desigualdades en el grado de desarrollo y bienestar alcanzado a través de un modelo con el que estas<br />

nuevas orientaciones quieren contrastarse (Giberti, 1985).<br />

Los programas de planificación estratégica se pueden entender como una nueva opción metodológica en que se redefine la<br />

función de los actores locales, entre otros de los municipios o comunas. Se parte del objetivo de vincular a la comunidad con el estado<br />

y las instituciones para definir la prestación de servicios y la toma de decisiones a nivel local. Se propone que la identificación de<br />

problemas, la priorización para abordarlos y la utilización de los recursos disponibles puede ser entendida como una tarea mancomunada.<br />

A nivel conceptual, también podemos entender a estos planes como una herramienta instrumental de promoción de un proceso<br />

endógeno de desarrollo económico local, entendido éste como un proceso de transformación de la economía y de las sociedades locales<br />

que tiene como fin mejorar las condiciones de vida de la población, mediante una acción conjunta entre los diferentes agentes<br />

socioeconómicos locales mediante el aprovechamiento eficiente y sustentable de los recursos con que cuenta la comunidad en<br />

cuestión, mediante el fomento de las capacidades de desarrollo de emprendimientos productivos y la creación de un entorno<br />

innovador.


En la provincia de Córdoba se han desarrollado, en los últimos años diferentes programas de estas características, impulsados<br />

por agrupaciones de municipalidades o comunas, como el EINCOR (Norte de Córdoba), ADESUR (Sur de Córdoba), EMRS<br />

(Departamento Río Segundo), o por municipios como Córdoba, Villa Carlos Paz, Bell Ville y Unquillo. Estos programas han surgido,<br />

en general en forma vertical, desde los municipios, que se constituyeron en los centros convocantes. El desarrollo de las líneas surgidas<br />

de los diagnósticos han tenido diferentes niveles de realización y profundización, podemos mencionar el caso del municipio de<br />

Unquillo en el cual el plan director sólo fue aplicado parcialmente, hasta el caso del Ente Intercomunal del Norte de Córdoba<br />

(EINCOR) en el cual se ha ampliado el número de actores participantes y algunos de los proyectos como el caso del proyecto de<br />

promoción caprina tienen un desarrollo relevante (Bergamín y otros, 1999).<br />

La planificación estratégica, se entiende, debe constituirse en un medio para mejorar la gestión de los gobiernos municipales,<br />

como una manera contrapuesta a la modalidad desarrollada en sistemas centralizados y busca formalizar y ordenar las instancias de<br />

discusión de los asuntos locales, teniendo en cuenta la opinión de la comunidad.<br />

Desde el punto de vista político, ésta propuesta metodológica tiene en la participación ciudadana un acercamiento al<br />

funcionamiento democrático de los sistemas de gobierno, en que más que una función delegada en funcionarios, la determinación de los<br />

problemas a abordar, la priorización del uso de los recursos, la ejecución de los proyectos y la evaluación pasan a manos de los<br />

distintos agentes participantes. En el caso del programa de desarrollo del oeste de Cruz del Eje, se entiende que su surgimiento, tuvo<br />

un origen endógeno. El diagnóstico y la elaboración de las alternativas de solución surgieron de instancias de participación de los<br />

beneficiarios directos de los proyectos.<br />

Se considera que un proyecto político se estructura a partir de una imagen futura de la sociedad a la cual se refiere; sin dicha imagen<br />

no puede haber conducción social porque simplemente no se sabe a donde ir.<br />

Un proyecto político democrático debe tener una planificación con elevada participación social, sin embargo es m<br />

‘e1s fácil hablar de participación que ponerla en práctica, sin proponer que en la preparación de un proyecto van a estar<br />

todos los habitantes de la región, el grado y el nivel de decisión en la participación puede ser variable e intencionalmente manipulado.<br />

La gestión del desarrollo regional es vista como una tarea permanente que envuelve responsabilidades para todos los agentes<br />

y asocia esa gestión al trabajo desarrollado por los funcionarios del propio gobierno de la región y específicamente con las labores de<br />

quienes son responsables de generar señales e información para el resto bajo la forma de un plan o de una estrategia de desarrollo para<br />

la región. a su vez privilegia un enfoque sistémico que contempla la complejidad organizada de la región así como la interacción entre<br />

sus elementos constitutivos. Si el propósito es alcanzar un estado de desarrollo para la región en cuestión, es necesario elaborar un<br />

proyecto político, no solamente una estrategia tal como se entiende actualmente ese concepto Boisier (1991).<br />

En el mismo sentido,Alburquerque (1997) plantea que “ en la práctica, el desarrollo económico local supone siempre la<br />

creación de institucionalidad para el fomento económico territorial; la diversificación de actividades productivas y mejora de la<br />

eficiencia productiva y competitividad de las actividades y empresas existentes; la mejora de la cualificación de los recursos humanos<br />

y del mercado de trabajo local; la promoción de nuevos emprendimientos empresariales y el mejor conocimiento del medioambiente<br />

y recursos naturales locales»<br />

3. METODOLOGÍA<br />

Para el análisis de contexto se realizó un diagnóstico a dos niveles, el primero definido como heterodiagnóstico se basó en<br />

el estudio de fuentes secundarias y relevamiento de información primaria mediante entrevistas a informantes calificados y observación<br />

Ander Egg (1983); Sierra Bravo (1991) .<br />

El segundo nivel fue un diagnóstico participativo basado en la interacción con actores considerados representativos<br />

pertenecientes a instituciones como municipios y comunas, escuelas, intituciones religiosas, cooperativas, asociaciones de productores<br />

y ONGs. Se trabajó con talleres por comunidades y talleres regionales. En ambos se emplearon la técnicas FODA con el propósito<br />

de favorecer el descubrimiento de los aspectos favorables del entorno definidos como las Fortalezas y Oportunidades y a la vez las<br />

dificultades planteadas como Debilidades y Amenazas. Se trabajaron secuencialmente el diagnóstico de los problemas, elaboración de<br />

posibles alternativas de solución, selección de alternativas, elaboración de propuestas de acción y estrategias para su logro y<br />

actualmente se está en la fase de discusión y aprobación de las propuestas.<br />

718


4. RESULTADOS<br />

En el heterodiagnóstico se define a la Pedanía Pichanas (Noroeste del Departamento de Cruz del Eje) como un área<br />

heterogénea tanto en aspectos ambientales como en desarrollo económico y social. Comparte junto a otras zonas del norte y oeste de<br />

la provincia de Córdoba una situación precaria en términos de calidad de vida de una parte importante de su población, en particular<br />

los pobladores de comunidades minifundistas y una gran mayoría de su población urbana.<br />

Las causas de esta situación se cita el ambiente, siendo el rasgo de mayor relevancia su aridez, aspectos históricos que han<br />

determinado entre otros aspectos una desigual distribución de la tierra, existiendo una gran concentración de tierras en pocas<br />

explotaciones y la mayor cantidad de los productores en minifundios con serias dificultades para satisfacer sus necesidades básicas<br />

y aspectos políticos que han determinado una situación de marginalidad de ésta región por parte de políticas públicas, lo que es visible<br />

en la precaria o inexistente infraestructura de servicios en la que se encuentran la mayor parte de las comunidades urbanizadas y rurales<br />

del departamento.<br />

Se diferencian dos situaciones, por un lado la región de secano que ocupa parte de la región serrana y llanas pertenecientes<br />

a la región chaqueña árida o zonas de ambientes salinos en donde predominan actividades extensivas de baja productividad como la cría<br />

de ganado bovino o caprino, explotación forestal del monte nativo y producciones en pequeña escala de fruti-horticultura y/o granja<br />

orientado principalmente al autoconsumo. La otra región de relevancia es la zona modificada por acción del hombre para producción<br />

frutihortícola bajo riego, en las que se destacan los sistemas desarrollados a partir de los embalses de Cruz del Eje y Pichanas. Tanto<br />

en el área de secano como en las zonas de riego el rasgo predominante es el de crisis, en la primera por la baja productividad de la mayor<br />

parte de los sistemas, y en las áreas de riego, que se constituyeron como polos de desarrollo, debido a problemas de precios de<br />

diferentes rubros de producción.<br />

Para el autodiagnóstico, se realizaron talleres por comunidad en Cachiyuyo, la Batea, Las Playas, Cañada Larga, Puesto<br />

Silva y Zona Sur. Los temas planteados se clasificaron en función de su área de mayor incidencia en: Técnicos Productivos (TP), de<br />

Servicios y Políticas Públicas (SPP), Comerciales (CO) y Organizativos (O) (Tabla 1).<br />

Tabla 1: resultados de los talleres por comunidades<br />

Taller Tema/Situación problema TP SPP CO O<br />

La Batea Conocimiento para elaborar queso de cabra X<br />

La Batea Falta de planes de mejoramiento genético de<br />

cabras<br />

La Batea Dificultad para conseguir medicamentos p/<br />

cabras<br />

La Batea Corrales para cabras inadecuados X<br />

719<br />

X<br />

X X<br />

La Batea Deficiencias en las tomas para represas X<br />

Las Playas Aguas contaminadas X<br />

Las Playas Falta de integración entre los vecinos X<br />

Las Playas Medicamentos y suplementos p/caprinos caros X<br />

Las Playas Conocimiento sobre apicultura y cría de pollos X<br />

C. Larga Alto precio del servicio médico X<br />

Puesto Silva Tenencia de la tierra X<br />

Puesto Silva Posibilidad de estacionar cabritos X X


Puesto Silva Poca asistencia a las reuniones X<br />

Puesto Silva Suplementos para caprinos caros X X<br />

Puesto Silva Insuficiencia de agua para animales X<br />

Puesto Silva Bajo precio de los cabritos y carbón X X<br />

Puesto Silva Alto precio de las mercaderías de almacén X X<br />

Puesto Silva Aprovechamiento turístico de El Quicho X<br />

Zona Sur Dificultad para conseguir agua X<br />

Zona Sur Comercialización de cabritos y quesos X X<br />

Zona Sur Falta de medios de transporte X<br />

Zona Sur Tenencia de la tierra X<br />

Zona Sur Desocupación<br />

Cachiyuyo Mal estado de los caminos X<br />

Cachiyuyo Mal estado del sistema de riego X<br />

Cachiyuyo Comercialización de quesos y dulces X<br />

Total (31) 6 11 7 7<br />

% 19 35 23 23<br />

Como se observa en la tabla 1, en los talleres por comunidad de los temas o situaciones problemas, identificados, aparecen<br />

en primer lugar los que tienen que ver son servicios y políticas públicas, luego los vinculados a la problemática de<br />

comercialización y organización y por último los de implicancia técnica productiva.<br />

720


En el taller regional de diagnóstico los Temas / Situaciones problemas abordados se sistematizan en la tabla nº 2<br />

Tema/Situación problema TP SPP CO O<br />

Tabla 2: Resultados del taller regional de diagnóstico<br />

Aislamiento de los pequeños productores X<br />

Servicios de salud X<br />

Bajo precio de los productos forestales X<br />

Capacitación en curtido de cuero X X<br />

Capacitación en apicultura X<br />

Capacitación en manejo del monte X<br />

Capacitación en administración rural y comercialización X X<br />

Capacitación en elaboración de productos artesanales y<br />

agroindustriales<br />

721<br />

X X<br />

Bajo precio de los cabritos X<br />

Conflicto al cerrarse los campos grandes X<br />

Falta de instalaciones ganaderas X X<br />

Falta de agua potable X<br />

Uso ineficiente del agua de riego X<br />

Inequidad en la distribución del agua de riego. X<br />

Bajos precios de los productos agrícolas X<br />

Migración rural-urbana X<br />

Adjudicación de parcelas a inversores de fuera de la región. X<br />

Falta de perspectivas de trabajo para los técnicos de nivel medio X<br />

Inasistencia de alumnos a est. educativos por necesidad de los<br />

padres de hacerlos trabajar<br />

Insuficiencia de los servicios médicos X<br />

Mal estado de los caminos: dificultad el acceso y la<br />

comercialización.<br />

X<br />

X


Insuficiencia y en muchos casos inexistencia de transporte<br />

colectivo<br />

Falta de electrificación rural X<br />

Desmantelamiento del sistema ferroviario X<br />

Falta de agua en la zona norte ( p/consumo humano y animal) X<br />

Falta de capital productivo X X<br />

Títulos de la tierra precarios X<br />

Falta de capacidad de acopio X X<br />

Falta de recursos financieros X<br />

Dificultades para comercializar los productos agropecuarios X<br />

Falta de clubes recreativo/deportivos X X<br />

Migración rural-urbana X<br />

Desocupación X<br />

Formación e inseguridad laboral X<br />

Falta de red de comunicación institucional X<br />

Trabas para acceder a guías forestales y boletas legales X<br />

TOTAL (43) 8 26 5 4<br />

% 19 60 12 9<br />

En el taller regional de propuestas los Temas / Situaciones problemas abordados se sistematizan en la tabla 3<br />

722<br />

X


Tabla 3: resultados del taller regional de planificación estratégica.<br />

Propuesta/objetivos TP SPP CO O<br />

Estructurar un sistema de salud organizado con un área de<br />

cobertura, con responsables para emergencias.<br />

Capacitar a agentes sanitarios en cada comunidad para que<br />

puedan atender emergencias y comunicarse con el servicio<br />

médico<br />

Capacitar a los jóvenes y productores en apicultura, X X<br />

Capacitar a los jóvenes y productores en curtido de cueros X<br />

Capacitar a los jóvenes y productores en manejo de monte X<br />

Capacitar a los jóvenes y productores en pastoreo X<br />

Capacitar a los jóvenes y productores en administración rural X X<br />

Capacitar a los jóvenes y productores en comercialización X<br />

Capacitar a los jóvenes y productores en elaboración de<br />

productos artesanales o agroindustriales<br />

Mejorar la práctica docente en las escuelas agrotécnicas para<br />

lograr que sus egresados salgan con una formación adecuada a<br />

las necesidades de la zona.<br />

Desarrollar instituciones recreativas y deportivas aprovechando<br />

edificios existentes como escuelas, iglesias, etc.<br />

Instalar molinos comunitarios en zonas con aguas subterráneas<br />

aprovechables<br />

Gestionar la disponibilidad de créditos adecuados para los<br />

pequeños productores<br />

Promover el acceso a títulos de las tierras en manos de los<br />

productores<br />

723<br />

X<br />

X<br />

X<br />

X X<br />

X X<br />

X X<br />

X X<br />

Promover sistemas asociativos para facilitar la comercialización. X X<br />

Desarrollar estrategias laborales para disminuir la desocupación X X<br />

Aumentar la productividad de los rubros actuales de producción X<br />

Retener a la población en su lugar de orígen X


Facilitar el acceso a las guías forestales para los hacheros X X X<br />

Solicitar servicios de ómnibus con una frecuencia de día por<br />

medio como mínimo.<br />

Mejorar las instancias de comunicación innstitucional X X<br />

Mejorar los caminos X<br />

Dotar a la zona de escuelas diferenciales X<br />

TOTAL (33) 8 13 4 8<br />

724<br />

X<br />

TP SPP CO O<br />

% 24 40 12 24<br />

PLAN DIRECTOR:<br />

El Plan Director se presenta como el resultado de las actividades de planificación participativa de la zona de Pichanas y<br />

contiene los objetivos y una estructura basada en programas y proyectos a implementarse dentro de un plan de desarrollo para la<br />

región.<br />

Las ideas centrales surgieron a partir de las distintas fases de intercambio con el aporte de representantes de las distintas<br />

instituciones .<br />

alguno.<br />

La numeración de las propuestas se realizan a efecto organizativo, no significando priorización u orden de importancia<br />

El trabajo de planificación pone a disposición de los actores involucrados un conjunto de programas y proyectos para su<br />

ejecución. En adelante se propone que la ejecución del Plan sea encaminado a través de una Agencia Local para el Desarrollo Local.<br />

Organización4 : El Plan Director está compuesto por programa, los que en algunos casos a su vez se componen por subprogramas y/<br />

o proyectos. De éstos, de los cuáles sólo se hace una mención de la temática que abarcan, actualmente están en proceso de discusión<br />

por los actores involucrados.<br />

PROGRAMAS Y PROYECTOS<br />

1.Programa de innovación productiva agropecuaria<br />

1.1 Sub-programa mejoramiento de la producción ganadera<br />

a) proyecto desarrollo de la producción caprina<br />

b) proyecto desarrollo de la producción bovina<br />

c) proyecto de desarrollo de la producción apícola<br />

d) proyecto de desarrollo de actividades pecuarias alternativas<br />

1.2. Sub-programa desarrollo del sector frutihortícola.<br />

a) proyecto de ordenamiento y eficientización de los sistemas de riego .


) proyecto de desarrollo de la producción frutihortícola familiar para autoconsumo en zona de secano<br />

c) proyecto de promoción de sistemas de producción frutihortícolas familiares bajo riego<br />

d) proyecto de promoción de sistemas de producción hortícolas familiares bajo cubierta<br />

e) proyecto de investigación adaptativa de nuevos sistemas y rubros de producción frutihortícolas.<br />

1.3. Sub programa de manejo y aprovechamiento sustentable de recursos naturales renovables<br />

a) proyecto de aprovechamiento sustentable del monte nativo<br />

b) proyecto de aprovechamiento sustentable de aromáticas nativas<br />

1.4. Sub-programa de desarrollo del sistema de industrialización y comercialización de la producción agropecuaria de<br />

la pedanía pichanas<br />

a) proyecto de promoción de producción orgánica<br />

b) proyecto de promoción de producción agroindustrial, elaborados artesanales, orgánicos y/o regionales.<br />

2 Programa de saneamiento de títulos<br />

3 Programa creación fuentes de trabajo: fomento PYMES, microemprendimientos, artesanía y servicios.<br />

4 Programa de Infraestructuras<br />

5 Programa de formación, inserción laboral y educativo-social<br />

6 Programa de mejoramiento del sistema de salud humana<br />

7 Programa de Turismo Rural<br />

8 Programa conservación y mejora del medioambiente<br />

5. CONCLUSIONES Y PROPUESTAS<br />

1. Las metodologías participativas de diagnóstico y planificacion del desarrollo local permitieron objetivar un número importante<br />

de situaciones problemas de tipo socioeconómico,ambiental y político que permitieron la construcción de un plan de desarrollo<br />

regional consensuado.<br />

2. Los programas de desarrollo regional permiten la articulación interinstitucional y el mejor aprovechamiento de los recursos<br />

empleados en políticas de promoción.<br />

3. La situación de marginalidad de la mayor parte de la poblción de la Pedanía Pichanas es consecuencia, por un lado, del<br />

proceso histórico de distribución desigual de los recursos naturales y por el otro por falta de políticas de desarrollo orientadas a<br />

los estratos campesinos, lo que profundizó la desigualdad.<br />

4. De las situaciones objetivadas como problemas significativos por los participantes en por comunidad se mencionan como<br />

el número más importante los relacionados a servicios y políticas publicas (SPP), en segundo lugar los comerciales (CO) y<br />

organizativos (O) y en último lugar aparecen los problemas realacionados aaspectos técnico-productivos .<br />

5. En los talleres regionales de diagnóstico y planificación estratégica, los problemas vinculados a servicios y plíticas públicas<br />

son los que se mencionan como mayoritarios en números, pero en éste caso los problemas técnicos productivos ocupan el<br />

segundo lugar , en el taller de dagnóstico se mencionan en tercer témino los problemas comerciales y por último los organizativos.<br />

En el Taller de planificación estratégica son mencionados a un mismo niverl que los problemas técnico- productivos los problemas<br />

organizativos, quedando en cuarto lugar los comerciales.<br />

6. El plan director responde a los ttemas surgidos de las actividades de diagnóstico y planificación estratégica, los programas<br />

y proyectos que lo componen deben servir de base a las instituciones responsables de las políticas de desarrollo y promoción,<br />

respondiendo a los problemas sentidos por los beneficiarios y en base a acciones priorizadas por los mismos.<br />

725


6. BIBLIOGRAFÍA<br />

Bergamín,G; Saal G.; Barrientos M.; Ryan S; Menna J.; y Meyer R.. 2000. Caracterización de los proyectos de desarrollo local en la<br />

provincia de Córdoba, su incidencia en los aspectos ambientales y rurales”. Informe académico de SeCyT-UNC.<br />

Bergamín,G; Saal G.; Barrientos M.; Ryan S; Menna J.; y Meyer R., 2001. diagnóstico integral de la pedanía Pichanas ( Dpto. Cruz<br />

del Eje) para la promoción de un plan de desarrollo local. CD Segundas Jornadas Intercisciplinarias de Estudios Agrarios y<br />

Agroindustriales. Bs. as.<br />

Margiotta, E. y R. Benencia 1998. “Introducción al estudio de la estructura agraria: la perspectiva de la sociología rural”. FAUBA.<br />

Mimeo.<br />

Giberti H. , 1985. Las dos Argentinas Agropecuarias. Revista Realidad Económica. Nº60/61. Bs. As.<br />

Boisier S.(1991), La gestión regional. un enfoque sistémico. ILPES, CEPAL, mimeo.<br />

Alburquerque Llorens F. (1997), “ Metodología para el desarrrollo económico local”. Documento del ILPES, CEPAL,<br />

Ander Egg E. 1993; Técnicas de investigación social. Magisterio del Río de la Plata. Bs. As.<br />

Sierra Bravo R, 1991 Técnicas de investigación social, teorías y ejercicios. De. Paraninfo.<br />

1 Cátedra de Extensión Rural. Fac. de C. Agropecuarias de la Universidad Nacional de Córdoba. galsaal@agro.uncor.edu<br />

2 Cátedra de Extensión Rural. Fac. de C. Agropecuarias de la Universidad Nacional de Córdoba. gbergami@ agro.uncor.edu<br />

726


orçamento participativo em municípios predominantemente rurais<br />

Hemerson Luiz Pase1 Introdução<br />

Este trabalho apresenta parte dos resultados de nossa dissertação de mestrado. O trabalho analisa a implantação do<br />

Orçamento Participativo enquanto um formato inovador de gestão dos recursos públicos, em particular, e do poder público, em geral,<br />

com participação direta dos cidadãos em municípios predominantemente rurais.<br />

Pretendemos analisar a relação entre os níveis de participação e a quantidade de recursos oferecida para o gerenciamento<br />

efetivo dos cidadãos e a cultura política tradicional enquanto elementos centrais para a obtenção de sucesso do Orçamento Participativo.<br />

Na primeira parte faremos a contextualização do Orçamento Participativo enquanto uma forma de gerir os recursos da<br />

administração pública com a participação direta dos cidadãos. Na segunda parte delimitaremos a problemática sob a qual pretendemos<br />

nos debruçar, situaremos nossas hipóteses centrais, além de apresentarmos brevemente o município que foi estudado: Floriano<br />

Peixoto. Na terceira parte faremos uma análise bibliográfica articulando e situando a emergência a cerca de alguns resultados que<br />

constituem relevantes para este artigo.<br />

1 – O contexto do orçamento participativo<br />

O Orçamento Participativo tem motivado um crescente número de cientistas que se sentem atraídos a pesquisarem formas<br />

inovadoras de gestão da coisa pública. As origens de tais processos de inovação na gestão pública são várias no entanto nos parece<br />

importante destacar duas situações como precursoras principais: de um lado o contexto histórico dos últimos 15 ou 20 anos, do Brasil<br />

em particular e do terceiro mundo ou dos países pobres em geral, de uma crescente democratização dos sistemas políticos nacionais<br />

em substituição a processos ditatoriais. De outro lado desenvolve-se uma tradição de esquerda que, uma vez livre das amarras da<br />

ditadura, conquista adeptos para suas fileiras partidárias e vitórias eleitorais significativas.<br />

Na década de 60 os países desenvolvidos começam a perceber a inadequação das políticas implementadas a partir do final<br />

da Segunda Guerra Mundial. Neste período inicia-se o impulso de um crescente processo de democratização dos sistemas políticos.<br />

Uma democratização com liberdade significativa incluindo (em alguns casos) a possibilidade da participação dos cidadãos diretamente<br />

na formulação e gestão de políticas públicas, além da possibilidade de exercer o direito do voto.<br />

A “redemocratização” do Brasil no final da década de 70 trouxe à tona o tema da cidadania que por muitos anos havia sido<br />

‘esquecido’, nenhum outro período da história brasileira debateu tanto este tema. Em 1988 a nova Constituição Federal institucionaliza<br />

a descentralização das políticas públicas quando impulsiona, com grande ímpeto, a descentralização das políticas públicas federais<br />

repassando consideráveis responsabilidades para municípios e estados (muitas vezes sem um repasse equivalente de recursos)<br />

imprimindo uma crescente importância ao poder local. Chegamos, na década de 90, a considerar normal a iniciativa do Estado de<br />

propor a constituição de “conselhos” para contribuir com toda e qualquer espécie de política pública. Multiplicam-se conselhos de<br />

saúde, de educação, de agricultura, de indústria e comércio, de assistência social, todos com participação da sociedade. Lembremos<br />

que esta situação seria impensável a 20 anos atrás, sob pena de significar um atentado a “segurança nacional”.<br />

De outro lado, o processo de democratização do Estado brasileiro possibilitou um contexto político favorável às organizações<br />

e movimentos sociais e aos partidos de esquerda, removendo as barreiras que os impediam de participar oficialmente dos processo<br />

institucionais, tais como as eleições. A partir deste contexto conseguem ocupar importantes espaços de poder institucionais, vários<br />

pleitos eleitorais são vencidos pelos partidos de esquerda pelo Brasil a fora. Estes partidos tem propostas político-ideológicas<br />

claramente contrárias ao autoritarismo e favoráveis a democratização com participação dos cidadãos.<br />

Vários municípios, e mais recentemente até estados, procuram implantar formatos inovadores de gestão do aparelho estatal,<br />

possibilitando uma crescente participação da população. Além da multiplicação dos conselhos ocorrem outras iniciativas tais como<br />

o Orçamento Participativo que é um formato que procura possibilitar a participação direta dos cidadãos na gestão dos fundos<br />

públicos.<br />

Vários estudos foram realizados no intuito de explicar como ocorrem e qual a metodologia, as motivações e principalmente<br />

os resultados do Orçamento Participativo sendo que um dos casos que se tornou emblemático é o de Porto Alegre, capital do Estado<br />

do Rio Grande do Sul. Os estudos sobre Porto Alegre afirmam que o Orçamento Participativo possibilitou a participação dos<br />

cidadãos, a realização de empreendimentos de forma redistributiva (em favor da população mais pobre), construiu relações<br />

crescentemente cidadãs em substituição a relações clientelistas entre poder público e população (Ver: Navarro, 1998 e Andrade,<br />

2000).<br />

Apesar deste interesse e de todos estes esforços permanecem várias lacunas, uma delas diz respeito, ao que sugerimos mais<br />

acima, a possibilidade de implantação, com sucesso, do Orçamento Participativo em municípios predominantemente rurais.<br />

2 – A problemática<br />

O Orçamento Participativo é considerado por alguns pesquisadores como um processo inovador de gestão do poder público<br />

com participação popular que tem contribuído crescentemente para a promoção da cidadania. Segundo Fedozzi o OP é “...uma<br />

estratégia para a promoção da cidadania... (e) vem até o presente momento e em seus aspectos essenciais, promovendo condições<br />

institucionais favoráveis à emergência da forma - cidadania...” (Fedozzi, 1996: 294), referindo-se ao OP de Porto Alegre.<br />

Além de se caracterizar como uma estratégia, o OP é um espaço público de gestão dos fundos estatais. Este espaço é<br />

formado por pessoas não necessariamente eleitas em pleitos eleitorais constitucionais, nem são operadores executivos do orçamento.<br />

Para Fedozzi “ Este processo, que pode ser sinteticamente definido como a instituição de uma esfera pública ativa de co-gestão do<br />

fundo público municipal...” (Ide, 295)<br />

Fedozzi analisa de forma otimista os resultados do Orçamento Participativo devido ao fato de ter estudado uma das<br />

experiências mais exitosas, a de Porto Alegre, além disso o autor colaborou diretamente com a implantação desta experiência, enquanto<br />

ator político. Nosso intuito é de nos debruçarmos sobre experiências bem menos exitosas e, por vezes, fracassadas, em realidades bem<br />

diferenciadas das estudadas pelo autor acima.<br />

727


Pretendemos realizar a identificação e a hierarquização dos fatores e/ ou características que potencializam e impõe obstáculos<br />

à implantação do Orçamento Participativo em municípios predominantemente rurais. Ou dito de outra forma: É possível construir<br />

efetivamente formas inovadoras de gestão dos recursos públicos com participação popular em municípios predominantemente<br />

rurais? A vontade dos governantes em ceder espaços de poder a população basta para que se crie uma cultura democrática neste<br />

locais? A limitada possibilidade de oferecer recursos para serem geridos pelos participantes é limitante para o OP? As histórias<br />

associativas, de um lado, e clientelistas, de outro, influenciam na implantação do OP?<br />

O objetivo principal de nosso trabalho é analisar o processo de implantação do Orçamento Participativo enquanto uma<br />

inovação na gestão fiscal e social dos fundos públicos municipais, materializados em municípios predominantemente rurais.<br />

A história da construção do Estado moderno baseia-se, de um lado, em estruturas burocráticas patrimonialistas e em<br />

relações sociais clientelistas e personalistas. De outro lado está a concepção cidadã do Estado moderno disputada entre o neoliberalismo<br />

(e sua defesa intransigente do indivíduo) e uma tradição de esquerda (defendendo a participação das classes pobres).<br />

Os operadores governamentais (normalmente) possuem uma ingerência muito grande sobre os recursos públicos. Esta<br />

ingerência lhes permite a constituição de formatos de manipulação dos fundos públicos direcionada ao seus interesses, sejam eles<br />

financeiros ou (e principalmente) político - eleitorais.<br />

A hipótese central de nosso trabalho é que apesar da vontade política dos operadores governamentais em ceder espaços de<br />

poder aos cidadãos e de romper as práticas clientelistas locais, a incapacidade financeira destes municípios em oferecerem recursos<br />

que possam ser geridos efetivamente pela população, impõe obstáculos à implantação do Orçamento Participativo e, numa elaboração<br />

mais conceitual, impõe obstáculos a constituição da cidadania.<br />

Nossa hipótese afirma que a vontade política dos governantes, em propor formas inovadoras de gestão dos fundos públicos,<br />

não é a condição suficiente para impulsionar o sucesso da implantação do Orçamento Participativo. A incapacidade financeira destes<br />

municípios impõe a impossibilidade de proporem um “mínimo” de recursos que possam ser efetivamente geridos pelos cidadãos e<br />

direcionados para resolver suas demandas imediatas.<br />

Os limites financeiros aliado a um cultura política autoritária e clientelista impõe sérios obstáculos a implantação do<br />

Orçamento Participativo em municípios predominantemente rurais.<br />

O município sobre o qual nos debruçamos foi Floriano Peixoto, que localiza-se na região norte do Estado do Rio Grande do<br />

Sul, a uma distância de aproximadamente 400 km da capital, é um município predominantemente rural, ou seja, um município de<br />

pequeno porte e que possui sua base produtiva e econômica na agricultura, onde parte predominante da população está ligada ao meio<br />

rural seja através das atividades produtivas exclusivamente agropecuárias ou pluriativas (atividades que combinam residência no meio<br />

rural e trabalho urbano). Nestes municípios predominem relações sociais desencadeadas a partir de processos sociais agrários.<br />

Floriano Peixoto possuía em 1997 uma população de 2.495 habitantes, um PIB total de R$ 11.553.656,00, um PIB per<br />

capita de R$ 4.631,00, e um PIB agropecuário de R$ 6.591.092,00. (FEE, 1998), é um município jovem, criado em 1996, sua primeira<br />

administração foi eleita sendo liderada pelo PT, neste ano implantam o OP que se desenvolve até os dias atuais. Em 2000 o prefeito<br />

chega a reeleição mantendo e aprimorando o mecanismo da participação dos cidadãos.<br />

3 – O orçamento participativo<br />

O Orçamento Participativo - OP é um processo inovador de gestão pública embasada na participação direta dos cidadãos<br />

(GENRO e SOUZA, 1997). Segundo Fedozzi o OP é um processo de “ participação popular na gestão pública” (Fedozzi, 1996: 3).<br />

Outra definição sobre o OP referindo-se ao caso de Porto Alegre, afirma que “...es un novedoso proceso de ‘administración fiscal<br />

social’ y participación en las decisiones locales implementadas en la ciudad...” (Navarro, 1998: 1).<br />

Este processo tem sua origem ainda no período da ditadura militar, nos anos 70, onde as experiências referenciais foram as<br />

de Boa Esperança/ES, Piracicaba/SP, Lages/SC (Andrade, 2000), além de Pelotas no Rio Grande do Sul. No final dos anos 80 esta<br />

prática é ampliada para vários municípios no país a fora, principalmente onde o Partido dos Trabalhadores - PT assume as administrações.<br />

Aparentemente o maior ou o mais visível sucesso ocorre em Porto Alegre onde foi implantado pela “Administração Popular” no<br />

governo Olívio Dutra (1989-1992).<br />

No interior do Estado do Rio Grande do Sul poucos municípios predominantemente rurais conseguiram a consolidação<br />

deste processo, não conseguindo reeleger-se, como nos casos de Severiano de Almeida, Ronda Alta e Aratiba. Esta constatação faz<br />

emergir a problemática que nos interessa neste estudo. Qual a possibilidade de implantar processos de inovação da gestão administrativa<br />

e fiscal baseada na participação social e democratização do poder público, tal como o Orçamento Participativo, em municípios<br />

predominantemente rurais.<br />

Navarro afirma que o sucesso obtido no OP de Porto Alegre se deve a três requisitos básicos: “ Um requisito inicial y obvio<br />

es la voluntad política de ceder importantes porciones de poder... Outro requisito es una disciplinada postura política para evitar las<br />

prácticas clientelistas de costumbre... (e) Lo que es claro es la necesidad de basar el proceso en un riguroso control financiero del<br />

pressupuesto municipal y ofrecer un ‘mínimo’ de recursos a invertir...” (Navarro, 1998: 2 e 3) Estes requisitos nos remetem a<br />

desalentadora realidade enfrentada por municípios como Aratiba e Floriano Peixoto, ambos predominantemente rurais, os quais<br />

possuem poucas possibilidades de arrecadação fiscal.<br />

A agricultura vem sofrendo uma crescente perda de importância na economia tanto nacional quanto internacional. A taxa de<br />

variação do produto interno bruto - PIB agrícola brasileiro oscilando de 9,6 em 1980 a - 4,4 em 1990 (Graziano da Silva, 1998:106).<br />

Mesmo a atividade agroindustrial perde crescentemente importância tendo, de forma permanente, que aumentar sua escala de<br />

produção para conseguir se manter no mercado.<br />

Os municípios predominantemente rurais, invariavelmente, chegam a década de 90 com crescentes índices de<br />

comprometimento dos recursos com o aparelho burocrático - pagamento de salários - e com dívidas a curto prazo, muitas vezes não<br />

conseguindo garantir os serviços essenciais à população. Como sua base produtiva e econômica assentada na agricultura e / ou no<br />

rural, suas possibilidades de incremento na arrecadação e na geração de recursos financeiros para investimentos é muito limitada.<br />

4 - Clientelismo e cidadania<br />

O Brasil, assim como toda a América Latina, possui uma forte tradição autoritária. Aqui coexistem instituições compatíveis<br />

com uma sociedade moderna (democrática) e práticas clientelistas e patrimonialistas. Esta contradição se desenvolve embasada em<br />

uma estrutura de gestão estatal patrimonialista.<br />

728


As relações clentelistas, personalistas (da troca do voto pelo favor) impõe enormes obstáculos para a construção da<br />

cidadania, a qual exige condições completamente contraditórias às anteriores para seu desenvolvimento, é mister “... a separação<br />

entre as esferas ‘pública’ e ‘privada’, o exercício impessoal do poder e o respeito ao contrato social...” (Fedozzi, 1996: 6). A<br />

cidadania exige a construção de práticas democráticas e mudanças institucionais, sociais e jurídicas.<br />

O processo de transformação estrutural e da emergência da cidadania ocorre, quando a ordem tradicional baseada nas<br />

relações pessoais e patrimoniais são substituídas por um poder impessoal, legal e racional. O Estado moderno através da emancipação<br />

dos direitos políticos em relação aos religiosos, se desatrela da Igreja e através do rompimento entre o poder econômico e político<br />

atrela-se a burguesia favorecendo sua ascensão e garantindo a propriedade privada a livre circulação das mercadorias e a igualdade de<br />

oportunidades entre os homens. A emergência do Estado moderno ocorre concomitantemente e como necessidade para o<br />

desenvolvimento do modo de produção capitalista.<br />

Alguns autores afirmam que o Orçamento Participativo significa um processo de superação da democracia, aprimorandoa<br />

e aprofundando-a em favor das parcelas mais empobrecidas. Para Genro e Souza o O P democratizou a ação política e integrou os<br />

cidadãos comuns num novo “espaço público” (Genro e Souza, 1997 citados por Andrade, 2000). Abers afirma que o OP enfraqueceu<br />

tradições clientelistas em organizações de bairros, tencionando a incorporar um crescente número de moradores e instituindo formas<br />

mais democráticas de poder inclusive na sua associação comunitária (Abers, 1998 citado por Andrade, 2000).<br />

O Orçamento Participativo, tal como é analisado pelos autores acima, cumpre uma função espetacular na perspectiva da<br />

radicalização da democracia na medida em que constitui uma forma de gestão de fundos públicos e, não obstante, um espaço de debates<br />

onde as diferenças sociais, econômicas e culturais são aplacadas. O OP constitui um “espaço comum de ação” um espaço público não<br />

estatal no âmbito da sociedade civil.<br />

Para Held para ocorrer uma democracia efetiva é preciso que os cidadão sejam livres e iguais, é preciso “criar a possibilidade<br />

de uma cidadania livre e igual... uma estrutura comum de ação.” (Held, 1994) Esta estrutura comum de ação é necessária para<br />

minimizar as diferenças de acesso ao poder e possibilitar que cidadãos nestas situações tenham possibilidades simétricas, num médio<br />

ou longo prazo.<br />

5 – O Orçamento Participativo em municípios predominantemente rurais<br />

O Orçamento Participativo tem sido considerado uma das melhores experiências de gestão dos recursos públicos com<br />

participação dos cidadãos. Vários estudos demonstraram a sua capacidade de tornar transparente a gestão da cidade, possibilitar um<br />

crescente acesso da população à coisa pública, consolidando-se enquanto um espaço de construção da cidadania. Fedozzi (1996)<br />

afirma que o OP é um efetivo espaço de construção cidadã.<br />

Tais constatações são verdadeiras proporcionalmente ao método de avaliação que adotarmos. No caso a avaliação diz<br />

respeito ao OP enquanto uma concepção metodológica de gestão do estado que possibilita o acesso de todos os cidadãos ao debate,<br />

a decisão e a fiscalização sobre os investimentos a serem realizados pelo orçamento municipal. Considerada esta metodologia, a<br />

avaliação nos parece correta, efetivamente o OP em conjunto com a democracia representativa, o poder legislativo, possibilita<br />

realmente um maior possibilidade de acesso da população à gestão do Estado. Coisa que ocorre de maneira infinitamente inferior em<br />

locais onde esta gestão é realizada somente através dos poder legislativo constituído. No entanto se mudarmos o foco de pesquisa e<br />

procurarmos visualizar o OP enquanto o espaço onde é decidido o destino do orçamento público sob o olhar dos participantes<br />

enquanto demandantes de ações do Estado, a análise pode se diferenciar.<br />

Se considerarmos, mesmo no caso de Porto Alegre, a rotatividade dos participantes das rodadas do OP (apesar de seu<br />

aumento visível) podemos argüir imediatamente que na medida em que o cidadão possui a sua reivindicação atendida, sente-se<br />

desmotivado a continuar participando. Inclusive porque esta participação implica em custos de deslocamento, tempo para as<br />

reuniões, e até mesmo, um conhecimento mínimo para discutir a peça orçamentária.<br />

Podemos afirmar que a participação é motivada por uma “racionalidade instrumental” tal qual nos ensina a tradição norte<br />

americana da “escolha racional” que estuda as organizações sociais (Ver Gohn, 1997). Esta racionalidade instrumental impulsiona o<br />

indivíduo para a ação fazendo um cálculo econômico sobre os custos e os benefícios que esta ação lhe impõe.<br />

No caso de municípios predominantemente rurais como Floriano Peixoto esta afirmativa é ainda mais visível. Em Floriano<br />

Peixoto onde numa pesquisa recente de intenção de voto o prefeito atual ( o primeiro prefeito do município e que implantou o<br />

Orçamento Participativo) possui uma aprovação de cerca de 80 % do eleitorado. Floriano Peixoto possui uma situação conjuntural<br />

diferenciada a qual possibilitou o oferecimento de um percentual significativo do orçamento para investimentos efetivos. Apesar de<br />

ser um município predominantemente rural, pelo fato de ter sido recentemente criado, possui uma estrutura burocrática enxuta, com<br />

uma das menores folhas de pagamento do estado (33 % do orçamento municipal em 1999), não possuía dívidas (em 1999), além de<br />

ter tido um impulso inicial de recursos provindos do Fundo de Participação dos Municípios, e de créditos do município mãe.<br />

É importante perceber que dos elementos considerados relevantes neste artigo o que varia de forma quantitativa não é a<br />

peculiaridade de ser predominantemente rural, o que lhe impõe sérias restrições de arrecadação, e nem a história de relações clientelistas<br />

e de implantação imperfeita da democracia, ambos elementos importantes e determinantes, o que varia é a quantidade de recursos<br />

oferecidos pelos administradores municipais para a realização efetiva de investimentos, o que por sua vez rebate diretamente no<br />

cidadão que vê no Orçamento Participativo a possibilidade de resolver uma necessidade, seja ela o calçamento da rua, a melhoria da<br />

estrada, a rede de esgotos, a rede de água, etc.<br />

A situação econômico e produtiva dos municípios predominantemente rurais, gerada pela estrutura de empobrecimento da<br />

agropecuária e dos limites visíveis das políticas agrícolas, agrárias sociais e econômicas para o meio rural, é determinante para a<br />

obtenção de sucesso em empreendimentos da natureza do Orçamento Participativo.<br />

À guisa de conclusão<br />

A democracia participativa emerge na contemporaneidade como a possibilidade de garantir e ampliar os direitos civis,<br />

políticos e, mais recentemente, sociais do conjunto da população. Apesar a eminente empolgação de vários segmentos sociais e,<br />

inclusive, de partidos políticos de centro esquerda, é visível a dificuldade prática para seu desenvolvimento, não obstante, seu limite<br />

teórico no que tange a pesquisa e elaboração a cerca de sua aplicabilidade e pertinência.<br />

729


Para os propósitos deste artigo desenvolvemos duas conclusões principais: a primeira delas confirma nossa hipótese<br />

central, afirmando que o oferecimento efetivo de um montante significativo de recursos para investimentos que repercutem na vida<br />

cotidiana dos cidadãos é tão importante e necessário quanto a disposição do administrador público em ceder espaços de poder à<br />

população. O cidadão precisa perceber que tem poder efetivo de manipular recursos e resolver seus problemas.<br />

A segunda conclusão relaciona-se diretamente com a situação estrutural de empobrecimento da agropecuária e, por<br />

conseqüência, dos municípios predominantemente rurais. O sucesso de qualquer política de desenvolvimento está diretamente<br />

relacionada a sua capacidade de estimular a resolução dos problemas econômicos e produtivos. Estas políticas necessariamente<br />

precisam aquecer a economia, gerar riquezas, empregos e concomitantemente construir processos de inovação de gestão de recursos<br />

públicos com participação direta dos cidadãos.<br />

O desenvolvimento social e econômico embasado no lastro de alternativas produtivas viáveis que produzam e distribuam<br />

riquezas, preservando o meio ambiente a cultura e as vocações locais são tão importantes quanto o rompimento da tradição política<br />

clientelísta ou a vontade política da administração municipal em construir espaços públicos para gestão dos recursos públicos.<br />

730


Bibliografia<br />

ANDRADE, Edinara Terezinha de e MOURA, Rydi Rolim de. Orçamento<br />

Participativo: uma revisão bibliográfica. In: Cadernos de Ciência Política: Série Pré Edições. Porto Alegre: UFRGS, Janeiro, 2000.<br />

BLOCH, Renata A. de e BALASSIANO, Moisés. A democratização da Gestão<br />

Pública: as relações entre Gestor, Inovação e Porte Demográfico no Município. Apresentado no Encontro da Associação Nacional de<br />

Pós-graduação em Administração. Fóz do Iguaçu - Paraná, 19 - 22 de setembro de 1999.<br />

FEDOZZI, Luciano Joel. Do patrimonialismo à cidadania - Participação popular na Gestão Municipal: o caso do Orçamento<br />

Participativo de Porto Alegre. Porto Alegre: UFRGS / PPS, 1996. ( Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-graduação em<br />

Sociologia da UFRGS).<br />

FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA SIEGFRIED EMANUEL HEUSER.<br />

CENTRO DE CONTABILIDADE SOCIAL. NÚCLEO DE CONTAS REGIONAIS. PIB Municipal do Rio Grande do Sul. Porto<br />

Alegre: FEE, 1998. (CD Rom).<br />

GOHN, Maria da Glória. Teorias dos Movimentos Sociais. Paradigmas Clássicos e Contemporâneos. São Paulo: Loyola: 1997.<br />

GRAZIANO DA SILVA, José. A nova dinâmica da agricultura brasileira. 2. ed. rev. Campinas, SP: UNICAMP. IE, 1998.<br />

HELD, David. Inequalities of power, problems of democracy. In: MILIBAND, David. Reinventing the Left. Cambridge: Polity<br />

Press, 1994.<br />

LAKATOS, Eva M. & MARCONI, Marina de A. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991.<br />

NAVARRO, Zander. La Democracia Afirmativa y el Desarrollo Redistributivo: El caso de pressupuesto participativo en Porto<br />

Alegre, Brazil (1989-1998). Apresentado en Seminario: “Programas Sociales, Pobreza y Participación Ciudadana”. Cartagena,<br />

Colombia: Banco Interamericano de Desarrollo - División de Estado y Sociedad Civil, 12 y 13 de marzo de 1998.<br />

SANTOS, José Vicente Tavares dos. A Construção da Viagem Inversa: Ensaio sobre a investigação nas ciências sociais. In:<br />

Cadernos de Sociologia, Porto Alegre, V 3, Nº 3, p.53-88, jan/jul. 1991.<br />

TRI<strong>VI</strong>ÑOS, Augusto N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.<br />

175 p.<br />

1 Filósofo, Mestre em Desenvolvimento Rural e Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul . E-<br />

mail: hpase@itake.com.br<br />

731


EVALUACIÓN PARTICIPATIVA PARA EL DIAGNÓSTICO COMUNITARIO (EPDC)<br />

(PROPUESTA OPERATIVA PARA SU APLICACIÓN EN LAS ZONAS INDÍGENAS)<br />

PRINCIPIOS METODOLÓGICOS:<br />

· Enfoque Sistémico. La comunidad como unidad interactuante.<br />

· Autogestión y cogestión comunitaria<br />

· Participación democrática en la toma de decisiones<br />

· Desarrollo integral, sustentable. Ecológica y socialmente viable<br />

· Conocer para transformar.<br />

· Planeación comunitaria participativa.<br />

· Identidad cultural y defensa del patrimonio indígena.<br />

· Coordinación interinstitucional e interdisciplinariedad.<br />

El proceso. La evaluación participativa da énfasis a la comunidad como sujeto social, entendida esta, como un sistema de<br />

interrelaciones ( propuesta sistémica) sistémicos donde unos factores influyen o determinan a los demás y estos a su vez, son<br />

modificados continuamente; por ejemplo, el proceso migratorio esta ligado a perdida de la capacidad productiva y la explotación de<br />

los recursos naturales y estos, a su vez, con el crecimiento poblacional excedente y el reparto de la riqueza. Esta perspectiva<br />

considera a la comunidad y sus integrantes como una unidad contradictoria capaz de hacer conciencia de su problemática y planear<br />

su desarrollo futuro. En el plano institucional, propone reconsiderar el trabajo exclusivista con algunos sectores clientelares,<br />

propio de las instituciones gubernamentales, así como respecto de organizaciones formales y vuelve la mirada al terreno comunitario,<br />

espacio vital en la toma de decisiones y los consensos colectivos.<br />

_________________________<br />

LAS ETAPAS DE REALIZACIÓN DE LA EPDC EN EL MARCO COMUNITARIO<br />

Transferencia de la metodología e integración del equipo técnico.<br />

Con el propósito de conocer los alcances, la propuesta metodológica y unificar criterios de aplicación con los participantes se<br />

impulsara en primer término un taller teórico práctico con la asesoría de un equipo promotor central, o en su caso, con asistentes<br />

capacitados en el manejo de la metodología. Este equipo original proporcionara el paquete metodológico necesario para la capacitación,<br />

mismo que acordará con anticipación necesaria en acuerdo con los equipos técnicos regionales respectivos.<br />

· Taller teórico- práctico para la transferencia metodológica.<br />

El curso introductorio tiene por objetivo preparar a los equipos técnicos de las regiones y centros comunitarios de acuerdo con la<br />

732


cobertura propuesta. El compromiso de los participantes a este evento inicial será que capaciten a su vez a los equipos técnicos<br />

de las unidades operativas o bien integren un equipo de apoyo en su cobertura regional y comunitaria. Cada unidad capacitadora<br />

definirá su estrategia interna para la transferencia y capacitación a sus cuadros técnicos. Esta fase inicial consta de 8 días continuos<br />

de trabajo dividido en 2 etapas: marco teórico conceptual de la metodología e instrumentos de apoyo y; aplicación práctica en la<br />

comunidad.<br />

En el marco de las necesidades comunitarias y equipo operativo el curso puede constar de tres días para la primera etapa y<br />

posteriormente aplicar de cuatro a cinco días al trabajo comunitario o bien adecuarse a la estrategia interna y a las necesidades de<br />

las comunidades. Los días de trabajo en la comunidad dependerán del número de integrantes que conformen el equipo técnico, pero<br />

el número adecuado de participantes será de 6 elementos: uno como coordinador y 5 para integrar los subequipos. Cada uno de los<br />

5 grandes temas requiere un mínimo de tres días intensos de trabajo comunitario que implica la investigación de campo, la<br />

sistematización y la presentación en la comunidad. En caso de que no se cumpla con este requisito los temas requerirán de más<br />

tiempo y días de aplicación.<br />

· Integración del equipo técnico externo institucional<br />

De acuerdo a la coordinación interinstitucional se promoverá la integración de un equipo interdisciplinario de acuerdo a sus recursos<br />

humanos y técnicos. Se recomienda un mínimo de 6 elementos y un máximo de 15, (considerando que pueden participar otras<br />

instituciones) de tal manera que sea posible nombrar un coordinador, un relator y un responsable por cada bloque de los 5 grandes<br />

temas. La elaboración del diagnóstico comunitario no es tarea de un área, sino requisito indispensable de una planeación integral y<br />

una estrategia de intervención conjunta del personal técnico interdisciplinario. Implica “volver a la comunidad” y es una oportunidad<br />

para reconocer que el trabajo en equipo es compatible con las diversas necesidades de los pueblos. Sería muy difícil, inoperante y<br />

sin sentido el levantamiento de la información sin la integración del equipo técnico ya que el EPDC requiere de compromiso<br />

colectivo. En la medida que sea interdisciplinario será más enriquecedor porque recibirá el aporte de varias áreas: todos tenemos<br />

algo que aportar y que aprender.<br />

Cuando participen otras instituciones filiales la perspectiva de atender las demandas comunitarias aumentará de perspectiva.<br />

Promoción comunitaria<br />

· Selección de la (s) comunidad (es) (cobertura)<br />

· Promoción. Asamblea previa.<br />

· Información de gabinete. Es importante obtener toda la información posible acerca de la comunidad donde se aplicará la<br />

evaluación: censos de población, mapas, estadísticas básicas, monografías, estudios de factibilidad, etc. Que nos permitan<br />

cruzar información con la comunidad y obtener mayor precisión y calidad en la información diagnóstica.<br />

El levantamiento de la información de campo.<br />

El trabajo de campo es la acción por excelencia de la evaluación comunitaria. Implica no solo un levantamiento informativo de las<br />

condiciones de la comunidad, sino fundamentalmente la oportunidad del equipo técnico de relacionarse y entablar una verdadera<br />

comunicación dialógica con los interlocutores, de llevar a la comunidad a un reconocimiento de sus condiciones de vida y<br />

sobre todo a un análisis crítico que permita la reflexión y promueva una actitud de deseo por mejorar sus condiciones<br />

actuales. Lograr esta condición merece realizar un trabajo cuidadoso, sensible, cualitativo, para lo cual se proponen una serie de<br />

ejercicios de consulta comunitaria que consisten en:<br />

· Actividades en la comunidad.<br />

· Asamblea de aceptación y programa de trabajo comunitario. En esta primera asamblea debe darse a conocer los objetivos de<br />

la Evaluación rural, el compromiso que se asume como parte de la o las instituciones participantes y la responsabilidad<br />

compartida de la comunidad para llevar a delante los trabajos propuestos. Se definirán o ratificarán los integrantes del equipo<br />

técnico local que acompañaran cotidianamente al equipo externo y se invitará a toda la población a integrarse a los diversos<br />

subequipos y participar en las diferentes actividades. El resto de la población puede aportar información a uno u otro<br />

subequipo. Esta sesión concluirá con un programa de trabajo en los días de permanencia en la comunidad. El número óptimo<br />

de subequipos es de 5 de acuerdo a los grandes contenidos temáticos, pero puede variar de acuerdo al numero de participantes<br />

o bien remitirse a las problemáticas centrales sentidas por la comunidad.<br />

· Tareas y desarrollo de actividades. El taller de Evaluación se nutre de una serie de técnicas y dinámicas de investigación que se<br />

caracterizan por ser esencialmente participativas. Cada subequipo de trabajo apoyándose en el anexo: Técnicas y dinámicas<br />

de investigación y los instrumentos para el levantamiento de la información, diseñará la forma en que levantará la<br />

733


información apoyándose en micro talleres, entrevistas, visitas domiciliarias, transectos, platicas, recorridos a lugares importantes,<br />

mesas de trabajo, etc. Es importante apoyarse en papelógrafos para hacer más didáctico el intercambio de información y<br />

procurar que las personas no caigan en la monotonía; es necesario aprovechar la disposición de la gente y, en consecuencia,<br />

respetar y ajustarse a sus tiempos. El trabajo de campo se realizará de preferencia durante los dos primeros días: mañana y<br />

tarde y, el tercer día será dedicado a preparar el informe técnico y la exposición de la problemática en pápelo grafos, previendo<br />

que estén listos para el cuarto día cuando se desarrollará la exposición en la asamblea de validación.<br />

Una recomendación para el trabajo de campo: no es importante la investigación por la investigación misma, el hilo conductor de<br />

nuestras pesquisas debe tener siempre presente, en cada uno de los temas, un esfuerzo por encontrar situaciones problemáticas,<br />

disfuncionales, conflictos internos y externos, violencia, debilidades organizativas, ausencias de acción, en una palabra, nos debe<br />

llevar a identificar los problemas centrales, sentidos o no, que vive la comunidad como grupo. Esta es la razón socio-antropológica<br />

de nuestra labor comunitaria<br />

· Coordinación de acciones y contrastación de la información. Durante el trabajo de campo el coordinador del equipo, que<br />

cumplirá las veces de facilitador, estará pendiente del avance parcial de cada subequipo y cumplirá labores de orientación,<br />

sugerencias, apoyo didáctico, aclaración de dudas, acompañamiento; cuidando, en todo momento, la integridad del equipo<br />

por sobre posiciones de carácter personal.<br />

El coordinador será capaz de convocar al equipo para dirimir diferencias y propiciar el intercambio de información. El cruce de<br />

información y contrastación de la misma, se realizara después de las sesiones de campo diario, de preferencia por la tarde o noche<br />

con el propósito de que no se pierda “frescura” y se realice un primer intento de ordenamiento. En estas sesiones cada subequipo<br />

expone brevemente: ¿Cómo respondió la gente que participo, actitudes, disponibilidad, recelo? Y ¿cuáles fueron los problemas más<br />

relevantes a considerar? Si existen problemas que no quieren abordar en abierto. El coordinador o facilitador realiza un primer<br />

esfuerzo por darle orden a la problemática y orienta al equipo al análisis de los mismos. Aquí empieza a tomar forma las hipótesis<br />

de trabajo, es decir, la explicación causa- efecto, la interrelación de factores, el porqué ocurren tales acontecimientos.<br />

Todos estos elementos para la interpretación y auto análisis técnico-comunidad<br />

Sistematización de la información.<br />

La información que surge al término del trabajo de campo, seguramente será abundante y un tanto caótica. El acto de ordenar el<br />

cúmulo de información y seleccionar los datos necesariamente útiles a nuestro propósito inmediato se reconoce como<br />

sistematización. Aunque toda la información es de utilidad, se requiere un esfuerzo de análisis y síntesis que permita distinguir<br />

lo importante de lo secundario, este criterio nos lo va a proporcionar la definición de la problemática.<br />

· Definición de la problemática eje (las hipótesis de trabajo)Antes de iniciar la redacción, se realiza una presentación con el<br />

grueso del equipo cuya exposición verse de manera central en reconocer las principales líneas problemáticas que se fueron<br />

detectando en el transcurso de la investigación y que pueden ser expuestas de acuerdo a nuestro guión. En esta fase la<br />

problemática sólo debe de enunciarse centrando una posible explicación hipotética, de la manera más sencilla posible. La<br />

pregunta guía será en todo momento: ¿porqué? Para encontrar junto con los campesinos la explicación o bien la<br />

causalidad de su problemática. Por ejemplo, en la comunidad ejidal de san Francisco Ocotan, Durango, encontramos que:<br />

· Existe un conflicto de tierras por invasión entre dos ejidos vecinos debido a la indefinición de límites territoriales y se<br />

desconocen los datos reales de la resolución presidencial, por lo que la comunidad ejidal no reconoce sus limites territoriales<br />

ejecutados en la resolución.<br />

· La comunidad ejidal no cuenta con reglamento interno prestándose a la toma de decisiones de manera unilateral por parte de<br />

la autoridad en turno provocando conflictos internos y falta de control sobre la explotación del bosque, beneficiándose<br />

empresas madereras.<br />

· No esta reglamentado el uso de las áreas de reserva territorial, provocando tala inmoderada.<br />

· Escasez de agua en épocas de estiaje por el acelerado proceso de deforestación, sobre todo en las cercanías de los arroyuelos<br />

o cuerpos de agua.<br />

· La contaminación de las corrientes de agua es grave ya que el drenaje urbano desemboca en sus aguas.<br />

Centrar la problemática eje nos ubicará en una doble perspectiva: por una parte, nos permitirá ir distinguiendo lo básico de lo<br />

secundario y en consecuencia nos irá indicando el orden en que debemos exponer nuestro trabajo, es decir, la presentación del<br />

informe técnico.<br />

734


· Elaboración del informe técnico. El informe técnico consiste en un esfuerzo rápido de análisis, sistematización e interpretación<br />

de resultados fundamentalmente cualitativa de la información recogida en campo, apoyándonos en la libreta de campo, los<br />

apuntes técnicos y los cuadros sistematizadores. En la medida que se realiza con prontitud e inmediatamente que se concluye<br />

el trabajo de campo es mejor ya que contamos con la información “fresca” y tenemos a los interlocutores cerca de nosotros<br />

para precisar información faltante o poco clara. El informe Técnico o informe ejecutivo no consiste en una etnografía profunda<br />

y plenamente descriptiva, sino en una descripción lo más precisa, clara y sencilla. Recordemos que uno de los principios de<br />

la Evaluación Participativa en ser una evaluación rápida, una propuesta de investigación básica y un procedimiento de<br />

autodiagnóstico para la planeación. La descripción de contenidos temáticos debe desembocar en señalar la problemática<br />

detectada, marcar los rasgos esenciales que definen tal o cual conflicto, intereses creados, desventajas o anomalías que pongan<br />

en riesgo la vida comunitaria o su integración social. De nada nos servirá una etnografía completa de la vivienda si no marcamos<br />

las características que impiden una vivienda digna o las condiciones de deterioro, hacinamiento o convivencia con animales.<br />

Este es el núcleo del diagnóstico comunitario.<br />

El informe técnico comprende la elaboración de un guión para la redacción apoyándonos en el guión general de los instrumentos,<br />

modificando o incluyendo aquellos contenidos que no hayan sido contemplados y que, dado el carácter específico de la comunidad<br />

y la diversidad, no fueron considerados. Los instrumentos para la sistematización se incluirán como anexos del documento.<br />

El informe puede ser complementado en trabajo de oficina, después del trabajo intensivo de campo precisando información, dando<br />

mayor presentación a cuadros y gráficas, revisando el estilo y el cuerpo de la redacción, de tal manera que haya una fecha acordada<br />

con la comunidad para hacer entrega formal del documento de gestión comunitaria y así cumplir con uno de los primeros<br />

compromisos contraídos por el equipo técnico interinstitucional. Esta etapa es de máxima concentración y se procura que el equipo<br />

labore en un espacio ex profeso para la redacción ya que se requiere mutuo apoyo e intercambio de información.<br />

· Elaboración del prediagnóstico. La elaboración del informe técnico y los ejes problemátizadores son la materia prima para<br />

elaborar el cuadro diagnóstico que, junto con el equipo técnico local, será de utilidad para realizar el ejercicio de análisis<br />

causa- efecto, es decir, nos llevará a la explicación del porqué están ocurriendo determinados acontecimientos. En la<br />

búsqueda de las causas y su explicación tendremos un elemento fundamental para la auto comprensión de nuestra realidad<br />

social, para la toma de conciencia, para la puesta en acción, parodiando a Paulo Freire. Este cuadro se realizará en papelográfos<br />

haciendo participar al equipo técnico local para que al llevarlo a la asamblea se tenga un cierto nivel de consenso, mismo que<br />

será validado en la misma. El equipo en conjunto podrá avanzar en el análisis de la problemática y, en su caso, plantear algunas<br />

propuestas o iniciativas para afrontar la necesidad respectiva. La realización de este cuadro será de gran ayuda para hacer ágil<br />

la presentación en la comunidad y permitirá que preferentemente sea el equipo técnico local quién presente los resultados, se<br />

sugiere que los promotores comunitarios sean quienes planten los resultados y si es en su idioma local mejor, como a<br />

continuación se muestra.<br />

Presentación de la problemática comunitaria (San Francisco Ocotan, Durango)<br />

problema Causa-efecto Qué se ha hecho para solucionarlo<br />

Propuesta de solución.<br />

Invasión de tierras por ejidos vecinos. No existe delimitación definitiva del ejido y se desconoce la resolución<br />

presidencial. Se registran varios enfrentamientos. Se registran varios enfrentamientos. Se han iniciado platicas formales<br />

con autoridades municipales, agrarias y comuneros. Obtener la información precisa de la resolución presidencial o<br />

documentos de bienes primordiales. Promover la delimitación del ejido. Proseguir las platicas con autoridades.<br />

Si el equipo local no participa en la elaboración del prediagnóstico es necesario dejar en blanco el renglón de propuestas ya que estas<br />

deben de partir de la comunidad, en caso contrario, los pobladores no asumirán sus acciones propuestas y se tomaran como<br />

indicaciones externas. En caso de que la comunidad pida la opinión del equipo técnico, estas aportaciones se tomaran como<br />

sugerencias técnicas.<br />

La problemática presentada en este cuadro a la comunidad será escrita en un lenguaje sencillo, claro y preciso para que los diferentes<br />

sectores de la población comprendan el sentido de la exposición.<br />

Asamblea comunitaria de validación<br />

En la asamblea comunitaria culmina el trabajo de campo y el esfuerzo de sistematización, es el órgano primordial en la toma de<br />

decisiones y, con este acto se valida la información y se toman consensos comunitarios para las acciones futuras que se propongan<br />

realizar. Para llevarla a efecto se requiere una convocatoria abierta con la anticipación requerida, y en los tiempos accesibles a la<br />

comunidad. En esta asamblea se levanta el acta de participantes, se toman acuerdos y se plasma el programa de trabajo comunitario.<br />

Es necesario estar preparado ya que de acuerdo al interés comunitario y un buen manejo didáctico de la asamblea podrá prolongarse<br />

entre 3 o 4 horas intensivas de trabajo.<br />

· Validación de la información. La validación de la información con la comunidad tiene una doble finalidad: nos permite<br />

contrastar y precisar la información y facilitar la comprensión de la situación actual de la comunidad. Se busca que los<br />

pobladores obtengan una visión de conjunto y el reconocimiento de que sus necesidades no podrán resolverse si no se<br />

actúa en conjunto, en consenso, de manera organizada. El estado de cosas actual puede cambiar si la comunidad se<br />

735


lo propone. Este enunciado no solo es una consigna, es el punto culminante y significativo del cambio de actitud de la<br />

comunidad, lograrlo es la consumación del equipo técnico<br />

· Ejercicio de autodiagnóstico comunitario. En asamblea se presentan los cuadros sistematizados de la problemática y se<br />

analizan de manera paulatina de acuerdo al orden de los subequipos y temáticas asignadas; comentando y analizando las<br />

causas, las consecuencias, las acciones emprendidas y finalmente proponiendo soluciones factibles con lo cual obtendremos<br />

el autodiagnóstico comunitario. Las acciones propuestas se convertirán posteriormente en líneas de acción, propuestas<br />

programáticas, ideas de proyectos, acciones concretas y planes de trabajo comunitario.<br />

· Priorización. Sin embargo, no todas las acciones pueden realizarse en el corto plazo o son factibles en lo inmediato, por<br />

lo cual se requiere un esfuerzo de selección de la problemática bajo el criterio de mayor afectación o perjuicio comunitario,<br />

con la siguiente pregunta: ¿ Cuáles son los principales problemas que afectan a la comunidad?. Para la priorización<br />

pueden seguirse varios métodos, pero una manera sencilla y rápida de realizarlo es extrayendo una primera lista de 10<br />

o 15 problemas sobresalientes elegidos por consenso. Una vez que se tiene la lista seleccionada se realiza un ordenamiento<br />

de acuerdo a su importancia según su nivel de prioridad, presentando los problemas de dos en dos por eliminación de<br />

votos hasta que quede la lista en orden de importancia En la comunidad de la Permuta, Municipio, de San Felipe Jalapa<br />

de Día Oaxaca la priorización quedó de la siguiente manera:<br />

PRIORIZACIÓN DE LA PROBLEMÁTICA Y ALTERNATIVAS.<br />

1. Construcción de un puente local para comunicar un sector de la población en lo educativo y sacar la producción.<br />

2. Agua potable. Reparación del sistema de agua y protección de manantiales.<br />

3. Panteón. Apertura de un panteón local.<br />

4. Introducción del Drenaje.<br />

5. Construcción de un salón social.<br />

6. Gestión de medico permanente en la comunidad.<br />

7. Pavimentación del camino de acceso.<br />

8. Campo deportivo.<br />

9. Local para la dirección de la escuela.<br />

10. Rehabilitación de viviendas.<br />

11. Introducción de letrinas al 25% de viviendas.<br />

12. Construcción de un parque de diversiones para niños.<br />

· Elaboración del programa de trabajo comunitario. Con el listado de problemas en orden de prioridad, se formula a partir<br />

de la propuesta de acciones más viables un plan de acción comunitario, en el que se propongan acciones concretas para<br />

iniciar el abordaje de los problemas planteados, es decir, la puesta en acción<br />

En este caso específico el plan de acción quedo determinado de la siguiente manera.<br />

Problemática Acciones a desarrollar Responsables y fechas.<br />

Las autoridades comunitarias en acompañamiento con el Instituto nacional indigenista<br />

invitarán al municipio e instancias correspondientes para conocer los resultados del diagnóstico comunitario y empezar la gestión<br />

de sus principales necesidades. Comisión de autoridades ejidales Y delegado municipal. Director del C.C.I. (INI) Ambas<br />

instancias se comprometieron que en un lapso de 20 días se invitaría a una reunión con autoridades del municipio e instituciones<br />

respectivas para exponerles los resultados.<br />

· Compromisos contraídos. Hasta aquí, los compromisos asumidos deben ser modestos pero plenamente cumplidos, ya<br />

que se iniciaran una fase de compromisos mutuos que las partes involucradas puedan llevar a cabo; es mejor partir de lo<br />

mínimo realizable ya que: el que “mucho abarca, poco aprieta”, pero no debe dejarse para mucho tiempo la motivación<br />

736


Seguimiento.<br />

que se haya logrado con la comunidad. En la medida que se vayan realizando pequeñas acciones, la comunidad cobrara<br />

confianza en las instituciones participantes y en su propia capacidad de gestión y autogestión.<br />

Con la finalización del diagnóstico comunitario, no concluye nuestro trabajo; todo lo contrario, aquí empieza la verdadera relación<br />

de acompañamiento y motivación con la comunidad, un compromiso más permanente y fortalecido, de mediano y largo alcance,<br />

bajo una nueva relación de trabajo: instituciones -comunidad.<br />

1. Entrega del documento “autodiagnóstico comunitario”. Con tal de proporcionar a la comunidad un documento lo mejor<br />

acabado posible que recoja las principales inquietudes de la población y que se convierta en un verdadero instrumento de<br />

gestión comunitaria o, como le llamaron en esta comunidad: “el librito”, equivalente a una carpeta básica, es necesario una buen<br />

trabajo de revisión y complementación en gabinete que no exceda de diez días hábiles para su entrega definitiva a la comunidad.<br />

La adjudicación de este “librito” a la comunidad es el equivalente a una monografía y es un fin en sí mismo, pero nuestro<br />

principal objetivo es que se convierta en un instrumento para la gestión comunitaria ante otras instancias gubernamentales y<br />

no gubernamentales, con o sin el acompañamiento Institucional.<br />

2. Compromisos de gestión y cogestión. El seguimiento a los compromisos debe tomar la seriedad necesaria para mantener<br />

vigente el interés de la comunidad en el logro de sus objetivos y acciones planteadas. Nuestra labor de acompañamiento será<br />

de gran estimulo para la consecución de sus fines. Aún más, nos da elementos para mantener una relación permanente con la<br />

comunidad, mantener actualizado el diagnostico, realizar gestión comunitaria ante otras instituciones, proponer ideas de<br />

proyectos, incluirlos en la apertura programática anual del municipio e instituciones con cobertura en la comunidad, así como<br />

evaluar las acciones derivadas del diagnóstico y dar seguimiento permanente.<br />

3. Seguimiento permanente. El seguimiento permanente debe ser parte de un plan de acción comunitaria y regional, en el que<br />

se inserte la acción institucional bajo un programa de trabajo y acciones concretas que le llamaremos: circulo permanente<br />

sistémico de la planeación comunitaria que consiste en una serie de acciones complementarias unas con otras:<br />

CIRCULO PERMANENTE SISTÉMICO DE LA PLANEACIÓN COMUNITARIA.<br />

· AUTODIAGNÓSTICO COMUNITARIO<br />

· PLAN DE DESARROLLO COMUNITARIO<br />

· AUTOGESTIÓN Y GESTIÓN<br />

· ELABORACIÓN DE PROYECTOS<br />

· PROGRAMACIÓN<br />

· EJECUCIÓN DE PROYECTOS<br />

· EVALUACIÓN<br />

· SEGUIMIENTO<br />

· AUTODIAGNÓSTICO.<br />

Las diferentes acciones no deben verse solo de manera lineal, sino fundamentalmente en forma circular y en correspondencia unas<br />

con otras, en conjunto forman parte del plan de seguimiento de desarrollo comunitario.<br />

737


En la medida que el autodiagnóstico comunitario se convierta en un instrumento para la planeación comunitaria e institucional,<br />

estamos creando: una cultura de la planeación; propiciando la autogestión comunitaria; la toma de decisiones como un ejercicio<br />

democrático y; dando pie a que las instituciones que inciden en el medio indígena y rural, entablen una nueva relación de respeto y<br />

consenso con las comunidades a quien deben su existencia.<br />

Técnicas de investigación y dinámicas individuales y de grupo.<br />

Para el levantamiento de la información se requiere poner en juego una multiplicidad de técnicas y dinámicas que nos permitan<br />

adquirir información de primer nivel y entablar una verdadera comunicación y confianza con los pobladores, para ello pondremos<br />

en juego una variedad de elementos y técnicas que nos permitan romper con la distancia tradicional entre el técnico y la comunidad.<br />

El trabajo de campo requiere de una participación plena y consciente de los sujetos involucrados, ya que desde la perspectiva de<br />

la investigación acción, en la medida que aquellos nos proporcionan información están recreando su realidad, analizando los<br />

acontecimientos y, a su vez, reconstruyendo su realidad y proyectando su futuro. De aquí que cualquier técnica de recolección de<br />

datos que decidamos utilizar, fuere conveniente en tanto considere este principio participativo.<br />

Entre los principales elementos encontramos la sensibilidad para comprender lo que esta aconteciendo en la comunidad con<br />

criterio de objetividad, evitando prejuicios y posiciones de superioridad, implica ser humilde y respetuoso con las personas<br />

que contribuyen con sus conocimientos, sin dejar de ser críticos de los acontecimientos.<br />

La observación es la técnica más elemental de todo estudioso de la realidad social, ver no es lo mismo que mirar ya que la<br />

observación detenida, minuciosa, nos lleva a conocer a descubrir la apariencia de las cosas. El ejercicio de describir lo que miramos<br />

nos crea la habilidad de la escritura y la sistematización.<br />

La libreta de campo.- Es una herramienta necesaria ya que se convierte en nuestra memoria diaria, es la bitácora por excelencia del<br />

investigador. “Escribir todo” es la primera recomendación cuando se inicia una investigación. En muchas ocasiones no sabemos<br />

cuando un dato nos va a ser útil. La libreta nos permite tomar frases textuales de los informantes que debemos poner entre comillas<br />

(“...”), copiar textos o inscripciones; así como hacer anotaciones, reflexiones, puntualizaciones , utilizando corchetes [... ], que<br />

serán de gran utilidad a la hora de redactar el documento ejecutivo y llenar los cuadros sistematizadores.<br />

Entrevista individual.- La entrevista individual se recomienda aplicar a aquellas personas que por determinados motivos no<br />

pueda o no quiera participar en reuniones colectivas. Es frecuente que personas de alto reconocimiento en la comunidad ostenten<br />

una posición discreta en el manejo de sus conocimientos y sus actitudes. Así mismo por el alto valor de sus conocimientos<br />

específicos es mejor entablar la relación personalizada. Es preferible llevar una guía abierta para la entrevista pero con contenidos<br />

delimitados.<br />

Talleres de trabajo. El trabajo colectivo es la dinámica recomendada por excelencia. De acuerdo a las características del grupo y<br />

de la información que se quiera obtener podrá trabajarse bajo las siguientes técnica grupales:<br />

Entrevista colectiva que implica una serie de preguntas dirigidas con el propósito de obtener una información más precisa y<br />

concensada. Se recomienda obtener un guión con anticipación.<br />

Se trabaja sobre temas delimitados y se procura que los participantes compartan experiencias y conocimientos relacionados con<br />

aspectos productivos, sociales, culturales, médicos, conocimiento medioambiental, organización comunitaria, justicia y de genero.<br />

Es importante agrupar a individuos de acuerdo al tema que dominen y esto lo sabe mejor la comunidad: grupos de productores,<br />

ganaderos, cafetaleros, citricultores, artesanos, etc.<br />

738


Talleres o micro talleres.- trabajo colectivo que tiene como finalidad fomentar la participación, el intercambio de ideas, la libre<br />

discusión, colectivizar el conocimiento. etc.: representantes de organismos comunitarios de decisión, autoridades agrarias, religiosas,<br />

tradicionales o civiles, médicos tradicionales y curanderos; comités de obras y servicios; jueces; grupos de trabajo o interés cultural;<br />

promotores o gestores comunitarios; artesanos / as; grupos de mujeres, etc.<br />

Corrillos o platica informal.- Consiste en aprovechar los espacios no formales de las reuniones para abordar temas comunes,<br />

alguna noticia, comentar sucesos, sugerir iniciativas, contar una anécdota o chiste, escuchar algún cuento y todo aquello que por ser<br />

común nos permita entablar la relación subjetiva, “desinteresada”, personal con los participantes. Estos momentos suelen<br />

convertirse en el verdadero “puente” de comunicación con la comunidad.<br />

El transecto. Consiste en un recorrido transversal sobre una línea espacial imaginaria que nos permita obtener una visión<br />

representativa de la diversidad física y biológica. Es decir los recursos naturales, que pose una comunidad, su utilidad y su potencial<br />

productivo y social. Nos permite obtener un panorama sucinto de su manejo y sus niveles de deterioro o conservación ambiental.<br />

El recorrido, en sí mismo, hace posible recopilar una serie de datos útiles pero, lo más importante, crea la posibilidad de intercambiar<br />

conocimientos entre los técnicos y los informantes; permite reconocer el territorio y su complejidad y se generan ideas que pueden<br />

convertirse en alternativas y proyectos futuros. El transecto como técnica de reconocimiento y valoración de campo puede ser útil<br />

para enfocarlo a otras áreas, como pueden ser: recorridos por la zona urbana; recorrido al área parcelaria; Visita expresa a sitios<br />

sagrados o arqueológicos, áreas protegidas, etc. Adquiriendo un conocimiento preciso sobre estos temas específicos.<br />

El uso de mapas, gráficos y cuadro analíticos. La representación gráfica espacial y temporal, es decir, la ubicación de la<br />

comunidad en el tiempo y el espacio a través de mapas, croquis y cronologías tendrá los efectos del reconocimiento propio como<br />

ejercicio de auto afirmación comunitaria, un efecto creativo y motivacional, de recuperación histórica y reflexión comunitaria sobre<br />

su situación actual. El uso de mapas y gráficos construidos por los mismo pobladores, permitirá que la comunidad se vea a sí misma,<br />

desde una perspectiva analítica y crítica, reconozca su territorio, valore sus recursos y prevea su desarrollo futuro.<br />

BIBLIOGRAFÍA:<br />

1. Balhen Ardila Jesús. Curso Taller en Investigación Acción Participativa. Antología. Patzcuaro, Michoacán. Octubre<br />

1998.<br />

2. Conesa Fernández, Vicente y otros. 1995. Guía metodológica para la evaluación del impacto ambiental. Ediciones<br />

Mundi- prensa. Madrid, España<br />

3. De Shutter, Anton. 1981.Investigación Participativa. Crefal. Patzcuaro. Mich., Capítulo cuarto.<br />

4. Fernando Cembranos, et.al. La Animación Sociocultural: Una Propuesta Metodológica. Editorial Popular S.A.<br />

segunda edición España. 1989<br />

5. Graciela Bustillo y L. Vargas. Técnicas Participativas para la Educación Popular. T.I,II. IMDEC. 2ª Edición. 1996.<br />

Guadalajara Jalisco, México.<br />

6. Grupo de Estudios Ambiéntales, Instituto de los Recursos Mundiales. El Proceso de Evaluación Rural Participativa.<br />

Una Propuesta Metodológica. Cuaderno No.1 Diciembre de 1994. México DF.<br />

739


“LA ACCIÓN COLECTIVA DE LA COORDINADORA DE ORGANIZACIONES<br />

CAMPESINAS E INDÍGENAS DE LA HUASTECA POTOSINA, (COCIHP), EN LA<br />

BÚSQUEDA DEL DESARROLLO SUSTENTABLE.”<br />

INTRODUCCIÓN:<br />

740<br />

ING. JULIO CESAR ROSETTE CASTRO<br />

Tesista de la MCDRR<br />

Investigador de Agrohuasteca, S.C.<br />

E-mail: jcrosette@hotmail.com<br />

DR. JULIO BACA DEL MORAL<br />

DR. MIGUEL ANGEL SAMANO RENTERÍA<br />

Maestría en Desarrollo Rural Regional<br />

Doctorado en Problemas Económico Agroindustriales<br />

Universidad Autónoma Chapingo<br />

Carretera México- Texcoco, Km. 38.5<br />

Texcoco, Edo. de México, México<br />

C.P. 54240<br />

Tel-fax: (5) 95. 52.357/ 95.2.15.44<br />

E-mail: juliobaca@yahoo.com<br />

misamano@hotmail.com<br />

La Coordinadora de Organizaciones Campesinas e Indígenas de la Huasteca Potosina (COCIHP), ubicada en el municipio de Xilitla,<br />

San Luis Potosí, ha generado una experiencia de movilización de recursos colectivos en la región de la Sierra de la Huasteca Potosina,<br />

que se caracteriza por sus altos niveles de marginización y de pobreza. La COCIHP esta en la búsqueda del Desarrollo Sustentable<br />

para sus socios y comunidades que la integran. Desde hace más de un lustro ha desarrollado programas y proyectos productivos, de<br />

género, comunitarios y para el mejor aprovechamiento de los recursos naturales. Desde hace dos años la COCIPH desarrolla un<br />

programa de “Fortalecimiento de la economía indígena y de sus comunidades”, que contempla cinco áreas a saber: mujeres, piloncillo,<br />

café, citrícos y organización (capacitación y formación).<br />

El propósito de esta ponencia es hacer un análisis de estos proyectos productivos y cual ha sido su impacto a nivel de los socios<br />

organizados de la COCIHP, para ver la problemática que enfrentan y cuales serían algunas alternativas para superar estas, y que<br />

logren incidir en el desarrollo rural regional sustentable a través de la promoción del desarrollo comunitario, y que su experiencia se<br />

conozca y se valore, ya que ésta puede dar la pauta para otras organizaciones de cómo articular la producción, la participación<br />

comunitaria y el aprovechamiento de los recursos naturales que hay en la región. Si duda la COCIHP es una organización consolidada,<br />

cuya fortaleza esta en sus comunidades y organizaciones de base.<br />

1. LA COCIHP COMO ORGANIZACIÓN REGIONAL:<br />

La COCIPH, es una organización de tercer nivel que se constituyó en julio de 1994 como Asociación Civil que tiene su sede en la<br />

ciudad de Xilitla, y la integran once organizaciones locales de segundo nivel como son: la Sociedad Cooperativa Agropecuaria “La<br />

Igualdad de Xilitla”, La Unión de Mujeres Campesinas de Xilitla, y la Cooperativa la “Cuna del Café de Xilitla”, en el municipio de<br />

Xilitla; la Unión de Ejidos 20 de Octubre y la Organización de Mujeres Citlalli de Axtla de Terrazas; la Sociedad Cooperativa Defensa<br />

Campesina y la Unión de Mujeres de Poytzen en el municipio de Tancanhuitz de Santos, la Organización de Mujeres Matepoxtli en<br />

el municipio de Matlapa, la Unión de Pueblos Tenek en el municipiode Aquismón, la Unión de Ejidos Adolfo López Mateos del<br />

municipio de Coxcatlan.


De las organizaciones que integran a la COCIHP, siete están consolidadas y cuatro están en proceso de integración aunque formalmente<br />

aparecen como socios, pero su influencia abarca seis municipios de la región centro-sierra de la huasteca potosina. La mayoría de los<br />

miembros de estas organizaciones de base son productores indígenas tenek y nahuas, campesinos y mujeres indígenas y mestizas,<br />

abarcando tres principales sectores agrícolas de la región a saber el cafetalero, citrícola y piloncillero. 1<br />

La COCIHP, es una agrupación que coordina esfuerzos, experiencias y propuestas de los productores indígenas y campesinos que<br />

la integran, con el propósito de mejorar las condiciones de vida de sus socios organizados en torno a proyectos productivos, de<br />

servicios, sociales, de comercialización, derechos humanos, capacitación y procesos organizativos. Cada organización local tiene un<br />

representante ante la COCIHP, además de contar con una mesa directiva integrada por un presidente, secretario, tesorero y un<br />

consejo de vigilancia. Dentro de la COCIHP hay comisiones de trabajo que impulsan los proyectos, además cuenta con un pequeño<br />

equipo técnico con un capturista y un contador que lleva la administración y dos asesores, uno para comercialización y otro de<br />

fortalecimiento organizativo.<br />

La COCIHP, es un organización regional gremial y económica y a su vez constituye una red social de organizaciones locales, sin<br />

embargo a trascendido el ámbito y el mercado local, ya que ha accedido a los mercados nacionales e internacionales, como es en el caso<br />

del café, por lo cual se integró a la Coordinadora Nacional de Organizaciones Cafetaleras (CNOC). En 1995 la COCIHP logró exportar<br />

café a través de CEPCO de Oaxaca, embarcando su producto en Veracruz. Sin embargo, en 1997 no se pudo comercializar el café y esto<br />

provocó la deserción de algunos socios, pero esto es uno de los principales problemas actuales, la comercialización y los precios bajos<br />

del café en el mercado nacional e internacional.<br />

Actualmente la COCIHP, junto con otras organizaciones regionales como son la Alianza de Productores Campesinos de la Huasteca<br />

y los Fondos Regionales, forma parte del Consejo de Desarrollo Sustentable de la Huasteca Potosina, y desde este espacio esta<br />

luchando para que sus propuestas sean tomadas en cuenta por el gobierno estatal y federal en cuanto al desarrollo agropecuario<br />

regional. La COCIHP esta buscando alternativas y estrategias para impulsar el desarrollo rural mediante la formulación de proyectos<br />

regionales de trascendencia, como es el presentado en 1999 ante la Fundación Interamericana de Desarrollo, cuando solicitó financiamiento<br />

para el “Fortalecimiento de la economía indígena campesina y de sus organizaciones”, que se esta realizando actualmente para apoyar<br />

proyectos productivos en los municipios de Xilitla, Axtla, Matlapa y Tancanhuitz. Se tiene un primer balance de los ocho meses del<br />

proyecto y la situación se expone a continuación.<br />

Proyecto de citrícos (naranja):<br />

La huasteca potosina es una región propicia para la producción de naranja, al igual que ciertas regiones citrícolas del norte<br />

de Veracruz con la cual colinda. Sin embargo el precio de la naranja es muy bajo en el mercado y además existe una vieja red de<br />

intermediarios que se encargan de la comercialización, que ha impedido a los productores obtener buenos precios por su producto. Por<br />

eso la COCIHP se planteó lograr una comercialización directa de la naranja y que esto beneficiara a los socios miembros de la Unión<br />

de Ejidos 20 de Octubre que tiene su sede en Axtla de Terrazas.<br />

La Unión de Ejidos esta formalmente constituida con 20 ejidos de los municipios de Axtla de Terrazas. Sin embargo, en la<br />

pasada temporada del ciclo otoño-invierno del año 2000, solo participaron en la comercialización 3 ejidos y 300 productores, de dos<br />

ejidos de Axtla de Terrazas y uno de Coxcatlán, debido a problemas internos de organización en la Unión de Ejidos, pero se logró<br />

colocar en el mercado mil toneladas de naranja para mesa y quinientas toneladas de naranja para jugo. El promedio de rendimiento por<br />

hectárea es de 4 toneladas, debido a la mosca de la fruta, que ha afectado severamente la producción de cítricos en la región.<br />

Uno de los ejidos más activos de la Unión es el de Chalco, que pertenece al municipio de Axtla de Terrazas, en este ejido hay<br />

239 ejidatarios, y la mayoría de ellos son productores de naranja que recibieron el apoyo de financiamiento por parte de la COCIHP,<br />

a través del proyecto de la Fundación Interamericana de Desarrollo, para la comercialización. En este ejido se instaló uno de los tres<br />

centros de acopio, esto generó seis empleos en cada centro para algunos productores de la Unión. Además se logró bajar los costos de<br />

trasporte de la naranja de $80.00 a $50.00 por flete de la huerta al centro de acopio. El principal mercado para la naranja de mesa fueron<br />

Zacatecas y Guadalajara. Esto costo trabajo y dinero explorar el mercado y amarrar los contratos de compra, además significó gastos<br />

administrativos que se calculan en $100.00 por tonelada, el precio al que se vendió fue de $500.00, quedando un precio real al<br />

productor de $400.00 por tonelada. En promedio los productores vendieron entre 5 a 10 toneladas obteniendo un ingreso de 2,000.00<br />

a 4,000.00 pesos. Esto no representa en si ganancias para el productor, pero tampoco perdidas, ya que se bajaron los costos de<br />

comercialización y se demostró que organizados pueden lograr mejores precios en el mercado.<br />

Dentro del Programa de Desarrollo Productivo Sostenible, la COCIHP y sus organizaciones recibieron, mediante el<br />

Consejo Regional de Desarrollo Sustentable de la Huasteca Potosina, apoyo para infraestructura de comercialización de la naranja,<br />

como es una banda elevadora para cargar los camiones, ya que en parte se hace la carga manual y se tienen que contratar varios peones<br />

para esto elevando los costos, también se piensa instalar una báscula y hacer rampas de descarga en cada uno de los centros de acopio<br />

y se esta solicitando un fondo de $35,000.00 que sirva de fondo revolvente para la comercialización. Se esta solicitando además apoyo<br />

para el manejo de las huertas y reducir la naranja de desecho que representa un total del 30% de la producción de las huertas, además<br />

los productores necesitan herramientas para hacer algunas labores agrícolas, como son las podas de los árboles.<br />

741


Desde el punto de vista agroecológico se esta pensando meter cultivos de cobertera, como el nescafé, para mejorar la calidad<br />

del suelo y elevar la producción, así como el control biológico de las huertas utilizando algunas plantas parasitoides, pero esta entra<br />

en contradicción con la campaña que desarrolla Sanidad Vegetal, ya que se pretende controlar a la mosca de la fruta con aplicaciones<br />

fuertes de insecticida y se esta solicitando que se platique con los productores para llegar a acuerdos y se organice el combate de la<br />

plaga mediante diferentes métodos, y que esto no afecte a la producción de la región, pero aun no se ha logrado concretar esto.<br />

Proyecto café (orgánico):<br />

La COCIHP, trabaja desde su fundación con la comercialización del café y pertenece a una red sectorial del café a nivel<br />

nacional siendo miembro de la Coordinadora Nacional de Organizaciones Cafetaleras (CNOC). Esto le ha permitido tener acceso a<br />

información y capacitación técnica y tener representación en organismos nacionales e internacionales del café y de esta manera acceder<br />

a mercados extraregionales. La cooperativa “La igualdad de Xilitla” ha logrado crear una marca propia que se conoce como “Café<br />

Teenek” y desde hace cuatro años se comercializa el café de manera coordinada. Desde hace dos años se cuenta con un tostador-molino<br />

de café y cuenta también con un beneficio húmedo de café. Desde hace tres años se viene trabajando en el proyecto de café orgánico,<br />

que esta próximo a entrar a la etapa de verificación y posteriormente de certificación para poder comercializar café orgánico.<br />

En el último ciclo de producción de café se comercializaron 34.5 toneladas de café oro natural y lavado que se exportaron a<br />

través del puerto de Veracruz. El ingreso promedio por productor fue de $759.00 y se beneficiaron alrededor de 1000 productores.<br />

Desde agosto de 2001 se inició una campaña de promoción y venta de café tostado y molido, principalmente a través de ferias<br />

nacionales, estatales y regionales, esto ha significado un aumento del 60% en el precio de venta del café del productor, pero aun son<br />

volúmenes pequeños y no ha beneficiado a todos los productores. La principal limitante que enfrenta el café actualmente son los bajos<br />

precios en el mercado y la reducción de las exportaciones mexicanas de café. Se ha confirmado que el valor agregado del café, como café<br />

orgánico, tostado y molido tiene mejor precio, esto significa mayor ingreso para los productores.<br />

En cuanto al proyecto de café orgánico actualmente hay seis promotores, cada uno trabaja como promotor en dos comunidades.<br />

Actualmente hay 156 socios de café orgánico distribuidos en 14 comunidades. La tarea de los promotores es capacitar a los<br />

productores en las técnicas para transformar su café natural a orgánico y la conservación de suelos a través de poner barreras vivas<br />

continuas. En las huertas de cafetales orgánicos se hacen podas, recepas, se renuevan cafetales y el chapeo o limpia se hace de 10 a<br />

15 cms de altura de los tallos. Cada mes se cambian las actividades a realizar y se tiene un calendario para esto. Por ejemplo se les<br />

enseña a los productores como se debe hacer el corte de café y como se debe seleccionar la semilla para la reproducción de plantas. Se<br />

hacen talleres para aprender el fermentado de café y como hacer el secado y como empacar el café en costales de ixtle.<br />

En cada comunidad hay un representante y a su vez funge promotor local del café orgánico. Actualmente se esta promoviendo<br />

la lombricomposta, y se está a nivel de producción de lombrices que serán utilizadas para hacer abono orgánico que se aplicará a las<br />

plantaciones de café. Actualmente el proyecto de café cuenta con un asesor técnico que orienta a los productores en la producción<br />

orgánica. Lo importante del proyecto es que no solo el café obtiene un sobreprecio, sino que despierta la conciencia del productor en<br />

la conservación del medio ambiente y de los recursos con los que cuenta. Se trata de promover un proceso integral de producción<br />

agrícola. Sin embargo el proyecto tiene ya cuatro años pero aun no se tienen beneficios económicos inmediatos e implica mayor<br />

esfuerzo y trabajo. El proceso de despertar la conciencia del productor por la agricultura orgánica va lento, pero hay avances y se ha<br />

logrado evitar la aplicación de agroquímicos.<br />

El problema de la producción orgánica es que cada productor tiene que hacer la calendarización de sus trabajos en la parcela<br />

y la familia tiene que llevar una ficha técnica y por el momento al no haber ingreso significa un problema para la economía familiar. Se<br />

tienen dos años inspeccionado por parte de los promotores las huertas de café orgánico. Este año (2002) se realizó la inspección de<br />

certificación, por parte de OCIA, el próximo año se espera tener la certificación. Ya se tiene un posible comprador en los Estados<br />

Unidos. Otro problema que se tiene es que falta infraestructura como son herramientas de trabajo, patio de secado y barreras vivas<br />

para detener la erosión del suelo provocado por las lluvias. Además se necesitan despulpadoras para los socios, una maquina<br />

seleccionadora electrónica de café, un beneficio para secado del café en seco. Todos estos aspectos de infraestructura se están<br />

solicitando al Consejo Regional de Desarrollo Sustentable.<br />

Proyecto piloncillero:<br />

El sector de los productores piloncilleros es el menos organizado y no ha podido concretar varios proyectos que se han<br />

propuesto, como es el mejoramiento de la caña sembrada, la modernización del proceso de producción en los trapiches, y mejorar los<br />

diferentes procesos agroindustriales del piloncillo, para agregarle valor a su producto. En lo que se ha tenido un poco de avance es en<br />

la comercialización, ya que se logró recientemente vender directamente 35 toneladas junto con los productores de Tanlajas S.L.P.<br />

742


El problema fundamental del piloncillo industrial es que no hay mercado, ya que eran las tequileras las que consumían<br />

grandes cantidades de piloncillo, y actualmente muchas de ellas han quebrado, o han integrado su producción comprando algunos<br />

ingenios azucareros de la región de Jalisco y Nayarit. LA COCIHP comercializaba antes con una tequilera que quebró recientemente<br />

e incluso no les pago parte del piloncillo entregado. Con la reciente experiencia de la comercialización junto con los productores de<br />

Tanlajas les permitió fijar un precio a su producto para toda la temporada, ya que los compradores anteriormente hacían variar el<br />

precio, lo subían y lo bajaban según a su conveniencia y en esta ocasión se mantuvo un precio fijo durante toda la temporada y al final<br />

de la cosecha los acaparadores aumentaron 10 centavos el kilo de piloncillo blanco que fue de $3.50 por kilo. En el caso del piloncillo<br />

industrial, que es el principal producto de la Sociedad Cooperativa Defensa Campesina de Tancanhuitz, el precio fue de $2.00 kg.<br />

Las comunidades piloncilleras que están organizadas en la COCIHP son cinco y sus miembros son de la etnia Tenek, y<br />

pertenecen los municipios de Aquismón y Tancanhuitz, participan alrededor de 150 productores. Con la comercialización del<br />

piloncillo cada uno de ellos obtuvo en promedio un ingreso de $3,200.00. Esta experiencia mostró que es posible obtener buenos<br />

precios en la comercialización y que vale la pena organizarse. La COCIHP apoyo a través de los fondos obtenidos por la Fundación<br />

Interamericana de Desarrollo a los productores piloncilleros, poniendo centros de acopio y se encargo del transporte y de buscar el<br />

mercado, esto implica un esfuerzo de organización de los productores, pero los resultados han sido obres, pero positivos.<br />

A futuro se tienen contemplado buscar nuevas alternativas de comercialización del piloncillo como es el proyecto de<br />

producir azúcar mascabado para el mercado, pero esto es una segunda fase del programa de comercialización.<br />

Proyecto de mujeres:<br />

El proyecto de mujeres de la COCIHP tiene presencia en tres municipios como son Xilitla, Axtla y Tancanhuitz. Los productores de<br />

la COCIHP han apoyado a las mujeres para que participen en la organización, muchas mujeres se han organizado, aunque no todas.<br />

La Unión de Mujeres de Xilitla es una de las organizaciones de mujeres más consolidada dentro de la COCIHP, esta Unión está<br />

organizada por áreas de trabajo, como veremos a continuación. Se tiene pensando legalizar a la ”Unión” para conseguir apoyos<br />

directos, de las diferentes instituciones.<br />

Actualmente con el apoyo de la Fundación Interamericana de Desarrollo se impulsa el proyecto de Estufas y Letrinas ecológicas, con<br />

la Unión de Mujeres de Xilitla. En el proyecto están participando 10 comunidades y la Unión la integran 258 mujeres, pero en el<br />

último censo se detectó que participan 100 mujeres que están promoviendo en las 10 comunidades las letrinas secas y las estufas<br />

lorena o ecológicas. En base al censo se van a hacer 30 estufas ecológicas y 17 letrinas secas próximamente. También se esta<br />

proyectando otro tipo de estufas que sirvan también como hornos de pan y mejorar así la alimentación. En el proyecto de estufas y<br />

letrinas participan seis mujeres promotoras y se les apoya con recursos de la Fundación Interamericana. En cada una de las<br />

comunidades participantes en el proyecto hay una representante que se coordina con el grupo de promotoras.<br />

En cuanto a los proyectos productivos que están promoviendo la Unión de Mujeres están la instalación de molinos de nixtamal en las<br />

comunidades, que alivian el trabajo de la molienda, y la instalación de granjas de pollo familiares, para obtener huevo e ingresos<br />

económicos y la producción en huertas de hortalizas orgánicas para mejorar la alimentación.<br />

Para los molinos de nixtamal se organiza un grupo de mujeres en cada comunidad para solicitar a la Unión el apoyo para la instalación<br />

del molino. La Unión a través de la COCIHP hace las solicitudes necesarias a las dependencias correspondientes, para obtener los<br />

apoyos económicos y materiales, y se logre la instalación del molino. Las mujeres se organizan internamente en cada grupo para<br />

atender el molino y dar el servicio a la comunidad sin ninguna remuneración, se trata de trabajo voluntario con la idea de beneficiar a<br />

la comunidad. Por ejemplo en un grupo de mujeres se organizaron 23, de estas cuatro atienden el molino y seis más atienden una tienda<br />

de consumo, que beneficia también a toda la comunidad.<br />

Las granjas de pollos que tiene la Unión de mujeres son paquetes de 20 pollos y se crían en la época de secas. Los pollos son de engorda<br />

y son para venderlos en el comedor de la cooperativa de mujeres de Xilitla. Para alimentar a los pollos se tiene que comprar alimento<br />

balanceado y este lo compran con los ingresos de la venta misma de los pollos, pero se quiere impulsar un proyecto de fabricación de<br />

alimento alternativo en base a plantas de la región, que sirven para alimentar a los pollos.<br />

En cuanto a las huertas de hortalizas orgánicas estas son fundamentalmente para el autoconsumo. Las huertas son de 100 a 200 metros<br />

cuadrados y las mujeres se organizan por grupos en cada comunidad, para comprar las semillas y trabajar colectivamente en la huerta.<br />

Actualmente se están reforzando las cercas de las huertas con el cambio de los postes de madera, para evitar que entren los animales<br />

y se coman las verduras producidas. En las huertas también se han instalado tanques de ferrocemento que sirven para el riego de las<br />

huertas. Además se promueve la siembra de árboles frutales como son el zapote blanco, la guayaba y otras frutas que se dan en la<br />

región. Se tiene el proyecto a futuro poner secadoras de fruta para vender fruta seca. Para promover las huertas hay una representante<br />

en cada comunidad.<br />

Además de lo anterior la Unión de Mujeres tiene un grupo de promotoras sobre la salud. Se estuvo trabajando en la capacitación sobre<br />

medicina natural y actualmente de todo el grupo quedan seis promotoras que se dedican a hacer medicamentos en microdosis, jarabes,<br />

jabones, etc. y se hacen como servicio a la Unión. El problema que tienen es que las plantas que se utilizan para la elaboración de las<br />

743


microdosis es que no son de la región y además falta la conciencia de la gente para el empleo de las plantas naturales para curarse.<br />

Actualmente se esta tratando de promover talleres de medicina natural en las comunidades.<br />

Proyecto de formación y capacitación de promotores:<br />

Con el apoyo de la Fundación Interamericana de Desarrollo se logró que 11 receptores de café se convirtieran en promotores al<br />

explicarle a los productores la crisis cafetalera y la importancia de las calidades de café a acopiar por los socios de su comunidad. En<br />

la comisión de comercialización del café participaron cuatro productores que se capacitaron en la identificación de las diferentes<br />

calidades de café y detectaron los cafés dañados, ellos se convirtieron en capacitadores de los receptores y le dieron seguimiento al<br />

acopio para garantizar la calidad del café. La comisión comercializadora llevaron controles en el almacén y la entrega de café al<br />

tostador, así como la forma de realizar la compraventa y fijar los precios locales en base a los precios de venta.<br />

En cuanto al proyecto de café orgánico los seis promotores han jugado un papel fundamental en el manejo y la producción, ya que<br />

estos promotores están capacitados por asesores externos y a su vez se han convertido en capacitadores de los 11 promotores<br />

comunitarios de café orgánico y estos a su vez de los productores que participan en el proyecto. Ha sido innovador la instalación de<br />

dos módulos demostrativos de lombricultura, que ha tenido buenos resultados y se van a poner otros módulos en otras comunidades,<br />

para difundir esta practica de fertilización orgánica.<br />

En la comercialización de cítricos se tuvo una buena experiencia al lograr una coordinación entre el asesor, el responsable de<br />

comercialización y el encargado del centro de acopio, que significó una forma nueva de trabajo y que redituó en el productor obtener<br />

un mejor precio. Fueron siete personas que se encargaron del acopio y comercialización y aprendieron a seleccionar y separar la<br />

naranja de mesa de la juguera. Se capacito a los productores para que fuera seleccionando la naranja desde su huerta y la naranja recién<br />

cortada llegó directo al consumidor y esto agradó a los compradores.<br />

En la comercialización del piloncillo participaron 7 personas entre ellas el asesor, el responsable de comercialización y 5 receptores<br />

en los centros de acopio, este equipo fue el eslabón directo con los productores. Lo más importante que se logró con la organización<br />

de la comercialización conjuntamente los productores de Tancanhuitz con los de Tanlajas es que se pudo fijar un precio a los<br />

compradores y mantenerlo durante toda la cosecha y se pudo hacer un contrato por el ciclo de producción.<br />

En cuanto a las mujeres fue significativo que las seis promotoras hicieran un diagnóstico de las necesidades de letrinas y de estufas,<br />

y que en esta labor se integraran a las representantes de cada comunidad, en total diez mujeres, cuya colaboración fue clave en la<br />

elaboración del diagnóstico e información a las socias que se interesaron en el proyecto. Las promotoras se capacitaron para hacer<br />

cotizaciones, realizar compra de materiales para las estufas y las letrinas y distribuir los apoyos en las comunidades que pertenecen<br />

a la Unión de Mujeres.<br />

La COCIHP y el entorno institucional regional:<br />

A través del proyecto de “Fortalecimiento de la economía campesina y de sus comunidades” la COCIHP ha ampliado su radio de<br />

acción y ha interactuado con las instituciones que hay en la región y que tienen que ver directamente con el desarrollo rural y la<br />

producción agropecuaria, como es el caso del Programa de Desarrollo Sustentable de la Huasteca Serrana, la SAGARPA, con la<br />

Secretaria de Agricultura del Gobierno del Estado, la SEMARNAT y Sanidad Vegetal, y con otras que tienen influencia en el desarrollo<br />

social y cultural como es la radio XEANT “La voz de las Huastecas”, con el INI y la presidencia municipal de Xilitla.<br />

La COCIHP obtuvo apoyos financieros para equipamiento y asesoramiento para la comercialización a través de PROFECA.<br />

También ha gestionado recursos para sus socios de organizaciones y comunidades, en el Programa de Desarrollo Sustentable de la<br />

Huasteca Serrana, donde cuatro organizaciones de la COCIHP son miembros consejeros del Consejo del Programa. La COCIHP<br />

también es miembro del Consejo Potosino del Café, donde cuatro de sus organizaciones tienen consejeros. Además la COCIHP ha<br />

colaborado en acciones conjuntas que benefician a los pueblos indígenas, con el INI, la XEANT, SEMARNAT y Sanidad Vegetal,<br />

aunque hay diferencias con esta última porque sus programas afectan la producción orgánica de café y a la producción de cítricos,<br />

debido al combate de la mosca de la fruta.<br />

La COCIHP esta solicitando que dos técnicos de las dependencias oficiales atiendan los programas productivos que realizan sus<br />

socios, ya que se requiere capacitación para elaborar los proyectos productivos y realizar las prácticas técnicas adecuadas. También<br />

esta tratando que se agilicen los trámites burocráticos de los diferentes programas gubernamentales para que lleguen a los productores,<br />

sin tanto papeleo y la información llegue adecuadamente y a tiempo. De no darse una participación activa de los productores en estos<br />

programas, las organizaciones son excluidas de los apoyos gubernamentales.<br />

744


Finalmente cabe señalar que la COCIHP y sus organizaciones a través de sus diferentes proyectos productivos con el apoyo de las<br />

instituciones antes mencionadas logró captar un poco más de tres millones de pesos en apoyos para los programas y proyectos<br />

concretos. Esto muestra la capacidad de gestión de la COCIHP y sus organismos de base que la integran, y es el reflejo de cierto modo<br />

del grado de organización alcanzando.<br />

CONCLUSIONES:<br />

La experiencia aquí analizada de una organización regional como es la COCIHP observamos que avanza con paso lento pero firme en<br />

la nueva concepción del Desarrollo Sustentable, con base en la participación de las comunidades que forman parte de las organizaciones<br />

locales de la COCIHP, que se ha abocado a la comercialización de los tres principales productos agrícolas que hay en la región centro<br />

de la huasteca serrana como es el café, la naranja y el piloncillo. La otra organización importante que participa en los proyectos<br />

productivos es la Unión de Mujeres de Xilitla, que son las que están promoviendo las estufas y las letrinas ecológicas, con el fin de<br />

ir despertando la conciencia sobre el desarrollo sustentable y esto ha coadyuvado a fortalecer la organización comunitaria, en la medida<br />

en que los productores y las mujeres se han dado cuenta que el esfuerzo por organizarse da frutos.<br />

La gran problemática que enfrenta la COCIHP y todas las comunidades de la región huasteca serrana es que no hay mercados en la<br />

región para sus productos agrícolas y los precios que se ofrecen por estos algunas empresas o por los acaparadores son sumamente<br />

bajos. Esto se debe a una falta de política de Estado y de gobierno que detone en una promoción real del Desarrollo Rural Regional,<br />

lo que ha impedido el mismo desarrollo económico y social de las comunidades campesinas e indígenas de la Huasteca Potosina. El<br />

Programa de Desarrollo Sustentable para la Huasteca Serrana ha tenido magros resultados, ha pesar de que cuenta con apoyo<br />

financiero del Banco Mundial y del Gobierno del Estado, pero aun no se entiende bien a bien que significa “sustentable” y en última<br />

instancia cada dependencia y organización que integra el Consejo del programa tiene una interpretación y una visión diferente de lo que<br />

significa lo “sustentable”.<br />

Consideramos que los avances que ha logrado la COCIHP es su proyecto de “Fortalecimiento de economía campesina y sus<br />

comunidades”, con apoyo financiero de la Fundación Interamericana de Desarrollo son positivos, porque se ha promovido la<br />

participación comunitaria y se han impulsado proyectos orientados a crear conciencia sobre lo que se debe entender por sustentabilidad,<br />

que es el aprovechamiento de los recursos naturales, pero de una manera racional, que permita el mejoramiento de la calidad de vida<br />

de los productores y sus familias y que se vislumbre como una meta a alcanzar en un futuro encontrar mercado para los productos<br />

orgánicos o ecológicos, que les permitan obtener mejores ingresos y se recuperen y se conserven los recursos con los que aun cuentan<br />

las comunidades campesinas e indígenas de las organizaciones de base de la COCIHP.<br />

Esta experiencia desarrollada por la COCIHP nos muestra lo difícil que es y el trabajo que implica la labor organizativa comunitaria.<br />

Hay que crear conciencia y lograr establecer la comunicación directa y efectiva con los productores y con las mujeres y librar una serie<br />

de dificultades que se van atravesando en el camino, como son los problemas de comercialización, de capacitación técnica, la falta de<br />

infraestructura y los trámites para obtener recursos de apoyo financiero, ante las dependencias y organismos, para lograr los<br />

propósitos de los proyectos productivos, pero al fin de mucho esfuerzo se ve redituado en la mejora de los precios de sus productos<br />

con una comercialización directa, en que se han obtenido ingresos extras al agregarle valor a su producto como es el caso concreto del<br />

café tostado y molido, o la venta de pollos de engorda que ha ayudado a las mujeres para apoyar otros proyectos, como son la huertas<br />

de hortalizas orgánicas o en la construcción de estufas y letrinas ecológicas.<br />

Podemos concluir que el proceso hacia el desarrollo sustentable y la participación comunitaria es un largo camino que apenas se ha<br />

empezado a andar por la COCIHP, pero una cuestión clave para lograr que esto se haga realidad es necesario primero contar con una<br />

sólida organización comunitaria que permita agruparse a los miembros de estas en proyectos afines y se logre una organización<br />

regional, como es el caso de aquí analizado, ya que el viejo lema de la unión hace la fuerza sigue siendo una premisa valida en los<br />

momentos actuales, en que las comunidades indígenas tratan de resistir ante los embates de la globalización, el neoliberalismo y la<br />

modernidad, que trata de romper con su organización comunitaria, productiva y política.<br />

Esta ponencia ha tratado, más que discutir teóricamente los conceptos de Desarrollo Sustentable, Participación Comunitaria y<br />

Conservación de la Biodiversidad, partir de una experiencia concreta que están desarrollando los sujetos sociales organizados en una<br />

región y una problemática concreta y como la están enfrentando, ya que mucho se ha discutido sobre la pertinencia de impulsar el<br />

Desarrollo Sustentable en la Huasteca Potosina, pero es importante ver como un actor social concreto, como es la COCIHP, se<br />

interrelaciona con otras instituciones y organismos y sus comunidades para lograrlo y que dificultades aun tiene por delante. Se debe<br />

apoyar a las comunidades campesinas e indígenas organizadas que están impulsando y desarrollando proyectos autogestivos, como<br />

los aquí analizados.<br />

Desde nuestro punto de vista es necesario definir una política y una planificación clara para promover el Desarrollo Sustentable, la<br />

participación comunitaria, y la conservación de la biodiversidad, pero en donde participen todos los actores que están involucrados<br />

en el país, en el estado, en la región o en el municipio y tratar de concensar intereses y que haya una coordinación real de los programas<br />

y proyectos a implementar y contar con la infraestructura y recursos financieros y humanos necesarios para lograrlo, de lo contrario<br />

745


se caen en el peligro de la demagogia “per ce”, de querer hacer algo pero no hay con que y no se tiene claro el cómo. El Desarrollo<br />

Sustentable y la participación comunitaria debe ser una estrategia de Estado y de gobierno, en sus tres niveles y donde se incluya la<br />

perspectiva regional, de lo contrario será una utopía inalcanzable para las comunidades de campesinos e indígenas y las organizaciones<br />

que han venido haciendo camino al andar.<br />

1 Ver. Julio Rosette et. al. Julio Baca coordinador y Miguel Angel Sámano asesor. Diagnóstico y Regionalización Agrícola y Desarrollo<br />

Sustentable de la Huasteca Potosina. Maestría en Ciencias en Desarrollo Rural Regional de la UACH, octubre de 2000.<br />

746


REFLEXÃO E RELATO SOBRE O PARADIGMA HOLÍSTICO E/OU SISTÊMICO E<br />

ECOLÓGICO COMO FUNDAMENTAÇÃO DE PROJETOS INTER E<br />

TRANSDISCIPLINARES DE SAÚDE COMUNITÁRIA COM PLANTAS MEDICINAIS :<br />

A EXPERIÊNCIA DO PROJETO: “TROCA DE CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS E<br />

POPULARES DE PLANTAS MEDICINAIS - PARCERIAS INTERINSTITUCIONAIS -<br />

EXPERIÊNCIAS INTER E TRANSDISCIPLINARES - UNESC/UNISUL E<br />

PASTORAL DA SAÚDE REGIONAIS CRICIÚMA E TUBARÃO/SANTA CATARINA”<br />

(2001/2002).<br />

747<br />

*Kátia Mara Batista<br />

“O novo paradigma, uma constelação de concepções, de valores, de percepções e de práticas compartilhados por uma comunidade<br />

e que estabelece uma visão particular da realidade pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como<br />

um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas. Pode também ser denominado visão ecológica, se o termo<br />

‘ecológica’ for empregado num sentido muito mais amplo e mais profundo que o usual. A percepção ecológica profunda reconhece<br />

a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados<br />

nos processos cíclicos da natureza e, em última análise, somos dependentes desses processos” - Fritjof Capra<br />

1. Introdução:<br />

Primeiramente gostaríamos de estar fazendo uma reflexão sobre como vem surgindo a compreensão sobre a questão teórica de “visão<br />

de mundo e paradigmas”, na seção seguinte “os postulados e os entendimentos interdisciplinares e transdisciplinares do paradigma<br />

sistêmico e/ou holístico e ecológico” e por fim estaremos abordando o “relato sobre o paradigma holístico e/ou sistêmico e ecológico<br />

como referencial em projeto inter e transdisciplinar de saúde comunitária com Plantas Medicinais”. 1<br />

A reflexão sobre essa percepção como inspiradora e norteadora metodológica do projeto de extensão acadêmica intitulado - Troca de<br />

Conhecimentos Científicos e Populares de Plantas Medicinais - Parcerias Interinstitucionais - experiências Inter e Transdisciplinares<br />

- UNESC/UNISUL e Pastoral da Saúde Regionais Criciúma e Tubarão/Santa Catarina” (2001/2002).<br />

2. Visão de Mundo, Paradigmas<br />

No debate teórico científico, a palavra Paradigma ficou popularizada pelo físico Thomas Kuhn em seu <strong>livro</strong> A Estrutura das<br />

Revoluções Científicas, publicado em 1962,<br />

“ a palavra paradigma significa, portanto, um modelo ou um conjunto das formas básicas e dominantes<br />

do modo de se compreender o mundo e o modo de uma sociedade ou mesmo de uma civilização - do<br />

modo de se perceber, pensar, acreditar, avaliar, comentar e agir de acordo com uma visão particular<br />

de mundo, numa descrição mais aceita, culturalmente repassada pela educação, do que seja a nossa<br />

realidade, numa bem sucedida maneira de ver, se ver, nos vermos o/ou o mundo e que é culturalmente<br />

transmitida às novas gerações” Khun (1962).<br />

Desta forma, pretende-se sugerir que certos exemplos da prática científica atual - tanto na teoria quanto na aplicação - estão ligados<br />

a modelos conceptuais de mundo dos quais surgem certas tradições de pesquisa. A ciência não é um processo de descoberta, em<br />

sentido estrito, de uma realidade dada, porém parece ser mais um processo de construção intelectualmente coerente, refletindo um<br />

diálogo do pensamento humano com os fenômenos naturais e, assim, uma melhor compreensão humana, feita e comentada por<br />

homens, que lhes permitam explicar satisfatoriamente e dentro de certos critérios, alguns aspectos da realidade. Ou, em outras<br />

palavras, a ciência se constrói em cima de alguns fundamentos filosóficos e visões e percepções de mundo bem definidos, mesmo que<br />

não sejam muito conscientes.<br />

Desde a revolução conceptual ocorrida na década de vinte, com o desenvolvimento da Física Quântica, que está cada vez mais claro<br />

- pelo menos para muitos físicos célebres e importantes - que a ciência, através de seu desenvolvimento e descobertas, apresenta uma<br />

visão de mundo que é apenas um modelo, ou um mapa temporário, uma construção intelectual, parcial, da realidade, e que deve passar<br />

por inúmeros retoques, ou até mesmo ser completamente reformulado, através do tempo, à medida que novos “insights” e novas<br />

descobertas - muitas delas incompatíveis com a visão de mundo dominante - ganham terreno.<br />

Portanto, para muitos físicos, filósofos, psicólogos e antropólogos, bem como para ecologistas e outros estudiosos sistêmicos, não<br />

é surpreendente a descoberta de que um dado modelo é como uma janela que nos permite ver parte da realidade sem, contudo,<br />

apresentar uma adequada visão para toda a complexa realidade, que extrapola - e muito - a área de observação da janela-teoria aceita.


O conceito de complementaridade, introduzido por Niels Bohr na Física, pode muito bem ter sido um dos pontos altos mais<br />

significativos da ciência nos últimos duzentos anos, levando a um processo de maturação da ciência. Por este conceito, formas<br />

aparentemente contraditórias de se compreender um fenômeno passam a ser aceitas como complementares, integrando o conhecimento<br />

que temos. O exemplo clássico é o do estudo dos fenômenos luminosos, onde modelos de descrição das características da luz - os<br />

modelos ondulatórios e de partículas - que, pelo paradigma clássico são incompatíveis - passam a ser ambos aceitos para a descrição<br />

de certos aspectos observáveis da luz.<br />

Desta maneira, o paradoxo é necessário. Ele aceita a discrepância lógica entre os dois aspectos extremos, mas igualmente complementares<br />

para uma descrição exaustiva de um fenômeno. No domínio do quantum não se pode ter uma objetividade completa... Ruiu, assim,<br />

mais um pilar newtoniano-cartesiano, o mais básico, talvez: não se pode mais crer num universo determinístico, mecânico, no sentido<br />

clássico do termo. A nível subatômico não podemos afirmar que exista matéria em lugares definidos do espaço, mas que existem<br />

“tendências a existir”, e os eventos têm “tendências a ocorrer”. É este o Princípio da Incerteza de Heisenberg. Tais tendências<br />

possuem propriedades estatísticas cuja fórmula matemática é similar à formula de ondas. É assim que as partículas são, ao mesmo<br />

tempo, ondas.<br />

A Física deixa de ser determinística para se tornar probabilística, e o mundo de sólidos objetos materiais, que se pensava bem definido,<br />

se esfumaça num complexo modelo de ondas de probabilidade. Cai o determinismo em Física. As “partículas” não têm mais<br />

significado como objetos isolados no espaço; elas só fazem sentido se forem consideradas como interconexões dinâmicas de uma rede<br />

sutil de energia entre um experimento e outro (Capra, 1982, 1986; Grof, 1988; Heisenberg, 1981).<br />

Ficou demonstrada que a certeza num universo determinístico era fruto do desejo humano de controle e previsibilidade sobre a<br />

natureza, e não uma característica intrínseca da mesma. A concepção newtoniana era apenas uma formulação lógica sobre a natureza,<br />

refletindo uma idéia pessoal de mundo.<br />

Da mesma forma, as ciências humanas vem rompendo com os grilhões de sua obsessão mecanicista-mensurável para se lançar numa<br />

integração complementar de teorias que englobam, como na física, sistemas complementares corpo-mente-consciência-ecologia.<br />

Alguns antropólogos e outros cientistas sociais descrevem como algumas sociedades ditas primitivas usam de certos “poderes”, que<br />

para o ocidente são impossíveis, de modo corriqueiro em suas vidas diárias, e que funcionam tanto quanto as terapias respeitadas<br />

convencionais do ocidente. Temos assim os xamãs, os médiuns, os curandeiros e muitos outros.<br />

“Estes vários exemplos ressaltam a dificuldade que temos em reconhecer o quanto a ‘realidade’ que<br />

percebemos é peculiar à nossa hipnose cultural. Tendemos a achar curioso o fato de que outras<br />

culturas ‘tradicionais’ ou ‘primitivas’ percebam a realidade de forma discrepante do ponto de vista<br />

global da ciência moderna. É muito penoso alimentar o pensamento de que nós, na moderna e tecnológica<br />

sociedade ocidental, podemos ter as nossas próprias peculiaridades culturais quanto ao modo de<br />

perceber o mundo, e de que nossa realidade possa ser tão intrinsecamente provinciana quanto a da<br />

Idade Média nos parece hoje. Uma vez que a ciência ocidental é o ‘melhor’ sistema já concebido de<br />

saber, parece razoável que consideremos nossos valores ‘normais’, nossas preferências ‘naturais’ e<br />

o nosso mundo percebido e medido, como uma máquina sujeita ao homem técnico, o ‘real “ (Harman,<br />

apud Guimarães 1996).<br />

3. Os Postulados e os Entendimentos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Paradigma Sistêmico e/ou Holístico e<br />

Ecológico<br />

Na revisão de literatura sobre os postulados dessa concepção, podemos encontrar ênfases sobre como essa visão leva em conta tudo<br />

o que diz respeito à percepção humana da realidade e, conseqüentemente, os valores humanos que estão enlaçados. O que de certa<br />

maneira nos faz incluir novas formas de olhar os fenômenos. Pois, como nos diz o físico Fritjof Capra e outros estudiosos da filosofia<br />

da Ciência, “alienadamente não reconhecemos que os valores Não são periféricos à ciência e nem à tecnologia, mas constituem a sua<br />

própria força motriz”. Culturalmente, acreditamos que os valores podem ser separados dos fatos (objetividade), e assim pensamos<br />

que os fatos científicos são independentes daquilo que fazemos e, portanto, são isentos de valores.<br />

“Na verdade os fatos científicos emergem de toda uma constelação de percepções, valores e ações<br />

humanas - em uma palavra, emergem de um paradigma - dos quais não podem ser separados. (...).<br />

Portanto os cientistas são responsáveis por suas pesquisas não apenas intelectualmente, mas<br />

moralmente. Dentro do contexto da Ecologia Profunda, a visão segundo a qual esses valores são<br />

inerentes a toda a natureza viva está alicerçada na experiência profunda, ecológica ou espiritual, de<br />

que a natureza e o eu são um só. Essa expansão do eu até a identificação com a natureza é a instrução<br />

básica da ecologia profunda(...)” (Capra,1997,p.29).<br />

Esta percepção de que pertencemos, ou melhor, de que somos parte de um todo sistêmico - e que é encontrada intuitivamente nas<br />

crianças, nos índios, em algumas comunidades orientais, nas tradições mais antigas dos povos da Europa pré-cristã e em outras<br />

comunidades ditas preconceituosamente de primitivas, sentidas por poetas, biólogos e artistas de todos os tempos - acaba por gerar<br />

um comportamento ético-vivencial que advém de dentro da própria alma do ser humano.<br />

748


Nesta acepção, podemos ver que todos os seres vivos são membros de comunidades ecológicas ligadas umas às outras numa rede de<br />

interdependências, formando uma rede de vida dinâmica e auto-consistente. Com estas características, a própria rede parece ser um<br />

organismo. Neste sentido, o homem não é melhor ou pior que qualquer outra espécie, mas um componente fundamental desta rede,<br />

criado por ela, mantido por ela, influenciado por ela e tendo o poder de influenciá-la (tanto positiva quanto negativamente) tanto<br />

quanto é influenciado por ela.<br />

Para esse autor, quando esta percepção torna-se parte mais profunda de nossa vivência e consciência cotidiana, emerge um sistema<br />

de relacionamento transpessoal mais maduro, uma “ética social “ radicalmente nova. Centrada nas percepções ecocêntricas (centralizados<br />

na Terra como um sistema vivo, A Teoria de GAIA). Podemos verificar as origens da moderna Teoria de GAIA (nome da antiga deusa<br />

grega pré-helênica que simbolizava a Terra viva) se encontram desde os primeiros dias do programa espacial da NASA (Capra, 1997,<br />

p. 90).<br />

Os vôos espaciais que começaram na década de 60 permitiram aos homens modernos perceberem o nosso planeta, visto do espaço<br />

exterior, como um todo integrado, um Holos extremamente belo. Todos nós lembramos das poéticas palavras de Yuri Gagarin: “A<br />

Terra é azul”... Pois bem, esta percepção da Terra em toda a sua poética beleza, foi uma profunda experiência espiritual, como muitos<br />

dos primeiros astronautas não se cansaram de dizer, mudando profundamente as suas concepções e seu modo de relacionamento com<br />

a Terra.<br />

De certa forma, este deslumbre foi o passo inicial do resgate da idéia muito antiga da Terra como um organismo vivo, presente em todos<br />

as culturas e em todos os tempos (Capra, obra cit., p. 90; Campbell, 1990; Eliade, 1997).<br />

Hoje, está cada vez mais clara a idéia de que os sistemas complexos que formam um todo orgânico, vivo, possui características<br />

próprias, homeostáticas e dinâmicas enquanto conjunto, apresentando características próprias que escapam às qualidades e atributos<br />

de cada uma de suas partes constituintes, linearmente conectadas. Ou seja, um organismo, como um todo é algo mais diferenciado e<br />

com atributos próprios bem acima da soma de suas partes componentes fundamentais.<br />

É assim, num exemplo simples, que dois gases que são muito utilizados na combustão, como o oxigênio e o hidrogênio, quando unidos<br />

possuem uma nova característica bem própria que nos permite usa-los para o combate ao fogo, ao formarem a água. Além do mais, nos<br />

sistemas orgânicos vivos, a homeostase apresenta-se com características dinâmicas tais que superam o comportamento normal das<br />

“máquinas” feitas pelo homem, notadamente quanto ao grau de entropia, ou do crescimento do equilíbrio térmico, que nas máquinas<br />

convencionais é percebido pelo desgaste sempre crescente do equipamento, o que leva ao fim de sua vida útil, mas que é mantido, ao<br />

contrário, em um nível mais ou menos constante nos seres vivos.<br />

Da mesma forma, sistemas vivos são estruturas complexas que exibem caracterítiscas muito próprias que “emergem” do conjunto<br />

formado por elementos possíveis de serem diferenciados. Por exemplo, pessoas e animais são formados por órgãos que são formados<br />

por células que, por sua vez, são formadas por vários elementos moleculares, alguns deles extremamente complexos, e estes, por fim,<br />

formados de átomos perfeitamente comuns e, em grande medida (senão na sua totalidade) igualmente presentes em todas as espécies<br />

de seres vivos.<br />

Embora tenhamos um modo de manifestação física bem visível, onde os elementos estão em constante troca - nosso corpo está sempre<br />

se renovando - é o padrão que advém ou que emerge das estruturas mais elementares, enfim, as características do todo, mais do que<br />

seus elementos constituintes, que nos farão reconhecer um homem de outro homem, ou um homem de um chimpanzé, uma sinfonia<br />

ou um poema das letras impressas numa folha de papel, etc.<br />

As idéias-chaves que possibilitaram levar-se a sério a dinâmica da organização em si, do padrão como estando muito além das<br />

características das partes físicas constituintes, foi um dos maiores marcos da ciência do século XX, similar ao que ocorreu com a idéia<br />

de campo de energia, em Física na segunda metade do século XIX.<br />

Dentre os vários pais desta nova visão sistêmica de mundo, citam-se Ilya Prigogine, na Bélgica, que realizou a ligação fundamental<br />

entre sistemas em não-equilíbrio e não-linearidade, como os que constituem as “estruturas dissipativas”; Heinz von Foerster, nos<br />

EUA, que montou um grupo de pesquisa multidisciplinar, o que possibilitou inúmeros “insights” (grifo nosso) sobre o papel da<br />

complexidade na auto-organização dos seres vivos e não vivos; Herman Haken, na Alemanha, com sua teoria não-linear do laser;<br />

Ludwig von Bertallanfy, na Áustria, com o seu trabalho pioneiro e seminal sobre a Teoria Sistêmica dos seres vivos e das sociedades;<br />

Humberto Maturana, no Chile, que se debruçou sobre as características fundamentais dos sistemas vivos. Tudo isso sem falarmos do<br />

grande desenvolvimento e importância cada vez maior da ciência da Ecologia nos últimos 50 anos e dos saltos conceituais nas ciências<br />

humanas, especialmente na Sociologia, com Michel Maffesoli, Edgar Morin e em Psicologia, a partir de Jung.<br />

Foi neste contexto, mais ou menos visível, mais ou menos presente (e em constante atrito com a concepção linear e estritamente<br />

mecanicista do paradigma cartesiano então - e ainda – vigente) que o químico norte-americano James Lovelock (Premio Nobel) fez<br />

uma descoberta magnífica, talvez a mais bela do século XX, na área das ciências biológicas, que lhe permitiu formular um modelo<br />

surpreendente de auto-organização não-linear, global e ecologicamente sublime, onde todo o planeta Terra surge como sistema vivo,<br />

auto-organizador.<br />

A pesquisadora e escritora Rose Marie Muraro, em seu <strong>livro</strong> “Textos da Fogueira”, Ed. Letra Viva, 2000, assim se expressa sobre a<br />

atual atitude de questionamento epistemológico da ciência moderna:<br />

749


(...) O mais revolucionário achado metodológico nessa área é a inclusão da subjetividade e da<br />

concretude como categorias epistemológicas maiores, ao lado da objetividade e da racionalidade, feita<br />

por muitas filósofas em vários países, entre elas Susan Bordo, Allison Jaggar e outras. O mais<br />

interessante a se notar é que essa revolução epistemológica se faz na mesma época em que, nas<br />

ciências exatas, começa a abalar-se o domínio da razão. Nelas, o irracional irrompe como o paradigma<br />

que ajuda a chegar perto das realidades científicas extraordinariamente complexas de um mundo<br />

tecnologicamente avançado. Isto acontece nas Teorias do Caos, das Catástrofes e da Complexidade.<br />

Neste início de século e de milênio, desmorona o dualismo simplista mente/corpo, razão/emoção, que<br />

foi a base do pensamento ocidental nesses últimos três mil anos e que serviu apenas como racionalização<br />

do exercício de poder expresso nas relações senhor/escravo, homem/mulher, opressor/oprimido, etc.<br />

Esta nova maneira de elaborar abre uma nova forma de pensar pós-cartesiana e pós-patriarcal. Se<br />

levada às suas últimas conseqüências, essa nova elaboração científico-epistemológica da realidade<br />

pode modificar a própria natureza da ciência. Como ela é hoje, por ser abstrata e generalizante,<br />

reforça o poder, que na sua estrutura mesma é abstrato e esmagador do humano. Uma ciência em que<br />

a subjetividade e o irracional enriqueçam o conhecimento pode desencadear um processo de reversão<br />

desse poder destrutivo, tornado-se uma ciência libertadora, e não escravizadora (Muraro, citada por<br />

GUIMARÃES,1996).<br />

Cabe aqui igualmente uma transcrição de parte de um artigo do filósofo Leonardo Boff (publicado na Folha de São Paulo em maio de<br />

1996), sobre a nova visão holística, sistêmica e/ou ecológica: Uma visão libertadora - “A ecologia integral procura acostumar o ser<br />

humano com esta visão global e holística. O holismo não significa a soma das partes, mas a captação da totalidade orgânica, una<br />

e diversa em suas partes, mas sempre articuladas entre si dentro da totalidade e constituindo esta totalidade. Esta cosmovisão<br />

desperta no ser humano a consciência de sua funcionalidade dentro desta imensa totalidade”.<br />

4. Relato sobre o Paradigma Holístico e/ou Sistêmico e Ecológico como referencial em projeto Inter e Transdisciplinar de<br />

Saúde Comunitária com Plantas Medicinais.<br />

Dada as dificuldades metodológicas do paradigma newtoniano cartesiano em compreender alguns fenômenos de âmbitos biológico,<br />

psico-social, ecológico e espiritual, tais como a qualidade vida e saúde comunitária, os pesquisadores e participantes do projeto:<br />

“Troca de Conhecimentos Científicos e Populares de Plantas Medicinais - Parcerias Interinstitucionais - experiências Inter e<br />

Transdisciplinares - UNESC/UNISUL e Pastoral da Saúde Regionais Criciúma e Tubarão/Santa Catarina” (2001/2002), tem<br />

buscado desenvolver os objetivos de seus trabalhos através de uma compreensão centrada à partir de uma visão sistêmica/holística<br />

e ecológica .<br />

Com início em Abril de 2001 e após reflexões e reconhecimento dos componentes da equipe da necessidade de extensão e troca de<br />

Conhecimentos sobre o cultivo e a utilização de Plantas Medicinais com Agentes de Saúde da Pastoral da Saúde Regional Criciúma<br />

– SC - (Entidade não Governamental ligada a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB - que desenvolve há mais de 20<br />

anos o trabalhos de diversas Pastorais, dentre essas a Pastoral da Saúde, que trabalham com agentes voluntárias de saúde e<br />

desenvolvem atendimento de saúde popular comunitária com a utilização de Plantas Medicinais).<br />

Desta maneira, sabendo-se que desde 1996 a Universidade do Sul de Santa Catarina -UNISUL, vinha realizando o Projeto de extensão<br />

de Planta Medicinais com a Pastoral de Saúde de Tubarão, a equipe técnica da UNESC decidiu então buscar aquela Universidade e a<br />

Profa. Fátima Chechetto – Coordenadora do projeto naquela Instituição, para a utilização dos Boletins Informativos de estudos e<br />

trocas de conhecimentos sobre o cultivo e a utilização das Plantas Medicinais produzidos, bem como, convida-la a estar conosco como<br />

colaboradora técnica.<br />

Seguindo os objetivos do projeto, foi previsto junto com as Agentes de Saúde da Regional de Criciúma, o estudo 24 Plantas<br />

Medicinais sendo que 20 delas utilizando os Boletins Informativos da equipe Interdisciplinar da UNISUL e mais o estudo de 04<br />

Plantas Medicinais ainda não estudadas pela UNISUL .<br />

Reconhecendo que o Paradigma Holístico e/ou Sistêmico Ecológico tem sido a fonte inspiradora e norteadora da compreensão da<br />

complexidade dos processos das dimensões humanas, “psico-sócio-culturais”, ecológicas e espirituais por que passam os atores<br />

sociais envolvidos com a busca da saúde e da melhoria na qualidade da vida comunitária.<br />

A metodologia dos trabalhos tem se desenvolvido através de encontros mensais da equipe interdisciplinar do projeto com as 30<br />

Agentes de Saúde, onde a cada encontro são trocados vivências e informações, conhecimentos científicos e populares sobre o Cultivo<br />

e Utilização de uma Planta Medicinal.<br />

750


Nesses encontros os conhecimentos, etnobotânico, botânico, agronômico, farmacológico e terapêutico são trocados através de<br />

reconhecimento botânico da planta em estudo, exposições orais e debates interativos interdisciplinares.<br />

A cada encontro são gerados Boletins Informativos de cada planta estudada e discutida nos grupos.<br />

Sendo esses Boletins um produto dos conhecimentos gerados nos meios acadêmicos e nas comunidades (História de Vida e História<br />

Oral), a Pastoral da Saúde estará inserida como parceira dessas publicações.<br />

Esses boletins serão utilizados pelas agentes de saúde em seus trabalhos de saúde comunitária, bem como, serão vendidos a uma taxa<br />

mínima de produção aos interessados. Os recebimentos aferidos serão revertidos na produção de demais boletins.<br />

Até o presente momento já foram estudadas as seguintes Plantas Medicinais: Cavalinha - Equisetum arvense<br />

Folha da Fortuna - Bryophyllum calycynum Salisb<br />

Guaçatonga - Casearia sylvestris<br />

Trapoeraba - Tradescantia sp<br />

Erva Santa-Maria - Chenopodium ambrosioides<br />

Espinheira Santa - Maytenus ilicifolia<br />

Fedegoso - Senna occidentalis<br />

Cipó Cabeludo - Mikania sp<br />

Erva-baleeira - Cordia curassaavica Jacq.R.q.s<br />

Coronha - Dioclea violacea Mart<br />

Sete Sangrias - Cuphea balsamona<br />

Centelha - Centella asiática<br />

Babosa - Aloe Vera<br />

Embaúba - Cecropia glazioui Sneth.<br />

Urtiga - Urtica dióica<br />

Assa-Peixe - Vernonia polyanthes<br />

Cipó-mil-homens - Aristolochia triangulares<br />

Salsaparrilha - Smilax.sp<br />

Resumidamente avalia-se que nos dezoito meses de desenvolvimento do projeto, houve uma grande melhoria dos entendimentos<br />

sobre toxidade e identificação botânica das plantas medicinas pelas agentes da Pastoral de Saúde. Contribuindo assim substancialmente<br />

na melhoria do desenvolvimento dos projetos de cultivo de hortas medicinais caseiras e em melhor segurança na utilização terapêutica<br />

em comunidades pobres rurais e urbanas.<br />

751


Através das trocas de informações sobre conhecimentos populares de uso das medicinais pelas comunidades está sendo possível<br />

realizar um levantamento etnobotânico, bem como, o estudo mais aprofundado nas áreas de botânica e farmacológicas de algumas<br />

plantas de conhecimento popular e com pesquisas científicas inexistentes.<br />

Desta maneira, considera-se que o desenvolvimento local está sendo dinamizado pois os atores sociais das comunidades envolvidas<br />

estão se apropriando dos conhecimentos científicos e mobilizando recursos na busca da melhoria do acesso a um atendimento de<br />

saúde com segurança e qualidade e melhoria nas condições sócio-econômica e ambientais comunitária.<br />

O projeto vem sendo desenvolvido e remunerado através da Diretoria de Extensão e Ação Comunitária; Departamentos de Farmácia;<br />

Ciências Biológicas; Herbário Raulino Reitz; Horto Florestal - UNESC/SC.<br />

“O ser humano vivência a si mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do universo - numa espécie de ilusão de ótica<br />

de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por<br />

pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão, para que<br />

ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza. Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas<br />

lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior”.<br />

Albert Einstein<br />

752


5. BIBLIOGRAFIA:<br />

ALVES, Rubens. Filosofia da Ciência. Editora Brasiliense, São Paulo, 1990.<br />

BOFF, Leonardo. A Águia e a Galinha - Uma metáfora da condição Humana. Vozes, Petrópolis, 1997.<br />

BOFF, Leonardo. Espiritualidade um caminho de transformação. Editora Sextante,2001.<br />

BRANDÃO, Dênis & CREMA, Roberto. O Novo Paradigma Holístico. Summus Editorial,São Paulo,1992.<br />

CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. Editora Cultrix, São Paulo, 1997.<br />

CAPRA,Fritjof. O Ponto de Mutação. Editora Cultrix, São Paulo, 1986.<br />

CAPRA, Fritjof. O Tao da Física. Editora Cultrix, São Paulo, 1985.<br />

CAMPBELL.Joseph. O Poder do Mito. Editora Palas Athena, São Paulo. 1990.<br />

COWAN, Tom. Em la senda Del chamán. RBA, Ediciones de Librerias,S.A. Barcelona/ES,1998.<br />

CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. Cortez editora. São Paulo, 1998.<br />

CREMA, Roberto. Introdução à Visão Holística. Summus Editorial, São Paulo, 1988.<br />

DA<strong>VI</strong>DES, Paul. Deus e a Nova Física. Coleção Universo da Ciência. Edições 70, Lisboa, s/d.<br />

DONNER-GRAU, Florinda, Shabono: Uma viagem ao universo místico dos índios ianomâmis. Editora Record, Rio de Janeiro,<br />

1994.<br />

DROUOT, Patrick. O Físico, o Xamã e Místico. Editora Nova Era. Rio de Janeiro,1999.<br />

ELIADE, Mircéia. História das Idéias e Crenças Religiosas. Editra Rés, Porto, Portugal, 1997.<br />

GROFF, Stanislav. Além do Cérebro. Editora McGraw Hill, São Paulo, 1988.<br />

GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. Companhia das Letras, São Paulo, 1995.<br />

GUIMARÃES, Carlos. Percepção e Consciência. Ed. Persona, João Pessoa, 1996.<br />

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. Editora Nova Fronteira, 1991.<br />

KREBS, Ruy Jornada. Teoria dos sistemas ecológicos: Um paradigma para o desenvolvimento infantil. Editora Pallotti, Santa<br />

Maria/RS,1997.<br />

LELOUP, Jean-Yves. Cuidar do Ser: Filon e os Terapeutas de Alexandria. Editora Vozes, Petrópolis, 1999.<br />

LOVELOCK, James. As Eras de Gaia. Editora Campus, São Paulo, 1994<br />

MONTEIRO, IRINEU. Einstein, reflexões filosóficas. Edições Paulinas. São Paulo,1988.<br />

MORIN, Edgar. A educação e a complexidade do ser e do saber.Editora Vozes, . Petrópolis/RJ, 2001.<br />

PAIVA, Geraldo José. A religião dos cientistas. Edições Loylola, São Paulo,2000.<br />

PERRAULT, Gilles (organizador). O Livro Negro do Capitalismo. Ed. Record, Rio de Janeiro, 1999.<br />

SAMS, Jamie. As cartas do caminho sagrado. Editora Rocco, Rio de Janeiro,1998.<br />

SHELDRAKE, Rupert. A Ressonância mórfica & a presença do passado – Os hábitos da Natureza. Instituto Piaget, Lisboa/<br />

PT,1995.<br />

753


1 * Kátia Mara Batista: Coordenação do projeto UNESC e Pastoral da Saúde – Regional Criciúma/SC; Socióloga,<br />

Mestre em Educação e Extensão Rural UFSM/RS, Doutoranda em Políticas Sócio-econômicas, Culturais e Ecológicas<br />

de Sustentabilidade para o Meio Rural – UNILEON/Espanha. Docente e Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa<br />

Reforma Agrária e Agricultura Sustentável Curso de Agronomia – UNISUL/SC lakm@engeplus.com.br<br />

katiam@unisul.br<br />

** Vanilde Citadine Zanette: Bióloga; Roberto Recart dos Santos: Agrônomo; Reginaldo Geremias: Farmacêutico;<br />

Zenaide Topanotti: Bióloga; Adriana Pissetti: Médica; Josieli Fontana e Mirela Soares (bolsistas) – UNESC/SC<br />

roberto@unesc.rct-sc.br<br />

*** Fátima Chechetto – Agrônoma (UNISUL) fatimach@unisul.br<br />

**** Vanda Milioli Simon - Coordenação Pastoral da Saúde - Regional Criciúma CNBB/SC.<br />

754


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DOS RECURSOS HIDRICOS:<br />

O Desafio da Gestão Participativa no Estado de Pernambuco<br />

1 - INTRODUÇÃO<br />

755<br />

Lenivaldo M. Melo 1<br />

Rafaela P. da Silva 2<br />

A água como bem necessário à sobrevivência humana, é um recurso natural que apresenta limitações em sua renovação e<br />

demanda de diretrizes específicas dos gestores públicos. De toda a água existente no planeta apenas 1% se presta ao consumo humano<br />

em suas várias atividades (97,3% estão nos oceanos e 2,07% congeladas)<br />

No Brasil, nas primeiras décadas do século XX, os recursos hídricos eram demandados principalmente pelo uso doméstico<br />

e agrícola. Os primeiros núcleos industriais surgiram concomitantemente aos aproveitamentos hidroelétricos no início do século 3 .<br />

A primeira iniciativa de ação estatal em prover as demandas regulamentando o uso e estabelecendo limites de exploração,<br />

acontece 1904 com a criação das “Comissões de Açudes e Irrigação, de Estudos e Obras Contra os Efeitos da Seca e Perfurações de<br />

Poços”, a partir de então foram criadas superintendências e Inspetoria que culminaram na criação do Departamento Nacional de Obras<br />

Contra a Seca – DNCOS e da SUVALE, atual CODEVASF ambas em 1945.<br />

Freitas enumera três fases na evolução do sistema de gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil. No primeiro momento,<br />

um Modelo Burocrático com entidades casuísticas onde o poder era concentrado em entidades públicas burocráticas 4 . Cronologicamente<br />

o uso desse modelo coincide com o auge das teorias administrativas de Max Weber (burocracia) e Henri Fayol (clássica); No segundo<br />

momento um Modelo Econômico Financeiro, onde o planejamento e execução de ações administrativas obedecem à relação custobenefício<br />

5 , uma característica desse modelo é a sujeição do Estado a influências de grupos econômicos e a forte possibilidade de<br />

geração de conflitos, visto que as ações administrativas privilegiam grupos específicos de usuários e/ou atividades econômicas,<br />

provocando reações de atores sociais como interesses divergentes 6 ; No terceiro momento, um Modelo de Gerenciamento Sistêmico<br />

de Integração Participativa, que gradativamente vem se adequando às demandas sociais locais de descentralização, e as demandas<br />

globais de mudança no papel do Estado. Segundo Freitas, a “primeira semente desse modelo apareceu no Brasil em 1978 com a criação<br />

do Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas (CEEIBH)”.<br />

O estado de Pernambuco por estar geograficamente no sentido Leste-Oeste com extensa longitude (748 km de extensão),<br />

apresenta diversos microclímas e cenários diferentes no que diz respeito à disponibilidade e demanda por recursos h_eddricos. A<br />

mesorregião do Sertão com déficit significativo, e a mesorregião da Mata com relativo equilíbrio entre oferta e demanda. A diversidade<br />

de situações exigi um planejamento hídrico que contemple as necessidades de importações entre as regiões e entre os diferentes<br />

segmentos de consumo (abastecimento urbano, rural, animal, irrigação, indústria, aquicultura e lazer), além de uma grande capacidade<br />

dos administradores públicos no estado em resoluções de conflitos.<br />

As demandas de uso D’água em 1999 e as previstas para cenário futuro –2010 no estado, estão dispostas no quadro seguinte<br />

e demonstram a atividade agrícola (irrigação) como consumidora de mais de 60% desses recursos, seguida do abastecimento urbano<br />

com 20% e do consumo industrial com 10%.


Quadro 1: Demanda em 1999 e prevista (cenário futuro – 2010) no estado de Pernambuco.(10/6 m3/ano).<br />

drr<br />

SETOR/DEMA<br />

NDA<br />

Demanda em<br />

1999<br />

Demanda<br />

Prevista (cenário<br />

futuro – 2010)<br />

Urbano<br />

Rura<br />

l<br />

530,734 49,11<br />

3<br />

693,758<br />

58,29<br />

7<br />

Abast.<br />

Animal<br />

756<br />

Irrigaç<br />

ão<br />

41,477 1.545,9<br />

24<br />

60,016<br />

3.346,9<br />

80<br />

Indúst<br />

ria<br />

158,73<br />

2<br />

236,06<br />

4<br />

Aquicultu<br />

ra<br />

TOTAL<br />

15,184 2.341,16<br />

4<br />

58,400<br />

4.453,47<br />

1<br />

FONTE: Plano Estadual de Recursos Hídricos (Documento Síntese) GOV. PE – SRH- Proágua / MMA<br />

2 - PRINCÍPIOS ESTRUTURADORES DA GESTÃO PÚBLICA DOS RECURSOS HÍDRICOS EM PERNAMBUCO<br />

Dois fatores, dentre outros, influenciam na definição dos princípios norteadores da gestão dos recursos hídricos em<br />

Pernambuco. Inicialmente, o processo de desestatização por que passa o país associado ao modelo de gest_e3o econômico financeiro<br />

usado. O aumento gradativo de empresas externas tem exigido do Estado uma postura definida no sentido de assegurar a provisão da<br />

água como um bem de produção 7 . Paralelamente, alavancado pela Constituição Federal de 1988 8 , e pela Lei Federal 9.433/97 já citada,<br />

o progresso na legislação estadual 9 influência na definição dos princípios à medida que estabelece um instrumento jurídico que norteia<br />

a concessão de outorgas de direito de uso, e auxilia na resolução de conflitos pelo uso D’água. Esses princípios podem ser assim<br />

enumerados:<br />

I – O primeiro princípio (primeiro unicamente no sentido didático-metodológico de tratar a questão) é a adoção da bacia hidrográfica<br />

como unidade físico territorial de planejamento e gestão1 .. Essa divisão do espaço geográfico (universalmente adotada) em Pernambuco<br />

foi orientada tanto pela divisão do espaço territorial adotada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE<br />

segundo a qual Pernambuco com 98.938 KM2 dividi-se em 5 mesorregiões: Metropolitana (41,76% da população), Mata (15,55% da<br />

população), Agreste (25,32% da população), Sertão (11,69% da população) e São Francisco (5,68% da população). Como também<br />

pela rede hidrográfica que, com exceção do rio São Francisco, se caracteriza por rios de pequena extensão. Assim, para planejamento,<br />

avaliação, e controle do uso dos recursos hídricos, o Estado foi dividido em 29 unidades de planejamento (UP): 13 UPs de bacias<br />

hidrográficas importantes: Goiana, Capibaribe, Ipojuca, Sirinhaém, Una, Mundaú, Ipanema, Moxotó, Pajeú, Terra Nova, Brígida,<br />

Garças e Pontal; 16 UPs constituídas por grupos de bacias, sendo 6 de pequenos rios litorâneos (rios que escoam no sentido Oeste-<br />

Leste e deságuam no Atlântico) e 9 de pequenos rios interiores (rios que escoam no sentido Norte-Sul e deságuam no São Francisco),<br />

e ainda, uma UP de pequenos rios que compõem o Arquipélago de Fernando de Noronha.<br />

A adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento representa um avanço no processo de gestão visto<br />

que descentraliza e possibilita maior distinção entre as áreas que exercem as funções de planejar, coordenar e controlar na estrutura<br />

organizacional do Estado.<br />

II – Uso Múltiplo - A lei Estadual 11.426/97 institui como fundamento no artigo 2º que “A gestão dos recursos hídricos deve sempre<br />

proporcionar o uso múltiplo das águas”.. Todavia o uso e abastecimento humano e a desedentação de animais devem ter prioridade<br />

conforme artigo 5º da mesma Lei.<br />

O princípio de proporcionar o uso múltiplo da água lança um desafio aos administradores públicos do estado tendo em vista<br />

que a maximização dos benefícios econômicos se contrapõe a minimização dos impactos ambientais e comprometem ganhos sociais<br />

em um estado que enfrenta limitações de potencialidade hídrica em algumas de suas regiões.<br />

O consumo agrícola representa o maior volume (60%) seguido do urbano e industrial (20% e 10% respectivamente). Alguns<br />

pólos de atividades econômicas no estado, os centros urbanos, o pólo agrícola no São Francisco e o sucroalcoleiro na Mata representam<br />

microrregiões onde acontece o maior consumo. No entanto o Plano Estadual de Recursos Hídricos não contempla em sua construção<br />

de cenários, as atividades ligadas ás novas ruralidades 10 como os pesque-pague e o turismo ecológico, entre outras. Por mais<br />

insignificante que pareça esse consumo hoje, tendencialmente apresentará parcela significativa de usuários à medida que se expandir<br />

esses ramos de atividade na zona rural do estado.


A definição de prioridade de uso, no intuito de atender aos diversos segmentos de usuários, representa também um dos<br />

maiores desafios ao modelo de gerenciamento sistêmico de integração participativa adotado pela administra_e7ão estadual.<br />

III – A Água Como Bem Econômico – Apesar de constitucionalmente ser um bem de todos, sua apropriação não pode ser feita de<br />

acordo com a conveniência de pessoas ou entidades.<br />

O paradigma econômico vigente na administração pública é que a cobrança pela utilização dos recursos hídricos induz o<br />

usuário a comportamentos responsáveis em relação ao uso da água, e gera recursos que podem ser revertidos para melhorias no setor,<br />

tais como o desenvolvimento de “novas metodologias que busquem a qualidade total” 11 .<br />

Como outras formas de capital os recursos hídricos proporcionam um fluxo de benefícios econômicos. Todavia,<br />

as mudanças em sua produtividade têm escapado dos registros contábeis públicos. A significância da produtividade dos recursos<br />

hídricos só agora sob a ótica da sustentabilidade humana local passa a ter importância. O desafio nesse sentido não é só dos<br />

administradores no sentido de estabelecer cotas de pagamento pelo uso da água, ou de mensurar reservatório como lençóis freáticos<br />

e fios d’água. É também, e talvez o maior desafio seja esse, o da ciência contábil de criar métodos de mensuração, registro e controle<br />

de renovação dos recursos hídricos, e dos recursos naturais como um todo.<br />

IV- Gestão - Participativa e Descentralizada – Em Pernambuco o órgão gestor de recursos hídricos é a Secretaria de Recursos Hídricos<br />

– SRH, criada em 04 de fevereiro de 1999 pelo decreto Nº 21.281.<br />

O princípio da descentralização da gestão apoia-se no pressuposto de que os atores locais conheçam a problemática hídrica<br />

local, e melhor externem suas reivindicações. Como a demanda pelo uso d’água supera a oferta na maioria das microrregiões do estado,<br />

é comum surgirem conflitos entre os diferentes segmentos de usuários. Nesse sentido a gestão participativa descentralizada representa<br />

um instrumento de controle de conflitos entre usuários, e desses com o poder público.<br />

A articulação do estado com a sociedade civil organizada e grupos de usuários no sentido de instalar os comitês de bacias<br />

hidrográficas 12 e os conselhos de usuários são um esforço empreendido desde julho de 1997. Entretanto a formações de comitês de<br />

bacias reproduzem a histórica tradição regional da formação associativa para viabilizar políticas públicas. Este fato constitui um<br />

entrave para participação efetiva dos grupos de usuários mais fragilizados politicamente como as associações de pequenos produtores<br />

rurais, associações de donas de casa e associações de bairros. O falso pressuposto é que esses grupos possuem capacidade nata de<br />

gestão, participação e interferência política, não se investindo em nenhuma forma de capacitação dos grupos minoritários ou<br />

economicamente frágeis.<br />

A estrutura organizacional de gestão, sob a ótica do poder público estadual, fica assim disposta:<br />

Figura 1: Estrutura organizacional da gestão dos recursos hídricos em Pernambuco.<br />

Secretária de recursos<br />

Hídricos do Estado de<br />

Pernambuco SRH PE<br />

Órgãos Executivos do<br />

Estado: EBAPE,<br />

COMPESA, CPRH,<br />

FUSAM ITEP etc<br />

Comitês de Bacias<br />

Hidrográficas<br />

CRH Conselho Estadual<br />

de Recursos Hídricos<br />

Um representante do<br />

CRH é presidente do<br />

CERH<br />

CERH Comitê Estadual de<br />

Recursos Hídricos<br />

Associações Técnicas<br />

Comunitárias e<br />

Usuários d’água<br />

Universidades, Entidades<br />

de Pesquisa.<br />

757<br />

Secretárias do<br />

Entidades Civis e<br />

Organizações não<br />

Municípios<br />

Federações e Sindicatos<br />

da Classe Empresarial<br />

Assembléia Legislativa<br />

Participação como membro componente<br />

Participação como conselheiro


Segundo o modelo sistêmico de integração participativa, os comitês de bacias hidrográficas fundamentam-se em ampla<br />

discussão social. Todavia, por não possuírem atribuições deliberativas, esses comitês sofrem sérias críticas. O nível de participação<br />

efetiva dos atores sociais de camadas populares e representação de usuários de segmentos não produtivos ou de pouca produção,<br />

como os pequenos produtores rurais, é extremamente pequeno tendo em vista que dentro dos comitês de bacias hidrográficas os<br />

mesmos têm pouquíssima representação e participação.<br />

3 - DESCENTRALIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO<br />

No Estado de Pernambuco a evolução histórica dos modelos de gestão dos recursos hídricos aponta realmente para a<br />

descentralização e participaç_e3o dos atores envolvidos no uso desses recursos. Entretanto o modelo em voga (Gerenciamento<br />

Sistêmico de Integração Participativa) apresente diversas limitações causadas pelo sistema de integração usado, pelos pressupostos<br />

em que se fundamenta e pela dimensão temporal do planejamento que excede a temporalidade de uma gestão administrativa.<br />

A integração pensada e praticada pela administração do setor possui caráter de descentralização visto que coloca na mesma<br />

mesa: administradores das mais diversas secretarias estaduais, representantes municipais, órgãos executores e associações técnicas.<br />

Da observância dessa estrutura organizacional nota-se que essa integração se dá nos níveis do conselho e do comitê estadual de<br />

recursos hídricos, níveis esses não atingíveis por representações de usuários e organizações populares. A integração dos atores<br />

acontece unicamente no âmbito do próprio setor público. Pode-se dizer que a estrutura organizacional para essa gestão, ainda possui<br />

a forma piramidal e está longe de ser representada por um sociograma, apesar de existir uma nova distribuição de funções entre Estado,<br />

Municípios e Sociedade Civil.<br />

No que diz respeito aos pressupostos que fundamentam esse modelo, a limitação se dá, como na maioria das áreas em que<br />

a administração pública atua, no fato de que a capacidade associativa dos pequenos grupos de usuários é pensada erroneamente, na<br />

mais das vezes esses grupos possuem pouca ou nenhuma experiência de participação em colegiados, necessitando de capacitação<br />

prévia para essas atividades.<br />

O dimensionamento do espaço temporal no planejamento para gestão participativa dos recursos hídricos constitui uma<br />

limitação para descentralização dessa gestão, e necessita de planejamento cuidadoso com participação de todos os segmentos de<br />

usuários envolvidos. Por ser um recurso natural sujeito a variações climáticas que independem do gerenciamento humano, o curto<br />

prazo aqui, pode significar um espaço de tempo que supera o tempo de gestão de várias administrações pública (25 anos, o Fórum<br />

Mundial das Águas escolheu esse horizonte), o que compromete a estrutura organizacional e o processo interativo de planejamento<br />

hídrico. Esse talvez se constitui no maior entrave visto que gerir recursos hídricos é gerir conflitos pelo uso D’água. As definições<br />

de prioridades no uso desses recursos em Pernambuco, sempre dependeram do momento histórico e do contexto econômico vivido,<br />

mesmo no “curto prazo”, em um ambiente de conflitos os fatores envolvidos sofrem variações com uma velocidade bem maior. A<br />

dimensão tempo é aqui, ao mesmo tempo benéfica, quando possibilita planejar em anos, e entrave, quando o pano de fundo onde de<br />

desenrola as ações e articulações que darão origem à gestão participativa, é constantemente mudado.<br />

Essas limitações constituem-se em entraves para a administração pública dos recursos hídricos e indicam a necessidade de<br />

se repensar o que é descentralização e participação na administração pública. Se descentralizar é delegar funções a níveis mais<br />

inferiores ou se implica também em envolver a população em seus mais diversos segmentos representativos, ainda se coloca a clássica<br />

pergunta, qual o modelo de gerenciamento ideal para a empresa pública em um país que está amadurecendo em métodos de gerenciamento<br />

e no exercício da democracia? A resposta será dada pelas gestões estaduais dos próximos anos, e pelo direcionamento que as pesquisas<br />

doravante tomarem.<br />

4 - OS DESAFIOS PARA GESTÃO PARTICIPATIVA<br />

O desafio da gestão participativa na administração pública dos recursos hídricos em Pernambuco coloca em questão os<br />

pressupostos do modelo adotado e instiga o uso de novos instrumentos de gestão onde as representações de usuários tenham de fato<br />

participação. Do ponto de vista do planejamento não se trata de apenas cumprir o disposto na legislação estadual, todos os temas que<br />

norteiam as decisões apontam para a necessidade da participação efetiva dos usuários.<br />

Tratando a questão pelo prisma dos diversos usos, os conflitos pela água entre usuários competidores geram problemas que<br />

se colocam como uma das forças motriz para alavancar a gestão participativa, nesses moldes, a gestão poderá diagnosticar previamente<br />

esses problemas e permitir o uso racional de um recurso já escasso. Assim, o primeiro desafio é o de proporcionar efetiva participação<br />

a quem de fato é usuário e agente ativo nos conflitos pelo uso D’água. Nesse sentido entende-mos que o conhecimento conceptual do<br />

que vem se firmando como capital social 13 é de extrema importância enquanto ferramenta teórica para gestores e pesquisadores da<br />

área.<br />

758


Pelo prisma da oferta do serviço, o abastecimento D’água urbano é, historicamente precário em Pernambuco, as doenças<br />

causadas por veiculação hídrica representam altos custos aos cofres do Estado, custos esses que poderiam ser canalizados para<br />

atividades produtivas com maior retorno social. O tratamento de efluentes urbanos, o abastecimento, e a coleta colocam-se como um<br />

desafio para os gestores, e esse só será mais bem entendido e planejado quando os recursos humanos que os tratam contarem com as<br />

opiniões dos usuários. Sem isso, os mesmos se sentem como parte excluída do processo e consequentemente pouco dispostos a<br />

colaborarem transformando-se eles mesmos em entraves à medida que poluem e não preservam.<br />

Esses desafios apresentam-se sob os mais diversos prismas, no entanto a definição do que representa o uso múltiplo<br />

acoplada a definição e execução clara do que é prioritário coloca-se como um desafio de urgência. Os usu<br />

‘e1rios dos setores de consumo humano, saneamento, pecuária, aproveitamento hidroagrícola (irrigação), pesca, indústria e<br />

energia, esse último vivendo uma crise atual, representam um material humano importante como instrumento de gestão e não podem<br />

ser ignorando pelo administrador público. Aqui vale o ditado popular “eles sabem melhor onde o sapato aperta”.<br />

5 - CONCLUSÕES<br />

O desafio da gestão participativa na administração pública dos recursos hídricos em Pernambuco coloca em questão os<br />

pressupostos do modelo adotado e instiga o uso de novos instrumentos de gestão onde as representações de usuários tenham de fato<br />

participação. O modelo adotado para administração pública não pode ser moldado ao de um modelo empresarial quando o cliente do<br />

serviço público é também participante da empresa, senão seu maior acionista. Além do que é preciso considerar as variáveis políticas<br />

envolvidas no processo.<br />

Os paradigmas da administração pública mudam à medida que o Estado muda seu papel. O uso do modelo burocrático de<br />

gerenciamento, típico do Estado promotor de desenvolvimento até a década de 1970, e o modelo econômico financeiro típico do<br />

Estado “gerenciador”, já contribuíram o suficiente com a curva de aprendizagem da administração pública em Pernambuco. No<br />

entanto, a proposta do modelo de gerenciamento sistêmico de integração participativa terá sua eficácia comprometida se o aprendizado<br />

continuar esbarrando no entrave da suposta descentralização. Emille Durkheim já preocupava-se com a efetiva participação quando<br />

afirmava: “ É a sociedade que devemos interrogar, são suas necessidades que devemos conhecer, já que é a essas necessidades que<br />

devemos satisfazer” 14 .<br />

Faz-se necessário um modelo que resgate a participação dos pequenos grupos de usuários, minimizando a predominância<br />

de representantes de órgãos públicos sobre o processo dialógico que se pretenda estabelecer, pois o capital social é de imprescindível<br />

importância nos processos participativos, tendo impacto nas habilidades dos cidadãos para responder organizadamente como<br />

comunidade e capacidade de trabalhar de forma conjunta visando a melhoria da qualidade da administração pública e por conseqüência<br />

a melhoria da qualidade de vida.<br />

Nesse sentido, o desenvolvimento do capital social e o envolvimento de todos os atores sociais, independente de seu<br />

potencial de consumo e geração de receita, faz-se necessário para um gestão decentralizada de sucesso. Sob a ótica da sustentabilidade,<br />

permitir a participação efetiva dos atores, constitui-se talvez, no mais valioso instrumento de gestão pública.<br />

759


BIBLIOGRAFIA<br />

ALTIERI, Miguel. Agroecologia: A Dinâmica Produtiva da Agricultura Sustentável – Porto Alegre, Ed Universidade / UFRGS, 1998<br />

110 p.<br />

CHIAVENATO, Idalberto. Administração: Teoria, Processo e Prática – São Paulo Macgraw-Hill Ltda 1987 2 ed.<br />

FREITAS, Adir José. Direito e Outorga do Uso da Água in Recursos Hídricos e Desenvolvimento Sustentável da Agricultura, DF;<br />

MMA-SRH; ABEAS, Virçosa MG: UFV Departamento de Engenharia Agrícola. 1997 252 p.<br />

GRAZIANO, José da Silva. O Novo Mundo Rural, Nova Economia. UFMG, Belo Horizonte, vl 7 Nº 1 1997<br />

GOV-PE / SRH – Proágua – Plano Estadual de Recursos Hídricos (documento síntese)<br />

GOV-PE / SRH – Proágua – Recursos Hídricos – Leis e Decretos<br />

KLIKSBERG, Bernardo. Capital Social Y Cultura Claves Olvidadas Del Desarrollo. INDES, 1998<br />

NAVES, Flávia Lucina; MAFRA, Luis A. Staub; GOMES, Marcos A. Ortiz; AMÂNCIO, Robson. Diagnóstico Organizacional<br />

Participativo: Potenciais e Limites na Análise de Organizações in Organizações e Sociedade Nº 19 EUAFBA – salvador V. 7Set/Dez<br />

2000<br />

PUTNAM, Robert. Para Hacer Que La Demogracia Funcione. Ed. Galac, Venezuela 1994<br />

ROMANO, Paulo. Política Para Gestão de Recursos Hídricos in Recursos Hídricos e Desenvolvimento Sustentável da Agricultura,<br />

DF; MMA-SRH; ABEAS, Virçosa MG: UFV Departamento de Engenharia Agrícola. 1997 252 p.<br />

1 Sociólogo Rural, Professor de Administração Rural FUNESO - UNESF, Professor Substituto de Sociologia Rural DLCH/UFRPE,<br />

Pesquisador NEC-CMARCR/UFRPE.<br />

2 Socióloga Rural Mestranda em Administração Rural e Comunicação Rural CMARCR/UFRPE<br />

3 Em 1901 a Usina de Parnaíba no Rio Tietê em São Paulo e a Usina Lajes no Rio de Janeiro em 1908.<br />

4 A esse modelo pertencem DNACE, IBAMA, CEMA, SUDEPE e IBDF.<br />

5 A esse modelo pertencem a CODEVASF e a DESENVALE.<br />

6 Como o caso dos conflitos gerados pelas iniciativas da CODEVASF no Vale do São Francisco quando a mesma destinava as águas<br />

ao uso agrícola (irrigação) provocando reações da SUDENE e da CHESF que priorizava o aproveitamento hidroenergético.<br />

7 Isso acontece principalmente na região do São Francisco onde essas empresas têm a água para irrigação como fator indispensável e<br />

primordial para produção. Em contrapartida essa exigência gera reações de outros setores da sociedade no sentido de pressionar o<br />

Estado a criar mecanismos de controle de uso e de poluição para essas empresas.<br />

8 Os artigos 20 e 26 definem os bens hídricos da União e do Estado, e os artigos 21, 22 e 23 estabelece as competências da União,<br />

Estado e Município quanto aos recursos hídricos.<br />

9 Lei Estadual Nº 11.426 de 17 de janeiro de 1997 – Da Política e do Sistema Estadual de Recursos Hídricos; Decreto Nº 20.269 de<br />

24 de dezembro de 1997 – Regulamentação da Lei Nº 11.426/97; lei Nº 11.427 de 17 de janeiro de 1997 – De conservação e proteção<br />

das águas subterrâneas do Estado; Decreto Nº 20.423 de 26 de março de 1998 - Regulamentação da Lei Nº 11.427/97; Lei Nº 11.516<br />

de 30 de Dezembro de 1997 – Licenciamento Ambiental.<br />

10 Graziano, José da Silva. O Novo Mundo Rural, Nova Economia. UFMG, Belo Horizonte, vl 7 Nº 1 1997.<br />

11 Romano, in Política para Gestão dos Recursos Hídricos p. 11.<br />

12 Colegiados que discutem os problemas relevantes e as ações a serem desenvolvidas nas áreas das respectivas bacias.<br />

13 Essa temática vem sendo tratada por Klingsberg com exemplificações de casos onde o nível de confiança entre os atores envolvidos<br />

e a participação efetiva em determinados processos decisórios foram fundamentais para o sucesso das empreitas analisadas em<br />

diversos países da América Latina. Um clássico trabalho de Putnam trata a questão do Capital Social no desenvolvimento dos<br />

processos democráticos.<br />

14 DURKHEIM, Emille. Educacion et Sociologie, Paris. Presses Universitaries de France, 1968 p. 101.<br />

760


APRENDER FAZENDO: A ORGANIZAÇÃO PARA GERAÇÃO E DIFUSÃO DE<br />

PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS –<br />

O CASO DO CAFÉ SOMBREADO DA SERRA DE BATURITÉ - CE 1<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

761<br />

Maria Célia Martins de Souza 2<br />

Maria Sylvia Macchione Saes 3<br />

Malimiria Norico Otani 4<br />

A indústria do café determinou a economia, a política e a estrutura social de diversos países do terceiro mundo. O sistema de<br />

monocultura levou ao abandono de cultivos de subsistência em favor da exportação, à exclusão de povos indígenas, dependência<br />

excessiva dos mercados externos, destruição de florestas tropicais e degradação do meio ambiente. Por outro lado, o café foi uma<br />

cultura comercial muito importante para pequenos produtores, a base da industrialização e modernização de nações, um modelo de<br />

produção orgânica e de mercado solidário, e um habitat valioso para pássaros migratórios (PENDERGRAST, 1999).<br />

O segmento de cafés especiais representa quase 12% do mercado internacional (PASCOAL, 1999), com possibilidades de<br />

diferenciação que vão além da qualidade final da bebida. A ampla gama de conceitos de qualidade no café cobre desde características<br />

físicas (origens, variedades, cor e tamanho) e sensoriais (corpo e aroma), até preocupações de ordem ambiental e social, como os<br />

sistemas de produção e as condições da mão-de-obra sob as quais o café é produzido.<br />

Além da preservação ambiental, um efeito sócio-econômico positivo da criação e crescimento dessas alternativas de mercado é<br />

a possibilidade de incorporação de pequenos produtores nesse processo. Os nichos de mercado, devido à presença de atributos de<br />

qualidade específicos, são, na maioria das vezes, adaptados à produção em pequena escala e ao emprego de mão-de-obra familiar.<br />

Esses produtores, no entanto, dificilmente conseguirão sua inserção no mercado de produtos especiais sem o suporte efetivo de<br />

diferentes agentes para promover ações coordenadas que garantam sua sobrevivência conciliada à preservação dos recursos naturais,<br />

em bases sustentáveis.<br />

Os sistemas de produção de baixo impacto ambiental, como sistemas orgânicos de produção, são considerados adequados para<br />

promover a conservação da biodiversidade em Unidades de Conservação. Mas implementar a ocupação agrícola racional em áreas<br />

protegidas requer diversas alianças entre as organizações de conservação da natureza e de agricultura ecológica (STOLTON et al.,<br />

2000). Governos e ONGs – Organizações Não Governamentais não são capazes de implementar, isoladamente, ações nesse sentido.<br />

Se, por um lado, o Estado exerce sua função social criando Unidades de Conservação em áreas sob risco ou ameaça de extinção,<br />

de outro, as ONGs, sobretudo as ligadas à promoção de práticas de agricultura ecológica, também têm um importante papel a<br />

cumprir. Elas têm sido responsáveis por projetos e programas direcionados à conservação e manejo sustentável de recursos naturais.<br />

Realizando algumas atribuições típicas do Estado, como a de prover bens coletivos não-excludentes, elas são identificadas como<br />

peças-chave para o sucesso de iniciativas relacionadas à questão ambiental. São particularmente eficientes na promoção de manejo<br />

sustentável em áreas protegidas, no estímulo ao desenvolvimento de tecnologias apropriadas e na reunião e divulgação de informações<br />

sobre o meio ambiente e recursos naturais.<br />

Contudo, conciliar produção agrícola e preservação de recursos naturais requer uma série de ações coordenadas que envolvem,<br />

necessariamente, a participação de várias organizações. A falta de tecnologias direcionadas à produção familiar e aos sistemas de<br />

produção agroflorestais envolve um grande esforço de geração de práticas agrícolas adaptadas a estas condições, que exige, para sua<br />

implementação efetiva, a participação das comunidades locais<br />

O objetivo desse estudo é avaliar a inserção dos produtores de café no segmento de cafés diferenciados por atributos ambientais<br />

e sociais, com foco no café sombreado 5 , comercializado sob os princípios de uma nova ética social, que inclui pressupostos como o<br />

respeito à identidade cultural e sustentabilidade ambiental. O estudo de caso mostra a experiência dos cafeicultores participantes do<br />

Projeto Café Ecológico, que produzem café sombreado numa Área de Proteção Ambiental, a APA da Serra do Baturité, uma região<br />

de Mata Atlântica no Ceará, um estado do Nordeste do Brasil.<br />

São enfatizadas as alianças estratégicas realizadas entre os agentes envolvidos na produção, processamento e distribuição do<br />

café ecológico, com destaque para articulação de organizações públicas e não governamentais, como a SEMACE – Superintendência<br />

Estadual do Meio Ambiente da Secretaria do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, que instituiu a APA da Serra do Baturité,<br />

e a Fundação CEPEMA - Fundação Cultural Educacional Popular em Defesa do Meio Ambiente responsável pela implantação do<br />

Projeto Café Ecológico. Ressalta-se, ainda, o esforço de articulação dos atores para a geração e difusão de tecnologias apropriadas<br />

para o cultivo de café sombreado.<br />

Explorando o conhecimento do ecossistema local, os laços sócio-culturais e as raízes históricas da região de Baturité, o Projeto<br />

busca capacitar os produtores em práticas de manejo de agricultura ecológica. Além disso, procura alternativas de colocação do café<br />

no mercado de forma a romper com estruturas tradicionais de comercialização e elevar a renda dos produtores, estimulando a<br />

eqüidade, ou seja, uma melhor distribuição dos ganhos ao longo do sistema produtivo.<br />

Conforme DURÁN (2000), faltam incentivos de mercado capazes de induzir voluntariamente os produtores da Serra a parar<br />

com a degradação, o que intensifica ações de curto prazo. Por outro lado, no caso do Projeto, as propostas de ação de longo prazo e<br />

a possibilidade de diferenciação e valorização do café de sombra representam alternativas concretas para conciliar maiores ganhos aos<br />

produtores e maior consciência sobre a necessidade de preservação dos recursos naturais, incentivando o desenvolvimento local<br />

sustentável.


A forma predatória de ocupação que predominava na Serra provocava a erosão dos solos, a destruição de mananciais e ameaça<br />

ao fornecimento de água. A mobilização da sociedade civil para a preservação da Serra resultou numa ação do Estado: a criação de uma<br />

Unidade de Conservação, que trouxe restrições de ordem ambiental para sua ocupação. Além disso, a necessidade de retomada da<br />

cafeicultura sombreada, com técnicas adaptadas aos diferentes tipos de produtores, contou com o apoio de ONGs locais e internacionais<br />

e de agências governamentais, tanto na esfera federal como estadual.<br />

O estudo está divido em cinco partes, incluindo esta introdução. Na segunda parte apresenta-se um breve histórico da entrada<br />

do café no Ceará e a opção pelo café sombreado na região serrana de Baturité. Na terceira parte discute-se o conflito entre a ocupação<br />

humana e a preservação do meio ambiente, mostrando os problemas que surgem ao se adotar pacotes tecnológicos para regiões com<br />

condições agroecológicas distintas. Uma breve caracterização dos produtores da região é realizada, procurando mostrar a importância<br />

da identidade sócio-cultural para o sucesso de uma estratégia de ação coletiva. Na quarta parte, as alianças estratégicas entre os<br />

produtores e a Organizações Não-Governamentais são avaliadas. Neste item analisam-se o Projeto Café Ecológico e as mudanças<br />

resultantes da implementação de ações coletivas. Na quinta e última parte, são colocadas os principais desafios e lições dessa<br />

experiência na região.<br />

2. BREVE HISTÓRICO DO CAFÉ NO CEARÁ<br />

Atualmente a produção de café no Estado do Ceará não é expressiva em termos nacionais. O café foi plantado pela primeira<br />

vez no estado em 1747 no sítio Santa Úrsula, na Serra de Meruoca, pelo capitão-mor de Sobral, o pernambucano José de Xerez Furna<br />

e Uchoa, que teria trazido algumas mudas do Jardim de Plantas, de Paris. Foi também introduzido no Cariri, a partir de matrizes<br />

provenientes de Pernambuco (TAUNAY, 1945; OLIVEIRA, 1993; ROMERO & ROMERO, 1997).<br />

Por muitos anos o café foi árvore de fundo de quintal, cultivada como planta ornamental. Expandiu-se no Ceará para as encostas<br />

de Baturité, Aratanha, Pacatuba, etc., alcançando uma produção considerável para a época. As terras altas da província permitiam<br />

lavouras de certo porte, com colheitas fartas, suficientes não só para o abastecimento local como para o fornecimento do excedente<br />

para o Pará, Maranhão e Pernambuco e para o mercado internacional (TAUNAY, 1945; AMARAL, 1958; OLIVEIRA, 1993).<br />

Na década de 1850, o café do Ceará chegou a representar mais de 2% do total exportado pelo Brasil. A qualidade da produção<br />

cearense era reconhecida internacionalmente, como mostra esta citação de 1877: “Na Exposição Nacional encontram-se além de<br />

superiores sortes de café, verdadeiras especialidades (...) As amostras de café do Ceará apresentam uma qualidade excelente, como<br />

há muitos anos não recebemos, e por isso o deu alto preço, deixando um bom lucro” (ROMERO & ROMERO, 1997:166).<br />

As lavouras de café no Ceará foram conduzidas em sistema sombreado, sobretudo no Maciço de Baturité, de modo a proteger<br />

as terras íngremes ocupadas com seu cultivo. A serra constitui uma região atípica do estado do Ceará, em termos de relevo, clima,<br />

solo, vegetação e ocupação, gerando um forte contraste. Apresenta fragmentos de Mata Atlântica, como uma ‘ilha’ circundada pelo<br />

sertão semi-árido, que predomina no restante do estado. A temperatura média na região serrana é de 22 o C e a pluviosidade média de<br />

1.500 a 1.555 mm/ano, com pequeno déficit hídrico de 45 mm entre julho e janeiro e excedente de 783 mm entre fevereiro e junho. A<br />

declividade da região varia entre 21 e 42% e a altitude de 690 a 820 m (SEMACE, s.d.; SEVERINO & OLIVEIRA, 1999).<br />

O café foi introduzido na Serra em 1822, quando Antonio Pereira de Queiroz Sobrinho plantou em Guaramiranga, em<br />

sistema de pleno sol, sementes trazidas do Cariri, seguindo-se outras áreas de cultivo com sementes provenientes do Pará. O cultivo<br />

ao sol proliferou-se paulatinamente, motivando pioneiros e novos adeptos, adquirindo vulto depois de 1845, com a migração para a<br />

Serra de parte da população sertaneja expulsa pela seca (LIMA, 1946).<br />

A expansão dos cafezais nesse sistema trouxe consigo não só a derrubada da mata nativa como a exaustão dos solos. Após<br />

algumas décadas de belas floradas e grandes colheitas, a terra não mais possuía humus nem retinha umidade, tornando-se incapaz de<br />

manter o vigor produtivo das plantas (LIMA, 1946).<br />

Depois de tentativas desastrosas de arborização no café com mangabeira (Hancornia speciosa) e maniçoba (Manihot glaziorvii)<br />

no Baturité, há registros de consórcios bem sucedidos em 1862, com leguminosas como o camunzé (Pithecolobium polycephalum<br />

Benth) e a ingazeira (Inga spp.). Além de abrigar inimigos naturais de pragas e proteger os cafezais do sol, a queda das folhas das<br />

árvores produzem húmus, que enriquece o solo com nitrogênio. As espécies que se desenvolviam espontaneamente foram conservadas<br />

para o plantio sistemático observado mais tarde (OLIVEIRA, 1993; ROMERO & ROMERO, 1997).<br />

O plantio arborizado “foi uma verdadeira ressurreição. O roçado da gameleira, plantado em 1849, foi arborizado de ingazeiras<br />

em 1904, quando começava a perecer. Revivesceu. Foram replantadas as falhas. E presentemente [1945] ainda apresenta cerca de<br />

sessenta por cento de cafeeiros antigos, com noventa e seis anos de idade, vigorosos e produtivos” (LIMA, 1946:226).<br />

Na adubação usava-se apenas palha de café, esterco de animais e outros detritos orgânicos. A colheita era feita à mão pelas<br />

‘apanhadeiras’, nome dado às mulheres com seus balaios presos à cintura por tiras de pano. Depois de colhido e medido, o café era<br />

levado para a faxina, ou terreiro, para secar ao sol. Depois de seco, o café era levado à piladeira para o benefício (SOUZA, 1995). As<br />

mesmas práticas de plantio e beneficiamento são verificadas até hoje.<br />

Grande parte do parque cafeeiro cearense foi destruído em meados dos anos 1960, em decorrência do Programa de Erradicação<br />

de Cafezais estabelecido pelo Instituto Brasileiro do Café - IBC para reduzir a produção nacional (SEVERINO & OLIVEIRA, 1999).<br />

Nos anos 1970, mudanças conjunturais no mercado internacional levaram a um novo plano governamental, desta vez para incentivar<br />

a produção: o Programa de Renovação e Revigoramento de Cafezais, que promoveu o replantio de café em vários estados, entre eles<br />

o Ceará. O plantio, no entanto, deveria ser efetuado em cultivo solteiro, sem a sombra das ingázeiras, a pleno sol. Entre 1971 e 1977,<br />

mais de 6 mil novos pés foram plantados no estado para suprir ao menos parte de seu consumo interno (OLIVEIRA, 1993).<br />

762


O pacote tecnológico proposto pelo governo, enfatizou a adubação química e a monocultura, e não considerou as especificidades<br />

climáticas da região, com chuvas fortes no verão e estiagem prolongada nas demais épocas do ano. Muitas áreas replantadas entraram<br />

em decadência.<br />

Na ausência de sombreamento, as fortes chuvas no verão provocavam erosão e na época da estiagem os cafeeiros não suportavam<br />

a exposição direta ao sol forte, por um período muito longo. O sistema de cultivo, a pleno sol, em nada adaptado às condições<br />

serranas, provocou o fracasso do programa e a decadência do café na região. A produção de café no Ceará nunca mais voltou a alcançar<br />

uma participação no mercado brasileiro igual à obtida no século anterior. Passou a representar menos que 0,1% do total produzido<br />

pelo Brasil. A produção passou a atender apenas ao mercado local e concentrou-se principalmente nas áreas que mantiveram a<br />

tradição do sistema sombreado.<br />

2.1. CAFÉ SOMBREADO OU MONOCULTURA?<br />

A discussão sobre a melhor forma de cultivo do café no Brasil - a pleno sol ou sombreado - é antiga, remonta de meados do século<br />

XIX. O cafeeiro (Coffea arabica) pertence à família das rubiácias, nativa de sub-bosques da floresta do sudoeste do planalto da<br />

Etiópia, antiga Abissínia. Em muitas partes do mundo, particularmente em regiões mais próximas do Equador como Colômbia, Costa<br />

Rica e Java, quando o café começou a ser cultivado comercialmente, procurou-se imitar seu habitat original plantando-o na sombra<br />

(DEAN, 1997).<br />

No Brasil, os primeiros produtores aparentemente não sabiam como se plantava o cafeeiro em outras localidades e aplicavam<br />

técnicas tradicionais de derrubada e queimada da mata em grande escala, tal qual se fazia na produção de cana-de-açúcar e algodão,<br />

gerando forte impacto ambiental (DEAN, 1997). No final do império, 50 anos após sua implantação em escala comercial, a questão<br />

do sombreamento ainda era um tema exótico e só praticado em estados de pequena produção como Ceará, Bahia e alguns distritos do<br />

Espírito Santo (TAUNAY, 1945).<br />

Em meio à primazia da monocultura, CAMARGO (1949) alertava para os erros de condução da lavoura no sistema a pleno sol.<br />

Entre as vantagens do cultivo na sombra, o autor aponta a proteção a geadas, aos ventos frios e às secas, a longevidade da cultura, a<br />

reumificação do solo, o combate à erosão e a obtenção de um produto de melhor qualidade.<br />

Os exemplos desastrosos da produção de café a pleno sol em Baturité demonstram os riscos de se ter um único padrão<br />

tecnológico, para condições agroecológicas tão distintas como as encontradas num país de dimensões continentais como o Brasil. A<br />

produção de café sombreado, que mantinha lá um equilíbrio com a preservação da mata, perdeu força com a falta de incentivo dado<br />

pelo IBC. Novas culturas como bananas e hortaliças passaram a competir pelo espaço antes ocupado com a mata que sombreava os<br />

cafezais. Introduzidas pelos produtores que necessitavam de outras opções de renda e cultivadas de modo convencional, provocaram<br />

o desmatamento de áreas íngremes, essas novas áreas de plantio empregam muitos fertilizantes solúveis, agrotóxicos e água para<br />

irrigação. Isso levou a um forte processo de degradação ambiental e de empobrecimento dos recursos naturais e dos agricultores da<br />

serra. Desde então, a economia regional permaneceu estagnada, sem substituto de vulto para o café.<br />

Os produtores que mantiveram a produção de café sombreado, por sua vez, passaram a enfrentar outros problemas. O<br />

envelhecimento dos cafezais e a dificuldade de adotar práticas de manejo adequado, decorrentes da escassez de recursos e de<br />

tecnologias apropriadas à produção sombreada de café, impediam novos avanços para retomada da produção.<br />

3. CONFLITO ENTRE OCUPAÇÃO HUMANA E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL<br />

Por volta dos anos 1980 observa-se uma nova realidade: o conflito entre os produtores rurais que dependiam das terras para sua<br />

sobrevivência na Serra do Baturité com os movimentos de preservação da ’ilha’ de Mata Atlântica, uma floresta em pleno sertão<br />

cearense. Esse embate estava levando a um resultado social negativo. De um lado, o emprego de práticas agrícolas com forte impacto<br />

sobre o ecossistema, associado ao desconhecimento da população local sobre a necessidade de preservação dos recursos naturais,<br />

levavam ao desmatamento da cobertura vegetal e conseqüente degradação do solo e de mananciais. Por outro lado, os movimentos<br />

ambientalistas propunham a preservação da mata, sem mostrar caminhos alternativos à sobrevivência da população local.<br />

Mas o crescimento da ocupação predatória sobre o ambiente trouxe como conseqüência não só a preocupação com a menor<br />

vazão dos rios, que têm papel estratégico no abastecimento de água dos municípios serranos e da cidade de Fortaleza, a capital<br />

cearense, localizada a 100 km dali, como também a própria sobrevivência dos produtores no médio prazo, pelo empobrecimento da<br />

terra.<br />

Para frear o processo de degradação, parte da população da região iniciou um movimento para a criação da Área de Preservação<br />

Ambiental do Maciço de Baturité, o que se efetivou em 1990. A implementação do desenvolvimento sustentável da região se<br />

fortaleceu com o convênio com a Fundação CEPEMA, cujo objetivo é intervir na realidade, buscando promover o equilíbrio ecológico<br />

e a justiça social. Ou seja, a preservação do ambiente sob esse enfoque não exclui os moradores locais, que ao contrário, estão<br />

inseridos no projeto. Surgiu uma nova esperança para os produtores de café sombreado que, sem renda suficiente para promover a<br />

renovação e adoção de tratos culturais adequados, viram sua produtividade declinar, levando a um ciclo vicioso cuja única perspectiva<br />

era o abandono do cafezal ou a perda da propriedade.<br />

3.1 OS PRODUTORES DE CAFÉ SOMBREADO<br />

A diversificação da produção de café que ocorre no sistema sombreado representa uma estratégia de sobrevivência para os<br />

produtores. Além da produção paralela de madeira e frutas, estas práticas viabilizam a agricultura familiar pela redução do risco de<br />

variações nas cotações internacionais do café, e de alterações sociais e climáticas (SEVERINO & OLIVEIRA, 1999).<br />

763


Na serra de Baturité há cerca de mil produtores de café, a grande maioria com área inferior a 50 hectares, proprietários das terras<br />

e quase sempre empregam o trabalho da família. A concentração de agricultores em pequenas áreas é resultado direto de sucessivas<br />

divisões por herança. Esta prática de divisão das responsabilidades em prol do objetivo comum de manutenção e reprodução da<br />

família, faz com que se forme uma identidade bastante sólida, com a transmissão de conhecimentos práticos e de valores sócioculturais<br />

de geração para geração 6 .<br />

A produtividade média é de 5,76 sacos beneficiados/ha, sendo maior nas áreas de cafeeiros consorciado com ingazeiras, com uma<br />

grande variabilidade, entre 12,02 e 1,31 sacos/ha, conforme a fertilidade da área. A produção em cultivos sombreados é menor que a<br />

tradicional, não só pelo espaçamento diferente do cultivo a pleno sol, como também pela menor quantidade de frutos produzida<br />

(SEVERINO & OLIVEIRA, 1999).<br />

Segundo DURÁN (2000) pode-se identificar a presença de cinco diferentes tipos de produtores em Baturité, com diferentes<br />

graus de envolvimento com a terra e de consciência sobre a necessidade de preservação dos recursos naturais. Os posseiros vivem na<br />

terra mas não têm a sua posse legal e praticam agricultura de subsistência. Os arrendatários são agricultores que remuneram o<br />

proprietário legal para ter acesso ao uso da terra. Como seus vínculos com a terra são pequenos, não demostram muito compromisso<br />

com a preservação do solo ou da vegetação nativa. Os proprietários-ausentes têm relação direta com os arrendatários pois arrendam<br />

a terra a terceiros e não têm nenhum compromisso em preservar a mata, ao contrário, a relação é predatória ao estimularem o<br />

desmatamento, pois a lenha obtida faz parte da remuneração do uso da terra. Já os proprietários-produtores, pelo vínculo mais direto<br />

com a terra, são mais preocupados em preservar o solo e o meio ambiente. Finalmente, os proprietários-veranistas, que usam suas<br />

áreas como lazer.<br />

Vale ressaltar que o sucesso da revitalização da prática de café na sombra não depende apenas dos técnicos dos projetos criados<br />

na região mas também da experiência trazida pelos antepassados destes produtores. A vivência dos produtores é determinante para<br />

a adoção de boas práticas para o revigoramento dos cafezais já decadentes, que, por meio do empirismo e observação, sistematizavam<br />

seus tratos culturais, como se constata pelo depoimento de um dos moradores: “Meu avô, no tempo da floração de café, saía<br />

observando. Em cada lugar ele pegava um pé de café que se destacava mais e fazia umas referências, punha umas pedras, amarrava...”<br />

(Brito, 2001). A forte ligação dos produtores de café sombreado com uma história de perseverança na manutenção de uma produção<br />

condenada pelos pacotes tecnológicos é um dos fatores que possibilitou sua rápida adesão ao movimento de preservação da serra.<br />

3.2. A CRIAÇÃO DA APA DA SERRA DE BATURITÉ<br />

Em 1990, o Decreto no 20.956/90 criou a Área de Proteção Ambiental da Serra de Baturité nas áreas serranas situadas entre as<br />

coordenadas 4 o 08’ e 4 o 47’ de latitude sul e 38 o 50’ e 39 o 05’ de longitude oeste, nas cotas altimétricas superiores a 600 m, administrada<br />

pela SEMACE.<br />

As APAs são Unidades de Conservação que têm por objetivo impedir a ocupação desordenada do solo e diminuir o conflito<br />

permanente entre a sobrevivência da população e a preservação da flora e fauna nativas. A conciliação da atividade humana com a<br />

preservação da vida silvestre, ao proteger os recursos naturais e incentivar a melhoria da qualidade de vida das populações, é realizada<br />

mediante um trabalho multidisciplinar entre instituições governamentais e ONGs, com a colaboração efetiva das comunidades.<br />

As principais metas das APAs são proteger as comunidades bióticas nativas, as nascentes dos rios, os solos e as vertentes.<br />

Busca-se apresentar à população local métodos e técnicas apropriadas de manejo e uso do solo, de modo a promover menor impacto<br />

no ecossistema. Procura-se assim desenvolver nas populações uma consciência ecológica e conservacionista (SEMACE, s.d.).<br />

A APA da Serra de Baturité apresenta formações florestais remanescentes da Mata Atlântica. A cobertura florestal, desde o<br />

início da ocupação da Serra no início do século XIX, sofreu um processo contínuo de degradação. A região, que era considerada o<br />

‘pulmão verde’ do Ceará, esteve bastante ameaçada pela erosão e destruição de mananciais, até a criação da Unidade de Conservação.<br />

Conta com uma área total de 32.690 ha, abrangendo total ou parcialmente oito municípios: Aratuba, Baturité, Capistrano, Guaramiranga,<br />

Mulungu, Pacoti, Palmácia e Redenção (Figura 3). É importante fazer uma distinção entre os municípios de Aratuba, Palmácia e<br />

Mulungu, onde a agricultura é a principal atividade econômica, e o uso da terra é intensivo, e Pacoti e Guaramiranga, que apresentam<br />

forte vocação para atividades de lazer e turismo (DURÁN, 2000).<br />

Os programas desenvolvidos atualmente na APA estão relacionados ao turismo ecológico, à educação ambiental e ao uso<br />

racional do solo agricultável com o Projeto Café Ecológico. A renda gerada pela cultura na região é cerca de 65% do total gerado pelo<br />

café no Ceará. Há ainda a produção e distribuição de mudas de espécies frutíferas e florestais, além de atividades de fiscalização e<br />

monitoramento da área protegida. O desmatamento e a captura ou caça de animais silvestres são proibidos (SEMACE, s.d.).<br />

Revigorar os cafezais utilizando o sombreamento, com a promoção de práticas agroecológicas, constitui-se em alternativa viável<br />

para conciliar a produção de café no ecossistema serrano, como principal atividade econômica, e a conservação do patrimônio natural.<br />

4. APRENDER FAZENDO: CEPEMA E O PROJETO CAFÉ ECOLÓGICO<br />

A ação do Estado na preservação dos recursos naturais, especialmente em áreas protegidas que mostram ocupação humana, é<br />

um instrumento de política que normatiza o uso da área. Cabe à SEMACE monitorar e fiscalizar o uso do solo na Serra. Mas é preciso<br />

formar parcerias com a sociedade civil para implementar ações, como os projetos de desenvolvimento que promovam a sustentabilidade.<br />

É nesse ponto que o papel desempenhado pelas ONGs se destaca.<br />

764


4.1. A FUNDAÇÃO CEPEMA E O PROJETO CAFÉ ECOLÓGICO<br />

A Fundação CEPEMA é um exemplo de ONG que tem como objetivo contribuir ativamente na implementação do desenvolvimento<br />

local sustentável. Criada em 1990, quando começou a trabalhar com agricultura ecológica, a CEPEMA faz parte da Rede Internacional<br />

Terra do Futuro (Framtidsjorden) com sede em Estocolmo, na Suécia, entidade que congrega 60 ONGs em 14 países da América<br />

Latina, Ásia, África e Europa. Suas atividades mais importantes referem-se à capacitação e qualificação profissional em Agricultura<br />

Ecológica, Cooperativismo, Associativismo e Educação Popular (FUNDAÇÃO, 2000).<br />

O público alvo das atividades da Fundação são agricultores ecologistas, produtores que trabalham em economia familiar e<br />

assentados da reforma agrária. Para atingir seus objetivos, estabelece parcerias com outras ONGs nacionais e internacionais, organizações<br />

governamentais, associações de pequenos produtores e entidades da sociedade civil (FUNDAÇÃO, 2000).<br />

A CEPEMA atua na área de educação ambiental em dois grandes biomas do Ceará, a caatinga e a Mata Atlântica, utilizando a<br />

agricultura ecológica como principal instrumento de preservação dos agroecossistemas. Realiza diversos cursos de formação e<br />

qualificação profissional para jovens rurais, lideranças sindicais e assentados da reforma agrária. A metodologia de desenvolvimento<br />

local sustentável adotada pela Fundação baseia-se na produção de conhecimento. Antes de se iniciar uma intervenção na realidade<br />

local, é necessário fundamentar-se num amplo leque de premissas, a começar por três aspectos: os biológicos, para descobrir as<br />

limitações e as potencialidades do ecossistema local; os sócio-culturais, para buscar compreender as relações sociais de poder<br />

existentes para que a intervenção não fortaleça estruturas injustas; e os econômicos, para entender a lógica e a rede da economia local<br />

já existente, levantando as atividades que dinamizam a vida destas populações, com base em princípios de sustentabilidade ambiental<br />

e sócio-cultural. Dentro dessa linha, a Fundação conduz, entre outros, o Projeto de Café Ecológico (ALENCAR, 2001).<br />

O Projeto Café Ecológico vem sendo desenvolvido desde 1995 pela Fundação CEPEMA, com recursos da Sociedade Sueca de<br />

Proteção à Natureza e da Rede Internacional Terra do Futuro na APA do Maciço de Baturité e Serra da Meruoca. A partir de 2000<br />

contou também com recursos do FNMA/MMA – Fundo Nacional do Meio Ambiente do Ministério do Meio Ambiente, como parte<br />

do programa de educação voltado para o desenvolvimento sustentável de áreas de Mata Atlântica.<br />

A cafeicultura sombreada praticada nessas áreas possibilita a permanência das árvores, permitindo que a produção agrícola<br />

respeite os recursos naturais. Os principais objetivos da revitalização da cafeicultura nos municípios que apresentam áreas de Mata<br />

Atlântica no Ceará são: promover a biodiversidade e o desenvolvimento ecologicamente sustentável obtendo produção agrícola e<br />

preservando os recursos naturais; melhorar a renda dos agricultores e reduzir o êxodo; e gerar emprego e renda para trabalhadores<br />

rurais da região.<br />

O Projeto foi concebido com a intenção de explorar os laços sócio-culturais já existentes na cafeicultura, elevando a auto-estima<br />

dos produtores, diminuída por vários fatores, como a relação negativa com os compradores locais. Os principais problemas<br />

detectados começavam pela falta de tratos culturais adequados nas lavouras e doenças nas ingazeiras. A idade avançada dos cafezais<br />

estava provocando quedas progressivas na produção, produtividade e na qualidade do produto. Para a má qualidade também<br />

contribuíam as péssimas condições dos terreiros para secagem dos grãos e das máquinas antigas usadas no seu beneficiamento. Além<br />

disso, o desmatamento indiscriminado estava acelerando o processo erosivo, o desaparecimento de fontes de água e o êxodo rural.<br />

4.2. APRENDER FAZENDO<br />

Diante desse quadro e da estratégia de ação definida pela Fundação, foi proposto um programa educacional voltado para o<br />

desenvolvimento sustentável da região, com base no café ecológico. O objetivo geral da proposta é promover a preservação e<br />

conservação da Mata Atlântica a partir da educação ambiental e da qualificação voltadas para o desenvolvimento sustentável da<br />

economia local, gerando emprego e renda e reduzindo o êxodo de jovens. Busca-se com isso melhorar a qualidade de vida das<br />

populações locais. Conforme ALENCAR (2001), a estratégia de produção de conhecimento do Projeto Café Ecológico envolveu,<br />

basicamente, quatro aspectos: capacitação, organização dos produtores, aumento da biodiversidade no cultivo do café e comercialização.<br />

O primeiro passo foi a formação de Agentes de Desenvolvimento de Agricultura Ecológica - ADAEs, para realizar<br />

acompanhamento técnico nas propriedades, por meio de um programa que visa melhorar a qualidade, obter a certificação de<br />

produtores e ampliar a biodiversidade, buscando utilizar a mão-de-obra local nas diversas etapas da cadeia produtiva do café.<br />

Também fazem parte do treinamento estagiários do Grupo Agroecológico da Faculdade de Agronomia da UFC – Universidade<br />

Federal do Ceará.<br />

O desenvolvimento e acompanhamento de práticas de manejo agroflorestal é feito nas UEPQs – Unidades Estimuladoras de<br />

Produção, Qualidade e Biodiversidade. Cada UEPQ tem área de 1 ha e estão distribuídas entre os municípios, onde são realizados dias<br />

de campo. São três em Aratuba, quatorze em Mulungu, dez em Guaramiranga e três em Pacoti. Assim são desenvolvidas e<br />

disseminadas práticas de agricultura ecológica que promovem a atividade agrícola sem degradação do meio ambiente. O objetivo é<br />

atender com experiências práticas as necessidades que o desenvolvimento do Projeto venha mostrando ao longo de sua existência.<br />

O Projeto Café Ecológico trabalha com 158 produtores da Serra, dos quais quase 70% são certificados como orgânicos. Estes<br />

produtores são organizados por meio da APEMB – Associação dos Produtores Ecologistas do Maciço de Baturité, que tem sede no<br />

município de Mulungu, onde se concentra a maioria dos produtores de café da região. A APEMB foi fundada em 1996, como<br />

resultado do estímulo à organização como forma de favorecer a articulação das demandas locais. Os produtores associados encontramse<br />

distribuídos em quatro municípios: Mulungu (87,3%), Pacoti (5,1%), Guaramiranga (5,1%) e Aratuba (2,5%).<br />

Cerca de 89% dos associados tem áreas com menos de 50 ha, enquanto áreas inferiores a 1 ha representam quase 30% do total.<br />

Nos imóveis com área entre 50,0 a 100,0 ha e 100,1 a 200,0 ha concentra-se o maior volume de terras, quase 24% e 30%,<br />

respectivamente, do total das terras dos associados.<br />

765


Outra contribuição para a organização dos produtores foi a criação da COMCAFÉ – Cooperativa Mista dos Cafeicultores do<br />

Maciço do Baturité, com sede no município de Guaramiranga. Foi fundada em 2000 com 32 cooperados, todos cafeicultores<br />

orgânicos de Guaramiranga, Pacoti, Mulungu e Aratuba e ainda está em fase de estruturação.<br />

Entre as metas da proposta estão a melhoria da produtividade dos cafeeiros e a ampliação da biodiversidade nas áreas de cultivo<br />

de café sombreado. Para isso, iniciou-se a produção e distribuição de 150.000 mudas de café e de 100.000 mudas de árvores nativas 7<br />

nas propriedades. As mudas são produzidas em Guaramiranga e colocadas à disposição dos produtores da Associação, mediante<br />

solicitação. As visitas técnicas dos ADAEs nas propriedades procuram promover as novas práticas e garantir a qualidade comercial<br />

e ecológica do café.<br />

No que se refere aos tratos culturais iniciou-se um trabalho de conscientização sobre a necessidade de adoção de melhores<br />

práticas nas lavouras. Nesse aspecto a principal mudança ocorrida foi a melhora da qualidade do café. Os produtores não tinham o<br />

hábito de mexer o café colocado no terreiro durante o processo de secagem dos grãos. A associação se empenhou em demonstrar a<br />

necessidade de mudar esse hábito através dos ADAEs e das UEPQs, em seu trabalho de capacitação e difusão de tecnologias<br />

agroecológicas.<br />

Quanto à comercialização, a ação da Fundação CEPEMA mostrou que uma reviravolta estava prestes a ocorrer, com iniciativas<br />

que provocaram importantes impactos. O apoio de organizações suecas ao Projeto favoreceu a exportação de café da Serra para<br />

aquele país, numa perspectiva de produto diferenciado – como café orgânico sombreado da Mata Atlântica do Ceará - dentro dos<br />

princípios do mercado solidário. Conseguiu-se com isso mostrar que é possível romper a principal barreira do sistema vigente, que<br />

são os atravessadores locais, que pagam preços aviltados pelo produto.<br />

A primeira exportação de café ecológico diretamente para uma torrefadora sueca, a Classic Kaffe ocorreu em 1997, por meio de<br />

um convênio entre a Fundação CEPEMA, a APEMB, a Sociedade Sueca de Conservação da Natureza, a Rede Internacional Terra do<br />

Futuro e o governo do estado do Ceará. O foco da estratégia de marketing da empresa foi na oferta de um produto diferenciado: o café<br />

sombreado de Mata Atlântica do Ceará. Eventualmente era feito um blend com outros cafés também de sombra, provenientes da<br />

América Central. A certificação orgânica foi feita pela KRAV, da Suécia e pelo IBD - Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento<br />

Rural de Botucatu – SP. Outra mudança importante foi a criação de uma unidade de seleção de café para separar os grãos de melhor<br />

qualidade. Foram empregadas 60 mulheres da comunidade, o que foi um importante fator de integração entre as mulheres e de geração<br />

de renda.<br />

A venda do café para o mercado internacional obteve boas cotações. O preço passou para um novo patamar - mais elevado - já<br />

que os produtores no sistema anterior dependiam dos intermediários interessados apenas em comprar barato. O café ecológico dos<br />

associados recebeu remuneração de US$ 160 por saca quando o mercado estava pagando entre US$ 100 a US$ 110. Entre as metas<br />

futuras da APEMB está a promoção de um concurso de qualidade, o que deve estimular a adoção de práticas nesse sentido<br />

(GARCIA, 2001).<br />

A valorização do café ecológico teve papel decisivo na melhoraria da auto-estima dos produtores, incentivando-os a acreditar na<br />

atividade e investir na produção. A qualidade do café foi provada, a despeito da desvalorização pela má qualidade alegada pelos<br />

compradores nacionais. Dezessete amostras foram analisadas pela torrefadora sueca e apenas uma foi recusada (ALENCAR, 2001).<br />

Os resultados foram bastante satisfatórios e no primeiro ano foi possível exportar 35% do café enviado pelos produtores para a<br />

associação, que representou 6 toneladas. Em 1999, 60% dos cafés enviados foram exportados, montante que alcançou 30 toneladas.<br />

Entretanto, a parceria entre os produtores de Baturité e a torrefadora sueca durou só três anos. A quebra do contrato decorreu<br />

do excesso de oferta de café orgânico, que levou a uma concorrência predatória entre os produtores. Diante do mercado baixista, a<br />

empresa sueca quis beneficiar-se da situação, dentro da lógica de não compartilhar os riscos, mas sim de reduzir custos e aumentar<br />

seus lucros. Face a essa conjuntura, o contrato foi rompido.<br />

Uma outra possibilidade de exportação, dessa vez para a empresa norte-americana Zenway também não foi possível, dada a<br />

dificuldade de se obter recursos para a comercialização e, principalmente, para o pagamento da certificação orgânica da Krav, que em<br />

2000 alcançava R$ 10.000,00.<br />

Faltam recursos para o custeio para a comercialização de cafés dos produtores e para a certificação do café como orgânico. A<br />

certificação constitui-se num processo oneroso para os produtores da Serra. A APEMB conseguiu apoio financeiro do Banco do<br />

Nordeste para as safras 1996/97 e 1997/98. Nas safras seguintes os recursos foram disponibilizados pelo banco, mas problemas<br />

internos à Associação impediram a realização da operação. A falta de recursos acabou por impedir a comercialização conjunta em<br />

2000.<br />

Esses obstáculos levaram a um redirecionamento das estratégias da Fundação com relação aos produtores da região. Passou-se<br />

a se pensar no todo, um projeto mais amplo, que prevê a criação de uma rede para vender os produtos orgânicos no mercado interno,<br />

incluídos aí também as frutas e hortaliças, o que poderia ajudar a diluir os custos com a certificação. O café faz parte da proposta, com<br />

um projeto de implantação de uma torrefadora local, com o objetivo de elevar o valor agregado do produto.<br />

Os principais reflexos positivos da intervenção da CEPEMA em seu trabalho de construção do conhecimento referem-se ao<br />

aumento da conscientização dos produtores com relação à preservação ambiental e à necessidade de melhorar a qualidade do produto.<br />

Isso foi fruto não só das pesquisas em práticas agroecológicas desenvolvidas nas UEPQs, como também do trabalho educacional dos<br />

ADAEs e do fortalecimento da organização dos produtores.<br />

Também são ações relevantes a promoção da biodiversidade, com a distribuição de mudas de café e frutíferas e a manutenção de<br />

uma pluralidade de sistemas. O projeto deixou de ser exclusivo do café ecológico, ampliando o foco para o desenvolvimento de<br />

sistemas agroflorestais, visando além de maior equilíbrio ambiental, promover instrumentos de redução de risco. Isso mostra a<br />

flexibilidade das propostas, nas decisões necessárias para adaptação a novas contingências. Atualmente realiza-se uma feira de<br />

766


produtos orgânicos em Guaramiranga, que está se tornando um importante centro turístico, e até mesmo a entrega de cestas em<br />

Fortaleza, numa tentativa de organizar consumidores.<br />

Entre os pontos negativos, destaca-se a falta de crédito oficial para o café no Estado do Ceará, pois a cultura não é considerada<br />

prioritária nos projetos governamentais. Ainda nessa esfera, faltam instrumentos que regulamentem de modo mais efetivo a utilização<br />

dos recursos hídricos. A estrutura fundiária, bastante fragmentada, também é fator que impede o sustento das famílias que dependem<br />

da renda da terra para sua sobrevivência. O alto custo da certificação, principalmente quando se considera uma só cultura, são<br />

proibitivos para esse tipo de agricultores, e acaba dificultando sua inserção em mercados diferenciados que poderiam estar reconhecendo<br />

e pagando pela qualidade superior do produto.<br />

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Baturité é um exemplo de como a questão do território têm um papel importante na determinação do sistema de produção. O<br />

café ecológico não foi uma imposição do mercado. Nenhum agente externo trouxe a tecnologia. Ela foi desenvolvida pela prática e<br />

experiência local dos produtores no cultivo da terra, fruto da herança histórica da produção na floresta. Os maus resultados do plantio<br />

de café ao sol e sua inadequação às características naturais da região, com chuvas abundantes no verão e um longo período de estiagem<br />

no resto do ano, significaram sérias perdas e estão presentes na herança cultural dos produtores.<br />

A consciência sobre a importância da preservação ambiental e a valorização de práticas de agricultura ecológica estão entre os<br />

principais valores compartilhados entre os produtores do Projeto Café Ecológico. A produção de café convive harmonicamente com<br />

as árvores. São suas raízes históricas que garantem que os ensinamentos da produção ecológica sejam facilmente transmitidos de pai<br />

para filho, e entre a comunidade. A intervenção da CEPEMA busca contornar a falta de pesquisas em sistemas agroflorestais no<br />

Brasil. As pesquisas privadas e públicas têm como principal foco a produtividade, onde a qualidade do produto e a sustentabilidade<br />

da produção têm se apresentado como objetivos secundários.<br />

A valorização do café ecológico no mercado diferenciado foi uma experiência concreta, mas que não teve continuidade, por<br />

contingências de mercado e falhas nas ações de coordenação. Mas a alternativa de fortalecer e valorizar o consumo local e regional<br />

parece ser uma iniciativa de melhor desempenho ao longo do tempo. A estratégia de diferenciação do produto ecológico é coerente<br />

com a tradição de cultivo do café sombreado, que já não fazia uso de adubos químicos e de agrotóxicos. Em todo caso, essas ações<br />

buscam agregar valor e promover a articulação regional. A APA é um instrumento jurídico que ajuda a preservar a área, mas não é<br />

suficiente para garantir a promoção da biodiversidade, daí a importância de se gerar alternativas e se ter flexibilidade para sua adoção.<br />

Quebrar o ciclo vicioso de baixa renda que resulta em baixos investimentos depende de mudanças institucionais. A ação da<br />

CEPEMA e o fortalecimento da APEMB, propondo uma coordenação horizontal em primeiro lugar e posteriormente vertical, por<br />

meio da criação de uma rede, veio propiciar a possibilidade de transformar esse ciclo vicioso num círculo virtuoso, com o aumento da<br />

renda e, por conseguinte, do investimento.<br />

Os desafios ainda são muitos, mas a orientação da proposta de intervenção representa uma nova e consistente forma de colocar<br />

o café em mercados diferenciados, promover a biodiversidade e a consciência ambiental dos agricultores. O mais importante, contudo,<br />

é fixar os agricultores e seus familiares no seu local de origem e proporcionar às novas gerações a esperança de poder desenvolver o<br />

capital social e o patrimônio natural de seu território, com a ocupação sustentável da Serra de Baturité.<br />

767


6. BIBLIOGRAFIA<br />

ABRAMOVAY, Ricardo. “O capital social dos territórios: repensando o desenvolvimento rural”. Economia Aplicada. Volume 4, nº<br />

2, abril/junho, 2000.<br />

AMARAL, Luís. História geral da agricultura brasileira no tríplice aspecto político, social e econômico. São Paulo:<br />

Companhia Editora Nacional, Vol. II, 2 ª edição, 1958. 385p.<br />

ALENCAR, Adalberto. Presidente da Fundação CEPEMA. Entrevista realizada em 15 de janeiro de 2001, em Caucaia - CE.<br />

BRITO, Hugo V. M. Cafeicultor orgânico. Entrevista realizada em 17 de janeiro de 2001, em Guaramiranga - CE.<br />

CAMARGO, Rogério. Sombreamento dos cafezais. São Paulo: Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, (Do “Boletim<br />

de Agricultura” n o único – 1945), 1949. 32p.<br />

DEAN, Warren. A Ferro e Fogo: a história da devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.<br />

484p.<br />

DURÁN, Tulio A. Área de Proteção Ambiental: o maciço de Baturité. In: Ignez Vidigal Lopes et al. (Orgs.). Gestão Ambiental<br />

no Brasil: experiência e sucesso. 3 a ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, p.215-238, 2000.<br />

FUNDAÇÃO CEPEMA – Fundação Cultural Educacional Popular em Defesa do Meio Ambiente – 10 anos. Fortaleza, 2p., 2000.<br />

GARCIA, Marcos J. A. Presidente da APEMB. Entrevista realizada em 17 de janeiro de 2001, em Mulungu - CE.<br />

LIMA, Esperidião Q. Antiga Família do Sertão. S. L., Livraria AGIR Editora, 1946. 331p.<br />

OLIVEIRA, José T. História do café no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro, Editora Itatiaia Limitada, 1993. 438p.<br />

PASCOAL, L. N. (1999) Aroma de Café: guia prático para apreciadores de café. São Paulo: Editora Fundação Educar-DPaschoal,<br />

159 p.<br />

PENDERGRAST, Mark. Uncommon Grounds: the history of coffee and how it transformed our world. New York: Basic Books,<br />

1999. 522p.<br />

ROMERO, José P.; ROMERO, João C. P. Cafeicultura Prática: cronologia das publicações e dos fatos relevantes. São Paulo:<br />

Editora Agronômica Ceres, 1997. 400p.<br />

SEMACE. Área de Proteção Ambiental da Serra do Baturité. (s.d.)<br />

SEVERINO, Liv S.; OLIVEIRA, Teógenes S. Sistema de Cultivo Sombreado do Cafeeiro (Coffea arabica L.) na Região de Baturité,<br />

Ceará. Revista Ceres, 46(268):635-652, 1999.<br />

SOUZA, Simone. História do Ceará, 4ª edição. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1995, 416 p.<br />

STOLTON, Sue; GEIER, Bernward; MCNEELY, Jeffrey A. Introduction. In:_____(ed.) The relationship between nature<br />

conservation, biodiversity and organic agriculture. Germany: IFOAM, p.5-11, 2000.<br />

TAUNAY, Affonso E. Pequena história do café no Brasil (1727-1937). Rio de Janeiro: Departamento Nacional do Café, 1945.<br />

558p.<br />

1 Estudo baseado em SAES, SOUZA & OTANI (2001). Actions to Promote Sustainable Development: the case of Baturite shaded<br />

coffee, State of Ceara, Brazil. http://www.rlc.fao/org/prior/desrural/alianzas/casos.htm<br />

2 Doutoranda do PROCAM/USP – Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental e Pesquisadora do IEA/SAA-SP – Instituto<br />

de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. E-mail: mcsouza@iea.sp.gov.br<br />

3 Pesquisadora do PENSA/FIA/FEA/USP e Coordenadora do Curso de Ciências Econômicas da FACESP/FECAP. E-mail:<br />

ssaes@fecap.br<br />

4 Pesquisadora do IEA/SAA-SP – Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. E-mail:<br />

maliotani@iea.sp.gov.br<br />

5 Apesar de os termos café sombreado, ecológico e orgânico aparecerem eventualmente no texto como sinônimos, há de se fazer uma<br />

distinção entre eles. O café cultivado na sombra de outras plantas pode ser considerado ecológico, na medida que se observa um<br />

aumento do número de espécies vegetais e animais numa mesma área, em relação ao sistema de cultivo a pleno sol, o que implica num<br />

aumento da biodiversidade. Além disso, o sistema sombreado não emprega fertilizantes solúveis nem agrotóxicos. A fertilização é<br />

feita com o húmus formado a partir da decomposição dos resíduos depositados pelos estratos superiores da vegetação e o controle de<br />

pragas ocorre por meio de inimigos naturais. Essas práticas culturais os torna passíveis de serem considerados sistemas orgânicos,<br />

desde que devidamente certificados.<br />

6As ações coordenadas entre os agentes, atores ou indivíduos têm se mostrado mais eficazes quando se observa o fenômeno da<br />

identidade social, particularmente na área rural. Isso significa que mais importante que as vantagens proporcionadas por relações<br />

setoriais, como no caso dos complexos agroindustriais, a identidade social possibilita a coordenação entre os agentes formando a<br />

base para empreendimentos inovadores. O caso dos distritos industriais, no norte da Itália, é fenômeno em que o espírito cívico<br />

tornou-se a base do processo de desenvolvimento. Isso porque a identidade que supõe relações mais transparente entre os agentes<br />

leva ao surgimento de um sistema próprio de valores, princípios e normas, formais ou informais, capaz de induzir a cooperação,<br />

mesmo quando não há “um Leviatã pronto para punir a deserção” (ABRAMOVAY, 2000:4).<br />

7 Para incrementar a biodiversidade foram plantadas mudas de fruteiras, como limão, laranja, goiaba, cajá, mamão, abacate, manga,<br />

jaca, acerola, siriguela, maracujá, graviola, carambola, jambo, pitanga, caju e sapoti.<br />

768


A QUESTÃO DO MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO DESENVOL<strong>VI</strong>MENTO<br />

RURAL LOCAL E SUSTENTÁVEL<br />

769<br />

Marcelo Porto Nicola 1 , Vivien Diesel 2<br />

A trajetória dos modelos de desenvolvimento rural.<br />

A noção de desenvolvimento assumiu, particularmente após a Segunda Guerra Mundial, uma importante dimensão na<br />

geopolítica dos Estados Unidos da América, como parte da estratégia mais geral para consolidar sua hegemonia. Nesse contexto, o<br />

subdesenvolvimento constituia a expressão utilizada para identificar países ou regiões que, aos olhos dos especialistas norteamericanos,<br />

eram considerados atrasados. Para os atrasados, recomendava-se uma receita única: superar a condição “indigna” de<br />

subdesenvolvimento, vencendo as etapas que os levassem à alcançar o modelo padrão de sociedade ocidental, capitalista e industrializada<br />

que se auto-considerava desenvolvida. Usado desta forma, o termo desenvolvimento trazia implícita uma conotação de evolução,<br />

progresso, maturação e modernização: conceitos chaves nas teorias e estratégias operativas das políticas desenvolvimentistas vigentes<br />

desde então (Esteva 1996) 3 .<br />

De um modo geral, os teóricos e analistas da época preocupavam-se em desvendar como se dava o processo de crescimento<br />

econômico, percebendo-se, já na década de sessenta, a interdependência entre o desenvolvimento agrícola e industrial.<br />

No que diz respeito ao desenvolvimento agrícola surgiram proposições complementares, voltadas a explicar o que deveria<br />

ser feito para transformar as sociedades rurais atrasadas em sociedades compatíveis com os enfoques de progresso e modernidade. Ao<br />

mesmo tempo, passaram a ter maior importância as orientações teóricas destinadas a mostrar as formas de intervenção capazes de<br />

levar a diante este processo de mudança.<br />

Neste contexto, promoveu-se a Revolução Verde que em muito contribuiu para o surgimento de uma crise sócio ambiental<br />

sem precedentes na história. Avaliando os resultados da revolução verde, a maioria dos analistas conclui que contribuiu para elevar a<br />

produtividade nas propriedades e regiões em que as rendas já eram mais elevadas, mas nada conseguiu fazer para melhorar a situação<br />

dos pobres do campo. Ao contrário, ampliou a exclusão e as desigualdades sociais, ademais de agravar os efeitos negativos da<br />

agricultura sobre o meio ambiente 4 .<br />

Os sucessivos fracassos das estratégias baseadas na modernização tecnológica proposta no modelo da Revolução Verde,<br />

especialmente junto às regiões e populações mais pobres, motivaram vários estudos críticos sobre os impactos do modelo, dos quais<br />

nasceriam novas e diferentes estratégias de intervenção nos processos de promoção do desenvolvimento agrícola e rural.<br />

Ao longo da década de 70 as agências internacionais passaram a promover os PDRI (Programas de desenvolvimento Rural<br />

Integrado). 5 Estas experiências , embora com resultados questionáveis em termos de superação da pobreza, permitiram uma<br />

aprendizagem interessante quanto as estratégias adequadas para trabalho com populações pobres. Os trabalhos de Kottak e Uphoff,<br />

avaliando estas experiências demonstraram o valor da participação para o bom andamento dos programas de desenvolvimento rural.<br />

Desde então, motivações éticas e operacionais se conjugam para realçar o valor da participação nos projetos de desenvolvimento rural.<br />

Diversos autores registram que a participação assume significados diversos no contexto dos projetos de desenvolvimento<br />

rural. Atualmente, organizações engajadas na luta pela superação da pobreza propõem que as ações busquem o “empoderamento” das<br />

populações menos favorecidas, entendendo que “empoderamento” pode ser definido como o processo que reforça a capacidade dos<br />

marginalizados – em participar, negociar, mudar, e acessar as instituições disponíveis que afetam seu bem-estar, levando a um<br />

aumento em suas capacidades e condições (Bathia, 2002).<br />

Assim, os projetos de desenvolvimento rural podem ser concebidos dentro de “abordagens tradicionais” ou “abordagens de<br />

capacitação”, considerando-se como abordagens tradicionais àquelas que enfatizam o melhoramento das condições de vida mediante<br />

investimentos em infra-estrutura. Na abordagem tradicional, a mudança tem origem exógena, sendo implementada pelo Estado e suas<br />

agências técnicas, segundo a sua percepção do que sejam os problemas e as soluções para os problemas identificados. Estas ações<br />

geralmente resultam na perpetuaçào de uma relação de dependência e paternalismo. As abordagens de capacitação, por sua vez,<br />

buscam promover melhorias nas condições de vida através da capacitação e fortalecimento institucional. Com a valorização do<br />

conhecimento local e da participação, persegue-se o desencadeamento de um processo de aprendizagem orientado a formação de um<br />

capital social que viabilize as mudanças nas relações de poder almejadas. 6<br />

A questão da avaliação nos projetos de desenvolvimento rural<br />

A experiência histórica de promoção do desenvolvimento rural trouxe importantes aprendizados quanto ao processo de<br />

avaliação. Um exame dos textos produzidos sobre o assunto revela que a avaliação pode servir a diferentes propósitos tendendo-se,<br />

atualmente, a valorizar seus benefícios em termos de aprendizagem.<br />

Chambers (1974) relata que uma das motivações para o estabelecimento de mecanismos de avaliação nos projetos de<br />

desenvolvimento rural foi a necessidade de legitimação social das organizações de cooperação internacional. Segundo o autor (1974,<br />

p.119) “A second source 7 was widespread criticism of international and national aid organizations for the alleged and real shortcomings<br />

of aid programmes. This criticism created a need for agencies to defend themselves and also improve their operations. One method<br />

adopted was to discuss, encourage and institunalize evaluation”<br />

Neste caso, a avaliação coloca-se a serviço da construção de um discurso de legitimação de determinado agente e sua prática<br />

social. Para estes propósitos entende-se que é importante passar a imagem de neutralidade e cientificidade do processo avaliativo.<br />

Isto explicaria porque “The words ‘objective’, ‘independent’, and ‘scientific’ are mixed in various proportions, giving an impression<br />

of white coats and test-tubes, of clinical impartiality, and of conclusions and recommendations that will be based on irrefutable<br />

authority of scientific research.” (Chambers, 1974, p.121).<br />

Consagra-se, assim, a avaliação de impacto que procura apresentar as contribuições de determinado projeto para a melhoria<br />

das condições de vida da população local. Mas, a prática da avaliação de impacto não correspondeu ao imaginário criado em torno<br />

dela. Como bem aponta Chambers (1974), além de problemas metodológicos 8 , os avaliadores não se comportam da maneira esperada.


Conforme Chambers (1974, p.125) toda avaliação “are expected to affect the future of the organization and of its personnel.<br />

Consequently, the evaluator may be regarded as a spy, an investigator, or an enemy; but it is at least as likely that he will be co-opted<br />

into the system. Co-opted evaluators resemble parasites in their concern not to kill their hosts; and there is a danger that their reports<br />

will be muted in criticism and overlavish in praise in order to secure their continued employment and the chance of another job.”<br />

Ocampo (2000) registra que a maioria dos sistemas de monitoramento e avaliação em projetos de desenvolvimento rural<br />

é implantada por exigência externa. Para entender esta dinâmica é necessário considerar que os projetos de desenvolvimento rural, via<br />

de regra, implicam participação de três agentes distintos: instituições financiadoras, instituições executoras e beneficiários os quais<br />

estão distanciados espacial e socialmente. Neste contexto, a avaliação é um meio de acompanhamento e controle do financiador sobre<br />

o comportamento do financiado (instituição executora). Considera-se que, enquanto permanecer esta estrutura, tendencialmente a<br />

avaliação manterá um componente de controle externo podendo o avaliador ser considerado um fiscal ou espião.<br />

Deve-se reconhecer, também, que em certos casos a avaliação atende a motivações de análise do “desejo” da replicabilidade<br />

de determinadas experiências. Este seria o caso da avaliação de projetos-piloto, cuja conveniência de replicação é discutida na<br />

avaliação.<br />

Chambers (1974) identifica que a avaliação tornou-se mais freqüente e sistemática a medida que acadêmicos (cientistas)<br />

passaram a participar na promoção dos projetos de desenvolvimento rural. Nestes casos, a lógica do trabalho acadêmico leva a<br />

preconizar que a avaliação seja visualizada como mecanismo de apoio à gestão, ao conhecimento da dinâmica social e econômica e ao<br />

aprendizado da ação de promoção do desenvolvimento. Muitas vezes estas motivações são traduzidas no desejo de “aprender lições”<br />

dos projetos de desenvolvimento rural.<br />

A constatação da necessidade de flexibilização dos projetos levou a preconizar que a avaliação fosse realizada mais<br />

freqüentemente, dando origem a modelos de monitoramento. Talvez a mudança atual mais significativa nos sistemas de monitoramento<br />

seja a preocupação com a incorporação da visão dos diferentes agentes participantes para fins de aperfeiçoamento do projeto de<br />

desenvolvimento rural.<br />

Nas abordagens que se inspiram na pesquisa-ação, a avaliação assume um caráter eminentemente “conscientizador”, pois a<br />

reflexão em torno da ação realizada permite qualificar a ação que lhe sucede. Nestes casos, a população deve ser, claramente, a<br />

protagonista dos processos de avaliação.<br />

Conforme Guijt (1999) o aperfeiçoamento dos mecanismos de monitoramento e avaliação torna-se um dos grandes desafios<br />

para os projetos orientados à promoção do desenvolvimento sustentável. Desde 1990 aproximadamente, três tendências, estimularam<br />

o interesse pelo monitoramento e avaliação participativa.<br />

A primeira tendência, que em termos de argumentos é a mais significativa, tem sido o aumento extraordinário do interesse<br />

na avaliação e no planejamento participativos em geral.(IIED, 1987; Chambers 1994, 1997; Selener 1997; Pretty 1996) 9 . O propósito<br />

maior no monitoramento e na avaliação participativo, surgido desta tendência, é o incentivo da aprendizagem interna para alavancar<br />

os objetivos de capacitação e de desenvolvimento, localmente apropriados.<br />

A segunda tendência se relaciona com a cobrança cada vez maior dentro das instituições de financiamento e de implementação<br />

de projetos para que se comprove que o dinheiro repassado e usado na promoção do desenvolvimento sustentável esteja resultando<br />

nos impactos prometidos. Nos últimos 20 anos, instituições de financiamento investiram muito esforço, dinheiro e confiança na<br />

gestão de projetos de desenvolvimento sustentável. Os investimentos foram feitos, inicialmente, em ações comunitárias de gestão de<br />

recursos naturais, com base na boa-fé e agora, que a fase da lua de mel com a gestão participativa de recursos naturais está chegando<br />

ao fim, as instituições financiadoras cobram dos defensores destes métodos que provem tudo o que proclamam. O propósito maior<br />

desta tendência é o de promover uma transparência mais significativa na aplicação de recursos.<br />

A terceira tendência se relaciona com uma reivindicação mais genérica e global de mais informações e dados que propiciem<br />

respostas a desafios ambientais, conforme destacado na Eco-92, no Rio de Janeiro, em 1992. Muitas organizações estão convencidas<br />

de que a única forma de se conseguir estas informações é por meio de processos de monitoramento conduzidos pela comunidade local,<br />

com maior envolvimento de membros da própria comunidade na coleta de dados locais. Esta última tendência aponta para o propósito<br />

de propiciar a obtenção de informações relevantes e específicas em nível local para que se possa ocorrer um planejamento estratégico<br />

melhor em diferentes níveis.<br />

O monitoramento e avaliação são essenciais para que os governos e os organismos de assistência possam julgar se os<br />

esforços tem tido êxito ou tem fracassado. Normalmente, são peritos externos que tem se encarregado de comparar o desempenho dos<br />

projetos com indicadores pré-estabelecidos, utilizando procedimentos e ferramentas padronizadas (Guijt e Gaventa, 1998).<br />

Atualmente, prevê-se que os instrumentos de avaliação sejam aplicados de forma participativa sendo que estes propósitos<br />

são considerados prioritários na agenda da maioria das organizações, mas poucas sabem cumprir esta exigência de forma que gere<br />

informação útil aos envolvidos (Guijt, 1999).<br />

Estes três propósitos: capacitação, aperfeiçoamento da transparência e planejamento, criaram grande expectativa nos<br />

resultados que podem ser alcançados pelo monitoramento e avaliação participativos. Esses resultados, ainda que lentamente comprovados<br />

na prática, seriam “mais ação local”, “melhoria na relação custo-benefício”, “dados mais precisos”, “informações mais relevantes” e<br />

assim por diante (Abbot e Guijt 1998, Guijt 1999).<br />

Na prática da promoção do desenvolvimento rural, novas e velhas orientações se encontram e, por isto, os projetos podem<br />

aproximar-se mais aos modelos de monitoramento e avaliação convencionais ou aos participativos. 10 As características dos modelos<br />

de monitoramento e avaliação convencionais e participativos são apresentadas no Quadro 01.<br />

770


Quadro 01: Comparativo entre o enfoque convencional e o enfoque participativo de monitoramento e avaliação.<br />

Dimensões M. e A. convencionais M. e A. participativos<br />

Quem planeja e dirige o<br />

processo<br />

O papel dos “envolvidos<br />

diretos” (os beneficiários)<br />

Superiores hierárquicos ou<br />

peritos externos<br />

Somente como<br />

abastecedores de<br />

informações<br />

Como se mede o êxito Por meio de indicadores<br />

definidos externamente e,<br />

sobretudo quantitativos.<br />

771<br />

População local; pessoal e<br />

chefias dos projetos, e<br />

outras pessoas envolvidas.<br />

A princípio com a ajuda de<br />

um facilitador.<br />

Desenhar e adaptar a<br />

metodologia, recolher e<br />

analisar informações,<br />

compartilhar os resultados e<br />

associa-los à ação.<br />

Enfoque Pré-determinado Adaptável<br />

Indicadores definidos no<br />

local, incluindo juízos mais<br />

qualitativos.<br />

Fonte: Transcrito do artigo El Seguimiento e Evaluacion Participativos: ¿Como aprender del Cambio? GUIJT, I. e GAVENTA, J. IDS<br />

Síntesis Informativa, nº 12 Noviembre de 1998.<br />

O objetivo do presente trabalho é analisar três experiências de desenvolvimento local sustentável participativo, identificando<br />

suas contribuições para o entendimento dos desafios enfrentados na prática do monitoramento e avaliação em projetos de<br />

desenvolvimento rural.<br />

3. Análise de experiências de monitoramento e avaliação em projetos de desenvolvimento rural.<br />

Na presente seção serão analisados três casos: dois relatos de experiências de monitoramento e avaliação em projetos de<br />

desenvolvimento rural (caso de Cuchumatanes, na Guatemala e o caso da experiência de “Campesinos a Campesinos”, no México) e<br />

um relato com caráter avaliativo (caso da área piloto na região sul do Brasil). Os casos serão examinados com vistas a distinguir a<br />

concepção de monitoramento e avaliação, as formas de sua realização e lições aprendidas.<br />

O Projeto de Desenvolvimento Rural da Serra dos Cuchumatanes 11 é uma iniciativa do Governo da Guatemala, através do<br />

Ministério de Agricultura, Ganaderia e Alimentação, orientada a atender a população rural em condições de pobreza, pobreza extrema<br />

e baixos índices de desenvolvimento humano. 12<br />

Observando-se o texto referente ao “desenho” do projeto, percebe-se afinidade teórico-metodológica com a abordagem<br />

FSRD (Farm System Research and Development/ FAO) na medida em que propõe: identificar e caracterizar os sistemas de produção<br />

da área; identificar e fortalecer as organizações de produtores formais e não formais, representativas de cada sistema de produção e de<br />

cada localidade; estabelecer e implementar planos globais para o produto principal de cada sistema de produção, comercialização,<br />

agro-industrialização, tecnologia, meio ambiente; intermediar e transferir os serviços de apoio do projeto as organizações de produtores:<br />

assistência técnica produtiva, comercialização, administração, crédito; melhorar a infra-estrutura viária. Esta orientação parte do<br />

pressuposto de que o meio rural é heterogêneo, de que a diferenciação por sistemas de produção é relevante para os propósitos do<br />

desenvolvimento rural e que, os produtores beneficiam-se de medidas de apoio ao seu principal cultivo comercial. Reconhece que as<br />

medidas de apoio não se restringem a assistência técnica e, por isto, o projeto busca formas de atender outras necessidades. Os<br />

agricultores são organizados por sistema de produção e, as organizações dos produtores são as intermediárias entre estes e o projeto.<br />

O projeto teve início em 1993 e, desde o início, contou com um sistema de monitoramento e avaliação. A experiência de<br />

monitoramento e avaliação promovida de 1993 à 1996 foi considerada frustrada pelo enfoque e pelos resultados. Quanto ao enfoque,<br />

considerou-se como orientado à fiscalização, contrário aos objetivos originalmente previstos. Com relação aos produtos e resultados 13 ,<br />

considerou-se que os gestores não souberam explicitar suas demandas à equipe da ONG nacional contratada para elaboração do<br />

Estudo de Base 14 , de modo que as informações e relatórios deste tiveram poucas contribuições ao aperfeiçoamento do projeto. O<br />

enfoque e o estilo de trabalho da UMA originou repulsa ao monitoramento e avaliação em todas as instâncias da UEP.<br />

A reestruturação do sistema de monitoramento e avaliação, realizada em 1996, objetivou potencializar as contribuições do<br />

sistema de monitoramento e avaliação para a gestão do projeto, para a avaliação de impacto, aprendizagem interna e para a capacitação<br />

de unidades executoras.<br />

O monitoramento parte de uma definição de marco lógico e definição de indicadores. Baseia-se nos registros destes<br />

indicadores pelos diversos agentes executores do projeto (promotores de campo, extensionistas, coordenadores). 15 Os dados<br />

(geralmente quantitativos) são introduzidos no sistema automatizado de monitoramento para gerar relatórios periódicos (mensais e<br />

semestrais). Por intermédio destes dados, avalia-se em que medida as metas programadas estão sendo alcançadas. Com base nestes<br />

dados são também elaborados relatórios enviados as instituições financiadoras (semestrais) e a UMA avalia os obstáculos identificados<br />

durante o sistema de monitoramento, de maneira periódica e “participativa”.


A avaliação se divide nas seguintes grandes linhas: i-Avaliação participativa comunitária; ii-Avaliação participativa à nível<br />

de projeto; iii-Avaliações especiais( por contrato); iv-Avaliações ocasionais (não programadas); v-Informes de Avaliação. Destas, as<br />

mais relevantes para o andamento do projeto são a avaliação participativa comunitária e a avaliação ao nível de projeto. A avaliação<br />

participativa comunitária é realizada com organizações dos produtores e promotores. Este momento de avaliação é destinado a gerar<br />

uma reflexão/análise do processo de intermediação (organizações formais) e sobre o desempenho dos grupos focais, organizações<br />

formais e não formais (fatores interferentes, etc). Assim sendo, geram dados qualitativos sobre o desempenho do projeto e seus<br />

condicionantes e, como são associados ao planejamento, permitem que os grupos revejam suas ações para o futuro. Todo o material<br />

produzido na etapa de avaliação participativa comunitária é manuseado em uma esfera hierarquicamente superior, denominada de<br />

Avaliação Participativa ao Nível do Projeto; atividade realizada de forma conjunta entre a UMA e a Sub-direção Técnica do Projeto,<br />

para análise dos obstáculos e avanços e uma análise de aspectos institucionais, com base em sondagens realizadas previamente a<br />

jornada com o pessoal de campo do projeto. Outra atividade, neste momento, é a elaboração do Plano Anual de Trabalho para o<br />

próximo exercício.<br />

Na avaliação participativa à nível de projeto, são conseguidos resultados interessantes, como, por exemplo, resgate de<br />

elementos para melhoria no sistema de monitoramento e avaliação (afinamento de critérios amostrais, revisão de indicadores, modificação<br />

no formato dos relatórios, entre outros). Entretanto todas estas análises e conclusões não contam com a participação efetiva dos<br />

beneficiários finais, já que os grupos de trabalho destas jornadas estão conformados com 01 representante do comitê executivo, 01 do<br />

comitê técnico, 01 da administração, 01 coordenador de componente ou sub-componente, 01 chefe de sub-sede e 01 integrante da<br />

UMA.<br />

Considera-se que a proposta de desenvolvimento do projeto se alinha tendencialmente a uma abordagem convencional, com a<br />

melhoria das condições de vida pela melhoria do processo de produção e, esta, derivada na melhoria das condições institucionais<br />

oportunizadas. O processo de desenho do projeto e as decisões principais, possivelmente, restringem-se a um grupo restrito onde<br />

prevalece a percepção do Estado e superiores hierárquicos sobre as melhores soluções. Apesar de constar dos objetivos a maior<br />

participação da comunidade no processo de desenvolvimento, e um dos componentes ser a organização social, na prática as ações neste<br />

sentido são tímidas se comparadas com as ações de apoio a produção e infraestrutura, e têm funcionalidade como meio e não fim.<br />

Os sistemas de monitoramento e avaliação orientam-se primordialmente a geração de resultados de desempenho (para fins<br />

de prestação de contas) e indicações para reorientação da ação com vistas a alcançar os objetivos e metas programados. O sistema de<br />

monitoramento e avaliação da mesma forma que a proposta de desenvolvimento tende ao modelo convencional, onde quem planeja e<br />

executa o processo são chefes superiores ou peritos externos. Freqüentemente, lança-se mão das assessorias externas, como por<br />

exemplo, na reorientação do processo de monitoramento e avaliação que caracterizou o segundo momento e nas avaliações especiais.<br />

Nesta transição do primeiro para o segundo momento, cabe ressaltar que “as instâncias superiores que coordenam o projeto<br />

resolveram mudar o enfoque do M & A”, caracterizando um processo de tomada de decisões centralizado e descendente.<br />

Um dos aspectos salientados por Ocampo (2000) na análise desta experiência é de que devem ser superados certos “vieses”,<br />

de modo que a interferência do técnico ao desenvolver ações de avaliação participativa comunitária, busque um ponto de equilíbrio<br />

entre as “falácias” populista,de um lado, na qual só a população local sabe suas demandas e as formas de resolvê-las e ,de outro, a<br />

tecnicista, na qual se acredita que os técnicos é que devem ser chamados para determinar os objetivos e estratégias a seguir.<br />

A experiência do projeto área piloto na Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul, Brasil, é analisado por Ribeiro e Villela<br />

(2001). O Projeto Área Piloto é caracterizado, pelos autores, como uma experiência de desenvolvimento participativo.<br />

Conforme relatam os autores, as motivações para a implementação deste tipo de trabalho nascem do “repensar” da prática<br />

extensionista restrita à difusão de inovações tecnológicas. Almejou-se a execução de um trabalho diferenciado, centrado na promoção<br />

do desenvolvimento endógeno, orientado à superação do quadro de pobreza e exclusão social identificado na região. Os idealizadores<br />

do projeto definem que este está fundamentado em quatro pilares básicos: participação, organização, parceria e municipalista.<br />

Este projeto foi iniciado em 1994 com a assinatura de Protocolo de Intenções entre as quatro Prefeituras Municipais<br />

envolvidas e uma série de entidades governamentais (ASCAR-EMATER/RS, Secretaria da Agricultura e Abastecimento/RS,<br />

EMBRAPA, Ministério da Agricultura e Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária). O projeto, no dizer dos autores, “Tem se<br />

constituído num trabalho eminentemente prático, objetivo, sem receitas pré-determinadas e desenvolvido passo a passo” (Ribeiro e<br />

Villela, p.14).<br />

Pelos dados disponíveis observa-se que não existe o desenho planejado de um processo de monitoramento e avaliação para<br />

o projeto “Área Piloto”. A avaliação dos resultados é uma motivação dos extensionistas e está baseada na visão possivelmente<br />

extraída do conjunto dos relatórios das equipes de extensão, quando mensalmente avaliam as ações desenvolvidas no município.<br />

Reuniões nos conselhos, nas organizações rurais e em comunidades também permitem impressões não sistematizadas dos extensionistas<br />

a respeito da percepção de outros atores envolvidos a cerca do projeto, mas de forma superficial e pouco representativa. Não há um<br />

processo em andamento, para monitoramento e avaliação através de indicadores, que verifiquem os avanços/retrocessos no “Projeto<br />

Área Piloto na Serra do Sudeste do RS”.<br />

A natureza da avaliação proposta no artigo remete à avaliação de impacto, com vistas a analisar a desejabilidade de<br />

reprodução da experiência. No texto os autores mencionam sua intenção em apresentá-lo como “proposta para geração de marcos<br />

referenciais para continuidade de um processo dessa ordem”.<br />

A avaliação pretende apresentar os resultados em termos de avanços em quatro dimensões: organização e participação, no<br />

plano microrregional de desenvolvimento rural, avanços na parceria e na municipalização. Entende-se que os fatos selecionados pelos<br />

avaliadores traduzem bem suas preocupações em demonstrar que houve avanços ao nível da organização política e da infra-estrutura<br />

e produção regional. No plano da organização política os autores mencionam o fortalecimento das associações de agricultores, a<br />

formação de Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural e de instâncias políticas supramunicipais (Área Piloto) e o reconhecimento<br />

político destas organizações por outros agentes. Ressaltam também avanços na sistemática de planejamento com formulação de<br />

planos municipais e microrregionais. No plano da estrutura econômica, enfatizam a melhoria das condições de infra-estrutura e de<br />

produção em atividades específicas. 16<br />

Ao longo do artigo, registram a introdução de novos enfoques no trabalho da extensão (estudos de cadeias de produção, de<br />

sistemas agrários micro-regionais e de sistemas de produção, utilização de técnicas de DRP no planejamento participativo), fatos<br />

considerados relevantes pelos autores.<br />

772


A proposta de desenvolvimento contida no projeto, no “continum” abordagem tradicional-abordagem de capacitação, pode<br />

ser localizada numa posição intermediária, dirigindo-se, tendencialmente, para a perspectiva de abordagem de capacitação para o<br />

desenvolvimento.<br />

As intervenções na área econômica não se diferenciam daquelas perseguidas pelos projetos tradicionais (investimentos<br />

intensivos em infra-estrutura básica, eletrificação rural, habitação e saneamento básico) e as tecnologias em uso pelos produtores<br />

beneficiários possivelmente ainda baseiam-se no enfoque tecnicista da “revolução verde”. Por outro lado, os pilares básicos contidos<br />

na proposta: organização, participação, parcerias e municipalista parecem visivelmente orientados no sentido de intensificar um<br />

processo de “empoderamento” em diferentes níveis, perpassando a família, as comunidades rurais, as organizações, o município e a<br />

região. Ações que se apresentam potencialmente capazes de influenciar positivamente a formação/enriquecimento do capital social,<br />

local e regional. 17 Além disso, iniciam-se ações de transição agroecológica em algumas atividades produtivas, como é caso da<br />

fruticultura.<br />

Conforme Guijt e Gaventa (1998), uma proposta de desenvolvimento rural participativo precisa de um processo de<br />

monitoramento e avaliação que tenha a participação em sua essência. Caracteriza-se como uma interrupção do processo de participação<br />

e aprendizagem não envolver os diferentes atores na etapa de monitoramento e avaliação de projetos participativos. Entretanto, o<br />

contrário é possível, mas difícil, tomando uma série de cuidados e iniciando gradualmente e mesclando métodos participativos e não<br />

participativos, monitorar e avaliar um projeto com características de concepção/implementação centralizadas e descendentes.<br />

A ASCAR-EMATER/RS tem conseguido avanços importantes nas etapas de diagnóstico e planejamento participativos,<br />

com inúmeras experiências bem sucedidas, inclusive com adaptação/modificação de ferramentas de DRP, mas nas etapas de<br />

monitoramento e avaliação ainda faltam experiências práticas.<br />

No caso em estudo, persistem várias interrogações a respeito da percepção que outros atores tem do projeto. As diferenças<br />

e o conhecimento local têm sido capturados através de abordagens participativas no momento do diagnóstico da realidade e da<br />

elaboração dos planos de ação, mas não o são no M & A., pois este processo, formalmente, não existe. Os resultados relatados, serão<br />

os considerados relevantes pelos produtores rurais, pelas organizações, pelas mulheres, pela classe política, pelas instituições de<br />

pesquisa? Qual é a avaliação do projeto pelos não participantes? O avanço na parceria, relatado como fuga da “prefeiturização” é<br />

percebida como tal pela Secretaria Municipal de Agricultura-Prefeitura Municipal?<br />

A experiência de desenvolvimento de metodologia de autoavaliação participativa ocorre na região de Mixteca Alta, uma<br />

região semiárida do estado de Oaxaca, que é um dos estados mais pobres do México. Nesta área, promove-se, desde 1982, um<br />

programa de capacitação dentro do enfoque “de agricultor a agricultor”. Este enfoque pretende-se alternativo ao modelo da Revolução<br />

Verde a medida que parte da valorização do saber local, promovendo a troca de experiências entre agricultores. Neste processo<br />

assume protagonismo o “promotor”, que é um colaborador da ONG que coordena o projeto.<br />

Desde o início o programa contava com processos de avaliação os quais consistiam na realização de reuniões mensais com<br />

promotores orientadas a informe de experiências no período. Estas experiências eram reunidas dando origem a relatórios semestrais<br />

que eram enviados às instituições financiadoras. Realizavam-se, também, reuniões anuais com os diversos participantes do projeto<br />

onde se informavam as atividades realizadas e planejavam-se as atividades para o próximo ano.<br />

Este sistema de avaliação mostrou seus limites quando a coordenação do projeto observou que o nível de participação local<br />

e o compromisso e efetividade do pessoal do programa estavam decaindo. Constatou-se que o sistema de avaliação aplicado não<br />

permitia entender porque isto estava acontecendo uma vez que se prendia ao registro de dados quantitativos relativos às atividades<br />

realizadas. Neste contexto, a ONG solicitou apoio externo para construção de uma metodologia de auto-avaliação, que pudesse ser<br />

aplicada pelos promotores e outros membros da equipe do projeto. A experiência de construção desta metodologia nos anos de 1995/<br />

1996 é narrada no artigo de Blauert (1998) que é aqui analisado.<br />

A equipe responsável pela elaboração da proposta metodológica entendeu que, para o caso, seria indicado partir<br />

de um enfoque de auditoria social. O enfoque de auditoria social visa diagnosticar o impacto social e o comportamento ético de uma<br />

organização ou de um projeto em relação com os seus objetivos e com os dos outros agentes envolvidos. A auditoria social se baseia<br />

no conceito de criar indicadores propostos pelas próprias pessoas interessadas e de diagnosticar os impactos sociais, mas também os<br />

econômicos, agroecológicos; a sustentabilidade de um projeto, tomando em conta diferentes perspectivas, representadas pelos<br />

indicadores e por informações de outras fontes. Pretende-se conhecer o ponto de vista destes diferentes agentes sobre o projeto. A<br />

seleção de uma base de pessoas envolvidas mais além dos beneficiários imediatos foi considerada essencial porque atende diretamente<br />

questões de responsabilidade, de prestar contas para a comunidade em geral e à necessidade de desenvolver uma sensação de<br />

propriedade do projeto por parte das pessoas e instituições do lugar.<br />

O pressuposto da sistemática metodológica utilizada indica que os diferentes agentes têm diferentes visões e, por tanto,<br />

preconizam diferentes indicadores para avaliação de impacto e de processo no projeto. Assim, um dos eixos centrais da experiência<br />

foi no sentido de identificar indicadores para os sistemas de autoavaliação. 18 A utilização do “Marco de Desenvolvimento de Base”<br />

o “Cone”, desenvolvido pela Fundação Interamericana mostrou-se de particular utilidade para organizar e sistematizar o conjunto de<br />

indicadores. A ênfase no “Marco de Desenvolvimento de Base”, o “Cone”, se justifica, pois possibilita representar os aspectos tanto<br />

quantitativos como qualitativos do trabalho dos programas de desenvolvimento. É centrado em três níveis ao longo de um eixo<br />

contínuo de impactos tangíveis e intangíveis. Os indivíduos e famílias, as organizações e a sociedade. O objetivo deste marco é permitir<br />

comparações entre um grande número de projetos usando categorias e variáveis fixas, como também representar indicadores específicos<br />

relacionados com as prioridades e contextos específicos das pessoas envolvidas.<br />

O enfoque geral que se seguiu no estudo foi o uso de uma combinação de métodos participativos que puderam envolver<br />

ativamente aos campesinos e outras pessoas nas comunidades, que incorporaram os pontos de vista de pessoas de outras instituições.<br />

Buscava-se fomentar a análise por parte dos próprios envolvidos, e analisar as dinâmicas sociais no interior dos projetos, assim como<br />

os câmbios nas relações de poder que se dão como resultado destes. As técnicas de DRP evidenciaram-se de utilidade para diversos<br />

fins : “Se pudieron asi expresar o visualisar criticas, inquietudes, y tambien visiones de cambios futuros que se deseaban en cuanto a<br />

la comunicacion interna, el favoritismo, las facciones, etc.” As ferramentas de DRP são úteis para desencadear discussões e análises<br />

participativas mais do que para prover respostas por si mesmos. A prática continuada deve mostrar no futuro, aos camponeses e aos<br />

promotores camponeses que usarão o DRP e outras ferramentas participativas, um caminho para construir o tipo de sistema de<br />

avaliação que seja mais recomendável para sua organização e para os tipos de processos de mudança que querem em suas comunidades.<br />

773


Entende-se que a natureza da proposta de desenvolvimento apresenta elementos bastante identificados com as abordagens<br />

de capacitação para o desenvolvimento (Bathia 2002). A satisfação de necessidades básicas através do aprimoramento de processos,<br />

habilidades e reforço institucional. O projeto, com o enfoque “de campesino a campesino”, intensifica a valorização sobre as<br />

habilidades práticas e o conhecimento local. As ações são intensamente participativas, incluindo as pessoas como indivíduos ou<br />

grupos, no processo de decisão do desenho, da execução, do monitoramento, da avaliação e dos conseqüentes re-direcionamentos. O<br />

papel do agente externo caracteriza-se pela ação facilitadora e de capacitação para o processo de mudança, lançando mão de abordagens<br />

no sentido de baixo para cima, com mútua aprendizagem.<br />

Os resultados buscados e que são percebidos pelos atores envolvidos não se restringem à obras físicas (infra-estrutura).<br />

Habilidades, conhecimentos e ações coletivas são conquistas do projeto e são percebidas como tal, sendo captadas pelos indicadores<br />

selecionados e pelo processo de avaliação.<br />

Da mesma forma, o processo de monitoramento e avaliação enquadra-se num enfoque intensamente participativo, onde<br />

populações locais, pessoal do projeto, coordenadores, outras pessoas envolvidas e produtores não participantes planejam e dirigem<br />

o processo. O papel dos envolvidos diretos “os beneficiários”, além de outros atores, é o de desenhar e adaptar a tecnologia, coletar<br />

e analisar informações, compartilhar informações e vinculá-los com as ações subseqüentes. Os indicadores que têm sido definidos no<br />

interior do projeto apresentam-se com característica de juízos bem mais qualitativos. Pode-se observar que o desenho, e execução do<br />

processo M & A do projeto em questão, apresenta-se profundamente fundamentado nos quatro princípios básicos dos enfoques<br />

participativos de M & A., quais sejam: a participação, propriamente dita, a negociação, a aprendizagem e a flexibilidade (Guijt e<br />

Gaventa 1998).<br />

O ideal de um enfoque “de agricultor a agricultor” significa que ser um promotor também implica apreender como administrar<br />

a própria organização, seguindo o enfoque de VM de auto-suficiência e auto-gestão por parte dos habitantes das comunidades.<br />

A busca de indicadores e a avaliação participativa deram lugar, ao final, a uma reflexão e inclusive a uma negociação sobre as<br />

diferenças de interpretação sobre as responsabilidades. Do mesmo modo, sobre as regras e os procedimentos organizativos democráticos<br />

que se necessitam para fazer que a organização seja efetiva e tão democrática como se deseja.<br />

O autor do relato da experiência conclui que as lições iniciais tiradas desta etapa de testes dos métodos mostram que as<br />

ferramentas de auto-avaliação podem ser usadas pelo pessoal do programa ou por grupos comunitários para melhorar o trabalho de<br />

promoção, por meio da observação das dinâmicas de grupo, das mudanças que se dão com o passar do tempo nos estilos de trabalho,<br />

da participação local e dos limites na adoção de tecnologias por parte dos camponeses. Certamente, se não se abordam as questões de<br />

poder no interior de uma organização, como a liderança, as relações externas, a comunicação interna e os sistemas de estímulos, se pode<br />

restringir a aprendizagem efetiva, sobretudo no que se refere a manter a participação no interior da organização ou do projeto. O<br />

processo de avaliação participativa e de desenvolvimento de indicadores pode desatar por si só conflitos e divisões dentro de uma<br />

organização, quando saem a luz as diferentes percepções dos diagnósticos. Isto requererá habilidades de manejo de conflitos, uma<br />

liderança forte para aproveitar, ou as divisões, ou os conflitos potenciais, e convertê-los num processo de aprendizagem.<br />

Considerações Finais.<br />

O trabalho apresentou uma análise crítica de três experiências de avaliação de projetos de desenvolvimento rural sustentável<br />

participativo, baseado no relato de distintos atores, desde os extensionistas envolvidos diretamente na promoção do projeto, como na<br />

“Área Piloto” até agentes avaliadores externos, como nos projetos da Guatemala e do México.<br />

Tendo em vista que uma classificação dicotomizada acaba se distanciando da realidade, buscamos o posicionamento das<br />

experiências num “continum”, onde as propostas de desenvolvimento variam desde uma abordagem tradicional até a abordagem mais<br />

atual de um desenvolvimento como processo de libertação, aprendizagem e capacitação. Com relação à caracterização dos processos<br />

de monitoramento e avaliação o posicionamento variou num “continum” dos processos convencionais até os processos de M & A<br />

participativos.<br />

Gostaríamos de salientar que o acesso às experiências unicamente através de relatos descritivos de caso, em alguns momentos,<br />

não nos permitiu uma análise crítica mais aprofundada dos processos implementados, pela falta de informações detalhadas a respeito<br />

da dinâmica e suas conseqüências no desenvolvimento prático das ações de implementação do projeto e seu monitoramento e<br />

avaliação.<br />

Entretanto, o estudo apresentado permitiu a visualização de processos bastante distintos entre si, e a constatação de que M<br />

& A participativos é um desafio atual, com diversas falhas na aplicação/interpretação das ferramentas e repleto de possibilidades no<br />

futuro. Conforme (Guijt 1999), concebe-se a participação, muitas vezes, como consulta em níveis bem elementares, que envolve uma<br />

entidade ou a equipe de uma ONG e membros da comunidade local. Freqüentemente, a palavra é usada no sentido normativo,<br />

considerando-se que qualquer ação “participativa” necessariamente há de ser positiva e promotora de capacitação. As propostas de<br />

desenvolvimento contidas em tais projetos também apresentam-se ricas em diversidade, variando de experiências baseadas em<br />

estratégias de FSDR, com proposições relativas aos sistemas de produção, fortalecimento das organizações e investimentos nos<br />

produtos agrícolas principais e tecnologias associadas, como no caso da Guatemala; propostas baseadas no “enfoque de agricultor a<br />

agricultor”, agricultura sustentável, investindo no conhecimento local, na flexibilidade do processo, na gestão democrática dos<br />

recursos e na valorização das diferenças, como no caso do México; e por fim uma proposta de construção de um processo de<br />

Desenvolvimento Regional, buscando se consolidar na parceria, no caráter solidário e na participação, como no caso do Brasil.<br />

A análise que fizemos situou as experiências do “Projeto Área Piloto” e da Serra de Cuchumatanes numa posição intermediária<br />

no “continum” em relação às propostas de desenvolvimento, sendo o da Serra de Cuchumatanes o que apresenta mais elementos<br />

identificados com as abordagens tradicionais.<br />

. O processo de M & A no projeto em Cuchumatanes, apesar de se intitular “participativo”, apresenta inúmeras imperfeições<br />

que desqualificam esta pretensão. As decisões de redirecionamento do processo centralizadas e descendentes, a utilização de indicadores<br />

padronizados sem a participação dos beneficiários, a prática de coleta extrativa de informações dos promotores, a análise e avaliação<br />

dos dados, realizada em instâncias superiores são algumas das imperfeições identificadas. Como destaque positivo podemos salientar<br />

a etapa de Avaliação Participativa Comunitária, através de reuniões comunitárias e com grupos focais. Apesar disso, fica a interrogação,<br />

sobre a composição do segmento dos representantes de organizações. Ela é representativa de todos os beneficiários ou só dos<br />

dirigentes das organizações?<br />

774


Por sua vez, o “Projeto Área Piloto” não apresenta um desenho de processo de M & A, baseando, fundamentalmente, suas<br />

avaliações nas informações e percepções das equipes extensionistas, o que impede a captação com a amplitude necessária dos<br />

impactos sócio-econômicos e ambientais do projeto. Essas informações das equipes extensionistas são importantes, e podem basear<br />

no futuro o desenho de um processo de M & A, com o envolvimento de todos os participantes e não participantes, mas não pode<br />

constituir-se na avaliação final.<br />

A experiência de Autoavaliação de Projetos “de campesino a campesino”, no México é a que no “continum” das abordagens<br />

de desenvolvimento situa-se mais próxima das recomendações atuais, onde diversas ações implementadas visam a capacitação, a<br />

aprendizagem e o fortalecimento organizacional de forma mais intensa. Também nos pareceu o projeto que apresenta os melhores<br />

elementos para a promoção da transição de práticas convencionais para agroecológicas de cultivo.<br />

O processo de M & A é sem dúvida o mais flexível, com diversos momentos de intensa participação, escolha de indicadores<br />

locais, análises e avaliações compartilhadas. Utiliza-se de inúmeras ferramentas metodológicas participativas, como a pesquisa<br />

etnográfica, DRP, grupos focais e o marco de desenvolvimento de base, o “cone”, com o intuito de buscar a participação dos<br />

envolvidos em diferentes níveis: individual/familiar, organizativo e da sociedade.<br />

Nesta experiência alguns limites foram observados, e relatados por Jutta Blauert, como por exemplo, a postura cautelosa<br />

dos camponeses durante o processo de avaliação, evitando questionamentos abertos e conflitos, e a pouca efetividade das atividades<br />

das matrizes de preferências no trabalho com as mulheres. A presença dos promotores e freiras colaboradoras foi identificado como<br />

fator inibidor da participação. Isto pode evidenciar, como salienta Guijt e Gaventa (1998), que um dos problemas para a manutenção<br />

destes processos de M & A participativos, está fato de supormos que todos os envolvidos no projeto estão dispostos a participar.<br />

Pode evidenciar também, uma relação de insegurança entre pessoas do projeto e beneficiários finais.<br />

Para finalizar, salientamos que um processo de monitoramento e avaliação participativo, como também as etapas de<br />

diagnóstico e planejamento, para que sejam legitimamente reconhecidas como tais não precisam, necessariamente, se desenvolver sem<br />

o envolvimento dos técnicos e agentes externos. No entanto, é fundamental que ocorram mudanças nas condutas e posturas, bem<br />

como nos métodos e nas técnicas. O papel do agente externo deve modificar-se de resolvedor de problemas e formulador de soluções,<br />

para facilitador e capacitador. De acordo com Guijt e Gaventa (1998), o monitoramento e avaliação realmente participativos além de<br />

um processo de investigação; é também um processo social, político e cultural. Para ser sustentável requer espírito democrático,<br />

abertura, um desejo de ouvir e respeitar diferentes pontos de vista; um reconhecimento do papel e do conhecimento de cada um dos<br />

envolvidos, e uma capacidade de reconhecer, ceder e negociar quando necessário.<br />

775


Bibliografia.<br />

ABBOT, J e GUIJT, I. Novas visões sobre mudança ambiental: abordagens participativas de monitoramento. Tradução de: John<br />

Cunha Comerford – 1ª ed. Rio de Janeiro: AS-PTA; London: IIED 1999.<br />

BATHIA, M. Operationalizing Empowerment in Bank operations: The Measurement Challenge. Disponível em: www.worldbank.org.<br />

Acesso em 10 jul.2002.<br />

BLAUERT, J. Autoevaluación Participativa de proyectos “De campesino a Campesino” em México – En Busca de Indicadores<br />

Locales. IDS at the University of Sussex, Gran Bretaña, 1998.<br />

CAPORAL, F.R. e COSTABEBER, J.A.Agroecologia: enfoque científico e estratégico para apoiar o desenvolvimento rural<br />

sustentável(texto provisório para discussão) – Porto Alegre: ASCAR/EMATER-RS, 2002. 54p. (Série Programa de Formação<br />

Técnico Social da EMATER/RS. Sustentabilidade e Cidadania, texto, 05).<br />

CHAMBERS, R. Managing Rural development; Ideas and Experience from East Africa. Uppsala: Escandinavian Institute of<br />

African Studies, 1974.<br />

EDWARDS, R. J. A. Monitoramento de sistemas agrícolas como forma de experimentação com agricultores; Tradução de: John<br />

Cunha Comerford – Rio de Janeiro: AS-PTA 1993.<br />

EMATER/RS. Fazendo o Desenvolvimento: o projeto Área Piloto, Caçapava do sul, Lavras do sul, Pinheiro Machado, Santana<br />

da Boa Vista.Porto Alegre, 1998. 32 p.(Textos Selecionados).<br />

GUIJT, I. e GAVENTA, J. El Seguimiento y Evaluación Participativos: ¿Cómo aprender del cambio? IDS Síntesis Informativa, nº<br />

12 Noviembre de 1998.<br />

GUIJT, I. Monitoramento Participativo: conceitos e ferramentas práticas para a agricultura sustentável; Tradução de: Annemarie<br />

Höhn – 1ª ed. – Rio de Janeiro: AS-PTA 1999.<br />

HULME, D. Impact Assessment Methodologies for microfinance: Theory, Experience and better practice. Disponivel em: http:/<br />

/www.worldbank.org. Acesso em: jul.2002.<br />

MUSSOI, E.M. “Estado, Descentralização, Políticas Públicas e novas Instâncias Participativas: O caso da agricultura em Santa<br />

Catarina”.In:Seminário Estadual sobre os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural (CMDR) e o Desenvolvimento Rural.<br />

Santa Cruz do Sul, 2000.<br />

OCAMPO, A. El sistema de seguimiento y evaluación del proyecto de desarrollo rural de la sierra de los Cuchumatanes (<br />

GUATEMALA).FIDA 296-GM; OPEP 580-P; octubre 1997.<br />

OCAMPO, A. Estudio Regional sobre seguimiento y evaluacion (S&E): la experiencia de los proyectos FIDA en America Latina.<br />

Oficina de Evaluación y Estudios.Fondo Internacional de Desarrollo Agrícola, Roma, Italia. Abril 2000<br />

PASTEUR, K. e BLAUERT, J. Participatory Monitoring and Evaluation in Latin America: overview of the literature with annoted<br />

bibliography. Bringhton: IDS, 2000.<br />

RIBEIRO, C.M. e <strong>VI</strong>LLELA, G. Projeto Área piloto na Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul: uma experiência de desenvolvimento<br />

participativo. 2000.<br />

RIBEIRO, C.M. e <strong>VI</strong>LLELA, Projeto Área Piloto na Serra do Rio Grande do Sul: uma experiência de desenvolvimento<br />

participativo.In: IV Encontro Nacional da SBSP. Agricultura Familiar: Políticas Públicas, Pesquisa e Desenvolvimento no Cenário<br />

Brasileiro. Belém-Pará/BR, 2001. Anais... Belém SBSP, 2001. 01 cd<br />

ROBINSON, M. Avaliação Participativa de Impacto: reflexões provenientes do trabalho de campo. Tradução de: Sieni M. Campos.<br />

Textos para Debate nº 54 – Rio de Janeiro: AS-PTA 1994.<br />

STAATZ, J. M. e EICHER, C. K. Las ideas sobre el desarrollo agricola dentro de su perspectiva historica . In: EICHER, C. K;<br />

STAATZ, J. M. (comp.) Desarrollo agricola en el Tercer Mundo. Mexico: FCE, 1991. p.11-43<br />

776


1 Mestrando em Extensão Rural. CPGExR/CCR/UFSM. Eng. Agr. ASCAR-EMATER/RS. E-mail: marcelo_nicola@via-rs.net<br />

; marcelonicola@terra.com.br .<br />

2 Professora Adjunta DEAER/CCR/UFSM. Eng. Florestal. E-mail: vivien@ccr.ufsm.br .<br />

3 Citado por Caporal e Costabeber (2002).<br />

4 Chonchol (1983), citado por Mussoi (2000).Redcliff (1993; 1995), Shiva (1991) e Carroll et. Al. (1990), citados por Caporal<br />

e Costabeber (2002).<br />

5 Staatz e Eicher (1991)<br />

6 A caracterizaçào das abordagens do desenvolvimento: tradicional e de capacitação segue Bhatia (2002).<br />

7 Para Chambers (1974) a primeira motivaçào ocorre na ocasião da implantaçào dos sistemas de administraçào e planejamento<br />

nos EUA.<br />

8 Os problemas metodológicos da avaliação de impactos são comentados por Chambers (1974) e discutidos num recente<br />

trabalho de Hulme (2002).<br />

9 Citado por Guijt, I. (1999).<br />

10 Pasteur e Blauert (2000) apresentam uma interessante distinção de modelos de monitoramento e avaliaçào identificando<br />

categorias intermediárias entre os extremos.<br />

11 A caracterizaçào da experiência de avaliação deste projeto basea-se em Ocampo (2000)<br />

12 O projeto Cuchumatanes se executa graças ao financiamento da FIDA, Fundo OPEP, PMA, Governo da Holanda e Governo<br />

da Guatemala. Abrange nove municípios do departamento de Huhuetenango. A unidade executora do projeto – UEP, tem sua<br />

sede no município de Chiantla.<br />

13 Estudo de Base, Sistema de Relatórios para a Gerência, através do SAM(Sistema Automatizado de Monitoramento) e<br />

Avaliação Participativa.<br />

14 O Estudo de Base se constitui num informe estatístico com 05 volumes, predominantemente quantitativo e de difícil leitura<br />

e interpretação.<br />

15 A coleta de dados para o monitoramento tem na base inferior a figura do promotor de campo, que é integrante da comunidade<br />

e presta assistência técnica. A coleta de informações é hierarquizada, passando pelas instâncias do promotor de campo, equipes<br />

extensionistas, os coordenadores e por fim a Unidade de Monitoramento e Avaliação, que elabora informes para instâncias mais<br />

acima e efetua todas as análises relativas aos obstáculos e avanços.<br />

16 Conforme Ribeiro e Villela (2000), as principais linhas de trabalho tiveram inúmeros avanços relatados a seguir, mostrando<br />

o processo de inclusão, de reconversão das atividades e de melhoria das condições de vida: eletrificação rural; fruticultura;<br />

florestamento; apicultura; ovinocultura; abastecimento de hortigranjeiros; saneamento básico.<br />

17 Cabe questionar a grande importância que depositam nos conselhos municipais e fóruns regionais para concepção e<br />

implementação das ações do Projeto. O relato de Ribeiro e Villela, não permite visualizar a composição e representatividade nos<br />

conselhos municipais, o que não permite “qualificar” o processo participativo nestas instâncias. O projeto apresenta-se com<br />

uma amplitude muito grande e com diversificadas fontes de recursos, o que dificulta a gestão, bem como o monitoramento e a<br />

avaliação. A confecção de programas de crédito tanto estaduais como federais, de forma parcialmente participativa ou não<br />

participativa, num sentido de cima para baixo, são limitações que podem estar impedindo (atendimento de demandas de<br />

programas, sem sintonia com a realidade local) avanços acelerados nos pilares básicos do Projeto.<br />

18 Foram definidos passos para o desenvolvimento de indicadores, em função do enfoque da auditoria fiscal que servia<br />

de marco de referência para o trabalho: -definir as áreas de indicadores; -selecionar os indicadores disponíveis para estas áreas;<br />

-definir grupos de pessoas envolvidas; -selecionar os grupos de pessoas envolvidas que seriam consultadas; -desenvolver<br />

indicadores com diferentes grupos de pessoas envolvidas; -provar estes indicadores em diferentes grupos para apreciar sua<br />

ressonância e efetividade; -ordenar por prioridade os indicadores propostos; -levar a cabo o trabalho de campo para coletar<br />

informações para os indicadores; -criar listas de indicadores para seu uso na avaliação, e indicadores com ressonância específica<br />

para os diferentes atores, selecionar três indicadores chave para cada grupo de pessoas envolvidas; -coletar informações;<br />

analisar e apresentar visualmente os resultados a diferentes grupos de envolvidos; -elaborar recomendações para o programa. A<br />

vantagem de usar métodos de DRP para a identificação de indicadores é que as técnicas se podem dirigir ao objetivo que se busca<br />

de maneira clara, enfocando-se nos critérios e desenvolvendo os indicadores em grupo, coisa que não é possível usando<br />

unicamente entrevistas semi-estruturadas.<br />

777


BASES PARA UNA POLÍTICA DE DESARROLLO ECONÓMICO REGIONAL *<br />

Introducción<br />

El problema del desarrollo regional en México se presenta hoy como uno de los principales retos para la política económica y social del<br />

país ya sea que se considere al nivel federal, estatal o municipal. El cambio estructural caracterizado por el proceso de liberalización<br />

comercial y económica iniciado hace 20 años ha reforzado las desigualdades regionales entre las entidades federativas y entre sus<br />

municipios, un desarrollo urbano desequilibrado, el aumento del deterioro ambiental y de la calidad de vida de la población tanto en el<br />

ámbito urbano como en el rural ** .<br />

La expresión de este problema se observa en el aumento de las demandas de carácter social, político y económico de diversos sujetos<br />

sociales afectados seriamente por las desigualdades regionales y destaca particularmente en zonas geogrà1ficas caracterizadas por sus<br />

condiciones de marginalidad y pobreza extrema. En un entorno de mayor debilidad institucional, derivado de la transición política y la<br />

reconstitución de la legitimidad del Estado, estas demandas se convierten en conflictos sociales de grandes dimensiones y de largo<br />

alcance. Por otro lado, estas condiciones han llevado al reconocimiento de la necesidad de realizar cambios significativos en los niveles<br />

y mecanismos de toma de decisiones para la formulación, ejecución y evaluación de planes, programas y proyectos públicos de<br />

desarrollo. Los requerimientos se sintetizan en la descentralización de los espacios de toma de decisiones, la movilización de los<br />

recursos locales, y en un federalismo fiscal que opere sobre una base más equitativa para impulsar el desarrollo económico y social de<br />

las localidades en un marco de sustentabilidad.<br />

El propósito principal de este trabajo es presentar los aspectos significativos del marco de referencia para la construcción de las bases<br />

generales de una política estratégica de desarrollo regional de las entidades federativas, los municipios y sus localidades tomando como<br />

referencia la situación actual y prospectiva de los municipios metropolitanos de la Ciudad de México.<br />

En la primera parte del análisis se destacan las principales características de la zona metropolitana de la Ciudad de México (ZMCM) y<br />

su prospectiva. En la segunda parte se presenta un análisis sumario de las condiciones de sustentabilidad y las implicaciones ambientales<br />

en su ámbito regional y megalopolitano. Se considera necesaria esta reflexión para analizar y discutir la posibilidad de una planeación<br />

del desarrollo regional y local en la perspectiva de un modelo de desarrollo sustentable. Finalmente, se presenta una propuesta de los<br />

principales elementos a considerar como marco de referencia para formular una política de desarrollo regional y local que atienda a<br />

criterios de eficiencia, equidad e integración jerárquica del espacio territorial con una gestión social de los recursos naturales y la<br />

protección del medio ambiente.<br />

1. Situación actual y prospectiva metropolitana<br />

En la zona metropolitana de la Ciudad de México (ZMCM), integrada por 16 delegaciones del Distrito Federal y 38 municipios<br />

conurbados del Estado de México, se ubica el centro industrial y de servicios más importante del país, es el corazón del sistema de<br />

transporte nacional, el núcleo más importante de población al nivel nacional con 16.8 millones de habitantes, 18 % del total, y la segunda<br />

metrópoli más poblada del mundo. Se estima que para el 2030 la ZMCM tendrá aproximadamente más de 20 millones de habitantes.<br />

La metrópoli contribuye con más del 20% del Producto Interno Bruto, consume 1/5 de la energía nacional y concentra el 47% de las<br />

unidades económicas y el 49% del personal ocupado total. De la población ocupada de la zona, más del 40% se encuentra en los<br />

municipios conurbados, el 39% en la industria y el 56% en los servicios, y el 76% de la mano de obra obtiene de 1 a 3 salarios mínimos<br />

(Rocha: 2001, 2002 a).<br />

El proceso de industrialización y el patrón de desarrollo urbano han determinado que el crecimiento de la ZMCM haya alcanzado sus<br />

límites naturales y económicos generando deseconomías acumulativas que amenazan la sustentabilidad económica y social en un<br />

horizonte de veinte a treinta años. Estas deseconomías se caracterizan tanto por el incremento de los costos de extracción y consumo de<br />

agua, en la recolección y tratamiento de desechos sólidos, en el equipamiento urbano y transporte, así como los crecientes gastos por<br />

degradación ambiental y agotamiento de recursos (Asuad y Rocha: 1996) (Rocha: 2002 a; 2002 b).<br />

Desde una perspectiva más general, en México, hasta hace poco más de una década, la incorporación de la dimensión ambiental a la<br />

discusión y perspectivas de la transformación de la estructura productiva (INEGI: 1995 y 1996 c; Leef: 1990; Quadri: 1993) ya sea en<br />

el ámbito nacional, regional o local, reconoce la necesidad de revertir los efectos negativos del deterioro y agotamiento de los recursos<br />

naturales y la contaminación del medio ambiente (cf. cuadros 1 y 1 A ) (Rocha: 2002 b). El aprovechamiento racional de los recursos<br />

naturales y del medio en general, determinará la posibilidad de alcanzar un desarrollo sustentable sobre la base de una transformación<br />

productiva con equidad (CEPAL: 1991), sólo si forma parte de una política de planeación u ordenación del territorio en función del<br />

medio ambiente y su conservación.<br />

778


El diseño de una política de desarrollo regional y local debe considerar como base la proyección espacial de las políticas económicas,<br />

sociales, culturales y ambientales de una sociedad, atendiendo criterios de eficiencia entre el medio físico y las actividades económicas,<br />

y el equilibrio en las condiciones de calidad de vida entre los distintos ámbitos territoriales como principio de equidad, así como una<br />

gestión racional de los recursos naturales y la protección del medio ambiente. Este esfuerzo social de planeación requiere un enfoque<br />

interdisciplinario en su diseño, ejecución y evaluación, así como la coordinación de las acciones de todos los agentes económicos,<br />

políticos y sociales implicados.<br />

De acuerdo con Gómez Orea (1980), la ordenación territorial, en realidad reordenación, es una proyección espacial de las políticas<br />

económicas, sociales, culturales y ambientales de una sociedad, que al mismo tiempo que atiende criterios de eficiencia entre el medio<br />

físico y las actividades económicas, busca el equilibrio en las condiciones de calidad de vida entre los distintos ámbitos territoriales como<br />

principio de equidad, así como una gestión racional de los recursos naturales y la protección del medio ambiente. Por lo tanto, este<br />

esfuerzo social de planeación requiere un enfoque interdisciplinario en su diseño, ejecución y evaluación, así como la coordinación de<br />

las acciones de todos los agentes económicos, políticos y sociales implicados (Neira: 1996) (Quadri: 1996).<br />

Desde esta perspectiva, las condiciones socio-económicas y ambientales actuales de la Zona Metropolitana de la Ciudad de México<br />

(ZMCM), son particularmente significativas por los graves problemas de sustentabilidad que enfrenta dado el nivel de concentración<br />

económica, de la población y de consumo de energía que la caracterizan y por el aumento exponencial de la degradación de su medio<br />

ambiente (Asuad y Rocha: 1996; INEGI: 1999, 2000 b, 2000 c; Rocha: 2001, 2002 a, 2002 b).<br />

La evidencia empírica y la prospectiva al año 2020 1 (cf. cuadros 2 y 3 ) muestra que las tendencias actuales del crecimiento de la ZMCM<br />

tienden a reforzar estas características haciendo urgente la necesidad de una planeación o reordenación del territorio en función de la<br />

conservación del medio ambiente que incida directamente en el mejoramiento de la calidad de vida de la población residente en esta zona.<br />

2. Condiciones de sustentabilidad<br />

Desde la segunda mitad del siglo pasado, la estructura económica de la ciudad de México se ha caracterizado por el predominio de la<br />

industria y los servicios, y su concentración específica en el Distrito Federal, así como en las últimas décadas, por un proceso de<br />

terciarización de su economía y un desplazamiento de la industria hacia su área periférica o conurbada. La combinación del proceso de<br />

industrialización con el desarrollo y la modernización de los servicios ha determinado que el desarrollo de la ZMCM haya alcanzado sus<br />

límites naturales y económicos generando deseconomías acumulativas que en caso de prevalecer las condiciones y tendencias actuales,<br />

amenazarán seriamente la sustentabilidad de su crecimiento económico en un horizonte de veinte años.<br />

Estas deseconomías se expresan en el incremento de los costos de extracción y del consumo de agua, en el mantenimiento de la red de<br />

drenaje, en la recolección y tratamiento de desechos sólidos, en el equipamiento urbano y transporte, los costos relacionados a la<br />

congestión del tráfico y las vialidades, así como en los crecientes gastos por degradación ambiental y agotamiento de recursos. Los<br />

principales aspectos de estas deseconomías son los siguientes.<br />

2.1 Agua<br />

El consumo del agua en la ZMCM, del cual 67% se destina para consumo doméstico, 17% para uso industrial y 16% para comercio y<br />

servicios, enfrenta un gradual y persistente crecimiento que ha ocasionado una sobreexplotación de los mantos acuíferos situados en el<br />

Valle de México del cual proviene el 71% de la oferta, y cuyo bombeo excede entre 50 y 80% a su recarga natural. La alteración del<br />

subsuelo ha provocado hundimientos, estimados entre 6 y 30 cm. anuales, que incrementan la vulnerabilidad de la ciudad ante<br />

movimientos sísmicos y afectan a la infraestructura hidráulica propiciando fugas en la red de distribución que representan 37% del<br />

abasto de agua.<br />

Por otra parte, cada vez se recurre a fuentes de suministro más lejanas dependiendo de las aportaciones del río Lerma (9%) y del sistema<br />

Cutzamala (18%), que requieren de fuertes inversiones y altos costos de operación del servicio, así como de un mayor consumo de<br />

energía para elevar el caudal a 1 200 metros de altitud. Como ejemplo, el INEGI (1999) estima que para el traslado de un metro cúbico<br />

por segundo de agua del Cutzamala a la ZMCM, se requiere de 310 millones de pesos. De hecho, la mayor parte del costo es financiado<br />

779


mediante subsidios ya que sólo el 33% del costo real es cubierto por la tarifa vigente. Lo anterior impone fuertes restricciones a los<br />

recursos fiscales metropolitanos y requiere urgentemente de fuentes alternativas de financiamiento en el corto y mediano plazo.<br />

2.2 Drenaje y generación de desechos sólidos.<br />

La cobertura del drenaje abarca sólo ¾ partes del Distrito Federal y alrededor de 60% de los municipios conurbados. El financiamiento<br />

es deficitario y requiere de crecientes y cuantiosos subsidios y transferencias. Una situación similar se observa en la generación de<br />

desechos sólidos y en la prestación de servicios de recolección y transporte. En la ZMCM el servicio cubre 80% de la demanda y los<br />

residuos se depositan en rellenos sanitarios o en tiraderos a cielo abierto provocando focos continuos de contaminación atmosférica y<br />

de los mantos freáticos.<br />

De acuerdo a estimaciones del INEGI (1997), en 1994 las actividades industriales de más de 70,000 establecimientos ubicados en la<br />

ZMCM generaron residuos peligrosos por la cantidad de 587 mil toneladas anuales, 55% en el Distrito Federal y 45% en los municipios<br />

conurbados. Para 1995, en la ZMCM se generaron 17.7 miles de toneladas diarias de desechos sólidos, 20% del total nacional.<br />

2.3 Transporte y contaminación ambiental.<br />

El patrón de uso del suelo y la infraestructura de la ciudad se ha caracterizado por una alta concentración de las actividades comerciales<br />

y de servicios en las delegaciones del centro del Distrito Federal así como de la industria en la zona norte, colindante con el Estado de<br />

México. La expansión física de la ciudad y la necesidad de cubrir cada vez mayores distancias de las zonas habitacionales a los centros<br />

de trabajo, ha demandado crecientes apoyos e infraestructura de transporte y comunicación; modifica los usos del suelo y genera una<br />

mayor contaminación atmosférica por emisiones de vehículos automotores y propicia la alteración climática de la zona.<br />

De las cien ciudades más pobladas del país, la ZMCM registra el nivel más alto de contaminación atmosférica con un 75% del total de<br />

la emisión de gases derivada del creciente consumo de combustibles. Estos costos de la contaminaci_f3n ambiental están íntimamente<br />

ligados al patrón de desarrollo económico y urbano de la Ciudad de México y su área metropolitana, fundado en una estructura<br />

productiva con predominio en el consumo de hidrocarburos.<br />

3. Aspectos básicos de una política estratégica de desarrollo regional sustentable.<br />

Como se ha señalado anteriormente, el crecimiento económico y social del país se ha concentrado en unas cuantas regiones y centros<br />

urbanos y se ha caracterizado por una difusión parcial y selectiva del crecimiento económico a la periferia. Esta situación no ha<br />

favorecido la eficiencia productiva y el desarrollo equilibrado debido a las deseconomías y crecientes costos económicos sociales y<br />

ambientales. Los costos de la concentración y la centralidad se expresan en una crisis urbana-ambiental en las zonas metropolitanas y<br />

la conformación de una megalópolis en la región centro del país y por una crisis rural expresada en la reducción de la oferta interna de<br />

alimentos y crecientes niveles de pobreza y marginalidad de la población rural.<br />

En este contexto, la planeación del desarrollo regional requiere la voluntad política para la inclusión de los agentes sociales y económicos<br />

locales en la formulación, ejecución y evaluación de los planes y programas de desarrollo. Para que la planeación normativa e indicativa<br />

tenga éxito debe convertirse en una planeación participativa que impulse compromisos sociales desde el presente y considere al medio<br />

ambiente y el sentido histórico de las comunidades para destacar los aspectos de cohesión social y la identidad cultural de las mismas.<br />

La participación social real es el elemento clave del desarrollo.<br />

780


3.1 Objetivos, acciones e instrumentos<br />

En el corto plazo se requiere una política cuyo objetivo sea mejorar la calidad de los recursos humanos y el sistema de información con<br />

una programación regional. El federalismo fiscal debe concebirse como instrumento de desarrollo con una visión de regionalización y<br />

definición de regiones-plan para garantizar la disponibilidad suficiente y la asignación eficiente de recursos. En el mediano y largo plazo,<br />

se requiere la reorganización institucional con un enfoque territorial de planeación en función del medio ambiente y sus capacidades de<br />

acogida.<br />

Estas políticas tendrían objetivos y líneas de acción como las siguientes.<br />

a)<br />

b) f1 Aumentar la productividad y competitividad de las regiones exportadoras con acciones como el fomento para su integración<br />

así como el impulso a las actividades económicas complementarias y conexas a nivel regional.<br />

c) Fortalecer la competitividad y el ajuste estructural de las regiones perdedoras o afectadas por la globalización y la apertura<br />

comercial y económica mediante acciones que generen innovaciones y cambios en la organización productiva y la calidad del<br />

capital humano.<br />

d) Impulsar el desarrollo rural de las regiones agropecuarias y de regiones de pobreza y alta marginalidad social a través de<br />

acciones de mejora técnica y organización productiva que aumenten la producción de bienes o servicios con mayor valor<br />

agregado, así como la productividad y la diversificación productiva. Las estrategias pueden ser las del desarrollo de áreas<br />

específicas, del desarrollo rural integral, dirigido a grupos de población o de integración rural a ciudades medias.<br />

e) Vincular el desarrollo económico con el desarrollo territorial equilibrado en un marco de desarrollo sustentable, orientando<br />

territorialmente a las inversiones o proyectos productivos de acuerdo a las condiciones medio ambientales.<br />

Para lograr los objetivos se deben considerar incentivos al capital privado y al capital social y la participación estatal en forma mixta<br />

como detonador y regulador del desarrollo con infraestructura o participación directa. Los instrumentos pueden ser incentivos fiscales<br />

a la inversión en proyectos prioritarios y a proyectos productivos con ventajas de localización; incentivos financieros con créditos<br />

preferenciales y subsidios por tasas de interés para proyectos de infraestructura municipal o inversiones intensivas en mano de obra;<br />

incentivos no financieros para crear el entorno institucional favorable en la forma de servicios de asesoría, información a través de<br />

Agencias de Desarrollo Regional y Municipal (ADRM).<br />

Estas agencias en colaboración con las universidades locales o regionales ofrecerían servicios de información para tecnologías de<br />

producto y proceso, gestión empresarial, fiscal, y financiera, mercados y comercialización, servicios de capacitación empresarial y de<br />

funcionarios públicos municipales y locales, estudios para dotar de información regional y local y de estrategias de desarrollo, así como<br />

servicios de intermediación entre empresas regionales.<br />

Un esbozo de requerimientos para cumplir con los objetivos sería lo siguiente.<br />

• Programas para el desarrollo económico regional y municipal (PDERM) con una política de reorientación regional del gasto<br />

con base en el funcionamiento micro regional para considerar las articulaciones económicas, espaciales, territoriales y<br />

ambientales.<br />

• Coordinación municipal conurbada para la gestión metropolitana con una definición de aspectos prioritarios para la coordinación<br />

o gestión metropolitana tales como el agua, el transporte, la infraestructura o la consideración de los costos- beneficios<br />

intermunicipales.<br />

• Definición de niveles y ámbitos de participación ciudadana<br />

• Imagen-objetivo de municipios y ciudades sustentables<br />

• Programa Permanente de Recursos Humanos para la capacitación y profesionalización de funcionarios públicos estatales y<br />

municipales con visión metropolitana y regional.<br />

• Establecimiento de un Consejo Técnico Asesor para el desarrollo regional y municipal que cuente con asesores o consultores<br />

en cada cabildo de los municipios de la región.<br />

• Fondo de financiamiento para equipamiento e infraestructura metropolitana<br />

• Delimitación de regiones-plan o regiones-programa<br />

• Diseño de un marco o criterios regionales para la toma de decisiones<br />

• Establecimiento de un Centro de Capacitación y Adiestramiento para el Desarrollo Regional en convenio con las instituciones<br />

educativas de la región<br />

781


3.2 Bases del reordenamiento territorial para el desarrollo regional sustentable<br />

De acuerdo con el análisis precedente, se propone elaborar una política de planeación regional y ordenación territorial en función del<br />

medio ambiente que considere al mismo como un bien o patrimonio común y de responsabilidad de protección por parte de todos los<br />

sectores sociales, racionalmente administrado para garantizar la producción sostenida de bienes y servicios conservando la biodiversidad<br />

y los procesos ecológicos que sustentan la existencia de todos los seres vivos, y mantener en el largo plazo el potencial de uso del suelo<br />

y los recursos que contiene.<br />

Diseñar, como parte de dicha política, programas y proyectos interdisciplinarios de ordenación del territorio con un enfoque integral,<br />

estratégico, de amplia participación social, coordinando las acciones de todos los agentes económicos, políticos y sociales implicados<br />

en la toma de decisiones. Estos programas y proyectos deben considerar los aspectos sectoriales, territoriales y ambientales, definiendo<br />

los instrumentos y medidas específicas de desarrollo económico estatal y municipal que coadyuven a orientar las acciones de los<br />

gobiernos locales en concordancia con el uso del suelo, el desarrollo urbano, el medio ambiente y la política social.<br />

De manera específica, tendrían como objetivo la definición de la distribución óptima de las capacidades de acogida del territorio, en<br />

términos de usos y actividades, para decidir entre diversas alternativas por medio de la valoración de la capacidad, aptitud agregada y<br />

global de los recursos, e impacto global ambiental.<br />

El punto de partida de la ordenación territorial sería el ecosistema, considerando sus usos actuales, valorado en tres dimensiones: la<br />

ecológica, referida a sus elementos bióticos y abióticos constituyentes, así como sus relaciones en términos de flujos de energía, materia<br />

e información; la productiva, expresada en bienes materiales y servicios ambientales; y, la dimensión de paisaje, tanto en su estado<br />

actual, su potencial estético, y de importancia cultural.<br />

Visto así, este proceso de planeación nos permitiría reordenar el territorio y decidir entre las diferentes opciones de desarrollo atendiendo<br />

a criterios de eficiencia, equidad, e integración jerárquica del espacio territorial con una gestión social de los recursos naturales y la<br />

protección del medio ambiente.<br />

Conclusiones<br />

Las tendencias actuales del crecimiento urbano del país y en particular de la ZMCM muestran el refuerzo de los procesos de concentración<br />

de la población y de la actividad económica los cuales agudizan los problemas de sustentabilidad derivados de las deseconomías<br />

mencionadas. Bajo esta perspectiva, la puesta en marcha de proyectos de desarrollo de cualquier dimensión por su impacto económico<br />

y ambiental deberán estar en el marco de criterios de reordenación territorial para lograr la distribución armónica de las actividades<br />

económicas y sociales en el espacio, regulando el uso del suelo y el aprovechamiento sostenido de los recursos disponibles, de acuerdo<br />

con la capacidad de los ecosistemas. De no hacerlo así, se contribuirá aún más a la concentración económica, al crecimiento de la mancha<br />

urbana, al aumento en el consumo de energía, de agua y, en general, al mayor deterioro ambiental de la zona.<br />

En estas condiciones, es urgente una planeación estratégica regional al nivel estatal y municipal para definir políticas, programas y<br />

proyectos ejecutivos y una promoción selectiva de inversiones. Con base en las condiciones socio-econð3micas y ambientales identificadas,<br />

las políticas de desarrollo de las localidades deberán ser acordes con las demandas y objetivos municipales de crear más y mejores<br />

oportunidades de empleo generando así las condiciones que permitan elevar el bienestar y la calidad de vida de sus habitantes. Estas<br />

políticas deberán estar orientadas a lograr el equilibrio entre el crecimiento económico y la conservación del medio ambiente, para incidir<br />

en la reducción de las desigualdades regionales de manera eficaz.<br />

Desde esta perspectiva, se considera que una de las claves del desarrollo regional y la participación de los agentes sociales y económicos<br />

locales debe fundarse en la construcción de un marco de referencia para la movilización de los recursos, la toma de decisiones, y en la<br />

formulación de criterios estratégicos para diseñar políticas viables de desarrollo regional y local, asumiendo como principio rector la<br />

reordenación territorial en función de las condiciones y capacidad del medio ambiente en la región y sus localidades.<br />

Así, debe considerarse que el medio ambiente como sistema cumple diferentes funciones que pueden ser aprovechadas de manera<br />

integral: de producción de energía natural, agua, minerales, biomasa, y de producción agraria; de acogida de actividades urbanas,<br />

industriales, infraestructura, de actividades recreativas y de paisaje; de información como educación, cultura social, e investigación, y;<br />

de regulación atmosférica, del suelo, de absorción y evaporación de agua. Sólo de esta manera será posible conciliar conservación<br />

ambiental y desarrollo socioeconómico cuyo significado real es el de invertir en el mejoramiento de la calidad de vida de la población.<br />

782


CUADRO 1<br />

Producto Interno Bruto (PIB)<br />

Producto Interno Neto (PIN)<br />

Costos Totales por<br />

Agotamiento (CA) y<br />

Degradación Ambiental (CDA)<br />

Producto Interno Neto<br />

Ecológico (PINE)<br />

Primario % Secundario % Terciario % Total %<br />

78,176<br />

64,663<br />

17,927<br />

46,735<br />

100<br />

83<br />

23<br />

60<br />

331,151<br />

279,646<br />

19,202<br />

260,444<br />

783<br />

100<br />

85<br />

6<br />

79<br />

710,626<br />

667,690<br />

114,213<br />

553,477<br />

100<br />

94<br />

16<br />

78<br />

1,119,953<br />

1,011,999<br />

151,342<br />

860,656<br />

Fuente: Elaboración propia con base en INEGI, Sistema de Cuentas Económicas y Ecológicas de México, 1985-1992. México,<br />

1996.<br />

CUADRO 1 A<br />

Producto Interno Bruto (PIB)<br />

Producto Interno Neto (PIN)<br />

Costos Totales por<br />

Agotamiento (CA) y<br />

Degradación Ambiental (CDA)<br />

Producto Interno Neto<br />

Ecológico (PINE)<br />

Primario % Secundario % Terciario % Total %<br />

91,552<br />

54,571<br />

12,809<br />

41,758<br />

100<br />

60<br />

14<br />

46<br />

388,487<br />

315,324<br />

18,505<br />

296,819<br />

100<br />

81<br />

5<br />

76<br />

934,056<br />

805,358<br />

122,593*<br />

707,800<br />

100<br />

86<br />

13<br />

76<br />

1,496,902<br />

1,299,056<br />

153,911<br />

1,145,145<br />

Fuente: Elaboración propia con base en INEGI, Sistema de Cuentas Económicas y Ecológicas de México, 1993-1998. México,<br />

2000.<br />

*Incluye actividades de producción de hogares.<br />

100<br />

90<br />

14<br />

77<br />

100<br />

87<br />

10<br />

76


Cuadro 2<br />

1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000* 2010* 2020*<br />

Población<br />

(miles) 1 645 2 953 5 093 8 623 13 761 15 048 18 210 20 533 22 253<br />

Superficie<br />

(has.) 22,960 41,010 68,260 105,660 121,320 145,000 162,690 174,830<br />

Número de<br />

Delegaciones 10 11 14 15 16 16 16 16 16<br />

Número de<br />

Municipios 0 1 4 11 18 27 38 44 46<br />

Delegaciones<br />

Municipios<br />

Conurbados<br />

Cuauhtém<br />

oc Iztapalapa Cuajimalpa Tláhuac Milpa Alta<br />

Miguel<br />

Hidalgo Tlalpan<br />

Benito<br />

Juárez Xochimilco<br />

Venustian<br />

o Carranza<br />

Azcapotza<br />

lco<br />

Coyoacán<br />

Gustavo<br />

A. Madero<br />

Iztacalco<br />

Alvaro<br />

Obregón<br />

Magdalen<br />

a<br />

Contreras<br />

Tlalnepant Chimalhuac Huixquilu Cuautitlán Zumpan Temascalap<br />

la an can Izcalli go Coyotepec a<br />

784<br />

Hueypoxtl<br />

a<br />

Fuente: 1940-1990, INEGI, Estadísticas del Medio Ambiente del Distrito Federal y Zona Metropolitana, 1999. Datos para 2000-2020,<br />

tomados de Covarrubias G., Francisco, Prospectivas de la urbanización en la Ciudad de México, en El Mercado de Valores, Abril 2000,<br />

pp. 3-19, Nacional Financiera, México.


Cuadro 3<br />

Zona Metropolitana 2000 2010 2020<br />

AM de la Ciudad de<br />

México 18,475 20,538 22,101<br />

ZM de Puebla 2,033 2,327 2,514<br />

ZM de Toluca 1,212 1,367 1,460<br />

ZM de Querétaro 805.7 995.7 1,160<br />

ZM de Cuernavaca 771.7 991.6 1,217<br />

ZM de Cuautla 395.4 495.0 585.4<br />

ZM de Tlaxcala 338.7 403.6 453.3<br />

ZM de Pachuca 282.5 349.8 414.2<br />

Tehuacán 216.7 256.3 285.5<br />

ZM de Tula 175.0 200.6 217.9<br />

San Juan del Río 174.4 199.1 216.7<br />

Tulancingo 120.0 133.8 140.5<br />

ZM de Apizaco 113.2 140.4 164.4<br />

TOTALES 25,113.4 28,397.9 30,930.0<br />

Fuente: Covarrubias G., Francisco, Prospectivas de la urbanización en la Ciudad de México, en El Mercado de Valores, Abril 2000, pp.<br />

3-19, Nacional Financiera, México.<br />

785


BIBLIOGRAFÍA<br />

Asuad Sanén, Normand E., (1995) El Reto de Armonizar el Crecimiento Económico con el Desarrollo Urbano de la Ciudad de<br />

México; Reunión del Foro para la elaboración del Plan Nacional de Desarrollo; abril 1995.<br />

_____________________, y<br />

Marco Antonio Rocha Sánchez, (1996)El desarrollo sustentable: equilibrio necesario entre economía y espacio en América Latina y<br />

en la Ciudad de México, en Economía Informa No. 253, diciembre 1996-enero 1997, p. 92-103, Facultad de Economía, UNAM,<br />

México.<br />

Asuad Sanén, Normand, (1997 a) Espacio y territorio, elementos determinantes de la economía de nuestro tiempo, en Economía<br />

Informa, pp. 16-28, Abril, Núm. 256, Facultad de Economía, UNAM, México.<br />

___________________, (1997 b) La dimensión espacial y territorial de la economía de la ciudad de México, en Economía<br />

Informa, pp. 25-34, Junio, Núm. 258, Facultad de Economía, UNAM, México.<br />

CEPAL, (1991) El Desarrollo Sustentable: Transformación Productiva, Equidad y Medio Ambiente, Santiago de Chile.<br />

Covarrubias G., Francisco, (2000) Prospectivas de la urbanización en la Ciudad de México, en revista El Mercado de Valores,<br />

abril, pp. 3-19, Nacional Financiera, México.<br />

Gómez Orea, Domingo, (1980) El medio físico y la planificación, Cuadernos del CIFCA, Madrid.<br />

INEGI, (1995) Estadísticas del Medio Ambiente, México 1994.<br />

_____, (1996 a) Anuario Estadístico del Estado de México, México.<br />

_____, (1996 b) Anuario Estadístico del Distrito Federal, México.<br />

_____, (1996 c) Sistema de Cuentas Económicas y Ecológicas de México: 1985-1992. México.<br />

_____, (1999) Estadísticas del Medio Ambiente del Distrito Federal y Zona Metropolitana 1999. México.<br />

_____, (2000 a) XII Censo General de Población y Vivienda. Resultados preliminares, México.<br />

_____, (2000 b) Estadísticas del Medio Ambiente, México 1999.<br />

_____, (2000 c) Sistema de Cuentas Económicas y Ecológicas de México: 1993-1998. México.<br />

Leef, Enrique, (Coord.) (1990) Medio Ambiente y Desarrollo en México, (2 Vol.), CIIH-UNAM, México.<br />

Méndez R., Alejandro, (1995) ¿Hacia una nueva visión del desarrollo urbano regional?, en revista Momento Económico,<br />

p.13-16, Instituto de Investigaciones Económicas, UNAM., México.<br />

Neira, Eduardo, (1996) Hacia un Nuevo Paradigma Urbano, en El Desarrollo Sustentable y las Metrópolis Latinoamericanas,<br />

Segundo Foro del Ajusco, pp. 17-74, El Colegio de México y Programa de las Naciones Unidas para el Medio Ambiente,<br />

México.<br />

Quadri de la Torre, Gabriel, (1993) Contaminación atmosférica y desigualdad en la ciudad de México, en Pobreza y Medio<br />

Ambiente, pp. 77-111, Coord. Enrique Provencio y Julia Carabias, El Nacional, Consejo Consultivo del Programa Nacional de<br />

Solidaridad, México.<br />

____________________, (1996) Políticas ambientales para una ciudad sustentable, en El Desarrollo Sustentable y las Metrópolis<br />

Latinoamericanas, Segundo Foro del Ajusco, pp. 139-144, El Colegio de México y Programa de las Naciones Unidas para el<br />

Medio Ambiente, México.<br />

Racionero, Luis, (1981) Sistemas de ciudades y ordenación del territorio, Alianza Editorial, Madrid.<br />

Rocha Sánchez, Marco Antonio, (2001)Planeación territorial y medio ambiente. La zona metropolitana de la Ciudad de México, en<br />

Memoria del Foro: Retos y Perspectivas Ecológicas para la Cuenca del Valle de México, pp. 36-50, Universidad Autónoma<br />

Chapingo, Dirección General de Investigación y Postgrado, 21 de junio, México.<br />

______________________, (2002 a) Reflexiones sobre la economía y el desarrollo urbano en la zona metropolitana de la Ciudad<br />

de México, inédito, documento presentado en el Panel sobre Economía Urbana y Desarrollo Regional, Universidad del Valle de<br />

México, Campus San Rafael, 02 de mayo, México.<br />

786


______________________, (2002 b) Los costos ambientales del desarrollo en México. Implicaciones para la zona metropolitana<br />

de la Ciudad de México, inédito, documento presentado en el 1° Foro de Recursos Naturales y Desarrollo Sustentable, Escuela<br />

Nacional de Estudios Profesionales Aragón, UNAM, 05 de julio, México.<br />

Secretaría del Medio Ambiente, (1999) Segundo Informe de Trabajo 1999, Gobierno del Distrito Federal, México.<br />

Torres Lima, Pablo A., (2000) Procesos metropolitanos y agricultura urbana, FAO-ONU/ Universidad Autónoma<br />

Metropolitana, Unidad Xochimilco, México.<br />

Marco Antonio Rocha Sánchez. Economista, profesor investigador de la Universidad Autónoma Chapingo y profesor de la Facultad<br />

de Economía-Universidad Nacional Autónoma de México. Actualmente realiza tesis de Doctorado en Economía Regional y Medio<br />

Ambiente, Facultad de Economía-UNAM.<br />

e-mail: marcorochamx@yahoo.com.mx<br />

** Datos oficiales de la Secretaría de Desarrollo Social, de acuerdo al informe del Comité Técnico para la Medición de la Pobreza,<br />

estiman que en el año 2000 el 65% de la población total del país se encontraba viviendo en condiciones de pobreza. Julio Boltvinik, La<br />

Jornada, p. 22, 16 de agosto de 2002.<br />

1 Análisis significativos de la prospectiva del Sistema urbano en México y en especial de la Ciudad de México, así como de los procesos<br />

de conformación de la metrópoli y su ulterior transformación megalopolitana se pueden consultar en El Mercado de Valores, Nos. 3 y<br />

4, marzo y abril del 2000 respectivamente, Nacional Financiera, México.<br />

787


NUEVA INSTITUCIONALIDAD PARA UN MODELO ALTERNATIVO DE<br />

DESARROLLO LOCAL: LAS FERIAS FRANCAS DE MISIONES *<br />

Introducción<br />

788<br />

Nardi, Ma. Andrea **<br />

Pereira, Sandra G. ***<br />

El modelo neoliberal impuesto en la Argentina desde los años ’70 y cuyos lineamientos se continuaron profundizando a lo<br />

largo de la década del ’90 significó, entre otras cuestiones, la desregulación de los mercados, las privatizaciones y la política monetaria<br />

de equiparación del peso argentino con el dólar estadounidense (plan de convertibilidad). Conjuntamente con estos cambios económicos,<br />

comenzaron los procesos de descentralización del Estado que condujeron a modificaciones y desestabilización del modelo institucional<br />

existente hasta ese momento. En este marco, se produjo el traslado de funciones, pero no de los recursos, desde la Nación a las<br />

provincias y desde éstas hacia los municipios. Lo cual generó, entre otras cosas, la apertura de espacios de participación tanto para<br />

los gobiernos provinciales y municipales, como para la población local y sus organizaciones.<br />

Podemos mencionar que el trabajo de las organizaciones de la sociedad civil - OSC’s 1 - en ámbitos locales de nuestro país,<br />

se viene desarrollando desde los años ’80. Según Benencia y Flood, “las organizaciones no gubernamentales crecieron en número,<br />

sobre todo a partir de 1984. Operan como ámbitos para la canalización de recursos, como espacios para el desarrollo de metodologías<br />

alternativas y flexibles de trabajo y para la formación de cuadros técnicos” (1998:57). Estas organizaciones tomaron a su cargo algunas<br />

de las funciones (particularmente en la gestión de políticas sociales) delegadas por el ‘Estado de Bienestar’ en franca desaparición.<br />

Ante las evidencias de la profunda crisis socioeconómica, desde el Estado nacional se comienzan a implementar programas<br />

destinados a los sectores más pobres y vulnerables de la población. Específicamente en el área de desarrollo rural - DR -, la S ecretaria<br />

de Agricultura, Ganadería, Pesca y Alimentación - SAGPyA - de la Nación pone en marcha varios programas focalizados en los<br />

pequeños y medianos productores agropecuarios 2 . Algunos de estos, utilizaron la capacidad institucional y organizativa acumulada<br />

por las OSC’s en los ámbitos rurales locales en donde venían desarrollando distintas experiencias. En este proceso se priorizó también<br />

la articulación entre las organizaciones existentes de pequeños productores, cooperativas, gremios, etc. y la promoción de la participación,<br />

la organización y la capacitación de la población beneficiaria.<br />

En nuestro trabajo, tomamos como caso de estudio la experiencia de las ferias francas en la provincia de Misiones - noreste<br />

argentino -. Se trata de ámbitos locales en donde se ha dado una movilización social importante que aprovechó los espacios que se<br />

crearon a partir de las políticas nacionales de intervención en el medio rural. Ello permitió la conformación de estos emprendimientos<br />

innovativos de comercialización de la pequeña producción agropecuaria.<br />

Nuestro objetivo general es reconocer a las principales organizaciones involucradas y los programas nacionales de DR, que<br />

en su accionar conjunto contribuyen a la conformación de las ferias, a partir de la movilización de recursos sociales y económicos. En<br />

este trabajo nuestro objetivo particular es realizar un análisis centrado en las relaciones de proximidad entre las organizaciones que<br />

consideramos como precursoras en el proceso de conformación y consolidación de la primer feria franca misionera. Para ello, partimos<br />

de un supuesto general que nos servirá de guía.<br />

Un análisis centrado en las organizaciones y la proximidad territorial<br />

Para el estudio de la movilización de recursos a nivel local tenemos en cuenta principalmente aquellos aspectos relacionados<br />

con el desarrollo local y el territorio.<br />

Hacemos referencia al desarrollo en términos de la redistribución de los ingresos y el mejoramiento permanente de la calidad<br />

de vida de la sociedad, lo que suele denominarse desarrollo humano o a escala humana. En el actual contexto de crisis institucional, se<br />

requiere visualizar al desarrollo como resultado de la interacción continua y permanente entre el accionar del Estado (organismos de<br />

gestión, de investigación, de salud, de educación), del sector empresario (grandes y pequeñas y medianas empresas, productores<br />

independientes) y de las organizaciones cooperativas y solidarias (ONG´s, iglesias, cooperativas, cooperadoras, gremios, sindicatos)<br />

(Manzanal, 2002).<br />

Entendemos lo local no como un ámbito exclusivo y meta última de la participación de OSC’s y de organizaciones de<br />

pequeños productores, sino como un punto de partida para trascender a ámbitos mayores, superando no sólo lo local sino lo sectorial<br />

agropecuario. Se trata de considerar al desarrollo local como una dimensión del desarrollo rural y al mismo tiempo, ambos como parte<br />

de procesos y variables que operan en el ámbito nacional, regional y mundial, que es necesario considerar.


El territorio se origina en las acciones y prácticas de los agentes y las instituciones que enmarcan esas prácticas. De esta<br />

forma, el análisis territorial implica observar la trama de relaciones entre la dimensión productiva-económica y la dimensión institucional.<br />

Aquí, los actores y las instituciones se convierten en agentes directos del proceso competitivo, no en una externalidad (Boscherini y<br />

Poma, 2000). El territorio no es neutral y asume un nuevo rol. En este sentido, consideramos al territorio según sus capacidades de<br />

aprovechamiento de recursos sociales y físicos, y teniendo en cuenta las principales relaciones de proximidad.<br />

Con la transformación del Estado y el reconocimiento de la existencia de ‘fallas de mercado’, el tema de las instituciones<br />

cobra un nuevo auge. En la actualidad, más que nunca, se hace hincapié en las instituciones como el ámbito en el cual los actores<br />

económicos y sociales tienen acceso a los recursos y pueden reforzar su potencial de ingresos y mejorar su condición de vida<br />

(Appendini y Nuijten, 2002).<br />

Siguiendo esta perspectiva, la renovación institucional requiere mecanismos de gestión transparentes y descentralizados.<br />

Esto implica el consenso social y la articulación y vinculación con otras organizaciones públicas y privadas, nacionales, locales e<br />

internacionales. Para lo cual la participación, organización y capacitación de la población local y en especial, de los pequeños<br />

productores agropecuarios a través de procesos continuos, tiene un rol central (Manzanal, 2002).<br />

Existe cierto acuerdo en que la participación es “un proceso por el cual las personas, especialmente los individuos en<br />

desventaja, influyen sobre las decisiones que los afectan” (Brett, 1999:4). Entendemos a la participación como un proceso paulatino<br />

de fortalecimiento en la toma de decisiones. Concordamos con este autor en que la participación implica educación y capacitación de<br />

las personas, asociadas y organizadas entre sí y con otros actores, para identificar problemas y necesidades, movilizar recursos, y<br />

asumir responsabilidades para planificar, administrar, controlar y evaluar las acciones individuales y colectivas sobre las cuales ellos<br />

deciden. Suponemos también que el punto clave de la participación es compartir el poder, lo cual permite recrear/modificar las<br />

relaciones de dependencia (Kliksberg, 2000).<br />

Por lo anterior, también creemos que es importante la capacitación y la organización permanente. Ya que para gestionar<br />

procesos de capacitación y para profundizar la participación, se necesita que la organización social sea representativa de los distintos<br />

tipos de intereses particulares. Para que efectivamente sea posible un proceso de autogestión del desarrollo local, la población tiene<br />

que avanzar en su capacitación, en diversas áreas y temáticas, en forma permanente.<br />

En nuestro estudio, consideramos a las instituciones como las normas o reglas que enmarcan los comportamientos individuales<br />

y colectivos. ”...los actores calculan sobre la base de sus intereses pero también están equipados con diversas visiones del mundo,<br />

según su posición social y los contextos societales; los intereses no están dados, (...), sino que se construyen políticamente. Cálculo<br />

y cultura se combinan en la constitución de actores colectivos que actúan en el marco de macro – instituciones heredaras y de<br />

relaciones de poder asimétricas”. En este sentido, “...la institución es normativa y creadora del orden social” (Bruno Théret, 2000:3).<br />

En definitiva, el concepto de institución no solamente incluye aspectos normativos, sino también aspectos reguladores y cognoscitivos.<br />

Según Espino, las instituciones son “el conjunto de reglas que articulan y organizan las interacciones económicas, sociales<br />

y políticas entre los individuos y los grupos sociales” (1999: 63). Las instituciones son eficientes si permiten generar condiciones para<br />

que los individuos realicen elecciones estables y propicien la coordinación de decisiones colectivas.<br />

Desde esta perspectiva las organizaciones son los “grupos de individuos unidos por un propósito común, para alcanzar sus<br />

objetivos” (North, 1995: 23), “las instancias o arenas en las cuales los individuos se relacionan y organizan en grupos para emprender<br />

acciones cooperativas y actuar como ‘actores colectivos’(...), por supuesto, de acuerdo con las reglas contenidas en las instituciones<br />

existentes” (Espino, 1999: 65).<br />

Por lo tanto, las organizaciones “son entidades construidas en torno a procesos definidos que aseguran el logro de objetivos<br />

determinados. La estructura organizacional se basa en la definición de roles y funciones distintas, y las reglas organizativas deben<br />

asegurar un desempeño confiable” (Appendini y Nuijten, 2002:76). Mientras que las instituciones están más definidas en términos<br />

de creencias, normas y reglas que permiten el desarrollo de funciones y estructuras, las organizaciones estarían más definidas en<br />

términos de esas estructuras que son reconocidas y aceptadas. En este trabajo hacemos referencia a las organizaciones que permitieron<br />

la participación colectiva y la puesta en marcha de un nuevo emprendimiento productivo en Misiones.<br />

El concepto de proximidad se refiere a las temáticas que tienen que ver con el alejamiento entre las personas, las organizaciones<br />

y sus actividades. El mismo tiene carácter básicamente racional, pues al mismo tiempo alude a la separación económica o geográfica<br />

entre los actores (individuales o colectivos) dotados de distintos recursos y a las relaciones que los acercan y/o alejan en los procesos<br />

orientados a solucionar un problema económico (Gilly y Torre; 2000).<br />

La proximidad está integrada por dos componentes principales: la proximidad geográfica y la proximidad organizacional.<br />

Siguiendo a los autores Gilly y Torre, la proximidad geográfica se refiere a la separación en el espacio, a vínculos en términos de<br />

distancia, a la noción de espacio geoeconómico o distancia funcional, a la circulación relacionada con la accesibilidad. No alude<br />

solamente a la distancia física, tiene su fundamento social, por lo menos con respecto a la infraestructura. La proximidad organizacional<br />

se refiere a la separación económica que existe entre los actores, los individuos, las distintas organizaciones, a vínculos en términos de<br />

la organización de la producción, a la circulación de flujos. La misma se basa en dos categorías lógicas que son la similitud y la<br />

pertenencia. “De acuerdo a la lógica de la pertenencia se consideran próximos en términos organizacionales los actores pertenecen al<br />

mismo espacio de relaciones, (...) los que se parecen, es decir, que tienen el mismo espacio de referencia y comparten los mismos<br />

conocimientos” (Gilly y Torre, 2000: 268).<br />

789


Otros dos componentes son la proximidad institucional - que se refiere a la separación institucional (expresa la adhesión de<br />

los agentes a un espacio de representatividad, de modelos y de reglas de pensamiento y de acción comunes) -; y la proximidad<br />

territorial - como intersección/superposición de las principales formas de proximidad -. La primera evidencia el rol desempeñado por<br />

las instituciones y permite definir al territorio como un proceso de coincidencia/articulación entre las proximidades geográficas,<br />

organizacionales e institucionales (Gilly y Torre, 2000).<br />

La noción de proximidad hace referencia a la existencia de interacciones, las cuales pueden ser intencionales (relaciones de<br />

cooperación, de confianza, de intercambio, etc.) y no intencionales (externalidades, economías de aglomeración). “La intencionalidad<br />

presente en la acción revela el potencial escondido en la relación entre la proximidad geográfica y la proximidad organizacional” (Gilly<br />

y Torre, 2000: 268-271).<br />

La importancia y la frecuencia de las interacciones dan cuenta del dinamismo y es por ello que a partir de la densidad más<br />

o menos acentuada y amplia que tienen las interacciones, se pueden definir los procesos de separación/unión y de acercamiento/<br />

alejamiento, entre actores, organizaciones y actividades. La definición de densidad de las interacciones tiene en cuenta no sólo el<br />

número de las mismas sino también la posibilidad de reproducción, la duración y el grado de transitividad. La densidad de las<br />

interacciones se modifican en el tiempo y constituye un indicador organizacional y de la proximidad geográfica (Gilly y Torre, 2000).<br />

Las relaciones de proximidad en la conformación de las ferias francas<br />

Consideramos que las ferias francas se constituyen en una forma alternativa de inserción del productor que le posibilita una<br />

salida económica, al privilegiar la producción de consumo familiar por sobre la producción tradicional. Los productores llevan<br />

semanalmente a la feria los excedentes de aquella producción. Esta inserción en el mercado local les ha permitido perfeccionar los<br />

aspectos productivos y de comercialización (en cuanto a la cantidad, calidad, aspecto de la producción, envasado, presentación,<br />

continuidad del abastecimiento, etc.), contribuyendo también a la alimentación familiar.<br />

Las ferias han logrado una mejora en el nivel de vida de quienes participan, han significado un aumento de los ingresos y la<br />

ocupación de la mano de obra familiar. Todo lo cual ha desembocado en un aporte muy positivo para la economía local. Los recursos<br />

económicos que obtienen con la venta de sus productos de huerta, granja y alimentos elaborados, vuelven en parte al ámbito local en<br />

la compra de todo lo que no pueden producir ellos mismos (PSA, 1999; Carballo González, 2000; Cametti, s/f).<br />

Entendemos que las ferias francas funcionan como organizaciones ya que persiguen un objetivo común de acuerdo a las<br />

instituciones existentes y las que ellas mismas van creando. La concreción de este proyecto de comercialización local es un resultado<br />

de la interacción y articulación continua de distintos tipos de organizaciones y de los propios productores. La cooperación de<br />

diversos actores se visualizó en la práctica como una mayor posibilidad de éxito.<br />

Partiendo de la experiencia positiva de la primer feria provincial en la localidad de Oberá (1995), se organizaron hasta el año<br />

2001 más de treinta ferias. En cada localidad las mismas contaron con el apoyo de las organizaciones allí existentes: por ejemplo, en<br />

la feria de San Vicente la capacitación y el asesoramiento estuvo a cargo del Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria (INTA),<br />

del PROHUERTA y del PSA; en feria de San Pedro colaboraron técnicos de la Pastoral Social, del INDES, del PSA y acompañaron<br />

las mujeres del grupo Unión y Progreso de Colonia Paraíso; en la feria de Alem la municipalidad ha jugado un papel fundamental desde<br />

el origen de la misma. Todas estas organizaciones llevan adelante una estrategia común de desarrollo rural.<br />

A nivel provincial reconocemos al Movimiento Agrario Misionero (MAM), al PSA, al INTA 3 , al Instituto Nacional de<br />

Desarrollo Social y Promoción Humana (INDES), a la Pastoral Social de la Diócesis de Posadas e Iguazú, a la Red de Agricultura<br />

Orgánica de Misiones (RAOM), a la Dirección de Pequeños Agricultores, Huertas y Ferias Francas (Ministerio del Agro y la<br />

Producción de la provincia de Misiones) como las organizaciones que han desempeñado un papel destacado en la conformación y<br />

difusión de las ferias. Sin embargo, consideramos que el MAM y el PSA fueron los precursores de este proyecto en la provincia con<br />

el acompañamiento del INTA.<br />

La Asociación de Ferias Francas de Misiones (AFFM), a partir de su fundación en 1998, nuclea a todas las ferias y<br />

promueve su difusión y consolidación en toda la provincia. A medida que las ferias fueron dando resultados positivos, la participación<br />

de los gobiernos municipales fue cada vez mayor.<br />

790


El Movimiento Agrario Misionero, con sede en la localidad de Oberá, tiene una fuerte presencia en los departamentos del<br />

centro de la provincia (Oberá, Cainguás y Leandro N. Alem). Es un movimiento gremial cuyo accionar con los pequeños productores<br />

se remonta a los años ’70 con las Ligas Agrarias. Su creación, en 1971, “promovido en gran medida en las sucesivas convocatorias del<br />

Movimiento Rural Cristiano, (...) surgió en un momento histórico caracterizado por la crisis del sector agrario, debido a los problemas<br />

de comercialización que sufrían los productores de los cultivos tradicionales (yerba mate, té, tung)” (Montiel, 1997: 35).<br />

El PSA es un programa de desarrollo rural implementado desde la SAGPyA, para ser ejecutado en las provincias. A nivel<br />

provincial la ejecución es responsabilidad de las Unidades Técnicas de Coordinación Provincial (UTCP’s).<br />

En Misiones, el programa comenzó en el mes de noviembre de 1993 en un contexto crítico para la situación del pequeño<br />

productor. En este marco, las principales líneas de trabajo que determinó la UTCP para la provincia fueron: a) aumentar y diversificar<br />

el autoconsumo, b) promover y construir una propuesta de desarrollo agroecológico, c) articular con organizaciones que trabajan con<br />

pequeños productores, d) favorecer las organizaciones de productores, promoviendo que la mujer rural tenga iguales oportunidades,<br />

e) promover el acceso al mercado local favoreciendo el desarrollo local y, f) apoyar con créditos, capacitación y asistencia técnica las<br />

actividades productivas que los colonos venían haciendo y g) abrir nuevas zonas de atención para la pequeña producción en el norte<br />

de la provincia.<br />

Para esto, el PSA desarrolla los siguientes componentes: asistencia financiera (bajo forma de créditos), asistencia<br />

técnica, capacitación y apoyo al mercadeo. El perfil de productor que atiende el programa se caracteriza por la escasa disponibilidad<br />

de tierra y capital, bajos ingresos, trabajo directo en la explotación en base a la mano de obra familiar, con amplios períodos de<br />

desocupación - subocupación.<br />

Actualmente la UTCP en Misiones está conformado por representantes del: a) INTA, b) Ministerio del Agro y la<br />

Producción de la provincia (MAPyA), ambos del sector público nacional y provincial respectivamente, del c) INDES, como<br />

Organización No Gubernamental, del d) MAM, en representación de las organizaciones de pequeños productores y por e) dos<br />

representantes de los productores beneficiarios del programa.<br />

En la práctica, otras organizaciones - que son representativas del sector y con una experiencia ya consolidada – y representantes<br />

de beneficiarios han sido incorporados en la UTCP. Si bien esta participación es informal, su trabajo con el programa se ha ido<br />

institucionalizado ya que tienen un rol activo en la organización y gestión del mismo. Estos actores son: a) la AFFM, b) el Grupo<br />

‘Unión y Progreso’ de mujeres de Colonia Paraíso (San Pedro), c) la RAOM, d) la Pastoral Social y e) dos representantes más de los<br />

productores beneficiarios. La UTCP denomina a este espacio de incorporación informal de nuevos actores “Unidad Técnica de<br />

Coordinación Provincial Ampliada”.<br />

791


El INTA a través de su programa de extensión para pequeños productores ‘Unidad de Minifundio’ tiene cinco grupos de<br />

trabajo en la provincia: en San Vicente, y en los departamentos de San Javier, Bernardo de Irigoyen y Leandro N. Alem. Además el<br />

INTA ejecuta el programa ‘Pro Huerta’ y el CAMBIO RURAL (desde 1993) el cual actualmente sin fondos para llevarse adelante.<br />

Su ámbito de acción es toda la provincia trabajando a nivel municipal principalmente con población periurbana y rural. La estructura<br />

del INTA en Misiones consta de un Centro Regional Provincial, dos Estaciones Experimentales Agropecuarias (Cerro Azul en el<br />

departamento de Leandro N. Alem y Montecarlo en el departamento homónimo) y varias Agencias de Extensión Rural en distintas<br />

localidades 4 .<br />

Un integrante del MAM forma parte del Centro Regional Provincial como consejero, en representación del la Federación<br />

Agraria Argentina.<br />

El INDES es una Organización no Gubernamental con muchos años de experiencia en la provincia (desde 1987). Tiene un<br />

equipo de trabajo reducido, sin embargo su accionar continuo desde hace mucho tiempo en el municipio de San Vicente (departamento<br />

de Guaraní), Bernardo de Irigoyen y recientemente en Santa Ana (departamento de Candelaria) y San Ignacio, hace que sea una<br />

organización representativa en el campo del desarrollo rural.<br />

La Pastoral Social de la Diócesis de Iguazú, tiene gran influencia en la zona norte de Misiones (en los departamentos de<br />

Eldorado, Montecarlo, San Pedro y Guaraní). Desde 1993, esta Diócesis cuenta con un proyecto de desarrollo en el medio rural. Por<br />

su parte, la de Posadas se desempeña principalmente en la zona sur de la provincia.<br />

La RAOM es una OSC creada en 1993 por técnicos de distintos ámbitos del desarrollo rural en la provincia. También<br />

forman parte de esta Red productores agropecuarios y organizaciones que comparten la filosofía de trabajo agroecológica. Algunos de<br />

sus técnicos participan del PSA, del INTA y del INDES, apoyan y capacitan a productores difundiendo esta propuesta productiva<br />

en el medio rural.<br />

El Ministerio del Agro y la Producción del gobierno de la provincia tiene injerencia en toda la provincia. En el 2000 creó la<br />

Dirección de Pequeños Agricultores, Huertas y Ferias Francas con el objetivo de darle más importancia a este emprendimiento y<br />

tomar mayor participación y tener una vinculación más directa y representación en el gobierno para discutir cuestiones que referentes<br />

a tema de las ferias y de la pequeña producción.<br />

La Asociación Ferias Francas de Misiones, fue creada en 1998, con el objetivo de comenzar a analizar la problemática al<br />

interior de las ferias para mejorar entre todos e ir consolidando la relación entre ellas.<br />

En este marco planteamos el siguiente supuesto 5 : que en el proceso de conformación y consolidación de las ferias francas<br />

misioneras han existido relaciones con distintas organizaciones que podemos considerar próximas entre sí, en fundición de la<br />

proximidad geográfica, organizacional e incluso institucional. Que esa proximidad ha sido de gran importancia y ha contribuido, y en<br />

cierta forma definido, el éxito de este emprendimiento comercial de la pequeña producción. En base a esto podríamos realizar el<br />

análisis que sigue a continuación. Nos centramos en las relaciones entre las tres organizaciones que reconocemos como predecesoras:<br />

MAM, PSA e INTA.<br />

Las interacciones entre el MAM y el PSA, en lo que respecta tanto a la proximidad geográfica como a la organizacional, han<br />

permitido encausar los esfuerzos conjuntos y los recursos - sociales y productivos - para que la feria franca de Oberá (la primera que<br />

se organizó en la provincia) tuviera éxito y fuera tomada como ejemplo para la organización de las demás ferias.<br />

Aunque la sede del PSA de Misiones se encuentra en Eldorado, éste programa está cercano y unido al MAM. En lo que<br />

respecta a la proximidad organizacional, ambos han tomado como propio este proyecto y con relación a éste, podemos decir que<br />

pertenecen al mismo espacio de relaciones y tienen el mismo ámbito de referencia. También entre estas dos organizaciones existe una<br />

proximidad institucional, basada en la adhesión de sus miembros a la representatividad, a las reglas comunes de pensamiento y de<br />

acción. En este sentido, un representante del MAM forma parte de la Unidad de Coordinación del PSA en la provincia.<br />

Entre ambas sedes organizacionales existe una proximidad geográfica, una infraestructura (carreteras, telecomunicaciones,<br />

medios de transporte, etc.) que permite la comunicación fluida y constante. Además, el modo de organización del PSA hace que<br />

miembros del MAM se desempeñen como técnicos en los grupos de beneficiarios del programa en los departamentos en los que ésta<br />

organización gremial tiene influencia. Esto permite que sea en el trabajo cotidiano en el campo en donde se crean los espacios de<br />

referencia compartidos, que luego se han ido fortaleciendo.<br />

Podríamos decir, que con relación a este proyecto de comercialización, el MAM y el PSA continúan desarrollando un<br />

sentido de pertenencia al mismo. Esto se evidencia en el importante papel que han tenido y aún tienen las instituciones existentes y<br />

las que ellos crearon a lo largo de todo el proceso de conformación de este ámbito de comercialización; en la participación y gestión<br />

que han ido construyendo y consolidando; así como en las expectativas que poseen con respecto al futuro de las ferias y la proyección<br />

de algunas de ellas en el mercado provincial e incluso nacional.<br />

Las interacciones entre el PSA y el MAM han sido y continúan siendo intencionales. Relaciones basadas en la cooperación<br />

y confianza mutua, que como afirman Gilly y Torre (2000), dan cuenta del “dinamismo” de este proyecto. Las relaciones han sido<br />

duraderas a lo largo del tiempo y se han reproducido e incluso fortalecido en varios aspectos.<br />

792


Destacamos los recursos sociales movilizados por ambas organizaciones porque son los que se han mantenido a lo largo del<br />

tiempo, e incluso se han incrementado, a pesar de la crisis económica generalizada. Se trata de técnicos, promotores, dirigentes que a<br />

pesar de los sucesivos ajustes económicos (PSA) y la disminución de los aportes de los adherentes (MAM), continúan desempeñando<br />

su tarea de asesoramiento, capacitación y apoyo solidario a sus beneficiarios.<br />

En relación a los recursos económicos, el PSA cuenta con financiamiento del gobierno nacional, que está sujeto a recortes<br />

sucesivos en los últimos tiempos. Mientras que el MAM dispone de recursos que aportan sus socios adherentes, y más recientemente<br />

algunos Organismos Internacionales (como la Unión Europea).<br />

Respecto a la relación entre el MAM y el INTA, podemos decir que ambas organizaciones han compartido espacios de<br />

relaciones y de referencia, fueron semejantes en los orígenes del proyecto de comercialización de la feria de Oberá. En este caso,<br />

mantuvieron interacciones intencionales que comenzaron siendo muy próximas y con el paso del tiempo dejaron de serlo y de<br />

reproducirse. Creemos que esto puede deberse, en parte, a que varios productores del MAM fueron beneficiarios de Cambio Rural<br />

y al irse retirando este programa, la relación entre el MAM y el INTA fue haciéndose cada vez menos próxima. En la actualidad, este<br />

Instituto no desempeña prácticamente ninguna actividad de apoyo a los integrantes de la feria de Oberá, la cual es presidida por el<br />

Secretario General del MAM.<br />

Como ya lo mencionáramos, existe una representación del MAM en la organización del INTA en el Centro Regional. A nivel<br />

local algunos técnicos de las AER acompañan a los feriantes e integrantes del MAM en otras zonas de la provincia, como por ejemplo,<br />

en San Vicente. En estos casos, suponemos que existe una mayor proximidad territorial (o por lo menos organizacional), pero sobre<br />

esto habría que trabajar con mayor profundidad.<br />

tiempo.<br />

Las interacciones entre el MAM y el INTA han sido intencionales, pero en el caso de Oberá, no se han mantenido en el<br />

Existe una proximidad geográfica entre las sedes de estas dos organizaciones, ya que el INTA tiene una AER en Oberá y una<br />

de sus EEA en Cerro Azul, localidad cercana. Cuenta con una muy buena infraestructura de comunicación en general.<br />

Al igual que el caso anterior, en ambas organizaciones los principales recursos movilizados son los sociales. Si bien en el caso<br />

de Oberá no hay un acompañamiento por parte de técnicos del INTA, en otras localidades técnicos, promotores, del PROHUERTA<br />

y de la Unidad de Minifundio desarrolla una importante tarea de asesoramiento, capacitación y promoción de los pequeños productores<br />

y beneficiarios.<br />

El INTA, en relación a los recursos económicos, cuenta fundamentalmente con financiamiento del gobierno nacional.<br />

Finalmente, consideramos que las interacciones entre el INTA y el PSA, se basan tanto en una importante proximidad<br />

territorial. Su trabajo conjunto para la creación de la primer feria franca de la provincia ha sido importante.<br />

Al tener el PSA la sede en la localidad del Eldorado, éste programa está muy próximo al INTA. No solo se trata de una<br />

proximidad geográfica (allí se encuentra una AER en un edificio contiguo a la UTCP), sino organizacional e institucional.<br />

Como lo mencionamos anteriormente, un representante del INTA, forma parte de la Unidad de Coordinación del PSA, con<br />

lo cual existe un espacio institucional de referencia. Pero en especial destacamos el hecho de que (al igual que con el MAM), algunos<br />

técnicos del INTA forman parte del programa apoyando y capacitando a sus beneficiarios. De este modo, en el trabajo de campo<br />

cotidiano se crean espacios de referencia compartidos.<br />

Las interacciones entre el PSA y el INTA han sido y continúan siendo intencionales. Relaciones basadas en la cooperación<br />

y confianza mutua que han sido duraderas a lo largo del tiempo y se han reproducido e incluso fortalecido en varios aspectos.<br />

Respecto a los recursos con los que cuentan estas organizaciones, consideramos que existe cierta complementación entre los<br />

recursos sociales y los económicos. Si bien el PSA ha ido recortando su presupuesto, otorga créditos a los grupos de productores,<br />

mientras que el INTA, ofrece una importante capacidad técnica en recursos humanos.<br />

Si bien, estas tres organizaciones comentadas brevemente, son aquellas que consideramos pioneras en la conformación del<br />

proyecto de ferias francas, no podemos dejar de lado, la relación que surgió entre ellas con el gobierno municipal. Esta interacción se<br />

reproduce en cada ámbito local en donde se gestiona una feria, con sus propias particularidades. A continuación hacemos mención<br />

especialmente, a la proximidad que se fue construyendo entre la feria de Oberá y las autoridades municipales.<br />

El rol que cumple el municipio es fundamental ya que otorga las habilitaciones correspondientes para el funcionamiento de<br />

la feria. En Oberá, el gobierno municipal cede parte del espacio público para su funcionamiento y realiza el control sanitario y<br />

bromatológico (a través de su Dirección de Bromatología y Zoonosis) tanto de las chacras como de los productos elaborados que son<br />

llevados a la feria.<br />

Con el transcurso del tiempo y la visualización de los resultados, las autoridades del municipio han reconocido a la feria<br />

como un proyecto a rescatar y parte del desarrollo de la comunidad local.<br />

793


La feria necesitó la autorización del gobierno local para su funcionamiento. Con el tiempo esta proximidad se ha ido<br />

transformando en organizacional. Las interacciones han sido duraderas, replicables e incluso se han ido fortaleciendo. Ese crecimiento<br />

de las interacciones se observa por ejemplo en la activa participación en la feria y en las chacras del asesoramiento técnico del<br />

municipio.<br />

Reflexiones Finales<br />

Basándonos en nuestro supuesto inicial, según el cual en la conformación y consolidación de las ferias francas misioneras las<br />

relaciones de proximidad entre las distintas organizaciones han sido de gran importancia, podemos concluir que las mismas han<br />

contribuido, a la difusión y en parte a la permanencia y vigencia de este proyecto comercial de la pequeña producción en diferentes<br />

localidades. Sin embargo, como se trata de un avance en nuestra investigación, estas conclusiones no son definitivas y están sujetas a<br />

su corroboración en sucesivos trabajos de campo.<br />

Particularmente en lo que respecta a la vinculación PSA - MAM - INTA, creemos que estas tres organizaciones han logrado<br />

conformar un marco organizacional e institucional basado en la convivencia, cooperación, solidaridad, participación democrática y<br />

capacitación que ha permitido la concreción y proyección a futuro de las ferias en la provincia.<br />

794


Bibliografía<br />

Appendini, K. y Nuijten, M. (2002) “El papel de las instituciones en contextos locales”, en Revista de la CEPAL N° 76, Santiago de<br />

Chile.<br />

Benencia, R. Y Flood, C. (1998) “Las ONGs y sus relaciones con el estado. Una aproximación al análisis del fenómeno en la<br />

Argentina”, en Revista Realidad Económica 159, IADE, Buenos Aires.<br />

Boscherini, F. y Poma, L. (2000), Territorio, conocimiento y competitividad de las empresas, Miño y Dávila Editores, Buenos Aires.<br />

Brett, E.A. (1999) Participation and Accountability in Development Managment, paper, Development Studies Institute, London<br />

School of Economics. Londres.<br />

Bruno Théret, I (2000) “Nueva economía institucional, economía de las convenciones y teoría de la regulación: ¿hacia una síntesis<br />

institucionalista?, en Noticias de la Regulación Nº 35, CEPREMAP – PIETTE- CONICET. París – Buenos Aires.<br />

Cametti, Roberto (s/f), Estudio del impacto de las ferias francas en la provincia de Misiones, UTCP Misiones PSA, Eldorado,<br />

Argentina.<br />

Carballo González, C. (2000) Las ferias francas de Misiones. Actores y desafíos de un proceso de desarrollo local, Documento de<br />

Trabajo Nº 9, Centro de Estudios y Promoción Agraria (CEPA), Buenos Aires.<br />

Espino, José Ayala (1999), Instituciones y Economía. Una introducción al neoinstitucionalismo económico, Fondo de Cultura<br />

Económica, México.<br />

Gilly J. y A.Torre (2000), “Proximidad y dinámicas territoriales”, en: Boscherini, F. y Poma L., Territorio, conocimiento y<br />

competitividad de las empresas, Miño y Dávila Editores, Buenos Aires.<br />

Kliksberg, B. (2000) “Seis tesis no concencionales sobre participación”, en: Kliksberg, B., Tomassini, L. (comp), Capital social y<br />

cultura: claves estratégicas para el desarrollo, BID - Fundación F. Herrera - Universidad de Mariland - FCE-, Buenos<br />

Aires.<br />

Manzanal, M. (2002) “Instituciones y gestión del desarrollo rural en Argentina”, en Economía, Sociedad y Territorio, El Colegio<br />

Mexiquense, A.C., México.<br />

Montiel, S. (1997) Los pequeños productores agrícolas de Misiones y sus formas de representación política - gremia. Informe Final,<br />

PISPAD, Universidad Nacional de Misiones.<br />

Nardi, Ma. A. y Pereira, S. (2002) “Dinámicas territoriales y desarrollo rural en la Argentina: el Programa Social Agropecuario y las<br />

Ferias Francas en la provincia de Misiones”, trabajo presentado en el IV Coloquio sobre Transformaciones Territoriales.<br />

AUGM, del 21 al 23 de agosto, Montevideo.<br />

North, D. (1995) “The new institutional economics and third world development”, en J. Harris and others, The new institutional<br />

economics and third world development, Routledge. Londres.<br />

Poma, L. (2000) “La pro-ducción de conocimiento. Nuevas dinámicas competitivas para el territorio”, en: Boscherini, F. y Poma L.,<br />

Territorio, conocimiento y competitividad de las empresas, Miño y Dávila Editores, Buenos Aires.<br />

PSA -Programa Social Agropecuario- (1998 a) El Programa Social Agropecuario: cinco años de política social con pequeños<br />

productores minifundistas. Secretaría de Agriculturaa, Ganadería, Pesca y Alimentación de la Nación, Buenos Aires.<br />

PSA -Programa Social Agropecuario- (1998 b) Boletín del Programa Social Agropecuario - Misiones. Nº 13. Secretaría de Agricultura,<br />

Ganadería, Pesca y Alimentación de la Nación. Eldorado, Misiones (Argentina).<br />

PSA -Programa Social Agropecuario- (1999) Boletín del Programa Social Agropecuario - Misiones. Nº 14. Secretaría de Agricultura,<br />

Ganadería, Pesca y Alimentación de la Nación. Eldorado, Misiones (Argentina).<br />

Yoguel G. y F. Boscherini (2001) “El desarrollo de las capacidades innovativas de las firmas y el rol del sistema territorial”, en<br />

Desarrollo Económico, vol. 41, Nº 161, IDES, Buenos Aires.<br />

** Tesista de la carrera de Geografía, Grupo de Economías Regionales y Desarrollo Rural, Instituto de Geografía (UBA).<br />

<br />

*** Licenciada en Geografía, Maestranda UBA, Grupo de Economías Regionales y Desarrollo Rural, Instituto de Geografía (UBA).<br />

<br />

1 Utilizamos indistintamente los términos OSC’s y ONG’s.<br />

2 El ProHuerta, el Programa de crédito y apoyo técnico para Pequeños Productores Agropecuarios del Noroeste Argentino (PNEA),<br />

la Unidad de Coordinación de Planes y Proyectos de Investigaciones para productores minifundistas, el CAMBIO RURAL, El<br />

Programa Social Agropecuario (PSA), el Programa de Desarrollo Rural para las provincias del NEA (PRODERNEA), el Proyecto de<br />

Desarrollo de pequeños productores agropecuarios (PROINDER) entre otros más focalizados tanto geográfica como sectorialmente<br />

(el Programa de Asistencia Subsidiada a Productores Ganaderos Minifundistas de la Patagonia, el Programa de Ordenamiento de<br />

Áreas tabacaleras, etc.)<br />

3 Principalmente, a través de sus programas PROHUERTA y los proyectos de Unidad Minifundio.<br />

4 Dependen de Cerro Azul: las AER de Apóstoles, Oberá, Aristóbulo del Valle, San Javier, San Vicente y San Pedro. Dependen de<br />

Montecarlo: Santo Pipó, Eldorado, Puerto Rico y Bernardo de Irigoyen.<br />

5 Supuesto que podremos verificar o no a partir de los próximos trabajos de campo.<br />

795


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O COMUNIDADE ATIVA COMO ESTRATÉGIA DE<br />

INDUÇÃO AO DESENVOL<strong>VI</strong>MENTO LOCAL INTEGRADO E SUSTENTÁVEL –<br />

DLIS, EM MUNICIPIOS MARANHENSES.<br />

1. Introdução:<br />

796<br />

Maria Regina Teixeira Lago 1<br />

No presente, o Estado do Maranhão apresenta graves indicadores sociais, apesar dos vários programas implantados nos<br />

últimos anos com vistas à melhoria desses indicadores. Daí, surge uma questão: Se temos implementado tantos programas de<br />

Desenvolvimento Social, por que o Estado ainda apresenta indicadores sociais abaixo da média nacional?<br />

A nossa avaliação é de que isso se deve à nossa forma de fazer desenvolvimento, baseada nos modelos de desenvolvimentos<br />

centralizadores de gestão pública, com políticas públicas verticalizadas, partindo do centro para a periferia, com normas homogêneas<br />

que ignoram as especificidades da realidade local. É fundamental considerar que a proposta de rompimento desse modelo que vem<br />

sendo amplamente discutida nas últimas quatro décadas e, que tem atraído generalizado interesse, inclusive orientando programas<br />

governamentais como é o caso do Programa de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável - DLIS, do Comunidade Ativa<br />

confronta-se com uma cultura política baseada em práticas autoritárias, paternalistas e clientelistas. Mesmo assim, até o momento, o<br />

programa não se constitui, verdadeiramente, numa ruptura no padrão vigente de desenvolvimento.<br />

Mas, antes de refletirmos sobre as estratégias de implementação do referido programa em municípios maranhenses, a partir<br />

de um olhar sobre as vantagens, os problemas e as limitações, é necessário atentarmos para a discussão sobre o tema desenvolvimento<br />

sustentável, que aparece nas últimas décadas do século XX como contraposição ao modelo vigente de desenvolvimento econômico,<br />

apontado como responsável pela deterioração do meio ambiente, concentração de riquezas, pobreza e exclusão social.<br />

2. Os conceitos de Desenvolvimento Sustentável e de Desenvolvimento Local integrado e Sustentável – DLIS<br />

A discussão sobre o tema do desenvolvimento sustentável, aparece nas últimas décadas em contraposição ao modelo vigente<br />

de desenvolvimento econômico, apontado como responsável pela deterioração do meio ambiente, concentração de riquezas, pobreza,<br />

desemprego e exclusão social, visto que sua lógica baseia-se apenas no crescimento econômico, cujos processos produtivos utilizam<br />

intensivamente os recursos naturais, exercendo uma considerável pressão sobre o meio ambiente.<br />

A noção de desenvolvimento, que aparece nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, pautada na idéia dominante da<br />

necessidade de se adotar um crescimento econômico moderno, industrial e capitalista, com vistas à melhoria da qualidade de vida e à<br />

erradicação da pobreza e, consequentemente, de maiores indicadores de bem-estar material da maioria da população mundial, tem<br />

como pano de fundo o discurso sobre o “estado da união” feito pelo Presidente Harry Truman, dos Estados Unidos, no dia 20 de<br />

janeiro de 1949, que, segundo Viola, (2000 p. 13-14), contribuiu para universalizar esta nova linguagem, uma vez que explicitava<br />

muitos de seus preconceitos e de seus propósitos.<br />

O trecho abaixo, reproduzido do discurso do presidente Truman dos EUA, por RIST (apud. Viola, 2000, p.14) nos dá uma<br />

demonstração clara da retórica do modelo desenvolvementista, baseada na idéia-força da necessidade de extensão desse padrão de<br />

desenvolvimento às sociedades consideradas atrasadas.<br />

“Más de la mitad de la poblaciós mundial está viviendo en condiciones próximas a<br />

la miséria. Su alimentación es inadecuada, son victimas de la desnutrición. Su vida<br />

econômica es primitiva y miserable. Por primera vez en la história, la humanidad<br />

possee el conocimiento y la técnica para aliviar el sufrimiento de esas<br />

populaciones.(...)Yo creo que debemos poner a la disposición de los pueblos pacíficos 2<br />

los beneficios de nuestra acumulación de conocimiento técnico com el propósito de<br />

ayudarles a satisfacer sus aspiraciones de una vida mejor (...). Lo que estoy<br />

contemplando es un programa de desarrollo basado en los conceptos de una<br />

negociación equitativa y democrática. Todos los países, incluindo el nuestro, obtendrán<br />

un gran provecho de un programa constructivo que permitirá utilizar mejor los<br />

recursos humanos y naturales del planeta (...). Una mayor producción es la clave<br />

para la prosperidad e la paz. Y la clave para una aplicación más extensa y más<br />

vigorosa del conocimiento técnico y de la ciencia moderna”.<br />

Aqui, o discurso do desenvolvimento está associado ao crescimento econômico, ao capital e à tecnologia, a partir da visão<br />

dicotômica, dominante no pensamento ocidental e, principalmente, norte-americano, de um mundo dividido entre desenvolvidos e<br />

subdesenvolvidos, entre o progresso e o atraso. Nesse discurso, fomos “inventados” como subdesenvolvidos, como diz Esteva<br />

(2000, p.69), “ Así pues, el subdessarrollo empezó el 20 de enero de 1949. Esse día, dos millones de personas se convierteron en<br />

subdesarrolados”.<br />

Foi nesse contexto, que através de um modelo difusionista se materializou um padrão civilizatório, revolucionando o modo<br />

de vida e os comportamentos sociais. Por este motivo, segundo esses autores, acima citados, nossa primeira tarefa seria de descolonização<br />

de nossas próprias mentes.<br />

Duas categorias ganham proeminência nesse discurso: produtividade e crescimento, consideradas positivas, progressistas<br />

e universais. Criam-se, a partir delas, necessidades artificiais, que classificam aqueles que estão fora destas categorias, ou seja, do setor<br />

produtivo e de consumo, como pobres e excluídos. A ideologia do desenvolvimento 3 as declara assim, porque não participam<br />

abundantemente da economia de mercado e não consomem mercadorias produzidas por ele.


Nas últimas três décadas, esse modelo de desenvolvimento tem sido amplamente questionado e uma nova proposta de<br />

desenvolvimento vem sendo elaborada, qual seja, o denominado desenvolvimento sustentável, conceituado como “um processo de<br />

mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança<br />

institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras”.<br />

No que diz respeito a esta nova visão de desenvolvimento em que se apontam como pontos de convergência do processo de<br />

desenvolvimento sustentável, as necessidades e aspirações das pessoas, em estreita relação com a conservação e preservação do<br />

estoque de recursos naturais, é importante atentar para o “discurso do desenvolvimento” e como esse discurso 4 foi sendo produzido<br />

e reproduzido historicamente.<br />

A partir do estabelecimento do conceito de desenvolvimento sustentável, vários outros conceitos e definições associados à<br />

noção de sustentabilidade, vêm sendo elaboradas e adaptados como o é o caso do conceito de Desenvolvimento Local Integrado e<br />

Sustentável, definido como sendo,<br />

“um processo de promoção do desenvolvimento por meio de parcerias entre Estado e<br />

Sociedade, no qual ocorrem ações multissetorias integradas, convergentes numa dada<br />

localidade, segundo uma metodologia que prevê, no mínimo: capacitação para a<br />

gestão; diagnóstico e planejamentos participativos; articulação da oferta pública de<br />

programas com a demanda social da localidade; monitoramento e avaliação; fomento<br />

ao empreendedorismo e criação de uma nova institucionalidade participativa”<br />

.<br />

Trata-se de uma proposta de construção de um modelo alternativo de desenvolvimento, com novas estratégias, em que se<br />

considere as capacidades e potencialidades locais. Alcançar a sustentabilidade parece ser a nova prioridade de qualquer ação, que tem<br />

preocupação com as condições sociais das pessoas e dos grupos aos quais pertencem, bem como de uma preocupação com o meio<br />

ambiente, diferentemente da tradicional lógica “produção, distribuição, consumo e acumulação de riquezas”.<br />

No entanto, é importante atentar para o fato de que o conceito de desenvolvimento sustentável, foi gerado, assim como o do<br />

desenvolvimento econômico, no centro dos países ditos desenvolvidos. Nesse sentido, a ideologia do desenvolvimento, tal como<br />

determinada historicamente, se constitui numa visão de mundo, baseada no modelo ocidental de sociedade como parâmetro universal<br />

para medir o relativo atraso ou progresso dos demais povos do planeta. Além disso, essa categoria e outras a ela correlatas, como meio<br />

ambiente e ecologia, têm se generalizado, o que pode mascarar a seriedade necessária ao manuseio e operacionalidade dessas noções.<br />

3. O Programa de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável – DLIS, no estado do Maranhão.<br />

O Programa de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável - DLIS, criado pelo Comunidade Ativa no ano de 1999, e já<br />

implantado em 25 municípios maranhenses, idealmente, poderia ser um instrumento de promoção do desenvolvimento local 5 , se<br />

considerarmos a capacidade potencial das comunidades para avaliar seus próprios problemas e necessidades.<br />

Entretanto, para que haja essa promoção do desenvolvimento local, ou seja, para que se concretize uma política de<br />

desenvolvimento local sustentável, é necessário promover processos de empoderamento da comunidade local. Quando utilizo o termo<br />

empoderamento, o faço no mesmo sentido dos termos capital humano e capital social em uso. Para Jara (2001, p. 102), “o<br />

investimento em capital humano, em “agentes de desenvolvimento” – mulheres e homens educados, motivados e com habilidades<br />

para conduzir processos de mudanças -, representa uma estratégia indispensável para alcançar”. Ainda segundo esse autor, p.<br />

106,o conceito de capital social, “refere-se à qualidade dos relacionamentos sociais e também aos impactos produzidos por esses<br />

relacionamentos na vida social e política de uma determinada sociedade”.<br />

O Programa Comunidade Ativa, acima mencionado, apresenta-se como uma nova estratégia para combater a pobreza e<br />

promover o desenvolvimento do país. Lançado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em julho de 1999, o programa aposta no<br />

Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável como uma saída para reduzir os problemas sociais e econômicos de localidades<br />

carentes.<br />

Nesse novo pensamento, os próprios municípios através dos quatorze passos abaixo descritos, identificariam suas vocações,<br />

necessidades e decidiriam quais as ações prioritárias para o seu desenvolvimento. Ressalte-se que a implementação do programa darse-ia<br />

através de um esforço coletivo envolvendo os governos federal, estadual e municipal, além de instituições privadas e entidades<br />

não governamentais. No Maranhão, o programa começou a ser implantado ainda no ano de 1999, em cinco municípios considerados<br />

pilotos, ampliando-se no ano de 2002 para mais vinte municípios.<br />

Os 14 passos do Comunidade Ativa:<br />

1º - Mobilização e convocação dos atores locais para a sensibilização;<br />

2º - Capacitação local e sensibilização;<br />

3° - Celebração do termo de parceria inicial;<br />

4º - Constituição e capacitação do Conselho ou Fórum Local de Desenvolvimento;<br />

5º - Constituição e capacitação da Equipe gestora local;<br />

6º - Elaboração do diagnóstico participativo local;<br />

7º - Elaboração do plano de Desenvolvimento Local;<br />

8º - Elaboração da Agenda local;<br />

9º - Articulação da oferta de programa e ações governamentais com a demanda pública expressa na agenda local;<br />

10º - Celebração do Pacto de Desenvolvimento Local;<br />

11º - Implantação da Agenda Local;<br />

12º - Capacitação para o trabalho de implementação da Agenda Local;<br />

13º - Avaliação de desempenho;<br />

14º - Premiação ou descrendeciamento do município.<br />

Sabe-se, no entanto, que iniciativas inovadoras como esta, no âmbito da Administração Pública, é algo desafiador. O estilo<br />

convencional de desenvolvimento, é determinado por práticas centralizadoras, isoladas e fragmentadas em setores desarticulados.<br />

797


Assim, induzir o desenvolvimento local, integrado e sustentável, requer transposição de obstáculos e a integração e convergência de<br />

recursos públicos em função de um fio condutor comum.<br />

Abaixo descrevemos as vantagens e os problemas do DLIS no Maranhão, e sugerimos algumas propostas para a promoção<br />

do referido programa.<br />

Das vantagens:<br />

Ø Resgate da auto-estima da população;<br />

Ø Proposta de mudança cultural e política, no que diz respeito à prática da gestão pública;<br />

Ø Políticas publicas articuladas entre os diversos governos e instituições da sociedade civil;<br />

Ø Permitir às próprias comunidades levantarem suas necessidades, vocações, potencialidades e ações prioritárias para a melhoria<br />

das condições sociais, ambientais e econômicas.<br />

Ø Elaboração de um Plano de Desenvolvimento Local feito de forma participativa.<br />

Ø Elaboração de uma agenda local, onde ações que podem ser executadas pela própria comunidade, independente de parcerias<br />

externas podem ser executadas;<br />

Ø Permitir que as instituições locais fiquem informadas e participem das tomadas de decisões do município.<br />

Dos problemas:<br />

Ø Falta de cumprimento de parte do Termo de Compromisso assinado entre os parceiros;<br />

Ø Falta de sensibilidade/conhecimento por parte da maioria dos prefeitos municipais;<br />

Ø Condições de operacionalização do programa por parte do órgão estadual interlocutor do programa (Gerência de Desenvolvimento<br />

Social – GDS) insuficientes. (Ex: transporte, equipe técnica reduzida e falta de capacitação contínua dos técnicos)<br />

Ø Tempo reduzido para implantação do programa. ( tempo proposto foi de apenas 03 meses);<br />

Ø Descrédito e falta de estímulo por parte da população local, visto que vários programas já foram iniciados mas que não tem<br />

continuidade e consequentemente sem alteração das condições de vida das populações locais.<br />

Ø A falta de percepção por parte das populações locais da sua capacidade de contribuir com o processo de desenvolvimento do seu<br />

entorno<br />

Ø Falta de articulação dos parceiros do programa: SEBRAE, GDS e Instituições Capacitadoras.<br />

Das propostas:<br />

Ø Trabalho de sensibilização dos prefeitos municipais e das gerências regionais;<br />

Ø Maior envolvimento do órgão estadual (Gerência de Desenvolvimento Social - GDS) responsável pelo programa e das prefeituras<br />

locais;<br />

Ø Capacitação sistemática dos técnicos envolvidos.<br />

Ø Implementação do programa em todos os municípios maranhenses, com baixos indicadores sociais.<br />

4. Considerações Finais:<br />

A redução da pobreza, a satisfação das necessidades básicas, e a melhoria da qualidade de vida da população maranhense,<br />

ou seja, a passagem de uma sociedade insustentável para uma sociedade sustentável, passa necessariamente pelo estabelecimento de<br />

uma nova forma de governo que garanta a participação da sociedade civil nas tomadas de decisão. No entanto, é preciso reconhecer que<br />

estamos diante de práticas e comportamentos marcados por valores da cultura assistencialista, parternalista e dependência de favores<br />

para o exercício da cidadania, mesmo entre aqueles setores mais organizados da sociedade civil.<br />

Para isto, as políticas devem ser redirecionadas, particularmente, no sentido de possibilitar às comunidades se organizarem<br />

para desenvolverem suas potencialidades e vocações, a partir de um novo paradigma baseado nos princípios e valores da sustentabilidade,<br />

considerando-se as dimensões sociais, ambientais, econômicas, políticas e culturais. Nesse sentido, considera-se que sem uma<br />

profunda mudança nas estruturas políticas, não irá acontecer mudanças significativas nessas dimensões.<br />

Os problemas descritos acima, demostram que o programa do Comunidade Ativa no Maranhão, apesar de alguns vantagens,<br />

não conseguiu avançar no processo apesar do esforço empreendido. Há evidências de que a implementação do programa, ainda esbarra<br />

nas condições políticas e institucionais, marcadas pelos velhos paradigmas, já referenciados. A título de exemplo, cita-se o fato de que<br />

apesar de toda discussão da base conceitual para a sua estruturação, que enfatiza a participação como fundamental no seu processo<br />

de implantação, o planejamento ainda é feito de cima para baixo, de forma homogênea, sem considerar as diferenças regionais e as<br />

especificidades locais. Ainda a título de exemplo, cita-se o calendário de execução do programa, definido num mesmo período para<br />

todas as regiões do Brasil, quando se sabe das diferentes condições de acesso, só para citar uma dessas diferenças. Além do mais, o<br />

baixo nível de organização social e a descapitalização social, também, são obstáculos no processo de Desenvolvimento Local Integrado<br />

e Sustentável, nos moldes pensados pelos mentores dessa metodologia.<br />

798


Bibliografia Básica:<br />

Documento de Referência: Uma estratégia de Indução ao Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável. Presidência da<br />

República. Casa Civil. Secretaria Executiva do Comunidade Solidária.<br />

ESCOBAR, Arturo. La Invención del Terceiro Mundo: construción y desconstrución del desarrollo. Grupo Editora Horma, 1998.<br />

FRANCO, Augusto. Dez consensos sobre Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável. Cadernos Comunidade Solidária<br />

Número 6 (junho 1998), Brasília, (1998).<br />

JARA, Carlos Julio. A Sustentabilidade do Desenvolvimento Local. Brasília: IICA: Recife: Secretaria da Planejamento<br />

do estado de Pernambuco. SEPLAN, 1998.<br />

_________________. Novos conceitos e estratégias de desenvolvimento rural. GEPLAN/NEPE - GDS - UEMA - INSTITUTO<br />

DO HOMEM - IICA, São Luis - Ma. Nov/1999.<br />

___________________. As dimensões Intangíveis do Desenvolvimento Sustentável. Brasília: IICA, 2001.<br />

SHIVA, Vandana. Abrazar la Vida: mujer, ecología y supervivencia. Horas y HORAS, San Cristóbal, Madrid, 1995.<br />

<strong>VI</strong>OLA, Andreu. Antropolgia Del Desarrollo: teorías y estudios etnográficos en América latina. Barcelona y Editorial Paidós,<br />

SCICF, 2000.<br />

1 Bacharel em Ciências Sociais, especialista em Planejamento do Desenvolvimento Local Sustentável, mestra em Agriculturas<br />

Familiares e Desenvolvimento Sustentável. E-mail: mrtlago@hotmail.com<br />

2 Segundo o autor ao usar essa expressão o Presidente referia-se aos países não comunistas.<br />

3 SHIVA, 1988:40, faz uma distinção entre pobreza como subsistência e miséria como privação. “la pobreza percebida culturalmente<br />

no necesariamente es auténtica pobreza material: las economias de subsistencia que satisfacen las necessidades básicas mediante el<br />

autoabastecimiento no son pobres en le sentido de estar privados de algo”<br />

4 Segundo ESCOBAR, (1998) pensar o desenvolvimento em termos do discurso permite concentrar-se na dominação e por sua vez,<br />

explorar mas produtivamente as condições das possibilidade e dos efeitos penetrantes do desenvolvimento<br />

5 Esse tema vem sendo amplamente discutido, seja no meio acadêmico, ou nos órgãos governamentais e não governamentais,<br />

motivando grupos sociais interessados nos benefícios das mudanças associadas a essa noção. Para um maior aprofundamento desse<br />

tema, sugere-se a leitura do <strong>livro</strong>: A Sustentabilidade do Desenvolvimento Local: desafios de um processo em construção de Carlos<br />

Julio Jara – Brasília: Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura- IICA, 1998.<br />

799


DEMOCRACIA PARTICIPATIVA Y DESARROLLO RURAL. LA PERSPECTIVA<br />

COMUNITARIA<br />

Presentación<br />

800<br />

Rufino Vivar Miranda 1<br />

Edilberto Niño Velásquez 2<br />

El presente documento tiene como precedente el trabajo realizado en una localidad rural en el marco del proyecto de investigación y<br />

servicio “El Desarrollo Social General en Nivel Comunitario. Caso de San Pablo Ixayoc” (Niño y Vivar 2001). Por su localización<br />

política, San Pablo Ixayoc pertenece al Municipio de Texcoco en el oriente del Estado de México, en las estribaciones de la Sierra<br />

Nevada a una altura promedio de 2400 msnm.. Cuenta con una población de 2000 habitantes. En términos generales, su principal<br />

fuente de ingreso se deriva de la venta de su fuerza de trabajo a instituciones y empresas que se encuentran en la ciudad de Texcoco<br />

que dista 12 kilómetros y en la ciudad de México D. F. a 40 kilómetros aproximadamente. De manera complementaria, la población<br />

se realizan actividades agrícolas, ganaderas y forestales, siendo estas una fuente de productos para uso y consumo doméstico; solo una<br />

minoría de la población percibe su principal ingreso monetario de estas actividades.<br />

La finalidad de este trabajo es mostrar la importancia que tienen los recursos humanos de las propias comunidades rurales en la<br />

planeación, ejecución y seguimiento de su propio desarrollo. Proponer una estrategia de acción que sincronice las utopías de las<br />

comunidades con los objetivos y metas institucionales, donde las primeras sea el eje rector del desarrollo y los segundos un medio más<br />

para lograrlo, contribuyendo así a lo que se ha tratado de llamar desarrollo sostenible.<br />

Lo anterior sugiere asignar importancia al problema del desarrollo local en el plano de la política más que en el plano productivo, donde<br />

el recurso fundamental serán las personas que viven en comunidad. La política a la que haremos referencia no será la que esta ligada<br />

a una ideología que tiende en última instancia a legitimar algún tipo de autoridad y que por tanto cancela cualquier tipo de utopía y<br />

tipos de desarrollo locales (Ricoeur 1994), no a aquella que minimiza o inhibe en la población local la capacidad de imaginar nuevas<br />

sociedades para implantar o mantener una sociedad supuestamente moderna, sino a aquella política que propicie la participación<br />

ciudadana en su sentido más amplio para cambiar el estado actual de cosas, y así tener la posibilidad de imaginar estados ideales de la<br />

comunidad como guía de las acciones actuales. Buscando no una democracia político-electoral ligada a una ideología de legitimación de<br />

gobiernos, sino una democracia sustentada en el trabajo individual y comunitario en pos de un desarrollo local, visto como el proceso<br />

a través del cual, la población participa en la construcción de las condiciones necesarias en su entorno natural-socio-cultural mediante<br />

la organización del trabajo individual, familiar y comunitario para lograr su propio desarrollo humano individual, el de su familia y del<br />

total de la comunidad (Niño 1993)<br />

Es bastante probable que sean las actividades agrícolas y forestales las que deban ser atendidas en mayor medida, pero esto debe<br />

formar parte del proceso de construcción de las condiciones para el desarrollo de las personas y no como un fin en si mismo, y menos<br />

desde la perspectiva de la agricultura convencional, reduccionista y productivista. Pues debemos tener presente que muchas de las<br />

familias el medio rural hacen agricultura solo para el auto abasto (económico, social, religioso, recreativo y educativo), y por tanto, no<br />

operan los criterios de la agricultura convencional sino más bien de los de la Agroecología en su perspectiva social (Guzmán C.,<br />

González de M. Y Sevilla G. 2000)<br />

El desarrollo de la agricultura no es el desarrollo de la comunidad y por tanto, no es el desarrollo rural, sino una actividad más en la<br />

construcción de un entorno apropiado para el desarrollo de las personas que lo habitan. Así, deben ser involucradas y atendidas el total<br />

de las actividades que inciden en tal construcción ya sean vista como problemas u oportunidades, pero siempre integradas en un<br />

proyecto general.<br />

Bajo esta temática y con la finalidad de sustentar estas ideas, las ponemos a su disposición para discusión considerando tres temas<br />

asociados: a) la forma en que éste se lleva a cabo el desarrollo rural a partir de planes y programas institucionales gubernamentales y


no gubernamentales, b) La forma en que incide y debería incidir el trabajo de las instituciones de enseñanza e investigación, considerando<br />

el desarrollo rural como parte del contexto general de la actividad científica en su fase de aplicación y c) Considerando el recurso<br />

humano como factor elemental en procesos de desarrollo rural, se busca perfilar un modelo de análisis y de acción para el desarrollo<br />

local, tomando como base la participación social.<br />

a) El problema del desarrollo rural a partir de las instituciones<br />

Las políticas y planes de desarrollo diseñadas e impulsadas por instituciones gubernamentales y hasta no gubernamentales en sus<br />

distintos niveles hacia el medio rural han sido ineficaces en la mayoría de los casos. Muchos de los avances que las comunidades locales<br />

han tenido son atribuibles más a su labor comunitaria que a la labor institucional. Las acciones gubernamentales no institucionales<br />

generalmente ligadas a acciones político-electorales o político-legitimadoras de los gobiernos en turno, por la forma en que se llevan<br />

a cabo, han desincentivado y hasta minado el trabajo colectivo que por mucho tiempo fue un elemento importante para el desarrollo<br />

de la comunidad. Niño (2001) ha demostrado con gran minuciosidad la forma en que se tergiversan los objetivos y metas institucionales<br />

y subyacen intereses no institucionales, especialmente político-electorales, de funcionario-políticos estableciendo sobre campesinoindígenas<br />

relaciones de autoritarismo-imposición y cometiendo actos de corrupción no necesariamente de tipo económica, sino<br />

también de uso indebido de los recursos destinados a los proyectos de desarrollo rural regional. No obstante y como parte de la<br />

excelencia de este trabajo, también se demuestra que por parte de los campesino-indígenas mostraron relaciones de sumisiónobediencia<br />

hacia los funcionario-políticos, pero también demostró que en ellos también existieron grandes intereses personales y<br />

lealtades entre ellos que se contrapusieron a los de los funcionarios generando un conflicto.<br />

Son muchas las evidencias que muestran la forma en que se tergiversan las instituciones, sin embargo, no puedo dejar de mencionar la<br />

experiencia de Luisa Paré Quellet (1996) en torno a la organización y gestión de los recursos naturales, cuando dice que los parques<br />

nacionales y hasta las reservas de la biosfera han fracasado en sus objetivos por ser altamente biologistas y conservacionistas, sin<br />

tomar en cuenta la decisión, expectativas y alternativas de la población local (Paré y Sánchez, 1996: 364) Además, Luisa Paré va más<br />

allá y critica severamente la el papel de la investigación científica, pero éste es tema de discusión del siguiente apartado. No obstante,<br />

también hace mención de cuatro factores que no permitieron funcionar plenamente un comité de ciudadanos de la comunidad que<br />

estudió: falta de institucionalidad y discontinuidad en los proyectos gubernamentales; problemas inherentes a la concepción del<br />

desarrollo; espacios limitados para la participación de la población local; y contradicciones entre las instituciones participantes que<br />

corresponden a intereses económicos y su dependencia de los vaivenes de las coyunturas políticas. Enfatiza sobre la forma en que el<br />

las acciones de funcionarios de las instituciones más que beneficiar a las comunidades las perjudica al decir que la duplicidad o traslape<br />

de funciones entre las instituciones federales y estatales de un mismo ramo es común en la administración pública... Además da pie<br />

a grupos de intereses o proyectos divergentes (Paré y Sánchez, 1996: 373)<br />

Son varias las instituciones gubernamentales y no gubernamentales que planean y ejecutan programas de “desarrollo” en las comunidades<br />

rurales, sin embargo, por su naturaleza institucional y estructural, no es posible que alguna de ellas propicie un desarrollo integrado<br />

de las comunidades. Peor aún, cuando en lugar de que sean los objetivos y metas institucionales las que guíen los trabajos en campo<br />

y sean intereses personales de funcionarios y técnicos ligados a cuestiones de política no institucional y hasta a cuestiones económicas,<br />

ese “desarrollo” se vuelve fragmentado y fragmentario.<br />

El desarrollo rural oficial-institucional, en la mayoría de los casos, se reduce al desarrollo de la agricultura y en el peor de los casos, al<br />

desarrollo de uno o dos cultivos básicos o comerciales. Es un esquema reduccionista del desarrollo.<br />

La mayoría de las instituciones gubernamentales que tienen una misión explicita relacionada al medio rural están orientadas hacia las<br />

actividades del sector agropecuario, bajo el supuesto de que a partir de este se generará el desarrollo rural. ¿Y las demás actividades que<br />

se realizan no serán también desarrollo rural? No hay duda de que tales otras actividades, cuales quiera que sean, también reciben el<br />

apoyo de alguna otra institución gubernamental y hasta no gubernamental, pero el problema que se observa es que no son consideradas<br />

como parte un proceso de desarrollo general de las comunidades. Ejemplo de estas múltiples actividades son la construcción de un<br />

nuevo templo asociado a la religión, de un depósito de agua potable, un centro de salud, la remodelación de calles vecinales, la mejora<br />

de la red de electricidad, hasta la organización de la celebración de la feria patronal donde se refuerza el trabajo colectivo, la<br />

construcción de un centro deportivo, la organización de guardia ciudadana para velar por el orden común. Ejemplos que además de<br />

enumerarlos, deben ser encontrados los vínculos que entre ellos existen y la forma en que inciden, en lo individual y en correlación, en<br />

el desarrollo.<br />

801


Todas estas actividades, además de ser importantes para el funcionamiento y desarrollo de la comunidad, no debemos olvidar que en<br />

ellas se emplea recursos disponibles importantes, principalmente el trabajo y tiempo en lo familiar y en lo individual, y recursos<br />

materiales (tierra, agua, herramientas), que se distribuyen entre muchas actividades de todo tipo: económicas, políticas, educativas,<br />

recreativas y religiosas. Sobre estas ideas y con la finalidad de contrastar la posición que piensa la comunidad local con la de los<br />

funcionarios y técnicos de las instituciones sobre los recursos materiales, creo conveniente mencionar, aunque de manera muy general,<br />

que dentro de los recursos materiales no todos son recursos productivos en el sentido de la economía clásica que tiene como valor<br />

epistemológico la maximización de la utilidad en el sentido del monismo axiológico de Echeverría (1998 y 2002), El recurso más común<br />

que entra en esta disyuntiva es la tierra.<br />

Esto nos obliga a pensar en y respetar el tiempo y el trabajo que las personas utilizan para la convivencia comunitaria, familiar y hasta<br />

individual. Pero lo más importante, es pensar que el desarrollo rural, al igual que el del medio urbano, también se debe considerar en<br />

nivel familiar e individual, porque finalmente, quienes colaborarán en proyectos de desarrollo serán personas con sus propios valores,<br />

objetivos, finalidades y metas que en algún momento comparten con otras personas y por eso se asocian y trabajan en grupo o en<br />

comunidad. Es importante considerar que todas las actividades son importantes y que dicha importancia, y por tanto peso específico<br />

en los programas de desarrollo, será determinado por la propia comunidad.<br />

En el contexto de las instituciones de educación superior y de investigación, también gubernamentales y no gubernamentales, es<br />

posible encontrar orientaciones de estudio, de investigación y de trabajo que proponen un desarrollo más integral de las localidades<br />

rurales. Sin embargo, cuando estas proposiciones llegan a las instituciones operativas para aplicarlas se desvirtúan.<br />

El papel de las instituciones de enseñanza e investigación no es operar y redimensionar los proyectos sino de proponerlos, pues al<br />

tratar de operarlos se afectaría su naturaleza universitaria que es principalmente de enseñanza, y que si practica la investigación y el<br />

servicio pero es para nutrir y actualizar dicha enseñanza. En general, las universidades debe trascender las realidades factuales y<br />

coyunturales, deben crear utopías, pues desde “ningún lugar” puede hacharse una mirada al exterior, a nuestra realidad, que súbitamente<br />

parece extraña, que ya no puede darse por descontada. Así, el campo de lo posible queda abierto más allá de lo actual, es pues un<br />

campo de otras maneras de vivir, esa utopía que tiene como función más importante el desarrollo de nuevas perspectivas posibles<br />

(Ricoeur 1994: 58), corresponde a los investigadores cultivarla y no interferir en los campos operativos de las instituciones operativas<br />

gubernamentales y no gubernamentales.<br />

Los procesos de desarrollo rural local necesitan de una estructura social que integre todas las acciones en ese sentido. Dado que las<br />

instituciones operativas gubernamentales y no gubernamentales, por su naturaleza estructural y de funcionamiento, que responden a<br />

intereses no compatibles con los de las comunidades rurales, dado que las instituciones de enseñanza e investigación tienen un mayor<br />

acercamiento a la realidad comunitaria pero su función no es la de operar proyectos, entonces, la alternativa está en la propia<br />

comunidad como estructura rectora de su propio desarrollo, la cual, además de coordinar a las instituciones participantes, debe<br />

estructurar su propio plan de desarrollo en el que se plasmen sus propios objetivos, finalidades y metas en todas las dimensiones de<br />

espacio y tiempo que crean necesarios y convenientes y que correspondan a su propio sistema de valores comunitarios.<br />

b) La actividad científica y el desarrollo rural local<br />

Más acá de Tomás Moro (1996) que imaginó un “no-lugar” cuyo objetivo básico fue presentar un modelo de referencia de lo que sería<br />

una buena y justa sociedad, donde su concepto de utopía, más que un concepto negativo, quiso indicar una tensión entre lo que<br />

realmente es y lo que debería de ser, cuyo mensaje básico ha sido y no puede dejar de ser: el cambio social depende de la voluntad de<br />

las personas y es posible si podemos invertir los valores que guían nuestra vida, si somos capaces de colocar el poder político<br />

(Gobierno) –El texto dice Estado-, y el poder económico (dinero) al servicio de los hombres y no al revés, como ocurría en los tiempos<br />

de Moro y sigue ocurriendo en nuestros días (Notas de García Marzá, V. D., en Moro 1996:10) y también más acá de J. J. Rousseau<br />

(2000), quien en sus tiempos cuestionó que “De todos los conocimientos humanos, el que me parece más útil y menos adelantado es<br />

el del hombre” al percibir que la ciencia contribuía más al aparecimiento de la técnica y al crecimiento industrial y que al mismo tiempo,<br />

el poder de la ciencia se justificaba con la técnica. Más que contraponer lo que es con lo que debería de ser como lo propuso Tomás<br />

Moro o de la contribuir a la finalidad que Rousseau pone a la asociación cuando dice que “encontrar una forma de asociación que<br />

defienda y proteja de cada asociado, y por la que cada cual, uniéndose a todos no obedezca, sin embargo, más que así mismo y<br />

permanezca tan libre como anteriormente, dando como solución el contrato social. (Rousseau 2000: 33), Más acá de lo que estos dos<br />

personajes idearon, al menos en el aspecto social de la ciencia, la mayoría de los hallazgos y reflexiones científicos y del conjunto de<br />

las instituciones que integran la sociedad actual y que usan esos hallazgos, pretenden mantener el estado de las cosas; pretenden<br />

mantener el orden. Más que proponer nuevos paradigmas científicos, se intenta justificar y legitimar sistemas de vida que bien pueden<br />

adjetivarse de modernos, liberales, neoliberales y hasta sostenibles o sustentables en el sentido político-convencional de los conceptos.<br />

802


Afortunadamente estamos ante lo que pudiera llamarse una revolución científica generalizada con otras cualidades a la de Kunh<br />

(1986), que se está dando no tanto por consentimiento de los científicos o por la aparición de un nuevo paradigma científico, sino más<br />

por las evidencias observables a simple vista de la degradación humana y natural en el mundo. Estamos en un río revuelto donde han<br />

surgido nuevas corrientes de pensamiento científico que van más allá de la ciencia normal hasta llegar a paradigmas de ciencia post<br />

normal como el de Funtowicz y Ravetz o al de la modernización reflexiva de Beck (1997) que la considera como la posibilidad de una<br />

autodestrucción creativa de toda una época de la sociedad industrial. Matizando que el sujeto de tal destrucción creativa no es la<br />

revolución, ni la crisis, sino la victoria de la modernización occidental (Beck, Giddens y Lash 1997: 14) Lo importante que sugerimos<br />

rescatar de esta nueva forma de ver la ciencia es que mientras unos buscan cambiar el estado actual de las cosas, otros solo buscan la<br />

forma de perpetuarlas. ¿Qué nos queda a quienes trabajamos para el medio rural? ¿Esperar a ver que paradigma científico nos inventan<br />

e imponen o generar nuestras propias herramientas teóricas y metodológicas apostando a nuestra capacidad de crear utopías?<br />

Una labor importante se está realizando en algunos campos de la ciencia para diseñar estructuras teóricas y metodológicas alternativas.<br />

Importantes aportaciones han realizado Joan Martínez Alier y José Manuel Naredo en la Economía Ecológica como una contrapropuesta<br />

a la economía clásica y sus variantes, Sevilla Guzmán y González de Molina (1999) y Miguel Altieri (1992) en el campo de la<br />

Agroecología como alternativa a la agricultura convencional. Sachs (1996) en su Diccionario del desarrollo hace una recopilación<br />

excelente de trabajos que son una crítica al modelo de desarrollo modernizador. Niño V. E. (1985, 1993 y 1995) genera su propia<br />

concepción de desarrollo y a partir de allí hace una propuesta teórica y metodológica para generar procesos de desarrollo social<br />

general.<br />

Para los que somos investigadores, muchos otros ejemplos más podrían citarse, pero lo importante es resaltar dos cosas: una como<br />

dijo Johan Wolfgang von Goethe, “si nos aventuramos en el conocimiento y en la ciencia lo hacemos tan solo para regresar mejor<br />

equipados para la vida” (Goethe 2002) y no para apabullarnos de libros. Lo importante es mostrar que el trabajo creativo en busca de<br />

una alternativa existe y cada vez en más abundante y fructífero, dando espacio la otra realidad actual con sus problemas y oportunidades<br />

y a la población mayoritaria que no detenta ni ejerce poderes económicos ni políticos pero que sí ocupa un lugar en la sociedad.<br />

Para los que intentamos ir más allá de la investigación, nos encontramos inmersos en un campo más amplio que concierne a la ciencia<br />

en su totalidad, y nos vemos en la necesidad de entender los procesos que en ella suceden. Lo novedoso y favorable en la actualidad<br />

para quienes trabajamos en el campo de la investigación social, es que la reflexión sobre la ciencia ya no es exclusiva de los lógicos ni<br />

de los filósofos, ahora se insiste en el carácter cultural y social de la ciencia y con ella la complejidad y pluralidad del saber científico.<br />

(Echeverría 1998) Los filósofos de la ciencia debaten constantemente sobre las teorías y las representaciones de la realidad, pero no<br />

dicen nada sobre la experimentación, sobre la tecnología o sobre el uso del conocimiento para alterar el mundo (Hacking 1983, citado<br />

en Echeverría 1998: 33)<br />

Hasta los años 70’s ha imperado una filosofía del conocimiento científico reduccionista y fisicalista inscrito en la tradición positivista<br />

y analítica que caracterizó al Círculo de Viena, sobre la que se ha consolidado la sociología de la ciencia, la etnociencia y en general los<br />

estudios sobre la ciencia tornándose en un reduccionismo sociologista a partir de los años 70’s.<br />

Durante este periodo de tiempo y bajo esas formas de ver la ciencia, los estudios sobre ella se habían reducido al contexto de la<br />

generación de nuevos conocimientos, en la llamada filosofía de la ciencia vista como epistemología. Bajo esta lógica, el hacer ciencia era<br />

incuestionable en términos valorativos defendiendo esta postura con el argumento de la neutralidad axiológica. Durante este tiempo,<br />

algunos de los investigadores sabíamos que trabajábamos bajo valores epistémicos como los de precisión y utilidad, cuyo objetivo es<br />

maximizarlos, en este sentido, la Estadística y la Matemática han jugado un papel importante, ligados a valores ontológicos como los<br />

de búsqueda de la verdad (Popper), incremento del grado de comprobación (Carnap), adecuación empírica (Van Fraseen), resolución<br />

de problemas (Laudan) o descubrimientos de hechos nuevos y trascendentes (Lakatos) Pero siempre reducidos al contexto de<br />

descubrimiento (Echeverría 2002) Pero desatendíamos que otros valores éticos, morales, religiosos, etc, que siempre han existido en<br />

y guiado la ciencia. Ante esto, muchos investigadores, terminábamos siendo servidores de un grupo selecto personas que sí los han<br />

conocido y usado.<br />

Para nuestro ámbito de trabajo y de estudio que es el medio rural, como consecuencia de esta manear de ver la ciencia, hemos asistido<br />

a la compartimentalización de la actividad científica, respecto al cambio tecnológico, que reproduce y refuerza la separación artificial<br />

entre ciencias sociales y ciencias naturales, impidiendo un enfoque holístico en el manejo. Y lo más preocupante, impide integrar otras<br />

formas de experimentación social, entre ellas la de los campesinos, quienes han desarrollado secularmente en su proceso de adaptación<br />

simbiótica coevolutiva con la naturaleza. Se ha disfrazado de un “pluralismo académico” que no ha hecho más que ocultar durante<br />

décadas este fenómeno, a través de la subordinación de los intereses científicos a los del mercado; muchas veces se han mercantilizado<br />

las universidades y los institutos de investigación (Guzmán C., González de M. Y Sevilla G. 2000: 41)<br />

803


Transformar la racionalidad científico-técnica que se basa en el principio de causalidad, no es solo desde las ciencias sociales, ya el<br />

propio Hume recibió recibirá un sinfín de críticas que introdujeron dudas razonables sobre su pertinencia. Pero ha sido el propio<br />

desarrollo ciantífico el que ha demostrado que todo acontecimiento interviene en proporciones y en tiempos distintos una pluralidad<br />

de causas. Los cálculos probabilísticos , la incompletud de los sistemas axiomático-deductivos de cálculos aritméticos a partir del<br />

teorema de K. Gödel (Nagel y Mewman, 1979) y el teorema de la indecibilidad de Lowenhein-Skolen, de la lógica y la teoría e<br />

conjuntos borrosos de Zadeh, han puesto de manifiesto el prisma metodológico. Desde los parámetros del cálculo, la necesidad y<br />

universalidad del principio de causalidad no son pertinentes (Idem: 89)<br />

Se preguntarán sobre el porqué de tanta información sobre cuestiones de filosofía de la ciencia. En principio, esta charla está destinada<br />

en su mayoría a quienes iniciamos el camino sobre la investigación (alevines de científicos) y que muchas veces nos encontraremos con<br />

estructuras cientistas inamovibles. Pero sobre todo, para sustentar que así como concluimos en el inciso anterior diciendo que el<br />

desarrollo rural local necesita de una nueva estructura social para que sea más integral o más general y que bien puede ser la misma<br />

comunidad. Así también se necesita de una nueva forma de hacer ciencia; de recrear la ciencia. Sobre todo, saber que la ciencia no está<br />

separada del mundo de valores y por lo tanto de la cultura, que se debe hacer ciencia para cada cultura y para cada espacio geográfico<br />

en particular. De tratar hacer efectivos los valores humanos renacentistas iniciales (libertades individuales, democracia, etc) que se<br />

proclamaron junto con el surgimiento de la ciencia y no los trastocados por el mercado, o bien, de rescatar o recrear nuestros propios<br />

valores locales, para usarlos en nuestras actividades cotidianas y de investigación y docencia, y en la ciencia para los científicos.<br />

Para los que tenemos la intención de contribuir a mejorar nuestro mundo, procurando más espacios de libertad para la creatividad, lo<br />

más correcto sería iniciar por nosotros mismos. Si buscamos un tipo de democracia apropiada a nuestra realidad, debemos iniciar por<br />

buscarnos espacios de libertad y ser democráticos así mismos. Es importante tener presente que nuestra labor no es con plantas o<br />

animales sino con personas, gente que vive en al campo y que por su estrecha y directa relación con la naturaleza, tiene un amplio<br />

sentido humano natural, más próximo a la reflexión de la vida que de las cosas, gente con una bondad que a diferencia de un empresario<br />

que si no le convence nuestro trabajo por no ayudar a incrementar las utilidades nos despide y cambia por otro más “eficiente”, la gente<br />

de campo amablemente y sabiendo que no recibirá nada de nuestra parte, aporta información valiosa que bien podemos aprovechar<br />

para una ponencia como esta y viajar por el mundo, por un mundo que es de todos y es de nadie.<br />

Es completamente respetable la labor científica y de investigación que cada quien realiza en su área de trabajo y especialización, lo que<br />

aquí se trata es de trasmitir la idea que cualquier cambio, por pequeño que sea, en los criterios de valoración (y en los procesos y en<br />

las formas de evaluación) de la actividad científica que Echeverría (2002) traen consigo importantes modificaciones en la actividad<br />

científica que consta de cuatro contextos: el de educación (enseñanza difundida y comunicada), el de innovación (mejor conocido como<br />

contexto de descubrimiento y tratado por la epistemología), el de aplicación (relacionado con la tecnología) y el de evaluación<br />

(realizada tanto por científicos como por la sociedad civil) y consecuentemente en sus resultados. Un cambio en los criterios de<br />

valoración puede ser el hecho de cambiar los que actualmente imperan que son los de maximización de utilidad y precisión, por otros<br />

como los de satisfacción de necesidades humanas como las de libertad y creatividad.<br />

En nivel internacional han surgido nuevos esquemas de actividad científica, siendo parte de esta la generación de tecnologías alternativas<br />

en el sentido que aquí proponemos a la ciencia y tecnología convencionales. Sin embargo, por muy buenas intenciones que tengan, lo<br />

que podremos compartir con ellos serán ciertos valores epistémicos y algunos aspectos metodológicos que resulten de un pluralismo<br />

metodológico y axiológico en la ciencia, pero la teoría como la representación de un determinado orden de fenómenos, debe ser un<br />

trabajo constructivo y de adaptación continuada de la información teórica disponible para lograr ciertos fines específicos.<br />

En resumen, es necesario crear nuestras propias herramientas teóricas y metodológicas que correspondan a nuestro propio sistema de<br />

valores y criterios de evaluación y que estén lo menos alejados del sistema de valores y criterios de evaluación de la población del<br />

medio rural, así, establecer una mejor comunicación y colaboración con su desarrollo. Para los que provenimos de una población rural,<br />

esta labor no parece tanto difícil, pues compartimos una vida del medio rural y una labor académica y de investigación. Tarea amplia<br />

para quienes tienen una realidad virtual de ese medio.<br />

c) Desarrollo rural local participativo<br />

Participar en el proceso de desarrollo rural implica que los agentes participantes se comporten como iguales, pues una verdadera<br />

participación se da entre ordenados, no se admiten súper-ordenados ni sub-ordenados. No se admite que las instituciones oficiales, de<br />

804


maneras explícita o implícita, propicien la pasividad mental y psíquica de la población local, en el momento de imponer planes y<br />

proyectos de desarrollo, pero tampoco de debe permitir a la población que se siga concibiendo, en consecuencia de lo anterior, como<br />

fuerza de trabajo u objeto manipulable por los gobiernos, por las instituciones y por el personal oficial en relación con los programas<br />

de acción gubernamentales y no gubernamentales, debemos propiciar la participación (Niño 2001) En esta labor, creo que todos<br />

tenemos mucho que hacer, tanto en lo individual como en lo institucional.<br />

En el marco del proyecto de investigación (Niño V. Y Vivar M. 2001) hemos reflexionado sobre la forma en que se lleva a cabo la<br />

planeación, ejecución y evaluación de las actividades comunitarias y familiares que conciernen al desarrollo local. Como parte del<br />

planteamiento teórico y metodológico del proyecto (Niño 1985 y 1993) y como una forma de respeto a la propia comunidad, el<br />

primer contacto con ella debe ser a través de sus Autoridades Municipales o Ejidales que corresponde a la comunidad en general o a<br />

la de ejidatarios en particular respectivamente,. Esto es recomendable por muchas razones, la más importante es que en esas instancias<br />

es donde se inscriben y se da seguimiento a las demandas más apremiantes de sus respectivas comunidades.<br />

Trabajar con las autoridades es importante porque los proyectos de investigación que surjan de allí estarán inscritos en una agenda<br />

comunitaria y por lo tanto, serán objeto de asignación de recursos, principalmente trabajo comunitario que está estrechamente<br />

relacionado al tiempo disponible de cada integrante. Trabajar en este sentido, implica atender un problema visto por todos y cada uno<br />

ellos y por tanto, tiene la posibilidad de atenderse y. Además, desde un inició se sabrá hasta donde quieren llegar como personas<br />

individuales y como comunidad. De esta manera se propicia la participación desde la generación de iniciativas hasta la evaluación de<br />

resultados, resultados que ellos mismos esperan.<br />

Como colaboradores en su desarrollo, desde un inició se delimitan objetivos, metas y finalidades de cada participante y se establecen<br />

ciertas normas básicas de funcionamiento. En colaboración en la solución de un determinado problema o en aprovechar alguna<br />

oportunidad, la comunidad sabrá que nosotros vamos a investigar y nosotros sabremos que ellos solucionarán su problema o<br />

aprovecharán una oportunidad. Lo más común y factible es cada participante aporta Información de interés al otro para sus<br />

respectivos fines, siendo esta el recurso más importante que se intercambia y que cada quién usa. También se establecen reglas sobre<br />

el uso de la información que se va generando una vez iniciado el trabajo en colaboración, la principal es que todos tienen el derecho a<br />

usarla en lo convenido pero no a llevársela fuera de la localidad y mucho menos usarla para fines que los perjudique.<br />

Cuando llegamos con las autoridades de comunidades rurales no debemos dudar de que son personas con una amplia trayectoria en<br />

trabajo comunitario y por eso ocupan esas posiciones. Por eso la información que manejan es importante y debe ser tratada con mucho<br />

respeto y la que nosotros aportemos debe ser con el mayor cuidado posible tanto en cantidad y calidad como en forma y tiempos. La<br />

manera en que se eligen tales autoridades tiene relación con su participación en las labores comunitarias y con la impresión que la<br />

población tiene de su desempeño en lo familiar y en lo individual. Por tratarse de poblaciones pequeñas donde casi el total se conocen<br />

unos a otros, la elección de autoridades a través del voto secreto es inusual y hasta contraproducente. En términos generales, la<br />

autoridad es ocupada por una persona que la población respeta y que seguramente ha ocupado otras posiciones de representación<br />

ciudadana de menor nivel, es un conocedor de la problemática comunitaria. Así, si como colaboradores de desarrollo no iniciamos con<br />

ellos, no solo es un error estratégico sino también una falta de respeto a la estructura comunitaria.<br />

Es común que investigadores externos que intentan hacer trabajo con la comunidad sin pasar antes por las autoridades y por tanto por<br />

la agenda comunitaria, después de varios intentos, concluyen que lo único que encontraron fue apatía y falta de conciencia por parte<br />

de la población en la solución de problemas, ambientales por ejemplo (INSTRUCT 1999). cuando en realidad, es una estrategia que<br />

los pobladores han implementado después de muchos años de saqueo de información y de muchas otras cosas más Es probable que<br />

lo que falta es una estrategia de acción para impulsar proyectos. Como respuesta, contamos con nuestra propia estrategia de acción<br />

(Niño 2002) que tiene a la información y a la participación como las dos variables estratégicas básicas, que en su interacción generarán<br />

iniciativas propias (proyectos) en la población, mismas que a través de la misma comunidad o en asociaciones particulares se<br />

organicen los recursos disponibles en torno a un plan de trabajo que habrán de ejecutaren en los tiempos y espacios que ellos decidan;<br />

como consecuencia se propiciará el desarrollo local. Iniciativas las puede haber desde aquellas que propicien la movilización máxima<br />

de todos sus recursos humanos y materiales, hasta la iniciativa de hacer nada. Debemos respetar los derechos de la gente en todos sus<br />

niveles, incluyendo el derecho a no querer desarrollarse (Sachs 1996) Así es la democracia.<br />

Es evidente que para la elaboración de un proyecto general de la naturaleza que aquí se sugiere es necesario mucho trabajo y tiempo<br />

de la población involucrada tanto de la comunidad como de las instituciones gubernamentales y de investigación y docencia. No<br />

obstante, hasta ahora, parece una alternativa viable para generar verdaderos procesos de desarrollo en comunidades rurales. Trabajo<br />

del que ya existe un antecedente importante con el proyecto “El Desarrollo Social General en Nivel Comunitario. Caso de San Pablo<br />

Ixayoc” que se está realizando en la misma comunidad de estudio. En este proyecto de han sentado las bases teórico-metodológicas<br />

y estratégicas para un estudio del proceso de desarrollo en nivel de comunidad.<br />

805


Sobre la base de un plan general de desarrollo de comunidad deberán implementarse los proyectos particulares y específicos<br />

necesarios que contribuyan a lograr las finalidades, objetivos y las metas plasmados en dicho plan general. En la falta de un plan de esta<br />

naturaleza, los proyectos particulares o actividades de cualquier índole, no solo serán ineficaces sino hasta contraproducentes.<br />

Hablar de desarrollo de la comunidad no es algo simple. Incluye un numero grande y variado de actividades: sistema de servicios<br />

públicos, actividades agrícolas, deportivas y educativas, festividades religiosas, sistemas de convivencia, etc., las cuales tienen un<br />

lugar en la agenda comunitaria que se estructuran en los diversos órganos de representación ciudadana, iniciando por la Delegación<br />

Municipal y el Consejo de Participación Ciudadana para el caso de el ordenamiento Municipal y por el Comisariado Ejidal y el<br />

Consejo de Vigilancia para el ordenamiento agrario ejidal. Ambos teniendo como máxima autoridad a la Asamblea General correspondiente.<br />

Respecto a la estructura Municipal, en la comunidad existen otros comités de representación más desagregados y en los que también<br />

existe una agenda de trabajo en estrecha relación con la Delegación Municipal y el Consejo de Participación Ciudadana. Sobre estos<br />

planes de trabajo se organizan y orientan los recursos disponibles de la comunidad.<br />

Conclusión<br />

En las poblaciones locales del medio rural tenemos conciencia de nuestros problemas individuales y colectivos y posibles soluciones,<br />

solo falta aprovechar mejor nuestros recursos disponibles y los medios a nuestro alcance, principalmente las instituciones. También<br />

tenemos conciencia de que a través del tiempo, las instituciones gubernamentales y no gubernamentales poco han contribuido a<br />

nuestro desarrollo, si lo han hecho, pero ha sido más como exigencia de la comunidad a través de las autoridades que por su iniciativa.<br />

También sabemos que investigadores van y que investigadores vienen y que de sus resultados, en su mayoría los desconocemos o de<br />

vez en cuando los encontramos en el mar llamado Internet o en una revista científica que publica en idioma ingles.<br />

Sentimos que aún sin la participación de agentes externos continuaremos con nuestro desarrollo, lento pero seguro. Pero también<br />

sabemos que mucho nos falta por hacer y sobre todo por rescatar o recrear. Necesitamos de colaboradores que nos ayuden a construir<br />

un proyecto general de desarrollo en el que integremos como medios no solo a las instituciones gubernamentales, también a las no<br />

gubernamentales: economisistas, ecologistas, religiosas, deportistas, políticas, esteticistas, etc, etc. Solicitamos que colaboren con<br />

nosotros para rescatar la información que gustosamente les hemos brindado para trabajos de enseñanza e investigación y que de ahora<br />

en adelante mantendremos en una biblioteca pública de la comunidad, donde podrán venir a consultarlos cuando gusten. Esto con la<br />

finalidad de iniciar un proyecto de desarrollo local más participativo, más pertinente, más democrático.<br />

Es cierto que cada quien actúa de acuerdo a una escala de valores y sentimientos personales. Habrá quienes no comparten lo que aquí<br />

planteamos, los respetamos así como pugnamos por un respeto hacia las comunidades.<br />

806


Bibliografía<br />

Altieri M. A. 1992. ¿Porqué estudiar la agricultura tradicional? En González Alcantud y González de Molina (eds) La tierra, mito,<br />

rito y realidad. Barcelona: Anthropos.<br />

Beck, Giddens y Lash. 1997. Modernización reflexiva. Política, tradición y estética en el orden social moderno. Alianza Universidad.<br />

España.<br />

Echeverría, Javier. 1998. Filosofía de la ciencia. Ediciones Akal S. A., segunda edición. Madrid.<br />

——— 2002. Ciencia y valores. Ediciones Destino, primera edición. Barcelona.<br />

Escobar, A. 1995. El Desarrollo sostenible: diálogo de discursos. En Ecología Política, No. 9, pp. 8-25.<br />

Goethe. 2002. Goethe y la ciencia. Ediciones Siruela. Madrid.<br />

González de Molina y Sevilla Guzmán. 1993. Ecología, campesinado e historia: para una reinterpretación del desarrollo del<br />

capitalismo en la agricultura. En Sevilla G. Y González de Molina (eds), La tierra. Mito, rito y realidad. Barcelona:<br />

Anthropos, pp. 332-350.<br />

Guzmán C., González de M. Y Sevilla G. 2000. Introducción a la Agroecología como Desarrollo Rural Sustentable. Madrid:<br />

Mundiprensa.<br />

INSTRUCT (1999) III sesión de balance y planeación de actividades del proyecto INSTRUCT. Red Interamericana para Estudios<br />

y Capacitación en la Utilización de los Recursos Naturales para la Transformación de las Comunidades (INSTRUCT por sus<br />

siglos en ingles) Colegio de Postgraduados, Montecillo, México. 9, 10 y 11 de diciembre de 1999. Memorias.<br />

Kunh Thomas J. 1986. La estructura de las revoluciones científicas. Fondo de Cultura Económica, décima reimpresión. España.<br />

Moro, Tomás. 1996. Utopía. Santillana S. A. Madrid.<br />

Niño Velásquez E. 1985. Hombre de desarrollo. En Cuadernos del Centro de Estudios del Desarrollo Rural. Número 3. Colegio de<br />

Postgraduados. Febrero 1985. Montecillo. México.<br />

——— 1986. Educación: una estrategia para formar recursos humanos para el desarrollo rural. En Cuadernos del Centro de<br />

Estudios del Desarrollo Rural. Año II. Número 1. Colegio de Postgraduados. Enero-febrero-marzo 1986. Montecillo. México.<br />

——— 1993. Conciencia individual y conciencia colectiva en el desarrollo social general. En Enfoques y Perspectivas en el<br />

Desarrollo Rural. Navarro et. al. Coords. Centro de Estudios del Desarrollo Rural. Colegio de Postgraduados. Montecillo.<br />

México.<br />

——— 1995. Formación y desarrollo de sujetos colectivos: una propuesta teórica. En El Cambio en el Desarrollo Rural. Sánchez et.<br />

al. Coords. Instituto de Socioeconomía, Estadística e Informática. Programa de Estudios del Desarrollo Rural. Colegio de<br />

Postgraduados. Montecillo. México.<br />

——— 2000. Participación campesina. condición indispensable del desarrollo rural. Ponencia presentada en el Primer Foro<br />

Nacional de Promoción al Desarrollo Rural. Ciudad de Colima, col. 16 al 16 de noviembre de 2000. En prensa en memorias del<br />

Foro.<br />

——— 2001. Dependencia campesina, imposición gubernamental y conflicto en la Mixteca Oaxaqueña. Artículo en prensa.<br />

Especialidad de Estudios del Desarrollo Rural, Colegio de Postgraduados. Estado de México.<br />

——— 2002. Investigación en la operación. Un método participativo en el desarrollo regional. Documento de trabajo.<br />

Niño Velásquez, E. y Vivar Miranda, R. 2001. El desarrollo social general en nivel comunitario: caso de San Pablo Ixayoc.<br />

Proyecto de investigación en la operación. Documento de trabajo.<br />

Paré Quellet L. 1996. Procesos globales: experiencias de organización y gestión de los recursos naturales. En: Paré L. y Sánchez M.<br />

J (coords) El ropaje de la tierra. Naturaleza y cultura en cinco zonas rurales. UNAM-Plaza y Valdez Editores. México.<br />

807


Ricoeur, Paul. 1994. Ideología y utopía. Gedisa, segunda edición. Barcelona.<br />

Rist, S. 1992. Desarrollo y participación. experiencias con la revalorización del conocimiento campesino en Bolivia. Serie Técnica<br />

No. 27 del Programa Agroecología Universidad Cochabamba (AGRUCO). Cochabamba.<br />

Rousseau, J. J. 2000. El contrato cocial. ALBA. Madrid.<br />

Sachs Wolfgang. 1996. Diccionario del desarrollo: una guía del conocimiento como poder. Primera edición en castellano. Proyecto<br />

Andino de Tecnologías Campesinas (PRATEC).<br />

1 Estudiante de Doctorado del Programa “Agroecología, Sociología y Desarrollo Rural Sostenible” del Instituto de Sociología y<br />

Estudios Campesinos de la Universidad de Córdoba, España. Investigador Adjunto del Programa de Estudios del Desarrollo Rural del<br />

Colegio de Postgraduados, México. E-mail <br />

2 Profesor Investigador Titular del Programa de Estudios del Desarrollo Rural del Colegio de Postgraduados, México. E-mail<br />

<br />

808


“COMERCIALIZACION DE FIBRA DE LLAMA: UNA PROPUESTA ECONOMICA<br />

SUSTENTABLE PARA COMUNIDADES CAMPESINAS ABORIGENES DE LA PUNA<br />

JUJEÑA, ARGENTINA.”<br />

1. Identificación del problema:<br />

809<br />

Sebastián Pablo García.<br />

La RED PUNA nace en octubre de 1995 como un encuentro de organizaciones que venían trabajando aisladamente en<br />

la región de la Puna y Quebrada de la provincia de Jujuy-Argentina, motivadas por la necesidad de reflexionar en conjunto sobre<br />

la situación del noroeste argentino y las posibilidades de iniciar un camino juntos; coordinado entre los diferentes actores. Hoy<br />

la RED PUNA es un proyecto de desarrollo regional con característica de movimiento social, llevado adelante por 32 organizaciones<br />

aborígenes/campesinas locales, las cuales nuclean a más de 1200 familias de 70 comunidades.<br />

De acuerdo a una demanda concreta de las organizaciones vinculadas a la RED PUNA, se desprende el objetivo de este<br />

trabajo, el cual consiste en analizar las características de la fibra y los mercados nacional e internacional para estimar la<br />

incidencia de las mismas en el precio final del producto. Se busca, de esta forma, generar información que permita diseñar<br />

estrategias de comercialización orientadas a incrementar la participación de los pequeños productores en el precio del producto<br />

final.<br />

Actualmente, la estructura de la oferta de fibra de llama (de aquí en más C.A.D. 1 ) en la puna Jujeña se encuentra altamente<br />

atomizada y proviene casi totalmente de sistemas productivos de subsistencia que habitan la Puna (Frank y Whebe, 1993). Con<br />

respecto a la demanda de fibra, el mercado interno absorbe sólo un 20-25 % del total de los volúmenes anualmente comercializados<br />

(70-120 tn), orientándose, en forma casi exclusiva, a la actividad artesanal.<br />

Por su parte, en la demanda para el mercado externo, casi toda la fibra se canaliza por medio de barraqueros, acopiadores<br />

zonales y/o intermediarios quienes se manejan con un solo acopiador-exportador. Esto determina que la comercialización para el<br />

mercado externo presente características monopsónicas (Vinella, 1993; Whebe, 1994).<br />

El destino final de la fibra comercializada es Europa, cuya industria textil representa el principal transformador mundial de<br />

las fibras de camélidos (Vinella, 1993), aunque no son pocas las plantas industriales en la Argentina con aptitud para la hilatura de<br />

estas fibras (Maguire y Adot, 1999).<br />

La atomizada oferta no sólo imposibilita la conformación de lotes importantes de producto, de finuras y colores similares<br />

(García Fernández, 1993), sino que también provoca una fuerte dependencia económica y social de los pequeños productores<br />

minifundistas con los barraqueros-acopiadores zonales. Estos últimos compran o intercambian el producto al “barrer”, sin ningún<br />

tipo de diferenciación en precio por color o diámetro de fibra, ya que el productor no realiza clasificación alguna. (Vila Melo, 1994).<br />

Hoy en día, únicamente la lana ovina dispone de un Patrón de Calidad (International Wool Standard), mantenida por casi<br />

todos los productores mundiales (Vinella, 1993), sobre el cual se negocia el precio. La falta de estándares de calidad, normativas y<br />

controles para la fibra de llama impedirían el conocimiento, por parte de los productores, de las características de la fibra demanda por<br />

el sector industrial y el precio esperado del producto en virtud de esas características. Agregado a esto, la particularidad del<br />

nomenclador aduanero argentino utilizado para la exportación de fibras especiales agrupa en una misma posición fibras de distinto<br />

origen, calidad y precio. Este hecho no sólo enmascararía la calidad de la fibra de llama exportada y los volúmenes comercializados,<br />

sino que facilitaría la subfacturación al exportar la fibra a precios inferiores a los vigentes en el mercado internacional (Maguire y Adot,<br />

1999).<br />

En este escenario es fácil comprender que el productor minifundista en condiciones de aislamiento, que oferta una producción<br />

no identificada o commoditie, no tiene poder de negociación con el intermediario. En la producción industrializada, el productor que<br />

solo interviene en la producción primaria, constituye el eslabón que tiene la menor participación en el valor final del producto. Los<br />

precios se establecen por medio de negociaciones privadas y no se efectúan subastas públicas como sucede para la lana u otras fibras.<br />

Según Vila Melo (1994), el precio que percibe el productor no alcanza, generalmente, a la mitad del precio pagado a productores<br />

bolivianos o peruanos, cuyos montos siguen siendo aún bajos. Si comparamos nuestros valores con los internacionales existe una gran<br />

diferencia a favor de los últimos debido a la falta de calidad del producto, a la intermediación y a la poca transparencia de este mercado<br />

en nuestro país (Vila Melo, 1994).<br />

Según Vinella (1993), el grado de finura de la fibra es la característica más importante en la determinación del valor de la fibra.<br />

De acuerdo a mediciones realizadas en poblaciones de camélidos de organizaciones de productores que pertenecen a la RED PUNA,<br />

la calidad del producto es, en su mayor parte excelente (promedio de finura: 21.95 ± 0.18 micrones 2 -sin descerdar 3 -; amplia gama de<br />

colores naturales en la población: 9 colores básicos 4 y 17 variaciones) y, en muchos casos, superior al ofertado en Bolivia y Perú. Se<br />

sugiere que los efectos de la intermediación y la poca transparencia en el mercado serían los móviles de la depreciación en el valor de<br />

la fibra que percibe el pequeño productor. El bajo precio percibido, por otra parte, no estimularía la decisión de esquilar (Lamas, 1994),


abriendo aun más la brecha entre la producción de fibra potencial y la real.<br />

Como cualquier producción animal, la cría de C.A.D. no resultará una actividad atractiva y no demostrará ningún tipo de<br />

crecimiento si no es económicamente rentable (Frank y Whebe, 1993). En el altiplano argentino los ovinos los superan en una<br />

proporción de 6:1, y esto es producto de los incentivos y promociones especiales para la cría de ovejas que ha tenido efecto durante<br />

largos años (SAGyP, 1994).<br />

2. Caracterización del Mercado Local:<br />

La cadena de comercialización histórica que realiza la fibra en la puna es la siguiente: El producto de la esquila individual,<br />

unos cuantos animales al año por productor, eventualmente es vendido a las barracas 5 de la zona, existiendo también la figura del<br />

intermediario bolichero o mercachifle. Los precios promedio que perciben los productores oscilan entre U$S 0.8 y 1.2 por kilo sucio<br />

(al barrer) 6 .<br />

Al tener que viajar a las ciudades más próximas (La Quiaca y Abrapampa) por problemas de salud, trámites u otras<br />

cuestiones impostergables, la fibra es considerada como moneda de cambio en donde los pobladores llevan el producto de la esquila<br />

de unos pocos camélidos y la venden en las barracas. Con el dinero costean la comida y parte del pasaje.<br />

Ya que el principal componente de la ganadería es la de brindar fibra y alimento, y el mismo animal como objeto de<br />

intercambio, prácticamente el ganado constituye el único bien económico no monetario, acumulable y que, por lo tanto, permite la<br />

capitalización del poblador rural.<br />

De todas maneras la poca fibra procedente de la esquila se utiliza para la confección de tejidos para la autosuficiencia<br />

familiar. El bajo precio que ofertan las barracas es uno de los motivos por el cual no se efectúa la práctica de esquila. Solo un 4 % del<br />

total de los animales se esquila anualmente.<br />

3. Caracterización del Mercado Internacional:<br />

Se puede acceder con cierta facilidad a la información sobre el valor de las fibras de Alpaca, Vicuña y Guanaco, no así al de<br />

la “Llama”. Las revistas especializadas no hacen mención de esta fibra. Se puede seguir la cotización diaria, semanal o mensual de las<br />

diferentes calidades de lana, mohair, cashmere, alpaca, conejo, seda, etc., pero nada se puede hallar sobre la Llama, sea esta Argentina<br />

(C.A.D.) o de algún otro país productor.<br />

Por todo ello deduciremos el precio de la fibra de los C.A.D. a partir de mediciones de laboratorio. Cabe la aclaración que los<br />

precios descriptos corresponden al año 1999, desde entonces, los precios de las fibras consideradas subieron [Wool Record, July<br />

2000, p.15: Chinese Cashmere, dehaired white, 38 mm, 130 U$S/Kg; 32 mm, 115 U$S/Kg; Cape mohair, «top», 28 micrones, 48 U$S/<br />

Kg; Alpaca, «top», White baby (BL), 21 U$S Kg]. Para esta presentación se optó por no incorporar estas nuevas cotizaciones,<br />

manteniendo para el análisis los más conservadores valores del año 1999. Los indicadores de mercado señalan una fuerte demanda para<br />

los pelos de finura inferior a los 25 micrones (tabla 1).<br />

810


FIBRA<br />

FINURA<br />

(micrones)<br />

LARGO<br />

FIBRA<br />

ESTADO<br />

Lana 21 68 mm HM "top"<br />

Alpaca no menciona<br />

Alpaca<br />

no menciona<br />

(4)<br />

Cape Mohair 28 (kid)<br />

Llama<br />

Argentina<br />

C.A.D.<br />

(3)<br />

Cashmere<br />

Chino<br />

Cashmere<br />

Chino<br />

Guanaco/<br />

Vicuña<br />

19-21<br />

22-25<br />

no menciona<br />

(2)<br />

no menciona<br />

(2)<br />

no menciona<br />

(1)<br />

no menciona<br />

(1)<br />

no menciona<br />

(1)<br />

sucia<br />

"top" blanca,<br />

"Baby"<br />

70-90 mm HM "top"<br />

38 mm<br />

(súper grade)<br />

32 mm<br />

Fuente: Proyecto «Ganadería Extensiva y Sustentable del Guanaco y Llama», Fundación Hábitat, 1999. Todos los precios están dados en U$S.<br />

811<br />

PRECIO<br />

$6.00/Kg<br />

merc. int.<br />

$7.00/Kg.-<br />

$12.00/Kg.<br />

$18.00/Kg<br />

"top" $24.00/Kg<br />

descerdado<br />

blanco<br />

descerdado<br />

blanco<br />

14-15 35 mm sucio<br />

Según finura:<br />

precio<br />

intermedio<br />

entre Cape<br />

Mohair (25<br />

mic.) y<br />

Cashmere<br />

Chino(aprox.<br />

15 mic.)<br />

$84.00/Kg<br />

$74.00/Kg<br />

$200.00-<br />

$400.00/ Kg<br />

(según largo)<br />

FUENTE<br />

Roberto Fuchs<br />

(4/9/99)<br />

Chris Tuckwell<br />

(5)<br />

Wool Record<br />

(Sep/99)<br />

Wool Record<br />

(Sep/99)<br />

Hipótesis de<br />

trabajo<br />

Wool Record<br />

(Sep/99)<br />

Wool Record<br />

(Sep/99)<br />

Datos merchants<br />

europeos<br />

(Jun/99)


Referencias:<br />

(1) Las fibras de Alpaca y de la cabra de angora (fibra mohair) no presentan problemas en lo que hace al largo de fibra, pudiendo<br />

ser hiladas por todos los sistemas existentes de hilatura para fibras de origen animal.<br />

(2) La finura del Cashmere Chino es de 13 a 16 micrones.<br />

(3) Se esta detectando internacionalmente el «estirado» de Cashmere mediante la utilización de este tipo de fibra [K. H. Phan, F. J.<br />

Wortmann and W. Arns, «Characterisation of Cashmere», Proceedings of the 9 th International Wool Textile Research Conference<br />

(Biella, Italy, 1995), Volume II, p. 577.].<br />

(4) La finura del «baby» Alpaca es de, aproximadamente, 22,5 a 25 micrones.<br />

(5) The new rural industries, a handbook for farmers and investors, Chris Tuckwell, Rural Industry Developments Pty Ltd., Gawler,<br />

Australia: «Average world prices for alpaca fibre range from $7.00/Kg-$12.00/Kg greasy at the farm gate, depending on quality».<br />

De esta manera un “top” de camélido argentino doméstico, de 22-25 micrones, debería valer como mínimo lo mismo que un<br />

“top” de Kid Mohair (25 micrones), o sea, $28/Kg. Esta cotización permitiría pagarle al productor un precio considerablemente mas<br />

alto que el que viene recibiendo (nos estamos refiriendo, específicamente, a aquellos lotes de finura inferior a los 25 micrones). De la<br />

tabla 1 se deduce que el pelo de los camélidos argentinos domésticos de las comunidades que pertenecen a la RED PUNA poseen un<br />

elevado valor comercial en el mercado internacional de fibras lujosas y que actualmente la oferta que reciben los productores de las<br />

barracas no concuerda con los precios internacionales.<br />

En cuanto al contexto internacional, el crecimiento de las economías del este asiático trajo como consecuencia una caída de<br />

la industria textil europea productora de artículos de bajo costo. Su expectativa de futuro exitoso radica en la fabricación de artículos<br />

sofisticados, aprovechando el liderazgo mundial en cuanto al diseño y calidad. Para este logro es fundamental el uso de fibras “lujosas”<br />

de alta calidad, como la fibra de los camélidos argentinos domésticos (C.A.D.), con lo que actualmente Europa constituye el mayor<br />

demandante de las mismas (Marino, comunicación personal). Estas fibras lujosas, como los productos resultantes, son producidas<br />

por comunidades aborígenes/campesinas que integran la Red Puna.<br />

4. Estrategia de trabajo:<br />

Los pilares para la implementación de la estrategia técnico-productiva consistieron en: a) Capacitación e Investigación<br />

aplicada (Estudios poblacionales, talleres de esquila-manejo-sanidad, entre otros); b) Promoción y asesoramiento técnico permanente<br />

(pasantías entre productores de la RED y otras organizaciones ganaderas) y c) Financiamiento.<br />

Como primer fase fortaleció el componente productivo en las comunidades con un trabajo coordinado entre técnicos,<br />

promotores rurales y las organizaciones productoras de fibra de llama. Dicho fortalecimiento consistió en el mejoramiento genético<br />

(intercambio de reproductores-selección positiva de los hatos), sanidad animal (por medio de botiquines comunitarios), manejo<br />

general de la hacienda (selección positiva de animales, suplementación, época de servicio-esquila, clasificación y selección de la fibra)<br />

e infraestructura (cerramientos para implantación de pasturas consociadas y recuperación de pastizales nativos, construcción de<br />

aguadas y refugios).<br />

Para ello se implementó, desde la RED PUNA, una herramienta de financiación basada en fondos rotatorios 7 para acompañar<br />

los procesos productivos y organizativos de los productores y comunidades.<br />

Con esta primer fase de cría, promoción y explotación de los C.A.D, además de mejorar los índices productivos, se ha<br />

pretendido generar a largo plazo, un impacto positivo en los ambientes frágiles y degradados de la Puna, desacelerando el proceso de<br />

desertificación de estos sistemas agroecológicos, dada las características anatomofisiológicas particulares de esta especie y su relación<br />

con el medio ambiente.<br />

Avanzado estos aspectos, y luego de haber jerarquizado a los C.A.D. como especie poliproductora (fibra, carne, cuero),<br />

aprovechando la fibra por primera vez 8 , se profundizó luego en el eje de comercialización de la fibra (segunda fase), abarcarcando en<br />

un mismo círculo organizaciones aborígenes/campesinas productoras y transformadoras de fibra de llama, al detectarse que la<br />

actividad artesanal dentro de las organizaciones que integran la RED PUNA era significativa y altamente demandante de fibra para el<br />

hilado y tejido (16.000kg/año con tendencia positiva). Este hecho representó que la alternativa para la colocación de la fibra fuese el<br />

mercado local debiendo sumar al análisis el incremento de la demanda en el comercio exterior de prendas artesanales de origen animal,<br />

producto de la devaluación del peso argentino. De esta manera, en vez de exportar fibra, la estrategia generar valor agregado a la fibra,<br />

transformándola en hilo en las mismas comunidades productoras.<br />

En la tercer fase se espera convertir la actual actividad artesanal limitada a otra capaz de brindar respuesta a las exigencias<br />

del consumidor, posicionando los productos autóctonos 9 en nichos del mercado local (particularmente aquellos relacionados con el<br />

turismo) e internacional.<br />

812


5. Análisis económico de la propuesta:<br />

Se enfocará el análisis en las organizaciones productoras de fibra, relacionando la generación de valor agregado al transformar<br />

el producto en hilo y atendiendo a tres posibles canales de comercialización.<br />

Solo el 4 % de esquila se practicaba en el total de animales por majada (50) dando un total de 2 animales esquilados por año.<br />

De cada animal se obtiene un promedio de 2,500 Kg de fibra, de los cuales 1,800 kg (75 %) se considera vellón comercial y 0.700 Kg<br />

(0.25 %) corresponden a garra y bordel. El vellón comercial, la garra y el bordel, una vez hilado, se utiliza para la confección de prendas<br />

para autoconsumo.<br />

En la tabla 2 se ejemplifican tres sistemas de comercialización de acuerdo a los productos fibra o hilo.<br />

Tabla 2<br />

Se puede observar claramente el aumento del ingreso percibido por los productores en el caso de efectuar la venta de fibra<br />

seleccionada a la cooperativa de artesanos en vez de vender a la barraca. Por otra parte, el ingreso por venta de hilo artesanal es muy<br />

superior (al introducir valor agregado a la fibra) y está relacionado directamente con el canal de venta (mercado interno o externo). Esto<br />

último depende de la capacidad de poder exportar el hilo ya que no solo es necesaria una fuerte organización para responder al<br />

volumen, tiempo y forma con la demanda de hilo artesanal en el exterior. Cabe la aclaración que el costo de oportunidad del proceso<br />

de hilatura 10 (con puska) es igual a cero ya que el mismo se realiza mientras se pastorea a los animales o en descansos, no necesitando<br />

un tiempo extra.<br />

Se sintetiza en la tabla 3 el impacto económico familiar de la propuesta al efectuar la esquila de las dos terceras partes de la<br />

tropa y transformar la fibra obtenida en hilo artesanal.<br />

Supuesto 1: 4% de animales esquilados sobre el total de animales por productor<br />

Sistema de comercialización kg /año Precio unitario ($/kg) Subtotal ($/año) Total ($/año)<br />

Fibra no seleccionada (Barraca) 5 1 5 5<br />

Vellón Comercial (a)<br />

Fibra<br />

Garra y Bordel (b)<br />

seleccionada<br />

HILO FINO LLAMA (c)<br />

(Cooperativa)<br />

HILO GRUESO LLAMA (d)<br />

3.6<br />

1.4<br />

3.3<br />

1.1<br />

3<br />

1<br />

36<br />

16<br />

10.8<br />

1.4<br />

118.8<br />

17.6<br />

12.2<br />

136.4<br />

Supuesto 2: 66% de animales esquilados sobre el total de animales por productor (2/3 de la tropa)<br />

Sistema de comercialización kg /año Precio unitario ($/kg) Subtotal ($/año) Total ($/año)<br />

Fibra no seleccionada (Barraca) 82.5 1<br />

Referencias:<br />

(a) Kilogramos de Vellón Comercial: (N° animales esquilados * 2,5 Kg fibra sucia/animal)* % vellón comercial/Total)<br />

(b) Kilogramos de Garra y Bordel: (N° animales esquilados * 2,5 Kg fibra sucia/animal)* % Garra y Bordel/Total)<br />

(c) Kilogramos de Hilo Fino: (N° animales esquilados * 2,5 Kg fibra sucia/animal)* % vellón comercial/Total)* % Rinde al lavado<br />

(d) Kilogramos de Hilo Grueso: (N° animales esquilados * 2,5 Kg fibra sucia/animal)* % Garra y Bordel/Total)* % Rinde al lavado<br />

% Rinde al lavado llama. 0,88<br />

% vellón Comercial/Total: 0,75<br />

% Garra y Bordel/Total: 0,25<br />

813<br />

82.5 82.5<br />

Fibra<br />

seleccionada<br />

Vellón Comercial<br />

Garra y bordel<br />

61.9<br />

20.6<br />

4<br />

1<br />

247.5<br />

20.6<br />

268.1<br />

(Cooperativa) HILO FINO LLAMA<br />

HILO GRUESO LLAMA<br />

54.5<br />

18.2<br />

36<br />

16<br />

1960.2<br />

290.4<br />

2250.6<br />

Supuesto 3: 66% de animales esquilados (Mercado Externo)<br />

Sistema de comercialización kg /año Precio unitario (U$S/Kg) Total (U$S/año)<br />

HILO FINO LLAMA 54.5 25<br />

1361.25


Tabla 10<br />

IN G R E SO FA M IL IA R SIN PR O Y E C T O<br />

Autoconsumo $ 300.00<br />

Ingreso extrapredial $ 360.00<br />

Por ovejas $ 200.00<br />

Llamas $ 150.00<br />

Lana de oveja $ 20.00<br />

fibra de llam a $ 2 0.0 0<br />

Ingreso total $ 1,050.00 Ingreso m ensual $ 87.50<br />

IN G R E S O F A M IL IA R C O N P R O Y E C T O (1)<br />

Autoconsumo $ 300.00<br />

Ingreso extrapredial $ 360.00<br />

Por ovejas $ 200.00<br />

Llamas $ 150.00<br />

Lana de oveja $ 20.00<br />

Hilo fino de llama $ 1,960.20<br />

Hilo grueso de llama $ 290.40<br />

Ingreso total $ 3,280.60 Ingreso m ensual $ 273.38<br />

IN G R E S O F A M IL IA R C O N P R O Y E C T O (2)<br />

Autoconsumo $ 300.00<br />

Ingreso extrapredial $ 360.00<br />

Por ovejas $ 200.00<br />

Llamas $ 150.00<br />

Lana de oveja $ 20.00<br />

Hilo fino de llama U$S 1361,25 Mercado externo<br />

Hilo grueso de llama $ 290.40<br />

Ingreso total<br />

$ 1,320.40 $ 110.03<br />

Ingreso m ensual<br />

U $S 1361,25<br />

El ingreso por ovejas y camélidos está dado por la venta de animales de descarte. Las estimaciones de los rubros ‘autoconsumo’<br />

e ‘ingreso extrapredial’ se basaron en el núcleo familiar compuesto por siete personas.<br />

Es necesario tres jornales de esquila (de ocho horas cada uno) y un año de hilado con puska 11 o “huso” (en los momentos<br />

de pastoreo) para que esta propuesta, basada en la producción y comercialización de un recurso natural genuino, supere ampliamente<br />

los montos de los programas estatales de corte netamente asistencialista y por tiempo transitorio vigentes en la actualidad, los cuales<br />

siempre estarán sujetos a una mayor incertidumbre en caso de que alguna familia sea beneficiaria.<br />

814<br />

U$S 113,44


CONCLUSIONES<br />

La adecuación de la producción de fibra de C.A.D. (Llama Argentina) a las exigencias de los mercados locales e internacionales<br />

puede ser definida en términos de la finura, el color y la frecuencia de esquila. Con respecto a la primer variable la población de<br />

camélidos estudiados (de organizaciones de productores que pertenecen a la RED PUNA) manifestaron una elevada aptitud lanera<br />

debido a los valores de finura hallados: 21.95 ± 0.18 micrones (sin descerdar), correspondiendo a la clasificación más alta 12 : “baby”.<br />

En relación con la segunda variable se observó una amplia gama de colores naturales con 9 colores básicos y 17 variaciones. En cuanto<br />

a la tercer variable, la continuidad en la práctica de esquila impactó positivamente en la calidad de las fibras de la mayoría de los<br />

animales puesto que presentaron menor porcentaje de impurezas, sin signos de apelmazamiento y cambios en la coloración del patrón<br />

pigmentario en la superficie de la mecha (debido a los efectos del sol y las lluvias). De acuerdo a estas características se dedujo que el<br />

pelo de los C.A.D. posee un elevado valor comercial y se adecua a los requerimientos de la demanda nacional e internacional de fibras<br />

lujosas, contrastando con el bajo precio ofertado por los intermediarios en el mercado nacional. En relación con la demanda internacional<br />

es necesaria una sólida estructura de acopio comunitario de la fibra sin perder la continuidad en volumen y calidad de la entrega de fibra.<br />

Por ello, y atendiendo a la atomizada oferta que presentan los sistemas aborígenes campesinos, se priorizó la demanda local (con<br />

menos exigencias en escala de producción, no así de calidad) para comenzar a crear condiciones favorables que posibiliten el recupero<br />

y desarrollo del aprovechamiento de este recurso natural genuino (Información, capacidad de gestión, poder de negociación, alternativas<br />

de comercialización). Por otra parte, se fortalece el concepto de “pertenencia” al abarcar en un mismo círculo organizaciones<br />

aborígenes/campesinas productoras y transformadoras de fibra de llama en un marco de Red, articulando las fortalezas, debilidades,<br />

oportunidades y amenazas de unas y otras. Sumado a ello, y considerando los sistemas productivos aborígenes/campesinos, la<br />

demanda local de hilo posibilitaría generar valor agregado a la fibra, resultando en un beneficio económico para las economías familiares<br />

con bajos costos de producción y transacción. Los beneficios resultarían en 2250 $/año por familia para el proyecto 1 (mercado<br />

interno) y 1361 U$S/año por familia más 290 $/año para el proyecto 2 (mercado externo). Si se suman estos resultados con los rubros<br />

autoconsumo e ingreso extrapredial familiar campesino estimado significan 273 $/mes para el proyecto 1 y 113 U$s/mes más 110 $/<br />

mes para el proyecto 2.<br />

Son necesarios tres jornales de esquila (de ocho horas cada uno) y un año de hilado con puska 13 (normalmente se realiza en<br />

el momento del pastoreo del hato) para que esta propuesta, basada en la producción y comercialización de un recurso natural genuino,<br />

supere ampliamente los montos que normalmente se asignan en los programas estatales de empleo vigentes. Mientras que estos son<br />

de corte netamente asistencialista, resultan además transitorios y están sujetos a mayores incertidumbres.<br />

Por las consideraciones precedentes se justifica el apoyo a proyectos que abarquen estudios de investigación aplicada y el<br />

desarrollo de propuestas de mejoramiento de ingresos basándose en la oferta de fibras lujosas (mejoramiento de tecnologías, procesos<br />

y productos textiles artesanales en toda la cadena de producción, como así también a la comercialización de los productos finales.)<br />

Esto tendría un impacto relevante en las comunidades aborígenes analizadas.<br />

Por último, cabe destacar que el aprovechamiento sustentable de este recurso natural, en manos de los pobladores rurales de<br />

la Puna, no solo puede contribuir a desacelerar los procesos de desertificación en la región, sino que constituye una línea de acción<br />

estratégica para contribuir al fortalecimiento de la autosuficiencia familiar y autogestión organizacional, ejes económicos necesarios<br />

para la autodeterminación de los pueblos.<br />

815


REFERENCIAS:<br />

Frank, E. y Whebe, V. (1993). Producción y comercialización de fibra de camélidos argentinos domésticos. Taller sobre producción<br />

y comercialización de fibras especiales. INTA Bariloche: 81-96.<br />

García Fernández, J. (1993). Análisis del mercado de pelos finos de camélidos de la Argentina. Taller sobre producción y<br />

comercialización de fibras especiales. INTA Bariloche: 27-44.<br />

Lamas, H. (1994). Manejo actual de la majada en Laguna de Pozuelos. Boletín Nº 5. Camélidos Argentinos. SAGyP.: 1-3. Buenos<br />

Aires, Setiembre 1994.<br />

Maguire, A. y Adot, O. (1999). Producción y Comercialización de la fibra del Guanaco (Lama guanicoe) y la Vicuña (Vicugna vicugna)<br />

en la Argentina -versión preliminar-. Fundación Hábitat. Buenos Aires, Diciembre 1999.<br />

SAGyP. (1994). Programa de apoyo para la mejora en la producción de pelos finos de camélidos argentinos. Comunidad Europea -<br />

República Argentina. Boletín Nº2 Camélidos Argentinos. SAGyP. Buenos Aires, Enero 1994.<br />

Vila Melo, J. (1994). Producción y manejo de Camélidos Sudamericanos Domésticos. Trabajo final de intensificación para optar al<br />

título de Ing. Agrónomo de la Facultad de Agronomía de la Universidad de Buenos Aires, Argentina.<br />

Vinella, S. (1993). The European market for South American camelid wool. European Symposium on South American camelids:<br />

155-177 Bon, Germany.<br />

Whebe, V. (1994). Producción de Fibra. Boletín Nº7 Camélidos Argentinos. SAGyP. Buenos Aires, Agosto 1994.<br />

1 C.A.D.: Camélidos Argentinos Domésticos.<br />

2 Para la medición de la distribución y el diámetro medio de fibras de llama se utilizó un Analizador Óptico de Diámetro de Fibras<br />

(OFDA) bajo Norma IWTO-47-00 en el laboratorio físico del CIT-INTI.<br />

3 El descerdado es el proceso en el cual se separa, de la mecha del animal, la capa “cover” que contiene pelos más gruesos, de la capa<br />

“down” de fibras de menor diámetro. Estas se utilizarán para el posterior proceso de hilatura. El valor promedio estimado mencionado<br />

disminuyó en más de un micrón al efectuarse el descerdado de las muestras de fibra.<br />

4 Colores Básicos: 1) Blanco, 2) Vicuña, 3) Café, 4) Marrón, 5) Gris, 6) Negro, 7) Guanaco, 8) Rosillo Rojo, 9) Rosillo Gris. Cada<br />

color básico le corresponde tres gamas o variantes.<br />

5 Con fines de exportación a Europa.<br />

6 Precios en dólares promedio del año 1999-2000-2001 referentes a las tres barracas (Soraide, Chaile y Morales). En el 2002 los<br />

precios (en pesos) no han aumentado en relación con la devaluación del peso argentino.<br />

7 Un fondo rotatorio es un préstamo de dinero al que pueden acceder las organizaciones de la RED PUNA para realizar mejoras en<br />

la infraestructura productiva: Compra de reproductores, construcción de refugios, compra de medicamentos, herramientas como<br />

tijeras de esquilar. Los fondos pueden ser individuales o grupales, siendo la misma organización la que avalará la propuesta de trabajo<br />

presentada por aquellos. El tiempo y la forma de devolución del fondo lo define el propio beneficiario.<br />

8 30 % de animales esquilados en el primer año (2001) y 50 % en el segundo.<br />

9 Tales como prendas confeccionadas en telar y tejido tricot e hilo artesanal.<br />

10 Comúnmente una hilandera tarda una semana para obtener un kilo de hilo con puska, y tres días para obtenerlo con la rueca<br />

canadiense.<br />

11 En caso de que hile solo una persona en el núcleo familiar.<br />

12 Esta tipificación es actualmente utilizada por organizaciones productoras y exportadoras de fibra de Llama y Alpaca pertenecientes<br />

a los países de Bolivia y Perú.<br />

13 En caso de que hile solo una persona en el núcleo familiar.<br />

816


EMPRESAS MULTINACIONALES DE AGROINSUMOS Y SU IMPACTO A NIVEL<br />

LOCAL. UN ESTUDIO DE CASO: EL SISTEMA DE PRODUCCIÓN DE SOJA EN EL<br />

SUR DE LA PRO<strong>VI</strong>NCIA DE CÓRDOBA (ARGENTINA)<br />

Autores: Ana Geymonat, Mónica Wehbe y Héctor Martín Civitaresi<br />

Docentes del Departamento de Economía, Facultad de Ciencias Económicas - Universidad Nacional de<br />

Río Cuarto. E-mail: ageymonat@eco.unrc.edu.ar; mwehbe@eco.unrc.edu.ar y<br />

hcivitaresi@eco.unrc.edu.ar<br />

Grupo temático: Globalización de la agricultura y nuevos espacios de producción. Corporaciones multinacionales y<br />

transformaciones de la agricultura.<br />

Empresas multinacionales de agroinsumos y su impacto a nivel local. Un estudio de caso: El sistema de producción de<br />

soja en el sur de la provincia de Córdoba (Argentina)<br />

1. Introducción<br />

818<br />

Ana Geymonat, Mónica Wehbe y Héctor Martín Civitaresi 1<br />

El interés por el análisis de los sistemas productivos agrarios en la región del sur de Córdoba va más allá de cuestiones<br />

productivas o económicas. Lo que interesa particularmente es poder evaluar las posibilidades de la región para encontrar un camino<br />

de desarrollo sostenible frente a las actuales tendencias que se promueven a escala global de ampliación de los espacios para aquellos<br />

grupos ya poderosos. Al respecto, este trabajo sostiene que el sendero de cambio tecnológico ‘elegido’ estaría definiendo, al menos<br />

en parte, las implicancias de aquél sobre la evolución de la organización productiva y social del territorio.<br />

El concepto de ‘desarrollo económico sostenible’ vincula de manera directa aspectos económicos, sociales y de uso eficiente<br />

los recursos medioambientales. Es decir, incluye los aspectos de: crecimiento económico, en el sentido de la necesidad de aumentar la<br />

producción de bienes y servicios para satisfacer a un conjunto de necesidades que aumenta constantemente; uso adecuado de los<br />

recursos productivos (recursos naturales, recursos humanos y recursos de capital) y de protección del medio ambiente (agua, aire,<br />

infraestructura); y equidad económica y social, relacionada con la forma en que se distribuyen el crecimiento productivo y los costos<br />

incurridos para lograrlo.<br />

Resulta apropiado destacar, en esta definición del desarrollo, la perspectiva de Barkin (1998), quien pone énfasis en la<br />

sostenibilidad como un proceso, más que un conjunto de metas bien especificadas. Uno de los factores que determinan la dinámica de<br />

dicho proceso esta relacionado con la innovación y la adopción de tecnologías particulares. Es posible que determinadas tecnologías<br />

puedan contribuir con la sostenibilidad del desarrollo, aunque en general se considera a las tecnologías de insumos como una<br />

herramienta más de los grupos que concentran el poder económico, cuestionando sus resultados sobre la sostenibilidad.<br />

En este trabajo se pretende evaluar los impactos resultantes de la adopción de un paquete de tecnologías de insumos, las cuales<br />

contribuyeron con la expansión del cultivo de granos oleaginosos (en particular, la soja) en términos de las dimensiones del desarrollo<br />

económico sostenible en la región del Sur de Córdoba.<br />

Para ello, en la siguiente sección, se plantea el concepto de desarrollo económico sostenible considerado en el presente trabajo<br />

y los impactos sobre el mismo de la innovación y adopción de tecnologías. En la tercera sección se caracteriza el desarrollo que ha<br />

tenido la demanda de tecnología con especial referencia a aquellas relacionadas a la producción primaria de soja, como así también<br />

quienes son los distintos actores detrás de la oferta de los insumos. En la última sección se caracteriza al sistema de producción de soja<br />

en la región bajo estudio, analizándose los principales impactos locales que ha tenido la incorporación del paquete tecnológico vigente.<br />

2. Desarrollo económico sostenible y adopción de tecnologías<br />

Los planteos analíticos subyacentes en las diferentes percepciones del desarrollo económico sostenible han ido evolucionando<br />

en función de sus variables determinantes. Desde una perspectiva puramente ambientalista, donde el énfasis descansa en la conservación<br />

de los ecosistemas, ya sea por sus características biofísicas o por su capacidad de producir bienes o servicios, hasta un concepto más<br />

economicista. En este caso, aún cuando se involucra una percepción temporal, el énfasis radica en las posibilidades de crecimiento


económico sustentado en el uso eficiente de los recursos productivos. Así, el desarrollo sostenible se entiende como “un proceso<br />

capaz de satisfacer las necesidades de las generaciones presentes sin comprometer la capacidad de las generaciones futuras de<br />

satisfacer las suyas”, según la definición de las Naciones Unidas (1987). Esta concepción responde, en menor medida, a los intereses<br />

de los países desarrollados quienes están más preocupados por los límites al crecimiento, presentes y futuros, en términos de lo que<br />

ello significa en cuestiones tales como la pérdida de biodiversidad, el cambio climático, el agotamiento de los recursos, entre otros<br />

(Chudnovsky et al, 1999).<br />

Sin embargo, para los países en desarrollo los aspectos sociales e institucionales constituyen variables determinantes claves<br />

para enfrentar su problemática caracterizada por una creciente inequidad en la distribución del crecimiento económico. Por ello se<br />

requiere, para el progreso de estos países, incorporar estos últimos elementos en la concepción del desarrollo.<br />

Una perspectiva más amplia del desarrollo económico sostenible debe contemplar entonces cuatro dimensiones (Sepúlveda<br />

et al, 1998):<br />

§ una dimensión ambiental, que refiere tanto a la biodiversidad y como al uso eficiente de recursos naturales productivos, en una<br />

perspectiva de largo plazo que asegure su manejo racional.<br />

§ una dimensión económica, relacionada con la capacidad productiva, tanto existente como potencial que involucre, además, las<br />

interfases de las actividades primarias con aquellas propias del procesamiento y el comercio. Esta dimensión abarca técnicas y<br />

tecnologías específicas y la capacidad de gestión de los productores, donde las denominadas tecnologías tradicionales pueden, en<br />

muchos casos, encontrar soluciones a las contradicciones que genera la tecnología de punta y las externalidades medioambientales<br />

negativas que resultan de su aplicación.<br />

§ una dimensión social, considerando el conjunto de relaciones sociales y económicas que tienen como base la religión, la ética y la<br />

propia cultura, así como también sus formas de organización, de participación en la toma de decisiones y, por lo tanto, de las<br />

interacciones entre la sociedad civil y el sector público. Fundamentalmente, esta dimensión está vinculada con la capacidad y<br />

habilidad del recurso humano para utilizar y combinar los factores de producción con el propósito de generar determinados<br />

bienes que satisfagan sus necesidades básicas y garanticen un excedente comercializable; esto es, combinar sus habilidades y<br />

destrezas para generar excedente, reinvertirlo y distribuir los beneficios del desarrollo entre los diversos actores.<br />

§ una dimensión institucional y política, donde se negocian posiciones y se toman decisiones sobre el rumbo que se desea impartir<br />

al proceso de desarrollo y, en la cual, se involucra al sistema institucional público y al privado, a las organizaciones no<br />

gubernamentales, y a las organizaciones gremiales y grupos de interés. Esta perspectiva de la institucionalidad está siendo<br />

debatida fuertemente en relación a la búsqueda de un balance entre los roles del Estado, la sociedad civil y los mercados para el<br />

logro de estrategias de desarrollo y desarrollo rural (De Janvry et al, 1993).<br />

El desarrollo económico sostenible es un proceso más que un conjunto de metas bien especificadas (Barkin, 1998), en el cual<br />

uno de los factores que determinan su dinámica -intensidad y dirección- está relacionado con particulares senderos de innovación y<br />

adopción de tecnologías. Así, un determinado sendero de innovación tecnología podría contribuir con la sostenibilidad del desarrollo,<br />

mientras que en otros casos podría consolidarse como una herramienta más de los grupos que concentran el poder económico, o bien<br />

con altos impactos negativos sobre el medio ambiente, cuestionándose sus resultados sobre la sostenibilidad. La ‘elección’ de cierto<br />

sendero tecnológico, tal como lo asevera Lowy (1995), dependerá del ambiente institucional y político en que se desarrollan tanto las<br />

innovaciones como la adopción de tecnologías.<br />

Acotando la anterior concepción al análisis de la sostenibilidad 2 de los sistemas de producción agrícolas, medido en términos<br />

del sendero de cambio tecnológico adoptado, la evaluación de los objetivos alcanzados debe realizarse a partir de un conjunto de<br />

atributos. Según Masera y López-Ridaura (2000), la evaluación de la sustentabilidad descansa en el análisis de un conjunto de<br />

indicadores, los cuales deberán estar relacionados con las tres áreas de interés (económica, social y medioambiental) tal que respondan<br />

a los cinco atributos que la definen:<br />

− Conseguir un nivel alto de productividad mediante el uso eficiente y sinérgico de los recursos naturales y económicos.<br />

− Proporcionar una producción confiable, estable (no decreciente) y resiliente a perturbaciones mayores en el transcurso del<br />

tiempo, asegurando el acceso y disponibilidad de los recursos productivos, el uso renovable, la restauración y protección de los<br />

recursos locales, una adecuada diversidad temporal y espacial del medio natural y de las actividades económicas y los mecanismos<br />

de distribución del riesgo.<br />

− Brindar flexibilidad (adaptabilidad) para amoldarse a nuevas condiciones del entorno económico y biofísico, mediante procesos<br />

de innovación y aprendizaje y el uso de opciones múltiples.<br />

− Distribuir equitativamente los costos y beneficios del sistema entre diferentes grupos y generaciones involucradas, asegurando<br />

el acceso económico y la aceptación cultural de los sistemas propuestos.<br />

− Poseer un nivel aceptable de autodependencia (autogestión) para poder responder y controlar los cambios inducidos desde el<br />

exterior, manteniendo su identidad y sus valores.<br />

En principio, siguiendo a Viglizzo (2000), las tecnologías aplicables en la producción agropecuaria y sus resultados sobre los<br />

anteriores atributos se diferencian según su naturaleza: a) las tecnologías de insumos, b) las tecnologías de procesos, y c) las<br />

tecnologías de la información. Estas últimas incluyen un paquete de tecnologías emergentes que, por su complejidad, no suelen ser<br />

utilizables en forma directa por el productor rural sino que (por el tipo de información que generan) resultan de mayor utilidad a<br />

escalas geográficas y temporales más altas. Las tecnologías de información son instrumentos relativamente novedosos, como los<br />

819


Sistemas Soporte de Decisiones (SSD), que articulan sistemas de información geográfica para la manipulación de mapas, imágenes y<br />

bases de datos georeferenciadas con modelos matemáticos que describen y predicen procesos productivos.<br />

Las otras dos categorías corresponden a tecnologías ya existentes o en fases avanzadas de desarrollo, que se aplican en forma<br />

predominante a escala predial. Las tecnologías de procesos son inmateriales, intangibles, tienen un fuerte componente de información,<br />

conocimiento y eficiencia incorporado, generalmente no se compran en el mercado y tienen una aplicación casi personalizada. Más<br />

que un costo económico, tienen un costo intelectual y un costo de tiempo y su adopción es más dificultosa. Son tecnologías que<br />

requieren un trabajo de programación previo, una presencia, un aprendizaje, y un control o seguimiento casi permanentes. Entran en<br />

esta categoría todas las tecnologías de manejo (de rodeo, de pasturas y pastizales, de suelos, de cultivos, de plagas, etc.) y gerenciamiento<br />

de actividades complejas, a menudo creativas. Están asociadas a emprendimientos de largo plazo, estructurales más que coyunturales<br />

(Viglizzo, 1994).<br />

Por su parte, las tecnologías de insumos son de tipo material, tangibles y se pueden comprar en el mercado -se aplican o<br />

consumen como una medicina. Están asociadas a un desarrollo previo de naturaleza industrial y tienen, por lo tanto, un costo<br />

económico. En general su aplicación no demanda mucho tiempo y se realiza en momentos bastante precisos. Su uso suele ser sencillo<br />

y a veces rutinario. A menudo suelen ser tecnologías coyunturales: se puede entrar y salir de ellas con relativa facilidad. En esta<br />

categoría se encuentran insumos tecnológicos como los fertilizantes, los biocidas (herbicidas, insecticidas, fungicidas), las semillas<br />

mejoradas, la maquinaria agrícola, las vacunas, los antiparasitarios, entre otros. Su adopción no es complicada (Viglizzo, 1994).<br />

El tipo de tecnologías que predomine va a depender de un conjunto de factores, entre ellos: quién produce la innovación y<br />

quién la aplica o adopta. Haciendo referencia principalmente a las tecnologías de insumos, y en el primer caso, durante la década de<br />

1970 los países de menor desarrollo estuvieron casi a la misma altura que los países más desarrollados en la producción de tecnologías<br />

o, en el caso de que no las produjeran, fueron capaces de adaptar tecnologías de dominio público desarrolladas en otros países. En la<br />

década de 1980 se produce un quiebre en esta situación: los países menos desarrollados se alejan cada vez más de los procesos de<br />

investigación y desarrollo debido a una serie de circunstancias: las tecnologías de la llamada ‘nueva era de la información’ (incluida pero<br />

no limitada a la biotecnología) tienen su origen en las ciencias fundamentales o básicas, las cuales no han sido desarrolladas<br />

competitivamente en estos países; además, el incremento de la competencia tecnológica entre los países desarrollados llevaron a tratar<br />

de asegurar que los resultados de la investigación se divulgue tan lento como sea posible entre sus competidores; y, por último, la<br />

propia situación de los países de menor desarrollo, caracterizada por una disminución de la inversión pública en investigación y<br />

desarrollo. Posteriormente, los avances realizados en la biotecnología mostraron tener importantes implicancias comerciales y fueron<br />

las firmas del sector privado las que financiaron la investigación biotecnológica básica, constituyendo uno de las razones de las luchas<br />

competitivas entre las mayores corporaciones multinacionales (Buttel, 1990).<br />

Con respecto a los usuarios de la tecnología en los países de menor desarrollo se hace necesario distinguir, por un lado,<br />

cuestiones vinculadas con la disponibilidad: la mayoría de las tecnologías que se producen en el mundo desarrollado no son necesariamente<br />

readaptadas para su comercialización en estos mercados alternativos a menos que resulte rentable para las grandes compañías<br />

multinacionales, principales productoras de insumos -como lo ha sido el caso de las variedades de semilla de soja y algunos otros<br />

cultivos en la Argentina. Como consecuencia, no se incorpora tecnología de punta o bien la tecnología adoptada no es la más<br />

apropiada. Por otra parte, al interior de estos países la demanda por tecnologías no es homogénea, ya que no todos los agentes tienen<br />

iguales posibilidades de acceso a las mismas y, por lo tanto, puede constituir un elemento más que contribuye a la profundización de<br />

la polarización entre los agentes productivos rurales (Buttel, 1990).<br />

Estos son los aspectos de la tecnología que se intentan analizar en este trabajo en referencia a la evolución de la producción de<br />

soja en la Argentina y con especial interés en las implicancias, desde el punto de vista del desarrollo económico sostenible, para la<br />

región del sur de Córdoba.<br />

3. Innovación y adopción de tecnología: la producción de soja en Argentina<br />

En el sistema agroalimentario argentino, el complejo oleaginoso -desarrollado fundamentalmente alrededor del cultivo de sojase<br />

ha caracterizado por ser el de mayor dinamismo. Desde mediados de la década de 1970, cuando comienza una etapa de acelerado<br />

crecimiento, este complejo se expande hasta convertirse en el principal rubro de exportación en la década de 1990, representando el<br />

22% del total exportado por el país en el año 1999 y el 43% de las ventas agroindustriales externas (unos U$S 5100 millones). Para<br />

ese año, el coeficiente de exportación fue de alrededor del 92% y presentó una estructura de destinos ampliamente diversificada (más<br />

de 100 países), aspectos que evidencian su alto grado de progreso y su eficiencia a escala mundial (Melconian et al, 2000). Aportaron<br />

a este proceso la expansión de la producción de granos oleaginosos cuyo principal exponente es la soja, respecto de la cual se realiza,<br />

a continuación, una breve referencia a la secuencia de innovaciones incorporadas a lo largo del tiempo.<br />

3.1. El papel de las tecnologías en el crecimiento de la producción de soja<br />

La expansión del cultivo de soja en la Argentina se puede explicar por la interacción de factores exógenos y endógenos de<br />

competitividad en el conjunto del complejo oleaginoso, a lo cual se agregan singularidades históricas y geográficas las cuales determinan<br />

la evolución del cultivo en diferentes espacios 3 .<br />

820


Si bien la ampliación del área sembrada y el fuerte incremento en la producción, desde fines de la década de 1970, se dio en<br />

respuesta a incentivos tanto de la política agrícola interna (eliminación de las restricciones a la exportación y establecimiento de las<br />

bases estatutarias para la comercialización del producto) como también a la situación de los mercados internacionales (aumentos en<br />

los precios de estos commodities), no hubiera sido posible sin el impulso del desarrollo y la incorporación de tecnologías tanto de<br />

insumos como de manejo, esto es uno de los factores endógenos de la competitividad. Estas tecnologías -perfeccionamiento del<br />

manejo agronómico, mecanización agrícola, adopción de semillas mejoradas e incorporación de agroquímicos- contribuyeron aún más<br />

con el posicionamiento de la Argentina como productora de soja al incrementar los rendimientos y reducir los costos de producción<br />

respecto de países competidores. La producción de soja pasó de 59 mil toneladas en la campaña 1970/71 a 10,7 millones en 1989/90.<br />

Este crecimiento se explica tanto por la expansión del área sembrada (desde 37.700 hectáreas en la campaña 1970/71 a poco más de<br />

5 millones de hectáreas en 1989/90) como por el aumento en los rendimientos por hectárea (el de soja creció un 32,7% −pasando el<br />

promedio del país de 1024 a 2156,6 kg/ha en el mismo período).<br />

A partir de la década de 1990, el cambio en la política macroeconómica dio un nuevo impulso al conjunto del complejo<br />

oleaginoso. Así, para el sector primario, se generaron condiciones que favorecieron aún más la expansión del cultivo: por la apertura,<br />

se reduce el precio de maquinarias e insumos; por la liberalización comercial, se reducen o eliminan impuestos que pesaban sobre la<br />

exportación del grano y los productos industriales, efecto que se traslada hacia atrás incrementando los precios al productor 4 ,<br />

sumándose a la elevada competitividad de la producción primaria nacional, sustentada esencialmente en las ventajas comparativas<br />

derivadas de los recursos naturales 5 . Como consecuencia, la producción de soja se incrementó notoriamente −de 10,7 millones de<br />

toneladas en la campaña 1990/1991 a poco más de 19 millones en el período 1998/99. La causa fundamental fue el incremento del área<br />

sembrada –cerca de 5 millones en la campaña 1990/91 a 8,4 millones de hectáreas en 1998/99– más que el crecimiento en los<br />

rendimientos: 3,9% aproximadamente. “En un principio, el aumento del área sembrada, la producción y los rendimientos ha venido<br />

acompañado de técnicas culturales y de variedades introducidas de los EEUU. La expansión fue estimulada por las agencias nacionales<br />

de desarrollo, especialmente el INTA, por multinacionales de la agroproducción y por extensionistas, pero el factor de control fue el<br />

dinamismo de la industria aceitera y de los sectores comerciales” (Pengue, 2002).<br />

El crecimiento exponencial de la soja vino acompañado de un modelo de rotaciones (doble cultivo trigo/soja), en el corazón<br />

agrícola de la Argentina, y de un desplazamiento de las actividades ganaderas en las anteriores zonas de producción mixta. Este<br />

proceso de ‘agriculturización’ en la actividad primaria argentina si bien permitió incrementar la rentabilidad de la empresa agropecuaria,<br />

significó, al mismo tiempo, una fuerte presión sobre los ecosistemas, con secuelas de erosión y degradación ambiental cuya intensidad<br />

varia según las condiciones originales.<br />

Lo anterior implicó una rápida adopción de la tecnología de siembra directa (SD), la cual se expandió a una tasa muy elevada<br />

a partir de la campaña 1990/91, pasando de 300 mil hectáreas a 5,5 millones en la campaña 1997/98, superando a los EEUU como<br />

proporción del área cultivada (Chudnovsky et al, 1999). Este sistema de labranza, que utiliza sembradoras especiales, se basa en la<br />

implantación de un nuevo cultivo sobre el rastrojo ‘intacto’ del cultivo anterior (Lombardo-Gonella, 1995). Los determinantes de su<br />

adopción han sido básicamente: a) la disponibilidad en el mercado de sembradoras; b) los efectos acumulados de la erosión de suelos<br />

que afectan el resultado operativo de las empresas agropecuarias; y c) la reducción de costos directos por hectárea por eliminación de<br />

labores. Las ventas de sembradoras de SD aumentaron en el período 1992-1997 de 1140 a 2800 unidades (Chudnovsky et al, 1999).<br />

Esta tecnología viene acompañada de una fuerte aplicación de herbicidas y fitosanitarios. El uso de tecnologías incorporadas<br />

a insumos químicos (fertilizantes y biocidas) fue muy baja hasta fines de la década de 1970, momento en el cual la difusión de la soja<br />

se hizo junto con un paquete tecnológico que contemplaba el empleo de biocidas en cantidades superiores a los de otros cultivos. La<br />

SD reduce a cero la utilización de los equipos de labranza primaria y secundaria, debido a la ausencia de laboreo de la tierra. Por otro<br />

lado, incrementa el uso de las pulverizadoras y fertilizadoras, cambia la demanda de sembradoras y también las características del<br />

tractor, como así también de las cosechadoras en cuanto a los rodados y distribución de residuos, incluidos los acoplados tolva que<br />

extraen el cereal del campo (Bragachini et al, 2001).<br />

La difusión de este paquete tecnológico (SD-herbicidas) se vio favorecida en la década de 1990 por la implementación de un<br />

conjunto de medidas que le permitieron al productor primario tener mayor acceso a estos insumos a precios de mercado, en un<br />

momento en que el deterioro del suelo alcanzaba niveles alarmantes. Así, la oferta de agroinsumos en la Argentina se triplicó para el<br />

período 1992/97 (Chudnovsky et al, 1999).<br />

Por ese motivo, la SD puede ser llamada ‘conservacionista’ pero no necesariamente sostenible, ya que son técnicas de capital<br />

e información intensivas, existiendo claras economías de escala, que pueden llevar a colocar a productores pequeños y medianos en<br />

desventaja y favorecer la formación de empresas mayores y más verticalmente integradas, con un paralelo proceso de emigración rural<br />

(Barsky, 1991; citado por Solbrig y Vera, 1997).<br />

Debido a que se asocia con el sistema de labranza conservacionista y con materiales genéticos de última generación, son los<br />

herbicidas los que se constituyen en los mejores indicadores del sendero tecnológico adoptado a partir del proceso de intensificación<br />

de los sistemas de producción de oleaginosas en Argentina. Así, para el caso del glifosato (herbicida total de acción sistémica que es<br />

incorporado y metabolizado por la planta no quedando residuos en el suelo), las ventas en millones de litros pasaron de 1,1 en 1990<br />

a 59,2 en 1998 (Chudnovsky et al, 1999).<br />

El importante incremento del glifosato es atribuible a la expansión de la SD, a lo que se agrega en las últimas campañas su<br />

participación necesaria como parte del paquete tecnológico del cultivo de la soja transgénica (Soja RR), resistente a este herbicida<br />

total. “En poco menos de cinco años, la tasa de adopción de nuevas variedades de soja resistentes a herbicidas ha superado las<br />

expectativas de los vendedores más optimistas de la industria, alcanzando niveles nunca logrados en la historia de la agricultura<br />

moderna. Es así que en este período, la totalidad de la producción argentina de soja es transgénica” (Pengue, 2002). Partiendo<br />

821


prácticamente de cero en 1996, para 1998 más del 99% de la soja sembrada fue tolerante al glifosato. De esta manera, la Argentina se<br />

transformó en el país con mayor superficie con este tipo de tecnologías, después de los EEUU, y con las tasas de adopción más altas<br />

del mundo (Clive, 1998 citado en Chudnovsky et al, 1999).<br />

La temprana instalación en la Argentina de esquemas de bioseguridad e información pública acerca del manejo de los<br />

productos de la biotecnología y de los Organimos Genéticamente Modificados (OGM) fue una de las causas que permitieron el<br />

mencionado despliegue de la soja transgénica en la Argentina. En este contexto, los materiales transgénicos se encuentran sólidamente<br />

establecidos en el escenario productivo argentino, con ciertos efectos positivos tales como la reducción en la cantidad total de<br />

agroquímicos y la naturaleza de los herbicidas utilizados (Chudnovsky et al, 1999). En la Argentina, la incorporación de semillas GM<br />

ha estado liderada y explicada principalmente por el uso de soja “RR” 6 . A su vez, la innovación biotecnológica ha permitido la<br />

expansión del cultivo a zonas anteriormente marginales permitiendo un incremento de la producción total de soja. Esta expansión ha<br />

contribuido, además, con el aumento de la demanda por maquinaria, herbicidas y semillas aptas para aceite.<br />

A pesar de que la información acerca de las ganancias económicas derivadas de la incorporación de semillas transgénicas en la<br />

producción primaria es aún limitada (OECD, 2000), el hecho de que dichas variedades hayan sido efectivamente adoptadas por los<br />

agricultores sugiere que ellos se han visto ciertamente favorecidos al hacerlo. Entre los beneficios que se suelen mencionar figuran los<br />

menores costos de producción, los mayores rendimientos por hectárea y las mejoras en el manejo de los cultivos. La localización de<br />

la producción, las prácticas agrícolas empleadas, las características de los agricultores y la explotación −el nivel educativo, el nivel de<br />

inversión en tecnología, etc.− y consideraciones no relacionadas con las ganancias monetarias −mayor facilidad y flexibilidad en la<br />

producción−, son otros factores que estimularían la adopción de OGM en el agro (Civitaresi - Granato, 2001).<br />

Sin embargo, a la par del importante desarrollo de la ingeniería genética aplicada al agro y a la industria, se han esgrimido<br />

argumentos contrarios: algunos de sus oponentes sostienen que los efectos colaterales en términos de impactos potencialmente<br />

adversos en el ambiente y en la salud humana se desconocen y que, por esa razón, deberían adoptarse medidas precautorias. Como<br />

resultado del escepticismo respecto de los impactos de la nueva biotecnología, agrupaciones de consumidores, organizaciones no<br />

gubernamentales y algunos gobiernos han comenzado a adoptar actitudes y acciones que tienden a restringir el uso y consumo de<br />

OGM y productos derivados. Muchos consumidores críticos de los transgénicos, principalmente en países industriales, han comenzado<br />

a demandar la posibilidad de elegir entre productos alimenticios GM y no-GM 7 . Algunos gobiernos, por su parte, han comenzado a<br />

formular y reformular sus normativas nacionales y a establecer nuevos acuerdos multilaterales con el fin de regular el desarrollo y<br />

utilización de OGM, con lo cual podría verse afectado el ingreso de la producción argentina en dichos mercados (ibid).<br />

3.2. La oferta de tecnología y el rol de las multinacionales 8<br />

La mayor parte de las innovaciones tecnológicas en la etapa agrícola del complejo oleaginoso en general, y en el sojero en<br />

particular, son inducidas mayoritariamente por las empresas productoras de insumos y equipos para el agro -especialmente las<br />

empresas semilleras y agroquímicas- como así también por las empresas industriales primeras procesadoras de materia prima agrícola,<br />

a través de sus relaciones directas con los productores primarios -vía relaciones contractuales formales y no formales y de actividades<br />

de asesoramiento en el ámbito rural.<br />

La oferta tecnológica dirigida al sector de producción primaria abarca: semillas, fertilizantes y agroquímicos; producción de<br />

equipos y maquinaria para la agricultura y tecnología de procesos agrícola, presentando cada grupo sus particularidades.<br />

3.2.1. Semillas, fertilizantes y agroquímicos.<br />

La industria de la semilla es uno de los sectores más controvertidos en la actualidad. Tanto en lo concerniente a la investigación<br />

como a la comercialización, el control está cada vez más en manos grandes actores corporativos privados, quienes buscan afianzar los<br />

derechos de propiedad intelectual sobre los organismos vivientes haciendo de las biotecnologías un nuevo elemento que transformará<br />

radicalmente las relaciones entre la agricultura y el medio ambiente (Goodman y Redclift, 1991). La adquisición de compañías de<br />

semillas por parte de corporaciones industriales (petro-químicas y farmacéuticas) surgen del reconocimiento de que los excedentes<br />

generados a partir de las nuevas tecnologías son susceptibles de ser apropiados a partir de la comercialización de las semillas<br />

(Goodman y Redclift, 1991).<br />

En el complejo oleaginoso, este desarrollo en la biotecnología constituye la principal fuente de innovación tecnológica y está<br />

orientado precisamente a la introducción de nuevas variedades de semillas 9 . La manipulación genética en la producción de semillas<br />

oleaginosas se centra actualmente en dos aspectos de sus características biológicas: las especificaciones de los insumos tratando de<br />

reducir costos y aumentar los rendimientos y las especificaciones del sector del procesamiento persiguiendo la producción de semillas<br />

‘a medida’, según sus diversas aplicaciones. El caso más destacado del primer proceso es la semilla de soja RR ( Roundup Ready)<br />

tolerante al herbicida glifosato. Ambos insumos han sido desarrollados conjuntamente por Cargill (semillera) y Monsanto (Química).<br />

En Brasil y Argentina, el protagonismo creciente del sector privado se manifiesta en la presencia de prácticamente todas las<br />

grandes empresas globalizadas de genética vegetal y semilleras: Monsanto, Dekalb y Cargill (entre las que se dearrollaron fusiones,<br />

adquisiciones y colaboraciones estratégicas), Pioneer (la mayor parte de su paquete accionario pertenece ahora a DuPont), Mycogen,<br />

(junto con Morgan, son propiedad de Dow), Novartis, AgrEvo, Rhone Poulanc, DuPont, Ciba Geigy, Nidera. Algunas de las grandes<br />

822


empresas semilleras con filiales en la región y ‘traders’ internacionales, han avanzado, además, en el control de estos mercados<br />

comprando empresas semilleras locales 10 .<br />

Por su parte, instituciones gubernamentales como el Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria (INTA) ha jugado un<br />

papel central en las tecnologías precompetitivas de apropiación pública y en las actividades de evaluación y selección de germoplasma<br />

adaptado a las diferentes condiciones agroecológicas de la Argentina. Así, la mencionada institución posibilitó la rápida expansión de<br />

la soja en los años setenta y ochenta a través de la transferencia y difusión del paquete tecnológico. En particular, las investigaciones<br />

en soja se han orientado al mejoramiento y desarrollo de variedades resistentes a enfermedades y plagas (cancro del tallo), ecofisiología<br />

y manejo del cultivo, entre otras. En la actualidad, su función es la de proveer variedades adaptadas en las que serán incorporadas los<br />

genes manipulados por las empresas de tecnología.<br />

La utilización de biocidas (herbicidas, insecticidas y fungicidas) se ha incrementado en la Argentina a partir de la introducción<br />

del paquete tecnológico predominante (soja transgénica sumado a la SD). La provisión de estos insumos se concentra en las empresas<br />

multinacionales, las cuales son, como se dijo anteriormente, las mismas o socias de las que desarrollan las semillas específicas. Las<br />

filiales locales de dichas empresas sólo hacen experimentación y adaptación de tecnología generada en sus casas matrices (incluye<br />

ajuste de dosis y técnicas de aplicación) de donde se importan los principios activos.<br />

De la misma manera, el abastecimiento de fertilizantes proviene fundamentalmente de las grandes multinacionales de insumos,<br />

exceptuando algunos productos específicos que están en manos de firmas locales. Los procesos de I&D se restringen a la casa matriz,<br />

pero frecuentemente se demandan servicios al sector público (INTA, Universidades Nacionales) de tipo adaptativo (determinación de<br />

dosis óptimas, técnicas de aplicación). En Argentina, la investigación, adaptación y desarrollo de tecnología está orientada a la<br />

corrección de deficiencias de nutrientes la cual se realiza tanto en organismos públicos como privados, a lo cual debe sumarse la<br />

difusión efectuada por las propias empresas comercializadoras y los proveedoras de este tipo de insumos.<br />

Es precisamente en este grupo de tecnologías –semillas, biocidas y fertilizantes- donde se han dado los procesos más<br />

importantes de consolidación (a través de fusiones, adquisiciones y colaboraciones estratégicas), industrialización y propiedad de la<br />

investigación de las grandes empresas multinacionales, dando lugar a cuestionamientos sobre quién ejercer el ‘control’. Los objetivos<br />

de la investigación actualmente en curso muestra claramente que la tecnología disponible en un futuro cercano vendrá a satisfacer,<br />

principalmente, los requerimientos de los propios ‘traders’ de commodities (por ejemplo, Cargill) para obtener mayores beneficios<br />

al verse posibilitados de ofrecer commodities diferenciados a la industria transformadora. Parece poco probable que, tal como ellos<br />

mismos lo proponen (Baker, 2001), las ganancias, resultado del uso de la nueva biotecnología y generada a través de toda la cadena de<br />

valor, pudiera alcanzar a los productores primarios, sobre todo a aquellos de los países menos desarrollados quienes deben competir<br />

con sus pares en mercados subsidiados. Más aún, las estrategias de estas grandes multinacionales afectan también a los proveedores<br />

locales de insumos, concentrando las ventas a aquellos productores de mayor escala a quienes, además, proveen de las mejores<br />

modalidades de financiamiento.<br />

3.2.2. Producción de equipos y maquinaria para la agricultura<br />

Con respecto a la maquinaría agrícola, hay una importante proporción de la oferta vinculada a la industria local, la cual<br />

presenta una larga trayectoria en lo relativo a tractores, arados, sembradoras, pulverizadoras y cosechadoras. El proceso de apertura<br />

de la economía, a partir de la década de 1990, posibilitó el ingreso con aranceles preferenciales de equipamientos modernizando el<br />

parque local y estimulando la incorporación de mejoras en las maquinas nacionales. El desarrollo tecnológico de las sembradoras de SD<br />

fabricadas en Argentina en los últimos años, inspirada en las de empresas líderes (John Deere, Great Plaints, Kinze, Case, Flexicoil),<br />

se suma a la oferta importada (Bragachini et al, 2001). La particularidad de las sembradoras de SD es que son tecnologías innovativas<br />

a la que no puede accederse a través de mejoras en las sembradoras usadas, por lo que el productor que desea incorporarla deberá<br />

invertir en su compra o bien contratar el servicio de terceros.<br />

A pesar de la importante participación de la oferta nacional de maquinaria 11 , el creciente uso de los contratistas, así como del<br />

asociativismo para la compra y utilización, revela el inadecuado tamaño de la maquinaria sobre todo para las explotaciones de menor<br />

tamaño. Situación que se verifica principalmente en el equipo de SD para la soja.<br />

En Argentina, el riego es de tipo complementario y su aplicación se restringe a etapas críticas del cultivo y en zonas de menor<br />

balance hídrico. Se han difundido a partir de oferentes privados y constituye un área escasamente abordada por el sector público. En<br />

general, los equipos son importados y, en menor medida, producidos localmente bajo licencia. Es frecuente que, junto con la compra<br />

se suministre la asistencia técnica e instalación del sistema. No obstante, la inversión requerida para su incorporación es muy elevada<br />

para las explotaciones de menor escala.<br />

3.2.3. Tecnología de proceso agrícola: servicios de asistencia técnica.<br />

El desarrollo de paquetes tecnológicos por parte de las grandes multinacionales del sector (semillas junto con biocidas y asesoramiento<br />

técnico), se acompaña con la asistencia técnica tanto para difundir el uso de sus productos como para alcanzar (en el caso de las semilleras)<br />

un mayor control de la difusión del material genético. Es una modalidad que antes estaba en manos de instituciones públicas pero que fue<br />

ocupado crecientemente por las empresas privadas con el objetivo de desempeñar un papel estratégico en la difusión tecnológica en la<br />

producción primaria, dirigida, básicamente, a las grandes explotaciones empresariales del sector agrícola.<br />

823


Los agentes del acopio de granos (muchas veces las mismas firmas trituradoras y ‘traders’) participan también en actividades<br />

de estímulo a la adopción de nuevas técnicas productivas y al desarrollo de nuevas áreas de producción, a través de la extensión<br />

tecnológica y el financiamiento.<br />

En Argentina, país en el que la difusión y adopción de la SD de soja transgénica fueron muy dinámicas, cabe resaltar el papel<br />

que en este proceso ha tenido y conserva el sector privado y las ONGs. En particular, la Asociación Argentina de Productores en SD<br />

(AAPRESID) y la Asociación Argentina de Consorcios Regionales de Experimentación Agropecuaria (AACREA). Los Contratos de<br />

Vinculación Tecnológica realizados por el INTA con agentes del complejo oleaginoso abordaron, entre otros aspectos, temas vinculados<br />

con desarrollo y evaluación de nuevos cultivares de soja y girasol. Dentro de este marco, el INTA suscribió, en 1998, un CVT con 19<br />

empresas de semillas, entre las que figuran las principales empresas transnacionales que operan en el país, para la investigación e<br />

introducción, en el futuro, de nuevas semillas de girasol de alto contenido oleico. Además, los laboratorios y Facultades de las<br />

Universidades Nacionales participan en la conformación de la oferta tecnológica a la producción primaria.<br />

La controversia se ha planteado, entonces, sobre el origen de las tecnologías que se utilizan en los países en desarrollo. Esto<br />

es, la difusión y replicación masiva de paquetes tecnológicos introducidos por las grandes multinacionales de insumos y sus<br />

implicancias. A continuación se tratarán de explicitar algunos de los efectos que el nuevo paquete tecnológico que acompaña a la<br />

producción de soja ha tenido en una región específica.<br />

4. Impactos de la tecnología en los sistemas agropecuarios del sur de Córdoba<br />

La base productiva de la región del sur de Córdoba ha estado constituida en su mayor parte por el aporte del sector primario<br />

y del sector comercio y servicios, en gran parte vinculado al primero. Por su parte, la participación del sector industrial ha sido escasa<br />

y su mayor proporción corresponde al rubro alimentario (IDR, 1996). El sector primario ha estado históricamente representado por<br />

un sistema de producción predominante agrícola-ganadero.<br />

El desarrollo de los sistemas mixtos en esta región ha sido consecuencia del proceso de distribución de las tierras y de las<br />

características edafoclimáticas de la zona (estas últimas se especifican más adelante). Históricamente, estas tierras estuvieron dedicadas<br />

exclusivamente a la ganadería, siendo la producción trasladada a Chile. Para 1870, el gobierno nacional fundó las primeras colonias<br />

iniciando así un proceso de poblamiento, reforzado a partir de 1900 por el tendido de las líneas de ferrocarril. La llegada de los colonos<br />

dio comienzo a la actividad agrícola cuya producción se destinaba principalmente al puerto de Buenos Aires (IDR, 1996).<br />

Desde el punto de vista socio-productivo, la característica más relevante en el sector primario es la preeminencia de explotaciones<br />

familiares (de entre 100 y 400 hectáreas) las cuales se afianzaron a partir de la estrategia de combinación de actividades e incorporación<br />

de tecnologías favorecidas por un conjunto de políticas vigentes a nivel nacional. Sin embargo, en la década de 1990, el deterioro de los<br />

precios relativos del sector contribuyó a la necesidad de aumentar la escala de trabajo generando un proceso de concentración de la<br />

propiedad o tenencia de la tierra para todo el espectro de sistemas productivos y, particularmente, en el caso de las explotaciones<br />

pequeñas y medianas predominantemente agrícolas, que han sido las más afectadas (Wehbe-Civitaresi, 2001). El cuadro siguiente<br />

muestra los sistemas productivos predominantes en la región al momento de realizarse el Relevamiento Agropecuario en el año 1999<br />

(Secretaría de Agricultura y Recursos Renovables de la Pcia. De Córdoba) 12 .<br />

Cuadro 1: Región del sur de Córdoba: Sistemas productivos predominantes<br />

Sistemas productivos<br />

Explotaciones Superficie<br />

Nro. % ha. %<br />

Agrícola Ganadero 1.301 32% 920.669 39% 719,8<br />

Ganadero Bovino 1.174 29% 622.738 27% 539,5<br />

Ganadero Bov. –Agrícola 306 8% 105.580 5% 345<br />

Agrícola 309 8% 120.602 5% 391,8<br />

Agrícola Bov. –Porcino 151 4% 43.019 2% 284,9<br />

Agrícola Gan.- Agrícola 78 2% 44.162 2% 566,2<br />

Otros 743 18% 476.049 20% 798,7<br />

TOTALES 4062 100% 2.332.819 100% 589,5<br />

Fuente: INTA (2001)<br />

824<br />

Superficie<br />

Promedio ha por<br />

EAP´s


El avance del cultivo de la soja en la región se observa claramente en el porcentaje de crecimiento del área sembrada desde fines<br />

de la década de 1970, siendo consecuencia de factores tales como la existencia de una demanda externa sostenida, la evolución de su<br />

precio relativo y la disponibilidad de tecnologías que favorecen el aumento de la producción de distintos cultivos.<br />

Cuadro 2: Area sembrada con soja (en hectáreas)<br />

Campañas Provincia de<br />

Córdoba<br />

Quinquenio 1976/77-<br />

1980/81<br />

Quinquenio 1980/81-<br />

1985/86<br />

Quinquenio 1985/86-<br />

1990/91<br />

Quinquenio 1990/91-<br />

1995/96<br />

261.578 27.760<br />

748.780 70.460<br />

1.263.085 195.125<br />

1.382.860 208.300<br />

1996/97 1.596.700 232.000<br />

1997/98 1.833.650 236.000<br />

1998/99 1.946.950 272.000<br />

1999/00 2.497.065 350.000<br />

2000/01 2.966.000 444.000<br />

825<br />

Región del sur de<br />

Córdoba (*)<br />

(*) La región del sur de Córdoba comprende los departamentos General Roca, Roque Saenz Peña,<br />

Juárez Celman y Río Cuarto.<br />

Como se observa, el área sembrada con soja en la región del sur de Córdoba ha crecido proporcionalmente más que en el total<br />

provincial, la cual muestra en conjunto un fuerte proceso de sustitución dentro de las actividades primarias.<br />

Cuadro 3: Superficie total destinada a la Producción Agropecuaria<br />

Fuente de información Sup. Agricultura<br />

(ha.)<br />

Sup. Ganadería<br />

(ha.)<br />

Total (ha.)<br />

CNA 1988 3.078.445 9.634.540 12.712.985<br />

Relevamiento Agr. 1999 4.860.695 8.430.591 13.291.286<br />

Diferencias + 58% - 13% + 4%<br />

Transferencia de la Ganadería hacia la Agricultura 1.203.949<br />

Fuente: Relevamiento Agropecuario 1999. Resultados. SAyG de Córdoba citado en INTA (2001)


En Córdoba, durante la década de 1990, se incrementó la superficie dedicada a la agricultura (+ 58%) a expensas de tierra<br />

utilizada para la ganadería (-13%) y otros usos. En dicho marco, la superficie cosechada de oleaginosas creció en mayor proporción<br />

que los cereales, presentando la soja la mayor expansión (+109%), seguido por el maní y el girasol.<br />

Cuadro 4: Evolución de la superficie cosechada provincial<br />

TOTAL CEREALES<br />

Soja<br />

Girasol<br />

Maní<br />

TOTAL<br />

OLEAGINOSAS<br />

TOTAL<br />

AGRICULTURA<br />

TRIENIO miles has. var. %<br />

89/90-91/92 1.347<br />

97/98-99/00 1.637<br />

89/90-91/92 2.763<br />

97/98-99/00 5.787<br />

89/90-91/92 500<br />

97/98-99/00 863<br />

89/90-91/92 243<br />

97/98-99/00 465<br />

89/90-91/92 1.788<br />

97/98-99/00 3.118<br />

89/90-91/92 3.136<br />

97/98-99/00 4.755<br />

826<br />

+ 21,53<br />

+ 109,45<br />

+ 72,60<br />

+ 91,36<br />

+ 74,38<br />

+ 51,63<br />

Fuente: Relevamiento Agropecuario 1999. Resultados. SAyG de Córdoba citado en INTA (2001)<br />

Siguiendo la metodología citada por Masera y López-Ridaura (ver sección 2) para la evaluación de la sostenibilidad de un<br />

sistema de manejo o agroecosistema es necesario, en primer lugar, definir los principales determinantes sobre los que descansa la<br />

evolución del cultivo de soja en esta región: biofísicos; tecnológicos y de manejo; y socio-económicos y culturales. En segundo lugar,<br />

se tratará de evaluar las implicancias que se han derivado de la expansión de dicho cultivo en términos de la sostenibilidad del proceso<br />

en la región según las tecnologías empleadas y a partir de los atributos propuestos por esta metodología: productividad; adaptabilidad;<br />

confiabilidad, estabilidad y resiliencia; equidad; y autodependencia.<br />

4.1. Determinantes biofísicos de la región:<br />

La región corresponde al área agroecológica V (ganadera agrícola del sur) 13 . En su conjunto es considerada como una zona<br />

marginal de la región pampeana argentina, o de transición entre la pampa húmeda y las áreas áridas del oeste (región de cuyo), la cual<br />

comprende tres zonas homogéneas con diferentes características biofísicas:


Cuadro 5: Determinantes biofísicos de la región (por zonas ecológicas homogéneas)<br />

Zona Semiárida Centro- Oeste, caracteriza por un déficit hídrico de 100 a 200 mm anuales y con<br />

invierno térmico. El paisaje es ondulado a suavemente ondulado, predominando suelos Molisoles sin B<br />

textural asociados, en algunos sectores, con suelos de escaso desarrollo (Entisoles). Tiene gran<br />

importancia la erosión hídrica, la que condiciona el manejo de estos suelos.<br />

Zona Semiárida Subhúmeda del Sudeste, con una deficiencia hídrica de menos de 100 mm anuales,<br />

que se incrementa hacia el oeste y presenta invierno térmico. Predomina una amplia planicie<br />

suavemente ondulada, con inclusiones de hasta un 15% de depresiones inundables y lagunas<br />

temporarias y permanentes. Los suelos han evolucionado a partir de materiales de textura franca a más<br />

gruesa, presentando suelos Molisoles en las lomas y alcalino-sódicos en los bajos.<br />

Zona Semiárida del Sur, con déficit hídrico de 200 a 300 mm y con invierno térmico. Es una planicie<br />

suavemente ondulada de materiales franco arenosos a arenosos, en donde hay sectores de erosión eólica y<br />

médanos vivos. Predominan los suelos Molisoles, asociados con Entisoles<br />

Zona Semiárida Centro- Oeste, caracteriza por un déficit hídrico de 100 a 200 mm anuales y con invierno térmico. El paisaje es<br />

ondulado a suavemente ondulado, predominando suelos Molisoles sin B textural asociados, en algunos sectores, con suelos de escaso<br />

desarrollo (Entisoles). Tiene gran importancia la erosión hídrica, la que condiciona el manejo de estos suelos.<br />

Zona Semiárida Subhúmeda del Sudeste, con una deficiencia hídrica de menos de 100 mm anuales, que se incrementa hacia el oeste<br />

y presenta invierno térmico. Predomina una amplia planicie suavemente ondulada, con inclusiones de hasta un 15% de depresiones<br />

inundables y lagunas temporarias y permanentes. Los suelos han evolucionado a partir de materiales de textura franca a más gruesa,<br />

presentando suelos Molisoles en las lomas y alcalino-sódicos en los bajos.<br />

Zona Semiárida del Sur, con déficit hídrico de 200 a 300 mm y con invierno térmico. Es una planicie suavemente ondulada de<br />

materiales franco arenosos a arenosos, en donde hay sectores de erosión eólica y médanos vivos. Predominan los suelos Molisoles,<br />

asociados con Entisoles<br />

4.2. Determinantes tecnológicos y de manejo:<br />

Existen en la región dos prácticas culturales diferenciadas: la labranza convencional y la SD, cada una de las cuales significa<br />

diferentes tecnologías y prácticas de manejo, cuyas principales características se señalan en el cuadro que sigue:<br />

827


Cuadro 6: Determinantes tecnológicos y de manejo<br />

Sistema de<br />

labranza<br />

Tecnología<br />

empleada<br />

Manejo de Suelos<br />

- Calendario<br />

Manejo de Suelos<br />

- Sucesión de<br />

cultivos<br />

Labranza tradicional Siembra directa (labranza cero)<br />

Arado de reja (dos veces); Disco (doble<br />

acción, disco pesado) (dos doble<br />

acción); Cincel (una vez)<br />

A) Presiembra: barbecho mecánico en<br />

julio: a) arado cincel, b) rastra de doble<br />

acción, c) rastra de dientes; B) Siembra<br />

con sembradora de grano grueso en<br />

octubre; C) Control químico de malezas<br />

e insectos: en diciembre aprox.; D)<br />

Cosecha en abril.<br />

828<br />

Se requiere sembradora adaptada para<br />

trabajar eficientemente en un suelo<br />

“firme” y con residuos en superficie.<br />

A) Presiembra: barbecho químico<br />

(Round up) en octubre; B) Siembra con<br />

sembradora de grano grueso para SD en<br />

noviembre; C) Control químico de<br />

malezas e insectos: tres pulverizaciones<br />

terrestres y una pulverización aérea en<br />

diciembre aproximadamente; D)<br />

Cosecha: abril/mayo.<br />

El cultivo puede realizarse de manera exclusiva (soja de primera) rotándose<br />

anualmente con maíz o sorgo. La soja de segunda implica el doble cultivo anual.<br />

Fertilización Tradicionalmente no se fertiliza (si en el caso de sistemas de punta) sino que se<br />

inocula la soja al momento de la siembra o se utiliza soja inoculada. La soja es una<br />

leguminosa por lo que tiene poder para 'fijar' nitrógeno del aire, mediante una<br />

asociación simbiótica con bacterias del género Rhizobium, proceso optimizado por<br />

un tratamiento que se aplica a la semilla (inoculación). Esto reduce las necesidades<br />

de fertilización.<br />

Xonservación No Si. Apoyada en el control químico.<br />

Manejo de plagas<br />

y enfermedades<br />

No existe manejo integral de plagas (a no ser que se trate de sistemas de punta). En<br />

general se actúa bajo ataque (o utilizando los sistemas de alerta del INTA)<br />

aplicando plagicidas.<br />

Manejo de malezas Control químico de malezas e insectos<br />

(puede ser laboreado: escardillo,<br />

pulverización terrestre y aérea).<br />

Fuente: Elaboración propia en base a informantes calificados.<br />

4.3. Determinantes socio-económicos y culturales:<br />

Control químico de malezas e insectos.<br />

El impacto ambiental indeseable<br />

asociado a este sistema es el mayor uso<br />

de agroquímicos (biocidas) con la<br />

generación de externalidades negativas,<br />

en forma de productos químicos<br />

transportados por aire, agua o<br />

incorporados a los granos.<br />

Los productores primarios del Area Agroecológica V, encuentados en el Relevamiento del año 1999, sumaron 5363, cubriendo<br />

una superficie total de aproximadamente 3 millones de hectáreas. De este total, el 33% (1748 productores) se dedican al cultivo de<br />

la soja, y los mismos están distribuidos como sigue según las tres zonas homogéneas que constituyen aproximadamente el total de la<br />

región:


Cuadro 7: Productores de soja por zona ecológica homogénea (Area agroecológica V)<br />

Productores que<br />

cultivan:<br />

Zona 10 Zona 11 Zona 12 Total<br />

Número Has soja Número Has soja Número Has<br />

soja<br />

829<br />

Número Has<br />

soja<br />

Soja 1era 635 85.422 633 102.165 103 14.170 1.371 201.757<br />

Soja 1era y 2da 59 22.278 196 95.572 16 5.014 271 122.864<br />

Soja de 2da 15 1.625 74 8.616 17 2.468 106 12.709<br />

Total 709 109.325 903 206.353 136 21.652 1.748 337.330<br />

Fuente: Elaboración propia en base a datos del Relevamiento Agropecuario 1999.<br />

La mayor cantidad de productores dedicados al cultivo de soja se encuentran en la zona norte (10) y este (11) de la región, las<br />

cuales son más aptas para la agricultura. No obstante se observa una importante ampliación de dicho cultivo hacia la zona sur (12) si<br />

se comparan las hectáreas destinadas a esta actividad con aquellas que indicaba el Censo Nacional Agropecuario 1988 (CNA 1988):<br />

alrededor de 11 mil hectáreas cultivadas con soja en el departamento General Roca.<br />

Si bien en las explotaciones de la región predominan los sistemas de producción mixtos, en el siguiente cuadro se puede<br />

observar la mayor preponderancia de actividades agrícolas por sobre las ganaderas en aquellas que se dedican al cultivo de soja. Cabe<br />

destacar que de los productores que realizan soja, sólo un 6,4% lo hace bajo sistemas agrícolas puros (sin actividades ganaderas de<br />

ningún tipo) y de ellos la mitad hacen soja exclusivamente.<br />

Cuadro 8: Productores de soja – uso de la tierra: estadísticas básicas<br />

Estadísticas Has totales Has<br />

arrendadas<br />

Has<br />

agricultura<br />

Has<br />

ganadería<br />

Media 806 258 443 329 193<br />

Mediana 360 72 200 116 90<br />

Moda 200 0 100 0 50<br />

Desviación estándar 1314 660 757 688 335<br />

Has Soja<br />

Suma de hectáreas 1.408.927 451.220 774.998 575.281 337.330<br />

Total de productores 1.748 1.748 1.748 1.748 1.748<br />

Elaboración propia en base a datos del Relevamiento Agropecuario 1999.<br />

El siguiente cuadro demuestra que entre las explotaciones que se dedican a la producción de soja predominan aquellas de<br />

tamaño mediano a chico, en función de la estructura productiva de la región, y están caracterizadas por una forma de organización de<br />

la producción de tipo familiar capitalista.<br />

Fuente:


Cuadro 9: Productores de soja – Cantidad de productores por tamaño de producción<br />

Has totales Frecuencia % % acumulado % acumulado de tierras<br />

Menos de 200 490 28.03% 28.03% 4%<br />

Entre 200 y 400 460 26.3% 54.35% 14%<br />

Entre 400 y 600 231 13.2% 67.56% 22%<br />

Entre 600 y 800 120 6.9% 74.43% 28%<br />

Entre 800 y 1000 100 5.7% 80.15% 34%<br />

Entre 1000 y 1200 50 2.9% 83.01% 38%<br />

Entre 1200 y 1400 40 2.3% 85.30% 42%<br />

Entre 1400 y 1600 45 2.6% 87.87% 47%<br />

Entre 1600 y 1800 34 1.9% 89.82% 51%<br />

Entre 1800 y 2000 21 1.2% 91.02% 54%<br />

Entre 2000 y 4000 98 5.6% 96.62% 73%<br />

Entre 4000 y 6000 34 1.9% 98.57% 85%<br />

Mayor de 6000 25 1.4% 100.00% 100%<br />

Elaboración propia en base a datos del Relevamiento Agropecuario 1999.<br />

4.4. Atributos de la sostenibilidad:<br />

Si bien los productores agropecuarios son agentes económicos racionales, en función de la información y recursos disponibles<br />

y en términos de las decisiones sobre qué cultivos realizar, como así también de qué tipo de tecnologías utilizar, resulta válido destacar<br />

que dichas decisiones suelen ser de muy corto plazo 14 . De esta forma, generalmente se dejan de lado los impactos que dichas<br />

decisiones puede tener sobre la sostenibilidad a nivel individual y social, desde que se intensifica el proceso de agriculturización, la<br />

tendencia al monocultivo, especialmente en soja, y la difusión de un paquete de tecnologías basadas fundamentalmente en la<br />

incoporación de insumos.<br />

El paquete tecnológico que ha acompañado a la expansión del cultivo de soja está constituido por mejoras de la genética<br />

incorporada en la semilla, la SD o labranza cero y el creciente uso de agroinsumos, principalmente biocidas y en mucha menor<br />

proporción fertilizantes. La aplicación de dicho paquete a significado en la región la posibilidad de mejoras en la situación de los<br />

productores en términos de incrementos de productividad, si bien no se han alcanzado los niveles de otras zonas del país. Esto<br />

responde a las características edafoclimáticas de la región, como así también a la no incorporación del paquete tecnológico completo<br />

–sobre todo por parte de los productores de menor escala. En términos agregados, la evolución de los rendimientos del cultivo en la<br />

región pueden apreciarse en el siguiente cuadro:<br />

830<br />

Fuente:


Cuadro 10: Area sembrada y producción de soja. Sur de Córdoba<br />

Campañas<br />

Quinquenio 1976/77-<br />

1980/81<br />

Quinquenio 1980/81-<br />

1985/86<br />

Quinquenio 1985/86-<br />

1990/91<br />

Quinquenio 1990/91-<br />

1995/96<br />

Región del sur de Córdoba (*)<br />

Superficie (ha)<br />

Sembrada Cosechada<br />

831<br />

Producción (tn) Rendimiento (qq/ha)<br />

27.760 26.195 42.535 17,16<br />

70.460 67.743 126.262 18,40<br />

195.125 167.560 292.118 17,73<br />

208.300 194.750 380.125 19,68<br />

1996/97 232.000 188.800 225.690 11,95<br />

1997/98 236.000 219.250 586.740 26,76<br />

1998/99 272.000 239.200 499.319 20,87<br />

1999/00 350.000 346.500 840.630 24,26<br />

2000/01 444.000 399.000 757.700 18,99<br />

Fuente: SAGyRR, Cba. Subsecretaria de Desarrollo Agropecuario, Dirección de Estructura Agraria, Subdir. de Economía y Sociología<br />

Rural<br />

(*) La región del sur de Córdoba comprende los departamentos General Roca, Roque Saenz Peña, Juárez Celman y Río Cuarto.<br />

Los rendimientos rondan en promedio los 22 quintales por hectárea, aún cuando las desviaciones respecto de esta media son<br />

muy amplias. Según el análisis realizado por los técnicos del INTA Río Cuarto se sugiere que los rendimientos varían entre 7 y más<br />

de 30 quintales por hectárea.<br />

Por su parte, y a nivel de las explotaciones, la productividad de la mano de obra se ha visto incrementada como consecuencia<br />

de la disminución de horas de trabajo requerida cuando se incorpora el uso de la SD, contribuyendo con la problemática actual del<br />

mercado de trabajo en general.<br />

Sin embargo, este proceso encubre un conjunto de problemas que hacen a las características particulares de esta región. En<br />

primer lugar, el avance del proceso de agriculturización de la mano del cultivo de soja, ha generado problemas vinculados a la estructura<br />

de los suelos. El avance del cultivo de la soja en esta región ha significado una mayor participación de la agricultura por sobre la<br />

producción de carne y leche, implicando el uso agrícola de tierras con importantes limitantes en cuanto al drenaje, salinidad y<br />

susceptibilidad a erosión (hídrica y eólica). Se ha contribuido con el proceso de degradación de los suelos: disminución de la<br />

disponibilidad de los nutrientes de los suelos y la degradación de las propiedades físicas y biológicas de los mismos con la consecuente<br />

disminución de la disponibilidad de agua para los cultivos (INTA Manfredi, 2001).<br />

Dicha problemática fue encarada, a nivel de la explotación, con la incorporación al paquete tecnológico de la SD. Esta, como<br />

un instrumento de adaptación para detener la degradación del recurso suelo frente a la agriculturización, crece sostenidamente a partir<br />

de la década de 1990. Con ello se logra mejorar la eficiencia del uso del agua aunque no la disminución del reservorio de nutrientes por<br />

la ausencia de fertilización (ibid).<br />

A continuación se observa la cantidad de productores de soja que han incorporado la SD, aún cuando los datos existentes no<br />

especifican que dicha práctica haya sido incorporada exclusivamente a dicho cultivo.


Cuadro11: Productores de soja – Sistemas de manejo de suelo<br />

Productores que cultivan: Total Con SD Con labranza<br />

tradicional<br />

Soja 1.748 650 1.098<br />

Soja 1era 1.371 418 953<br />

Soja 1era y 2da 271 178 93<br />

Soja de 2da 106 54 52<br />

Fuente: Elaboración propia en base a datos del Relevamiento Agropecuario 1999.<br />

Cuando la agriculturización se profundiza a través del monocultivo, especialmente para el caso de la soja, disminuye el<br />

balance de materia orgánica en el suelo, afectando su estructura, a pesar del uso de la SD. En la región, de aquellos productores que<br />

hacen agricultura únicamente (6,4%) sólo la mitad de ellos hacen soja exclusivamente y, si bien no hay datos de la rotación anual de sus<br />

cultivos podría esperarse que, dada la situación actual de los mercados, continúen haciendo soja sobre soja. Al respecto, los analistas<br />

sugieren que el incremento en el precio de los insumos podría aumentar la tendencia hacia el monocultivo de soja dada la mayor<br />

inversión inicial requerida para, por ejemplo, el cultivo de maíz, lo cual incidiría en mayor proporción sobre las unidades productivas<br />

de menor tamaño.<br />

Los anteriores procesos se profundizan con la difusión intensa de la cesión de tierras para arrendamiento, las cuales son<br />

utilizadas en su mayor proporción para la agricultura (predominando el cultivo de soja y otras oleaginosas).<br />

Cuadro 12: Productores de soja – Tierras en arrendamiento<br />

Productores que arriendan: Número Cantidad de hectáreas<br />

Parte de la superficie explotada 808 349079<br />

La totalidad de la superficie<br />

explotada (*)<br />

217 102.141<br />

Total 1025 451220<br />

Fuente: Elaboración propia en base a datos del Relevamiento Agropecuario 1999.<br />

(*) Rango de variación: Entre 30 y 7700 hectáreas.<br />

En segundo lugar, estudios realizados en la región muestran que la adopción de la práctica de SD en el cultivo de la soja, así<br />

como la introducción de organismos genéticamente modificados (OGM), implica el reemplazo de las labranzas primarias por la<br />

aplicación de herbicidas, lo que permite la aparición de especies malezas que se mantenían controladas en el sistema tradicional<br />

(Abascal y Raimondo, 2002). Además, se ha evaluado el control químico obtenido por diversos herbicidas, dosis y mezcla de<br />

productos sobre diferentes malezas que empiezan a observarse en lotes de SD, registrándose una mayor tolerancia de aquellas, sobre<br />

todo cuando reciben agua al poco tiempo de la aplicación (Rainero y Rodríguez, 2002). En algunos estudios se encontró que el<br />

agregado del coadyuvante ante la reducción de dosis como práctica de ajuste para el manejo de las malezas, mejora su control (Zorza,<br />

Daita y Sayago, 2002), aunque algunos autores sostienen que pueden resultar más tóxicos que los propios herbicidas (Pengue, 2002).<br />

Finalmente, estudios realizados en la Facultad de Ciencias Agrarias de Rosario (Nisensohn, 2002) determinaron la existencia de<br />

biotipos de malezas resistentes a los biocidas. En todos los casos aumenta el requerimiento de mayores dosis, así como también el<br />

conocimiento y disposición del productor para su aplicación. A ello hay que sumarle el impacto negativo sobre la biodiversidad y la<br />

mayor contaminación del suelo con plaguicidas (no se han realizado hasta la fecha mediciones locales respecto de la incidencia del<br />

manejo de los biocidas para el hombre y el medio ambiente).<br />

Tanto la problemática de la degradación de los suelos, como la de pérdida de nutrientes, aparición, resistencia y tolerancia de<br />

malezas, implican serios cuestionamientos en cuanto a la confiabilidad, estabilidad y resiliencia que el paquete tecnológico utilizado<br />

aporta al sistema de cultivo de soja. Más aún, variaciones o perturbaciones en los mercados (por ejemplo, un incremento en el precio<br />

de los insumos requeridos) podrían alterar el uso ‘eficiente’ de paquete tecnológico y afectar los rendimientos productivos del<br />

sistema.<br />

832


En síntesis, y como consecuencia de lo anterior, la agriculturización y posterior monocultivo que ha significado la expansión<br />

de la soja en esta región implicó una creciente dependencia de insumos externos por parte de los productores primarios, por<br />

imposición y para satisfacción de las principales multinacionales que son las mayores proveedoras y comercializadoras de agroinsumos<br />

en la Argentina. De esta manera, se afecta la capacidad del sistema de regular y controlar sus interacciones con el exterior (autodependencia).<br />

En una región que ha estado caracterizado por la preeminencia de explotaciones de tipo familiar, la dependencia de insumos<br />

externos ha significado una menor cantidad de alternativas, desde el punto de vista social de la explotación, con respecto a las que<br />

contaba anteriormente para hacer frente a distintos eventos, generando una mayor vulnerabilidad en términos de los potenciales<br />

riesgos, tales como: la creciente controversia entablada a nivel mundial en torno a los posibles efectos de los OGM; el incremento de<br />

los precios de los insumos; la ocurrencia de eventos climáticos adversos, comunes en esta zona; entre otros. En el primer caso, dicha<br />

controversia pondría en riesgo las posibilidades de exportación de la producción de soja, tanto nacional como regional, en el caso en<br />

que se intensifique la desconfianza de la población respecto del consumo humano de alimentos que provienen de OGM’s y su efecto<br />

sobre la biodiversidad. Con respecto al incremento de los precios de los insumos, se puede observar que en la futura campaña 2002/<br />

03, luego de la devaluación del peso argentino con respecto al dólar estadounidense, los montos de inversión requeridos para la siembra<br />

aumentarán afectando proporcionalmente más a los productores de menor escala comparado con aquellos empresarios capitalistas<br />

que pueden contar con sus propios fondos o conseguir mejores condiciones de prefinanciamiento de los grandes proveedores de<br />

agroinsumos. Por su parte, las características climáticas del área conllevan riesgos productivos –generados por sequías, inundaciones,<br />

heladas tardías, granizo– afectando con mayor intensidad a las explotaciones de menor tamaño dada su incapacidad de generar ahorros<br />

que le permitan sobrellevar estas circunstancias, sumado a la imposibilidad de dispersar geográficamente su actividad (tal la modalidad<br />

que adquirieron los ‘pools’ de siembra o las grandes explotaciones que arriendan tierras en diversos espacios geográficos).<br />

La actual situación implica nuevos desafíos para aquellas empresas familiares volcadas a la agricultura frente a una anterior<br />

situación donde la diversificación de actividades les permitía enfrentar algunos de los mencionados eventos con ingresos provenientes<br />

de actividades alternativas. Esto sumado al mayor costo relativo que significa para estas empresas la incorporación del paquete<br />

tecnológico impuesto, el desplazamiento de la mano de obra consecuencia de la difusión de la SD y la concentración de la producción<br />

(observada a través de la propiedad y tenencia de la tierra) ha generado un problema de equidad en términos de cómo se distribuyen<br />

los beneficios o costos del sistema de producción que se analiza.<br />

Porcentaje acumulado de<br />

hectáreas<br />

100%<br />

90%<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

Concentración en la utilización de la<br />

tierra<br />

0% 20% 40% 60% 80% 100%<br />

Porcentaje acumulado de productores<br />

héctareas trabajadas con soja héctareas trabajadas con soja<br />

Fuente: Elaboración propia en base a datos del Relevamiento Agropecuario 1999.<br />

La fuerte concentración en la producción, la incorporación de capitales extraregionales y la nueva forma de organización de la<br />

producción provoca en su conjunto la salida de los excedentes generados por la actividad hacia fuera de la región, una retracción de la<br />

actividad de los comercializadores de insumos y de la actividad económica en general, principalmente en las localidades de menor<br />

tamaño (Wehbe, 1997). Además, proliferan nuevas formas de relación entre la industria procesadora y la industria de agroinsumos con<br />

los productores primarios cuyas implicancias para con los últimos han sido por el momento parcialmente evaluadas.<br />

El rol de los mercados internacionales se ha establecido firmemente tanto a nivel de los proveedores de insumos como de los<br />

demandantes de los productos, con las implicancias que se han analizado. La autodependencia implica, desde el aspecto político–<br />

institucional de la sostenibilidad, una participación cada vez mayor del retraído Estado, sus instituciones y la sociedad civil, tal de<br />

encontrar la forma de sustituir, al menos parcialmente y como lo asevera Viglizzo, las tecnologías de insumos (cuyos beneficios son<br />

fácilmente apropiables por parte de quienes la proveen) por tecnologías de proceso e información. Considerando las tres dimensiones<br />

833


del proceso de desarrollo sostenible es necesario no sólo considerar los efectos de un paquete tecnológico sobre los recursos naturales<br />

sino también indagar en los impactos económicos y sociales de la actividad tanto para los productores en forma individual como para<br />

la región en su conjunto.<br />

Para finalizar, se hace mención a que la metodología propuesta por Masera y Lopez-Ridaura implica la evaluación de la<br />

sostenibilidad de forma relativa (dos sistemas alternativos o bien un mismo sistema en dos momentos del tiempo) y no de manera<br />

absoluta. En este trabajo se han abordado los diferentes atributos de la sostenibilidad de manera general y no comparativa, discutiendo<br />

las primeras hipótesis de una investigación en curso la cual prevé la evaluación de la sostenibilidad en la producción regional de<br />

oleaginosas en función de la comparación entre aquellos sistemas tradicionales, asociados a la combinación de actividades agrícolas y<br />

ganaderas, frente a la tendencia actual de expansión de los sistemas agrícolas puros.<br />

834


5. Bibliografía<br />

Abascal, F. y J. Raimondo (2002): Efectos de diferentes dosis de glifosato sobre la capacidad de rebrote de Commolina Erecta L En<br />

Resúmenes de las XI Jornadas Fitosanitarias Argentinas. Del 26 al 28 de Junio . Facultad de Agronomía y Veterinaria –<br />

UNRC.<br />

Baker, I. (2001): Future opportunities for oil-seed production through biotechnology. NSW Farmer annual conference. 25 de Julio.<br />

Sydney.<br />

Barkin, D. (1998): Riqueza, pobreza y desarrollo sustentable. Centro de Ecología y Desarrollo, A.,C. Editorial Jus SA de C.V. México.<br />

Bisang, R.; Gutman, G.; Roig, C. y Rabetino, R. (2000): La oferta tecnológica de las principales cadenas agroindustriales en el<br />

Mercosur ampliado. SERIE DOCUMENTOS Nº 12. Proyecto Global - PROCISUR- BID.<br />

Bragachini et al (2001): Maquinaría Agrícola Argentina: Análisis del Mercado. Consejo Federal de Inversiones. Http://www.cfired.org.ar<br />

Bragachini; Méndez; Martini y Monchamp (2001): Caracterización de los sistemas productivos argentinos que modifican la<br />

demanda de maquinaria agrícola. Consejo Federal de Inversiones. Http://www.cfired.org.ar<br />

Buttel, F. (1990): “Biotechnolgy and agricultural development in the Third World” en The Food Question, H. Bernstein et al editores.<br />

Monthly Review Press. New York. Pags. 163-180.<br />

Civitaresi, H.M. y Granato, M.F. (2001): El complejo oleaginoso argentino: algunos factores determinantes de su desempeño<br />

exportador. XXXII Reunión anual de la Asociación Argentina de Economía Agraria. Octubre de 2001 en la ciudad de<br />

Montevideo, Uruguay.<br />

Chudnovsky, D.; Cap, E.; Trigo, E. Y S. Rubin (1999): Comercio internacional y desarrollo sustentable. La expansión de las<br />

exportaciones argentinas en los años 1990 y sus consecuencias ambientales. http://fund-cenit.org.ar/documentos/dt25/<br />

indice.htm.<br />

De Janvry, A.; Sadoulet, E. Y E. Thorbecke (1993): “Special Issue” en World Development. Vol 21 nº 4. Pergamon Press. Grain Bretain<br />

FAO (1997): Biotechnology developments in the oilseeds sector. Committee on Commodity Problems. CCP:OF 97/4 http://www.fao.org.<br />

Galperín, C., L. Fernández e I. Doporto (2000): Los efectos potenciales del etiquetado de productos elaborados a partir de OGM: el<br />

caso del complejo sojero argentino. Anales de la Reunión de la Asociación Argentina de Economía Política. Córdoba,<br />

Argentina.<br />

Geymonat, A.; Donadoni, M.; Granda, J.; Regolini, M.; Vagnola, A.; Borghi, C. y Quiroga, L. (1998): La cadena alimentaria de la<br />

carne bovina en Córdoba, Instituto de Desarrollo Regional, Facultad de Ciencias Económicas - UNRC.<br />

Gobierno de Brasil (2001): Decreto n° 3871. http://www.mct.gov.br/legis/decretos/3871_2001.htm.<br />

Goodman, D. y M. Redclift (1991): Refashioning Nature. Food, ecology and culture. Rodledge Press. London. Introduction and<br />

chapter 5.<br />

Gutman, Graciela (2000): Trayectoria y demandas tecnológicas de las cadenas agroindustriales en el MERCOSUR ampliado –<br />

Oleaginosas: Soja y Girasol. PROCISUR, BID, Serie de Resúmenes Ejecutivos n° 3.<br />

INDEC (1989): Censo Nacional Agropecuario. Resultados generales de la Provincia de Córdoba.<br />

Instituto de Desarrollo Regional (1996): La región del sur cordobés. Reflexiones para su desarrollo. Facultad de Ciencias Económicas,<br />

UNRC.<br />

INTA (2001): Plan de Tecnología Regional 2001-2003. Centro Regional Córdoba. Córdoba, Argentina.<br />

INTA Manfredi (2001): Sustentabilidad de los sistemas agrícolas en la provincia de Córdoba. Factores que la condicionan. Estación<br />

Experimental INTA Manfredi.<br />

Lombardo, P. y M. Gonella (1995): El manejo del suelo en el área sojera. Revista Realidad Económica n° 134<br />

Lowy, C. (1995): Medio ambiente y desarrollo sustentable. Algunos aspectos económicos y políticos. Revista Realidad Económica.<br />

Masera, O. Y S. López-Ridaura (2000): Sustentabilidad y sistemas campesinos. Cinco experiencias de evaluación en el México Rural.<br />

Grupo Interdisciplinario de Tecnología Rural Apropiada A.C. México.<br />

Melconian, C., R. Santangelo, P. Goldin, R. Rozemberg y F. Martínez (2000): El impacto de las distorsiones del mercado internacional<br />

sobre el complejo oleaginoso argentino. CIARA.<br />

Naciones Unidas (1987). Nuestro futuro común. Nueva York, U.S.A<br />

835


Nielsen, Chantal P., S. Robinson y K. Thierfelder (2000) Genetic Engineering and Trade: Panacea or Dilemma for Developing<br />

Countries. TMD Discussion Paper No. 55. http://www.cgiar.org/ifpri/divs/tmd/dp/dp55.htm. Trade and Macroeconomic<br />

Division, International Food Policy Research Institute, Washington.<br />

Nisensohn, L. (2000): Resistencia y tolerancia a herbicidas. En Jornadas Interactivas sobre malezas y herbicidas. 13 de septiembre.<br />

Facultad de Ciencias Agrarias – UNR.<br />

Obschatko, Edith (1997): Articulación productiva a partir de los recursos naturales. El caso del complejo oleaginoso argentino.<br />

Cepal, Documento de trabajo Nro. 74.<br />

OECD (2000) Modern Biotechnology and Agricultural Markets: A Discussion of selected Issues. Directorate for Food, Agriculture<br />

and Fisheries. Committee for Agriculture. AGR/CA/APM(2000)5/FINAL. http://www.oecd.org<br />

Pengue, W. (2002): Expansión de la soja en Argentina. Globalización, Desarrollo Agropecuario e Ingeniería Genética: Un modelo<br />

para armar. http://www.grain.org/sp/publications/t-pengue-sp.cfm<br />

Portugal, Alberto D. (1999) “ desenvolvimento da biotecnologia agropecuária no Brasil. Artículo on-line en http://www.bnaf.org.br/<br />

palest02.htm.<br />

Rainero, H. y N. Rodríguez (2002): Alternativas del control químico de malezas con diferentes grados de tolerancia a glifosato. En<br />

Resúmenes de las XI Jornadas Fitosanitarias Argentinas. Del 26 al 28 de Junio . Facultad de Agronomía y Veterinaria –<br />

UNRC.<br />

Sepúlveda, S.; Castro, A. y Rojas, P. (1998): Metodología para estimar el nivel de Desarrollo Sostenible de Espacios Territoriales.<br />

Cuadernos Técnicos / IICA; no. 4. San José, C.R. IICA.<br />

Solbig, O. y Vera, R. (1997): “Impacto de la globalización en las llanuras del cono sur” en ¿Argentina granero del mundo: hasta<br />

cuando? La degradación del sistema agroproductivo de la Pampa Húmeda y sugerencias para su recuperación. Jorge<br />

Morello y Otto Solbirg compiladores. INTA. Orientación Gráfica Editora.<br />

Viglizzo, E. (1994): El INTA frente al desafío del desarrollo agropecuario sustentable. Seminario Internacional Desarrollo Agropecuario<br />

Sustentable. INTA − Centro Regional La Pampa − San Luis.<br />

Viglizzo, E. (2000): Tendencias y demandas de tecnología ambiental en eco−regiones predominantes del cono sur. Serie documentos<br />

nº 10. PROCISUR; BID. Montevideo, Uruguay.<br />

Wehbe, M.B. (1997): Regional consequences of the global agro-food system: rural changes in the south of Córdoba (Argentina).<br />

Research Paper, Institute of Social Studies, The Hague. Mimeo.<br />

Wehbe, M. y H. Martín Civitaresi (2001): La producción láctea regional y la reestructuración en el sistema agroalimentario.<br />

Impactos y estrategias en la región del sur de Córdoba. Universidad Nacional de Río Cuarto. Río Cuarto.<br />

Zorza, E.; G. Daita y F. Sayago (2002): Control de malezas en rastrojos en cultivos estivales con dosis reducidas de glifosato. En<br />

Resúmenes de las XI Jornadas Fitosanitarias Argentinas. Del 26 al 28 de Junio. Facultad de Agronomía y Veterinaria –<br />

UNRC.<br />

836


1 Docentes del Departamento de Economía, Facultad de Ciencias Económicas - Universidad Nacional de Río Cuarto. E-mail:<br />

ageymonat@eco.unrc.edu.ar; mwehbe@eco.unrc.edu.ar y hcivitaresi@eco.unrc.edu.ar<br />

2 En este párrafo se utiliza el concepto ‘sostenibilidad’ tal como aparece el de ‘sustentabilidad’ en Masera y López-Ridaura (2000).<br />

3 La concepción de factores de competitividad se basa en Obschatko (1997). Los factores exógenos dependen del contexto económico<br />

general, tanto global como nacional; mientras que los factores endógenos resultan de la organización al interior de las unidades<br />

microeconómicas, en los cuales se incluye el grado de adopción tecnológica.<br />

4 La proporción del precio FAS (en representación del precio que recibe el productor) sobre el precio FOB, para soja y girasol pasó<br />

del 60% en 1989/90 a 92% en 1992/93.<br />

5 El costo de producción por hectárea sensiblemente más bajo que el de los principales países competidores (EEUU, China, Brasil,<br />

India y la UE). El costo por hectárea en Argentina es un 25% inferior al de EEUU y un 20% más bajo que el correspondiente a Brasil»<br />

(Ketelohn–Allen, 1998; citado en Melconian et al, 2000).<br />

6 La Argentina es el país que presenta la mayor participación de soja transgénica en el total de la producción nacional sojera, seguido<br />

por los Estados Unidos (Nielsen et al, 2000).<br />

7 Como consecuencia de ello, ha crecido la demanda por identificación o etiquetado de los bienes, y algunos productores de alimentos<br />

han establecido líneas de bienes no-transgénicos (OECD, 2000).<br />

8 Esta sección fue elaborada a partir del trabajo de Bisang et al (2000).<br />

9 La difusión de variedades transgénicas en el sector a nivel mundial se produjo rápidamente a partir de la segunda mitad de la década<br />

de 1990. Mientras la primera generación de productos genéticamente modificados (GM) está representada por aquellas variedades en<br />

las que se han introducido uno o más genes con el objetivo de conferirles una o más características agronómicas que la variedad<br />

convencional no tenía −mayor resistencia a cierto herbicidas, tolerancia al estrés biótico y abiótico−. Los transgénicos de segunda<br />

generación −muchos desarrollados pero aún no en el mercado− incluyen la alteración genética de la composición de ácido graso de<br />

oleaginosas y aceites, cambiando el contenido de aceite o proteínas y las cualidades nutritivas; algunos ejemplos son la soja oleica (high<br />

oleic) y el girasol oleico (Portugal, 1999. Sin embargo, puede señalarse que la biotecnología aplicada está apenas comenzando. Dentro<br />

de los próximos años, se hará posible el desarrollo de genotipos que provean aceites vegetales “hechos a medida” para alcanzar las<br />

necesidades alimentarias, nutricionales o industriales específicas −por ejemplo, el uso de las proteínas de soja en la leche de soja, el<br />

tofu, y substitutos de la carne (FAO, 1997).<br />

10 Por ejemplo, FT Sementes en Brasil, -empresa relativamente pequeña- o Agroceres, compradas ambas por Monsanto o la compra<br />

de la semillera SPS, especializada en semillas de girasol, por parte de Glencore, en Argentina.<br />

11 Principales Fabricantes de sembradoras: Agrometal, Giorgi, Pierobon, Crucianelli, Bertini, Erca, Pla, Schiarre, Super Walter, Tanzi,<br />

Cele, Fabimag, Apache, Gherardi, Agroindustrial, Ascanelli, Migra, Sembrar, Victor Juri, Tedeschi, Juber, Fercam, Metar, John<br />

Deere, Dancar, Deutz-Agco, Dolbi, Avec, Praba, El Chalero, Achirri y Batista, Templar, Semagro, InriAgro, Lescano, etc.<br />

Principales Importadores: Case, Flexicoil/New Holland, Semeato, SuperTatu, Jumil, Fanhauser, John Deere, entre otras.<br />

12 Los 20456 productores relevados en la encuesta representan el 62,7% de los productores de la provincia de acuerdo a estimaciones<br />

realizadas por el INTA.<br />

13 La provincia fue dividida en áreas y zonas homogéneas sobre la base de criterios edafoclimáticos y teniendo en cuenta la<br />

información climática, del Plan Mapa de Suelos de la provincia de Córdoba y de trabajos realizados en forma conjunta por la Secretaría<br />

de Agricultura, Ganadería y Pesca de la Nación y el Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria en el año 1987 (SAGPyA-INTA,<br />

1987 citada en Geymonat et al, 1998).<br />

14 Algunos autores sostienen que incluso la adopción de la SD fue una decisión de corto plazo, que tuvo como fin contrarrestrar el<br />

elevado grado de degradación de los suelos.<br />

837


ESTUDIO DE LA ORGANIZACIÓN PRODUCTIVA Y COMERCIAL DE LOS<br />

SISTEMAS DE ENGORDE A CORRAL EN ARGENTINA.<br />

INTRODUCCIÓN<br />

838<br />

Carlos Iorio 1<br />

Mirna Mosciaro 2<br />

El sistema de producción de carne en Argentina se basa en la ventaja comparativa de utilizar alimento de bajo costo, como es la cosecha<br />

directa de pasturas y verdeos, siendo escaso el uso de concentrados. Sin embargo, desde principios de los años 90 se observa una<br />

intensificación de los sistemas productivos, sobre todo de aquellos orientados hacia la recría y engorde de ganado. En el extremo de<br />

este proceso se ubican los sistemas de engorde a corral (feedlot) cuyo número creció gradualmente hasta los cambios macroeconómicos<br />

que sufrió el país a principios de 2002.<br />

La sustentabilidad económica de los sistemas productivos no solo depende de la relación entre el costo medio de producción y el<br />

precio del producto, sino también de las variaciones de los mismos en el tiempo. En este sentido, las variaciones del precio del maíz<br />

y de la carne durante la década pasada, así como los cambios ocurridos en la política cambiaria en enero último, abren un interrogante<br />

sobre la estabilidad económica de los sistemas intensivos.<br />

En su expansión, el engorde a corral alcanzó regiones típicamente productoras de terneros de invernada como es el caso de la Cuenca<br />

del Salado en la provincia de Buenos Aires. Como en otras regiones, la instalación de estos sistemas tuvo como objetivo el engorde de<br />

la propia producción o de animales comprados y la prestación de los servicios de engorde a terceros (hotelería) o una combinación de<br />

estas alternativas.<br />

La incorporación del feedlot a las explotaciones ganaderas se plantea como una alternativa que podría ayudar a resolver distintos<br />

aspectos de los sistemas pastoriles como adaptar la demanda a la estacionalidad de la oferta de forraje, finalizar el engorde de animales<br />

producidos a campo o aprovechar oportunidades de negocios que se puedan presentar tanto en la compra como en la venta de<br />

hacienda, entre otros ejemplos. De esta manera, la integración de este sistema permitiría incrementar la eficiencia y la flexibilidad de<br />

producción de la empresa en su conjunto. Por el contrario, el elevado monto de inversiones necesario para desarrollar esta actividad<br />

de manera permanente elevaría la exposición de estas empresas al riesgo de mercado (Nelson, A.; 1997).<br />

Por otro lado, la adopción de este tipo de sistema por parte de un establecimiento de cría o de cría y engorde a campo, implica un<br />

cambio radical en su lógica productiva, tecnológica y comercial. En este sentido J.F. Soufflet (1988) señala que las diferencias entre<br />

ambos sistemas se observan a distintos niveles: en la organización del proceso productivo, en las características del producto<br />

obtenido, en la comercialización, en la relación entre costos de producción y precio del producto y en las situaciones decisionales que<br />

enfrentan ambos tipos de productores frente a las variaciones del mercado. Por otra parte, estas diferencias se establecen a nivel de la<br />

cadena productiva, existiendo una estrecha relación entre tecnología-producto-mercado. De esta manera, una demanda coherente en<br />

calidad, cantidad y regularidad se corresponde con una oferta originada en un proceso técnico caracterizado también por su regularidad<br />

y, generalmente, gran tamaño.<br />

Este trabajo tiene como objetivo aportar algunos elementos que permitan comprender la lógica de funcionamiento de los sistemas de<br />

engorde a corral así como las condiciones que favorecieron su difusión.<br />

En este marco, se analiza en primer término los cambios ocurridos en la década del 90 que pudieron influir en el desarrollo del feedlot<br />

en Argentina. Posteriormente se describen las principales características de los sistemas productivos estudiados. Por último, se<br />

evalúan los resultados económicos de esta actividad en los últimos 10 años.<br />

1. METODOLOGÍA<br />

Mediante estudios de caso, se analizaron las características de funcionamiento de sistemas de engorde a corral ubicados en la Cuenca<br />

del Salado (Buenos Aires). A través de informantes calificados, se identificó un grupo de empresas dedicadas a esta actividad,<br />

seleccionándose - de acuerdo a sus características organizacionales y a la predisposición para brindar información - cuatro de ellas.<br />

Dos integran el feedlot con sistemas pastoriles de cría y engorde, mientras que las otras dos se dedican exclusivamente al engorde a<br />

corral (feedlots especializados).<br />

A cada empresa se le realizaron dos entrevistas semiabiertas, una en octubre de 2001 y otra en marzo de 2002. Esta última tuvo por<br />

objetivo completar la información recabada inicialmente y detectar el impacto del cambio en la política monetaria registrado en enero<br />

del corriente año.


Para analizar las condiciones que favorecieron la difusión de estos sistemas se analizó el nivel y la variabilidad de las relaciones de<br />

precio entre los principales insumos y el producto. Asimismo, a fin de evaluar el resultado económico del feedlot durante la última<br />

década, se formuló un modelo representativo de los sistemas que integran esta alternativa a la producción extensiva, en base a la<br />

información obtenida en las entrevistas y a consultas con especialistas e informantes calificados. Como fuente de información<br />

secundaria se utilizaron datos de la SAGPyA, AACREA, Mercado de Liniers y de revistas especializadas<br />

2. EL CRECIMIENTO DE LOS SISTEMAS DE ENGORDE A CORRAL. EL PLAN DE CONVERTIBILIDAD<br />

El desarrollo de estos sistemas aparece estrechamente vinculado al aumento en dólares que sufrieron los precios de los productos<br />

destinados al consuno doméstico con relación a los bienes exportados durante la convertibilidad. Salvo experiencias aisladas, es a<br />

partir de 1991 - y espe-cialmente 1992 -, cuando se observa un marcado crecimiento del feedlot. La cantidad de animales encerrados<br />

por año aumentó de aproximadamente 260.000 a 1.500.000 entre 1994 y 2001 3<br />

Si bien no existe información estadística sobre la producción de estos sistemas, los mismos estarían orientados a la producción de<br />

animales livianos. En 1995, se estimaba que el engorde de terneras representaba entre 50 a 60 % del total de animales encerrados. Por<br />

otro lado, las exigencias de los compradores llevó el limite de peso de esta categoría de 280 kg. a 250 Kg por cabeza entre 1992 y 1995<br />

(Iriarte, I. 1995).<br />

La sustentabilidad económica del feedlot depende de las relaciones de precios de los insumos con mayor incidencia en el costo, como<br />

el maíz o el animal a engordar, y el producto así como de la estabilidad de los mismos en el tiempo. Estas relaciones de precios se tornan<br />

más convenientes y estables durante los ‘90, particularmente en el caso de maíz a partir de 1997- (Gráfico N°1), repercutiendo<br />

favorablemente en el desarrollo de esta alternativa productiva.<br />

No obstante, persisten importantes variaciones - especialmente en el caso del maíz (Coeficiente de Variación: 28%) - con periodos de<br />

elevados incrementos del precio del grano y del animal de invernada en relación al del producto, como el registrado entre 1994 y 1996.<br />

Estas fluctuaciones señalan un alto nivel de riesgo de mercado asociado a esta actividad.<br />

Gráfico N°1. Relaciones de Precio Insumo/Producto. 1980-2001.<br />

A. Maíz/Ternero gordo<br />

0.3<br />

0.25<br />

0.2<br />

0.15<br />

0.1<br />

0.05<br />

1980<br />

1991<br />

1981<br />

1992<br />

1980/1990<br />

1991/2001<br />

1982<br />

1993<br />

CV: 28%<br />

1983<br />

1994<br />

1984<br />

1995<br />

1985<br />

1996<br />

1986<br />

1997<br />

1987<br />

1998<br />

CV: 32%<br />

1988<br />

1999<br />

1989<br />

2000<br />

1990<br />

2001<br />

839<br />

B. Ternero flaco/Ternero Gordo<br />

1.3<br />

1.25<br />

1.2<br />

1.15<br />

1.1<br />

1.05<br />

1<br />

0.95<br />

0.9<br />

0.85<br />

1980<br />

1991<br />

1981<br />

1992<br />

1982<br />

1993<br />

1983<br />

1994<br />

1984<br />

1995<br />

CV: 10%<br />

CV: 4%<br />

1985<br />

1996<br />

1986<br />

1997<br />

1987<br />

1998<br />

1988<br />

1999<br />

1980/1990<br />

1991/2001<br />

Por otro lado, los efectos derivados de la estabilidad, el retraso cambiario, la apertura económica y la inversión extranjera también<br />

deben ser considerados como factores que incidieron en la difusión de estos sistemas. Entre estos factores, se destaca la innovación<br />

tecnológica a nivel de la maquinaria y de los procesos para la confección de reservas, el almacenamiento de granos y la preparación y<br />

distribución de la ración que facilitaron el manejo de la alimentación, disminuyendo significativamente sus costos. Los cambios<br />

tecnológicos también tuvieron impacto sobre la productividad de los granos forrajeros, especialmente del maíz.<br />

Otro factor a destacar, fue el crecimiento de la gran distribución minorista. La participación de los supermercados en el comercio<br />

minorista de carne durante la década pasada aumentó sensiblemente. En la Capital Federal y Gran Buenos Aires, (40 % del consumo<br />

de carne del país) la participación de estas firmas pasa del 40 % a casi el 60 % entre principios y fines de la década. Asimismo, la mayor<br />

competencia entre empresas originó una mayor preocupación por la calidad (consistencia y regularidad) de la carne ofrecida. Por tal<br />

motivo, tres de las cuatro principales empresas de influencia nacional, integran desde mediados de los noventa la compra y la faena de<br />

hacienda, mientras que la firma restante siempre integró estos procesos. Por otro lado, la segmentación del mercado por niveles de<br />

1989<br />

2000<br />

1990<br />

2001


ingreso abrió la posibilidad de comercializar grandes volúmenes de carne de ternero a precios superiores 4 . De esta manera, los<br />

supermercados se tornan en los principales clientes de los sistemas de engorde a corral (Iriarte, 1995).<br />

3. ORGANIZACIÓN PRODUCTIVA Y COMERCIAL DE LOS SISTEMAS DE ENGORDE A CORRAL.<br />

Las cuatro empresas bajo estudio inician el engorde a corral en la segunda mitad de los ’90, pudiendo ser caracterizadas por su escala<br />

y continuidad como empresas comerciales (Rearte, 1994). Dos de ellas, como ya se mencionara, integran el feedlot al sistema pastoril<br />

(casos 1 y 2), en tanto que las restantes tiene al feedlot como única actividad ganadera (feedlots especializadas).<br />

En todos los casos, los entrevistados comentan haber iniciado esta actividad motivados por la expectativa de precios favorables en el<br />

largo plazo, a pesar de no desconocer las características aleatorias de la misma. Gran parte del interés surge del conocimiento de las<br />

experiencias realizadas por productores de la zona. Asimismo, la gran difusión que alcanza en la región distintos aspectos de la<br />

suplementación en vacunos, refuerza el interés sobre este tipo de sistema.<br />

En las empresas que integran la producción intensiva con la extensiva, el caso 1 es un productor ganadero tradicional de la zona,<br />

mientras que los propietarios de la empresa 2 provienen del sector industrial. Estos se inician en la actividad pecuaria en 1995, con un<br />

planteo productivo de cría y engorde con alta suplementación, dedicándose además a la cosecha, acopio y comercialización de granos.<br />

El productor 1 comienza el feedlot en 1998, con el propósito de lograr una mejor valorización de las terneras que obligadamente se<br />

vendían al destete, y - en menor medida – reducir los problemas de falta de forraje en invierno. En la empresa 2, el feedlot se introdujo<br />

en 1997 con los objetivos de garantizar el engorde de la propia producción en un periodo determinado, ampliar el negocio con<br />

invernada de compra y, por último, aprovechar las sinergías generadas por su actividad en el negocio de acopio y comercialización de<br />

cereales.<br />

Los otros casos estudiados, también se diferencian en cuanto a su origen. El productor 3 es un médico veterinario vinculado a una firma<br />

consignataria de hacienda de propiedad familiar, que inicia el engorde a corral en 1999. Los propietarios del feedlot 4 desarrollan<br />

actividades fuera del sector agropecuario, comenzando esta alternativa productiva en 2000. En estas empresas, el feedlot se plantea<br />

como una alternativa que puede complementar los ingresos generados por las actividades principales. En el caso 3, las ventajas<br />

derivadas de su inserción en el medio y del conocimiento del negocio ganadero resultaron decisivas para llevar a cabo este emprendimiento.<br />

Cabe mencionar que las empresas 2 y 3 comercializan parte del alimento balanceado fabricado y ofrecen el servicio de engorde a<br />

terceros. De acuerdo a los entrevistados estas estrategias les permitirían cubrir gran parte de sus costos fijos.<br />

4. Características de los sistemas de producción extensivos. Casos 1 y 2<br />

De acuerdo a la superficie que operan, las empresas 1 y 2 pueden ser consideradas grandes para la zona. Entre ambas, existen<br />

importantes diferencias en el planteo técnico, lo que repercute en el nivel productivo alcanzado (Cuadro Nº1).<br />

Cuadro N°1. Características productivas de los sistemas pastoriles<br />

840<br />

C a s o 1 C a s o 2<br />

S u p e r f ic ie o p e r a d a * P r o p ia ( h a ) 2 8 0 0 1 0 .0 0 0<br />

A r r e n d a d a s ( h a ) 2 8 0 0<br />

R e c u r s o s F o r r a je r o s C a m p o N a t u r a l ( h a ) 5 4 0 0 7 3 0 0<br />

In d ic e s p r o d u c tiv o s<br />

P a s t u r a s ( h a ) 1 0 0 0<br />

V e r d e o s in v ie r n o ( h a ) 3 0 0<br />

P r o m o c ió n r a ig r a s ( h a ) 1 0 0 0<br />

M a íz y S o r g o ( h a ) 2 0 0 3 2 5<br />

C a n t id a d d e v a c a s e n<br />

s e r v ic io<br />

2 5 0 0 5 1 0 0<br />

% d e s t e t e 7 6 8 2<br />

D u r a c ió n d e l s e r v ic io<br />

S e t ie m b r e /f e b r e<br />

ro<br />

O c t u b r e /e n e r o<br />

E n t o r e 1 e r s e r v ic io 2 7 m e s e s 1 5 / 2 4 m e s e s<br />

M a n e jo<br />

s a n it a r io /r e p r o d u c t iv o<br />

P r o d u c t iv id a d d e la c r ía<br />

(k g /h a )<br />

C o m p le t o C o m p le t o<br />

8 0 1 1 0<br />

* En el caso 1, la superficie operada no incluye la superficie destinada al engorde de novillos bajo el sistema de capitalización en<br />

campos de terceros


El caso 1, presenta un planteo extensivo basado principalmente en el aprovechamiento del recurso natural. La falta de pasto en<br />

invierno, es mencionada como la principal restricción para mejorar la productividad de la cría. Los problemas nutricionales hacen que<br />

el servicio se prolongue durante 6 meses, lo que se traduce en un destete tardío y prolongado. La instalación del feedlot no alteró<br />

mayormente el manejo técnico de la explotación, él cual muestra una gran estabilidad en el tiempo. La única modificación es la<br />

incorporación del cultivo de maíz (destinado al feedlot). Los cambios más importantes se observan en el tipo de animal producido,<br />

reemplazando la venta de terneras al destete y de parte de los novillos que se recriaban a campo, por la producción de ternero<br />

gordo 5 .En el caso 2, aunque las decisiones de producción son tomadas por los propietarios, la empresa cuenta con un responsable<br />

general de las actividades productivas y comerciales y con personal profesional especializado en distintos aspectos productivos<br />

(sanidad, manejo de la cría y trabajos agrícolas). Los índices de eficiencia técnica de la cría están acordes con los modelos mejorados<br />

de esta actividad, siendo la productividad superior al promedio de la zona. El manejo técnico incluye: el servicio estacionado, el entore<br />

de 15 meses, el destete anticipado de los terneros y la constitución de reservas forrajeras. Por otra parte, se observa una evolución<br />

creciente de la superficie destinada a pasturas, a fin de mejorar la receptividad forrajera del establecimiento.<br />

El principal cambio que se introdujo a partir del feedlot fue la sustitución del engorde a campo con alta suplementación. Pese a ello,<br />

se continua con una recría de machos sobre pasturas y verdeos, para luego ser terminados en confinamiento. En la cría, la instalación<br />

de este sistema trajo aparejado la inclusión de nuevas prácticas, como el engorde de las vaquillonas de reposición que no alcanzan el<br />

peso necesario para su entore y el destete precoz de una parte de los terneros provenientes de las mismas.<br />

A diferencia de lo que se podría pensar, ninguna de estas dos empresas incorpora el feedlot luego de haber alcanzado un alto nivel de<br />

intensificación en el sistema pastoril. Si bien, la empresa 2 posee una elevada productividad relativa, ambos sistemas se inician casi<br />

simultáneamente. El caso 1 es aún más paradójico, presentando un fuerte contraste entre los dos sistemas productivos que posee la<br />

empresa. Mientras que la cría y recría se llevan a cabo de manera tradicional, con una baja inversión en capital y en tecnologías de<br />

proceso, el productor incorpora un sistema de engorde altamente tecnificado, intensivo en capital y que requiere, además, una fuerte<br />

dedicación para coordinar las tareas que con frecuencia diaria se deben realizar.<br />

5. Estructura productiva de los feedlots<br />

El Cuadro N°2 sintetiza las principales características estructurales de los feedlots estudiados. Los montos de inversión muestran una<br />

gran heterogeneidad entre empresas. El elevado valor de las inversiones de la empresa 1 obedece, por un lado, a que se debieron hacer<br />

todas las inversiones especificas del feedlot no pudiendo utilizarse infraestructura preexistente y, por otro, a la excelente calidad de<br />

las instalaciones y maquinarias adquiridas. En el caso 3, por el contrario, la estrategia del productor fue inmovilizar la menor cantidad<br />

de capital posible dado los riesgos de la actividad. Así, el feedlot está ubicado en un predio arrendado (15 ha) con parte de las mejoras<br />

necesarias para llevar adelante este emprendimiento. A diferencia de los otros sistemas, los alambrados de los corrales son temporarios,<br />

reduciendo el costo de la inversión inicial.<br />

En la empresa 2, los corrales se instalaron al lado de la planta de acopio de propiedad de la firma, aprovechando instalaciones<br />

disponibles para el almacenamiento de granos y algunas maquinarias para la formulación de la ración. Con el objetivo de disminuir las<br />

pérdidas provocadas por el almacenamiento de suplementos húmedos se construyeron dos bateas de hormigón con rampas para su<br />

carga y descarga. Por último en el caso 4, los empresarios adquirieron una quinta de 16 ha con las instalaciones necesarias para<br />

desarrollar esta actividad por un monto de 40.000 US$, lo cual permitió poner en funcionamiento inmediatamente el feedlot 6 . En el<br />

segundo año se incorporaron los equipos necesarios para la preparación del alimento.<br />

Cuadro N°2. Características estructurales de los sistemas<br />

I II III IV<br />

In ve rs ió n (U S $ ) 1 6 0 .0 0 0 1 5 0 .0 0 0 * 2 2 .0 0 0 8 0 .0 0 0<br />

Capacidad<br />

(c ab )<br />

Cabezas<br />

encerradas<br />

Corrales<br />

Equipos p/<br />

balanceado<br />

Personal<br />

especifico<br />

900 2000 450 480<br />

2000 5000 1100 1200<br />

Alamb.<br />

permanente,<br />

bebederos con<br />

piso<br />

Ración con<br />

mixer y balanza<br />

Alambrado<br />

permanente<br />

Planta de<br />

balanceado y<br />

mixer c/ balanza<br />

841<br />

Alambrado<br />

eléctrico<br />

Planta<br />

elaboradora de<br />

balanceado<br />

2 permanentes 3 permanentes 1perm, 1<br />

te m p o ra rio<br />

Alambrado<br />

permanente<br />

Planta<br />

elaboradora de<br />

balanceado<br />

1perm, 1<br />

te m p o ra rio


Con respecto a la elaboración del alimento se observan dos alternativas tecnológicas. Una corresponde a la empresa 1, donde se<br />

incorpora el acoplado mixer para mezclar y distribuir el alimento. Esta alternativa, representativa de las empresas extensivas que<br />

integran el feedlot, permite aprovechar distintos recursos producidos en el establecimiento, como forrajes groseros o grano húmedo.<br />

Las restantes empresas instalaron plantas de elaboración de alimento balanceado de distintas dimensiones (compuesta por balanza,<br />

moledora y mezcladora) que se adapta mejor a la formulación de raciones con granos o suplementos secos. La empresa 2 cuenta,<br />

además, con un mixer que permite mezclar el balanceado con subproductos húmedos de la agroindustria.<br />

6. Tipo de producto y volumen comercializado<br />

Los sistemas analizados están preferentemente orientados a la producción de ternera gorda (cuadro Nº3). La única excepción está<br />

representada por el sistema 2, que en 2001 engordó una mayor proporción de novillos y vaquillonas, si bien la proporción de terneros<br />

gordos nunca con anterioridad fue inferior al 60 % 7 y es el único tipo de animal que se produce actualmente.<br />

Cuadro N°3. Entradas y Salidas de hacienda<br />

Cesiones<br />

I II* III* IV<br />

Cantid<br />

ad<br />

(cabez<br />

as)<br />

Peso<br />

(kg/ca<br />

b)<br />

Cantid<br />

ad<br />

(cabez<br />

as)<br />

842<br />

Peso<br />

(kg/ca<br />

Terneras 900 160 700 170<br />

Terneros 100 170 200 170<br />

Novillitos 200 260 1800 240<br />

Vaquillonas 600 230<br />

Compras<br />

b)<br />

Cantid<br />

ad<br />

(cabez<br />

as)<br />

Peso<br />

(kg/ca<br />

b)<br />

Cantid<br />

ad<br />

(cabez<br />

Terneras 600 160 600 160 900 170 1000 170<br />

Terneros 200 160 300 170 100 170 200 175<br />

Ventas<br />

Terneros gordos 1700 240 1570 240 980 240 1100 240<br />

Novillito/vaquill<br />

livianas<br />

as)<br />

Peso<br />

100 270 30 260 20 260 100 270<br />

Novillitos 200 350 1800 330<br />

Vaquillonas 600 290<br />

* Los animales encerrados (Cuadro N°2) son superiores a las ventas por el engorde de hacienda de terceros.<br />

(kg/cab<br />

La preferencia de los productores por el engorde de terneras se debe a que los machos frecuentemente no alcanzan un adecuado estado<br />

de gordura al peso de venta de esta categoría. También, se menciona el rechazo de algunos demandantes (supermercados) cuando las<br />

tropas presentan un alto porcentaje de terneros, dadas las características diferenciales que presenta la carne de ambos tipos de animal.<br />

A diferencia de los sistemas especializados, los que integran el feedlot a la explotación extensiva producen una cantidad variable de<br />

novillos, pese a su menor eficiencia de conversión (8/1) y menor precio con relación al ternero 8 . Esta producción estaría relacionada<br />

a la complementariedad que presentan ambos sistemas. El feedlot, en este caso, asiste al sistema pastoril para lograr la terminación de<br />

los novillos engordados a campo (empresa 2) o para solucionar los problemas de falta de campo o de calidad del forraje, como ocurre<br />

en la empresa 1.<br />

La producción de vaquillonas y novillos livianos surge por el exceso de peso que alcanza un porcentaje de los terneros engordados, no<br />

afectando a más del 10 % de los mismos.<br />

)


La época de entrada de los terneros es de marzo a octubre. Por la estacionalidad de la oferta, más del 70 % de las entradas se producen<br />

entre marzo y julio. En las empresas 1 y 2, los terneros producidos en el establecimiento ingresan entre marzo y mayo, mientras que<br />

las compras comienzan a partir de este último mes. Coincidentemente con las épocas de compra, las ventas se concentran entre mayo<br />

y octubre. En verano, la actividad disminuye marcadamente, por la caída de la oferta de terneras en primavera, por la disminución de<br />

la ganancia de peso y por la competencia que se registra entre febrero y abril con los terneros mamones criados a campo.<br />

7. Principales aspectos del manejo técnico de los feedlots<br />

La dirección técnica de los feedlots es realizada por los propietarios, con excepción de la empresa 2, donde la misma está a cargo del<br />

responsable técnico del establecimiento, contando, además, con el asesoramiento de un nutricionista. En los restantes casos, la<br />

empresa 4 es la única que realiza consultas periódicas con un especialista privado.<br />

Los tratamientos veterinarios presentan escasas diferencias en los casos analizados. De acuerdo a los entrevistados, la sanidad no<br />

representa un problema en este tipo de sistema, pese a la alta concentración de animales. La mortandad no supera el 1,5 % de los<br />

animales engordados<br />

Con respecto a la alimentación, tanto los insumos utilizados como sus proporciones en la ración varían entre empresas (Cuadro N°4).<br />

Sin embargo, en tres de los cuatro casos analizados, la proporción de maíz dentro de la misma es similar. El feedlot 2 reemplaza una<br />

proporción importante del maíz como suplemento energético por subproductos de la industria de la papa congelada (papa en<br />

bastones cruda y prefrita). En los casos 1, 2 y 4 se suministra una dieta de acostumbramiento durante los 15 días siguientes a la entrada<br />

de los animales, la cual contiene un mayor contenido de fibra. A diferencia del resto, el feedlot 1 suministra grano de maíz húmedo.<br />

Cuadro N°4. Composición del alimento (en %)<br />

Rollo 7<br />

Silo Planta 22<br />

I II III IV<br />

Maíz 63 30 60 61<br />

Afrechillo 5 36.5 25<br />

Pellets girasol 13.5 11 3 12<br />

Papa frita 45<br />

Núcleo vitamínico y<br />

mineral<br />

1.5 2 0.5 2<br />

El sistema 1, es el único que ha mantenido sin cambios la composición de la dieta, mientras que el resto ha introducido modificaciones<br />

tendientes a disminuir el costo de la alimentación, sin que hayan sido observadas diferencias en la eficiencia de conversión.<br />

En el Cuadro N°5 se observa que las ganancias de peso son similares entre sistemas, siendo significativamente menor la eficiencia de<br />

conversión del feedlot 1 con respecto al resto.<br />

843


Cuadro N°5. Indicadores de eficiencia técnica. Producción ternero gordo.<br />

844<br />

I II III IV<br />

GdPV (kg diarios/cabeza) 1,10 1.00 1.03 1.00<br />

Eficiencia de conversión (kg alimento/ kg de<br />

ganancia de peso)<br />

8, / 1 5,5 / 1 5,8 / 1 6,5 / 1<br />

Periodo medio de engorde (días) 85 85 70 77<br />

Mortandad (%) 1 1 1,5 0,5<br />

8. Estrategias en el aprovisionamiento de insumos<br />

Con el objetivo de disminuir costos las empresas han tendido a integrar la producción del alimento. Los sistemas 1 y 2 aumentaron<br />

progresivamente la superficie cultivada con maíz, abasteciéndose del 70%, aproximadamente, de las necesidades de este insumo. Las<br />

empresas 3 y 4 comenzaron el feedlot adquiriendo el alimento balanceado, para luego elaborarlo a partir de la compra de los distintos<br />

insumos. De acuerdo a los entrevistados la elaboración propia del alimento significó una disminución de 20 dólares por tonelada en el<br />

costo del balanceado, teniendo, como ventaja adicional, un mayor control de la calidad del alimento. A partir de 2001, estas em presas<br />

comenzaron a integrar la producción de maíz en campo arrendado. En todos los casos, una parte del maíz no producido es abastecido<br />

a través de la compra directa a productores.<br />

Con respecto a la hacienda, la principal categoría adquirida para el engorde es la ternera. El ternero de destete, no sobrepasa el 30 %<br />

de las compras (cuadro Nº3) y su inclusión se debe, principalmente, a situaciones de escasez en la oferta de hembras. La compra se<br />

realiza directamente a productores, creciendo en el tiempo la cantidad de operaciones realizadas sin intermediación. La relación directa<br />

con los criadores les ha permitido identificar aquellos con hacienda de mejor calidad. Sin embargo, y pese al mayor costo, se consideró<br />

imposible prescindir de la figura del intermediario. Entre los principales beneficios de operar con estos agentes se destacan, la<br />

posibilidad de aprovisionamiento en épocas de escasez de oferta, el acceso a oportunidades de negocios y la disminución del tiempo<br />

destinado a la búsqueda de información.<br />

9. Control técnico - económico y eficiencia productiva<br />

Los casos 2, 3 y 4 llevan registros detallados de las entradas y salidas de animales, del consumo de alimento, de las ganancias de peso,<br />

de los pesos de entrada y salida de los animales, y de los ingresos y gastos generados en el proceso productivo. Los datos son volcados<br />

periódicamente a planillas de cálculo electrónicas de manera de realizar el control técnico y presupuestario, permitiendo, además,<br />

evaluar el resultado económico de cada tropa vendida. En el caso 1, se observa una gran dispersión de los datos en distintos registros,<br />

lo que indudablemente dificulta el seguimiento de los resultados. Pese a ello, la información resultó significativamente más completa<br />

que la disponible en el caso de la explotación extensiva.<br />

Con respecto al seguimiento de los animales en los corrales, los mismos se agrupan por orden de llegada. Cada 20 días, aproximadamente,<br />

los mismos se revisan y si es necesario son reagrupados, separando los animales con mayor velocidad de crecimiento, de manera de<br />

mantener lotes homogéneos.<br />

El control de las distintas variables que repercuten en la eficiencia de producción les ha permitido introducir modificaciones en ciertos<br />

aspectos de manejo del feedlot. Para los productores 3 y 4, el mayor cuidado en la compra de hacienda aparece como el factor que más<br />

ha contribuido a mejorar la eficiencia. En este sentido, comentan que si bien cualquier tipo de animal puede ser engordado en este<br />

sistema, la calidad de los terneros (estado corporal y/o genética superior) determina, en gran medida, su velocidad de engorde y<br />

terminación.<br />

Otro factor mencionado, en todos los casos, se refiere al manejo del piso de los corrales en invierno. La falta de piso en esta época<br />

produce significativas caídas en las ganancias de peso. Cada empresa ha diseñado diferentes estrategias para atenuar este problema.<br />

Otros cambios descriptos comprenden aspectos tales como: la elaboración del alimento, los anabólicos utilizados, los horarios e<br />

intervalos de tiempo entre comidas, el diseño de los comederos, los controles sobre los restos de alimento en los comederos, y en el<br />

caso 2 la incorporación del desmenuzador de rollos que permite su inclusión en la ración.<br />

10. Requerimientos de la demanda y Estrategias de Venta.<br />

A diferencia de otras categorías de animal, el ternero gordo es un producto típico del feedlot, siendo baja la participación en el mercado<br />

de los sistemas pastoriles 9 . Los atributos de calidad demandados por el mercado hacen necesario un sistema de producción donde las<br />

principales variables técnicas, como la alimentación o el ritmo de crecimiento, deban ser controladas. No obstante, dentro de estos<br />

atributos generales, los requisitos de calidad de los supermercados y frigoríficos presentan diferencias en las compras directas a<br />

productores, los cuales pueden ser controlados, en gran medida, por la forma de fijación del precio. Los supermercados como la


mayoría de los frigoríficos fijan el valor del ternero por Kg vivo, pagándose este precio por cada animal que cumple con los requisitos<br />

de peso y rendimiento de res una vez faenado.<br />

Dentro de las cadenas de supermercados el principal cliente es la firma Coto, siendo reconocida por los entrevistados como el mayor<br />

comprador de terneros gordos en la zona. Los supermercados son los más exigentes en términos de conformación y homogeneidad del<br />

lote. Con respecto al peso, estas firmas pagan como terneros los animales cuya media res no supere los 70 Kg.(alrededor de 250 kg<br />

de peso vivo). Otro requerimiento corresponde al rendimiento mínimo de faena, variando de 55% a 57% de acuerdo a la firma. Las<br />

reses que no cumplen con estas exigencias son compradas a un valor inferior al fijado o son entregadas al productor para su venta. Por<br />

último, no permiten la presencia de más de un 10 % de terneros machos en la tropa 10 .<br />

Los frigoríficos tienen menores requerimientos en el grado de gordura y en la homogeneidad de la tropa, comprando machos o hembras<br />

indistintamente, siendo inferior el limite de peso para que los animales sean valorizados como terneros gordos (no deben superar los<br />

230 Kg por cabeza). Pese a esta mayor exigencia en términos de peso, son más tolerantes que los supermercados en el caso de que<br />

algunos terneros de la tropa superen este limite.<br />

Otra alternativa de venta es el Mercado de Liniers. Los entrevistados comentan que su principal desventaja es la intensa competencia<br />

que origina la gran oferta que ingresa al mismo. Sin embargo, el productor 1, reconoce como ventaja de este canal, los altos precios que<br />

logra en la categoría de terneros livianos (hasta 228 Kg).<br />

De las entrevistas surge que estos requerimientos sufren variaciones de acuerdo a la evolución del mercado, siendo los demandantes<br />

más o menos exigentes, especialmente con los limites de peso y rendimiento, de acuerdo al estado de escasez o abundancia relativa de<br />

la oferta. En este último caso, es frecuente que los supermercados brinden turnos de entrada a los vendedores, lo que puede significar<br />

un retraso de una semana en la salida de la tropa, con el consecuente peligro de degradación de su calidad.<br />

Con respecto a las estrategias particulares de venta (cuadro Nº6), las empresas 1 y 2 muestran un cambio con respecto a años<br />

anteriores, mientras que las especializadas han mantenido, con pequeñas variaciones, la venta a supermercados como principal<br />

modalidad de comercialización.<br />

El cambio en las primeras se asocia a las mayores dificultades para ajustar su producción a los requerimientos de los supermercados,<br />

así como a los mayores plazos que imponen estas firmas para el cobro de las ventas (30 a 40 días). Por otro lado, este tipo de<br />

demandante presenta escaso interés por las categorías de novillitos y vaquillonas, siendo estos animales comercializados a mejor<br />

precio a través de la venta a frigoríficos. Las empresas 3 y 4, en cambio, destacan como ventajas del supermercadismo, la posibilidad<br />

de vender los terneros a un mayor peso, obteniendo precios similares o superiores con relación a los otros destinos, y la seguridad de<br />

cobro.<br />

Cuadro N°6. Destino comercial de la producción (en % sobre el total vendido)<br />

I II III IV<br />

´98 –<br />

2000<br />

2001<br />

´98 –<br />

2000<br />

845<br />

2001<br />

Supermercados 80 20 60 10 70 80<br />

Frigoríficos 20 40 40 90 30 20<br />

Mercado de<br />

Liniers<br />

40<br />

En lo referente al canal directo, la escala que presenta la empresa 2 permite mejorar su posición negociadora, siendo la única que realiza<br />

todas sus ventas a través de la negociación directa con los compradores. Otros aspectos distintivos, como la fijación del peso por<br />

pesada en el campo y el pago del flete por parte del frigorífico, abren la posibilidad de obtener mejores precios finales. En los otros<br />

casos, la mayor parte de las operaciones se realizan a través de un intermediario.<br />

Las exigencias de la demanda en términos de peso de faena del ternero, hace que se preste especial atención a la preparación de cada<br />

tropa. Primeramente, se seleccionan los animales de los corrales de acuerdo a su estado corporal, siendo, luego, pesados individualmente,<br />

de forma de descartar a aquellos que sobrepasan el peso máximo exigido, evitando, de esta manera, posibles problemas de rechazo. En<br />

el caso 2, por su gran escala, los animales son pesados en conjunto.


11. EL NUEVO ESCENARIO MACROECONÓMICO<br />

A fines de marzo del corriente año, después de una importante devaluación del peso y el consecuente aumento relativo del precio de<br />

los granos, únicamente las empresas 1 y 2 mantenían animales encerrados. Los sistemas dedicados a la invernada de compra cesaron<br />

completamente su actividad a partir de enero, siendo bajas sus expectativas de desarrollar nuevamente la misma en el corto plazo 11 .<br />

Al momento de relevar la información, salvo el caso 2, los entrevistados pensaban destinar a la venta el maíz cultivado para la<br />

preparación del alimento.<br />

El caso 1, tenía encerrado un lote de 120 terneras provenientes de una parición temprana, a los efectos de aprovechar el remanente de<br />

los silos de grano de maíz húmedo y de planta. En el nuevo contexto, considera imposible continuar de la misma forma con esta<br />

actividad, aunque no descarta la posibilidad de engordar sus propias terneras ante cambios ocasionales en los precios.<br />

Para adecuarse al aumento relativo de los alimentos, la empresa 2, introdujo cambios en sus estrategias de producción y comercialización.<br />

Con respecto al producto, durante el corriente ejercicio la empresa piensa producir, exclusivamente, ternero gordo de su propia<br />

producción. Para ello, comenzó el destete tempranamente (enero), reduciendo el peso de entrada de los terneros (140 Kg) con el<br />

objetivo de mejorar la eficiencia de conversión y vender los animales terminados a menor peso, incrementando así su precio de venta.<br />

La otra estrategia implementada consiste en disminuir el costo de la alimentación, sustituyendo gran parte del balanceado con<br />

subproductos de la industria agroalimentaria como malta y gluten, o aumentando la cantidad de papa cruda y prefrita en la ración. Si<br />

bien el costo de estos suplementos resulta sensiblemente menor al maíz y otros subproductos (entre 20 y 40 %), el elevado contenido<br />

de humedad dificulta su almacenamiento y origina una mayor frecuencia de abastecimiento. Con respecto a las perspectivas, el<br />

entrevistado considera que de mantenerse las relaciones de precios desfavorables, la única posibilidad para continuar con esta<br />

actividad es adaptándose a la utilización de insumos alternativos de menor costo. En este sentido, se planea la construcción de otros<br />

depósitos para el almacenamiento de suplementos húmedos.<br />

Por otro lado, la empresa 2 también se vio forzada a abandonar la elaboración de balanceado para la venta, por la caída de la demanda<br />

de otros feedlots, sus principales clientes. En cambio, la empresa 3, cuya demanda está constituida por pequeños tamberos y<br />

productores de porcinos, todavía mantenía su planta de balanceado en funcionamiento.<br />

12. EVALUACIÓN ECONÓMICA<br />

A fin de evaluar los resultados y la estabilidad económica del feedlot durante el último decenio, se diseñó un modelo representativo,<br />

cuyas principales características se resumen a continuación.<br />

Cuadro N°7. Principales indicadores del planteo técnico<br />

Datos productivos<br />

Producto vendido<br />

Escala (cabezas)<br />

Terneras propias<br />

Terneras<br />

com pradas<br />

Peso inicial<br />

(K g /c a b )<br />

Peso de<br />

venta*(K g/cab)<br />

Ciclo de engorde<br />

(d ías )<br />

Mortandad (%)<br />

Epoca entrada<br />

Ternera propia (55<br />

%)<br />

Ternera compra (36<br />

%)<br />

%)<br />

(9<br />

Ternera gorda<br />

1100<br />

600<br />

500<br />

170<br />

240<br />

80<br />

1<br />

Marzo – Mayo<br />

Junio – Agosto<br />

Setiembre -<br />

Octubre<br />

Conformación de la<br />

ra ción<br />

Maíz (propio)<br />

Afrechillo<br />

Pellets girasol<br />

Núcleo vitamínico y<br />

mineral<br />

Eficiencia:<br />

GdPV (Kg/cab/día)<br />

Consumo**(Kg/cab/día)<br />

Epoca de ventas<br />

Ternera propia<br />

Ternera compra<br />

* se consideró un 4 % de desbaste<br />

** se estimó una pérdida en la preparación del alimento y en los comederos del 8 % (0.5 Kg/cab)<br />

846<br />

%<br />

62<br />

23<br />

13<br />

2<br />

1,00<br />

6,5<br />

Mayo – Agosto<br />

Setiembre –<br />

Diciembre


El Cuadro N°8 muestra, para cada año, los resultados económicos medios ponderados según la proporción de animales invernados<br />

mensualmente y su origen (compra o propia producción).<br />

Cuadro N°8. Resultados económicos. Promedio Anual Ponderado (1992-2001)<br />

Precio Neto Costo<br />

Ternera<br />

gorda<br />

Ternera*<br />

invernada<br />

Costo Maíz* Costo<br />

Directo **<br />

847<br />

Margen<br />

Bruto<br />

Resultado Neto<br />

$/cab $/año $/cab<br />

1992 231 154 21.9 205 26.2 19651 17.9<br />

1993 197 127 22.7 179 18.1 10760 9.8<br />

1994 166 119 25.0 174 -8.0 -17965 -16.3<br />

1995 182 120 25.9 175 7.4 -1080 -1.0<br />

1996 198 123 40.1 192 5.5 -3137 -2.9<br />

1997 243 154 26.0 209 33.9 28077 25.5<br />

1998 306 215 22.4 267 38.8 33499 30.5<br />

1999 221 163 21.3 213 7.4 -1067 -1.0<br />

2000 236 160 19.4 208 27.3 20831 18.9<br />

2001 218 159 19.2 207 11.0 2919 2.7<br />

Promedio 220 149 24.4 203 16.8 9249 8.4<br />

* Las terneras y el maíz producidos en el establecimiento, se valorizaron por su costo de oportunidad (precio de venta menos gastos<br />

de comercialización y flete).<br />

** Incluye el valor de: ternera, ración, preparación y distribución de raciones, sanidad, corregidos por mortandad.<br />

El cuadro permite apreciar la alta participación del valor de los animales a engordar en el costo directo (alrededor del 74%). Si bien, en<br />

términos comparativos la importancia del maíz resulta muy inferior (12%), representa aproximadamente el 53% de los gastos de<br />

alimentación. El comportamiento de estos dos componentes del costo permite explicar en gran parte la variabilidad de los resultados.<br />

En el 40% de los casos, los resultados netos son negativos, siendo notoriamente desfavorable el obtenido en 1994 cuando a una caída<br />

del precio de la carne se sumó una relación desfavorable entre la ternera de invernada y la gorda, profundizada por el desfasaje existente<br />

entre el momento de compra y venta de los animales. Una situación similar, aunque menos marcada, se repitió en 1995, 1999 y hacia<br />

finales del 2001. Asimismo, el incremento en el precio del maíz en 1996 ubicó a este año dentro de los más críticos.<br />

La incidencia del valor de adquisición de las terneras en el costo, hace que el origen de las mismas tenga una gran repercusión en el<br />

resultado económico del feedlot (cuadro Nº9). Debido a los gastos de comercialización, el valor final de las terneras compradas resulta<br />

un 11% superior al costo de oportunidad de las propias, reduciendo significativamente (-21%) los márgenes entre precio de venta y<br />

el valor de entrada. El efecto sobre el margen bruto de la actividad es aún más marcado, resultando para las terneras compradas un 69%<br />

inferior al estimado para las propias. Esta diferencia se profundiza cuando disminuye el precio de venta o se incrementa el precio del<br />

maíz.


Cuadro N° 9: Terneras de invernada de propia producción vs de compra.<br />

Costo medio ternera<br />

($/cab)<br />

Precio venta – Precio entrada*<br />

($/cab)<br />

848<br />

Margen Bruto<br />

($/cab)<br />

Origen compra propia compra Propia compra propia<br />

Promedio 1992-2001 158.9 142.6 60.8 77.1 7.4 23.7<br />

Dif. Compra vs Propia 11% -21% -69%<br />

Coef.Variación 1.64 0.59<br />

* Considera las diferencias de precio y peso entre categorías.<br />

Por otro lado, las ventajas competitivas de los feedlots que integran la cría no solo se evidencian en la magnitud del resultado<br />

económico, sino también en su mayor estabilidad, presentando variaciones interanuales en sus márgenes significativamente menores<br />

que la invernada de compra (coeficiente de variación 0.6 y 1.6 respectivamente).<br />

13. DISCUSIÓN DE LOS RESULTADOS<br />

El análisis de los casos analizados permite establecer ciertos aspectos que explican la lógica de funcionamiento de los feedlots<br />

radicados en la región bajo estudio<br />

El carácter artificial del medio productivo en el feedlot, reduce la aleatoriedad de los resultados y la cantidad de variables a controlar.<br />

La formulación y la distribución de la ración es el elemento central que asegura el ritmo de ganancia de peso individual. En la invernada<br />

básicamente pastoril, en cambio, la eficiencia productiva depende del manejo de una multiplicidad de factores, muchos de ellos de<br />

difícil control, y del efecto de sus interacciones (la productividad y calidad de los recursos forrajeros, la adaptación de estos a los<br />

requerimientos de cada tipo de animal, el ajuste de la carga a las variaciones en la oferta forrajera, etc.). Así, desde el momento en que<br />

no se conoce con precisión la composición del alimento o su nivel de consumo, no se posee el control de las variables necesarias para<br />

alcanzar una producción consistente de manera regular<br />

La obtención de altas tasas de engorde a partir de un proceso relativamente sencillo, posiblemente explique porque un sistema de<br />

producción sumamente extensivo, con bajos niveles de eficiencia, incorpore esta alternativa intensiva en capital, antes de plantearse<br />

una estrategia de aumento de su productividad a través de la incorporación de tecnologías adaptadas a la zona. Por otra parte, el feedlot<br />

en los sistemas de cría aparece como una alternativa segura frente a la aleatoriedad de los resultados productivos que ofrece el engorde<br />

a campo en esta región<br />

Sin embargo, la mayor simplicidad del proceso de engorde en el feedlot no excluye la necesidad de una organización técnica y comercial<br />

que sea capaz de garantizar el suministro diario de alimento y la venta regular del producto, lo que implica la necesidad de coordinar<br />

diferentes operaciones. En este sentido, sino se garantiza la disponibilidad continua de los elementos que integran la ración, si el<br />

alimento no tiene la calidad requerida, sino se dispone de alternativas ante imprevistos en la elaboración y distribución del alimento,<br />

si los animales no son bien seleccionados, sino se coordinan las entradas y salidas de hacienda o si se retrasa el momento de venta, toda<br />

la organización falla.<br />

La especialización productiva y la facilidad para identificar cada operación técnica y para valorizar los insumos utilizados permiten<br />

estimar en el feedlot el costo unitario por animal vendido. De esta manera, las bases de información sobre las cuales se apoya el<br />

productor para tomar decisiones son diferentes en ambos tipos de sistema. Mientras que el productor intensivo puede establecer con<br />

bastante precisión el impacto económico de cada operación, el productor extensivo se apoya sobre aspectos más globales dadas las<br />

mayores dificultades para identificar la respuesta de cada práctica individual.<br />

Una vez finalizado el proceso productivo, el productor intensivo puede comparar su costo de producción con el precio del producto,<br />

conociendo con relativa exactitud la utilidad de cada operación. Sin embargo, esto no le ofrece ninguna ventaja decisional con relación<br />

al productor pastoril. Una que vez que el producto alcanzó el peso y la calidad exigida por los demandantes el productor intensivo está<br />

obligado a vender cualquiera sea el precio del mercado. Cada día adicional va significar tanto un incremento en el costo de producción,<br />

como de los riesgos de pérdida de valor del animal por degradación de su calidad. La producción pastoril es, en este sentido, más<br />

flexible, pudiendo el productor demorar la venta sin grandes pérdidas. Por otro lado, la elección de diferentes ciclos de producción, que<br />

permite la obtención de distintos productos y el escalonamiento de las ventas, multiplica las fuentes de ingreso, mejorando la<br />

seguridad del sistema extensivo.


Los entrevistados presentan estrategias similares para disminuir costos y atenuar el impacto de las variaciones de precios. Por el lado<br />

de los insumos, se destaca la integración de la producción de maíz y de la elaboración de alimento y las compras de hacienda en forma<br />

directa. La gran sensibilidad que muestran los resultados económicos hace necesario que los productores implementen este tipo de<br />

estrategia en el abastecimiento de los insumos que mayor incidencia tienen en el costo directo. Se aseguran, además, un mayor control<br />

en la calidad de los mismos.<br />

Por el lado de la producción, la estrategia consiste en centrar el producto en un segmento del mercado que obtiene precios diferenciales,<br />

como es el ternero gordo. La fuerte coordinación con los diferentes tipos de demandantes les permite adaptar este producto a sus<br />

requerimientos de calidad, disminuyendo los riesgos derivados de la no conformidad del cliente.<br />

Las mayores diferencias entre los feedlots especializados y los establecimientos extensivos que integraron esta alternativa se observan<br />

en el tipo de producto y en el canal de comercialización. Si bien el ternero gordo es la principal producción, las empresas integradas<br />

engordan una mayor proporción de otras categorías, mostrando como el feedlot asiste, en cierta medida, a la dinámica de la producción<br />

del planteo extensivo. En este sentido, la eliminación de los gastos de comercialización y flete en la compra de hacienda facilita la<br />

complementación entre ambos sistemas. Por otro lado, la comercialización ha ido evolucionado en estas empresas hacia la venta a<br />

frigorífico con menores requerimientos de calidad que en el caso del supermercadismo. Las diversas actividades que debe desarrollar<br />

el productor 1 y los problemas de control derivados de la escala con que opera la empresa 2, aparecen como las principales causas que<br />

dificultan el cumplimiento de los requisitos de calidad de la gran distribución minorista.<br />

14. COMENTARIOS FINALES<br />

Este trabajo buscó aportar elementos de análisis que permiten comprender las condiciones que favorecieron la difusión del feedlot en<br />

Argentina, las características diferenciales asociadas a su gestión técnica y comercial así como los riesgos asociados a esta actividad y<br />

las estrategias que los productores utilizan para atenuarlos.<br />

El análisis del funcionamiento muestra diferencias marcadas entre sistemas intensivos y pastoriles. Las características técnicas y<br />

comerciales acerca al feedlot a la organización de los procesos productivos industriales, donde se fabrica regularmente un producto<br />

adaptado a los requerimientos de la demanda. Sin embargo, a diferencia de los sistemas extensivos, su escasa flexibilidad y alta<br />

sensibilidad frente a fluctuaciones en los precios, lo muestran poco adaptable a contextos inestables como los que frecuentemente<br />

sufre nuestra economía.<br />

El desarrollo de sistemas de engorde a corral se vio impulsado por un marco macroeconómico que determinó la existencia de relaciones<br />

de precio insumo/ producto favorables, acrecentó la demanda en forma continua por un producto de características definidas, facilitó<br />

la incorporación de tecnología específica, y disminuyó la incertidumbre propiciando la realización de inversiones.<br />

Por el contrario, el nuevo escenario económico, caracterizado por la incertidumbre en las principales variables que sirven de marco a<br />

la actividad productiva, cuestiona seriamente la sustentabilidad de los sistemas intensivos de engorde. En este contexto, las empresas<br />

que engordan su propia producción están en mejores condiciones para continuar con este tipo de actividad, al menos ocasionalmente.<br />

Sin embargo, la evolución futura que puede tener el feedlot en Argentina dependerá, en gran medida, de la capacidad de los actores para<br />

transformar el ambiente altamente inestable en que se desenvuelve esta actividad actualmente. Así, la introducción de nuevas formas<br />

de vinculación comercial, como las relaciones contractuales, podrían contribuir decididamente a disminuir la incertidumbre sobre los<br />

precios del producto. Por el lado de la producción, el desarrollo de técnicas que permitan reemplazar en la dieta al grano de maíz por<br />

derivados de la industria agroalimentaria, de menor precio, podría mejorar la competitividad de estos sistemas.<br />

.<br />

849


15. Bibliografia<br />

§ Iriarte, I. (1995): “Comercialización de ganados y carnes”. Camara Argentina de Consignatarios de Carne.<br />

§ Iorio, C. (2000): “Etude de la filière de la viande bovine: le cas de la Pampa Argentine”. Memoire de DEA. Analyse et Politiques<br />

Economiques. Université de Bourgogne.<br />

§ McDonal D. R. y Schroeder A. T. (2000). “Determinants of profit variability in fed cattle grid pricing”.Selected Paper Annual<br />

Meeting, June 29-July 1, 2000; Vancouver. British Western Agr. Econ.. Association SP00-06.<br />

§ Nelson, A. G. (1997). “Teaching agricultural producers to consider risk in decision making”. Texas A&M University System,<br />

Department of Agricultural Economics, College Station, TX.<br />

§ Rearte, D., ed. (1994): “El feedlot en Argentina”. SAGyP – INTA. Programa Nacional de Producción Animal. 1 : 26; 85 : 91.<br />

§ Soufflet J.F. (1988): “La filière bétail et viande bovine, fonctionnement et évolution de 1960 a 1985”. Thèse Doctoral,<br />

Montepellier I, Faculté de Droit et de Sciences Economiques, 580p.<br />

1 Departamento de Ciencias Sociales, Facultad de Ciencias Agrarias, Universidad Nacional de Mar del Plata. (ciorio@balcarce.inta.gov.ar)<br />

2 Departamento Economía y Sociología Rural de la EEA INTA Balcarce (mmosciaro@balcarce.inta.gov.ar)<br />

3 Iriarte, I., 1995; Cámara Argentina de Engordadores de Hacienda Vacuna 2001<br />

4 Si bien este tipo de producto se comercializa en todas los centros urbanos de relativa importancia, el principal destino son los locales<br />

ubicados en las zonas de mayor poder adquisitivo de la Capital Federal y en menor medida de Rosario y Mendoza.<br />

5 El establecimiento realiza una invernada larga (2 años) de novillos. Los terneros son recriados hasta 250 Kg en el establecimiento,<br />

siendo luego engordados en pastizales naturales de campos de la zona bajo capitalización.<br />

6 Solamente fue necesaria la compra de un tractor de 45 HP, un carro distribuidor con aireador y un chimango.<br />

7 Durante el 2001 la explotación estuvo a punto de ser vendida, provocando modificaciones en las entradas de al feedlot con respecto<br />

a años anteriores.<br />

8 Precios promedios Liniers, período 1991-2001en $/Kg: ternero: 0.962, novillo: 0.841 y vaquillona: 0.845.<br />

9 Esta ocurre a principios del otoño, a partir de la producción de terneros mamones de los sistemas de cría.<br />

10 Esta información es coincidente con lo expresado en una entrevista realizada en el año 2000 con el responsable del abastecimiento<br />

de hacienda y carne de Supermercados Norte.<br />

11 El productor 3, reorientó su negocio hacia la invernada pastoril de distintos tipos de animales en campo arrendado y en capitalización.<br />

850


PLURIACTI<strong>VI</strong>DAD Y PLURIINSERCIÓN: UN ESTUDIO EXPLORATORIO EN EL<br />

PARTIDO DE LOBOS, PCIA. DE BUENOS AIRES<br />

I. Introducción<br />

851<br />

Gloria Cucullu 1 y Miguel Murmis 2<br />

Ideas como las de hombre de campo, el campo, el sector agrario hacen pensar en sujetos sociales y actividades definidas por<br />

su conexión con la actividad agraria. Si bien eso no implica pensar en situaciones de autonomía o desconexión sí implica una clara<br />

diferenciación entre la actividad agraria y otras actividades. Consideramos que es pertinente explorar los distintos grados en que se da<br />

esta diferenciación, pues en las actividades agrarias están presentes sujetos con actividades y fuentes de ingreso propia o puramente<br />

agrarias junto con una gran diversidad de sujetos que tanto en sus actividades como en sus fuentes de ingresos están conectados con<br />

otros sectores de actividad económica. Este tema tiene una gran significación en el análisis social y va más allá de la identificación de<br />

sujetos económicos. En efecto, la historia social y el análisis sociológico utilizan categorías basadas en la distinción entre agentes<br />

sociales agrarios y otros agentes sociales. Nos preguntamos hasta dónde la presencia en el campo de una proporción significativa de<br />

agentes que tienen una pertenencia económica que va más allá del agro cuestiona esta forma de interpretación. Esta temática requiere<br />

sin duda explorar no sólo aspectos económicos sino también formas de participación política y cultural que esperamos podemos<br />

encarar más adelante en nuestro estudio. En verdad, en este momento estamos delineando sobre todo lo referente a lo agrario, esto es<br />

a la producción directo de elementos vegetales o animales y dejamos en un segundo plano lo referente a lo rural, esto al asentamiento<br />

en espacios en los cuales la producción agraria y la baja densidad pueden ser base de estilos de vida, culturas y formas de participación<br />

diferentes de las urbanas.<br />

En este estudio vamos a presentar materiales acerca de variadas formas en que los sujetos ligados al funcionamiento de las<br />

unidades de producción agropecuaria están insertos en el sector así como también en otras actividades. Nos interesa informarnos<br />

acerca del peso y significación de las actividades no agrarias para sujetos que son titulares de explotaciones agropecuarias. De ningún<br />

modo estamos proponiendo incorporar al análisis sociológico una nueva categoría de sujetos pluriactivos y pluriinsertos como base<br />

de la definición de grupos o fracciones sociológicamente significativos. No postulamos una base común de identidad para toda esta<br />

categoría. Creemos importante explorar en qué forma un aspecto presente en diversas clases, fracciones y conglomerados sectoriales<br />

modifica el funcionamiento de éstos.<br />

En esta etapa del estudio consideramos el caso de los titulares de explotaciones agropecuarias 3 . Dejemos en claro que aquí<br />

nuestro punto de referencia para “otras actividades es el de que no sean las actividades propias de la producción agropecuaria. De tal<br />

modo, no consideramos pluriactivos a los contratistas. Entendemos la lógica que lleva a estudiar esos acasos cuando se analiza la<br />

capacidad de la propiedad familiar de satisfacer las necesidades chacareras. Estamos simplemente privilegiando otra línea de corte.<br />

Una razón extra para esto es el que en nuestra zona, como también en otras , hay contratistas que trabajan con tierra arrendada o<br />

tomada por acuerdo con propietarios, lo cual hace imposible hablar de trabajo predial y extrapredial.<br />

Hay varias líneas de investigación y análisis que se han acercado a este tema en los últimos años 4 . Los aspectos de la<br />

cuestión que nos ocupa más frecuentemente estudiados han sido el de la multiocupación del campesinado, el de las características del<br />

asalariado agrario originado fuera del sector, el de la agricultura a tiempo parcial y la pluriactividad en explotaciones familiares y el de<br />

los grupos económicos con presencia en el agro. No retomaremos en este trabajo la revisión de la temática general que ya presen tamos<br />

en otro trabajo anterior 5 .<br />

Queremos hacer aquí sólo dos señalamientos introductorios. El primero tiene que ver con el hecho de que en nuestro estudio<br />

del partido de Lobos queremos explorar la presencia de situaciones de dedicación exclusiva a las actividades productivas agropecuarias<br />

y de la combinación de estas con otras actividades y con otras fuentes de ingreso en explotaciones agropecuarias correspondientes a<br />

la diversidad de tamaños y características que presentan las explotaciones del partido 6 . Con ese objetivo realizamos un conjunto de<br />

entrevistas exploratorias, algunos de cuyos resultados expondremos a continuación.<br />

La segunda observación que queremos realizar es que el fenómeno de que nos ocupamos es especialmente significativo en<br />

una situación como la pampeana donde la estructura agraria actual proviene de un proceso histórico en el cual la propiedad agraria fue<br />

el resultado de el ingreso de gentes que llegaron a él desde afuera, fundamentalmente desde la ciudad, luego de procesos de desplazamiento<br />

de pobladores aborígenes. . Si bien en niveles más ligados al trabajo productivo directo hubo también llegada desde afuera, esos nuevos<br />

llegados provenían en muchos casos de cultura s fundamentalmente agrarias y rurales. De cualquier modo, se trata de un proceso que<br />

difiere de los de las viejas sociedades agrarias.<br />

En el caso de Lobos y tomando como punto de partida los comienzos del siglo XIX, los productores corrientes y numerosos<br />

volcaban todo su tiempo y esfuerzo de trabajo en la explotación según la imagen histórica trasmitida por historiados como J. Mateo,<br />

J. Gelman y J.C. Garavaglia, que ahondan en los aspectos ocupacionales y familiares de la época. Sin duda las obligaciones cívicas de<br />

esa época, las guerras de la independencia ,las civiles y sobre todo las milicias de la defensa de fronteras absorbían parte del tiempo<br />

de agricultores y ganaderos., pero estos eran aspectos no laborales de la vida cotidiana. Por otra parte se puede afirmar que el<br />

aislamiento en términos de comunicaciones en un territorio amplísimo y sólo unido por caminos de barro y huellones , presenta un<br />

panorama muy diferente al del campo europeo y aun latinoamericano de países más poblados y con caminos de base de piedra. Es<br />

probable que nuestros pobladores bonaerenses se tuvieran que reducir a la situación de un trabajo excluyente obligados por la distancia<br />

y el aislamiento. Sin embargo estos condicionamientos valían más para la gran mayoría de modestos agricultores y ganaderos que para<br />

los cuadros de la élite terrateniente que analiza Mateo. La información que presenta para el caso de los Cascallares, en el extremo<br />

superior de la lista de prestigio y poder, muestra que no sólo se originan en un grupo urbano ascendente con negocios urbanos sino que<br />

el padre y creador de la dinastía alterna la atención de sus intereses urbanos y terratenientes. Igualmente ya hacia la segunda mitad del<br />

siglo, el joven Livingston ,hijo de un terrateniente escocés de Lobos, se dirige a Harvard a estudiar medicina y vuelve a radicarse a la<br />

Argentina. Esto no nos indica multiocupación por parte del padre ni del hijo pero nos induce a pensar que estas personas estaban


atentas a establecerse en profesiones ajenas a su condición de poseedores de tierra. Igualmente más tarde ,en el último cuarto de siglo,<br />

una familia escocesa compra tierra en Lobos y al mismo tiempo se pone a fabricar un antisárnico que tuvo amplia divulgación. Ya en<br />

esta época son muchos los terratenientes que alternan su condición de tales con la atención a inversiones en Bs.As. como Tomas de<br />

Anchorena o a altos cargos públicos como Mariano Acosta.<br />

Qué modificaciones trajo para los que tenían menor capacidad de acceder a la tierra la aparición del ferrocarril en Lobos ? No<br />

sólo comunicó personas y transportó cosechas sino que se le concedieron los campos adyacentes a los que vendió fraccionados<br />

,creando comunidades rurales y modificando el aislamiento habitual y dando probablemente lugar a una mayor diversificación laboral.<br />

Estos cambios coinciden con la aparición de la inmigración masiva y la incipiente importancia del pueblo cabecera de partido.<br />

Antes de entrar a presentar los resultados de esta etapa de nuestro estudio<br />

Agregaremos otros dos temas introductorios: una somera noticia sobre las características del partido de Lobos y luego una presentación<br />

de algunos problemas terminológicos ligados con nuestro estudio.<br />

II .Presentación del Partido de Lobos<br />

Lamentablemente no podremos incluir una presentación adecuada del Partido de Lobos. Sólo diremos que La cabecera del partido se<br />

halla a 100 Kms de la capital y los distintos puntos del partido están entre los 75 y los 135 Kms .<br />

En el Censo de 1988 contamos con 996 unidades productivas, es decir con explotaciones, no propiedades.<br />

III.Algunas observaciones terminológicas y de procedimiento.<br />

Para nuestro trabajo exploratorio construimos una muestra intencional de 20 casos. De ellos, 12 fueron titulares<br />

de explotación que tienen otra actividad y 8 titulares están dedicados exclusivamente a las actividades productivas agropecuarias y sin<br />

otra ocupación paralela.<br />

Utilizamos el término de pluriactivos para los titulares del primer tipo el de agrarios exclusivos para el del segundo tipo.<br />

En diversos estudios del tema que nos ocupa se toma en cuenta tanto la actividad del titular como su obtención de ingresos<br />

de otras fuentes tales como rentas o pensiones. Esta preocupación tiene que ver con el interés de captar la medida en que la actividad<br />

agraria es efectivamente la única en que se basa la reproducción y la acumulación en la unidad a cargo del titular. Esa preocupación<br />

también lleva a preguntarse por la medida en que familiares directos aportan a la unidad a través de otras actividades o fuentes de<br />

ingresos En nuestro estudio encontramos también situaciones en las cuales la actividad del titular está directamente conectada con la<br />

actividad de asociados cuyo aporte está ligado muchas veces a una compleja constelación de actividades y fuentes de ingreso.<br />

A tales situaciones las hemos denominado situaciones de pluriinserción por familia o de pluriinserción por asociación. Si<br />

bien en ese caso se trata de una pluriinserción de la explotación simplificamos la terminología hablando de titulares pluriinsertos por<br />

familia o asociación.<br />

Estas distinciones nos llevan a agregar un breve comentario sobre los problemas terminológicos de una temática que no se<br />

ha establecido ligada a un desarrollo teórico y que tampoco se basa en el lenguaje cotidiano. Mantenemos la expresión pluriactividad.<br />

Preferimos esta expresión a la de multiocupación en tanto el prefijo multi se asocia más a la idea de muchos mientras pluri puede<br />

limitarse a la idea de más de dos y al mismo tiempo actividad es más genérico que ocupación, término a veces identificado con<br />

determinadas características formales de los trabajos. Al mismo tiempo el término pluriactividad está claramente referido a una<br />

actividad de tal modo que fuentes de ingresos como las rentas o pensiones quedan excluídas del cubrimiento de ese término. Para<br />

indicar una conexión sin actividad por parte del titular hemos utilizado el término pluriinserción. En consecuencia el término<br />

pluriinserción cubriría todos aquellos casos que no implican una actividad distinta por parte del productor. De tal forma cubre tanto<br />

los casos en que el titular tiene personalmente otras fuentes de ingreso como los casos en que hay aportes a la explotación por parte<br />

de familiares o asociados, sea que esos aportes se basen en actividades productivas no agrarias o en rentas y pensiones. Dado que no<br />

encontramos casos de otra fuente de ingresos en nuestros titulares sino algunos casos de familiares o asociados que proporcionan<br />

aportes de uno u otro origen sólo hemos hecho referencia a pluriinserción por familia o asociación. Pensamos que en verdad sería<br />

necesario contar con un término genérico que cubriera todas las formas de conexión analizadas en los estudios sobre estos temas y<br />

quizá pluriinserción sería un término adecuado. Las características de nuestros casos nos han permitido usarlo en un contexto más<br />

limitado. Quizá sea necesario un término genérico distintivo tal como pluriparticipación.<br />

III. El material de las entrevistas<br />

Como dijimos hemos hecho veinte entrevistas exploratorias, si bien para algunos temas no llegamos a integrar el material de<br />

uno o dos casos. Al realizar las entrevistas pudo establecerse que de esos 8 agrarios exclusivos que nos habían sido indicados por<br />

informantes, había 5 conectados con otras actividades a través de las ocupaciones de miembros de su familia o de asociados mientras<br />

que se confirmó el carácter de pluriactivos de los 12 titulares seleccionados como tales.<br />

852


Como señalamos antes, el interés central de nuestra indagación está ligado en este momento a explorar la forma de inserción<br />

de pluriactivos en la actividad productiva agropecuaria, utilizando los casos puros para comparar características que diferencian entre<br />

si a ambas categorías.<br />

El primer resultado antes mencionado acerca de la reducción del numero de agrarios exclusivos de nuestra muestra como<br />

resultado de nuestras entrevistas<br />

fortaleció nuestra convicción inicial acerca de la existencia de formas de conexión de la actividad productiva agropecuaria con otras<br />

actividades y fuentes de ingreso inclusive en mayor pedido de lo previsto dado que nos acercamos a estas personas como agrarios<br />

exclusivos. Quede claro que esos sujetos eran efectivamente agrarios exclusivos en cuanto a su propia actividad personal, pero que<br />

estaban a cargo de explotaciones que funcionaban en conexión con toros sujetos que aportaban recursos provenientes de actividades<br />

o ingresos no agrarios. A esos sujetos pasaban a denominarlos agrarios de actividad exclusiva pluriinsertos por familia o asociación o.<br />

más brevemente, pluriinsertos.<br />

Es claro que no podíamos fortalecer esa convicción con la proporción inicial de pluriactivos dado que eso estuvo predeterminado<br />

por la muestra. Veremos, sin embargo que, uno de los resultados importantes de nuestra indagación fue la comprobación algo<br />

paradójica de que la presencia de pluriactivos no necesariamente está ligada a una distancia con respecto a la matriz agraria esto es a<br />

la presencia de sujetos decididamente ajenos a lo agrario y lo rural<br />

En el análisis que sigue presentaremos 1) algunas características de los tres conjuntos que quedan así definidos: los titulares<br />

personalmente pluriactivos, los titulares pluriactivos por conexión familiar o asociación y los agrarios exclusivos..<br />

2) A partir de allí exploraremos en qué medida los personalmente pluriactivos y los pluriinsertos por conexión familiar o por<br />

asociación constituyen casos cuya conexión con lo productivo agrario es débil o fuerte. El estudio de la medida en que la producción<br />

agropecuaria se realiza o no en empresas centradas en lo agrario y capaces de funcionar con capacidad de reproducción simple o<br />

ampliada, con capacidad de persistir y/o acumular es un tema que preocupa a todos los que trabajamos sobre pluriactividad. Una<br />

expresión social de este tema es el de la medida en que los titulares de explotaciones agrarias son sujetos económicos centrados en lo<br />

agrario productivo o, en caso de no tener la actividad agrario-productiva como actividad económica central y/o principal fuente de<br />

ingresos, mantienen con esta actividad una conexión más o menos estrecha. Tengamos presente que la pluriactividad puede dar lugar<br />

a una figura extrema de ausentista, tan mentada en la bibliografía tradicional. Conste que no pensamos simplemente en quien arrienda<br />

su tierra sino en el sujeto centrado en actividades urbanas que no tiene prácticamente contacto personal con la actividad agrarioproductiva<br />

y la vida rural. Esperábamos encontrar muchos casos con conexiones muy limitadas con lo agrario propiamente dicho.<br />

Vamos a ver cómo hemos ido encontrando que existe entre los pluriactivos una alta proporción de titulares con una relación cercana<br />

con el mundo de lo agrario.<br />

III.1 Características generales de la muestra estudiada<br />

Veamos primero algunas características generales de la población estudiada.<br />

Ante todo encontramos una gran variedad de ocupaciones entre los pluriactivos y de fuentes de ingreso entre los pluriinsertos<br />

por relaciones familiares o por asociación.<br />

... Tenemos entre nuestros entrevistados 8 profesionales liberales , a lo que se agrega un abogado que no ejerce y un<br />

agrónomo que no tiene una práctica profesional externa al predio, 4 empresarios fabriles, 5 dueños de comercios, un promotor de<br />

productos comerciales, un polista profesional y 1 organizador de actividades agroturísticas. Hay algunas superposiciones en esta<br />

enumeración: fábrica y comercio de alimentos balanceados son parte de una misma entidad y sin embargo figuran dos veces. Algunos<br />

profesionales son al mismo tiempo dueños de comercios: un veterinario es dueño de un negocio de insumos, un abogado es dueño de<br />

una fábrica., lo que da lugar a que el mismo sujeto aparezca más de una vez.<br />

Entre los exclusivos hay algunas profesiones: un agrónomo dedicado sólo a su explotación y un ingeniero industrial que no<br />

ejerce. Los agropecuarios que son los pluriinsertos por familia o asociación incluyen un caso de conexión con una profesional de la<br />

salud y dueña de tierra y casos de asociación con un propietario de empresa de fumigación, con un rentista urbano, y con un<br />

almacenero de campo.<br />

Entre los pluriactivos encontramos un abogado que no ejerce, otro abogado que ejerce y es empresario industrial, un<br />

empresario comercial, un dueño de fábrica de alimentos balanceados y comercializador, un bioquimico dueño de laboratorio de análisis<br />

médicos, un polista profesional, un veterinario funcionario estatal, un veterinario en ejercicio, un promotor comercial, un comerciante<br />

en talabartería., un fabricante de quesos, y un operador de agroturismo.<br />

arriba.<br />

Si bien su actividad agroproductiva muestra cierta variedad, ésta está ligado a las características del partido, presentadas más<br />

La búsqueda de un mayor aprovechamiento económico y las características particulares de la zona pampeana, llevan a la<br />

diversificación de las actividades dentro de la unidad productiva entre agricultura y ganadería..<br />

853


.Esta división es tradicional en la zona pampeana y particularmente en Lobos y otros partidos similares por ser por definición zona<br />

mixta , pero en las últimas décadas se han agregado nuevos tipos de explotaciones de carácter no agrícola -ganadero aunque aún dentro<br />

del ámbito de la unidad de explotación, como la producción de pollos, la cría o amanse de caballos para la venta, la producción de fruta<br />

etc. Una de las primeras observaciones que podemos hacer en el cuadro presentado es que la producción de pollos y caballos( y sería<br />

también así para la fruta) no requieren extensiones grandes de tierra . Así tenemos productores pequeños y medianos , que son muy<br />

o medianamente capitalizados, poseyendo o alquilando predios pequeños.<br />

Entre los 18 entrevistados hay 15 productores agrícolas y /o ganaderos , uno de los cuales es también productor (engorde)<br />

de pollos, y hay 3 predios dedicados a la producción de caballos de polo. En la búsqueda de variedad se va haciendo evidente, como<br />

se aprecia en el cuadro, que no se puede soslayar el hecho de que una gran mayoría de los productores lobenses se dedican a ganadería<br />

y agricultura y que la importancia de la producción de caballos, se mide menos por la frecuencia o la extensión que ocupa que por la<br />

presencia de una alternativa de importancia publicitaria y turística que actualmente pasa por un momento económico de falta de<br />

demanda.<br />

Entre nuestros entrevistados hay productores que son tales sin propiedad alguna de la tierra que trabajan. Uno de ellos se<br />

dedica exclusivamente a la ganadería y sólo explota campos alquilados, mientras otros de ellos es un productor agrícola que sólo trabaja<br />

tierras ajenas, alquiladas o a porcentaje, o como socio compartiendo gastos y ganancias.<br />

III.2 Tamaño y capitalización<br />

Para caracterizar a los sujetos incluidos en nuestra muestra con respecto a dimensiones habitualmente utilizadas para<br />

analizar la magnitud de los establecimientos los situaremos en términos de la extensión de sus explotaciones y de su nivel de<br />

capitalización.<br />

De esta búsqueda de productores “agrarios exclusivos” por un lado y de productores con ocupaciones externas diversificadas,<br />

resultaron entrevistados productores que se sitúan diversamente en el cuadro de tamaño de la explotación y grado de capitalización<br />

que presentamos a continuación:<br />

Muy capitalizado en capitalización descapitalizado<br />

maquinaria,instalacio- intermedia) (Ppp/expl)(Pers.perm p/explot<br />

nes, edificios., animales Tot<br />

(Personal perm p. p/explot)<br />

Productor grande I, H,J, K,L 5<br />

(más de 500 Has<br />

agrícolas o más)<br />

Productor mediano F, G, M 3 A, B, E . 6<br />

(de 150 a 500 Has<br />

Totales<br />

Pequeño productor- P,T,Q,R,S<br />

(menos de 150 Has) N 1<br />

C, D 0 8<br />

9 8 2 19<br />

854


Esta tabla está construída comparando solamente a los titulares agrarios exclusivos con los pluriactivos. Un examen de<br />

estos datos nos muestra que<br />

utilizando el criterio de titular solamente (ojo que los resultados cambian si tomamos en cuenta familia y asociación: sin embargo tiene<br />

lógica fijarse para esto en el titular) encontramos pluri en todos los niveles de tamaño, pero con mucho mayor peso en grandes y<br />

pequeños, y reducido peso en medianos. Si miramos capitalización sólo se los encuentra entre los de mediana y fuerte capitalización<br />

y están ausentes entre los de baja capitalización.<br />

Si combinamos las dos variables su frecuencia máxima se da entre pequeños de mediana y fuerte capitalización. Es notable<br />

la presencia de agrarios puros entre los pequeños no capitalizados. También reaparecen entre los de fuerte capitalización.<br />

Una primera idea interpretativa sería que hay dos grupos en que está presente la exclusividad: el pequeño descapitalizado<br />

que resiste. (y todavía puede resistir) y en los medianos capitalizados que serían empresarios especializados 7 .<br />

Una vez que se llega a la fuerte capitalización ya tenemos un capital que tiende a no especializarse en lo agrario.<br />

Hemos incorporado en esta tabla datos sobre el promedio de dependientes estables utilizados en los establecimientos, lo cual también<br />

nos puede servir como indicador acerca del carácter capitalista de los establecimientos. Puede verse en efecto cómo , aún con alguna<br />

excepción, existe una asociación entre tamaño y capitalización y uso de personal estable dependiente. Se observa también cómo la<br />

dedicación exclusiva al trabajo agrario está asociada a menor contratación de dependientes, si bien no se trata de una asociación<br />

perfecta.<br />

III.2 Pluriactividad y distancia respecto a lo agrario<br />

Una pregunta que surge inmediatamente al tomar conciencia de la existencia de pluriactividad y de pluriinserción es la de la<br />

medida en que las diversas actividades están conectadas y tienen o no una relación con la producción agropecuaria.<br />

Examinemos primeros los casos de los titulares de explotaciones que desarrollan a la vez otras actividades. A lo largo de esta<br />

presentación nos interesará ir viendo hasta dónde esas otras actividades están realmente separadas de la actividad agraria.<br />

En una primera distinción encontramos que la mitad de los titulares tienen actividad con algún tipo de conexión con la<br />

producción agropecuaria, mientras la otra mitad tienen alguna actividad sin ninguna vinculación con el sector agrario.<br />

Entre los seis titulares de explotación cuyas actividades extra se conectan con el agro, cuatro de ellos, o sea un tercio del total<br />

tienen una fuerte integración entre sus actividades de productores y sus otras actividades. Así, un tambero tiene en la misma<br />

explotación una quesería en que procesa su producción y también la producción de otro tambo. Un productor agrícola-ganadero exhibe<br />

una interesante forma de doble integración: Es propietario de una fábrica de alimento balanceado en la cual utiliza como uno de sus<br />

insumos su propia producción agrícola. Comercializa luego esos alimentos, utilizando también una parte para su propia producción<br />

ganadera.<br />

Un productor de caballos de polo es a la vez polista profesional. Esto implica también una doble o triple integración. Doble<br />

porque los caballos que entrena los utiliza para sus actividades fuera del país como polista profesional y a la vez los comercializa.<br />

Triple porque esa comercialización está favorecida porque sus cualidades y actuaciones de polista profesional son base de valoración<br />

de los caballos que vende.<br />

En un cuarto caso un veterinario combina su comercio con la explotación junto a su padre de una unidad agropecuaria, alquila<br />

otras, actúa como asesor de varias otras y en muchos casos se asocia con algunos de sus asesorados y además funciona como profesor<br />

en un secundario agropecuario, cuyos alumnos hacen pasantías en varias de las empresas a las que él está vinculado. Este caso nos<br />

pone en contacto con la capacidad para generar redes de negocios agropecuarios que es potenciada por la formación técnica, en este<br />

caso universitaria, en tareas agropecuarias.<br />

En los dos casos restantes de pluriactivos existe si no una relación de integración plena como en las anteriores sí, por lo<br />

menos una relación de afinidad entre la actividad de titular y sus otras actividades. Aquí un productor agropecuario es a la vez<br />

veterinario ocupado como funcionario de un organismo estatal y aplica su capacidad técnica en sus explotaciones, El otro caso es el<br />

de un criador de caballos que es a la vez comerciante en artículos de talabartería.<br />

Miremos ahora más de cerca los casos en que hay ocupaciones extras sin conexión con lo agroproductivo.<br />

Ser concesionario de vehículos, abogado e industrial, dueño de una fábrica de plásticos, bioquímico y propietario de una<br />

empresa de análisis clínicos, rentista urbano, comisionista e intermediario comercial son sin duda actividades desligadas de lo agrario.<br />

Iniciemos sin embargo una mirada más cercana a estos sujetos para evaluar la magnitud de ese estar desligados, mirada que<br />

proseguiremos desarrollando a lo largo de otros temas conexos que nos permitirán evaluar esa magnitud.<br />

De esos seis sujetos hay dos que tienen en verdad dos actividades además de la agraria y de esas dos, una está conectada con<br />

la actividad agraria. Uno de ellos, concesionario de vehículos, está desarrollando desde hace años una empresa de acopio de cereales,<br />

situada en su tierra, en la cual no sólo procesa su producción sino también volúmenes importantes de otros productores. El otro<br />

además de rentista urbano y productor agropecuario maneja una unidad de agroturismo en la cual ofrece a sus huéspedes el contacto<br />

855


con sus partes productivas. Como sabemos, además de los productores personalmente pluriactivos, hemos encontrado que en el caso<br />

de varios productores que se especializan en la actividad productivo agropecuaria el funcionamiento de sus explotaciones está ligado<br />

por familia o por asociación con personas que se dedican a otras actividades.l<br />

De los cinco casos que tenemos en esa situación, algunos se conectan con personas sin ligazón con lo agropecuario y otros,<br />

por el contrario se conectan con personas ligadas con la actividad que nos interesa.<br />

De los tres productores con asociación con familiares que no son titulares de explotación, dos se ligan con actividades o<br />

fuentes de ingreso claramente no agropecuarias tales como la renta urbana o la práctica de la odontología.<br />

El tercero de ellos funciona conectado con familiares que manejan un almacén rural que comercializa parte de su producción<br />

y con otro pariente que procesa artesanalmente parte de sus productos.<br />

Los dos conectados por asociación están ligados a otros productores agropecuarios. En un caso se trata de la actividad<br />

agrícola ganadera en tierras propias, arrendadas y contratadas y el otro es un productor agrícola que trabaja muchas hectáreas de tierra<br />

en régimen de arrendamiento o de contrato con un socio que tiene una empresa de fumigación agropecuaria. El tema de las asociaciones<br />

de hecho merecen una atención especial: su consideración cuidadosa puede llevar a modificar incluso nuestra noción de titular de<br />

explotación. 8<br />

Si retomamos los casos en que no encontramos integración productiva, algunos de ellos nos muestran la existencia de otros<br />

lazos. Así quien ejerce la práctica profesional en el área salud sin ser titular de explotación es una cónyuge que es la dueña de la tierra<br />

utilizada por el productor.<br />

Pero vale la pena en este punto atender a otros tipos de conexiones. Hablamos antes del bioquímico que cría caballos. Nos<br />

aparece aquí un interesante caso a considerar en sus implicancias para la comprensión de las motivaciones detrás de la utilización del<br />

campo para la “diversificación”. El bioquímico en cuestión comparte con un hermano la explotación y ambos son a la vez dueños y<br />

directores de un laboratorio de análisis clínico en la capital. La ocupación externa tiene una importancia económica desmesurada<br />

respecto a la cría y preparación de caballos de polo , por lo que ésta no es (por el momento) considerada por los implicados como una<br />

empresa que intente obtener ganancia sino que tiene otras finalidades : constituirse en un capital social, con implicancias económicas<br />

(préstamos de dinero de relaciones europeas) para el trato de círculos sociales internacionales vinculados al deporte del polo. Tenemos<br />

que considerarlo una explotación? Si , porque produce y vende caballos, aunque ello puede que no cubra los gastos que origina ,<br />

mantenimiento de canchas de polo, instalaciones ,casas, parque . ¿Sirve también para originar gastos y disminuir impuestos.<br />

Probablemente sea éste también el caso del dueño de la concesionaria que mencionamos más arriba ¿Tiene la empresa concesionaria<br />

una política de corto y de largo plazo con la finalidad de absorber impuestos capitalizándose en el largo plazo ?<br />

Nos quedarían sólo dos pluriactivos cuya conexión no es clara que es el abogado y el rentista urbano. Como veremos luego,<br />

en el caso del abogado, existe otro tipo desconexión con el agro.<br />

III.3 Otras formas de conexión<br />

Hemos estado viendo en qué forma se combinan las actividades agrario-productivas con otras actividades y fuentes de<br />

ingresos. Queremos ahora incorporar la exploración de otras formas en que se da esa conexión. Un primer tema que tocaremos en ese<br />

contexto es el de el papel que desempeñan unas y otras actividades e ingresos en el establecimiento de la actividad agraria., en el origen<br />

¿Nos encontramos ante titulares de explotaciones agrarias que han salido a complementar sus actividades e ingresos agrarios con<br />

actividades o ingresos de otros sectores? En análisis de la situación de los chacareros se plantea muchas veces que la imposibilidad de<br />

satisfacer sus necesidades de reproducción con el producto de sus explotaciones los lleva a buscar complementos de actividad fuera<br />

de éstas. Si dejamos de lado por ahora el caso de los contratistas, entre nuestros casos no nos encontramos con esa situación. Nuestros<br />

entrevistados no son titulares agrarios que salieron en busca de otras ocupaciones. Una excepción es el caso de un titular que hereda<br />

tierra como miembro de una familia tradicional de la zona y también hereda tierras en otras zonas del país a través de su cónyuge.<br />

Diversos contratiempos en el manejo de esas tierras lo obligan a buscar ingresos a través de actividades comerciales de pequeña<br />

envergadura y empleos transitorios.<br />

En varios casos nos encontramos con que el planteo mismo de la actividad económica se hace a partir de una actividad<br />

integrada lo cual nos lleva a hablar de contemporaneidad en la pluriactividad. Así, el desarrollo de actividades de pollita profesional se<br />

hace al mismo tiempo en que se desarrolla la cría venta de caballos, el establecimiento de un comercio de productos veterinarios se hace<br />

a la vez que se explota una unidad familiar y se entra en arreglos de sociedad con productores asesorados, el desarrollo de un tambo<br />

se hace al mismo tiempo que se establece una quesería.<br />

El movimiento que se da con mayor frecuencia es el movimiento de afuera hacia el campo. Esto se aplica tanto para un<br />

abogado, como para un industrial, un concesionario de vehículos, un veterinario funcionario estatal, un comerciante en talabartería, un<br />

rentista urbano, un ex empleado<br />

856


A diferencia de esa situación de salida desde el agro nos encontramos con una gama de situaciones que van desde una<br />

conexión con el agro contemporánea con la asunción de la otra actividad hasta, en el otro extremo, la entrada directa desde fuera del<br />

agro, desde ocupaciones sin ninguna conexión con éste. Entre estas dos situaciones existe una serie de puntos intermedios en los cuales<br />

está presente una mayor o menor conexión con el agro.<br />

Mencionemos primero la situación de contemporaneidad. Quien organiza una explotación ligada a la práctica del polo y la<br />

venta de caballos de polo, organiza esta explotación de tal forma que su actividad como jugador de polo, muchas veces en países<br />

lejanos, es parte de un conjunto en el cual la cría y el entrenamiento de caballos en una explotación lobense es componente esencial de<br />

sus actividades.<br />

Un veterinario joven establece un comercio de productos veterinarios y asesorías en el pueblo o la ciudad cercana y al mismo<br />

tiempo se hace cargo de la explotación paterna, en carácter de socio, para desarrollar producción agropecuaria.<br />

En lugar de saltar ahora al extremo de la total diferenciación entre actividad agraria y actividad precedente veamos algunas<br />

de la situaciones intermedias.<br />

La segunda situación a considerar es la de titulares que llegan a estar a cargo de una explotación agropecuaria a partir de<br />

actividades precedente dentro del sector o en áreas afines, A un veterinario que ejerce su profesión como dependiente en un organismo<br />

estatal se le ofrece la oportunidad de convertirse en titular de una explotación agropecuaria. Comienza con una unidad propiedad de<br />

su mejor, a la que accede por herencia de ésta luego de estar ya ejerciendo su profesión. Hasta tal punto asume esta nueva actividad<br />

que, sin abandonar su ocupación de técnico estatal va incorporando a su actividad de productor distintos predios comprados,<br />

arrendados y operados con socios. Un empleado de una consignatario de hacienda y comercializadora de semillas durante más de una<br />

década, a partir de cierta acumulación de capital y conocimiento empieza a alquiler tierra para la producción de carne y establece una<br />

fábrica de insumos alimenticios para el ganado. Un propietario de un exitoso comercio de talabartería compra tierra y establece un<br />

explotación dedicada a la cría y entrenamiento de caballos de polo. Un comerciante rural con almacén en plena zona de campo acumula<br />

con su familia en plena zona de campo acumula con su familia compra una pequeña explotación.<br />

Una tercera situación es la de quienes establecen o compran unidades de producción a partir de actividades sin relación con<br />

la producción agropecuaria.<br />

Tenemos aquí una gran variedad de ocupaciones previas, que ya hemos mencionado: el dueño de una gran concesionaria de automóviles,<br />

un prestigioso abogado porteño, un abogado y fabricante local, un rentista porteño, bioquímicos dueños de un importante laboratorio<br />

o un ingeniero industrial ejemplifican esta situación.<br />

La actividad extraagraria no sólo hace posible en algunos casos y ofrece respaldo en otros para la actividad agraria sino que<br />

proporciona capital que se utiliza en el campo. Así ,generalizando ,vemos más de la mitad de los pluriactivos y pluriinsertos por<br />

familia o asociación dependieron en sus inicios en mayor o menor medida de capital extraagrario. Como muestran varios de los<br />

entrevistados no podrían haber iniciado sus explotaciones en las condiciones de capitalización en que se encuentran sin una<br />

inserción externa ( caso mencionado por los más capitalizados en sus explotaciones o por los que disponen de más capital externo. Es<br />

decir la inserción externa en una empresa o en una profesión son en estos casos condición necesaria de la misma existencia de la<br />

empresa agropecuaria bajo estudio. Entre aquellos entrevistados con una ocupación externa a la unidad productiva, que poseen<br />

menos capital y recursos que los antedichos ,encontramos quienes también se apoyan en una actividad profesional o de comercio de<br />

insumos o de comercio de ramos generales para la compra o para la seguridad de que la explotación disponga de capital. La inyección<br />

externa es también importante para mantener la explotación en los periodos de malos precios agrarios .Así un entrevistado afirmó<br />

redondamente: por Re : “el capital sale de la concesionaria, no del campo”.<br />

Contactos menos inmediatos<br />

A propósito de la relación entre actividad agropecuaria y otras actividades e ingresos hay otro tema que queremos tocar es el de las<br />

relación menos inmediatas pero también reales que estos pluriactivos tienen con la actividad agropecuaria, algo a lo que nos referimos<br />

como la cuestión de la forma de acceso a la tierra y la tradición agropecuaria.<br />

Una primera variante que restablece la conexión entre ocupaciones ajenas al agro y la actividad de productor es el acceso a<br />

la tierra por herencia o cesión familiar una vez que el sujeto ya se ha establecido en la actividad no agropecuaria.<br />

Así, entre los ajenos al agro mencionados más arriba nos encontramos con que el ingeniero industrial accede a tierra a través de una<br />

herencia de su mujer, ampliando su superficie, el prestigioso abogado y el abogado y fabricante local y los bioquímicos participan de<br />

un proceso similar.<br />

Una segunda variante, establece una conexión, si bien algo más distante, tanto entre algunos que vienen de actividades ajenas<br />

y también entre algunos provenientes de actividades relacionadas con lo agrario. Nos referimos a lo que llamamos tradición agraria.<br />

857


Habría aquí una discontinuidad generacional entre la actividad agraria de algún antepasado y la actividad de los sujetos de nuestro<br />

estudio. El organizar una explotación agropecuaria aparece como la restitución de un vínculo preexistente. En esta situación se<br />

encuentran tanto el prestigioso abogado porteño como el dueño de talabartería.<br />

Como resultado de este recorrido por los casos vemos que aquellos que son totalmente ajenos al sector se van reduciendo<br />

en número: sólo nos queda el concesionario de automotores y un rentista porteño.<br />

Mencionemos finalmente otros indicadores de la cercanía de estos titulares pluriactivos con respecto a la actividad<br />

agropecuaria. Dos tercios de ellos participan en el trabajo físico del predio, además del administrativo, y el resto realiza tareas de<br />

gestión, que frecuentemente encierran un cierto componente de actividad física.<br />

Todos los entrevistados, menos un pluriactivo, están presentes en sus predios más de un día por semana.<br />

Un tercio de ellos vive en el campo, uno en un pueblo cercano, otro tercio vive en la ciudad local, de tal modo que sólo tres<br />

viven en Buenos Aires.<br />

IV Observaciones finales<br />

Dentro de las limitaciones que resultan de una muestra del tipo de las que manejamos hay tres aspectos que creemos vale<br />

la pena subrayar<br />

El primero tiene que ver con la diversidad de ocupaciones externas a la explotación con que nos encontramos en un ejercicio<br />

preliminar de este tipo.<br />

El segundo tiene que ver con el predominio de las situaciones de entrada al sector por parte de sujetos con otras ocupaciones.<br />

El tercero es el que aún dado este predominio existen una serie de puentes entre las actividades e historias personales de<br />

quienes se incorporan a la producción agropecuaria desde afuera y las actividades agarras y el medio rural.<br />

Estos puntos son importantes para regresar el problema que nos llevó a encarar este estudio. Nos referimos a la pregunta<br />

por las características propias de esa población recurrentemente activa, el tan mentado “campo”<br />

858


Bibliografía básica<br />

Angueira, Juan (1937), El pago de los Lobos, Noticias y Apuntes. Publicaciones del Archivo Histórico de la Provincia de Buenos<br />

Aires, Contribución a la historia de la Provincia de Buenos Aires, Talleres de Impresiones Oficiales, La Plata.<br />

Barberis, C (1975) «L´ammontare delle aziende contadine ´part time´» en De Vecchis, Fabrizio; Varotti, Adriano Il Marxismo e la<br />

Questione Agraria in Italia. Storia Teoria Metodologia, Savelli, Roma.<br />

Basualdo, Eduardo; Joon Hee Bang (1997), Los grupos de sociedades en el sector agropecuario pampeano, FLACSO-INTA, Buenos<br />

Aires<br />

Bennett, John; Kohl, Seena (1982): On Time and the Enterprise. North America Family Farm Management in a Context of Resource<br />

Marginality, University of Minessota Press, Minneapolis<br />

Brinkman, George (s/d): Farm Incomes in Canada, Economic Council of Canada and The Institute for Research on Public Policy,<br />

Canada.<br />

Craviotti, Clara (1997), Proyecto de investigación sobre pluriactividad en Junín, dact., Buenos Aires.<br />

Craviotti, Clara (1998), Pluriactividad: su incorporación en los enfoques y en las políticas de desarrollo rural, inédito, Buenos Aires<br />

Conway, J.F. (1984): “The Decline of the Family Farm in Saskatchewan” en Prairie Forum, Vol. 9. No. 1.<br />

Dell´Angelo, G. (1975), “La sottoccupaziones contadina” en en De Vecchis, Fabrizio; Varotti, Adriano Il Marxismo e la Questione<br />

Agraria in Italia. Storia Teoria Metodologia, Savelli, Roma.<br />

Duby, Georges (1976): Rural Economy and Country life in the Medieval West. University of South Carolina Press, Columbia, EEUU<br />

Eizner, Nicole (1985), Les Paradoxes de l´Agriculture Francaise, L´Harmattan, Paris.<br />

Franklin, Harvey (1971) “The Worker Peasant in Europe” en Shanin, Teodor Editor: Peasants and Peasant Societies, Penguin<br />

Education, Great Britain<br />

Genicot, L. (1971) “Crisis: From the Middle Ages to Modern Times” en Postan, M. M. Editor The Cambridge Economic History of<br />

Europe. Volume I. The Agrarian Life of The Middle Ages. CambridgeUniversity Press, Londres.<br />

Giarracca, Norma; Aparicio, Susana (1991) Los Campesinos Cañeros: Multiocupación y Organización. Cuadernos de Investigaciones-<br />

Facultad de Ciencias Sociales, Buenos Aires.<br />

González, María del Carmen, Bilello, Graciela (1996a): “Heterogeneidad y Estrategias de los Productores Agrarios de la Región<br />

Pampeana Argentina. El Partido de Azul” en Políticas Agrícolas, Vol ll, Núm 2, REDCAPA, México<br />

González, María del Carmen, Bilello, Graciela; Puppi, Nora; Román, Marcela (1996b) : Productores Empresariales con Pluralidad de<br />

Ingresos del Partido de Azul. Análisis Económico de sus Estrategias Productivas. Presentado en la XX<strong>VI</strong>II Reunión de Economía<br />

Agraria, FALTA LUGAR<br />

Gras, Carla (1998), Productores y producción tabacalera en Tucumán, Informe Beca Conicet<br />

Instituto Agrario Argentino (1939) “Lobos, Provincia de Buenos Aires” Informes de IAA, Año 1 , No 2 , Buenos Aire<br />

Kayser, Bernard (1990): La Renaissance Rurale, Armand Colin, Paris.<br />

Klein, Emilio(1993) “El empleo rural no agrícola en América Latina” en Latinoamérica Agraria Hacia el Siglo XXI, CEPLAES, Quito,<br />

Ecuador.<br />

Laslett, Peter (1965): The World we have lost, Methuen & Co. Ltd., London<br />

Lattuada, Mario; Humberto Mascali y Antonio Tamagnone (1992) “Participación y desarrollo de pequeños productores en el área de<br />

influencia de una cooperativa agropecuaria” en Barsky et al. Explotaciones familiares en el agro pampeano, CEAL:Buenos Aires, 3<br />

vols.Vol 2<br />

859


León, Magdalena; Deere, Carmen (1982): “La proletarización y el trabajo agrícola en la economía parcelaria: La división del trabajo<br />

por sexo, en Magdalena Leon (Editora) La Realidad Colombiana, ACEP, Bogotá.<br />

Lovejoy, Stephen; Krannich, R (1982) “Rural Industrial Development and Domestic Dependency Relations: Towards an Integraged<br />

Perspective” en Rural Sociology, Vol 47, Number 3, University of Kentucky, Kentucky.<br />

Martinez, Luciano (1991) Situación de los campesinos artesanos en la Sierra Central del Ecuador: Provincia de Tungurahua. Quito.<br />

Mimeo<br />

Murmis, M. (1998) “El Agro argentino: algunos problemas para su análisis” en Norma Giarracca, Silvia Cloquell compiladoras Las<br />

agriculturas del Mercosur, La Colmena, Buenos Aires.<br />

Murmis, Miguel (1995) Pobreza rural: Datos recientes y diversidad de situaciones ocupacionales. Presentado al 1er. Seminario sobre<br />

Pobreza Rural y Politicas Sociales, Buenos Aires<br />

Perez, Rocio S. (1997): “Cuarenta años de política agraria europea” en Revista Panorama Agrario Mundial. Número 199, año 21,<br />

Noviembre-Diciembre de 1997, Buenos Aires<br />

Quaglia, Juan (1974) Lobos, mi pueblo. Editorial Santamarina, Lobos, 1974.<br />

Sábato, Jorge; Schvartzer, Jorge (1983): Funcionamiento de la economía y poder político en la Argentina: Trabas para la democracia,<br />

CICEA, Buenos Aires<br />

Soverna, Susana; Craviotti, Clara (1998): Los Estudios de Casos: su Utilidad para el Análisis Sociológico y la Formulación de<br />

Programas de Desarrollo Rural. Presentado en las Jornadas Extraordinarias de Estudios Agrarios “Horacio Giberti”, Buenos Aires.<br />

Strassoldo, Raimondo (1996) Sociologia dell’agricoltura, La Nuova Italia Scientifica, Roma<br />

Tsakoumagkos, Pedro, (1997):Indagaciones sobre la pequeña producción agraria en contextos de pobreza, presentado al I Congreso<br />

Internacional de Pobres y Pobreza en la Sociedad Argentina, Buenos Aires<br />

W.W.Wilcox; W.W.Cochrane; R.W.Herdt,(1971) The Economics of American Agriculture, Prentice Hall, Englewood Cliffs.<br />

1 Investigadora independiente, MA en Sociología, University of California, Berkeley. Email: gcucullu@hotmail.com.<br />

2 Investigador principal de Conicet en Flacso. Asesor, Universidad Nacional de General Sarmiento murmis@mail.retina.ar<br />

3 Dejamos para adelante la consideración de los asalariados y de los propietarios de tierra que no son titulares de explotación.<br />

4 Lista de trabajos de la gente del grupo. No olvidar Clara en Estudios del Trabajo.<br />

5 Gloria Cucullu<br />

6 Un trabajo pionero que cubre todas las explotaciones de un partido es el María del Carmen González, Graciela Bilello y Marcela<br />

Román<br />

7 Ver González- Román donde lo claro que es los familiares capitalizados son los puros.<br />

8 Dos terceras partes de nuestros entrevistados están asociados de una u otra manera. Así como en los casos que acabamos de<br />

mencionar la asociación conecta a un titular agrario exclusivo con actividades no agrario productivas, en varios casos la asociación<br />

fortalece el carecer agrario de las explotaciones, adoptando formas complejas en que cada asociado hace aportes correspondiendo a<br />

distintos modos del ciclo productivo.<br />

860


“PROCESOS DE CAMBIO EN LAS ESTRATEGIAS PRODUCTIVAS DE LOS<br />

PRODUCTORES FAMILIARES PAMPEANOS, EN EL MARCO DE LA<br />

GLOBALIZACIÓN” 1<br />

Resumen<br />

861<br />

Graciela Bilello 2 , Karina Block 3<br />

Puesta en evidencia la heterogeneidad social, económica y productiva del agro pampeano a partir de la expansión agrícola en<br />

el marco de la globalización resulta interesante reconsiderar las posibilidades de permanencia de productores familiares.<br />

La combinación de actividades, así como la relación de tenencia del recurso suelo; aparecen vinculadas a las posibilidades<br />

económicas de los productores. El presente trabajo se propone analizar procesos de concentración y cesión de tierras, así como de<br />

desaparición de unidades productivas comparando su incidencia entre los productores familiares y no familiares de bajos recursos.<br />

Se trabaja una región representativa de las áreas mixtas pampeanas, el partido de Azul. Se parte de la base de encuestas<br />

realizadas para investigaciones anteriores y se releva información con entrevistas en profundidad (estudios de caso) a productores<br />

considerados representativos y modales de las situaciones que se busca interpretar. Se analizan las estrategias productivas que<br />

articulan con la toma/cesión de tierras y la existencia de ingresos extraprediales.<br />

Introducción<br />

Puesta en evidencia la heterogeneidad social, económica y productiva del agro pampeano a partir de la expansión agrícola en<br />

el marco de la globalización resulta interesante reconsiderar las posibilidades de permanencia de productores familiares.<br />

El nuevo contexto planteado en Argentina a partir de la implementación de políticas de integración económica a<br />

nivel internacional con una fuerte apertura económica marcó la inserción del sector agropecuario en un mercado globalizado y<br />

competitivo. Esto generó la necesidad de reconvertir las unidades productivas pampeanas tanto en los aspectos productivos específicos<br />

como en las estrategias desplegadas por los productores que las conducen. Fundamentalmente requirió de la incorporación tecnológica<br />

para aumentar la productividad, la búsqueda de escala, así como de mecanismos que permitan aumentar ingresos y rentabilidad en un<br />

proceso genéricamente denominado como de “modernización”.<br />

En los aspectos netamente productivos, la década del ´90, con la implementación del llamado Plan de Convertibilidad,<br />

marcó un reimpulso de la “agriculturización” iniciada en los setenta, noción que denota tanto la ampliación como la intensificación del<br />

cultivo de los principales granos cerealeros y oleaginosos, con una nueva expansión agrícola, tanto en áreas agrícolas como mixtas<br />

pampeanas. (Bilello, 2001)<br />

Varios estudios sobre el tema muestran que las respuestas de los productores a esta reorientación productiva,<br />

fueron diferenciales según tipos de explotaciones y de productores que las conducen. (Barsky, 1992; Bilello et al, 1998; González y<br />

Román, 2000; Bilello, 2001; Puppi, 2001; González, 2002)<br />

Los atributos esenciales y mayoritariamente aceptados para caracterizar a la agricultura familiar tienen que ver<br />

con: la relación tierra-trabajo familiar, la fuerza de trabajo la proveen preponderantemente los miembros de la familia; el acceso<br />

limitado a los recursos de tierra y capital, los predios familiares se ubican en los rangos más bajos de tamaño de la tenencia agrícola<br />

y también, mayoritariamente en áreas con recursos naturales degradados o con menor potencial relativo; y por último por relaciones<br />

de subordinación con los mercados, ya que en mayor o menor grado, todas las explotaciones familiares están integradas al mercado,<br />

a través de la venta de productos y/o fuerza de trabajo, y la compra de artículos de consumo, insumos productivos o bienes de capital.<br />

(Etchenique, 2000). Los productores familiares se reconocen por ser sujetos que combinan el trabajo directo con la propiedad del<br />

capital (Murmis, 1980).<br />

La persistencia de estas formas de producción en América Latina han cuestionado las interpretaciones pretéritas, que<br />

consideraban a la agricultura familiar como un residuo tradicional precapitalista, condenado a desaparecer en el transcurso de la<br />

modernización de las estructuras económicas y bajo el influjo dominante de la globalización de los mercados. (Etchenique, 2000)


El nivel de capitalización de estas unidades marca diferencias que pueden influir en las estrategias particulares desplegadas.<br />

Para analizar la forma en que interviene ese capital, varios estudios incluyen la distinción de productores familiares en función de su<br />

grado de capitalización. Sin embargo, no siempre la forma de determinar ese nivel resulta objetiva o sencilla. Para su estimación, los<br />

niveles de detalle varían, desde la simple valorización o aproximación a través de los ingresos globales, hasta el cálculo de sus tasas de<br />

ganancia.<br />

Murmis (1998) se refiere a los productores familiares capitalizados como una franja productiva con severos problemas en<br />

la región pampeana, éstos junto a los establecimientos pequeños se vieron imposibilitados de insertarse en el proceso de capitalización,<br />

siendo el tema del endeudamiento un factor determinante como fuerza expulsora de los mismos. Le asigna a la asociación de<br />

productores -compra común de insumos, procesamiento y comercialización- una importancia significativa para estos productores.<br />

La combinación de actividades, así como la relación de tenencia del recurso suelo; aparecen vinculadas a las posibilidades<br />

económicas de los productores en un contexto que tiene que ver con las estrategias económicas que cada uno desarrolla.<br />

Los ingresos de las explotaciones familiares se relacionan directamente con las estrategias productivas. De esta forma es<br />

posible encontrar productores agrarios puros, que no recurren a otras fuentes de ingreso, productores que recurren a diversas<br />

combinaciones, y otros cuya fuente principal de ingresos es extrapredial (Cucullu y Murmis, 1998; González, et al, 1997; Román y<br />

González, 1999; Neiman et al, 2000; Craviotti, 1999).<br />

Para que los pequeños productores incrementen sus excedentes económicos, aumenten su competitividad, puedan cubrir<br />

satisfactoriamente el nivel de vida de sus familias y reactivar sostenidamente el proceso de inversión, es necesario el cambio<br />

tecnológico, contemplando nuevas alternativas de diversificación productiva, ampliando el conocimiento acerca de los mercados y las<br />

nuevas estrategias financieras y comerciales.<br />

Esta modernización productiva y de gestión está limitada para las pequeñas unidades agrarias en relación a una menor<br />

posibilidad de acceder a financiamiento así como de asumir riesgos. (Figueroa, 1996)<br />

La búsqueda de competitividad requiere asimismo el aumento de la escala de producción, no siempre suplida por el cambio<br />

tecnológico, y si además éste se hace lento o imposible, la falta de dimensión de las explotaciones resulta evidente.<br />

En igual medida, la composición familiar y el grado de capitalización se asocian a la puesta en práctica de estrategias<br />

expansivas. La expulsión de trabajo sobrante o la paulatina incorporación de los hijos al proceso productivo depende de la cantidad<br />

de tierra que controla cada grupo doméstico. El trabajo de los hijos permite la expansión económica de la explotación. (Archetti y<br />

Stölen, 1975)<br />

Las familias comprometidas en mayor o menor grado con el proceso de producción toman decisiones y tienen<br />

comportamientos que no pueden interpretarse si no se las ubica en los procesos de la región y de la sociedad en la que están inmersos.<br />

(Villafañe, 1995)<br />

La producción dominante de la región es agrícola-ganadera pero las características agroecológicas marcan una predominancia<br />

de aptitud para la ganadería extensiva.<br />

Concretamente en el partido de Azul, en la región pampeana sur, pueden reconocerse dos subregiones una al norte con<br />

mayores limitaciones y otra al sur, de características mixtas con bolsones aptos para la agricultura de alto rendimiento.<br />

Los productores familiares, tanto capitalizados como de bajos recursos se ubican mayoritariamente en la zona ganadera<br />

del norte. (González y Bilello, 1996)<br />

El supuesto que guía esta investigación es que la heterogeneidad existente entre las unidades pequeñas, familiares y no<br />

familiares pampeanas hace que las estrategias desplegadas en la consecución de un objetivo común que en principio es la persistencia<br />

como productores, sean diferentes. Asimismo, cuando en la familia hay hijos en edad de generar sus propios ingresos, las estrategias<br />

productivas de la explotación se transforman en función de garantizar la inclusión de las nuevas generaciones a la actividad.<br />

El presente trabajo se propone analizar la evolución de la propiedad y la tenencia, buscando detectar procesos de<br />

concentración y cesión de tierras, así como de desaparición de unidades productivas. Se ponen también en consideración la estrategias<br />

tanto productivas como de gestión comparando su incidencia entre los productores familiares y no familiares de bajos recursos<br />

862


Metodología<br />

El área de estudio es el partido de Azul, provincia de Buenos Aires, caracterizado como mixto-ganadero. De las explotaciones<br />

agrarias de Azul, la mitad está conformada por las denominadas “explotaciones familiares”, sean éstas capitalizadas o poco capitalizadas<br />

y por las “no familiares” poco capitalizadas, ya que de la muestra estadística de 141 unidades productivas, representaban sumadas<br />

el 51% (González y Bilello, 1996).<br />

Se parte de la base de encuestas realizadas para investigaciones anteriores correspondientes a la campaña agrícola 1995/96,<br />

de la cual se logró realizar una caracterización de los productores del área.<br />

De los tipos detectados se seleccionaron casos considerados representativos y modales de las formas familiares (Capitalizadas<br />

y poco capitalizadas) y de los no familiares de bajos recursos, respetando un porcentaje no menor al 10 % de cada estrato, por lo que<br />

se estudiaron en total 19 explotaciones. A estos productores se les realizaron entrevistas en profundidad que permitieron efectuar los<br />

estudios de caso que se exponen.<br />

Para ello se confeccionó un cuestionario dirigido a los productores seleccionados con el objeto de relevar las tendencias en<br />

la evolución de las explotaciones así como en las estrategias productivas y de gestión desarrolladas, teniendo en cuenta los aspectos<br />

de interés para el logro de los objetivos planteados. El mismo se basó en tres grupos de temas, el primero referido a las características<br />

del productor agropecuario, el segundo relevando los datos de la explotación y el tercero referido a la articulación entre la orientación<br />

de la producción y las formas de generar ingresos acordes con la necesidades del productor y su familia.<br />

El enfoque para analizar las explotaciones familiares fue el de gestión. Teniendo en cuenta la situación de reconversión,<br />

búsqueda de escala y competitividad planteadas, se buscó analizar e interpretar las estrategias productivas que articulan con la toma/<br />

cesión de tierras y la existencia de ingresos extraprediales.<br />

Resultados<br />

A continuación se presentan sucintamente los resultados de los productores por tipo.<br />

Familiares capitalizados<br />

Se analizaron 7 casos. Todos mantienen la misma cantidad de tierra en propiedad. Tres aumentaron la superficie operada 4<br />

tomando más tierra, uno mantuvo y los otros tres bajaron levemente. De estos últimos, uno por cambio de lotes (cede propio y toma<br />

ajeno) que le permita mejor manejo, un segundo por cambiar la estrategia de hacienda en campo arrendado por hacienda en capitalización<br />

y el otro porque pasa de trabajar la propiedad familiar indivisa a hacerse cargo de su propio lote una vez concretada la herencia.<br />

En un caso se cambió la toma de un lote para agricultura por uno ganadero, por lo que en la actualidad ninguno toma ni cede<br />

para cultivos agrícolas.<br />

Si bien dos de los productores hacían agricultura en un porcentaje de la superficie o en tierra tomada, hoy en día sólo uno<br />

conserva 50 ha de soja (transgénica) “para limpiar un potrero que tiene sorgo de alepo”. Son ganaderos, los cultivos anuales que<br />

realizan son para alimentación del ganado.<br />

En relación al parque de maquinarias, este ha sido actualizado en cuatro de los casos, pero siempre en función de dar a los<br />

hijos la posibilidad de ir armando su propia empresa, trabajando tierras afuera como contratistas. No obstante, en dos de ellos esta<br />

actividad se abandonó en los últimos años (“pensamos que podíamos hacer 1000 ha por año de pasturas y verdeos, sobre todo en<br />

directa, pero esto no se mantuvo, y además había que lidiar con el personal”). Actualmente utilizan las herramientas para los verdeos<br />

y pasturas propios o las tienen en venta.<br />

En los aspectos netamente productivos todos hacen cría-engorde de vacunos y uno además tiene tambo. Cinco aumentaron<br />

el número de vientres de cría y dos lo mantienen. No obstante hay una tendencia a acortar el ciclo de engorde, produciendo un animal<br />

de menos peso y bien terminado que les permita salir al mercado con mayor flexibilidad y buscar mejores precios.<br />

Dos declaran realizar servicio continuo, a pesar de conocer las desventajas técnicas, para lograr ventas escalonadas durante<br />

todo el año. El resto, aunque estacione el entore y las pariciones, también realiza ventas mensuales. “Voy vendiendo la cantidad<br />

necesaria para cubrir los gastos del mes, es la única forma de pelearle a la inflación”.<br />

863


En el caso del tambo, por razones de costo de la alimentación, se redujo casi a la mitad el número de vacas en ordeñe, sin<br />

deshacerse de los vientres, las retira de la producción láctea, esperando mejores circunstancias.<br />

Sólo uno de los casos estudiados no realiza actividades de autoconsumo como ovinos, animales de granja o huerta ni<br />

consume carne vacuna de propia producción.<br />

Cuatro residen en el establecimiento y tres en la ciudad o pueblo vecino. En todos los casos se está incorporando algún hijo<br />

a la actividad ya sea armando nuevas estrategias productivas, generando ingresos extraprediales agropecuarios o simplemente permitiendo<br />

una capitalización propia.<br />

Con respecto a los ingresos extraprediales, tres comenzaron a percibirlos, uno, una jubilación mínima, pero en los otros dos<br />

han incorporado el servicio de maquinaria para explotación de los hijos.<br />

En relación al financiamiento, de los tipos estudiados, son justamente los familiares capitalizados quienes más acceden a<br />

financiamiento externo Sólo dos de los casos declara no haber utilizado créditos por un lapso largo de tiempo y uno recurre sólo al<br />

financiamiento comercial. El resto ha utilizado la banca oficial y privada para financiar inversiones como compra de maquinarias o<br />

retención de vientres, y también en algunos casos al plan canje<br />

En lo que se refiere a estrategias asociativas u otras formas innovadoras de gestión, en uno de los casos se introdujo, en los<br />

últimos años, la modalidad de compartir ciertas maquinarias con vecinos y en otro caso la “asociación” pasa por compartir la jaula del<br />

camión en la venta de hacienda. En general hacen hincapié en que prefieren “trabajar cada uno lo suyo”.<br />

Todos, excepto uno, que apelaría en primer término al dólar, comprarían más tierra si tuvieran los recursos.<br />

Familiares poco capitalizados<br />

Se analizaron siete casos, seis son propietarios y uno es exclusivamente arrendatario. Los propietarios conservan su tierra<br />

en propiedad y uno de ellos logró aumentarla en los últimos años. Dos han expandido la superficie operada uno en 10 ha tomadas en<br />

arrendamiento y otro, el arrendatario que alquila 40 has más.<br />

El que accede a aumentar su propiedad lo hace aprovechando la circunstancia de que su vecino (residente en Buenos Aires),<br />

decide vender su campo y logra un buen arreglo concertando el precio en una vaca con ternero por hectárea. Por esta razón, deja de<br />

arrendar un lote de 180 ha, vendiendo los animales. Mientras va pagando el campo, cede en arrendamiento esta nueva parcela,<br />

incorporando a la producción paulatinamente algunas hectáreas en la medida en que puede poblarlas. Es el único que cede. Actualmente<br />

trabaja 263 ha. que es más o menos lo que explotaba en la situación inicial.<br />

La poca superficie que se destinaba a cultivos agrícolas ha desaparecido. Seis de los siete casos realizó alguna vez algún<br />

cultivo agrícola preferentemente con destino ganadero, aunque en dos ellos también realizaban cultivos como girasol, alpiste y trigo.<br />

La mayoría ha abandonado la práctica agrícola, no sólo porque requerían recursos para el pago de insumos sino para contratar la<br />

maquinaria (ninguno tiene equipo), con el agravante de que esto último resulta difícil en superficies chicas y en zona ganadera, donde<br />

la oferta es mucho menor.<br />

Sólo en un caso se han renovado y refertilizado las pasturas implantadas.<br />

En relación al rodeo, tres mantienen el número de vientres, dos lo aumentan levemente y de los otros dos, uno al doble y otro<br />

a más del doble.<br />

Cuando pueden vender terneros gordos aprovechando el momento y la posibilidad de obtener algún diferencial de precios,<br />

lo hacen, sin que esto signifique una estrategia productiva, sino más bien comercial y financiera.<br />

Cuatro mantuvieron el ingreso extrapredial, uno lo perdió por edad avanzada, otro lo abandonó al comprar más campo y el<br />

último nunca lo tuvo.<br />

Dos reciben pago en campo, circunstancia que les permite tener más vientres o invernar parte de la producción propia.<br />

De los seis propietarios tres son sociedades de hecho familiares, posiblemente porque las dimensiones del campo no les<br />

darían para subdividir.<br />

Cinco residen en el establecimiento y dos en Azul.<br />

En todos los casos analizados, la fuente principal de financiamiento es el capital propio. Por lo general se manejan al<br />

contado, “cuando se puede se gasta”, o al financiamiento comercial de muy corto plazo (15 a 30 días). Declaran no recurrir a créditos<br />

bancarios por la dificultad de acceso, por la burocratización del sistema y sobre todo, por rechazo a la institución bancaria.<br />

864


No familiares poco capitalizados<br />

Se analizaron cinco casos. Todos mantienen la superficie en propiedad, aunque dos se retiran en el lapso analizado, cediendo<br />

en arrendamiento el predio, en un caso por ser una señora mayor (por cansancio) y otro por falta de recursos y la imposibilidad de<br />

mantener la explotación para siete hermanos.<br />

Del resto, dos se mantuvieron trabajando sólo la superficie en propiedad y conservando el mismo número de vientres,<br />

mientras que el último se expandió fuertemente, tanto en superficie como en hacienda.<br />

Cabe aclarar que uno de estos casos había sido seleccionado inicialmente como productor familiar poco capitalizado, pero<br />

cambió su clasificación en los últimos años por alejamiento de dos familiares, ya mayores, que constituían la mano de obra familiar y<br />

fueron reemplazados por un asalariado permanente.<br />

Todos siguen siendo exclusivamente ganaderos.<br />

En relación a los ingresos extraprediales, todos perciben, manteniéndose en iguales niveles, excepto en el caso de gran<br />

evolución. En este, el ingreso extrapredial es de mayor importancia que el obtenido por la actividad agropecuaria. Mantuvo las<br />

hectáreas en propiedad, además arrienda otras y también tiene hacienda en capitalización. Dedica toda la superficie a ganadería, por<br />

supuesto que con el aumento de la superficie operada, pudo crecer el doble en cabezas ganaderas. Esto se debió en gran medida a que<br />

el ingreso extrapredial aumentó y varió, sumando nuevas fuentes de ingreso.<br />

Manifiestan no recurrir a financiamiento externo, excepto el caso ya mencionado que para los gastos utiliza el<br />

autofinanciamiento, fundamentalmente con fondos provenientes de las otras actividades, pero para las compras de insumos utiliza el<br />

financiamiento de proveedores (a plazo) y para las inversiones (compras de hacienda) usó créditos de la banca oficial y privada.<br />

Curiosamente es este productor el único que no invertiría en tierras. “Si dispusiera de dinero no compraría tierra ya que nuestra<br />

estrategia es flexibilizar las actividades”.<br />

Ninguno reside en el predio.<br />

Análisis de resultados y conclusiones<br />

A pesar de que en la bibliografía se menciona a los familiares capitalizados como una franja de productores con severos<br />

problemas en la pampa húmeda, puede decirse que en los casos analizados presentan cierta solvencia y han podido expandirse. Son<br />

estos productores los que muestran estrategias más definidas en relación a la explotación.<br />

Durante el auge agrícola, pudieron incursionar en la producción de granos ya sea en campo propio (cuando las condiciones<br />

agroecológicas lo permitían) o en campo tomado como contratistas. No obstante, en la actualidad todos son exclusivamente ganaderos,<br />

actividad principal en la que incorporan tecnología en la medida en que la misma articule con los ingresos y las estrategias familiares.<br />

Todos o parte de los hijos, sobre todo los varones, buscan su inserción laboral en o a partir de, la explotación familiar.<br />

Están consolidados como productores, en el sentido de poder recurrir a financiamiento externo tanto bancario, como<br />

comercial.<br />

En cuanto a los productores familiares poco capitalizados, que si recordamos pertenecen a esta categoría porque los<br />

recursos tierra y capital no alcanzan el nivel mínimo que pague costos y remunere todos los factores productivos; del análisis de los<br />

casos surge, no sólo una permanencia (todos conservan su tierra en propiedad o arrendada), sino que en algunos casos ha habido<br />

expansión (compra o toma de más tierra)<br />

La mayoría, al igual que los capitalizados, también incursionó en la agricultura pero actualmente no realizan cultivos ni para<br />

granos ni con destino ganadero.<br />

No obstante, no puede decirse que se hayan descapitalizado porque o mantienen o han aumentado el rodeo ganadero que<br />

constituye su principal capital. Parecen incorporar, sí, cierta flexibilidad en el manejo que les permite, en determinados momentos,<br />

lograr mejores precios y distribuir los ingresos según necesidades.<br />

Los ingresos extraprediales no parecen marcar diferencias en cuanto a la evolución, ya que lo mantienen o lo han perdido sin<br />

que ello afecte el desenvolvimiento de la actividad. Aparece como una estrategia interesante la desplegada por aquellos que trabajan<br />

cuidando o recorriendo campos vecinos, recibiendo como remuneración la facilidad de uso de campo, lo que les permite aumentar sus<br />

cabezas ganaderas sin incurrir en gastos. Esto redunda en mayores ingresos de la explotación y permite cierta evolución. Para ello es<br />

imprescindible la residencia en el establecimiento.<br />

865


No utilizan ninguna estrategia “moderna” de gestión, ni recurren a financiamiento externo.<br />

Del análisis de los casos de productores no familiares poco capitalizados, surge su cualidad de estar en transición, ya sea<br />

en un sentido o en otro, están en retirada o en plena expansión.<br />

Estas situaciones están sostenidas por la existencia del ingreso extrapredial que todos perciben. Aun en los casos en que la<br />

actividad agropecuaria es considerada como de mayores ingresos, aparece como subordinada al mismo, ya sea porque el productor no<br />

puede dedicarle mucho tiempo o porque la evolución del predio aparece articulada a la evolución del ingreso extrapredial.<br />

Puede decirse entonces que para los productores familiares y no familiares pequeños de la zona mixta pampeana estudiada,<br />

la ganadería es la actividad que pueden hacer, teniendo en cuenta la calidad del recurso suelo que controlan pero que a la vez, es una<br />

producción que plantea flexibilidades que se adaptan muy bien a las estrategias de cada tipo de productor.<br />

Esto marca la continuidad de la actividad en la región, a pesar de haber pasado por ciclos de precios desfavorables y también<br />

la persistencia de los productores como tales.<br />

Esta permanencia esta dada no por el despliegue de estrategias competitivas y de modernización, sino, justamente por la<br />

posibilidad de adaptarse a situaciones adversas, regulando ventas y gastos.<br />

A pesar de que todos, excepto uno, dicen que si tuvieran dinero invertirían en más tierra, solamente un caso y por una<br />

circunstancia muy particular, ha podido comprar, en los últimos años.<br />

Cuando la composición familiar lo requiere, sobre todo en los casos en que se supera el nivel de subsistencia y remuneración<br />

de los recursos productivos (aún en niveles escasos), se ponen en práctica estrategias (tanto prediales como extraprediales) que<br />

garantizan la reproducción familiar y la inserción de los hijos a la actividad.<br />

866


Bibliografía<br />

Archetti, E. y Stölen, K. (1975): Explotación familiar y acumulación de capital en el campo argentino. Editorial Siglo XXI. Buenos<br />

Aires. Pág. 61<br />

Basky, O. (1992): Explotaciones familiares en el agro pampeano: procesos, interpretaciones y políticas. En Barsky, Lattuada,<br />

Mascali y otros: Explotaciones familiares en el agro pampeano. Centro editor de América Latina, Buenos Aires.<br />

Bilello, G. (2001): Flexibilidad económica y heterogeneidad social. La agriculturización en áreas mixtas del sur pampeano. Tesis de<br />

Maestría. Magister Scientiae en Investigación Aplicada. Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires.<br />

Bilello, G., MC. González y M. Román (1999) Productores familiares capitalizados de Azul: estrategias productivas y resultados<br />

económicos. Revista Facultad de Agronomía, 19 (3): 235-242, Buenos Aires.<br />

Bilello G., MC. González, M. Román y N. Puppi (1998) La agriculturización en una zona agrícolo-ganadera pampeana. Una visión<br />

desde los actores sociales. Revista Primer Coloquio sobre transformaciones territoriales, UN del Litoral y AUGM: 193-<br />

202, Santa Fe.<br />

Craviotti C. (1999) “Algunas reflexiones sobre la identidad de los productores familiares pluriactivos de la región pampeana”, en<br />

Jornadas Interdisciplinarias de Estudios Agrarios y Agroindustriales, PIEA, Buenos Aires<br />

Cucullu, G. y M. Murmis (1998) «Pluriactividad entre productores agrarios: Un proyecto sobre el partido de Lobos (provincia de<br />

Buenos Aires)», en Jornadas de Estudios Agrarios «Horacio Giberti», Facultad de Filosofía y Letras, Universidad de<br />

Buenos Aires.<br />

Echenique, J. (1999) Tendencias y papel de la Tecnología en la Agricultura Familiar del Cono Sur. Serie Resúmenes ejecutivos nº 11,<br />

Procisur-BID, Montevideo, Uruguay.<br />

Figueroa, A. (1996) Pequeña Agricultura y Agroindustria en el Perú. Oficina Regional para América Latina y el Caribe de la<br />

Organización de las Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentación, Santiago, Chile.<br />

González, MC. (2002): Agricultura en zonas mixtas pampeanas y tipos de productores. Los casos de Azul y Tres Arroyos. En<br />

Procesos de cambio en las áreas rurales argentinas. Hacia la construcción de un nuevo concepto de ruralidad. Nidia Tadeo<br />

Editora, 19-32, La plata, Argentina.<br />

González MC. y G. Bilello (1996): Heterogeneidad y estrategias de los productores agrarios de la región pampeana argentina. El<br />

partido de Azul. Políticas Agrícolas (Revista de la Red de Instituciones vinculadas a la capacitación en economía y políticas<br />

agrícolas en América Latina y el Caribe), Vol. II, Núm. 2: 61-81, México.<br />

González M.C. y Román, M. (2000): Expansión agrícola y sujetos sociales: un análisis para Tres Arroyos, provincia de Buenos<br />

Aires. En 3er. Coloquio sobre transformaciones territoriales. AUGM (Asociación de Universidades Grupo Montevideo).<br />

Florianópilis, Brasil.<br />

Murmis, M. (1980) Tipología de pequeños productores campesinos en América Latina. Protaal. Doc. Nº 55, Costa Rica.<br />

Murmis M. (1998) “El Agro argentino: algunos problemas para su análisis” en Las Agricultura del Mercosur. El papel de los actores<br />

sociales. Editorial La Colmena. CLACSO: 205-248. Buenos Aires.<br />

Neiman, G.; S. Bardomás, y D.Jiménez (2000) El trabajo rural en transición. La pluriactividad en las pequeñas empresas familiares de<br />

la provincia de Buenos Aires, Argentina. (Ceil-Conicet,). X Congreso de Sociología Rural, Río de Janeiro, Brasil.<br />

Puppi, N. (2001) “El proceso de agriculturización en el sudeste de la provincia de Buenos Aires. El caso de los productores de Tres<br />

Arroyos”. Tesis de maestría, Escuela de Graduados, FAUBA, Buenos Aires.<br />

Villafañe, A. (1995) “Producción familiar en el agro, modelos productivistas y transformación estructural. El caso de productores<br />

ganaderos de la región pampeana bonaerense” . Revista Etnia. N° 40/41. Museo Etnográfico Municipal “Dámaso Arce” e<br />

Instituto de Investigaciones Antropológicas, Olavarria, Buenos Aires, Argentina.<br />

867


1 Resultados parciales de los Proyectos SECYT 03/A120 (PIITTFA) y UBACYT G045. Convenio UNCPBA -UBA<br />

2 Ing. Agrónoma. M.Sc. Docente-investigadora del área Economía Agraria de la Facultad de Agronomía de la<br />

Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires. Azul, Argentina. gbilello@faa.unicen.edu.ar<br />

3 Ayudante Alumna del área Economía Agraria de la Facultad de Agronomía de la Universidad Nacional del Centro<br />

de la Provincia de Buenos Aires. Azul, Argentina. kblock@faa.unicen.edu.ar<br />

4 Se considera “tierra operada” a la que surge de la ecuación: tierra propia + tomada - cedida. Siendo la tierra<br />

“tomada” los campos o lotes de terceros que se trabajan pagando por su uso un canon que puede ser fijado en<br />

dinero o en porcentaje de la producción. La tierra cedida es la situación inversa, los lotes que se dan en uso<br />

productivo cobrando en dinero o producto.<br />

868


FRUTICULTURA IRRIGADA E NOVAS RELAÇÕES COM A AGRICULTURA<br />

FAMILIAR<br />

1. Introdução<br />

869<br />

João Freire Rodrigues<br />

Nas últimas décadas têm-se observado em algumas áreas do semi -árido nordestino, um acelerado processo de modernização<br />

da agricultura, mediante a implantação da irrigação sobretudo nos chamados pólos de desenvolvimento integrado. Neste cenário, a<br />

fruticultura irrigada tem-se constituído como uma das principais atividades agrícolas destacando-se a produção de frutas tropicais<br />

para exportação. Esta atividade é hoje reconhecida como um das mais importantes na agricultura do Nordeste. Por isso a produção<br />

de frutas para exportação tem despertando o interesse de grande parte dos agricultores da região. Todavia a produção irrigada tem sido<br />

praticada predominantemente por empresas agro-industriais que se instalaram nos referidos pólos, sendo algumas da própria região<br />

e outras das mais distintas regiões, inclusive, multinacionais. A atividade frutícola, responde por boa parte das exportações de estados<br />

como o Rio Grande do Norte, através do Pólo de desenvolvimento integrado Açu/Mossoró, sendo que hoje alguns dos principais<br />

produtos de exportação do estado, são justamente frutas como o melão e a banana.<br />

Há quase um consenso entre os estudiosos que a presença desta atividade tem contribuído para gerar um conjunto de novas<br />

relações econômicas e sociais no campo, ou para reorganizar a atividade agrícola a partir da implantação dos chamados pólos de<br />

fruticultura como o Açu/Mossoró(RN) e o Vale do São Francisco (PE/BA).<br />

Este trabalho trata especificamente de algumas considerações sobre a fruticultura de exportação no Rio Grande do Norte,<br />

e as novas relações estabelecidas entre esta atividade econômica e a agricultura familiar. A unidade de análise tomada no presente<br />

estudo é o Pólo Açu/Mossoró. Principalmente o município de Baraúna, onde está concentrado um grande número de agricultores<br />

familiares que participam do processo, além de um também considerável número de empresas produtoras de frutas. Para tal análise<br />

buscaremos em autores como Cavalcanti(1998), Gomes da Silva (1998) e outros estudos sobre a temática.<br />

A presença de um grande número de empresas explorando a produção de frutas irrigadas no Rio Grande do Norte tem<br />

contribuído para modificar a dinâmica das ocupações no campo e redimensionar o perfil da agricultura potiguar, ao mesmo tempo que<br />

gera expectativas para um outro setor da produção agrícola, que a agricultura familiar. Em trabalho anterior (Rodrigues,2001) tratamos<br />

da participação dos agricultores familiares no processo de modernização agrícola desencadeado pela implantação do Pólo fruticultor.<br />

No presente artigo discutiremos as estratégias utilizadas pelos agricultores familiares para integrar o mercado de frutas irrigadas e<br />

conseqüentemente, garantir a participação no mercado externo. A inserção dos agricultores familiares na produção de frutas de<br />

exportação, se dá prioritariamente através de contratos de comercialização com as chamadas empresas âncoras, como MAISA,<br />

FRUNORTE, NOLEM. Estas empresas detinham o maior percentual na produção, além de praticamente dominar a comercialização<br />

das frutas produzidas no pólo, principalmente o melão, principal produto.<br />

2. A fruticultura irrigada e suas relações com a agricultura familiar<br />

Conforme analisado anteriormente, a presença da fruticultura irrigada provocou transformações consideráveis para agricultura<br />

da região, embora esta atividade ainda seja praticada por um número limitado de produtores. Como a atividade frutícola exige<br />

condições especiais de infra-estrutura, durante a maior parte do tempo foi praticada apenas por empresas agro-industriais, algumas<br />

delas vindas de fora da região. Os agricultores familiares, principalmente aqueles menos capitalizados, sempre tiveram dificuldades em<br />

se inserir no setor. Durante muito tempo os agricultores familiares ficaram impossibilitados de participar da produção irrigada,<br />

principalmente devido aos altos custos da produção e a ausência de políticas públicas que permitissem a aquisição de infra-estrutura<br />

adequada a este tipo de produção. Apenas alguns agricultores mais capitalizados conseguiram se inserir na fruticultura. No entanto<br />

esta dinâmica começou a ser modificada com a implantação de alguns projetos de assentamentos de reforma agrária. Os assentamentos<br />

de Hipólito no município de Mossoró, e Catingueira no município de Baraúna, foram os primeiros a incluir em seus projetos a<br />

produção de melão. Dotados de infra-estrutura básica de eletrificação e irrigação, estes assentamentos conseguiram iniciar a produção<br />

do melão irrigado em uma área coletiva, buscando junto as empresas a comercialização da produção. No assentamento do Hipólito a<br />

comercialização tornou-se possível através da FRUNORTE, instalada no município de Açu. Já os agricultores de Catingueira<br />

comercializaram sua produção através da MAISA (Mossoró agro-industrial S.A.). As empresas que empreendem este tipo de<br />

parceria com os agricultores familiares são chamadas de empresas-âncoras. Este tipo de parceria entre empresas e agricultura familiar,<br />

chamada de produção integrada, constitui-se até o presente como uma das principais formas de participação dos agricultores<br />

familiares na produção de frutas de exportação. No entanto, o que nota-se é que a produção integrada tem se transformado muito mais<br />

uma intermediação feita pelas empresas, o que dificulta a participação dos agricultores familiares, pois os mesmos ficam bastante<br />

dependentes das empresas-âncoras, que determinam preços e quantidade de frutas a serem produzidas e exportadas pelos produtores


familiares. A produção integrada não está restrita aos agricultores dos assentamentos, um número razoável de pequenos produtores<br />

independentes dos municípios de Baraúna e Mossoró também começaram a investir na produção do melão e buscaram as mesmas<br />

forma de comercialização. A busca pela produção integrada com as empresas-âncoras, também neste caso deve-se às dificuldades<br />

encontradas pelos agricultores familiares em comercializar sua produção. Como a produção do melão é bastante dispendiosa e exige<br />

um período certo de colheita e comercialização, torna-se necessário a estes agricultores terem garantido o mercado para as frutas<br />

produzidas e este mercado só seria garantido pelas empresas que já dominam o mercado de frutas irrigadas na região.<br />

3. As formas de participação dos agricultores familiares<br />

A participação dos agricultores familiares no processo de modernização no Pólo Açu/Mossoró se dá de três formas: a<br />

parceria (termo utilizado aqui para designar a produção integrada), a terceirização e o assalariamento. Esta última é uma forma indireta<br />

dos agricultores participarem da modernização enquanto agricultores familiares. Analisaremos cada uma dessas formas, procurando<br />

mostrar como cada uma delas se estrutura no processo de produção de frutas irrigadas na região.<br />

A forma de participação dos agricultores familiares no processo de modernização, mais comum na região é a de produtor<br />

integrado. Esta forma consiste no seguinte: os pequenos produtores plantam uma certa área de melão, recebem algum tipo de apoio<br />

como semente, ou assistência técnica, mediante um contrato de comercialização previamente estabelecido, entre empresa e agricultor<br />

familiar, sendo que muitas vezes esse contrato é feito apenas verbalmente. Por este contrato, a empresa se compromete a comprar a<br />

produção, e os agricultores não podem vendê-la a outra empresa, se não aquela chamada empresa âncora, com a qual têm o contrato<br />

de comercialização.<br />

No caso da produção integrada, os pequenos produtores familiares, tanto os pequenos produtores independentes, quanto<br />

os assentados, recebem algum tipo de assistência técnica das empresas âncoras. No assentamento Poço de Baraúna, uma das áreas de<br />

nossa pesquisa, os agricultores plantaram melão, mediante um contrato com a NOLEM, tendo esta empresa “dado a semente e o<br />

adubo, além da assistência técnica”, segundo um dos agricultores entrevistados. A NOLEM Comércio e Exportação é uma empresa<br />

do Grupo MAISA, que se dedica à exportação de frutas, bem como a comercialização das mesmas no mercado interno. Essa empresa<br />

atua como uma intermediária entre os produtores e o mercado. Nesse caso, a produção é terceirizada, pois a empresa vende<br />

mercadorias produzidas por outros, boa parte da produção da NOLEM, é terceirizada. Essa empresa é a que mantém o maior número<br />

de produtores integrados.<br />

A NOLEM trabalha atualmente com 26 produtores integrados, entre grandes, médios e pequenos. Fazem parte deste<br />

conjunto sete áreas de assentamento, inclusive os assentamentos de Poço de Baraúna e Pico Estreito, cujos agricultores fizeram parte<br />

da nossa amostra.<br />

Com relação à FRUNORTE, a empresa não está mais trabalhando com a produção integrada. A empresa apresentou um<br />

quadro da produção integrada, sem no entanto, fornecer mais detalhes sobre quem são esses produtores, limitando-se apenas a<br />

quantificar a produção, referente ao ano de 1999, quando esta atingiu a cifra de 400 mil caixas de melão, produzido de forma integrada.<br />

Esta empresa que chegou a ser uma das maiores da região juntamente com a MAISA, vive atualmente uma crise na sua produção. A<br />

chegada de empresas de maior porte como a Del Monte, e a Directivos Agrícolas, contribuiu para retirar da FRUNORTE a liderança<br />

do setor no Vale do Açu, embora não seja este o único motivo. A FRUNORTE praticamente é lembrada hoje apenas como uma das<br />

empresas pioneiras na produção de furtas tropicais para exportação. A empresa está praticamente fora do mercado.<br />

O mesmo tem acontecido com a MAISA. Esta empresa, depois de atravessar uma forte crise na sua produção, anunciou<br />

recentemente, o fim de suas atividades. Uma das alternativas encontradas foi a formação de uma cooperativa pelos próprios<br />

trabalhadores da empresa para administrá-la. Até o momento não se sabe ao certo o desfecho deste processo.<br />

Embora o melão seja o principal produto, a fruticultura irrigada no Rio Grande do Norte, tem se diversificado bastante nos<br />

últimos anos. Frutos como a melancia, o mamão, a manga e principalmente a banana, aparecem hoje sendo produzidos em grande<br />

quantidade. A produção de banana tem se constituído como o principal produto de empresas como Del Monte e Directivos Agrícola.<br />

Ambas as empresas mantém unidades de produção em Açu e Baraúna. Todavia a produção dos agricultores familiares tem se limitado<br />

praticamente ao melão. Apenas em alguns casos de produtores independentes no município de Baraúna, temos encontrado a<br />

produção de mamão. A produção de melancia, principalmente aquela destinada aos mercados regional e local, tem sido mais comum<br />

entre esta categoria de agricultores que por alegarem dificuldade de comercialização, uma vez que não querem submeter-se à<br />

dependência das empresas-âncoras, deixaram a produção do melão.<br />

Os agricultores independentes, tem demonstrado maiores progressos na modernização de suas unidades de produção. Ou<br />

seja, tem conseguido utilizar tecnologias e insumos em outras áreas da produção, enquanto os assentados utilizam elementos mais<br />

modernos apenas na produção de melão. Talvez esta característica aliada a uma maior capitalização, seja responsável pela diversificação<br />

da produção e pela busca mais comedida em ver na produção do melão como única alternativa viável para a agricultura da região. Se<br />

levarmos em conta a produção integrada, é consideravelmente menor o número de produtores independentes que adotam esta prática,<br />

quando comparado com o de agricultores ligados aos assentamentos.<br />

870


A produção integrada na fruticultura do Rio Grande do Norte tem sido bastante difundida por tratar-se de uma solução mais<br />

cômoda para as empresas âncoras, pois estas não têm mais necessidade de expandir as áreas plantadas, nem contratar mais mão-deobra.<br />

Neste caso, o que acontece é que os produtores integrados, na verdade, atuam como fornecedores. Assim, as empresas mantêm<br />

o volume de sua produção, sem aumentar, ou até mesmo reduzindo a sua área plantada.<br />

Este fato ganha mais relevância quando se trata da cultura do melão que é uma cultura que tem um grande potencial de<br />

degradação do solo, dado o alto volume de produtos químicos e fertilizantes utilizados. Com a produção integrada, as agroindústrias<br />

mantêm a produção e poupam suas terras do desgaste provocado por essa cultura. A degradação ambiental provocada pela cultura<br />

do melão é um dos fatores mais criticados pelos produtores integrados que temem chegar mesmo a inutilizar a terra para outras<br />

culturas. Este fato é mais preocupante ainda quando se trata de pequenos produtores que dispõem de pouca terra, e precisam ainda<br />

complementar sua renda com outros produtos.<br />

Deste modo, a produção integrada torna-se uma alternativa mais interessante para as empresas e menos para os agricultores<br />

familiares. Estes se situam no pólo mais fraco de uma relação desigual, pois, o poder de barganha das empresas é sempre maior. Além<br />

disso os produtores familiares é que, além de cuidar de toda a produção, têm que arcar com as conseqüências de degradação do solo,<br />

e todas as outras que são conhecidas dos agricultores e técnicos. Além disso os agricultores familiares se vêem na obrigação de<br />

produzir cada vez mais para garantir um lucro razoável, enquanto que as empresas, mesmo não tendo as mesmas preocupações<br />

garantem o lucro por estarem apenas comercializando a produção, sempre por um preço superior ao que paga aos produtores. Neste<br />

caso, as empresas atuam simplesmente como intermediárias ou atravessadoras. Esta é uma das desvantagens desta forma de produção.<br />

Daí a necessidade destes agricultores encontrarem novas formas de inserção no mercado exportador de frutas irrigadas.<br />

Além da produção integrada com as empresas os agricultores assentados de Baraúna encontraram uma outra forma de<br />

comercializar o melão diretamente com o mercado internacional. Trata-se da formação de uma cooperativa, que comercializa o produto<br />

através de um convênio com uma organização não-governamental, a Visão Mundial. Esta cooperativa ainda está em fase experimental,<br />

embora os assentamentos já tenham trabalhado com a Visão Mundial, na safra anterior. Sobre esta forma de participação, discutiremos<br />

na última parte deste trabalho. A cooperativa foi implantada em dezembro de 2000, e depois da sua implantação não tivemos maiores<br />

informações sobre o seu funcionamento.<br />

Uma outra forma de participar do processo de modernização utilizada por parte dos agricultores familiares é o assalariamento<br />

nas empresas agro-industriais. Embora essa participação se dê de forma indireta. Os agricultores familiares que se assalariam nessas<br />

empresas, geralmente mantêm suas áreas de plantação de sequeiro, que normalmente são cuidadas pelos outros membros da família.<br />

O assalariamento é muitas vezes, uma estratégia de reprodução da unidade familiar. Além disso, esses agricultores tem condições de<br />

participar de um processo produtivo altamente tecnificado, enquanto ator individual, embora a unidade não participe. Todavia, é<br />

muitas vezes através do assalariamento que esse agricultor consegue manter sua unidade.<br />

Nessa forma de participação, os agricultores não utilizam em suas unidades os recursos tecnológicos que caracterizam a<br />

moderna produção de frutas irrigadas. No entanto, esses agricultores alegam que a participação como empregados assalariados na<br />

fruticultura ajuda a aplicar algumas técnicas modernas na sua produção familiar.<br />

Um elemento que não pode se deixar de considerar como importante para viabilizar a participação dos agricultores<br />

familiares na produção de frutas para exportação, é a ação das políticas públicas. Mesmo que não seja o único elemento responsável.<br />

Dentre os instrumentos de políticas públicas, dois tiveram uma atuação importante entre os agricultores da região estudada: O<br />

Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (PAPP) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).<br />

Estes dois instrumentos têm atuado junto aos agricultores no sentido de dotá-los de uma infra-estrutura que os permitam modernizar<br />

suas unidades de produção. A presença destes instrumento de política pública tem sido mais forte entre os agricultores assentados.<br />

Isto se explica pelo fato das áreas de assentamentos terem como origem uma intervenção direta do estado, justificando assim uma ação<br />

mais forte das políticas públicas no sentido de implementar os projetos tal como concebidos pelos órgãos deliberativos do estado.<br />

Assim os assentamentos já são implantados com um projeto determinado, inclusive que tipo de produção deve ser incentivada. Mas<br />

o que torna decisiva a ação destes programas, principalmente do PAPP, é a necessidade de se dotar a áreas de uma infra-estrutura<br />

básica que permitam a instalação das família nestas áreas. Como a instalação e a permanência das famílias nos assentamentos está<br />

diretamente ligada à produção agrícola, estes programas não poderiam deixar de estarem voltados para a agricultura e de certa foram<br />

definir algumas prioridades bem como que tipo de cultura devem ser adotadas.<br />

Além de serem áreas de intervenção estatal, os assentamentos também são resultados de um processo de mobilização e<br />

organização da população envolvida. Estes fatores são determinantes em cetra medida, na atuação das políticas públicas. Daí uma<br />

presença mais forte destas entre estes agricultores, do que entre os agricultores independentes.<br />

5. As novas relações com a agricultura familiar<br />

Os agricultores familiares de Baraúna, tem buscado novas formas de participação na produção de frutas irrigadas em que os<br />

mesmos não sejam tão dependentes das empresas. As formas de participação como a terceirização e a produção integrada, embora<br />

tenham tornado possível o ingresso dos agricultores familiares na produção de frutas irrigadas, apresentam limitações quanto a<br />

871


comercialização dos produtos que só é feita pelas empresas-âncoras que detém o controle do mercado exportador. Esta posição<br />

privilegiada das empresas faz com que as mesmas determinem as normas dos contratos estabelecidos entre as mesmas e os agricultores<br />

familiares, ficando estes em uma posição de subordinação que não lhes permitem maiores escolhas na hora de comercializar sua<br />

produção. Diante desta situação, os agricultores familiares da região tem buscado novas estratégias de se inserirem no mercado<br />

produtor de frutas, porém sem um alto grau de dependência das grandes empresas. Entre as estratégias utilizadas, principalmente<br />

pelos agricultores assentados dos, estão a busca de parceria com organizações da sociedade civil, que sempre estiveram muito<br />

próximas do cotidiano desses agricultores. Todavia a mera presença dessas entidades não se constitui uma garantia de que os<br />

agricultores familiares teriam êxito em seus empreendimentos. Torna-se necessário que a organização tenha além de know how em<br />

assessoramento de projetos, as ligações necessárias com o mercado para encontrar os nichos que podem ser ocupados pelos<br />

produtores familiares.<br />

Dentro da estratégia encontrada pelos agricultores familiares de trabalhar em parceria com ONGs, tem se destacado em<br />

particular o trabalho da Visão Mundial, organização internacional, ligada a igrejas evangélicas, que tem desenvolvido projetos de<br />

desenvolvimento rural nos municípios de Baraúna e Apodi. No entanto o caso nos interessa é o de Baraúna, município no qual a<br />

entidade trabalha diretamente com as áreas de assentamento e com a cultura e comercialização do melão. Através desta entidade os<br />

agricultores de alguns assentamentos de Baraúna tem conseguido comercializar sua produção diretamente com o mercado externo sem<br />

a intermediação das empresas, garantindo assim maior lucratividade. Esta nova realidade permitirá aos produtores familiares participar<br />

de forma mais decisiva na disputa de mercados. Um outro fator que deve ser levado em conta, é a produção do melão orgânico, que é<br />

uma especificidade dos agricultores familiares desses assentamentos. Este tipo de produção além de ser comercializada diretamente<br />

com os compradores europeus, através do contrato estabelecido pela Visão Mundial, não conta com a concorrência dos grandes<br />

produtores, uma vez que o melão orgânico não é produzido pelos mesmos. A existência de um nicho de mercado específico permite<br />

aos agricultores familiares ocuparem maior espaço no mercado, principalmente pelo fato deste não ser disputado por empresas que<br />

contariam com maior poder de barganha. Todavia, esta parceria não significa ainda dizer que as relações entre a agricultura familiar e<br />

as empresas na produção de frutas para exportação estejam totalmente modificadas. A maioria dos agricultores familiares que<br />

conseguem se inserir neste setor da produção agrícola, ainda o fazem através de contratos com as empresas, principalmente a Nolem<br />

Comércio e Exportação, sendo esta hoje predominante na região.<br />

A presença de ONGs e entidades da sociedade civil representa para os agricultores familiares novas possibilidades de<br />

inserção no mercado de forma competitiva e independente de intermediários. A presença destas entidades não é uma novidade na<br />

dinâmica da agricultura familiar na região, principalmente de entidades como a CPT (Comissão Pastoral da Terra) , ligada a Igreja<br />

Católica e as cooperativas Terra Viva e terra Livre, além das associações de produtores das comunidades e assentamentos. A novidade<br />

é justamente que até muito recentemente, estas entidades tinham como objetivo inserir os agricultores familiares na produção de frutas<br />

de exportação, mas de uma certa forma ligada às chamadas empresas âncoras.<br />

Para garantir esta inserção tornava-se necessário o acesso dos agricultores familiares às políticas públicas, principalmente<br />

a programas como o PAPP e PRONAF. Estes dois instrumentos de política pública garantiam uma infra-estrutura básica às comunidades<br />

e assentamentos de modo a possibilitar o ingresso dos agricultores na atividade frutícola.<br />

A presença de políticas públicas junto aos agricultores familiares da região do Pólo, notadamente no município de Baraúna,<br />

tem desencadeado uma busca pelos agricultores beneficiados pelas mesmas de uma inserção maior no setor de produção de frutas de<br />

exportação, sendo um elemento importante para o estabelecimento de novas relações entre este setor e a produção familiar. No entanto<br />

não se pode ainda afirmar que haja uma participação em maior escala dos agricultores familiares, que ainda participam de uma forma<br />

bastante limitada. Em trabalho realizado anteriormente, constatamos que um número relativamente pequeno de agricultores familiares<br />

são beneficiários tanto do PAPP quanto do PRONAF e sua maior concentração estão justamente os agricultores dos assentamentos<br />

de reforma agrária. Um fato incontestável é que a presença de um número significativo de assentamentos na região, tem contribuído<br />

para o surgimento de uma nova categoria de agricultores familiares e assim sendo, um novo ator social.<br />

Esta categoria parece ser hoje a que participa de foram mais efetiva do processo de produção de frutas tropicais, sendo que<br />

esta produção já está de uma certa forma incluída no horizonte dos agricultores, e em certa medida já faz parte do próprio projeto do<br />

assentamento. Por serem áreas de intervenção estatal e contar com uma presença mais forte das ONGs, e entidades de assessoria, estas<br />

áreas conseguem sobressair-se com relação às demais.<br />

Pelas características já citadas, os assentamentos além de contarem com uma atuação mais forte das políticas públicas,<br />

contam também com uma presença maior de entidades da sociedade civil. Estas organizações muitas vezes estão ligadas à própria<br />

formação dos assentamentos. É bastante comum encontramos nas áreas de assentamento associações ou cooperativas que atuam<br />

diretamente junto aos órgãos públicos, buscando a implantação das políticas públicas. Estas associações e cooperativas, atuam ainda<br />

em conjunto com outras ONGs, principalmente prestadoras de serviços e de assessoramento, como é o caso da Visão Mundial. Isto<br />

tem contribuído para a atuação desta entidade junto aos assentamentos de Baraúna na busca de mercado para seus produtos, o que<br />

inclui a comercialização do melão diretamente com o mercado externo, sem a intermediação das empresas. O que se pode concluir é que<br />

a ação das ONGs se dá de forma mais efetiva junto aos agricultores dos assentamentos, devido as próprias características destes<br />

agricultores. Ou seja, os assentamentos produzem um novo tipo de ator social, a ponto das novas relações entre a agricultura familiar<br />

e a fruticultura de exportação no Pólo Açu/Mossoró, passarem necessariamente por esta categoria de agricultores.<br />

872


6. Considerações finais<br />

Após a análise da situação da fruticultura irrigada no Rio Grande do Norte, estado em que esta atividade aparece como um<br />

dos setores mais dinâmicos da sua economia, sendo responsável por grande parte das exportações do estado, algumas considerações<br />

não podem deixar de serem feitas.<br />

A fruticultura irrigada implantou uma nova dinâmica na economia e principalmente na agricultura do estado, desencadeando<br />

um processo de modernização agrícola, e despertando o interesse de grande parte dos agricultores familiares do estado. No entanto<br />

esta atividade tem sido restrita a algumas empresas que dispõem de capital e infra-estrutura suficiente para uma produção que requer<br />

um alto padrão tecnológico e infra-estrutura de comercialização. Portanto não é uma atividade que envolva um grande número dos<br />

agricultores potiguares.<br />

Mesmo sendo uma atividade que não envolva a maioria dos agricultores, a fruticultura irrigada é responsável por um<br />

processo de modernização e pela busca de um grande número de agricultores familiares de se inserirem neste campo da produção,<br />

apresentando alguns resultados práticos, ou seja, há a inclusão de um certo número de agricultores familiares na produção de frutas<br />

para exportação, ainda que seja limitada e de certa forma subordinada às grandes empresas que exploram o setor. Este processo de<br />

inclusão dos agricultores familiares tem representado uma nova realidade da agricultura popular e aponta para a possibilidade de uma<br />

modernização efetiva da agricultura do estado como um todo. Para isso a presença de políticas públicas como o PAPP e o PRONAF,<br />

tem se tornado elementos importantes ao mostrar que uma ação mais eficaz do estado pode ser decisiva na solução de problemas<br />

vividos pelos agricultores e na construção de uma agricultura familiar moderna.<br />

Além das formas tradicionais de participação, como a produção integrada, que favorece muito mais as empresas, ao passo<br />

que mantém os agricultores familiares numa situação de dependência, esses agricultores tem buscado novas formas de participação,<br />

no sentido de garantir a comercialização das frutas produzidas pelos mesmos, diretamente junto aos compradores, principalmente o<br />

mercado externo. Ou seja, formas que permitam exportar diretamente seus produtos sem a presença de intermediários. Isto tem sido<br />

possível em certa medida, mediante parceria com organizações da sociedade civil e ONGs internacionais como A Visão Mundial, que<br />

tem atuado junto aos assentamentos de Baraúna. A presença dessas ONGs, abre novas perspectivas para os agricultores familiares<br />

e contribui para o estabelecimento de novas relações dos agricultores familiares com a produção de frutas irrigadas, mostrando que é<br />

possível viabilizar a participação da agricultura familiar no processo de modernização e sobretudo na produção de frutas tropicais de<br />

exportação<br />

873


7. Referências bibliográficas<br />

ABRAMOVAY, Ricardo. (1992). Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão. São Paulo/Campinas: Hucitec/Unicamp.<br />

ABRAMOVAY, Ricardo. (1998b) O Capital social dos territórios: repensando o desenvolvimento rural. Fortaleza: Seminário<br />

Nacional Sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Sustentável, (mimeo).<br />

BELIK, Walter (2000). PRONAF: Avaliação da operacionalização do Programa. IN: : CAMPANHOLA, Clayton & GRAZIANO<br />

DA Silva, José. (org.) O Novo Rural Brasileiro: Poílticas Públicas. Campinas: Unicamp/Embrapa.<br />

CARNEIRO, Maria José (1999). “Agricultores familiares e pluriatividade: tipologias e políticas.” In: BRUNO, Regina, COSTA,<br />

Luís Flávio Carvalho & MOREIRA, José Roberto (org.) Mundo Rural e Tempo Presente. Rio de Janeiro: Mauad.<br />

CARNEIRO, Maria José (1998). “Políticas Públicas para a agricultura familiar: uma leitura do PRONAF.” Estudos Sociedade e<br />

Agricultura, nº. 08, abril, 1997.<br />

CAVALCANTI, Josefa Salete B.(1999). “Globalização e Processos Sociais na Fruticultura de Exportação do Vale do São Francisco”.<br />

In. CAVALCANTI, J.S.B. (org.) Globalização Trabalho e Meio Ambiente: mudanças socioeconômicas em regiões frutícolas<br />

para exportação. Recife: Ed. Universitária.<br />

CAVALCANTI, Josefa Salete B. (1997). “Frutas para o mercado global” Estudos Avançados da USP, v. 11, nº. 29, p. 79-93, jan/abr.<br />

Janeiro: Campus.<br />

CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda. (1995). Economia e Urbanização: o Rio Grande do Norte nos anos 70. Natal:<br />

UFRN/CCHLA.<br />

GOMES DA SILVA. Aldenor. (1999 a). “Trabalho e Tecnologia na Produção de Frutas Irrigadas no Rio Grande do Norte”. In. .<br />

CAVALCANTI, J.S.B. (org.) Globalização Trabalho e Meio Ambiente: mudanças socioeconômicas em regiões frutícolas para<br />

exportação. Recife: Ed. Universitária.<br />

GOMES DA SILVA, Aldenor. (1999 b). Características e Transformações no Rural do Rio Grande do Norte. (mimeo.).<br />

GOMES DA SILVA, Aldenor. (2000) “Novas configurações no espaço rural do Rio Grande do Norte” in. CAMPANHOLA, Clayton<br />

& GRAZIANO DA SILVA, José (org.) O Novo Rural Brasileiro: uma análise regional – Nordeste. Vol. 2. Campinas:<br />

Unicamp/Embrapa.<br />

GRAZIANO DA SILVA, José. (1999) Tecnologia e agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da Universidade.<br />

CRAZIANO DA SILVA, José. (1999) O Novo Rural Brasileiro: pesquisas. Campinas: Unicamp.<br />

RIO GRANDE DO NORTE, Secretaria de Planejamento, Instituto de Desenvolvimento e Meio Ambiente (IDEMA) (1999). Açu:<br />

Informativo Municipal. Natal: IDEMA.<br />

RIO GRANDE DO NORTE, Secretaria de Planejamento, Instituto de Desenvolvimento e Meio Ambiente (IDEMA) (1998).<br />

Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte. Natal: IDEMA.<br />

RIO GRANDE DO NORTE, Secretaria de Planejamento, Instituto de Desenvolvimento e Meio Ambiente (IDEMA) (1999).<br />

Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte. Natal: IDEMA.<br />

RODRIGUES, João Freire. (1997). Políticas Públicas: a atuação do PAPP na comunidade de Catingueira ( Baraúna-RN). Mossoró:<br />

(mimeo).<br />

RODRIGUES, João Freire. (2001). Políticas Públicas e modernização agrícola na região de fruticultura do Rio Grande do Norte: o<br />

lugar da agricultura familiar. Recife: UFPE (Dissertação de Mestrado).<br />

874


LOS PEQUEÑOS PRODUCTORES EN EL AGRO BONAERENSE. ANÁLISIS DE LA<br />

SITUACIÓN A TRAVÉS DE UN ESTUDIO SOBRE EL PARTIDO DE TANDIL (PCIA.<br />

DE BUENOS AIRES) EN LAS ÚLTIMAS DÉCADAS.<br />

Introducción:<br />

875<br />

Jorge Tripiana<br />

(CONICET-PIMSA)<br />

En este trabajo presentamos algunos resultados preliminares sobre la situación de las pequeñas unidades de producción<br />

agropecuaria, remitiéndonos al Partido de Tandil, Pcia. de Buenos Aires. Se trata de un avance de la investigación sobre el movimiento<br />

de la estructura económica de la sociedad en el sector agrario del partido desde la década del 30.<br />

Los resultados que presentamos se encuentran basados fundamentalmente en la información que suministra el censo<br />

agropecuario de 1988, pero se agregan datos de los censos agropecuarios de 1960 y 1969, así como de los distintos censos nacionales<br />

de población.<br />

Se ha realizado un tratamiento especial de la información del censo de 1988, a través de la utilización de la base del mismo<br />

para el partido de Tandil, lo cual ha permitido la realización de los cruces de variables relevantes para los objetivos de este trabajo. Los<br />

resultados son preliminares y serán completados mediante cruces específicos que permitan una mejor aproximación a las relaciones<br />

productivas que caracterizan a las pequeñas unidades agropecuarias.<br />

Presentaremos en primera instancia datos sobre el movimiento poblacional del partido, considerando la población total, la<br />

urbana y la rural, para luego presentar resultados sobre la situación específica del sector agrario atendiendo a la cantidad de unidades<br />

productivas y las características de la fuerza de trabajo en las mismas, así como la escala de extensión. En otro momento intentaremos<br />

aproximarnos a los pequeños productores hacia fines de la década del 80, a través del cruce de variables relevantes para su clasificación.<br />

Finalmente mostraremos algunas conclusiones preliminares de un trabajo de investigación en curso y que necesariamente debe<br />

completarse en lo que respecta al análisis de datos éditos e inéditos de los censos agropecuarios así como con la utilización de otro tipo<br />

de fuentes de información.<br />

La estructura económica y el movimiento de la población en el partido de Tandil.<br />

El partido de Tandil se encuentra ubicado en el centro-este de la Provincia de Buenos Aires, de la cual ocupa aproximadamente<br />

500 mil hectáreas. Existe coincidencia en la bibliografía en indicar la década del 30 como un momento de inflexión en el desarrollo del<br />

capitalismo tanto en el conjunto del territorio como en la región pampeana. Es el momento en donde comienza un proceso, que se<br />

consolida hacia los años 50, de predominio intensivo en la expansión del capitalismo por sobre la expansión en extensión 1 . Respecto<br />

del agro, se han identificado un conjunto de nuevas pautas de comportamiento en los distintos grupos que lo integran que, en conjunto,<br />

darían cuenta de una nueva lógica de acumulación con menor especialización productiva 2 .<br />

La mayoría de la tierra del Partido es apta para la explotación agropecuaria, y la misma se ha dedicado progresivamente a la<br />

explotación agrícola. Para la década del 30, el registro censal del año 1937 indica 123.737 has. cultivadas en el partido, en un total de<br />

superficie en explotación de 456.521 has es decir un 27,1%; para 1937-1947 el promedio de hectáreas dedicadas a la agricultura es de<br />

102.036 has.; para 1957-1967 es de 103.222 has. y para 1967-1977 es de 129.900 has. Para 1988, se dedican a la agricultura 292.009,7<br />

has., el 61,2% de la superficie total en explotación, 477.023,7 has. 3 . La información recogida indica la existencia de una variedad de<br />

cultivos importante en el Partido, y un mayor rendimiento a medida que transcurre el tiempo, lo cual indica un proceso de intensificación<br />

de la producción a través de distintas tecnologías, que posibilitan la expansión agrícola que se da a partir de los años sesenta.<br />

En el partido, la estructura económica hacia fines de los años ochenta muestra una fisonomía totalmente distinta a la de este<br />

momento inicial, la década de 1930. A su vez, en estos cincuenta años pueden identificarse subperíodos atendiendo a las características<br />

generales de la estructura económica. En este sentido, la década del sesenta es un momento de cambio en la estructura, de lo cual la<br />

expansión agrícola es un indicador de importancia.


La población del partido ha tenido un aumento constante desde su fundación en 1823. En lo que respecta al siglo XX, la<br />

evolución de los indicadores sobre la población total, rural y urbana del Partido nos permitirá una primera aproximación al desplazamiento<br />

de la población del ámbito rural al urbano, y constituyen un primer acercamiento al estudio de los corrimientos de población entre las<br />

distintas ramas económicas 4 .<br />

Cuadro Nº 1:<br />

1914 1947 1960 1970 1980 1991<br />

Población urbana 15 670 34 556 48 729 65 876 81 494 91 101<br />

Población rural 18 391 22 047 20 279 11 057 10 379 10 127<br />

Población total 34 061 56 603 69 005 76 933 91 873 101 228<br />

Fuentes: Censos Nacionales de Población y Vivienda.<br />

Como se puede ver en el cuadro, hasta el registro de 1947 crecen tanto la población urbana como la rural, mientras que los<br />

censos posteriores muestran un descenso continuo de la población rural, simultáneo al crecimiento de la población urbana y total del<br />

partido.<br />

El incremento de la población de la ciudad de Tandil es resultado de dos procesos interrelacionados: por un lado, el<br />

desplazamiento de población del campo a la ciudad, al interior del Partido, y por otro, la ciudad de Tandil como destino de migrantes<br />

con origen fuera del Partido, lo cual es un indicador de la progresiva complejización de la estructura productiva urbana, con un<br />

desarrollo de los sectores industriales y de servicios.<br />

Además, puede comprobarse que tanto el índice de crecimiento de la población total y urbana como el descenso de la<br />

población rural en el Partido de Tandil, es mayor en su magnitud en relación al de los partidos limítrofes. La evolución de cada uno de<br />

estos indicadores en el Partido sigue la línea comprobada tanto para la unidad Resto de la Provincia de Buenos Aires como para la<br />

Argentina en el mismo período 5 . Lo cual permite plantear la vinculación de lo observable a través de los indicadores que plantea la<br />

fuente censal, con el desarrollo del capitalismo y la modalidad que adquiere en nuestro país.<br />

Si tenemos en cuenta la evolución intercensal de este movimiento poblacional, se puede ver un crecimiento constante, y en<br />

valores similares, de la población urbana hasta el registro del ochenta. Entre 1980 y 1991 crece en menor proporción y por debajo de<br />

la media de todo el período. También se destaca el comportamiento de la población rural, con un pronunciado descenso en la década<br />

del sesenta que se frena hasta casi llegar al estancamiento de su volumen en las décadas siguientes.<br />

Cuadro 2:<br />

oblación<br />

bana<br />

oblación<br />

ral<br />

oblación<br />

tal<br />

Fuente: ídem.<br />

1914-1947 1947-1960 1960-1970 1970-1980 1980-1991<br />

Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %<br />

18 886 121% 14 173 41,0 17 147 35,2 15 618 23,7 9 607 11,8<br />

3 656 19,9% -1 768 -8,0 -9 222<br />

876<br />

45,5<br />

-678 -6,1 -252 -2,4<br />

22 542 66,2% 12 402 21,9 7 929 11,5 14 940 19,4 9 355 10,2


Respecto a la llegada de población al Partido, los estudios sobre el saldo migratorio nos deja ver que se dan cuatro grandes<br />

etapas, de acuerdo a la información que se maneja: es positivo desde 1862 hasta 1914; negativo desde 1915 hasta 1946; vuelve a ser<br />

positivo desde 1947 hasta 1980; y nuevamente negativo en la década 80-91, el cual continúa por lo menos hasta 1995 6 .<br />

La proporción de población indicada como rural por los censos de población desciende continuamente desde el registro<br />

censal de 1947, y como vimos crece un 20% respecto al registro de 1914. Aquí es importante no olvidar que este registro censal<br />

involucra a toda la población que vive en el ámbito rural y poblados de hasta 2000 habitantes, lo cual puede ocasionar, al trabajar<br />

solamente con los registros censales, distorsiones importantes si se trata de pueblos que, como es el caso de María Ignacia (Vela) en<br />

el Partido, tienen una población total alrededor de esa cifra: Vela cuenta con 3.023 habitantes en 1960, 1446 en 1970, 2.021 en 1980<br />

y alrededor de 1.600 hacia 1991.<br />

El importante descenso del volumen de población rural en el período intercensal 1947-1960, y el modesto crecimiento<br />

indicado entre los registros de 1914 y 1947, abre la posibilidad de establecer el momento de inflexión del indicador de población rural<br />

en este último subperíodo, que lamentablemente no puede ser indicado con precisión por la falta de registros. Además, es notable la<br />

disminución hacia la década del sesenta, en donde la población rural pierde un volumen de más de 9.000 personas, para luego continuar<br />

esta tendencia pero con disminuciones intercensales de mucha menor importancia.<br />

La población contenida en el registro censal como población rural puede involucrar trabajadores que viven en zonas rurales<br />

pero trabajan en ramas distintas a la agrícola. Por otro lado, la situación inversa también es posible, por lo cual se hace evidente que<br />

este registro no da cuenta con exactitud de la población que realiza tareas económicas en el campo (población agrícola). Una mejor<br />

aproximación a este volumen es utilizar el registro de la población que tiene actividades económicas principalmente en la rama 1:<br />

Agricultura, caza, silvicultura y pesca, y que también es posible encontrar en los censos de población.<br />

Lamentablemente, el dato para el Partido no se encuentra para los censos de población de 1947 y 1970. Para el año 1914,<br />

tendríamos 8.143 personas 7 , para el censo de 1960 la Población Económicamente Activa en el sector ha disminuido a 5.648 personas;<br />

desciende hasta las 4.635 personas en 1980 y este nivel se mantiene en el registro de 1991, con 4.697 personas. Los registros<br />

existentes nos muestran un descenso constante pero los huecos en la información entre 1914 y 1960 no nos permite determinar con<br />

precisión períodos en este desarrollo. Como se ve, el descenso de la PEA en el sector también es constante hasta los años ochenta, pero<br />

de una magnitud mucho menor a la de la población rural. Incluso manifiesta un leve aumento entre 1980 y 1991.<br />

El movimiento de la población es un indicador de las transformaciones que se dan en la estructura económica, en el conjunto<br />

de relaciones sociales que se dan en la producción de la vida material. En este sentido, y en forma general, se debe tener en cuenta la<br />

combinación de dos formas distintas de expansión que se da el capitalismo, una de las cuales prevalece sobre la otra según el momento<br />

en el desarrollo de que se trate: una expansión en extensión constituida por la extensión de la esfera de dominio del capitalismo a<br />

nuevos territorios sociales, y otra dirección en profundidad, constituida por un mayor desarrollo de las relaciones capitalistas en un<br />

territorio social dado, donde esas relaciones ya eran dominantes.<br />

Siguiendo esta línea de razonamiento, se ha afirmado que hacia 1950 cambia el sentido de desarrollo predominante en el<br />

capitalismo en Argentina, que de ser predominantemente en extensión pasa a serlo en profundidad, mediante una expansión de las<br />

relaciones capitalistas en un mismo espacio social 8 . Este cambio plantea un nuevo escenario, con un desplazamiento “real” de mano<br />

de obra y no solamente “virtual”, como en la etapa anterior, en donde el desarrollo de las fuerzas productivas a través de las<br />

incorporación de maquinaria todavía permite la incorporación de mano de obra 9 . Para la región pampeana, se ha planteado que este<br />

proceso tiene lugar ya para fines de la década del 20 y que se profundiza luego de la crisis del 30 10 . Entonces, este proceso de cambio<br />

de predominio del sentido de expansión del capitalismo, debe ser analizado en particular, atendiendo a las estructuras económicosociales<br />

concretas de las cuales forman parte las regiones o unidades menores.<br />

Si consideramos que para el registro censal de 1914 en el partido el 53,7% de la población reside en el campo, y para 1947<br />

lo hace el 39% de la población, se puede afirmar que en la década de 1930 comienza a tomar forma un cambio en el predominio del<br />

sentido expansivo del capitalismo, se vuelve más en profundidad relegando a lo extensivo. Este momento del desarrollo del capitalismo<br />

en nuestro país, desde la resolución de la crisis de 1929, signado por el dominio del capital industrial, llegaría a su fin con la resolución<br />

de la crisis de 1989/1990, en donde se manifiestan con claridad las condiciones de dominio del capital financiero por sobre el conjunto<br />

de relaciones sociales. Este período que culmina habría sido dominante desde mediados de la década del 50 para el conjunto del<br />

territorio argentino..<br />

Las manifestaciones que pueden observarse ante el avance del capitalismo en profundidad son la expropiación de pequeños<br />

propietarios, la disminución de obreros ocupados en relación al capital invertido, y, consecuentemente, la expulsión de población<br />

agrícola. Es decir, la nueva situación marca procesos que tienden hacia una modificación sustancial tanto en la composición como en<br />

la situación de los grupos sociales, y por lo tanto de la relación de fuerzas sociales objetiva 11 .<br />

En este marco general, como objetivo de este trabajo nos remitiremos al análisis, a través de datos censales, de las pequeñas<br />

unidades productivas en el agro hacia fines de los ochenta, luego de establecer algunos lineamientos generales sobre la población en<br />

actividades económicas en la rama tomando registros anteriores.<br />

877


Las unidades de producción en el agro del partido de Tandil.<br />

Lo primero que hay que determinar es quiénes son los pequeños productores, mediante qué variables se pueden establecer<br />

los criterios que permitan diferenciarlos.<br />

Resulta bastante obvio que la extensión de tierra por sí sola es una variable por lo menos insuficiente, por lo cual tomaremos<br />

principalmente el tipo de mano de obra predominante en las unidades productivas, diferenciando las que tienen predominio de mano<br />

de obra familiar de las que tienen predominio de mano de obra asalariada. A su vez, en el primer grupo, podemos diferenciar aquellas<br />

unidades de producción con predominio de mano de obra familiar remunerados de aquellas donde el predominio es de los no<br />

remunerados.<br />

Otra diferenciación gruesa, detrás del objetivo de caracterización de estas pequeñas unidades, es la del tipo de producción<br />

predominante en cada subgrupo establecido, así como la forma de organización productiva, y la exclusividad en la dedicación hacia la<br />

actividad en las unidades por parte de las personas a cargo de las mismas. Se trata de realizar una aproximación al capital involucrado<br />

en los distintos subgrupos de unidades de producción, identificando las características específicas respecto a la mecanización y la<br />

utilización de las mismas, insumos, etc. 12 .<br />

Por supuesto que la riqueza analítica de estos cruces sólo se pueden logran en su plenitud, y aún así con algunas limitaciones<br />

dada la forma en que se encuentra relevada la información, para el censo de 1988, del cual se cuenta con la base de datos para el partido<br />

de Tandil. Para los censos agropecuarios de 1960 y 1969, nos manejaremos con la información editada, la cual si presenta serias<br />

limitaciones para el análisis del nivel jurisdiccional “partido o departamento”.<br />

De todas maneras, estableceremos en primera instancia como se compone la totalidad de las unidades productivas según la<br />

extensión de tierra puesta en producción y el régimen de tenencia en el período intercensal, para luego focalizar la atención en las<br />

características de las unidades menores hacia 1988.<br />

El cuadro siguiente nos muestra la evolución intercensal por escala de extensión de las unidades de producción, de acuerdo<br />

a la cantidad de explotaciones y la superficie que ocupan en hectáreas, su volumen y su peso relativo en cada caso.<br />

1960 1969 1988<br />

Nº % Sup has. % Nº % Sup has. % Nº % Sup has. %<br />

1-25 465 27,2 5 448 1,3 526 28,1 5 293 1,1 113 10,3 1 425 0,3<br />

26-100 507 29,7 29 445 6,8 528 28,2 29 509 6,0 295 26,9 17 995 3,8<br />

101-200 264 15,4 37 408 8,7 270 14,4 39 095 7,9 211 19,3 30 470 6,4<br />

201-400 241 14,1 69 189 16,0 234 12,5 65 705 13,4 155 18,5 44.987,7 9,4<br />

401-1000 145 8,5 88 132 20,4 201 10,7 127 457 25,9 202 14,1 132.353,<br />

2<br />

1001-5000 81 4,7 158 427 36,7 104 5,6 173 165 35,2 111 10,1 194 383 40,7<br />

5001-<br />

10000<br />

5 0,3 31 477 7,3 6 0,3 39 905 8,1 8 0,7 55 409 11,6<br />

10001+ 1 0,1 12 100 2,8 1 0,1 12 001 2,4 - - --- ---<br />

TOTAL 1<br />

1709 100 431626 100 1870 100 492130 100 1095 100 477024 100<br />

1. Para 1960 se computan 23 unidades a campo abierto y sin determinar, que están restadas del total.<br />

Fuente: Censos agropecuarios.<br />

878<br />

27,7


El total de unidades es menor hacia 1988 que en los dos registros anteriores, pero en la década del sesenta aumenta el número<br />

de unidades y la superficie total que ocupan. Las que tienen una superficie de hasta 200 has. representan el 72,3% del total de unidades<br />

y el 16,8 de la superficie en 1960, el 70,7% y el 15%, respectivamente, en 1969 y el 56,5% y el 10,5 respectivamente, en 1988.<br />

y 1988.<br />

Entre 1960 y 1969 las unidades de hasta 200 has. crecen en número y en superficie ocupada, lo cual se revierte entre 1969<br />

Las que tienen entre 200 y 400 has. disminuyen su número desde 1960. En conjunto, para esta escala de hasta 400 has.,<br />

tenemos para 1960, una cantidad de 1.477 unidades, el 86,4%, que ocupan una superficie de 141.490 has., el 32,8% del total. En 1969<br />

son 1.558 unidades y ocupan 139.602 has., el 83,2% y 28,4% del total, respectivamente; y hacia 1988 son 774 unidades y ocupan una<br />

superficie de 94.877,9 has. , es decir, el 75% y el 19,9% respectivamente. Es decir que disminuye el peso absoluto y relativo de las<br />

unidades de menor extensión en el conjunto de unidades productivas del sector. Aunque es preciso notar que este movimiento adquiere<br />

perfiles definidos desde fines de la década del sesenta, ya que durante el transcurso de la década se verifica un aumento de la s unidades<br />

menores a las 200 has. Entre 1969 y 1988 se da una disminución del 50% en la cantidad de unidades de producción de hasta 400 has.,<br />

y del 32% en la superficie que ocupan, es decir, que la tendencia es al aumento del tamaño de las unidades de producción, que son<br />

menos en número y controlan una mayor superficie, como se puede ver: las de más de 400 has. son 236 unidades ocupan una<br />

superficie de 290.136 has. en 1960 (13,8% del total de unidades, y 67,2% de la superficie total). Son 312 en 1969, ocupando una<br />

superficie de 352.528 has. (16,7% del total de unidades, y 71,6% de la superficie total). Y llegan a las 321 unidades, ocupando una<br />

superficie de 382.145,2 has. en 1988. (29,3% del total de unidades, y 80,1% de la superficie total).<br />

La escala de extensión de la tierra puede resultar sólo una aproximación en la definición de las pequeñas unidades productivas,<br />

dado que puede englobar un conjunto de situaciones respecto al capital invertido y la organización en general de la unidad productiva.<br />

Intentaremos por tanto una aproximación mejor a través del análisis de la mano de obra ocupada en las unidades productivas, de<br />

acuerdo a la escala de extensión de las mismas.<br />

El siguiente cuadro nos deja ver la evolución de la mano de obra permanente a través de los registros censales para los censos<br />

de 1969 y 1988 13 . Una limitación importante en este análisis es la reducción de la mano de obra a la permanente, sin considerar la<br />

transitoria, pero por el momento, y por la forma en que aparece presentada la información, no se puede completar el análisis con esta<br />

información, por otro lado fundamental en la rama.<br />

Cuadro Nº 4:<br />

Remunerados (familiares y no familiares)<br />

No remunerados (productores y familiares)<br />

Total de personas que trabajan en forma<br />

ermanente en las explotaciones (no<br />

ncluye transitorios)<br />

Fuente: Censos Agropecuarios<br />

Nº % Nª %<br />

2.079<br />

3.631<br />

5.710<br />

879<br />

36,4<br />

63,6<br />

100<br />

2.020<br />

1.271<br />

3.291<br />

1969 1988<br />

61,4<br />

38,6<br />

100<br />

Total de Explotaciones 1.870 1.095<br />

En el cuadro podemos ver que se da una disminución importante, del orden del 41,4%, en el total de unidades de producción,<br />

y del orden del 42,3% es la disminución de los trabajadores permanentes. El promedio de trabajadores por unidad es similar: de 3,1<br />

personas en 1969 y de 3 en 1988, que se explica por la reducción similar, en proporción, en las unidades de producción y en la cantidad<br />

de mano de obra permanente.


Mientras los remunerados (familiares y ajenos a la familia del productor) se mantiene en una cantidad similar. En cambio, los<br />

nos remunerados pierden 2.360 personas, un 65% entre 1969 y 1988.<br />

Cuadro Nº 5:<br />

Por otro lado, los ajenos remunerados se mantienen en una proporción similar:<br />

Remunerados ajenos a la<br />

familia del productor<br />

1969 1988<br />

Nº % Nº %<br />

1.750<br />

84,2<br />

880<br />

1.731<br />

Total remunerados 2.079 2.020<br />

Fuente: Censos Agropecuarios<br />

En cambio los familiares muestran una clara diferenciación entre aquellos remunerados y aquellos que no lo son:<br />

Cuadro Nº 6: Familiares del productor. 1969-1988.<br />

Familiares<br />

remunerados<br />

Familiares no<br />

remunerados<br />

Total de<br />

familiares del<br />

productor<br />

Fuente: Censos Agropecuarios<br />

1969 1988<br />

Nº % Nº %<br />

329<br />

1.266<br />

1.595<br />

20,6<br />

79,4<br />

100<br />

Si bien los familiares remunerados disminuyen algo, la reducción importante se da con los no remunerados, con una<br />

reducción del 86,5%.<br />

En síntesis, para el conjunto de las unidades de producción agropecuaria en el partido se verifica un proceso por el cual<br />

desciende la participación productiva de los familiares, especialmente los no remunerados. Si bien resulta difícil establecer comparaciones<br />

entre los distintos censos por la poca homogeneidad que existe en la presentación de la información, teniendo en cuenta lo que sucede<br />

en el partido hacia el censo agropecuario de 1937, se puede afirmar que en el marco de una disminución constante de la cantidad de<br />

personas que realizan actividades económicas en el campo, se afirma el peso relativo de las que se encuentran involucradas en<br />

relaciones salariales 14 .<br />

En cuanto a la relación específica con la tierra en producción, la tendencia es hacia la producción directa por los propietarios<br />

de la tierra:<br />

289<br />

171<br />

460<br />

62,8<br />

37,1<br />

100<br />

85,7


Cuadro Nº7:<br />

Hectáreas en<br />

propiedad<br />

Hectáreas en<br />

arriendo<br />

Otras Formas 1<br />

TOTAL<br />

1 . Otras formas incluye:<br />

1960 1969 1988<br />

232 355<br />

163 193<br />

36 078<br />

431.626<br />

53,8<br />

37,8<br />

8,4<br />

100<br />

324 994<br />

118 534<br />

48 602<br />

492 130<br />

1960: mediero o tantero, usadas gratuitamente, tierras fiscales y en otras formas.<br />

881<br />

66,0<br />

24,1<br />

9,9<br />

100<br />

1969: aparcero, otra forma con permiso, ocupante de hecho, sin especificar régimen.<br />

1988: aparcería, contrato accidental, ocupación con permiso, ocupación de hecho, otros.<br />

Fuentes: Censos agropecuarios.<br />

353 625<br />

65 153<br />

58 246<br />

477 024<br />

Esta tendencia hacia la producción directa por parte de los propietarios de la tierra es anterior, como hemos mostrado en<br />

otro trabajo, desde los años cuarenta se visualiza el inicio de un proceso que hacia fines de los años ochenta veremos que cobra la forma<br />

del predominio de la producción en propiedad, la casi desaparición del arriendo tradicional, y la combinación de estas modalidades de<br />

producción como forma de aumento de la superficie en producción por parte de los propietarios, lo cual genera el mayor promedio de<br />

superficie por unidad, seguido por la combinación de propiedad y contrato accidental. En síntesis, si bien el arriendo no desaparece<br />

del espacio agrario, en los ochenta forma parte de una estrategia para el aumento de las unidades productivas, al igual que el contrato<br />

accidental. Sumando el contratismo, como modalidad particular de arriendo, estas dos formas de tenencia no llegan al 10% del total de<br />

explotaciones, es decir, un peso significativo pero menor en el conjunto de unidades 15 .<br />

Hacia fines de los años ochenta, el sector agrario en el partido tiene menos unidades productivas que las registradas en los<br />

anteriores relevamientos censales. La media de superficie por unidad pasa de 252,6 has. en 1960, a las 263,2 has. en 1969, y llega a las<br />

435,6 has. en 1988. La media de superficie por unidad aumenta entre 1960 y 1969, aún cuando la cantidad de unidades productivas<br />

aumenta. En este proceso, la disminución de unidades de menor tamaño se combina con la organización productiva directa por parte<br />

de los propietarios de la tierra; a su vez, las formas tradicionales de tenencia, como el arriendo, pierde un peso significativo, quedando<br />

relegado como estrategia para la producción en mayor escala por parte de los propietarios. El contrato, por su parte, también hacia<br />

fines de los ochenta aparece como una forma de lograr un mejor posicionamiento por parte de los propietarios, quienes dominan la<br />

producción. Este proceso combinado ha resultado en el aumento del peso relativo de las unidades de más de 400 has., y la pérdida de<br />

significación de los familiares del productor en el conjunto de los trabajadores del sector, que resulta claramente inclinado a organización<br />

a través de asalariados y ajenos a la familia.<br />

Por supuesto que estas tendencias generales para el conjunto de las unidades productivas no oculta el hecho de la diversidad<br />

de situaciones existentes, pero, como hipótesis, se podría plantear una relación más o menos directa entre los distintos procesos y la<br />

pérdida de significación en el conjunto del sector de las unidades de hasta 400 has.<br />

En este sentido, y teniendo en cuenta lo provisorio de los resultados obtenidos hasta el momento, intentaremos caracterizar<br />

de mejor manera al conjunto de las unidades hacia 1988 teniendo en cuenta la relación entre distintas variables, para luego, a través de<br />

este análisis, aproximarnos mejor a los pequeños productores.<br />

74,1<br />

13,7<br />

12,2<br />

100


Hemos delimitado, en primera instancia, al conjunto de unidades de producción que tienen toda su tierra exclusivamente en<br />

alguna de las formas de tenencia, lo cual se puede ver en el cuadro siguiente:<br />

Cuadro Nº 10:<br />

Fuente: Censo Nacional Agropecuario de 1988.<br />

Las 859 unidades representan 78,4% del conjunto total de unidades productivas del sector. Este subconjunto de unidades<br />

con tenencia pura en alguna de sus formas, alcanza las 314.714,7 has., el 66% del total en el sector. En este subconjunto, la mayoría<br />

de las unidades se encuentra en producción por los propietarios, que se lleva el 86% de las unidades con toda la tierra en alguna de las<br />

formas de tenencia, e involucra una superficie que equivale al 56,7% del total del partido en el sector.<br />

Le siguen en importancia los arrendatarios puros y los contratistas. El resto de las formas casi no presentan unidades.<br />

A su vez, un 61,8% del total de unidades con toda la totalidad de la tierra en alguna de las formas de tenencia tiene hasta 200<br />

has., llegando hasta el 75% las unidades de hasta 400 has.<br />

Con el fin de cruzar estos datos con la utilización de mano de obra que realizan las unidades productivas, en todas las escalas,<br />

mostramos a continuación la cantidad de ajenos permanentes remunerados y la cantidad de jornadas en trabajadores transitorios<br />

utilizadas por escala para las unidades con toda la superficie en alguna de las formas de tenencia:<br />

Cuadro Nº 11:<br />

Fuente: ídem cuadro anterior.<br />

882


Las relaciones establecidas en la última fila del cuadro nos permite ver que los propietarios puros emplean más cantidad de<br />

mano de obra permanente y menos transitoria por unidad de producción; en cambio, en los arrendatarios puros es menor la cantidad<br />

de ajenos permanentes asalariados y aumenta la cantidad de jornadas contratadas; esta tendencia se acentúa con el caso de los<br />

contratistas, en donde en promedio no llega a una persona por unidad los ajenos permanentes remunerados y pega un salto el número<br />

de jornadas de mano de obra transitoria, hasta casi 104 jornadas por unidad.<br />

Pero es obvio que el análisis del conjunto esconde situaciones muy diversas, como se puede apreciar si tenemos en cuenta<br />

que de las unidades con toda su tierra en propiedad de hasta 200 hectáreas, que son 446 unidades, 346 no ocupan ajenos asalariados.<br />

(el 77,5%), y 314 no ocupan mano de obra ajena permanente ni transitoria (el 70,4%). Es decir, que 100 unidades en la escala de hasta<br />

200 has. ocupan los 152 ajenos permanentes asalariados, y 132 unidades las casi 2000 jornadas. En los arrendamientos puros, que son<br />

48 unidades, 37 no ocupan trabajadores permanentes remunerados.(el 77,1%), de los cuales 34 (el 70,8%) tampoco ocupan mano de<br />

obra transitoria.<br />

La diversidad de situaciones por escala de extensión de las unidades da cuenta de la necesidad de establecer criterios más<br />

precisos que permitan una mejor aproximación a la situación real de la producción, sobre la cual la escala de extensión encubre más que<br />

facilita el análisis.<br />

Por lo cual precisaremos el análisis tomando como variables, por un lado, el tipo de mano de obra, ajena o familiar,<br />

predominante, considerando a su vez la equivalencia de 200 jornadas igual a un trabajador permanente; por otro lado, la tenencia de<br />

la tierra, considerando, con fines operativos, la forma de tenencia del suelo en “con predominio de la propiedad” o “predominio de la<br />

no propiedad”, incluyendo en esta última las unidades con igual extensión de tierra en propiedad o en otras formas de tenencia; a su<br />

vez, estas variables serán puestas en relación con la superficie en has. de las unidades.<br />

En relación al predominio de la tierra en propiedad o no, para el conjunto de las unidades en el partido hacia 1988, tenemos<br />

lo siguiente:<br />

Cuadro Nº 12:<br />

Predominio de la<br />

propiedad<br />

883<br />

Predominio de la<br />

no propiedad<br />

0-200 492 127 619<br />

>200-400 113 42 155<br />

>400-1000 149 53 202<br />

>1000 91 28 119<br />

TOTAL<br />

Total unidades 845 250 1095<br />

Total<br />

Superficie<br />

360.760 116.264 477024<br />

Aquí se vuelve a observar la importancia de la tenencia en propiedad, que tienen una media de 426,9 has. por unidad, frente<br />

a las 465,1 has. por unidad de las unidades con predominio de otras formas de tenencia de la tierra.<br />

Si tenemos en cuenta solamente a las unidades con predominio de mano de obra familiar, la situación queda planteada de la<br />

siguiente manera:<br />

Cuadro Nº 13: Unidades con predominio de la mano de obra familiar, según tengan predominio de la propiedad o de la no propiedad,<br />

por escala de extensión de la tierra.


Fuente: ídem.<br />

Predominio de la<br />

propiedad<br />

884<br />

Predominio de la<br />

no propiedad<br />

0-200 157 35 192<br />

>200-400 25 7 32<br />

>400-1000 9 8 17<br />

>1000 3 1 4<br />

Total unidades 194 51 245<br />

TOTAL<br />

Solamente 245 unidades tienen predominio de mano de obra familiar, un 22,3%. del total de unidades de producción. Las<br />

restantes 850 unidades combinan mano de obra familiar con predominio de ajenos asalariados.<br />

En este conjunto de 245 unidades, la gran mayoría son propietarios puros o tiene predominio la tierra en propiedad por<br />

sobre las otras formas que conforman las unidades, representando el 79,2%, ocupando una superficie de 38.170,4 has. (un promedio<br />

de 155,8 has. por unidad.). Respecto a la superficie de las unidades, el 78,4% tiene en producción hasta 200 hectáreas, y el 91,4%<br />

hasta 400 hectáreas. Podemos ver, entonces, que estas unidades con predominio de familiares se reparten casi exclusivamente en las<br />

menores escalas de extensión.<br />

De este conjunto de unidades con predominio de mano de obra familiar, interesa precisar cuántas son y en qué extensión de<br />

tierra en producción se ubican las que organizan su producción sin ajenos asalariados permanentes o transitorios: pueden observarse<br />

en el siguiente cuadro, según tengan predominio de la propiedad o no y por escala de extensión de la tierra:<br />

Cuadro Nº : 14<br />

Fuente: ídem.<br />

Predominio de la<br />

propiedad<br />

Predominio de la<br />

no propiedad<br />

0-200 154 33 187<br />

>200-400 24 7 31<br />

>400-1000 8 8 16<br />

>1000 1 1 2<br />

Total unidades 187 49 236<br />

TOTAL<br />

Como se puede ver, los resultados de este cruce de variables arroja resultados muy similares a los del cuadro anterior,<br />

faltando sólo 9 unidades. La mayor diferencia se da en las unidades con predominio de la tierra en propiedad, lo cual estaría dando<br />

cuenta de una mejor situación de los propietarios que permitiría la explotación de mano de obra ajena.<br />

El 96,3% de las unidades con predominio de mano de obra familiar no ocupan trabajadores en forma permanente y el total<br />

de jornadas de trabajadores transitorios no alcanza a las 200 al año. En este conjunto de unidades de producción, el 79% de ellas no<br />

supera las 200 has. de tierra, y el 92,4% no supera las 400 has.


En el conjunto de las 245 unidades de producción con predominio de mano de obra familiar, 42 productores tienen actividad<br />

remunerada fuera de la unidad todo el año; 12 como asalariados (2 en el agro, 10 fuera de él); 1 lo hace parte del año, fuera del agro.<br />

Como cuenta propia suman 33 productores, 19 de ellos tienen actividad fuera de la unidad como cuenta propia en el agro; y 14 fuera<br />

de la unidad de producción en alguna otra rama. Sólo 4 son patrones, todos fuera del agro.<br />

En síntesis, la inmensa mayoría de los productores, 199, no tienen actividad remunerada fuera de la unidad, lo cual alcanza<br />

el 81,2%. El resto de productores, los 42 analizados, tienen actividad remunerada fuera de la unidad, preferentemente en otras ramas<br />

de la producción ( el 76,2%).<br />

Todas estas unidades organizan la producción mediante la actividad directa de las personas a cargo como productores, cuya<br />

forma jurídica predominante es la persona física (el 76,3%) y el resto son sociedades de hecho (el 23,7%).<br />

De todas maneras, teniendo en cuenta la existencia en este conjunto de unidades de grandes extensiones de tierra, sería un<br />

error pensar que la totalidad de las que tienen predominio de mano de obra familiar, o las que no ocupan trabajadores ajenos a la familia<br />

como asalariados constituyan estrictamente productores familiares que organizan la producción en forma directa. Para precisar mejor<br />

este conjunto es necesario excluir las unidades que contratan servicio de terceros. De esta manera, si consideramos los que no contratan<br />

servicios de terceros, el universo se reduce a 62 unidades. Estos son las unidades familiares, las cuales organizan la producción en<br />

forma directa. Tienen en total 7.569 has, y 45 de estas unidades de producción tienen predominio de propiedad como tenencia (el<br />

72,6%).<br />

El 93,6% (58 unidades) tienen una extensión menor a las 400 has.; y el 82% menor de 200 has. (51 unidades). Es decir que<br />

la abrumadora mayoría de las unidades familiares con producción directa tienen hasta 200 has. principalmente en propiedad. Pero es<br />

de destacar que significan, en conjunto, sólo el 5,7% del total de unidades productivas existentes en el partido a fines de los ochenta.<br />

En este nuevo grupo, los productores que no tienen actividad remunerada fuera de la unidad son 48; los que sí la tienen son<br />

13 productores, de los cuales 3 son asalariados todo el año, uno en el agro y 2 fuera de él. Cuenta propias son 9 en el agro y 2 fuera<br />

de el. Y hay 1 patrón fuera del agro.<br />

Es decir que la mayoría de este tipo de productores directos con predominio de la mano de obra familiar y que no contratan<br />

servicios de terceros se dedican principalmente a la actividad productiva en la unidad, ( el 77,4%). Un 22,6% tiene actividad<br />

remunerada fuera de su unidad de producción, y a diferencia del grupo anterior, lo hacen principalmente como cuenta propia en el<br />

sector agropecuario, un 76,9%.<br />

Conclusiones preliminares:<br />

Los resultados alcanzados hasta el momento en el trabajo de investigación en curso sobre la estructura económica de la<br />

sociedad, la rama agropecuaria en el partido de Tandil muestra hacia fines de los años ochenta, una conformación con menor cantidad<br />

de unidades productivas respecto a la situación hacia los años sesenta del siglo XX. Al mismo tiempo, la media de superficie por<br />

unidad pasa de 252,6 has. en 1960, a las 263,2 has. en 1969, y llega a las 435,6 has. en 1988. La media de superficie por unidad aumenta<br />

entre 1960 y 1969, aún cuando la cantidad de unidades productivas aumenta.<br />

En este marco, se produce una importante pérdida de significación en cuanto a cantidad y peso relativo de las unidades de<br />

menor tamaño, que se encuentra relacionado con una nueva forma de organización productiva en donde los propietarios organizan la<br />

producción en forma directa; a su vez, las formas tradicionales de tenencia, como el arriendo, pierde un peso significativo, quedando<br />

relegado como estrategia para la producción en mayor escala por parte de los propietarios. El contrato, por su parte, también aparece<br />

con un peso relativo menor en comparación a la tenencia en propiedad, como una forma de lograr un mejor posicionamiento por parte<br />

de los propietarios, quienes dominan la producción. Este proceso combinado ha resultado en el aumento del peso relativo de las<br />

unidades de más de 400 has., y la pérdida de significación de los familiares del productor en el conjunto de los trabajadores del sector,<br />

que resulta claramente inclinado a la organización a través de asalariados y ajenos a la familia.<br />

Los pequeños productores lo son por el monto de capital invertido en las unidades; en tal sentido, la determinación de<br />

grupos de unidades a través de la clasificación de las mismas de acuerdo al predominio o no de la mano de obra familiar resulta una<br />

mejor aproximación de la situación del sector que la escala de extensión de las unidades. La utilización de esta variable nos permite<br />

afirmar la existencia de unidades con una gran heterogeneidad respecto al tamaño de la puesta en producción. El predominio de la mano<br />

de obra familiar recorre todas las escalas de extensión. De todas maneras, hemos podido comprobar que la gran mayoría de las<br />

explotaciones con predominio de fuerza de trabajo familiar son propietarios de hasta 200 hectáreas de tierra, y casi la totalidad de este<br />

grupo de unidades se incluye en una escala de extensión de hasta 400 has. Asimismo, hemos podido observar que en este grupo de<br />

unidades con predominio de mano de obra familiar, sólo el 25% organiza la producción exclusivamente en forma directa, lo cual<br />

significa, en conjunto, sólo el 5,7% del total de unidades productivas existentes en el partido a fines de los ochenta. El resto, 183<br />

unidades de producción con predominio de mano de obra familiar, contrata servicios de terceros para algunos de los momentos<br />

involucrados en su actividad productiva específica.<br />

885


La gran mayoría de las personas a cargo de las unidades de producción se encuentran ocupados exclusivamente en esa<br />

actividad. Sólo el 18,8% (42 productores) tiene otra actividad remunerada fuera de la unidad de producción, de los cuales el 78,6% lo<br />

hace como cuenta propia, de los cuales el 58% lo hace como cuenta propia en otras unidades productivas del sector, y un 42% son<br />

cuenta propia en otras ramas productivas.<br />

El trabajo continúa hacia una caracterización más completa de las pequeñas unidades, teniendo en cuenta el grado de capital<br />

incorporado en la producción y el uso del suelo, a fin de determinar las características específicas para las distintas formas de tenencia<br />

y las escalas de extensión.<br />

886


1 Ver N. IÑIGO CARRERA y J. PODESTÁ: Análisis de una relación de fuerzas sociales objetiva: caracterización de los<br />

grupos sociales fundamentales en la Argentina actual, Buenos Aires, Cuadernos del CICSO, Nº 46, 1985.<br />

2 Sobre este tema ver J. BALSA: La crisis de 1930 en el agro pampeano. Buenos Aires, CEAL, 1994.<br />

3 Amadasi, Enrique y otros, Estructura y dinámica de la población, evolución económica y empleo en el Partido de<br />

Tandil, Colección Estudios Regionales, Tandil, UNCPBA, 1981; cuadro 43, p. 104; y censos agropecuarios de 1937 y<br />

1988. Para la década 1947-1957 no hay datos.<br />

4 Las dificultades respecto a la existencia de información, como así también a la homogeneidad de la misma a lo largo<br />

de las distintas fechas censales, serán indicadas en cada caso, pero resulta de importancia tener presente que<br />

algunos registros no muestran la información desagregada a nivel de Partido o departamento, y, en general, cuando<br />

sí se edita este nivel, no lo hace con todas las variables disponibles.<br />

5 Para todo el país, ver el trabajo de Nicolás Iñigo Carrera y Jorge Podestá: La población agrícola en la Argentina<br />

actual (Aproximación al estado de la contradicción entre el campo y la ciudad), Buenos Aires, Cuadernos de CICSO,<br />

serie estudios Nº 57, 1987; el análisis de la unidad Resto de la Provincia de Buenos Aires en Jorge Tripiana: Análisis de<br />

la estructura económica de la sociedad: el desarrollo de las fuerzas productivas observado a través de la división social<br />

del trabajo. El Partido de Tandil, 1980-1991. Tesis de Licenciatura en Historia, 1997, inédito.<br />

6 Para el tema de migraciones y la ciudad de Tandil, ver el trabajo de Nancy Pastor: Migraciones internas hacia<br />

ciudades intermedias. El caso de Tandil (Prov. de Buenos Aires) entre 1945 y 1980, Cuaderno de Investigación,<br />

IEHS, Tandil, 1994; y el trabajo de Guillermo Velázquez, Diana Lan y Graciela Nogar (comp.): Tandil a fin del milenio.<br />

Una perspectiva geográfica, Tandil, CIG/FCH-UNCPBA, 1998.<br />

7 Velázquez y otros, cit., p. 62.<br />

8 Sin embargo, habría que indagar sobre las características que asume este proceso de acuerdo a las diferentes<br />

estructuras económico-sociales concretas que conforman el capitalismo argentino. Sobre el tema, ver el trabajo de<br />

Nicolás Iñigo Carrera, Jorge Podestá y María Celia Cotarelo: Las estructuras económico sociales concretas que constituyen<br />

la formación económica de la sociedad argentina, Buenos Aires, PIMSA. Documento de Trabajo Nº 1, 1994.<br />

9 Carlos Marx, El capital, México, FCE, 1986, t.1, p. 422.<br />

10 Ver, entre otros, Eduardo Sartelli: “Del asombro al desencanto: la tecnología rural y los vaivenes de la agricultura<br />

pampeana”, en M. Bjerg y A. Reguera (comp.): Problemas de la historia agraria, Tandil, IEHS, 1995.<br />

11 Ver los análisis de Nicolás Iñigo Carrera y Jorge Podestá: La población agrícola en la Argentina actual (Aproximación<br />

al estado de la contradicción entre el campo y la ciudad), Buenos Aires, CICSO, Nº 57, 1987; y La contradicción entre<br />

el campo y la ciudad en la Argentina. Análisis de dos situaciones: Misiones y Tucumán, PIMSA. Documento de Trabajo<br />

Nº 3, 1995.<br />

12 Este trabajo se encuentra en realización, por lo cual se presenta un estado de avance en relación a la investigación<br />

general.<br />

13 No se cuenta con el dato para el censo de 1960 en la información editada.<br />

14 Ver Jorge Tripiana: “El desarrollo del capitalismo en el agro pampeano. Unidades de producción y unidades de<br />

propiedad en el Partido de Tandil, 1937-1988. Resultados preliminares”. II JORNADAS INTERDISCIPLINARIAS DE<br />

ESTUDIOS AGRARIOS Y AGROINDUSTRIALES.. Facultad de Ciencias Económicas-UBA. 7, 8 y 9 de noviembre de<br />

2001. Publicado en CD, ISBN: 950-29-0653-5.<br />

15 Ibídem.<br />

887


AS AÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS PARA CONTROLE DO PROCESSO DE<br />

DESERTIFICAÇÃO NO NORDESTE<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

888<br />

José Ferreira Irmão *<br />

O Governo de Pernambuco está implantando o Projeto de Combate à Desertificação na Mesorregião do Sertão<br />

seguindo as orientações da Agenda 21 global no que toca aos problemas de desertificação. O Programa de Combate à<br />

Desertificação está sendo implantado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e meio Ambiente e tem como objetivo a<br />

transferência de recursos, a fundo perdido, para apoiar iniciativas de combate aos efeitos da desertificação em comunidades<br />

localizadas no Sertão de Pernambuco.<br />

A estratégia de intervenção do Programa se dá por meio do financiamento de subprojetos que são executados<br />

pelo Instituto Desert, localizado na cidade de Terezina, no Piauí. Para ter acesso ao Programa, a Secretaria seleciona<br />

comunidades localizadas nas áreas delimitadas pela Carta da Convenção de Desertificação como sujeitas a problemas de<br />

desertificação, seleção que se faz na base dos valores do Índice de Desenvolvimento Humano para Pernambuco.<br />

Na atual fase do Programa, foram beneficiadas, entre os anos de 2000 e 2001, 07 comunidades e 179 famílias,<br />

tendo sido investidos recursos da ordem de R$ 1.065.000,00. Recursos adicionais de R$ de 1.282.406,00 estão sendo<br />

alocados entre os anos de 2001/2002 em novas comunidades e famílias.<br />

O principal objetivo deste trabalho é averiguar o impacto das ações sócio-econômicas do Projeto sobre o nível<br />

de bem estar das comunidades e das famílias e de outras ações que tenham sido implantadas com vistas a combater os<br />

processos de desertificação.<br />

Na segunda seção, apresenta-se um diagnóstico sucinto das áreas de desertificação no que diz respeito às<br />

suas características ambientais, econômicas e sociais. Na terceira seção, apresentam-se as principais características do<br />

Projeto, na quarta as condições sócio-econômicas das famílias beneficiadas, na quinta as ações do Projeto e na sexta e<br />

última algumas conclusões do trabalho.<br />

2. CARACTERÍSTICAS ECONÔMICAS E FÍSICO-AMBIENTAIS DAS ÁREAS DE DESERTIFICAÇÃO NO ESTADO<br />

DE PERNAMBUCO<br />

2.1 Características das Regiões Fisiográficas do Estado<br />

O estado de Pernambuco se caracteriza por espaços geográficos diferenciados, desde o litoral até a sua porção<br />

mais ocidental na microrregião de Araripina. Tradicionalmente, costuma-se dividir o seu território em três grandes<br />

regiões, a Mata, o Agreste e o Sertão. Mais recentemente, se desagregou a Região Metropolitana do Recife da Zona da<br />

Mata e o Sertão do São Francisco do Sertão, ficando-se com cinco grandes regiões chamadas de Mesorregiões. As<br />

Mesorregiões dividem-se, por sua vez, em microrregiões da maneira mostrada no mapa 01. Além dessas regionalizações<br />

oficiais do IBGE, o governo do estado de Pernambuco adotou um marco de regionalização, chamado de Regiões de<br />

Desenvolvimento, cujos limites não se contrapõem, todavia, à análise por Mesorregião, mais adequada aos objetivos da<br />

construção da Agenda-21 estadual.<br />

A Região Metropolitana do Recife (RMR) concentra o maior volume de riqueza, tanto de recursos humanos<br />

(42,31% da população) quanto de recursos econômicos (67,59% do produto). Possui também o maior produto per<br />

capita de todas as regiões do Estado, o qual se achava acima de US$ 4.000,00, em 1998, assemelhando-se aos produtos<br />

per capita das regiões mais desenvolvidas do país. Esse nível elevado de produto é o resultado da grande concentração<br />

de atividades industriais e de serviços terciários nos municípios que compõem essa Mesorregião. Devido à grande


concentração de recursos na RMR, a sua capacidade de geração de renda é maior do que o recebimento de recursos por<br />

meio de transferências governamentais, o que a diferencia das demais regiões do estado que se apresentam deficitárias<br />

a esse respeito.<br />

A região do Agreste é a segunda região mais rica, em ordem de importância de concentração populacional<br />

(25,29% da população) e de produto (12,40%), embora possua produtos per capita menores do que os atualmente<br />

observados na região do Sub-médio São Francisco e da Mata. A sua atividade econômica é diversificada, variando da<br />

exploração agrícola à pecuária, dentro de um arranjo produtivo dominado pela pequena propriedade, distinto, portanto,<br />

da organização produtiva encontrada na Mata e no Sertão. Embora com uma base de recursos inferior à Mata, a sua<br />

economia agrícola tem se desenvolvido no sentido de modernização e aumento da produtividade, possibilitando ganhos<br />

crescentes para os produtores, em particular no que se refere a culturas de alto valor comercial como o café, o algodão,<br />

as frutas e as hortaliças, além da pecuária, representada pelos subprodutos do leite e da carne.<br />

A região da Mata é a mais rica, dentre as regiões do Estado, em recursos naturais e acumulação de capital<br />

produtivo. Os investimentos feitos em estruturas físicas e para melhoramento da qualidade da terra contribuíram para<br />

aumentar a sua valorização, dentro de uma estrutura fundiária dominada pela grande propriedade. A sua estrutura de<br />

organização da produção, dominada pela exploração da cana-de-açúcar, permitiu também a formação de um mercado de<br />

trabalho em bases essencialmente capitalistas. Os níveis de produto per capita aí existentes são os mais elevados,<br />

embora se saiba que é nessa região onde os recursos se acham mais concentrados e onde estão localizados os maiores<br />

níveis de pobreza absoluta no Estado.<br />

A região do Sertão é a mais extensa, a mais tradicional, e a mais heterogênea de todas as regiões do Estado. A<br />

sua economia foi historicamente estruturada em função da exploração pecuária em grandes extensões de terra,<br />

complementada pela produção subordinada de alimentos, e os seus recursos naturais não foram até hoje suficientemente<br />

explorados para permitir a arrancada do desenvolvimento sustentado. Sem dúvida, estão localizados na região alguns<br />

dos pólos mais dinâmicos de crescimento, em base à agricultura irrigada e à exploração mineral, os quais têm favorecido<br />

a transformação das estruturas econômicas locais, possibilitando o alcance das maiores taxas de crescimento e de renda<br />

per capita do Estado.<br />

Tendo em vista a presença dos problemas ambientais mais prementes existentes na mesorregião do Sertão, o<br />

Governo de Pernambuco decidiu pela implementação de ações visando combater os problemas de desertificação que se<br />

acentuam a cada ano através da transferência de recursos para melhorar o padrão de vida das famílias beneficiadas e<br />

capacitar as famílias a enfrentar os processos de desertificação.<br />

MAPA 01<br />

MESORREGIÕES DO ESTADO DE PERNAMBUCO<br />

Mesorregião do São Francisco Pernambucano Mesorregião do Sertão Pernambucano<br />

Mesorregião do Agreste Pernambucano Mesorregião da Mata Pernambucana<br />

Mesorregião Metropolitana do Recife<br />

889


2. 2. Características físico-ambientais da Mesorregião do Sertão 1<br />

Tradicionalmente, duas atividades foram responsáveis pela ocupação humana e econômica do Sertão<br />

pernambucano: a pecuária e o algodão. Em estreita relação com essas duas atividades dominantes, desenvolveu-se a<br />

agricultura de pequenos produtores, voltada para a produção de alimentos para abastecimento de suas famílias e da<br />

mão-de-obra ocupada nas atividades rurais não-agrícolas e nos centros urbanos locais e regionais.<br />

A região do Sertão é constituída por duas mesorregiões: o Sertão Pernambucano e o Sertão do São Francisco.<br />

A mesorregião do Sertão Pernambucano situa-se na porção norte-ocidental do Estado, limitando-se com os estados da<br />

Paraíba, Ceará e Piauí. Localiza-se na porção mais árida do território pernambucano, área onde as chuvas são escassas<br />

e irregularmente distribuídas ao longo do ano. A economia da região é de natureza tradicional, mantendo as relações que<br />

moldaram o sistema pecuária-algodão-produção de alimentos, hoje completamente destronado. A presença, nesse<br />

espaço geográfico, das serras do Araripe e da Baixa Verde, com altitudes em torno dos 1.000 m, propicia condições<br />

climáticas mais favoráveis e temperaturas mais amenas, favorecendo o desenvolvimento da produção agrícola nesses<br />

espaços localizados.<br />

A mesorregião do São Francisco Pernambucano localiza-se no centro-sul do Estado, limitando-se com os<br />

estados de Alagoas, Bahia e Piauí. O rio São Francisco é o elemento diferenciador do espaço. Nas suas margens, vilas<br />

e povoados locais, desenvolveram-se atividades agrícolas, comerciais e de serviços que estão, de alguma maneira,<br />

ligadas à potencialidade das águas do Velho Chico, como é tradicionalmente chamado. Na microrregião do São Francisco<br />

acha-se localizado o Distrito Industrial de Irrigação de Petrolina/Juazeiro, um centro moderno de produção agrícola, de<br />

transformação industrial e de distribuição de serviços. As transformações que se operaram nos sistemas de produção<br />

agrícolas aí desenvolvidos são dignas de nota, pois fazem hoje em dia a grande integração de Pernambuco ao mundo<br />

globalizado através da exportação de frutas tropicais para os maiores mercados internacionais. Os níveis de tecnologia<br />

adotados nos sistemas de produção locais são os mais modernos e permitem a obtenção de elevados níveis de<br />

produtividade em culturas, por exemplo, como manga, uva, acerola e outras frutas tropicais.<br />

O Sertão é uma das regiões do Estado mais suscetíveis a impactos ambientais. Sendo uma região de clima semiárido<br />

quente, apresenta temperaturas elevadas, com média anual de 28°C e pluviosidade em torno de 650 mm anuais. O<br />

regime de chuvas é marcado pela escassez, irregularidade e concentração das precipitações em um período de três<br />

meses. As insolações médias de 2.800 h/ano e a evaporação de 2.000 mm/ano provocam altos índices de umidade relativa<br />

do ar, com uma média de 50%.<br />

O relevo da região é predominantemente formado por altitudes superiores a 400m, porém com algumas elevações<br />

que chegam a atingir mais de 1.000 m. A formação morfológica de maior destaque da região é a Chapada do Araripe. Os<br />

solos da região são, em sua maioria, arenosos ou arenoso-argilosos, pobres em matérias orgânicas. Os solos rasos e<br />

pedregosos são derivados de rochas cristalinas praticamente impermeáveis A vegetação é de porte arbóreo e arbustivo<br />

onde predominam espécies espinhentas com alto grau de xerofilismo, característico da região de ecossistemas da<br />

caatinga.<br />

A população residente na região sujeita às variações do clima e sem alternativas de complementação ou<br />

obtenção de renda terminam por optar pela exploração da caatinga através da retirada da madeira para consumo ou<br />

venda de lenha ou carvão como fonte energética para o setor industrial da região. É importante destacar que a lenha<br />

extraída corresponde a 70% da demanda energética domiciliar e 35% do parque industrial que tem, na lenha, suas fonte<br />

de energia primária. Esse manejo inadequado e não sustentável da caatinga provoca a exposição intensiva do solo,<br />

ocasionando a insolação e, conseqüentemente, a perda da umidade e a degradação ambiental. As atividades econômicas<br />

do pólo gesseiro de Araripe, em 1995, eram constituídas de 31 empresas de mineração detentoras de 39 minas, sendo que<br />

23 em atividade e 16 paralisadas, em razão da falta de demanda de gipsita; 47 calcinadoras e 123 fábricas de prémoldados.<br />

.<br />

890


Entretanto, esse quadro de crescimento econômico é preocupante dada a redução da biodiversidade do bioma<br />

caatinga na região do Araripe, o que agrava, ainda mais, os problemas da população que, com a falta de perspectiva de<br />

sobrevivência, termina por migrar para os centros urbanos mais próximos, acarretando sérios problemas sociais de<br />

desemprego e violência. Com as economias globalizadas, existe uma séria preocupação com a gestão dos recursos<br />

naturais e ambientais no mundo inteiro, passando a preservação e o uso sustentável dos mesmos a figurar entre os<br />

principais temas das comunidades científica e acadêmica.<br />

A degradação acelerada e a crescente escassez dos recursos naturais do bioma caatinga sugerem estudos e<br />

pesquisas com a tarefa de promover reajustes e sugerir restrições ao uso desses recursos, através não só de um manejo<br />

adequado, necessário à melhoria da qualidade de vida do sertanejo, mas também através de políticas que venham a<br />

coibir essas práticas. A mensuração dos impactos ambientais decorrentes de atividades econômicas é de difícil<br />

operacionalização e isto se deve ao fato de não existir um mercado específico para os ativos ambientais, dadas as suas<br />

características de bem público e de apresentar externalidades. Para o sistema econômico, os custos de degradação<br />

ambiental são chamados externalidades, quando não são pagos por aqueles que geram a degradação. Muitas vezes as<br />

atividades econômicas são planejadas sem considerar as externalidades ambientais, e, em razão disso, os padrões de<br />

consumo das pessoas não internalizam os custos ambientais. Em conseqüência disso, ocorre a apropriação do capital<br />

natural por alguns usuários sem que os mesmos compensem os custos incorridos por usuários excluídos do consumo.<br />

Pode-se concluir, então, que às gerações futuras caberão os custos ambientais produzidos pela geração atual.<br />

3. A POLÍTICA DE DESERTIFICAÇÃO NO ESTADO DE PERNAMBUCO<br />

3.1. Processos de Desertificação<br />

No estado de Pernambuco, a ocorrência de processos de desertificação se verifica em cerca de 29,8% do seu<br />

território, sendo que 10,3% dessa área é considerada de nível de degradação “muito grave” e 19,5% de nível de<br />

degradação “grave”. A ocorrência desse processo se dá em razão de muitos fatores, sendo os principais: a) vulnerabilidade<br />

às secas, b) degradação da cobertura vegetal, c) salinização dos solos, d) erosão acentuada e e) fragilidade da estrutura<br />

produtiva. Os problemas de desertificação são causados, portanto, por fatores de ordem física, biológica e sócioeconômica<br />

(MATALLO JÚNIOR, 2001: 52-54).<br />

As regiões do Estado onde se localizam áreas de desertificação podem ser vistas no mapa 02. As áreas muito<br />

graves equivalem a 22.884 km 2 e estão localizadas na região do São Francisco Pernambucano. As de situação “grave”<br />

estão localizadas no Sertão Pernambucano e equivalem a 10.152,2 Km 2 (IDESERT, 2001; SECTMA, 2001).<br />

Mapa 02: Pernambuco – Ocorrência de Áreas de Desertificação<br />

891


3.2. Política de Desertificação<br />

A implantação da Política Nacional de Desertificação no estado de Pernambuco, segundo a orientação da<br />

Convenção da Desertificação das Nações Unidas, se inicia no ano de 2000 com a operacionalização do Projeto de<br />

Desertificação (SECTMA, 1999). O Projeto de Desertificação contou com recursos da ordem de R$ 1.065.000,00 entre os<br />

anos de 2000/20001 e R$ de 1.282.406,00 entre os anos 2001/2002.<br />

As ações do Projeto na sua primeira fase (2000/20001) atingem as regiões de desenvolvimento do Pajeú-<br />

Moxotó, nos municípios de Afogados da Ingazeira, Iguaracy, Solidão e Tabira, e do Sertão Central, nos municípios de<br />

Parnamirim, Serrita e São José do Belmonte. Para a segunda fase (2001/2002), foram acrescentados os municípios de<br />

Santa Terezinha (RD do Pajeú-Moxotó) e Verdejante (RD do Sertão Central).<br />

As ações, na primeira fase do Projeto, foram desenvolvidas nas seguintes comunidades e famílias (tabela 01).<br />

Tabela 04 - Pernambuco: Comunidades e Famílias Beneficiadas pelas Ações do<br />

Projeto de Desertificação, 2000<br />

Ações Desenvolvidas<br />

Municípios Comunidades Famílias Cisternas Fossas Poços Unidades<br />

Produtivas<br />

Afogados Pajeú-Mirim 26 26 21 1 20<br />

Tabira Humaitá 25 20 19 1 25<br />

Iguaracy Lagoa Nova 31 30 24 1 31<br />

Solidão Barra I 31 30 31 1 31<br />

Parnamirim Sítio Felipe 20 20 18 1 14<br />

Serrita Barra do Cedro 20 19 20 1 20<br />

S. J. Belmonte Altos 32 32 32 1 31<br />

Total 185 177 165 7 172<br />

Fonte: Pesquisa Direta, 2002.<br />

3.3. Objetivos do Projeto de desertificação<br />

O objetivo geral do Projeto foi definido como “promover o desenvolvimento rural sustentável, com ênfase na<br />

bacia hidrográfica como unidade de planejamento, de modo a permitir a proteção e o ordenamento do uso dos recursos<br />

naturais, o controle da desertificação e a melhoria da qualidade de vida do produtor rural” (IDESERT, 2001).<br />

Como objetivos específicos, foram definidos os seguintes:<br />

(i) Promover o treinamento dos produtores rurais sobre práticas de conservação do solo e da água, melhorando o nível<br />

de entendimento das tecnologias adequadas a utilização racional dos recursos naturais e conseqüentemente,<br />

propiciando o controle da desertificação e o aumento da produtividade e da renda;<br />

(ii) Promover o treinamento dos produtores rurais em atividade produtiva a ser escolhida em conjunto e quando da<br />

implementação do projeto;<br />

892


(iii) Promover o treinamento de professores de 1º e 2º graus das escolas municipais e estaduais, especialmente da zona<br />

rural, sobre noções de educação ambiental, ecologia e desertificação, estimulando o desenvolvimento de novos<br />

conhecimentos sobre o uso racional dos recursos naturais;<br />

(iv) Incentivar o associativismo e cooperativismo, com vistas ao trabalho coletivo, voltado tanto para a produção de<br />

alimentos, como para a adoção de práticas destinadas ao adequado manejo da microbacia e da região;<br />

(v) Favorecer a produção de alimentos para consumo próprio, melhorando o nível nutricional das famílias beneficiadas<br />

e geração de excedentes, possibilitando o aumento da renda familiar;<br />

(vi) Fomentar o surgimento e fortalecimento de grupos organizados no meio rural, favorecendo a mobilização em busca<br />

e viabilização de ações governamentais voltadas para a melhoria da qualidade de vida das comunidades;<br />

(vii) Mobilizar e despertar os produtores rurais para a adoção de práticas de conservação e recuperação de áreas<br />

degradadas (em desertificação);<br />

(viii) Promover a divulgação de informações através de campanhas educativas voltadas a elucidação dos cidadãos<br />

quanto a importância da questão ambiental, em especial relativas ao controle da desertificação.<br />

4. SITUAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DAS FAMÍLIAS BENEFICIADAS PELO PROJETO<br />

4.1. Composição da Família por Sexo, Idade e Parentesco<br />

O tamanho médio da família é muito similar ao obtido em outras pesquisas do gênero também realizadas no<br />

interior de Pernambuco. Enquanto se obteve um tamanho médio de 4,59 pessoas por domicílio para as sete comunidades<br />

investigadas nos sete municípios, a pesquisa de avaliação do PCPR, realizada pelo professor Yony Sampaio, obteve um<br />

tamanho de 4,99 pessoas por domicílio numa amostra muito maior de 38 municípios, 446 famílias e 115 comunidades<br />

(SAMPAIO, 1999).<br />

Na amostra investigada, existe uma predominância dos mais jovens, representando os membros das famílias<br />

com menos de 19 anos 46,00% do total. Os mais velhos com mais de 60 anos representam apenas 8,0% do total indicando<br />

uma baixa expectativa de vida nas comunidades investigadas, embora se observem mudanças nesse perfil para as<br />

famílias brasileiras nos anos mais recentes.<br />

A relação de pessoas do sexo masculino para o feminino é de 49 para 51 por cento, ou seja, existem mais<br />

mulheres do que homens nos domicílios pesquisados.<br />

Já as pessoas de 11 a 35 anos constituem 45,0 % do total. As crianças de menos de dez anos constituem 23,0%<br />

do total. Os de mais de 60 anos são apenas 8,0% do total.<br />

4.2. Habitação<br />

As instalações sanitárias são precárias. Habitações ligadas à rede geral são raras. Apareceram em menos de<br />

1,0% das residências. A presença de fossas sépticas existe em 74,% das habitações dos beneficiários e 12,5% dos não<br />

beneficiários. Entre os beneficiários é o resultado da instalação feita pelo Projeto de Desertificação. Deve-se salientar, no<br />

entanto, que poucos beneficiários estão usando as instalações de fossas sépticas. Muitos deles estão usando as<br />

instalações da fossa para servir de depósito de coisas velhas e outros objetos como inclusive mercadorias. Aqueles que<br />

usam o mato como forma de realização das necessidades ainda são a maioria pois esse é o hábito normal no Sertão.<br />

893


O abastecimento d’água em 62,3% das residências é feito através da cisterna instalada pelo Projeto. Outros<br />

32,4% têm o acesso à água de poços, nascentes, açudes ou barreiros. A água consumida é tratada em 47,4% dos casos<br />

com cloro, em 18,4% dos domicílios é coada e não recebe nenhum tratamento em 9,6% das residências. Para as famílias<br />

não beneficiárias, a qualidade da água consumida é mais precária, sendo clorada em apenas 37,5% dos domicílios e<br />

coada em 29,2% das residências.<br />

A energia elétrica está mais presente entre os beneficiários e não beneficiários em uma proporção de 83,3 e<br />

70,8%, respectivamente.<br />

4.3. Saúde<br />

Não se observou a presença de patologias em grande escala entre as famílias. No total da amostra, 88,4%<br />

declararam que não sofreram de patologias severas no ano de referência da pesquisa. Apenas algumas patologias do<br />

tipo de gripe, diarréia e febre foram declaradas como tendo estado presentes entre as famílias. Embora as condições de<br />

pobreza sejam enormes, a existência de patologias parece estar bem controlada talvez em razão da maior disponibilidade<br />

de serviços de saúde nas sedes dos municípios e nos maiores aglomerados urbanos da municipalidade.<br />

4.4. Escolaridade<br />

O índice de analfabetismo alcança 25,0% dos membros das famílias, assemelhando-se às características dos<br />

municípios integrantes do Projeto. Em todos os municípios do Projeto, o índice de analfabetismo alcançava entre 25 e<br />

30,0%, segundo o Censo Demográfico de 2000. As pessoas com primeiro grau menor completo são, no entanto, muito<br />

poucas, apenas 6,0% do total da amostra. Apenas 1,0% concluíram o primeiro grau maior completo, aparecendo, no<br />

entanto, 2,0% com o segundo grau completo e ainda uma pessoa de nível universitário. A baixa escolaridade é uma<br />

característica do meio rural nordestino, aparecendo como um problema de desafio para as políticas sociais do governo.<br />

Uma parte das ações do Projeto de Desertificação está dirigida para a educação ambiental das famílias beneficiárias do<br />

Projeto.<br />

4.5. Acesso à Terra e Outros Bens<br />

Em relação à posse da terra, 57,9% são proprietários, 31,6% são herdeiros e 5,3% são parceiros. Considerando<br />

que os herdeiros têm status de proprietário, a grande maioria dos beneficiários são proprietários de parcelas de terra. É<br />

mais apropriado falar de parcelas de terra do que de unidades de produção porque o tamanho médio dessas unidades é<br />

muito pequeno para constituir unidades de produção viáveis nas condições naturais do Sertão. Entre os não beneficiários,<br />

aparece uma maior proporção de proprietários (62,5%) e menor de herdeiros (16,7%) e uma maior quantidade de parceiros<br />

(12,5%).<br />

A Política de seleção de famílias é dirigida para aquelas famílias que têm acesso à terra uma vez que é um<br />

requisito para o estabelecimento da unidade produtiva. A despeito da provisão de algum tipo de ativo, nesse caso o<br />

capital natural, as famílias são muito pobres. A terra é quase sempre inviável para a produção devido às condições<br />

precárias de solo e água e a sua disponibilidade existe em pequena dimensão, não permitindo a constituição de uma<br />

unidade de produção agrícola viável. A escolha do Projeto de unidades de produção que podem ser viabilizadas dentro<br />

da unidade de constituição demográfica da família deve, por isso, ser avaliada positivamente.<br />

O tamanho médio da unidade de produção é de 10,6 hectares, muito pequeno para as condições de produção<br />

do Sertão. Além disso, 22,0% das famílias possuem unidades abaixo de 1 hectare, espaço insuficiente para a exploração<br />

viável de qualquer atividade econômica na agricultura. A pobreza dos solos e o processo de degradação da terra não<br />

permitem também uma exploração viável de atividades produtivas. A produção se caracteriza apenas como uma produção<br />

894


de quintal na maior parte dos casos ou de pequenas unidades familiares. A terra é apenas um espaço de reprodução<br />

social da família (Figura 01).<br />

A disponibilidade de outros bens duráveis mostra a incipiente capacidade de poder de compra das<br />

famílias. Como se observa, a pobreza está geralmente no interior dessas famílias. Apenas bens duráveis como rádio,<br />

bicicleta, fogão a gás e televisão estão presentes em maior quantidade. Já bens como refrigerador, aparelho de som,<br />

antenas parabólicas e liquificador existem em pequena quantidade entre as famílias.<br />

4.6. Produção<br />

A existência de área para a produção agrícola foi registrada em 93,0% dos domicílios dos beneficiários e 75,0%<br />

dos não beneficiários. O uso da terra se faz basicamente com lavouras temporárias numa proporção de mais de 90,0%. Os<br />

produtos que são explorados são geralmente de subsistência familiar como milho, feijão e mandioca.<br />

A presença de pecuária aparece em 43,0% dos domicílios, basicamente de caprinos, ovinos, suinos e alguma<br />

pecuária bovina. Essa é, no entanto, uma atividade de muito pequena escala não se registrando nem uma cabeça por<br />

família no total da amostra. A maior parte das famílias, embora possua algumas cabeças de galinha, de capoeira ou do<br />

Projeto, afirma que essa não constitui uma atividade econômica importante da sua unidade de produção vez que 40,4%<br />

delas declararam que não têm atualmente nenhuma atividade de avicultura dentro das suas unidades de produção e<br />

consumo. Apenas 46,0% das famílias que receberam pintos para criação declararam que operam com essa atividade no<br />

momento. As demais já abandonaram a atividade. A avicultura não foi uma atividade bem sucedida do Projeto. A<br />

observação de galinheiros sem galinhas originárias do Projeto é freqüente entre as famílias entrevistadas.<br />

4.7. Ocupação e Emprego<br />

A situação da ocupação é muito precária. Uma parte das pessoas trabalha como membros da família não<br />

remunerados sem acrescentar contribuição de renda para a sobrevivência familiar. Outra metade se encontra desempregada<br />

por falta de ocupação e emprego nessas comunidades.<br />

As atividades mais comuns encontradas para as pessoas que declararam trabalhar alguns dias por mês e<br />

alguns meses por ano são a atividades agrícola, a atividade de cuidar de animais domésticos e comerciais e as atividades<br />

de alguns serviços rurais. Mas essas ocupações são, em geral, limitadas não dando para ocupar todos os membros das<br />

famílias pesquisadas.<br />

O grande problema que existe em relação ao emprego é a inexistência de mercado de trabalho nessas áreas<br />

rurais. Como, em geral, as comunidades estão localizadas em áreas isoladas e desintegradas do sistema econômico<br />

municipal, as atividades que passam pelo mercado de trabalho aparecem raramente nessas comunidades. Alguns<br />

declararam que trabalhavam em fazendas vizinhas, vendendo mão-de-obra para os grandes proprietários. Mesmo assim,<br />

afirmaram que as oportunidades não são permanentes, em particular em decorrência dos problemas de seca que têm sido<br />

constantes na região. Poucos se achavam ocupados em trabalhos assalariados permanentes, no caso de atividades<br />

relacionadas com a pecuária e alguns pequenos projetos de irrigação existentes nas circunvizinhanças das comunidades.<br />

895<br />

Figura 01<br />

Solos degradados, imprestáveis para<br />

agricultura, na comunidade de Sítio<br />

Altos em São José do Belmonte.


Quase a metade das pessoas (39,0%) que declararam trabalhar se acham subempregadas pelo lado do tempo de<br />

trabalho pois não trabalham o suficiente para serem plenamente ocupadas. Isso faz com que sejam também subempregadas<br />

pelo lado da renda pois ganham remuneração inferior ao que poderiam ganhar caso fossem plenamente ocupadas.<br />

4.8. Renda Familiar<br />

Uma importante ótica do Projeto está relacionada com a sua capacidade de geração de renda para as famílias e<br />

para a comunidade. Isso é o que deveria se esperar da implantação da atividade produtiva em cada uma das comunidades<br />

e da transferência de renda por meio da infraestrutura criada.<br />

As famílias rurais seguem uma ampla variedade de estratégias para obtenção de renda, combinando as fontes<br />

de renda geradas pelos ativos privados com as rendas de transferências e aquelas geradas pelo acesso a serviços<br />

proporcionados pelas políticas públicas. Para uma compreensão das estratégias de sobrevivência das famílias pobres,<br />

é necessário, portanto, que se analise a relação entre a exploração dos recursos próprios ou dos ativos privados com a<br />

oferta de bens e serviços proporcionados pela organizações públicas que atuam em favor das comunidades rurais.<br />

Os serviços providos pelo Projeto de Desertificação no tocante à geração de renda são do seguinte tipo:<br />

(i) implantação de atividade produtiva que viria contribuir para melhorar a posição dos ativos das famílias;<br />

(ii) implantação de bens públicos que serviriam para valorizar os ativos privados;<br />

(iii) desenvolvimento de capital social no seio das comunidades rurais.<br />

As famílias das comunidades beneficiadas com o Projeto de Desertificação possuem uma gama de ativos que<br />

incluem os seguintes: capital natural (terras, árvores, pastagens), capital físico (ferramentas, criação, arados e construções),<br />

capital humano (experiência de trabalho, treinamento) e capital social (conjunto de relações executadas com outras<br />

famílias que possibilitam aquisição de informação, segurança, permuta, comércio e reciprocidade). Todos esses ativos<br />

podem ser aperfeiçoados pelas ações desenvolvidas pelo Projeto nas comunidades onde atua. A melhoria desses ativos<br />

contribui para aumento da renda gerada no seio da família e da comunidade.<br />

A concessão de bens públicos pelo Projeto inclui a implantação de infra-estrutura como eletricidade, caixas<br />

d’água, construções comunitárias que contribuem para valorizar a posição dos ativos privados possuídos pelas famílias.<br />

O desenvolvimento do capital social na comunidade é uma ação bastante marcante do Projeto na medida em<br />

que possibilitou o estreitamento das relações entre os membros das comunidades através de reuniões, cursos, treinamento<br />

e capacitação para a atividade produtiva. Essas ações, relacionadas particularmente com a área de educação, contribuem<br />

para aumentar a consciência coletiva e o desenvolvimento das comunidades rurais.<br />

A principal fonte de renda das famílias é a aposentadoria rural que contribui com 55,8% da renda anual das<br />

famílias. Em segundo lugar, aparece a renda gerada pela atividade principal que, no caso das comunidades pesquisadas,<br />

resulta principalmente do trabalho alugado a outras famílias da comunidade e de atividades geradas dentro da própria<br />

unidade de produção. Dentre essas últimas atividades, cita-se, por exemplo, a criação de galinhas, de bodes, de porcos<br />

e, em alguns poucos casos, de pecuária bovina.<br />

A massa de renda se concentra na classe de renda superior a R$ 1.800,00, com uma participação de 73,6% da<br />

renda total. Nessa classe estão também incluídas 65,7 % das famílias com rendas positivas anuais.<br />

A produção da unidade de produção própria tem uma baixa capacidade de geração de renda nessas comunidades,<br />

seja pelo seu tamanho muito pequeno, pelas condições de pobreza das terras, pelos efeitos das estiagens periódicas que<br />

têm atingido a região do Sertão semi-árido. Por isso, essa fonte de renda contribui muito pouco para formação da renda<br />

familiar constante da tabela.<br />

As fontes de renda que contribuíram para a formação da renda familiar são provenientes do trabalho remunerado<br />

na agricultura, pecuária, indústria, comércio, construção e serviços, da aposentadoria de membros da família, de doações<br />

(em produto e em dinheiro), de aplicações financeiras e de aluguel de ativos. Foram contabilizadas também as renda<br />

originadas da venda de produtos da unidade de produção ou de consumo da família.<br />

896


5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES<br />

O Projeto de Desertificação, implantado pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do estado de Pernambuco,<br />

como instrumento de ação do Governo para controle do processo de desertificação na região semi-árida do Estado, pode<br />

ser considerado uma experiência exitosa para ser seguida por outros experimentos do gênero que possam vir a se<br />

multiplicar no Estado ou em outras áreas do Nordeste afetados por processos de desertificação.<br />

As conclusões deste trabalho mostram que, apesar de alguns aspectos negativos observados na implementação<br />

do Projeto, as ações positivas superam de longe os aspectos negativos. Os aspectos negativos podem, ademais, ser<br />

corrigidos daqui para frente na implementação do Projeto em novas comunidades, o que já vem ocorrendo com o aporte<br />

de recursos financeiros do Governo do Estado e de organizações internacionais.<br />

A evidência positiva mais geral na implementação do Projeto é a oportunidade de transferência de recursos<br />

para melhoria das condições sócio-econômicas de famílias pobres localizadas em áreas inóspitas, sujeitas a processos<br />

de desertificação, na região semi-árida do Sertão do Nordeste brasileiro. Os instrumentos de ação adotados pelo Projeto<br />

reforçam a política social do Estado para atendimento das necessidades básicas de populações carentes que vivem<br />

ainda, de certo modo, desintegradas do sistema de mercado e, portanto, das relações econômicas predominantes na<br />

sociedade moderna.<br />

Os aspectos positivos desta ação pública em favor de comunidades pobres se consubstanciam em:<br />

(i) Melhoria das condições ambientais (educação ambiental e saneamento);<br />

(ii) Melhoria da renda (expansão de atividades produtivas);<br />

(iii) Melhoria da qualidade de vida (acesso a água de boa qualidade);<br />

(iv) Desenvolvimento do espírito de participação (aumento do capital social);<br />

(v) Aumento do conhecimento sobre a necessidade de preservação ambiental (recursos naturais e<br />

ambientais).<br />

Três aspectos foram identificados como negativos na implementação do Projeto e que merecem ser corrigidos<br />

nas futuras intervenções do setor público nessa área. São eles: a inexistência de monitoria e acompanhamento na<br />

implementação das ações, o fracasso parcial da atividade de avicultura, principal atividade produtiva do Projeto e a falta<br />

de integração do Projeto com outras ações públicas que se desenvolvem ao nível do poder municipal.<br />

897


BIBLIOGRAFIA<br />

CAMPELO, F., 2000. Diagnóstico do Setor Florestal. PNUD/FAO/IBAMA/BRA. Brasilia.<br />

FERREIRA IRMÃO, J. e LAMARTINE , 2002. Economia Sustentável de Pernambuco – Relatório para Construção da<br />

Agenda 21 de Pernambuco. Recife.<br />

HOMMA, ALFREDO KINGO OYAMA, 1997. Uma Política para a Reciclagem do Lixo Urbano: um Comentário Teórico.<br />

In Revista Econômica do Nordeste, vol. 28, pp. 469-476, Fortaleza.<br />

. , 1989. A Extração de Recursos Naturais renováveis: O Caso do Extrativismo Vegetal<br />

na Amazônia. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Viçosa.<br />

IDESERT, 2001. Projeto para Implantação de 7 Unidades de Combate à Desertificação no Sertão Semi-árido do Estado de<br />

Pernambuco.Teresina, Piauí.<br />

MATALLO JÚNIOR, H. 2001. Indicadores de Desertificação. Brasília: UNESCO.<br />

RODRIGUES, V. et al. Avaliação do Quadro da Desertificação no Nordeste do Brasil: Diagnóstico e Perspectivas.<br />

Brasília, IPEA: 1995.<br />

SAMPAIO, Y. 1999. Relatório de Avaliação do PCPR em Pernambuco. Recife.<br />

SECTMA e IDESERT, 2001. Para Compreender a Desertificação. Recife.<br />

_____________. Política Estadual de Controle da Desertificação. Recife.<br />

VARIAN, H. R., 1998. Microeconomia: Princípios Básicos. Editora Campus, 2 a edição Americana.<br />

_____________, 1992. Microeconomic Analysis. Norton: Third Edition.<br />

1 Partes desta seção resultam de trabalho do autor com José Lamartine (FERREIRA IRMAO E LAMARTINE, 2002).<br />

* Professor adjunto III da UFRPE. E_mail: jose@hotlink.com.br. Trabalho apresentado no <strong>VI</strong> CONGRESO DE LA<br />

ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA DE SOCIOLOGÍA RURAL (<strong>ALASRU</strong>) no Grupo Temático nº 5<br />

“Transformaciones estructurales y sociales de la agricultura”, coordenado pela Prof. Josefa Salete B. Cavalcanti. O<br />

autor agradece a contribuição dos estagiários do curso de economia da UFRPE Luis Roberto, Enyceli Félix e Maria<br />

de Fátima Silva. Agradece também a Rafael Ferreira<br />

898


HÁBITOS ALIMENTARIOS DE JÓVENES UNIVERSITARIOS: PREFERENCIAS DE<br />

CONSUMO Y ADJUDICACIONES DE SALUD A UN CONJUNTO ALIMENTOS 1<br />

1 Introducción<br />

1.1 La producción agraria y el consumo de alimentos<br />

El ciclo que se extiende de la producción agraria al consumo de alimentos se integra en un sistema que incluye una pluralidad de<br />

componentes interrelacionados e interdependientes, que puede resumirse en el siguiente esquema elaborado por G.F. Combs, Jr., R. M.<br />

Welch and J.M. Duxbury, de Cornell University.<br />

La relación que nos interesa examinar corresponde a la fase final del ciclo, la del consumo (compra y utilización en el diagrama), pues<br />

ella opera según las selecciones y preferencias del público, influyendo en las otras fases integrantes del sistema.<br />

En especial, en estos momentos, se producen un conjunto de relaciones cambiantes (efecto de causas relacionadas con el acceso a los<br />

alimentos por razones económicas), pero las que no quedan, al menos conflictivamente, al margen de las preferencias y adjudicaciones<br />

de salud.<br />

1.2 El consumo de alimentos<br />

El consumo constituye la etapa crítica del despliegue del sistema agroalimentario, es en esa etapa donde se juega el éxito o fracaso de un<br />

complejo de técnicas de producción y gestión. Las características de los comportamientos de consumo no son homogéneos en los<br />

distintos sectores sociales, sea por diferencias en las posibilidades de acceso, el sexo o la edad etc., situación que sugiere la necesidad<br />

de atenderlas en sus rasgos específicos.<br />

Las preferencias y adjudicaciones de salud forman parte de un conjunto más extenso de atribuciones que operan en la configuración de<br />

los hábitos alimentarios y por lo tanto en la orientación de los consumos. En el caso de los jóvenes el tratamiento más común de estos<br />

dos aspectos sugiere una visión estereotipada del comportamiento alimentario juvenil que le atribuye preferencias por comidas rápidas<br />

industrializadas, listas para consumir.<br />

Con el propósito de obtener una visión menos restringida de esas costumbres de los jóvenes se exploraron las relaciones entre la<br />

aceptación y la adjudicación de salud dentro de un repertorio de platos de consumo corriente.<br />

Este trabajo exploratorio forma parte de una investigación general sobre hábitos alimentarios de jóvenes estudiantes universitarios<br />

(Pereyra, AM.: 2001), se propone en particular localizar relaciones entre las asignaciones de preferencia y salud, con el sexo, la edad,<br />

etc., de los entrevistados y las propiedades de los platos.<br />

899


El análisis de los hábitos alimentarios de los jóvenes ha recibido atención en lo referente a su incidencia en la construcción de la identidad<br />

(Garabuau- Moussaoui, I. :2001), señala para Francia “los jóvenes tienen, en efecto, prácticas culinarias diferentes de las de sus padres,<br />

pero esto responde a una función social que es la de revindicar una identidad generacional, esto es un cambio social”.<br />

Con respecto a la incidencia sobre la salud, Somoza Yuste, R.(1999), expresa para España, “la baja incidencia que poseen los aspectos<br />

nutricionales en la elección de los alimentos, estimando que si lo hacen la comodidad, disponibilidad o hábito”.<br />

Las características diferenciales, el entorno en el cual se desarrollan, el acceso a la información y rasgos comunes le permiten a Solomon<br />

(2001) considerar a este conjunto social cómo una “subcultura”.<br />

A este respecto en nuestro medio no se han desarrollado exploraciones sistemáticas referidas a este sector. Lo que exige avanzar con los<br />

suficientes recaudos, no siendo posible afirmar la presencia de rasgos distintivos que permitan sostener la existencia de los mismos<br />

fenómenos, consignados para otros lugares, en el ámbito local.<br />

Este trabajo se propone comenzar a aproximarse a los modos de vinculación de los jóvenes con alimentos de diferentes propiedades,<br />

procurando distinguir en aquellos que puede formar parte de sus consumos corrientes que les adjudican, en cuanto a beneficios y<br />

perjuicios para la salud.<br />

2. Objetivos<br />

Se pretende alcanzar los siguientes objetivos:<br />

1. Obtener un ordenamiento de los platos según las adjudicaciones de los integrantes de la muestra.<br />

2. Establecer relaciones entre las propiedades de los platos (origen, modo de cocción, etc.) y diferentes características (edad, sexo, etc.)<br />

de la población investigada.<br />

3. Aportar elementos que permitan caracterizar a los grupos de afinidades para cada plato (o grupos de plato), permitiendo de este<br />

modo ampliar la visión de las características de los consumos juveniles.<br />

3. Características de la muestra y metodología<br />

3.1 Técnicas<br />

La técnica empleada para la obtención de los resultados que se examinaran consistió en el análisis de las respuestas a dos preguntas de<br />

(1 )<br />

un cuestionario general correspondiente a una encuesta sobre hábitos alimentarios de estudiantes universitarios.<br />

Las preguntas incluyeron un repertorio de diez platos, a la que debía responder acerca de la preferencia, en una (49ª) y de sus<br />

adjudicaciones de salud, en la otra, (49b), según una escala de Likert de siete puntos.<br />

Pregunta 49 a ¿Con la ayuda de esta tarjeta; te voy a pedir cuánto te gustan o no, los siguientes platos? . El repertorio de respuestas<br />

posibles fue: 1) “muchísimo”, 2) “mucho”, 3) “un poco”, 4) “más o menos”, 5) “si no hay otra cosa”, 6) “nada”, y 7) “lo detesto”.<br />

Pregunta 49 b ¿Para los mismos platos, indícame como los consideras para tu salud?. Las respuestas posibles fueron: 1) “muy sano”,<br />

2) “sano”, 3) “ni bueno ni malo”, 4) “ligeramente malo”, 5) “malo”, 6) “muy malo”, 7) “un veneno para la salud”.<br />

Se realizó un análisis de correspondencias múltiples y posteriormente un análisis de cluster, utilizándose el método de Ward (Seber,<br />

1984; Johnson y Wichern, 1992.<br />

Se emplearon tablas de contingencia; categorizandose los factores en tres estratos, donde los valores más bajos expresan total<br />

desacuerdo y los valores más altos, total acuerdo.<br />

El procesamiento de los datos se realizó por medio del software, SAS (Statistical Analysis System, 1993), SPAD3 (Sistema Portable<br />

de Análisis de Datos, 1998) y SPSS Data Entry Builder 1.0.<br />

3.2 Selección de los platos<br />

La selección de los platos se realizó aplicando los siguientes criterios:<br />

a) Pertenencia a los consumos corrientes en los hogares donde habitan los encuestados, en consecuencia se los puede considerar como<br />

conocidos y eventualmente consumidos. 2<br />

b) Diversidad de componentes, en cuanto a exclusividad, prevalencia de hidratos de carbono, lípidos o proteínas, de origen vegetal o<br />

animal.<br />

c) Variedad, tanto de procedimientos preparativos (hervidos, fritos) como de origen (caseros o industriales)<br />

900


Los platos elegidos fueron:<br />

1) Ensalada de lechuga, tomate, con o sin cebolla, 2) Tallarines con salsa de carne con queso rallado, 3) Sándwich de hamburguesa con<br />

ketchup y mayonesa (tipo Mc Donalds), 4) Filet de pescado al horno con aderezo de ajo y perejil, 5) tomates rellenos con atún, cebolla<br />

y perejil, 6) Pizza de mozzarella con jamón y morrones (de pizzería), 7) Pollo asado, sin piel, con ensalada de tomates y otras verduras<br />

crudas, 8) Churrasco a la plancha con ensalada de vegetales crudos, 9) Milanesa con papas fritas y huevos fritos, 10) Guiso de lentejas<br />

con chorizos colorados, carne de cerdo y trozos de panceta salada.<br />

3.3 Descripción de la muestra.<br />

La muestra empleada esta estuvo compuesta por estudiantes universitarios, pertenecientes a la Universidad Nacional de Lomas de<br />

Zamora (Pcia. de Buenos Aires, Argentina), constituida por 668 casos elegidos al azar, entre el conjunto de sus cinco facultades, de<br />

manera proporcional a la población de cada una de ellas, en el tramo de edad comprendido entre los 18 y 29 años.) (Pereyra, AM.: 2002)<br />

Las edades de los encuestados se analizaron por segmentos, resultando: a) menores de 22 años, b) de 23 a 25 años y c) mayores de 26<br />

años, difiriendo del análisis realizado por Pereyra (2002).<br />

Para la caracterización por nivel socioeconómico de los “clusters” se utilizó el NSE (Asociación Argentina de Marketing) junto con el<br />

procedimiento propuesto por Abbiatti y Pereyra (1999), que presenta tres niveles socioeconómicos: Media alta, Media típica y Baja y<br />

Baja, obtenidos sobre la base de estos datos.<br />

Si bien el conjunto elegido para integrar la muestra constituye una parcialidad de los habitantes de la zona, reviste un considerable<br />

interés, al menos por dos razones.<br />

a) Están presentes miembros de distintos niveles socioeconómicos, aunque no guardan la misma relación que la población general.<br />

b) El sector juvenil investigado permite obtener datos interesantes relacionables con los comportamientos alimentarios futuros.<br />

4. Resultados<br />

4.1. Características generales de situación y desempeño de los entrevistados<br />

Con el fin de caracterizar la muestra obtenida, se recurrió a un trabajo de Pereyra, AM. (2002), de donde surgen los siguientes<br />

resultados:<br />

a) Por Facultad: se distribuyó según número de alumnos concurrentes a las cinco facultades que conforman la Universidad,<br />

resultando 19.16% de Ciencias Agrarias, 23.05% a Derecho, 23.95% a Ciencias Económicas, 11.83% Ingeniería y 22.01% a Ciencias<br />

Sociales.<br />

b) Por sexo: resultó 51.95% de la muestra como femenino y 48.05% como masculino.<br />

c) Avance en la carrera: se clasificó por cuartiles de avance; primer cuartil; 30.39%, segundo cuartil; 36.38%; tercer cuartil, 21.26%,<br />

etapa final, 11.98%.<br />

d) Con quien vive: el 83.38% convive con grupo familiar paterno, el 8.68% con su propia familia y 7.94% solo o con integrantes no<br />

familiares.<br />

e) Trabajo: aquellos alumnos que trabajan alcanzan al 45.81%, los que no lo hacen 54.19%.<br />

f) Edad: resultando: 71.1% hasta 24 años (edad estimada de culminación de estudios) y 28.9% de 25 años o mayores.<br />

g) Nivel socioeconómico del hogar: estimado el NSE, se observó la siguiente conformación: C1, 24.40%, C2, 31.74%; C3, 28.29%;<br />

D1, 8.83% y D2, 6.74%.<br />

4.2. Preferencias y asignaciones de salud de los platos<br />

Se procesaron las preguntas 49 a y 49 b con el fin de elaborar un ranking de “aceptación” de los platos y otro “asignación de salud”.<br />

Este ordenamiento se estructuró en tres partes: valores semánticamente positivos, indiferentes y negativos.<br />

Para obtener el valor de “aceptación”, se efectuó la sumatoria de los valores semánticamente positivos (1, 2 y 3: “muchísimo”, “mucho”,<br />

“un poco”), el valor 4 como punto de indiferencia (“más o menos”) y valores semánticos negativos o de rechazo (5, 6 y 7: “si no hay<br />

otra cosa”, “nada”, “lo detesto”).<br />

Con respecto a la asignación de salud, se incorporó en la columna “saludable” los valores 1 y 2 (“muy sano”, “sano”), indiferente al<br />

valor 3 (“ni bueno ni malo”) y “no saludable” la sumatoria de 4, 5, 6 y 7 (“ligeramente malo”, “malo”, “muy malo”, “un veneno para la<br />

salud”).<br />

901


Los valores que se observados en los cuadros siguientes señalan la sumatoria de atribuciones semánticas, de acuerdo con la agrupación<br />

detallada.<br />

La columna A posee una escasa diferencia entre el plato que encabeza las preferencias (86.82%) y el último del ranking (57.34%). Los<br />

platos presentan “plenitud” de aceptación, dado que todos los valores de columna “A” son mayores que la sumatoria de “Aa + a”.<br />

Cuadro nº: 1 Ranking de aceptación de los platos (en %)<br />

Platos Aceptado (A) Indiferente (Aa) No aceptado (a)<br />

Pizza 86.82 5.99 7.19<br />

Pollo 86.08 7.63 6.29<br />

Milanesa 84.88 8.68 6.44<br />

Tallarines 84.13 8.98 6.92<br />

Churrasco 81.59 8.23 10.17<br />

Ensalada 79.04 9.58 11.38<br />

Pescado 67.36 11.98 20.66<br />

Sand.de Hamb. 62.73 16.02 21.26<br />

Tomate c/atún 60.77 15.27 23.95<br />

Guiso 57.34 11.08 31.58<br />

Cuadro nº 2: Ranking de asignación de salud de los platos (en %)<br />

Platos Saludable (S) Indiferente (Ss) No saludable (s)<br />

Ensalada 95.51 3.29 1.2<br />

Pollo 92.96 5.09 1.95<br />

Churrasco 88.77 8.83 2.4<br />

Pescado 85.93 9.28 4.79<br />

Tomate c/atún 73.95 21.71 4.34<br />

Tallarines 46.55 39.67 13.78<br />

Guiso 18.27 17.51 64.23<br />

Pizza 10.78 38.77 50.45<br />

Milanesa 8.09 14.82 77.1<br />

Sand. de Hamb. 3.74 11.53 84.73<br />

Por el contrario, en la asignación de salud, se registra una fuerte dispersión en la columna “S” entre el primer plato (95.51%) y el último<br />

3.74%). A partir de “guiso”, se observa una predominancia de la sumatoria de las columnas de asignación indiferente y no saludable<br />

(Ss + s).<br />

902


La escala de valores de aceptación y salud, presentan diferentes ordenamientos jerárquicos, mientras que la “pizza”, se encuentra en el<br />

primer lugar de aceptación, se ubica en la octava posición del ranking de salud. Caso inverso presenta la “ensalada” que se encuentra<br />

en la primer posición en salud y sexta en la aceptación.<br />

4.3 Los platos, correspondencia de salud y aceptación<br />

Con el fin de expresar para cada plato la correspondencia entre asignación de salud y aceptación, se confecciono una matriz de<br />

caracterización, utilizando igual criterio de agrupamiento que en los cuadros 1 y 2.<br />

La matriz, incluye sólo a aquellos platos con valores iguales o mayores a 10%. En los sectores ellos se agrupan por semejanza de<br />

atribuciones; la distribución en el plano no indica posición en una escala, solo porcentajes de asignación de las condiciones propuestas<br />

(salud, aceptación)<br />

De la matriz de caracterización surgen ocho sectores:<br />

• Sector AS: Aceptación máxima y salud máxima.<br />

• Sector ASs: Aceptación máxima, salud indiferente.<br />

• Sector As: Aceptación máxima y salud mínima.<br />

• Sector AaS: Aceptación indiferente, salud máxima.<br />

• Sector Aas: Aceptación indiferente, salud mínima.<br />

• Sector aS: Aceptación mínima y salud máxima.<br />

• Sector aSs: Aceptación mínima, salud indiferente.<br />

• Sector as: Aceptación mínima y salud mínima.<br />

Gráfico 1: Matriz de caracterización de platos por conjunción de aceptación y salud<br />

De la agrupación realizada de los platos puede señalarse:<br />

Pollo asado, sin piel, con ensalada de tomates y otras verduras crudas y<br />

Churrasco a la plancha con ensalada de vegetales crudos: Ambos platos se ubican exclusivamente en el sector AS; si bien tienen<br />

similar comportamiento se observan algunas diferencias: las mujeres y los hombres mayores de 26 años asignan alta salubridad al pollo<br />

por sobre la del churrasco, adjudicación que se invierte en el segmento masculino de 22 a 25 años.<br />

903


Ensalada de lechuga, tomate, con o sin cebolla: Plato ubicado en la columna de máxima salud, pero su comportamiento diferente es<br />

con respecto a la aceptación. Quienes expresan mayor aceptación preferentemente mujeres, y los mayores de 26 años, tanto hombres<br />

como mujeres.<br />

El sector de menor aceptación se caracteriza por hombres de hasta 25 años.<br />

Filet de pescado al horno con aderezo de ajo y perejil y<br />

Tomates rellenos con atún, cebolla y perejil: Platos de comportamiento similar, se ubican en la columna de “salud máxima”,<br />

presentando diferencias con respecto a la aceptación. Las mujeres preferentemente tienden a ubicarlos en el sector AS, como los mayores<br />

de 26 años. Los que sitúan a estos platos en el sector de aceptación indiferente y mínima se caracterizan por ser hombres y los menores<br />

de 22 años de ambos sexos.<br />

Tallarines con salsa de carne con queso rallado: Plato de aceptación máxima, pero con asignaciones de salud, en el rango AS - ASs.<br />

El sexo masculino y los mayores de 26 años en general, predominan en el sector de máxima aceptación y salud. Quienes adjudican<br />

indiferencia salutífera son preferentemente las mujeres y los menores de 22 años de ambos sexos.<br />

Guiso de lentejas con chorizos colorados, carne de cerdo y trozos de panceta salada: Este plato presenta una disociación, mientras<br />

un grupo mayoritario lo ubica en el rango de aceptación máxima (AS, ASs, As), otro grupo lo sitúa en el sector as. Los hombres y<br />

mayores de 26 años de ambos sexos asignan salud indiferente y mínima, pero con aceptación plena. Entre aquellos que le asignan<br />

mínima salud y aceptación (as) se encuentra fuerte presencia de mujeres y los menores de 22 años sean estos hombres o mujeres.<br />

Pizza de mozzarella con jamón y morrones (de pizzería): Plato ubicado en los sectores As y ASs, tanto por hombres como mujeres.<br />

Los mayores de 22 años prevalecen levemente en el sector As, mientras que los menores de 22 años lo hacen en ASs.<br />

Milanesa con papas fritas y huevos fritos: Plato de comportamiento similar a la pizza es situado en As y ASs: aceptación general pero<br />

asignación de salud mínima a indiferente. Las mujeres y los mayores de 26 años en su conjunto son quienes le asignan menor salud. El<br />

sector ASs se distingue por incluir a los hombres, y el rango etario de 22 a 25 años sean estos hombres o mujeres.<br />

Sándwich de hamburguesa con ketchup y mayonesa (tipo Mc Donalds): Este plato posee la característica de ser ubicado en la<br />

columna de mínima salud (As, Aas y as), si bien aparece en los tres niveles de aceptación tiende a predominar su ubicación en As.<br />

Quienes lo incluyen en As, no se distinguen por sexo pero sí por edad, caracterizándose por la presencia del segmento de más de 22<br />

años. Entre aquellos que realizan asignaciones de aceptación indiferente (Aas) prevalecen las mujeres y los rangos de menores de 22<br />

y de más de 26 años de ambos sexos.<br />

Quienes asignan mínimos de aceptación y salud (as) son mujeres y los mayores de 22 años sin distinción.<br />

5. Discusión de resultados<br />

Del análisis de los resultados surgen las siguientes observaciones:<br />

a) En cuanto a las posiciones en el ranking.<br />

Como se señaló en el punto 4.3 (cuadro nº 1), se observa, como era de esperar una aceptación generalizada, pero con diferencias dada<br />

la heterogeneidad de la muestra. La columna de “no-aceptado” confirmaría la aprobación generalizada dado que los valores de rechazo<br />

son comparativamente más bajos.<br />

En cambio en el ranking de salud existe una amplia dispersión en cuanto a las asignaciones para los mismos platos (cuadro nº 2). Dadas<br />

las diferencias entre los ranking de aceptación y salud, se puede sostener que existen comportamientos diferenciales entre los encuestados.<br />

Se puede señalar que el “imaginario de salud” presenta un consenso para pollo, ensalada y churrasco. Los valores de estos platos<br />

superan a “pizza”, la que se sitúa en el máximo de aceptación. A partir de la posición sexta (tallarines), las asignaciones de salud son<br />

heterogéneas, pasando a primar las correspondientes a “no saludable”.<br />

Con respecto a la aceptación por tipo de platos el comportamiento de la población es poco variable para churrasco y pollo en los primeros<br />

lugares. En el ordenamiento subsiguiente se producen diferencias entre los sexos, mientras que las mujeres se inclinan por platos sobre<br />

la base de vegetales (tomate y ensalada), los hombres lo hacen con tallarines, guiso, pizza y milanesa.<br />

Podría indicarse que los platos con un mayor intervalo temporal de saciedad logran marcada aceptación en los hombres. En cambio las<br />

mujeres, prefieren preparaciones sobre la base de vegetales o bien rechazan las altamente calóricas, tal vez por una diferente capacidad<br />

de ingesta o por una incidencia mayor del discurso acerca de las dietas.<br />

904


) En cuanto a la correspondencia de salud y aceptación<br />

La matriz de caracterización revelan la existencia de cuatro tipos de agrupamientos: por componente principal del plato, por su origen<br />

(vegetal, animal), por su lugar de preparación (doméstico, industrial), o bien por su estado (crudo, cocido).<br />

Es de notar que los platos de origen “industrial” (hamburguesa y pizza) se encuentran en varios espacios de la matriz, con asignaciones<br />

de salud que cubren todos los sectores (AS, ASs, As, Aas y as).<br />

Los “crudos frescos” se encuentran en AS junto con aquellos que se procesan térmicamente dentro del hogar. Un caso especial, los<br />

tallarines, que se trata de un producto “industrial” pero cuya transformación térmica se produce en el hogar, presenta aceptación plena<br />

a indiferente (AS, ASs).<br />

Con respecto al sexo, las mujeres prefieren lo crudo y los vegetales, mientras que los hombres las carnes. Moré et al (1999), señaló que<br />

las mujeres organizan su campo de acciones regidas por el principio de -lo saludable-.<br />

Mc Cormick (1999), indica “las mujeres justifican la selección de alimentos orientados al cuidado de la silueta o amparados por el<br />

concepto de lo “light”. Somoza Yuste (1999) en su trabajo sobre jóvenes universitarios españoles, nota que “la diferencia más<br />

significativa entre hombres y mujeres, está en el consumo de verduras, siendo mayor en las mujeres 59%, que en los hombres, 25%”.<br />

En cuanto a los cárneos la ubicación de la milanesa en el sector As es llamativa dado que con relación al churrasco (AS), se posiciona<br />

en forma polarizada. Un mismo componente pero con formas preparativas y cocción diferente, induce atribuciones disímiles, originadas<br />

seguramente en un cierto “cuestionamiento a los fritos, sumado al abandono de lo hervido, como también el remozado prestigio de los<br />

horneado y lo asado”, observado ya por Moré (1999).<br />

El caso de la hamburguesa es singular. Por su composición se acerca a la milanesa y al churrasco –diferenciándose sólo en contenido<br />

graso y estado de fragmentación- pero recibe atribuciones de baja salud, dado su inscripción en un “imaginario” negativo (comida<br />

chatarra, comida basura) que, sin embargo, no afecta la aceptación del plato.<br />

En forma coincidente Aulicino J.M.; Yasky, M. (1999) en un estudio sobre las preferencias, de provisión de comidas externas<br />

(restaurantes y delivery) exponen que la hamburguesa se ubica en el tercer puesto de las preferencias: cuando la familia consume<br />

alimentos fuera de su hogar y la decisión de consumo es consensuada por la familia.<br />

c) En cuanto a la relación entre preferencias y asignaciones de salud.<br />

Para tratar este aspecto se realizó un análisis factorial de correspondencias múltiples. Se consideraron las variables de preferencia como<br />

activas; las socioeconómicas y de salud como ilustrativas. Con los cinco primeros factores obtenidos se construyeron grupos utilizando<br />

el método de Ward.<br />

A partir de la visualización del dendrograma se obtuvieron tres clusters con las siguientes características:<br />

Cluster 1: (Los “no selectivos”) Conformado por 371 individuos (56% de la muestra), determinado por el sexo masculino prioritariamente<br />

(el 60% de los varones se encuentra en este grupo). Las otras características son similares al promedio de la población.<br />

En este conjunto se encontraron platos de alta preferencia (2: “mucho”) en el siguiente orden de prioridad: churrasco, pollo, tallarines,<br />

guiso, pizza, milanesa, ensalada, sándwich, tomate y filet.<br />

No se observan rechazos de platos.<br />

El ordenamiento de capacidad salutífera es: pollo, churrasco, filet, pizza y ensalada, consideran al guiso y sándwich como un plato<br />

inocuo.<br />

905


Otros rasgos: Preferentemente NSE C2<br />

Cluster 2: (Los “selectivos”) Conformado por 204 individuos (30% de la muestra), caracterizado por el sexo femenino (60% de la<br />

clase).<br />

Este conjunto no presenta preferencias medias y bajas. Los platos de alta preferencia (1:“muchísimo”) son: churrasco, pollo, tomate,<br />

ensalada, tallarines, filet, guiso, milanesa y pizza, en este orden.<br />

Asignan la mayor capacidad salutífera (“muy sano”) a: filet, tomate, churrasco, pollo, tallarines y guiso, en esa prioridad. Se observa un<br />

marcado rechazo al sándwich de hamburguesa (“un veneno para la salud”).<br />

Otros rasgos: Preferentemente C3, D1, D2; zona de vivienda: oeste<br />

Grafico nº 1: Análisis multivariado de las preferencias de platos<br />

(socioeconómicas y asignación de salud como ilustrativas)<br />

Cluster 3: (Los “jóvenes”) Conformado por 93 individuos (14% de la muestra), con preponderancia de menores de 25 años y con un<br />

73% de los encuestados en la primera mitad de la carrera que pertenecen principalmente, a C1 o D1. Este conjunto se caracteriza por el<br />

rechazo de ciertas comidas (“nada”,“lo detesto”): ensalada, tomate, guiso, filet y churrasco.<br />

Otros platos (pollo, sándwich y tallarines) les resultan indiferentes.<br />

La preferencia es alta en milanesa, media en pollo y tallarines.<br />

Presenta baja asignación de salud para: guiso y sándwich y milanesa. El filet de pescado aparece con asignación de inocuo para la salud.<br />

Estos agrupamientos sugieren, tal cual lo venimos observando, una polaridad entre las asignaciones masculinas y femeninas, a<br />

excepción de “churrasco y pollo” que mantienen los máximos de preferencia.<br />

El cluster de los “no selectivos” donde prevalecen los hombres, manifiesta una ausencia de rechazos. Se destaca una predominancia de<br />

los platos de origen “industrial” (puestos 3º y 5º) y una baja valoración de los “crudos y vegetales” (7º y 9º puesto).<br />

En oposición el cluster de “selectivos”, prevalecen las mujeres, otorga supremacía a los “crudos y vegetales” (3º y 4º), pero no a los<br />

“industriales” (5º y 9º). Es notable que en los primeros seis puestos, a excepción de los tallarines, se ubican platos que se encuentran<br />

dentro del concepto “light”.<br />

906


El grupo 3, identificado con los más jóvenes, que se encuentran en la primera mitad de su carrera, presenta oposiciones con los demás<br />

cluster:<br />

a) no mantienen el pollo y churrasco como primeros en preferencia y salud.<br />

b) Se presenta “rechazo” a aquellos platos “indiscutibles”: ensalada, filet, churrasco<br />

c) Son coincidentes en la baja asignación de salud de “guiso” y “sándwich de hamburguesa”, pero tambien incorporan al “filet de<br />

pescado”<br />

Conclusiones<br />

Acorde a los resultados obtenidos sobre la muestra de jóvenes universitarios, se puede concluir:<br />

§ El sexo y la edad intervienen en las asignaciones de salud y aceptación del plato.<br />

§ La presencia – ausencia o método de cocción, produce divergencias entre las asignaciones, para un mismo elemento constitutivo de<br />

los platos.<br />

§ La presencia de “discursos” e “imaginarios”, sobre los alimentos intervendría sobre los posicionamientos y adjudicaciones de los<br />

platos.<br />

§ El sexo femenino presenta mayores preferencias hacia los crudos, vegetales e indiferencia hacia los alimentos “industriales”.<br />

§ Los hombres incorporan los platos industriales, altamente calóricos y con algún rechazo hacia los platos con vegetales.<br />

§ Podría decirse entonces que los jóvenes estudiados constituyen un grupo en “tensión” alimentaria, entendiendose por tal a la<br />

existencia de preferencias y adjudicaciones heterogéneas que impiden caracterizarlo sea como una “subcultura” o con concepciones<br />

asimismo semejantes sobre el cuidado de la salud.<br />

§ Es posible que esta heterogeneidad sea explicable por tratarse de un grupo en plena constitución de su identidad, pero que sin<br />

embargo ella se diferencia por los cursos a seguir por los hombre y las mujeres.<br />

907


Bibliografía<br />

Asociación Argentina de Marketing (1996) “Índice de Nivel Socio económico Argentino Buenos Aires, A.A. de M (Comisión de<br />

Investigación de Mercado).<br />

Aulicino, JM.; Yasky, M. (1999) “La provisión de comidas de elaboración externa en los habitantes de Buenos Aires y sus alrededores<br />

– El nuevo consumidor ante el delivery y el restaurante”. Cuadernos del CEAgro nº 1 – Centro de Estudios del Sistema Agroalimentario<br />

. Facultad de Ciencias Agrarias de la Universidad Nacional de Lomas de Zamora.<br />

Berenguer Contri, G., Mollá Descals, A., Pérez Alonso-Geta, P., Canovas Leonhardt, P. (2001) “Los adolescentes como consumidores:<br />

la familia como agente de socialización” Estudios de consumo nº 58 - Ministerio de Sanidad y Consumo – España.<br />

Caballero, A., Carrera, P., Sánchez, F., Sierra, B., Briñol, P. (2001) “ La influencia de los grupos de pertenencia en el consumo de los<br />

adolescentes” Estudios sobre Consumo, nº 57 Ministerio de Sanidad y Consumo – España.<br />

Combs, GF R. Et al (1998) “Thinking in terms of food systems” Food Review Cornell Itaka USA<br />

Garabuau – Moussaoui, I.(1999) ”La cuisine des jeunes : Desordre alimentaire, identite genarationnelle et ordre social ” these de<br />

doctorat « Pratiques et representation culinaires comme revelateurs de l´ étape de vie de la jeunesse » Universite París V- Sorbonne.<br />

Instituto Nacional del Consumo (1998) “Juventud y consumo” Ministerio de Sanidad y Consumo – España.<br />

Instituto Nacional del Consumo (2000) “Las tendencias del consumo y del consumidor en el siglo XXI” Ministerio de Sanidad y<br />

Consumo – España.<br />

Mc. Cormick, M.; Lacaze, ML. Pereyra, A (1999) “Selecciones alimentarias en hogares de Buenos Aires y alrededores” Cuadernos del<br />

CEAgro nº 1 Centro de Estudios del Sistema Agroalimentario . Facultad de Ciencias Agrarias de la Universidad Nacional de Lomas de<br />

Zamora.<br />

Moré, M. R. Elías, A. Mc. Cormick., M (1999) “Estudio exploratorio de los hábitos alimentarios de hogares de la ciudad de Buenos<br />

Aires y sus alrededores” Cuadernos del CEAgro nº 1 Centro de Estudios del Sistema Agroalimentario. Facultad de Ciencias Agrarias<br />

de la Universidad Nacional de Lomas de Zamora.<br />

Pereyra, A M.(2002)”Hábitos alimentarios de jóvenes universitarios” Cuadernos del CEAgro nº 4 Centro de Estudios del Sistema<br />

Agroalimentario . Facultad de Ciencias Agrarias de la Universidad Nacional de Lomas de Zamora.<br />

SAS, Institute Inc, STAT vers 6, Second edition, Cari NC: SAS Institute Inc 1993<br />

Solomon, Michael R.(2001) “Comportamiento del consumidor” Prentice Hall – tercera edición- México.<br />

Somoza Yuste, R. Et al (1999) “Algunos aspectos de los hábitos alimentarios de un grupo de estudiantes universitarios de la comunidad<br />

de Madrid” Dpto. de Nutrición de la Facultad de Farmacia de la Universidad Complutense de Madrid.<br />

SPAD, «Sistema Portable de Análisis de Datos» versión 3.5 CISIA - CERESTA Saint Mande Francis.SPSS, Inc. Data Entry Builder<br />

1.0 - 1998<br />

Thompson, C;Newman, D.(1999) “You eat You are? Social identity and food among American College students. Dept. Of Social<br />

Sciences, Johnson and Wales University, Providence<br />

1 José María Aulicino, Ana María Pereyra – Centro de Estudios del Sistema Agroalimentario – Facultad de Ciencias Agrarias –<br />

Universidad Nacional de Lomas de Zamora (ceagro@agrarias.net)<br />

2 Trabajo elaborado por Pereyra,A.M sobre hábitos alimentarios en jóvenes universitarios, sobre una muestra de 668 casos. A editarse<br />

en Cuadernos del CEAgro nº4<br />

3 Los platos fueron seleccionados entre un listado de 230, consumidos “normalmente” en el área de estudio (ciudad de Buenos Aires,<br />

y su municipios colindantes), y entre aquellos que no presenten rasgos distintivos de origen étnico, cultural, etc.<br />

908


OLHANDO PARA O NORTE - CLASSE, GÊNERO E ETNICIDADE EM ESPAÇOS DE<br />

FRUTICULTURA DO NORDESTE DO BRASIL 1 .<br />

Resumo<br />

909<br />

Josefa Salete Barbosa Cavalcanti 2<br />

Dalva Maria da Mota 3<br />

Pedro Carlos Gama da Silva 4<br />

Este trabalho examina aspectos da globalização dos sistemas agroalimentares, enfatizando mudanças sócio-econômicas que têm lugar<br />

nas novas regiões de fruticultura orientadas para os mercados do Norte, segundo as dimensões de classe,gênero e etnicidade. As<br />

estratégias produtivas usadas pelos atores envolvidos para atingir os requerimentos de qualidade das frutas, bem como o contexto das<br />

relações global/local são analisados, com base em pesquisas realizadas no Nordeste brasileiro.<br />

Palavras chave: Brasil, Frutas tropicais, globalização, gênero, etnicidade.<br />

Abstract<br />

This paper examines aspects of the globalisation of agro-food systems, emphasizing socioeconomic changes that take place in new<br />

fruitculture regions oriented to the North markets, according to dimensions of class, gender and etnicity . The productive strategies used<br />

by the actors to attend the requirements of fruit quality and the context of global /local relations are analysed , based on research carried<br />

out in the Northeast Brazil.<br />

Key words: Brazil, tropical fruits, globalisation, gender, ethnicity.<br />

Introdução<br />

Este trabalho tem como objetivo analisar processos sociais que têm lugar em regiões de fruticultura do Nordeste do Brasil que produzem<br />

para mercados de consumo dos chamados países do Norte. Essas regiões foram delineadas por meio de políticas públicas que visavam<br />

o aproveitamento das águas das barragens construídas para a produção de energia elétrica e irrigação. Com a irrigação, criaram-se<br />

oportunidades para o cultivo de legumes e frutas tropicais, algumas delas consideradas exóticas. A partir da década de 80, dois pólos<br />

principais de fruticultura irrigada se constituíram: um no Vale do São Francisco, na região dos municípios de Petrolina-PE e Juazeiro-<br />

BA, e outro no Vale do Açu-Mossoró-RN, abrangendo as áreas dos municípios de mesmo nome. O primeiro, orientado para a produção<br />

de mangas e uvas, e o outro para a produção de melão. O desenvolvimento dessas regiões tem sido objeto de vários estudos (Oliveira,<br />

1991, Cavalcanti e Irmão, 1994; Cavalcanti, 1999; Gomes da Silva, 1999; Rodrigues, 2001; Marsden e Cavalcanti, 2001; Silva, 2001<br />

e outros) que indicam as suas especificidades como produtoras de frutas para mercados da Europa e Estados Unidos.<br />

Mais recentemente, surge um outro pólo, o Platô de Neópolis-SE (Mota, 1999, 2001), que privilegiou o coco como um produto.<br />

É importante ressaltar que embora surgidas em tempos diferentes, a região do Vale do São Francisco, a mais antiga, e o Platô de<br />

Neópolis, a mais recente, foram inspiradas e modeladas pela globalização dos sistemas agroalimentares e apresentam semelhanças, no<br />

que diz respeito às formas de delimitar o território, definir a infra-estrutura técnica e organizacional características de sua instalação como<br />

áreas de produção, em substituição à tradicional agricultura de sequeiro, e a instalação de novas áreas de produção para consumidores<br />

diferenciados.<br />

O projeto de modernização dessas regiões está pautado num modelo de gestão que assegura às empresas privadas um lugar privilegiado<br />

na condução da transformação dos espaços locais visando estabelecer elos com novas cadeias agroalimentares (McMichael, 1994;<br />

Bonanno, 1999) com base em produtos frescos (Friedland, 1997).<br />

Igualmente relevante é a externalização desse tipo de produção (Marsden et al.,1996) que, apesar de não ser totalmente absorvida pelos<br />

novos mercados, é construída segundo as suas determinações.<br />

Os números da exportação da manga do Vale demonstram que algumas empresas locais chegam a exportar 70% da produção, enquanto<br />

no Brasil o percentual é de apenas 16,8% da quantidade produzida; as outras mercadorias são importantes porque gradativamente<br />

ocupam janelas no mercado global. Este é, talvez, o ponto nevrálgico da questão a ser aqui examinada. Os vínculos com os mercados<br />

ou possíveis consumidores do Norte passam a ser determinantes dos processos de organização do trabalho e controle dos trabalhadores


nesses novos espaços produtivos. Como indica o título, um olhar para o Norte torna-se decisivo para as ações que têm lugar na<br />

fruticultura do Sul; como bem ressalta Redclift (1998), essa relação Norte/Sul, que em alguns momentos parece crucial para o<br />

pagamento da dívida dos países do Sul, termina por mudar os destinos das populações locais e controles exercidos sobre os seus<br />

territórios, embora nem todos os resultados sejam virtuosos.<br />

Para compreender a atualização dos processos pelos quais áreas novas ou renovadas são inseridas nos circuitos globais, privilegiamos<br />

neste artigo aspectos distintivos dos processos de construção dessas mercadorias (Appadurai, 1994), segundo usos particulares do<br />

trabalho e de aportes tecnológicos vários que asseguram a circulação de cada uma delas nas pautas de produtos nobres e de exportação<br />

de uma região de grandes desigualdades sociais e pobreza - o Nordeste brasileiro. Migrantes com diferentes trajetórias de trabalho e<br />

histórias de vida vêm se destacando na arte de produzir frutas, segundo padrões de qualidade previamente definidos, compondo um<br />

mosaico formado por diferenças e desigualdades segundo recortes de gênero e etnicidade, orientados pelo novo modo como se<br />

instalaram nas novas regiões.<br />

1- Constituição e mudanças nas regiões produtoras de frutas frescas<br />

Novos modelos de apropriação do território, do meio ambiente e do trabalho emergiram no Nordeste do Brasil, cujos exemplos aqui<br />

analisados são as regiões do Vale do São Francisco, especialmente no Pólo Petrolina-PE/Juazeiro-BA, ocupando uma área de 31 mil<br />

hectares e o Platô de Neópolis, no Estado de Sergipe, com 7 mil hectares.(Mapa I).<br />

A agricultura irrigada da região do Vale do São Francisco teve origem no decorrer das décadas de 60 e 70, com os primeiros projetos<br />

públicos de irrigação instalados pela SUDENE 5 (Bebedouro e Mandacaru) e com os projetos hidrelétricos que objetivavam a construção<br />

da barragem de Sobradinho. O forte apoio estatal por meio de fartos incentivos fiscais e financeiros e o suporte das instituições públicas<br />

como Embrapa 6 e Codevasf 7 foram fundamentais à consolidação de uma base produtora de frutas frescas nos anos 80 (Cavalcanti,<br />

1998; Silva, 2001). A opção pela fruticultura está definida no PLANVASF 8 (Brasil, 1995), que delimita o desenvolvimento da região<br />

com base em mudanças nos mercados globais. Todas as políticas para o Vale a partir de 1987 concorreram para o fortalecimento do pólo<br />

frutícola. A partir de então, a atividade conhece uma rápida expansão.<br />

As culturas tradicionais nordestinas como cana-de-açúcar e algodão perdem gradativamente importância na pauta de exportação, com<br />

a entrada em cena de outros produtos como: uva, manga, melão, dentre outros, sendo os primeiros construídos de acordo com os<br />

requisitos dos mercados: mangas sem fibra, uva sem semente, por exemplo. Mesmo ao coco, cultura tradicional no litoral nordestino,<br />

são agregados novos atributos tecnológicos para dotá-lo de características adequadas à sua distribuição e ao consumo in natura,<br />

atendendo às exigências de segmentos de mercado A introdução de novas culturas e a transformação de produtos tradicionais têm<br />

contribuído para a reelaboração e re-significação de símbolos da agricultura nordestina, desta vez, como frutos tropicais, saudáveis e<br />

naturais, associados ao clima e à beleza da região.<br />

Novas relações entre produtores, trabalhadores, agentes de mercado e consumidores promovem a dinamização dessas regiões, ressaltada<br />

pela circulação de trabalhadores e mercadorias. As cidades passam a abrigar os novos atores migrantes que se deslocam de regiões<br />

várias para realizar as tarefas de transformação das frutas em mercadorias que circulam fora dos limites locais de controle. Além dos<br />

trabalhadores e empresários que foram atraídos pelas novas oportunidades de produção e emprego nas unidades agroindustriais, a<br />

região passa a oferecer outras oportunidades e ocupação de mão-de-obra.<br />

BRASIL<br />

BRASÍLIA<br />

Pólo Petrolina-PE/Juazeiro-BA<br />

Fonte: Silva (2001)<br />

Médio<br />

São Francico<br />

Alto do<br />

São Francisco<br />

Petrolina<br />

BAHIA<br />

MINAS GERAIS<br />

Submédio PERNAMBUCO<br />

São Francisco<br />

Juazeiro<br />

910<br />

BRA S IL<br />

VALE DO<br />

SÃO FRANCISCO<br />

Lago de<br />

Sobradinho<br />

SERGIPE<br />

Salvador<br />

Aracaju<br />

Recife<br />

Baixo<br />

ALAGOAS<br />

São Francisco<br />

Maceió<br />

Platô de<br />

Neópolis


O setor de serviços se expande. O mercado de trabalho se reestrutura. Profissionais altamente qualificados e trabalhadores polivalentes<br />

se inserem em processos de produção para atendimento aos requisitos formulados externamente. As mulheres ampliam a sua<br />

participação no mercado, segundo uma divisão sexual do trabalho em que predomina o viés de gênero.<br />

Esse dinamismo das regiões, no entanto, não tem sido suficiente para evitar que nelas convivam áreas modernas de agricultura irrigada<br />

com a agricultura tradicional de sequeiro e com bolsões de miséria onde os migrantes “errantes do fim do século” (Silva ,1999) vivem<br />

na periferia das cidades e perambulam em busca de ocupação> O modelo implantado no Vale privilegia as empresas, ainda que,<br />

inicialmente, os projetos públicos de irrigação tenham sido concebidos, também, com um cunho social incluindo “colonos” e pequenos<br />

produtores das áreas ribeirinhas, que perderam as terras que antes cultivavam, pela inundação da barragem. As exigências do modelo<br />

empresarial de desenvolvimento do Vale deixaram esses “colonos” à parte. Entretanto, o fracasso de muitos desses colonos e a<br />

flexibilidade nas transferências dos lotes atraíram pequenos e médios produtores capitalizados de distintas origens para os negócios da<br />

fruticultura.<br />

A expansão das áreas cultivadas e o aumento da produção garantiram, dos anos 1980 a início dos 90, o crescimento do emprego na<br />

região do Vale, abrindo oportunidades para a contratação de homens e principalmente, de mulheres, devido ao crescimento dos parreirais<br />

e à exportação da uva, como, também, pelas atividades de pós-colheita incrementadas pelo crescimento das exportações da manga.<br />

Contrastando com a regularização das relações de trabalho observadas no início da atividade frutícola, nos últimos anos da década de<br />

1990 (Cavalcanti e Silva, 1999) o nível de emprego foi reduzido e formas precárias de parceria foram criadas, marginais ao sistema de<br />

proteção social e trabalhista (Silva, 2001, p. 116).<br />

No início do novo milênio, as relações sociais se reconfiguraram nos planos individuais e coletivos, como conseqüência das divisões<br />

entre os que têm ou não trabalho, entre os grupos étnicos que contribuíram para a formação da região, entre homens e mulheres e entre<br />

os produtores que tiveram acesso diferenciado às políticas públicas engendradas com apoio dos fundos de fomento internacionais. A<br />

crescente substituição do trabalho humano pela tecnologia agrava o problema do desemprego; a flexibilização do trabalho, comum ao<br />

novo contexto de globalização, vem também agravando a diferenciação entre produtores e trabalhadores, como analisado por Graziano<br />

da Silva (1999) para o caso da citricultura. Claro está que nesses processos algumas categorias sociais se beneficiam. Os efeitos<br />

virtuosos dos processos fizeram com que as mulheres, por exemplo, encontrassem no boom da produção da uva de mesa um espaço<br />

para o seu fortalecimento como categoria de trabalhadoras (Cavalcanti et al., 1998). Do mesmo modo, a região de Petrolina/Juazeiro se<br />

transformou no grande pólo de atração de migrantes, que se tornou visível no incremento demográfico registrado no censo do início dos<br />

anos 90 (IBGE, 1991), uma migração diferenciada. Migrantes das regiões sul e sudeste do Brasil, com experiência em fruticultura,<br />

aproveitaram as novas condições oferecidas no Vale para se fortalecerem como produtores; agricultores locais expulsos das áreas<br />

tradicionais de agricultura encontraram no assalariamento as condições para sobrevivência de suas famílias. Esses deslocamentos<br />

interregionais revelam uma itinerância de atores, atraídos pelos espaços de expansão da fruticultura.<br />

2- As novas condições dos mercados: qualidade, competitividade e estratégias empresariais.<br />

À combinação de fatores já mencionados, agregam-se as características naturais das regiões, que contribuem para ampliar as vantagens<br />

comparativas do negócio frutícola. As características climáticas, com baixos índices de pluviosidade, que não ultrapassam os 400mm<br />

anuais no Pólo Petrolina/Juazeiro, e altos índices de insolação, contribuem para que, sob condições de irrigação, seja possível produzir<br />

frutas a qualquer época do ano, fora de limites sazonais, o que permite a ocupação de janelas de mercado, quando os outros centros<br />

produtivos estão em recesso. Outra vantagem comparativa é o baixo preço da mão-de-obra, em relação a outras regiões frutícolas como<br />

a Califórnia.<br />

Por todas essas características, o sucesso do Vale estimulou a criação de outros pólos fruticultores, entre os quais, o Platô de Neópolis<br />

que, apesar de ter sido implantado no contexto da reduzida participação do Estado na economia, não prescindiu de recursos públicos<br />

para sua implantação.<br />

Em ambos os casos, em que pesem as vantagens comparativas, a busca por aumentos de produtividade é incessante e tem se dado por<br />

meio de inovações tecnológicas. Tais inovações repercutem na automatização de processos de irrigação, na transformação de tratos<br />

culturais, embalagem, acondicionamento e transporte. A pressão por pesquisa para atender cada vez mais às exigências dos mercados<br />

é uma constante. Em paralelo, a manutenção de redes de informação sobre preços, oportunidades de mercado e atendimento às<br />

exigências do consumidor tornaram-se estratégias igualmente decisivas para assegurar a competitividade da região e dos seus produtos.<br />

As regiões produtoras de frutas frescas têm se esmerado no atendimento às exigências e cuidados especiais com as frutas. Observadores<br />

externos verificam se as condições de trabalho estão seguindo os padrões técnicos, fitossanitários e ambientais definidos para a sua<br />

distribuição. Visitas de varejistas europeus são freqüentes à região (Pires, 1999). Há também um controle direto exercido por técnicos<br />

do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) nas fases de pós-colheita e de embalagem das frutas para aquele país. É<br />

verdade que enquanto novas regiões frutícolas estão entre os exemplos de solução para o problema do desemprego no Nordeste não há<br />

muito espaço para contestação (Cavalcanti & Bendini, 2001). Os trabalhadores do Vale e do Platô ensaiaram algumas ações de protesto<br />

e greves, mas não têm conseguido formar um sindicato forte, por exemplo.<br />

Mas o contexto também não é dos mais fáceis para os empresários, médios e pequenos produtores. As exigências dos mercados e a<br />

fragilidade dos produtores frente aos grandes compradores do Norte requereram que se organizassem, eles também, para assegurar a<br />

competitividade dos seus produtos em espaços comerciais (Cavalcanti, 1999 a,b,c). Exemplos de experiências nesse terreno são a<br />

911


VALEXPORT 9 e a ASCONDIR 10 . Mesmo considerando o lugar de destaque que a tecnologia ocupa nesses processos, a margem de<br />

manobra do empresariado depende de fatores múltiplos, dentre os quais, preços, política cambial e outros fatores conjunturais. O<br />

racionamento de energia ocorrido no Brasil, no segundo semestre de 2001, e o atentado às torres em Nova York, em setembro do mesmo<br />

ano, foram alguns dos fatores que prejudicaram a exportação das frutas brasileiras, seja pela dificuldade experimentada para manter uma<br />

produção altamente dependente de energia, seja pelo fechamento de portos por vários dias, que retardou a distribuição e afetou a<br />

qualidade dos frutos. Apesar disso, nesse ano “as vendas cresceram em volume, mas os preços caíram”, afirma o gerente da Valexport,<br />

associação que congrega 60 produtores do Vale do São Francisco (Folha,29/01/02). Segundo esse informante, a entrada de novos<br />

produtores no mercado tem aumentado a oferta, mas também tem derrubado os preços, a exemplo da manga, que depois de alcançar<br />

US$10 a caixa de 4kg no mercado americano em 2000, caiu para US$6 em 2001. A saída seria a conquista de novas janelas de mercado,<br />

a partir de diferentes estratégias comerciais e de marketing. Nota-se na atualidade o crescimento de críticas às políticas protecionistas<br />

adotadas por países europeus, que reduzem as possibilidades de circulação dos produtos brasileiros nos mercados mundiais. Mesmo<br />

assim, para o ano de 2002, o IBRAF 11 está prevendo o crescimento de 30 a 35% das exportações em relação a 2001. Nestes números,<br />

a participação da fruticultura irrigada nordestina deverá ser significativa, considerando que a manga, o melão e a uva constam na pauta<br />

dos produtos mais exportados em 2001.<br />

Um aspecto central nas estratégias para competição e competitividade é a organização dos produtores para a defesa dos seus interesses<br />

quanto a comercialização, financiamentos, conquistas de novos mercados, melhoria dos padrões de gestão, redirecionamento de<br />

políticas públicas, dentre outros aspectos. Com esta finalidade, a VALEXPORT e a ASCONDIR foram fundadas. O surgimento da<br />

Valexport é resultante de: a) experiências negativas de produtores com vendas isoladas; b) incentivos das instituições governamentais.<br />

A VALEXPORT se consolidou com o fortalecimento do pólo frutícola, quando os diferentes interesses privados passaram a ser<br />

explicitados na reivindicação de políticas para o setor, além da obtenção do reconhecimento dos poderes públicos constituídos “para<br />

exercer uma espécie de governança setorial privada com funções públicas” (Silva, 2001, p. 184). Como conseqüência, a ação pública<br />

da VALEXPORT na região do Vale é decorrente da negociação com a organização dos interesses privados e políticos locais, originando<br />

uma modalidade de gestão simultaneamente setorial e territorial. Tendo como espelho essa experiência da VALEXPORT, a ASCONDIR<br />

tem desempenhado também este papel. Essas associações, também, intermediam a comercialização; no entanto, não assumem diretamente<br />

as vendas, que tendem a ser geridas por cooperativas que congregam pequenos e médios produtores.<br />

3-Classe, etnicidade e gênero nos novos contextos produtivos regionais.<br />

Essas novas regiões são formadas por categorias sociais várias. A grosso modo, as análises revelam uma divisão da população entre<br />

produtores (empresários ou pequenos produtores “colonos”) e trabalhadores. Mas essas categorias são também internamente diferenciadas<br />

por região, gênero e etnia, marcadores importantes da diversidade presente nesse espaço produtivo (Cavalcanti, 1999c).<br />

Entre os produtores, há aqueles que são naturais da região Nordeste e outros que para lá acorreram diante do sucesso da fruticultura. Este<br />

segmento se divide, ainda, entre os que são exclusivamente dedicados à atividade agrícola e os que desempenham outras atividades. No<br />

caso do Vale, empresários e “colonos” participam do gerenciamento das unidades de produção. No Platô, os produtores irrigantes são<br />

exclusivamente empresários.<br />

Os trabalhadores, para os dois casos, são predominantemente oriundos dos municípios circunvizinhos aos projetos e desvinculados dos<br />

meios de produção. Em alguns casos, são originários da agricultura familiar e dependem de outras estratégias para assegurar a<br />

reprodução social do seu grupo, como o assalariamento temporário ou permanente. Há, também, alguns entre eles que vivenciam uma<br />

migração de retorno; exemplares são trabalhadores nordestinos que haviam migrado para a região sudeste, onde trabalharam na<br />

produção de limão e retornaram com alguns dos seus patrões para o Vale, após o que chegaram a ascender à condição de pequenos<br />

produtores. Apesar de poucos, esses casos de mobilidade são efeitos virtuosos dos processos em curso. Empresários de origem<br />

japonesa ou italiana de segunda geração também ali se instalaram. Esses exemplos contribuem para tornar claro um processo contínuo<br />

de migração e de como se constrói, nas novas regiões, uma cultura particular de produzir “frutas”.<br />

Portanto, as disputas de mercado, a busca contínua por inovações tecnológicas, aumento da produtividade e qualidade dos produtos,<br />

assim como, atendimento às exigências dos compradores e consumidores que querem ter conhecimento “sobre a construção da<br />

mercadoria e do processo produtivo” (Cavalcanti, 1999a, p.148) e das preocupações com a sustentabilidade ambiental alimentam o<br />

cotidiano dessas novas regiões e as estratégias usadas pelos atores sociais envolvidos. Paradoxalmente, em que pesem as diferenças de<br />

políticas que perseguiam o crescimento do emprego, as estratégias produtivas têm funcionado como redutoras de mão-de-obra efetivamente<br />

usada e, em relação aos que permanecem, são seletivas porque requerem novas e atualizadas qualificações. Por outro lado, a heterogeneidade<br />

das etapas da produção agrícola, também, tem sido usada como justificativa para contratação de trabalhador “múltiplo”, capaz de realizar<br />

diferentes atividades e assim, ser remanejado de uma para outra função ao longo dos ciclos de produção das culturas. Convivem nos<br />

mesmos espaços trabalhadores especializados com polivalentes e outros desqualificados para as novas tarefas exigidas pela qualidade<br />

dos produtos (Lara ,2001, p.367). Com o crescimento da demanda por postos de trabalho, escutam-se também as vozes dos empresários<br />

que reclamam da falta de pessoal qualificado para assumir novas tarefas na produção.<br />

Apesar dos espaços ocupados pelas mulheres na produção de uva, que são responsáveis por cerca de 70% das atividades no Vale do São<br />

Francisco (Cavalcanti et al., 1997, 1998, 1999) em ambas as regiões, a predominância é de trabalhadores homens, com a justificativa de<br />

que possuem a capacidade de se adaptarem a qualquer atividade agrícola e implicam em menores despesas nos custos de produção, ao<br />

contrário das mulheres que requerem mais gastos com seguridade social – licença maternidade, e são também responsáveis diretas pelos<br />

filhos, sendo, conseqüentemente, mais susceptíveis aos acontecimentos externos ao trabalho. O crescimento do emprego feminino na<br />

produção da uva contrasta com o que foi observado em pesquisa realizada no Platô (Mota, 2001), onde as mulheres constituem apenas<br />

4% do total dos trabalhadores; assim mesmo, mais da metade trabalha de forma temporária e clandestina.<br />

912


As áreas de fruticultura irrigadas no Nordeste são predominantemente de culturas permanentes, cujos sistemas de produção têm<br />

características diferentes da agricultura irrigada tradicional (matéria-prima para as agroindústrias), com repercussões no número e<br />

formas de ocupações geradas. A atividade frutícola tende a diminuir os postos de trabalho nas atividades propriamente agrícolas e a<br />

intensificar os serviços, essenciais para a formação das imagens e símbolos agregados às frutas que concorrerão nas gôndolas dos<br />

supermercados mundiais. A construção dessas mercadorias não termina nos centros de produção agrícola; novas fases como a póscolheita,<br />

embalagem e transporte apropriado deverão garantir que as frutas cheguem aos centros distribuidores com qualidade. A<br />

tendência é privilegiar o uso de tecnologias mais sofisticadas que reduzam toques manuais nas fases de seleção e de embalagem, com<br />

conseqüências na redução dos coeficientes de utilização de mão-de-obra. Se a previsão inicial de ocupação era de 5,4 empregos/ha/ano<br />

(Oliveira, 1991), atualmente este índice é de menos de 2 empregos/ha no Vale do São Francisco (Silva 2001, p. 222) e 1 emprego para<br />

cada 4,7ha no Platô de Neópolis. A diferença entre esses números pode ser explicada pelas especificidades das culturas em cada caso.<br />

Trinta a sessenta mil trabalhadores, incluindo permanentes e temporários, trabalham na fruticultura do Vale do São Francisco (Cavalcanti,<br />

1999b, p. 274). Uma atualização dessa informação é feita por Silva (2001, p.230), com base em informações do presidente do Sindicato<br />

de Trabalhadores Rurais de Petrolina, que afirma que a estimativa é de 60 mil trabalhadores. “Destes, apenas 25 mil são permanentes<br />

e 35 mil são temporários. Desse total de trabalhadores, 50% deles, ou seja, 30 mil têm carteira assinada e apenas 10 mil são sindicalizados”.<br />

Em pesquisa realizada no Platô de Neópolis, Mota (2001) constatou que até junho de 2001, o número total de empregos era de 847,<br />

sendo 640 permanentes (612 homens e 28 mulheres) e 207 temporários (172 homens e 35 mulheres) para 4 mil hectares em produção.<br />

Além dos empregos oferecidos pelas empresas, observa-se uma expansão da terceirização. Muitas das atividades, anteriormente sob a<br />

responsabilidade do produtor, hoje são terceirizadas, estratégia justificada como flexibilização das relações trabalhistas. No Vale, já se<br />

registram empresas ou equipes de trabalhadores especializadas em atividades pontuais como, por exemplo, a poda da mangueira ou a<br />

instalação de um parreiral.<br />

Outra característica comum nos casos analisados é a diversidade de atores sociais envolvidos, que têm contribuído para que sejam<br />

instituídos na região novos sistemas de conhecimento, competências, qualidades cobradas por mercados exigentes dos Estados Unidos<br />

e de países da Europa. Diz-se que a região do Vale do São Francisco beneficiou-se das diferenças étnicas e culturais dos que lá chegaram<br />

levando sua maneira própria de atuar e representar o mundo. Fala-se da objetividade dos “paulistas” e “italianos”, ou do trabalho duro<br />

dos “japoneses” e seus descendentes, ou da criatividade dos “nordestinos” que contribuíram para garantir o sucesso da região. Ao<br />

reconhecê-las, os informantes estão refletindo sobre o modo como essas diferenças se revelam e se reconfiguram no cotidiano da<br />

produção (Cavalcanti, 1999a, p. 134):<br />

Os resultados dessa diversidade étnica e cultural são ressaltados ou criticados, segundo identificações e disputas entre os distintos<br />

migrantes. No Platô, por exemplo, gerentes originários do Sudeste do Brasil se vêem como mais racionais que os trabalhadores locais<br />

e afirmam que “os nordestinos não gostam de trabalhar, têm muitas crendices e dias santo, tudo é motivo para faltar ao trabalho” (Mota,<br />

1999, p. 72). Esses contrastes resultam do modo como os diferentes atores se relacionam nos novos espaços produtivos.<br />

Como analisado até aqui, é possível afirmar que a qualidade dos produtos está vinculada às características da combinação dos fatores<br />

de produção e, mais particularmente, àquelas do modo particular de relacionamento entre os atores. Os requerimentos do trabalho na<br />

produção agrícola, sob irrigação, exigem que uma certa polivalência se instaure. A heterogeneidade das etapas de produção na<br />

agricultura, assim como, os ciclos de produção de cada espécie vegetal, exigem tratos culturais em tempos precisos e segundo<br />

conhecimentos que extrapolam experiências vividas por muitos dos trabalhadores na agricultura de sequeiro ou em outras experiências<br />

profissionais. Nestes termos, a constituição de núcleo central da força de trabalho pela polivalência tem se delineado como tendência<br />

nos casos aqui analisados, igual ao que vem acontecendo em regiões de fruticultura Argentina (Cavalcanti & Bendini, 2001). Por outro<br />

lado, constata-se, também, que os empregadores, preocupados em atender prazos e padrões de qualidade, buscam restringir a<br />

mobilidade de um núcleo central de trabalhadores pela regularização da relação trabalhista. No Vale, os trabalhadores nessa condição<br />

encontram-se sob o estrito controle de fiscais, inclusive externos, que observam o ritmo de trabalho, as relações entre os trabalhadores<br />

e, principalmente, os critérios de qualidade. O condicionamento para uma racionalidade produtivista com qualidade é imposto aos<br />

trabalhadores, muito embora formas de resistência se evidenciem.<br />

No Platô, pelas diferentes razões já discutidas, predomina a contratação de gerentes e trabalhadores de origem local, concorrendo para<br />

o fortalecimento de sociabilidades com base em relações pré-existentes. Ou seja, 40% dos trabalhadores são parentes e as redes de<br />

recrutamento funcionam com base no parentesco e na camaradagem. Neste emaranhado de relações que mesclam trabalho com<br />

relações pessoais, despontam situações de reprodução de condições domésticas no trabalho: refeições partilhadas pelos membros de<br />

uma mesma família; realização conjunta de percursos de idas e vindas. Também, se reproduzem situações de forte controle social, tanto<br />

pelas hierarquias familiares quando diferentes membros da família controlam-se mutuamente no local de trabalho e na esfera doméstica.<br />

Os trabalhadores recrutadores de parentes e amigos não querem se comprometer indicando pessoas que não atuem segundo os<br />

interesses das empresas. Os indicados evitam decepcionar um amigo ou parente, temendo repercussões negativas nas relações na vida<br />

social local. Assim, essas redes tornam-se eficientes no controle da força de trabalho, pelos compromissos de reciprocidade assumidos<br />

entre quem indica e quem é indicado. Não se observam situações de controle de conversa ou de brincadeiras entre os trabalhadores no<br />

Platô no momento de trabalho. Aliás, este é um dado que tem sido destacado pelos trabalhadores como muito positivo. Apesar desta<br />

condição, o agrupamento dos trabalhadores do Platô é segmentado por sexo, seja porque as mulheres trabalham em épocas e atividades<br />

específicas, seja porque existe uma noção de que homens e mulheres trabalhando juntos comprometem um padrão moral considerado<br />

adequado.<br />

913


4- “Frutas para o mercado global”: uva, coco e manga.<br />

As frutas frescas se destacam entre os produtos associados aos novos padrões de consumo (Mennel et al., 1994, p. 54). Os<br />

instrumentos da cultura de consumo, a propaganda, a mídia, o novo padrão estético dos corpos e os freqüentes resultados de pesquisa<br />

sobre as conseqüências do consumo e de hábitos e costumes, são determinantes na criação de novas necessidades para um estrato<br />

privilegiado da população. Padrões alimentares são modificados. “Multiplicam-se as variedades de alimentos frescos, disponíveis<br />

durante todo o ano. A dieta desindustrializa-se, naturaliza-se. Há maior demanda por alimentos frescos, exóticos, produzidos de<br />

acordo com certos requerimentos ecológicos e fitossanitários” (Cavalcanti & Irmão, 1994, p. 60). Essa naturalização de dieta deve ser<br />

melhor qualificada porque a sua construção depende de incrementos do trabalho e tecnologia, como especificaremos no próximo item.<br />

No Vale do São Francisco, assim como no Platô de Neópolis, predominam os denominados sistemas de produção de culturas<br />

permanentes ou de longa duração. A manga, a uva e o coco, dentre outras culturas, têm conquistado importantes janelas dos mercados<br />

nacional e internacional. São cultivadas em sistemas de produção intensivos no uso de tecnologia, mas com pouca utilização do trabalho<br />

humano e, no caso do coco, sem nenhum tratamento de pós-colheita.<br />

4.1- Uva: cultura e espaço de mulheres<br />

A introdução do cultivo de uva na região Nordeste é decorrente de uma conjunção de esforços entre diferentes pioneiros da iniciativa<br />

privada e políticas públicas. Chamam a atenção a origem externa à região desses pioneiros e dos técnicos, assim como a capacidade do<br />

Estado, por meio de diferentes instituições, para fornecer suporte tecnológico, contribuindo para a sedimentação do mercado de frutas<br />

frescas e, mais recentemente, a intensificação da produção de vinhos. Assim, a fruticultura comercial em larga escala teve como cultura<br />

central a uva, rompendo, inclusive, com a noção de vinculação do produto a um único território.<br />

Dentre as diferentes regiões produtoras de uva no Brasil (Sudeste, Sul e Nordeste), o semi-árido nordestino tem vantagens comparativas<br />

em decorrência das condições de luminosidade, umidade e disponibilidade de água, que possibilitam direcionar a produção para<br />

qualquer época do ano, ocupando, assim, janelas de mercado. Estratégias usadas por diferentes tipos de produtores têm conferido<br />

vantagens competitivas, colocando a região no rol dos principais centros produtivos e garantindo a superação das divisões sazonais<br />

características de cultivos limitados ao clima.<br />

Dos produtos cultivados no Vale do São Francisco, a uva ocupa 3.758 hectares distribuídos em sistemas de produção de colonos dos<br />

projetos públicos de irrigação e médios e grandes empresários (Silva, 2001, p. 238). A participação desse produto na pauta de<br />

exportação tem crescido, embora seja irrisória a sua contribuição no total de dólares gerados.<br />

No mercado nacional, o pique de consumo é o período natalino, mas a uva hoje compõe item de alimentação das classes médias e altas<br />

da população. Como bem afirmam Douglas & Isherwood (1996), “os padrões de consumo têm o poder de exclusão”, revelando<br />

desigualdades nas esferas de consumo.<br />

Sendo uma das culturas que mais ocupa mão-de-obra, por isso mesmo, muito adequada às características da agricultura familiar, a uva<br />

tem surpreendido, não apenas pelo uso decrescente da mão-de-obra, mas pelos novos sistemas de parceria instituídos. Tais arranjos<br />

revelam tendências da organização do trabalho, comprometendo, inclusive, a ocupação das mulheres. As iniciativas recentes de<br />

estabelecimento de parceria para o cultivo da uva indicam o reconhecimento da necessidade de tratos especiais com a cultura, geralmente<br />

obtidos em parcelas menores e sob os cuidados de uma família.<br />

A uva é uma cultura que apresenta grande irregularidade na utilização de mão-de-obra, requerendo dos produtores a contratação<br />

temporária de trabalhadores para as fases de poda, raleio e colheita. Sem contar que as orientações técnicas se dão por meio de<br />

consultorias especializadas.<br />

As atividades de homens e mulheres estão divididas, a grosso modo, segundo a exigência de maior ou menor dispêndio de energia<br />

física; mas também às representações de que delicadeza é inadequado aos homens. Assim, compete às mulheres as denominadas tarefas<br />

“leves” como raleio da uva, colheita e pós-colheita. Aos homens, competem a implantação do parreiral, pulverização, poda, amarrio,<br />

pós-poda e serviços mecanizados em geral. Há no Vale do São Francisco a representação de que trabalho com uva é feminino e trabalho<br />

com manga é masculino.<br />

O destino da produção são a região Nordeste (70%), a região Sul (20%) e o mercado internacional (10%) (INCRA, 2000).<br />

4.2- Coco: produto da modaLargamente cultivado no Nordeste em condições de sequeiro, principalmente, por pequenos produtores,<br />

o coco é um produto em ascensão em diferentes regiões do Brasil<br />

No entanto, nas áreas de expansão mais recentes são utilizados sistemas intensivos de produção com irrigação, predominantemente por<br />

microaspersão 12 . A água de coco, principal produto de circulação nacional, passou a integrar as pautas de consumo de diferentes faixas<br />

da população. Uma incipiente industrialização na forma de acondicionamento, vem permitindo a sua comercialização em garrafas, copos<br />

e caixas, que estão à venda em supermercados, bares, restaurantes e na rua, competindo com os refrigerantes. O crescimento do<br />

consumo da água de coco, cerca de 330% nos últimos cinco anos, tem sido justificado pela preocupação das pessoas em consumirem<br />

cada vez mais produtos naturais, frescos, e pelo fato de ser esta uma bebida que por suas propriedades e composição, substituindo as<br />

bebidas isotônicas e energéticas artificiais, representando 4% do mercado total de refrigerantes (Mirizola Filho, 2000, Folha de São<br />

Paulo, F3). O Nordeste é a principal região produtora, contribuindo com quase 80% da produção nacional.<br />

914


No Vale do São Francisco e no Platô de Neópolis, o coco ocupa a segunda maior área plantada, com 10 e 1,5 mil hectares,<br />

respectivamente, da variedade anã, exclusiva para a produção de água e manejada segundo exigências dos diferentes segmentos<br />

consumidores no que diz respeito a cor, grau de maturação e características da água. Embora o consumo da água de coco esteja<br />

concentrado no mercado nacional, os novos investimentos na sua produção e distribuição objetivam a conquista de outros mercados,<br />

como o europeu, a exemplo da uva e da manga. Como esclarece um pesquisador da Embrapa: “temos notícias de que, atualmente, uma<br />

empresa está exportando o coco in natura, parafinado, para um país europeu, com possibilidades de expandir a exportação”. Buscamse<br />

soluções para a embalagem da água, sem comprometer a sua qualidade, para garantir o seu fluxo.<br />

Nas novas áreas de fruticultura, o coco está sendo produzido por grandes e pequenos produtores, segundo estratégias que dependem<br />

dos seus objetivos de capitalização. Pela novidade, os “sistemas modernos de produção”, iniciados há menos de uma década, ainda não<br />

oferecem suficientes informações sobre número de produtores, formas de gestão e relações com os mercados. Sabe-se que no Brasil<br />

ocupam 57 mil hectares de área plantada, onde uma grande parte ainda não entrou em produção. Estes novos plantios, explorados<br />

empresarialmente, estão sendo realizados, principalmente em regiões não tradicionais de cultivo, tais como o semi–árido nordestino e<br />

regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte. A expectativa do crescimento do mercado para a água de coco tem animado os produtores a<br />

expandir suas áreas com espécies precoces, monitorar para tal todas as fases da produção para garantir a qualidade e produtos “just in<br />

time”. No entanto, a sustentabilidade da atividade é questionável quando, tecnicamente, se sabe que a rápida expansão do plantio de<br />

coqueiros da variedade anã não garante, a longo prazo, a lucratividade esperada, devido ao custo da produção irrigada, ameaças de<br />

superprodução e a conseqüente baixa nos preços. Além do que, pelas suas características de empregos gerados, não se pode esperar<br />

soluções significativas para o problema do desemprego. Quando comparado a outras culturas, constata-se a baixa exigência de mão-deobra<br />

por hectare para a cultura do coqueiro, em virtude do número reduzido de plantas por ha 13 e por não demandar trabalho de póscolheita.<br />

Por outro lado, essa cultura tem safras distribuídas em cerca de quatro colheitas anuais, realizadas de forma rápida pelo fato de<br />

os seus frutos serem colhidos em cachos.<br />

Na área do Platô de Neópolis, constatou-se a geração de 1 emprego para cada 5 ha. Os novos empregados são, em sua maioria, homens,<br />

jovens entre 18 e 30 anos, 75% são registrados e 25% são clandestinos. Dos registrados, apenas 0,8% são mulheres, que atuam em<br />

atividades administrativas. No discurso dos técnicos e gerentes, entretanto, havia o reconhecimento de que o trabalho feminino seria o<br />

mais adequado para as tarefas mais leves, como adubação e “cata às baratas” do coqueiro, ambas atividades temporárias, isto segundo<br />

justificam, porque “as mulheres são consideradas também mais atenciosas, detalhistas, “obedientes” e limpas”, uma dimensão das<br />

desigualdades de gênero também encontrada no Vale do São Francisco, na viticultura.<br />

Apesar do reconhecimento da ampliação da participação da mulher no mercado de trabalho em diferentes contextos (Piñero, 1999; Lara,<br />

1998, dentre outros), é importante relativizar o fato por cultivo. No Platô de Neópolis, observa-se uma tendência inversa, ou seja, a quase<br />

exclusão das mulheres do trabalho com a cultura do coqueiro. Na verdade, as relações de trabalho restritas aos homens para esta cultura<br />

parecem reproduzir um padrão de produção historicamente constituído na agricultura de sequeiro, na qual a variedade predominante é a<br />

gigante, com plantas que chegam a 20 metros e que demandam colheita manual com escalação das árvores. Considerando que o coqueiro<br />

esteve muito associado à conquista de espaço e à reserva de valor, foi sempre uma atividade muito relacionada aos homens, que o escalavam<br />

e controlavam o comércio dos seus frutos. Esse padrão se reproduz na moderna agricultura irrigada, embora as árvores sejam baixas e<br />

permitam colheita manual sem escalação. Todas estas atividades estão sob a responsabilidade de técnicos homens, socializados no meio rural<br />

compartilhando representações sobre uma divisão social do trabalho em que aos homens competia a responsabilidade pelas culturas<br />

comerciais.<br />

4.3- Manga: campeã de exportação.<br />

A manga é uma cultura cultivada em todas as regiões do Brasil, predominando no Sudeste e Nordeste. Pelas condições excelentes para<br />

o seu desenvolvimento, o Nordeste se destaca por oferecer 57% da produção nacional. Em geral, é um cultivo feito de modo extensivo<br />

em quintais, pequenas propriedades e chácaras, onde são utilizadas cultivares diversas. O cultivo tecnificado da manga é um fato recente.<br />

No Vale do São Francisco, a estimativa para o ano 2002 é de 27 mil hectares em todo o Vale e de 13,5 mil hectares no Pólo Petrolina-<br />

Juazeiro, o que revela crescimento da área plantada quando comparada com os dados do ano 2000, que constam no Gráfico 3. As<br />

variedades predominantes são “Tommy Atkins” e “Haden”, com ampla aceitação no mercado internacional, gradativamente industrializados<br />

nacionalmente. A expansão da cultura deve-se à sua grande aceitação no mercado internacional e à já citada conjugação de diferentes<br />

fatores e estratégias. É uma fruta consumida predominantemente in natura.<br />

Constatam-se três diferentes formas de produzir: 1) os sistemas de grandes produtores com plantios que chegam a 200 e 300 hectares,<br />

integrados aos mercados internacionais e associados à VALEXPORT; 2) sistemas produção de médios produtores que têm entre 5 e 40<br />

hectares, exportando para outros países, vinculados à APROVALE e a outras pequenas organizações, ou de forma isolada por meio de<br />

empresas exportadoras e “packing houses” comerciais que se instalaram recentemente na região, e 3) sistemas de pequenos produtores<br />

que possuem de 1 a 3 hectares de manga e que comercializam individualmente no mercado regional (INCRA, 2000).<br />

A produção da manga tem passado por muitas alterações nos últimos anos, com elevado grau de sofisticação tecnológica e gerenciamento<br />

empresarial. Em conseqüência, os números relativos à sua exportação têm sido considerados animadores, porque se ocupam brechas<br />

de mercado, como a entressafra do México, principal país exportador para os Estados Unidos. Na construção da cor, sabor, tamanho<br />

e apresentação da fruta, os produtores do Vale procuram ser competitivos. Eles também têm conseguido avançar ou retardar a fase de<br />

maturação da fruta segundo as possibilidades de atender a nichos e tempos de mercado, que se mantêm pelas vantagens comparativas.<br />

Os diferentes sistemas de produção combinam estratégias e fatores de produção segundo as relações que os produtores têm com o<br />

mercado. Nesse terreno, os grandes produtores são mais competitivos. Os pequenos produtores enfrentam problemas financeiros,<br />

915


técnicos e associativos que limitam a obtenção da qualidade dos seus produtos e prejudicam os preços no mercado interno, o que causa<br />

problemas na identidade e identificação desses produtores com exportadores, que atribuem à produção “fora do tempo” a causa dos seus<br />

sucessos e insucessos. Os médios produtores têm conseguido produzir a menores custos do que os grandes e têm também conquistado<br />

mercados fora do país, a exemplo de Canadá, França e Alemanha. Em se tratando de mercado interno, o Estado de São Paulo é o<br />

principal consumidor da manga produzida no Vale (90%).<br />

A utilização da mão-de-obra na manga é bem menor do que em outras culturas. No Vale, é a cultura que ocupa maior área e ocupa um<br />

homem para cada dois hectares (Cavalcanti & Irmão, 1994, p. 68), enquanto no Platô esta mesma relação foi de um homem para cada<br />

4,8 hectares de manga (Mota, 1999, 67). Nas duas experiências, as atividades são desenvolvidas, principalmente, com a mão-de-obra<br />

assalariada registrada e, predominantemente, masculina. As etapas de irrigação e colheita utilizam a maior parte do trabalho requerido<br />

para este cultivo. No entanto, face às exigências externas de menor manuseio das frutas frescas, já presentes na fase pós-colheita, é<br />

provável que, gradativamente, esta atividade venha a ser automatizada.<br />

5-Resistência local e constituição dos novos atores<br />

Os estudos sobre a globalização têm enfatizado as relações entre as demandas de consumidores de produtos de qualidade e a precariedade<br />

de relações de trabalho, como elementos da competitividade dos locais de produção nos mercados. A globalização não é uma história de<br />

homogeneização (Appadurai, 1999). Para Bonanno (1994. p.1), a globalização se dá meio a conflitos que resultam da convivência de<br />

ganhadores e perdedores, requerendo, portanto, instâncias de mediação. Marsden (1997, 1999) e Marsden & Cavalcanti (2001)<br />

ressaltam as assimetrias presentes nas novas regiões produtivas ligadas aos mercados globais no trabalho, nas dimensões gênero,<br />

etnicidade e usos do meio-ambiente. Nos casos aqui estudados, estão presentes aspectos dessas dimensões que merecem melhor<br />

análise, como expressões de movimento de resistência.<br />

a)As relações global/local A novidade das mercadorias frutas, aqui consideradas como evidências empíricas das novas formas de<br />

organização do trabalho e gestão empresarial, nos convida a compreender a trama das relações que perpassam as relações global local;<br />

no entanto, o esforço metodológico para separar esses espaços ou unificá-los não se esgota analiticamente, dada a complexidade da<br />

relação (Cavalcanti,1999b) instituída na prática cotidiana dos atores envolvidos.<br />

b) A atualização das desigualdades de gênero. As mulheres que encontraram trabalho e emprego na viticultura alcançaram mudanças<br />

significativas no modo como se relacionavam dentro e fora do espaço doméstico, ressaltando o respeito e o reconhecimento externos por<br />

chegarem a ser trabalhadoras sindicalizadas e representantes sindicais. Segundo seus discursos, na luta por melhores condições de<br />

trabalho, elas passaram a destacar a qualificação que possuíam para lidar com mercadorias tão sensíveis e de “qualidade”. A tentativa de<br />

empregar homens nas fases de pré e pós-colheita da uva gerou alguns protestos de homens e mulheres que resistiam a essa possibilidade.<br />

Isto demonstra a permanência de representações sobre os papéis de homens e mulheres na casa e fora dela.<br />

c) Formas de organização. Três categorias sociais - empresários, colonos e trabalhadores - presentes nos novos contextos produtivos<br />

indicam graus de autonomia e dependência na condução do trabalho e nos elos com os mercados. Cada uma dessas categorias se<br />

constitui por meio de vínculos com a sociedade local, com os mercados e entre si. Com experiências diferenciadas no trato da<br />

fruticultura, muitos investiram na possibilidade de se constituírem como sujeitos competentes nos novos contextos. A VALEXPORT,<br />

a ASCONDIR e as várias pequenas cooperativas evidenciam aspectos de como operar nos mercados. A ASCONDIR, por exemplo, tem<br />

atuado para conseguir novos parceiros para a venda dos produtos e formou uma cooperativa na expectativa de vir a competir no mercado<br />

mundial.<br />

A heterogeneidade de situações em que vivem esses atores lhes exigiu encontrar uma base comum para resistir às propostas de<br />

emancipação e da cobrança de novas taxas pela utilização dos serviços de água e energia. Exemplar é o movimento que se formou,<br />

denominado de irrigantes, pelo qual os produtores do Vale vislumbraram eliminar todas as diferenças entre eles por uma pauta comum<br />

de reivindicações contra a retirada do Estado; esperavam, com isso, tornar visível a sua presença como agentes produtivos do Vale do<br />

São Francisco. Esse movimento lhes assegurou ganhos momentâneos, mas não teve continuidade. São significativos o número de<br />

associações, fusões de empresas e inovações tecnológicas e novas parcerias de trabalho que promovem as transformações requeridas<br />

pelo mercado de produtos de qualidade, como assinalamos a seguir.<br />

d) A externalização da produção e a reestruturação dos setores<br />

Embora recentes, os processos aqui estudados remetem a tendências já observadas, algumas das quais tratadas em trabalhos anteriores<br />

pelos autores deste artigo, nas regiões do Platô de Neópolis e no Vale do São Francisco.<br />

A expansão e a consolidação desses complexos foram acompanhadas por um processo de “exclusão” dos pequenos agricultores de<br />

áreas de sequeiros e colonos dos perímetros públicos irrigados, que deram lugar à “inclusão” de pequenos fruticultores profissionalizados<br />

e mais capitalizados tecnicamente para inserção nos mercados. A inclusão da pequena produção nesse espaço, até então dominado pelas<br />

grandes empresas, constitui um dos principais fatores de expansão e consolidação da fruticultura.Os serviços tornaram-se uma parte<br />

inextrincável do complexo frutícola, envolvendo trabalhadores qualificados, um número significativo de técnicos e firmas, entre outros<br />

profissionais especializados, vinculados a empresas ou como autônomos.<br />

916


As exigências atuais das cadeias de abastecimento de alimentos de qualidade, baseadas em novas combinações e convenções associadas<br />

à natureza e ao local de produção, constituem uma ameaça para as cadeias de produtos convencionais. A capacidade de definir<br />

legitimamente normas ou convenções relativas à qualidade, assim como, de poder adotá-las, se converte numa ferramenta econômica<br />

importante para alcançar o mercado global de alimentos de qualidade.<br />

Os fruticultores buscam, também, novas alternativas de cultivos com fruteiras exóticas, como mangostão, figo da ìndia, lichia, atemóia,<br />

ou apelam para o resgate de produtos tradicionalmente conhecidos, como sapoti e romã, que, até então, não tinham um apelo comercial.<br />

A fusão e associação de algumas empresas e entrada em cena de empresas com “Packing Houses” apenas para comercialização, sem<br />

investimento direto na produção, e o aparecimento de pequenas associações de fruticultores são novos fenômenos que se manifestam<br />

no complexo frutícola do Vale do São Francisco. Assim como, o surgimento da indústria de transformação, à jusante da produção, como<br />

o envasamento da água de coco, processamento de frutas (polpa e doces, etc.) como forma de aproveitamento de produtos e, principalmente,<br />

devido à dificuldade de mercado para alguns produtos, como o coco e a goiaba.<br />

Pelo exposto, fica sublinhado o caráter da nova relação estabelecida entre a agricultura e o novo setor de serviços. Enquanto o número<br />

de trabalhadores na agricultura está sendo reduzido, uma multiplicidade de prestadora de serviços: acondicionamento, embalagem,<br />

apresentação e transporte dos produtos surge com força suficiente para agregar diferentes grupos de produtores que, individualmente,<br />

não alcançariam os mercados mais compensadores. Um novo senso de cooperação emerge como condição para garantir prazos e<br />

qualidades, e também novos conhecimentos técnicos para a circulação dos produtos. Exemplos significativos das novas formas de<br />

relacionamento entre os diferentes setores da economia são observados, apesar dos novos riscos e formas de dependência que, embora<br />

parte da história da agricultura, se acentuam nos novos locais de construção de produtos frescos e perecíveis.<br />

917


Bibliografia<br />

APPADURAI, A. (1994). Modernity at large: Public worlds, v. 1, Minneapolis, London.<br />

APPADURAI, A. (1999). The social life of things. Commodities in cultural perspectives. New York; Cambridge: Cambridge<br />

University Press.<br />

BONANNO, A.; BUSCH, L.; FRIEDLAND,W.;.GOUVEIA, L.; MINGIONE, E.;. (1994). From Columbus to Conagra: the<br />

globalisation of agriculture and food. Lawrence: University of Kansas.<br />

BONANNO, A. (1999). “A globalização da economia e da sociedade: fordismo e pós-fordismo no setor agroalimentar”. In:<br />

CAVALCANTI J. S. B. (org.), Globalização, trabalho, meio ambiente: mudanças socioeconômicas em regiões frutícolas para<br />

exportação, Recife, Editora da UFPE. p.47-96.<br />

BRASIL. Senado Federal. (1995). Relatório especial para o desenvolvimento do Vale do São Francisco. Mimeo.<br />

CAVALCANTI, J. S. B.; FERREIRA IRMÃO, J. (1994). “Globalização, integração regional e seus impactos sobre a produção<br />

familiar: um estudo sobre os sistemas de produção do Vale São Francisco-NE-Brasil”. ENCONTRO NACIONAL DO PROJETO<br />

DE INTERCÂMBIO DE PESQUISA SOCIAL EM AGRICULTURA, 17. 1994. Anais, Porto Alegre: UFRGS; Brasília:CNPq. v.<br />

2, p. 59-72.<br />

CAVALCANTI, J. S. B. (1996). “Globalização, urbanização, constituição e produção da força de trabalho: políticas, energéticas e<br />

irrigação no Vale do São Francisco”. In: MAGALHÃES, S.B., BRITTO R.C., CASTRO, E.R.(Org).Energia na Amazônia.<br />

Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, v.1, p. 421-429.<br />

CAVALCANTI, J. S. B (1997). “Frutas para o mercado global”. Estudos Avançados da USP,(São Paulo, v. 11, nº. 29, p. 79-93, jan./<br />

abr.<br />

CAVALCANTI, J. S. B; RAMOS, J. V.R.; SILVA, A.C.B. da (1998). “El trabajo femenino en la agricultura de exportación. Las<br />

trabajadoras en la producción de uva- Brasil”.. In: BENDINI, M.; BONACCORSI, N. Con las puras manos .Buenos Aires: La<br />

Colmena, p.77-94.<br />

CAVALCANTI, J. S. B. (1999a). “Desigualdades sociais e identidades em construção na agricultura de exportação”. En Heterogeneidades<br />

no Trabalho, Revista Latinoamericana de Estudios del Trabajo (San Pablo), v. 5, n. 9. p. 155-171<br />

CAVALCANTI, J. S. B. (1999b). “Globalização e processos sociais na fruticultura de exportação do Vale do São Francisco”. In: J. S<br />

.B. CAVALCANTI (Org.). Globalização, trabalho, meio ambiente: mudanças socioeconômicas em regiões frutícolas para<br />

exportação, Recife: Editora Universitária/UFPE, p. 123-170.<br />

CAVALCANTI, J. S. B.; SILVA, A.C. B. da. (1999). “Estratégias produtivas de homens e mulheres na fruticultura de exportação: o<br />

caso do Vale do São Francisco”. In: J. S .B. CAVALCANTI (Org.), Globalização, trabalho, meio ambiente: mudanças<br />

socioeconômicas em regiões frutícolas para exportação. Recife: Editora Universitária/UFPE, p. 259 -281<br />

CAVALCANTI, J. S. B.; BENDINI, M.I. (2001). “Hacia una configuración de trabajadores rurales en la fruticultura de exportación en<br />

Brasil y Argentina”. Buenos Aires: CLACSO, p.339-362.<br />

DOUGLAS, M; ISHERWOOD, B. (1996). The world of goods. Routledge, London.<br />

FOLHA DE SÃO PAULO. (2002). “BRASIL exporta mais fruta e ganha menos”. (2002). Folha de São Paulo, São Paulo, 29 jan.<br />

2002. Agrofolha, p. 1.<br />

FRIEDLAND, W. H. (1997). “Commentary on part III: Creating space for food and Agro-Industrial Just in Time”.. In GOODMAN,<br />

D.; WATTS, M. Globalising Food. London, Routledge. p. 226-232<br />

SILVA, A. G. da. (1999). “Trabalho e tecnologia na produção na produção de frutas irrigadas no Rio Grande do Norte”. ”. In: J. S .B.<br />

CAVALCANTI (Org.). Globalização, trabalho, meio ambiente: mudanças socioeconômicas em regiões frutícolas para exportação,<br />

Recife: Editora Universitária/UFPE. p.307-340.<br />

GOODMAN, D.; WATTS, M. (1997). “Agrarian questions: global appetite, local metabolism: nature culture, and Industry in Fin-de<br />

Siècle”. Globalising food. London, Routledge. p. 1-32.<br />

GOODMAN, D. (1999). “Agro-food studies in the’age of ecology: nature, corporeality, bio-politics”. Sociologia Ruralis, v.39, nº.1,<br />

p.17-38.<br />

SILVA, J. g. da. (1999). “Agroindústria e globalização: o caso da laranja em São Paulo”. In: J. S .B. CAVALCANTI (Org.),<br />

Globalização, trabalho, meio ambiente: mudanças socioeconômicas em regiões frutícolas para exportação, Recife: Editora<br />

Universitária/UFPE, p.221-258.<br />

INCRA. (2000). “Diagnóstico e planejamento do desenvolvimento sustentável local: a experiência de Santa Maria da Boa<br />

Vista”_Síntese do Relatório Final. Brasília. INCRA/FAO.<br />

IBGE. (1991). Censo Demográfico do Brasil. Rio de Janeiro.<br />

LARA, S. M. (1998). Nuevas experiencias productivas y nuevas formas de organización flexible del trabajo en la agricultura<br />

mexicana. México: J. Pablos, p.302<br />

LARA, S. M. (2001). “Análisis del mercado de trabajo rural en México, en un contexto de flexibilización”. Buenos Aires: CLACSO,<br />

p. 363-382.<br />

LONG, N. (1996). “Globalization and localization: new challenges to rural research”. In: MOORE H. (Ed.). The future of<br />

anthropological knowledge. The uses of knowledges. Global and local relations. London: New York, Routledge. (ASA<br />

Deccennial Conference Series).<br />

MARSDEN, T. K.; CAVALCANTI, J. S. B.; FERREIRA IRMÃO, J. (1996). “Globalization, regionalisation and quality: the socioeconomic<br />

reconstitution of food in the San Francisco Valley, Brazil”. International Journal of Sociology and Food, Pullman,<br />

v.5; p.85-114.<br />

MARSDEN, T. K.(1997). “Creating space for food: the distinctiveness of recent agrarian development”. In: GOODMAN, David;<br />

WATTS, Michel, Globalising food. London: Routledge. p. 169-191.<br />

MARSDEN, T. K.. (1999). “Globalização e sustentabilidade: criando espaços para alimentos e natureza”. In: CAVALCANTI J. S .B.<br />

(Org.), Globalização, trabalho, meio ambiente: mudanças socioeconômicas em regiões frutícolas para exportação. Recife:<br />

Editora Universitária/UFPE, p.25-46.<br />

MARSDEN, T. K.; CAVALCANTI, J. S. B.(2001). “.Globalisation, sustainability and the new agrarian regions. Food labour and<br />

918


environmental values”. Ciência e Tecnologia, v. 18, p. 39-68.<br />

MARTINE, G. (1987). “Efeitos esperados e imprevistos da modernização agrícola no Brasil”. In: MARTINE, G.; GARCIA, R. C.<br />

(Orgs.), Os impactos sociais da modernização agrícola. São Paulo: Caetés. p. 9-19.<br />

MCMICHAEL, P. (1994). The Global restructuring of agro-food systems, Ithaca: Cornell University Press.<br />

MENNEL, S.; MURCOTT, A; OTTERLOO, A. H. van (1994). The sociology of food: eating, diet end culture. SAGE Publication,<br />

London.<br />

MIRIZOLA FILHO, L. A. (2000). “Produção de coco aumenta 25% em São Paulo”. Folha de São Paulo, São Paulo: 28 de nov. de<br />

2000. Agrofolha, p. 3. Entrevista.<br />

MOTA, D. M. da. (1999). “Trabalho permanente e temporário na fruticultura irrigada nordestina: o Platô de Neópolis/SE”. Raízes, v.<br />

20, p. 63-75.<br />

MOTA, D. M. da. (2001). “O trabalho temporário no projeto de irrigação Platô de Neópolis, SE”. Cadernos de Ciência & Tecnologia,<br />

v. 18, p. 113-134.<br />

OLIVEIRA, A. C. de. (Coord.) (1991). “Impactos Econômicos da irrigação sobre o pólo Petrolina-Juazeiro”. Recife: Editora<br />

Universitária da UFPE.<br />

PIÑERO, D. E. (1999): “Trabajadores rurales y flexibilización laboral. El caso do Uruguay”. In: APARICIO, S.; BENENCIA R.<br />

(Orgs), Empleo rural en tiempos de flexibilidad. Buenos Aires: La Comena, p. 99-132.<br />

PIRES, M. L. L. e S. (1999). “O cooperativismo agrícola em questão. A trama de relações entre projeto e prática em cooperativas do<br />

Nordeste do Brasil e do Leste (Quebec) Canadá”. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Pernambuco.<br />

REDCLIFT, M. (1998). “Global environmental change and global inequality. North/South perspectives”. International Sociology,<br />

v.13, n. 4, p. 499-516.<br />

RODRIGUES, J.F.(2001). “Políticas públicas e modernização na região de fruticultura no Rio Grande do Norte: O lugar da<br />

agricultura familiar. Dissertação de Mestrado. Recife: Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPE.<br />

SILVA, M. A. de M. (1999). Errantes do fim do século. São Paulo: Editora da UNESP.<br />

SILVA, P. C. G. da. (2001). “Articulação dos interesses públicos e privados no Pólo Petrolina-PE/Juazeiro-BA: em busca de<br />

espaço no mercado globalizado de frutas frescas”. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.<br />

1 Apoio CNPq e Embrapa<br />

2 Ph.D. Professora de Sociologia e Antropologia do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco-<br />

UFPE, Pesquisadora do CNPq.E—mail: jsaletec@hotlink.com.br<br />

3 Socióloga Rural, M. Sc., Pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia<br />

da UFPE; bolsista do CNPq. E-mail: dalvamot@elogica.com.br<br />

4 Doutor em Economia, Pesquisador da Embrapa Semi-Árido, Petrolina-PE E-mail:pgama@cpatsa.embrapa.br<br />

5 Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste.<br />

6 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária<br />

7 Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba<br />

8 Plano para o desenvolvimento do Vale do São Francisco.<br />

9 Associação de produtores Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco<br />

10 Associação dos Concessionários do Distrito de Irrigação do Platô de Neópolis<br />

11 Instituto Brasileiro de Frutas<br />

12 Caracterizados por sua alta eficiência na aplicação de água, de forma localizada, na região das raízes mais efetivas, com economia de<br />

energia. Esses sistemas permitem diversos graus de automação, inclusive automação total, além de permitir aplicações de fertilizantes<br />

via água, a fertirrigação, melhorando a disponibilidade de nutrientes para as culturas irrigadas.<br />

13 A densidade de plantio utilizada nos cultivos de coqueiro é de 205 por ha, ao passo que para as culturas do citros e bananeira, estas<br />

densidades são de 470 e 2000 plantas ha, respectivamente.<br />

919


REESTRUCTURACIÓN DE LA PRODUCCIÓN Y DEL TRABAJO EN LA<br />

AGRICULTURA. EL CASO DE LA PRODUCCIÓN DE PAPA EN LA PRO<strong>VI</strong>NCIA DE<br />

BUENOS AIRES, ARGENTINA.<br />

Introducción<br />

Marcela C. López. Facultad de Humanidades. Universidad Nacional de Mar del Plata. Buenos Aires. Argentina.<br />

E-MAIL: maclopez@mdp.edu.ar / maclopez@uolsinectis.com.ar<br />

En este trabajo se propone hacer un análisis de las transformaciones en la producción de papa a partir de la conformación del<br />

MERCOSUR y en el marco de los procesos de reestructuración productiva que experimenta la agricultura en las últimas décadas.<br />

Los procesos que se destacan se vinculan con la reorientación de la producción hacia el procesamiento industrial y la importancia de<br />

la calidad como eje del proceso productivo, a partir de las innovaciones tecnológicas introducidas por la articulación con la<br />

agroindustria. Se asiste así, a un nuevo escenario en el que se redefinen las condiciones de producción y se plantean nuevas tendencias<br />

en el mercado laboral y en el proceso de trabajo.<br />

Las perspectivas de ampliación del mercado con aumentos en las exportaciones de alimentos a Brasil, posibilitaron el ingreso de<br />

empresas multinacionales agroalimentarias con vistas a abastecer dicha demanda. En este contexto se profundiza la adopción tecnológica<br />

y se incorporan crecientes exigencias de calidad en la producción, que impactan en los aspectos cuantitativos y cualitativos de la<br />

fuerza de trabajo.<br />

De acuerdo con lo que plantean algunos autores, actualmente se asiste a una «economía de calidad», en donde ésta se ha convertido en<br />

una estrategia fundamental que define la competitividad de las empresas en una economía globalizada. Los criterios de calidad se<br />

definen en función de las características que adquieren los diferentes mercados que al ampliar las posibilidades de expansión a través<br />

de la apertura comercial, permiten diversificar la producción no sólo al aumentar la oferta de productos sino también al modificar las<br />

pautas de consumo y condiciones de producción en el mercado local. (S. Lara, 1998).<br />

En la producción de papa estos procesos han significado un importante cambio, al tratarse de un producto destinado tradicionalmente<br />

a un mercado interno poco exigente. La industria procesadora se ha transformado en un demandante creciente de materia prima de alta<br />

calidad, iniciando un profundo cambio productivo a escala local relacionado con la incorporación de innovaciones tecnológicas,<br />

introducción de nuevas variedades de semillas y determinados manejos culturales.<br />

1. La dinámica de los procesos de reestructuración en la agricultura.<br />

La dinámica impuesta por la globalización lleva a un proceso de reestructuración del capital, siendo las empresas transnacionales los<br />

actores principales de este proceso. Estas imponen sus lógicas al participar en mercados altamente competitivos donde la calidad de<br />

los productos y una demanda exigente definen las nuevas condiciones de producción y comercialización. En la producción agraria<br />

estos procesos están vinculados con la expansión de empresas agroindustriales de origen transnacional. ((M.Teubal, 1999).<br />

920


Para poder llevar a cabo sus estrategias de acumulación las empresas agroindustriales tienen la necesidad de articularse para controlar<br />

determinadas etapas del proceso productivo. Estas articulaciones son importantes también porque la empresa necesita obtener una<br />

oferta regular y de determinada calidad de la materia prima. Esto lleva a las empresas a imponer a los productores articulados con ellas,<br />

nuevos procesos productivos e innovaciones tecnológicas que aseguren la provisión de materia prima acordes con las normas de<br />

calidad vigentes en mercados altamente competitivos.<br />

Una de las características más importantes del proceso de reestructuración en la producción agrícola es la diversificación productiva<br />

que supone la reorientación de una parte de la producción hacia cultivos no tradicionales 1 , generándose así una demanda de productos<br />

nuevos y de gran calidad que inscriben una nueva lógica a la producción.<br />

En el caso de la producción de papa, la reorientación hacia el procesamiento industrial transformó la forma de producción de un<br />

producto tradicionalmente destinado hacia el mercado interno para la producción en fresco, provocando nuevas exigencias en la<br />

demanda de calidad por parte de la industria. De esta manera la producción de papa para consumo masivo se diversifica al ampliarse<br />

la oferta destinada a diferentes consumos y distintos tipos de mercados (nacionales y extranjeros).<br />

Este proceso se encuentra dominado por la penetración de capital extranjero agroindustrial que se articula con la producción de papa<br />

en el sudeste de la provincia de Buenos Aires, desempeñando un importante papel en la modernización del sector. Esa modernización<br />

implica para las empresas agrícolas una mayor diversificación de la producción, eficiencia tecnológica, optimización y flexibilización<br />

en el uso de la mano de obra, e integración a través de contratos con el sector agroindustrial.<br />

Para lograr mayor rentabilidad, la producción destinada al procesamiento industrial requiere aumentar los rendimientos y la calidad<br />

del producto, exigiendo una producción con mayor inversión en capital y nuevas técnicas de manejo del cultivo y de post - cosecha<br />

que adquieren una importancia significativa al asegurar la eficiencia del proceso productivo.<br />

Esta reestructuración no consiste solamente en tecnificar los procesos productivos, sino que incluye procesos mucho más complejos.<br />

La tendencia hacia una flexibilización de la agricultura produce la coexistencia de formas tradicionales y modernas de organizar la<br />

producción y el trabajo, dando lugar a una organización flexible del trabajo para responder a las exigencias de una agricultura inserta<br />

en un contexto de mercados altamente competitivos y volátiles. (Neiman, 2000).<br />

El proceso de reestructuración productiva redefine nuevas formas de organización flexible del trabajo «las cuales se basan en la<br />

refuncionalización de viejas formas de empleo». (Lara,1998 :39). En países con abundante mano de obra, como en América Latina, las<br />

empresas resuelven sus problemas de innovación tecnológica (cuando esta es muy costosa), recurriendo al uso flexible de fuerza de<br />

trabajo.<br />

La incorporación de innovaciones tecnológicas en los procesos productivos incide de diferente manera en el uso de fuerza de trabajo.<br />

Así, ciertas tecnologías demandan nuevos puestos de trabajo, mientras que otras los reducen. Ciertas mejoras como en riego,<br />

herbicidas o mecánicas pueden ahorrar mano de obra, o requerir mano de obra más calificada (técnicos o ingenieros). Otras innovaciones<br />

químicas, biológicas o de manejo, pueden aumentar la demanda de trabajadores no calificados debido al aumento de los rendimientos,<br />

o pueden disminuirla y aumentar su productividad.<br />

El proceso de reestructuración en la producción de papa responde a la necesidad de adaptar la producción a las nuevas exigencias de<br />

mayor calidad demandadas desde la industria al sector primario. Los productores que responden a los estándares de calidad exigidos<br />

son los que participan de este proceso, que a su vez les permite diversificar su producción al ampliar la oferta de productos a<br />

diferentes mercados. Las nuevas condiciones en las que se desenvuelve la producción local, implican también un cambio en los<br />

criterios que rigen la organización de la producción, y llevan a la búsqueda de la calidad como estrategia empresarial. En este sentido,<br />

se revierte una lógica productivista (Neiman, Bocco, 2001) basada en la cantidad, dirigida principalmente a la producción en fresco<br />

para un mercado interno poco exigente, y se crean nuevas demandas de calidad a partir de la articulación agroindustrial.<br />

921


Los nuevos patrones productivos que se desarrollan en la agricultura en las últimas décadas, se vinculan con la búsqueda de la calidad<br />

y la diversificación de la producción, como estrategia de competitividad de las empresas agrícolas. El contexto en el que se desarrollan<br />

estas transformaciones está definido a partir de la conformación de mercados altamente competitivos, que determinan un constante<br />

proceso de búsqueda, cambio y adaptación por parte de las empresas para enfrentar la competencia. La reestructuración de la<br />

producción agrícola generada como consecuencia de estos procesos, plantea nuevas tendencias que se concretan en la búsqueda de<br />

pautas de producción más flexibles, con la finalidad de lograr una oferta de productos que posean mayor calidad y diversidad, y que<br />

permitan responder a las exigencias de los mercados.<br />

La flexibilización de los procesos productivos que permite adecuar la producción a las exigencias de la demanda, incluye también<br />

importantes transformaciones tecnológicas y organizativas tendientes a asegurar una mayor productividad y eficiencia. En este<br />

proceso no se descartan antiguas formas de organización del proceso de producción, estas se siguen usando si permiten ahorrar costos<br />

y garantizar una mejor calidad en la producción. La tendencia hacia una «flexibilización de la agricultura» (Neiman, 2000), o el<br />

surgimiento de una «agricultura flexible» (Lara Flores, 1998), presente en los actuales procesos de reestructuración del sector,<br />

imprime una nueva lógica productiva a la agricultura y llevan a redefinir las formas de organización del proceso de producción y de<br />

trabajo.<br />

2. Nuevas condiciones de la producción de papa en el contexto del MERCOSUR<br />

La creación del Mercosur responde a las nuevas condiciones en las que se desarrolla la economía mundial que propicia la apertura y<br />

desregulación de los mercados, como estrategia para lograr mayor competitividad entre las empresas transnacionales. En función de<br />

las recomendaciones de políticas económicas por parte de organismos internacionales a los estados latinoamericanos, comienzan a<br />

aplicarse a partir de la década de los ’90 medidas tendientes a asegurar el accionar de las empresas en el mercado.<br />

El MERCOSUR abre nuevas posibilidades de expansión, en especial de productos alimenticios, a esto se suman las ventajas<br />

comparativas que brindan las condiciones naturales sobre las que se sustenta la producción agrícola en la Argentina. Debe agregarse<br />

además, la importancia que históricamente tiene este sector en las economías de Brasil y Argentina, los países más importantes del<br />

MERCOSUR. Las ventajas que ofrece un gran mercado de consumo masivo en expansión estimulan un cambio muy rápido en la<br />

industria agroalimentaria de ambos países y los impactos están presentes más que en ningún otro sector. (Huici y Schavarzer, 1993).<br />

La vertiginosa expansión reciente de cadenas de comidas preparadas (Mc Donald’s) 2 , es otro elemento de la actividad de las empresas<br />

de dimensiones multinacionales que afecta la orientación de las producciones locales. Las exigencias y normas de esas cadenas<br />

condicionan la calidad y la magnitud de diversos rubros de la rama alimentaria y contribuye a uniformar los standards aplicados<br />

internacionalmente. Estas operaciones están teniendo un rol muy importante en Argentina y en Brasil. El volumen creciente de su<br />

demanda de insumos los convierte en otra alternativa para la comercialización de ciertos alimentos, pero su poder de compra les da<br />

autonomía con respecto a la industria: la posibilidad de seleccionar sus proveedores los convierte un una pieza clave en el proceso de<br />

integración regional. (Huici y Schavarzer, 1993. op.cit.).<br />

Este proceso de expansión del mercado en el MERCOSUR determinó un aumento de la inversión extrajera directa en ciertos rubros<br />

de la industria agroalimentaria, que permitió la instalación de empresas proveedoras de insumos para las cadenas de comida rápida.<br />

(Ghezán, Mosciaro, Mateos, 1995).<br />

En el sudeste bonaerense, el caso de la instalación de la empresa Mc.Cain responde a las ventajas que genera la articulación de esta<br />

empresa como proveedora de papas preprocesadas a la cadena de comidas rápidas Mc Donald’s, para abastecer el mercado de<br />

Argentina y Brasil. Más de la mitad de la producción nacional de papa congelada se exporta, casi en su totalidad al mercado brasileño.<br />

En 1997 las ventas externas en el país totalizaron 28.000 tn. y el 95% del volumen colocado se destinó a la cadena Mc. Donald en<br />

Brasil. Esto significó un crecimiento del 34% con respecto a 1996 3 , este fuerte incremento se debió a la puesta en marcha de la<br />

empresa Mc. Cain a partir de 1995.<br />

922


Otras transformaciones que produjo la constitución del MERCOSUR están vinculadas a la expansión de las exportaciones de papa<br />

para consumo fresco hacia Brasil. Las posibilidades de exportación alentaron a los productores a incorporar cambios tendientes a<br />

mejorar la calidad de la producción destinada a este mercado, como el acondicionamiento del producto y su presentación (cepillado,<br />

clasificación, lavado y embolsado).<br />

Las nuevas condiciones en la producción que se imponen con el MERCOSUR, han modificado los patrones de importación y<br />

exportación de papa, al incorporar nuevos productos y diversificar el intercambio comercial intraregional. El aumento de las exportaciones<br />

de papa congelada se suma a los tradicionales rubros de papa para consumo y semilla, aumentando el dinamismo del comercio regional<br />

y diversificando su producción. Se asiste así, a un proceso de reestructuración productiva caracterizado por un aumento de la<br />

diversificación de la producción vinculado a las diferentes calidades demandadas por mercados con distintas exigencias y escalas.<br />

2.1. Las transformaciones en la producción<br />

Las transformaciones de la agricultura moderna y los cambios en los procesos productivos están regidos por la incorporación de<br />

normas de calidad que permite satisfacer diferentes demandas y crear nuevos mercados.<br />

En la región Pampeana los procesos de reestructuración en la producción agrícola y su impacto sobre el mercado de trabajo rural, están<br />

vinculados con la acción de empresas transnacionales agroalimentarias que se han articulado en esta última década con producciones<br />

destinadas tradicionalmente para el mercado interno.<br />

A partir de 1990 la expansión capitalista en la producción de papa en el sudeste bonaerense se encuentra estrechamente vinculada a<br />

la articulación agroindustrial, produciéndose modificaciones en el proceso productivo en la etapa primaria, y cambios en el interior de<br />

las explotaciones debido a la incorporación de innovaciones tecnológicas.<br />

Estas transformaciones se produjeron en gran medida por la radicación de industrias con requisitos específicos de materia prima en la<br />

región, cuyo objetivo es la producción de papas preprocesadas para la exportación y satisfacer también, una demanda creciente de<br />

estos productos en el mercado interno.<br />

La articulación con el sector agroindustrial generada a partir de la instalación de la empresa Mc. Cain en 1995, ha impactado en el sector<br />

primario al imponer esta empresa requerimientos tecnológicos al productor relacionados con la calidad de la materia prima y<br />

subordinando sus decisiones de producción a la industria. A través de la firma de contratos de producción la empresa se asegura que<br />

el productor adopte las innovaciones tecnológicas que permitan aumentar los rendimientos, y la calidad de la materia prima necesarias<br />

para el proceso industrial. A través de estos acuerdos se pactan las convenciones de calidad que determinan las condiciones de<br />

producción que son impuestas por la industria hacia el sector primario.<br />

Esta estrategia de construcción de calidad, permite a la industria asegurarse el abastecimiento de producción con una calidad<br />

determinada a los fines industriales a partir de la firma de contratos con los productores. Estas innovaciones institucionales buscan<br />

aumentar la seguridad en el abastecimiento, con lo cual se asegura el control del proceso productivo y de trabajo en el sector primario.<br />

A través de la conformación de contratos, la industria induce las innovaciones técnicas y de manejo de los cultivos que le permiten<br />

obtener una producción adecuada en calidad, productividad y adecuar los tiempos de entrega en función de la demanda final. Este<br />

control del proceso productivo se acompaña de un seguimiento del mismo, a partir del asesoramiento técnico a los productores, la<br />

industria induce la incorporación de distintas variedades de semillas, uso de agroquímicos, utilización de equipos de riego, cosecha,<br />

entrega a granel y nuevas técnicas en el manejo del cultivo.<br />

Desde esta perspectiva de análisis el estudio de las transformaciones en la producción de papa en el sudeste de la provincia de Buenos<br />

Aires, está relacionado con la diversificación de la producción destinada a mercados con mayores exigencias de calidad de la materia<br />

prima que en el mercado interno, generando importantes innovaciones tecnológicas por parte de aquellos productores articulados al<br />

capital agroindustrial a través de la agricultura de contrato.<br />

923


Los criterios de calidad de las empresas responden a las especificaciones y exigencias de los distintos mercados y consumidores. En<br />

la elaboración de productos congelados, semipreparados y precocidos las empresas vinculan la calidad del producto al servicio que<br />

ofrecen, las propiedades del producto deben facilitar la elaboración de las comidas en forma rápida (fast food). Para el caso de la<br />

producción de papa, con el aumento de la demanda industrial, se establecen nuevos criterios en la definición de la calidad que los<br />

productores deben incorporar en la producción para facilitar el procesamiento industrial.<br />

La producción de papa prefrita congelada en nuestro país a experimentado un importante aumento quintuplicando su producción<br />

desde 1995 4 . En 1998 el 81% de la producción de papa para industria corresponde a papa prefrita congelada que representan 75.500<br />

toneladas, de esta se exportan 41.677 toneladas, es decir más de la mitad de la producción.<br />

Para 1998 el volumen total de producción de papa se estima en 3.400.000 toneladas, de los cuales un 82% corresponde a la<br />

producción de papa consumo, el 8% a semilla y el 6 % a la industria Este incremento en la producción también ha significado una<br />

diversificación en las exportaciones, dado que a las producciones papa consumo y semilla se suman las crecientes exportaciones de<br />

papa congelada.<br />

Las calidades en papa destinada al procesamiento industrial para la elaboración de papa prefrita en bastones congelada, tienen que ver<br />

con nuevas exigencias en los aspectos internos y externos del tubérculo. (Huarte, M.; Cacace, J., 1996), la eficiencia del procesamiento<br />

industrial depende de estos componentes.<br />

Estudios vinculados con las transformaciones recientes en la producción de papa (Mateos, Capezio, 2000), analizan las condiciones<br />

de los contratos realizados por los productores con la industria procesadora, señalando un aumento de las exigencias de calidad desde<br />

1994 y la importancia del seguimiento tecnológico por parte de la empresa sobre los productores. A través de este seguimiento la<br />

industria se asegura la calidad de la materia prima de acuerdo con las condiciones fijadas en los contratos y además, puede establecer<br />

nuevas exigencias y condiciones de rechazo de acuerdo con las evaluaciones que se realizan a lo largo del proceso productivo.<br />

A partir de un sistema de premios y castigos, la industria establece una serie de bonificaciones o descuentos tendientes a asegurar<br />

determinadas condiciones en los aspectos internos o externos de la producción que garantizan eficiencia en el procesamiento<br />

industrial. A cambio, asegura a los productores el cumplimiento de los plazos de pago establecidos en los contratos y otorga<br />

financiamiento de equipos de riego, siembra, cosecha e insumos básicos (como la semilla) que puede ser pagado a cambio de la entrega<br />

de una parte de la producción.<br />

Las nuevas condiciones en las que se desempeña la producción papera, han llevado a los productores a contar con el asesoramiento<br />

técnico de la empresa, sobre riego, siembra, uso de semillas, fertilización, uso de maquinarias y a la necesidad de disponer de personal<br />

más capacitado. De esta manera se producen cambios en el interior del proceso productivo, por el incremento en los rendimientos y<br />

en la productividad de la mano de obra, aumentando también las exigencias de acondicionamiento, clasificación y conservación de la<br />

producción.<br />

Estos cambios en las condiciones de producción y la importancia de la calidad son elementos relevantes en el proceso de reestructuración<br />

de la producción de papa, ya que implican profundas transformaciones en el sector a partir de una fuerte inversión directa de capital<br />

extranjero que llevó a la modernización de la producción. Las transformaciones recientes de la producción asociada a la dinámica de<br />

firmas agroindustriales transnacionales, se constituye en uno de los factores más importantes que han impulsado cambios tecnológicos<br />

de relevancia, transformando las etapas al interior del proceso productivo, y estableciendo nuevas relaciones entre los distintos<br />

actores participantes.<br />

3. Cambios en el proceso de producción y de trabajo<br />

Las nuevas condiciones en las que se desarrolla la producción modifican también las fases del proceso productivo, no sólo por la<br />

mayor eficiencia tecnológica que estas transformaciones implican, sino también por la redefinición de ciertas etapas dado la mayor<br />

924


elevancia que adquiere la clasificación y acondicionamiento de los productos en la etapa de post cosecha como elemento determinante<br />

en la recepción de la producción por parte de la industria, o las crecientes exigencias en el corte etapa llevada a cabo antes de la siembra<br />

impactando en los rendimientos y el tamaño de los cultivos.<br />

Estos cambios que han tenido lugar en la producción de papa conducen a la incorporación de nuevas tecnologías (nuevos equipos de<br />

riego, siembra, mecanización de cosecha, transporte a granel) y nuevas variedades de semillas que suponen avances significativos en<br />

materia de biotecnología y determinados manejos culturales que impactan de manera diferencial en el proceso de trabajo.<br />

Recientemente la industria financia entre los productores la incorporación de tecnologías ahorradoras de mano de obra 5 , como la<br />

cosechadora mecánica y el transporte a granel; así como un aumento de la exigencia en las tareas de acondicionamiento y conservación<br />

de la producción que implican transformaciones en el proceso de trabajo.<br />

El uso de semillas para industria, equipos de riego, y el transporte a granel fueron las primeras innovaciones realizadas por los<br />

productores a partir de la articulación con la agroindustria. La cosecha mecánica debido a su alto costo, se está incorporando a través<br />

de créditos que la industria otorga a los productores. Como consecuencia se ha ampliado la posibilidad de contratar el servicio<br />

debido al surgimiento de contratistas de cosecha. Según un productor «....nos conviene contratar a contratistas y no comprar<br />

máquinas, no nos conviene inmovilizar tanto capital para la cantidad de hectáreas que tenemos, conviene mecanizarse si se hace<br />

mucha cantidad «.<br />

La cosecha mecánica representa un ahorro significativo de mano de obra, dado que en un día de trabajo con una máquina se reemplaza<br />

el trabajo de una cuadrilla de 20 trabajadores. Un trabajador cosecha un total de 100 bolsas al día independientemente del rendimiento<br />

de la hectárea y con una máquina, de acuerdo al rinde de la hectárea, se pueden cosechar aproximadamente 2400 bolsas por día.<br />

Esto determina una importante disminución de costos para aquellos productores que tienen una mayor extensión de siembra y altos<br />

rendimientos. Según el testimonio de un productor la cosecha mecánica conviene más que la cosecha manual porque, «Los productores<br />

más chicos pueden contratar mano de obra, pero los grandes productores con más de 7 mil toneladas y 200 hectáreas tienen que<br />

contratar cosechadora o comprarla».<br />

«...Con una máquina de papa cosechás por día 5 hectáreas, y la cantidad de papa depende de lo que rinda la hectárea. Lo que sí, una<br />

máquina equivale a una cuadrilla mas o menos de 20 personas». ...» Una persona te cosechará 100 bolsas por día, con 20 personas<br />

se juntan 2000 bolsas por día independientemente del rendimiento. Y con una cosechadora, si se hacen 4 hectáreas y rinde 600 bolsas<br />

estás juntando 2.400 bolsas, el ahorro está en el costo de la mano de obra. La cosechadora te levanta todo, en cambio la gente deja<br />

más papa en el campo».<br />

Por lo tanto, con la cosecha mecánica se reduce la demanda de mano de obra ya que se requiere contratar menor cantidad de<br />

trabajadores, y al mismo tiempo aumenta su productividad al permitir cosechar mayor cantidad y calidad, haciendo más eficiente esta<br />

etapa del proceso productivo.<br />

La incorporación de cosecha mecánica se encuentra en una etapa de transición ya que aún conviven los dos sistemas, si bien se ve<br />

favorecida por la aparición de contratistas, su adopción es aún incipiente y centrada en los productores más diversificados ya que<br />

producen para diferentes mercados; y también en aquellos cuya producción tiene principalmente destino industrial.<br />

La cosecha a granel exigida por la industria, fue la causa que indujo a los productores a incorporar primero el transporte a granel<br />

(tolvas), y a crear un sistema mixto de cosecha utilizando mano de obra. De acuerdo a lo planteado por un productor en este sistema<br />

la producción «... .es sacada con la gente, la tiran a bolsones y ahí ya pasa a granel y el bolsón lo descargan en las tolvas...».<br />

925


Esta estrategia permitió a los productores adaptarse a las demandas de la industria sin invertir en la compra de máquinas, manteniendo<br />

formas de producción tradicionales en una fase del proceso productivo cuya inversión de capital todavía es muy importante, y en<br />

donde existe la disponibilidad de contratar mano de obra a bajo costo. La depreciación de la mano de obra permite flexibilizar su uso<br />

para disminuir costos e incide además, en la falta de adopción de la cosecha mecánica en forma generalizada. Según el testimonio de<br />

un productor « si yo tengo que cosechar con la máquina me sale lo mismo que cosechar con la gente, no menos me sale cosechar con<br />

la gente, porque la gente no quiere perder su trabajo, entonces se va a reducir más el salario cada día, es así «.<br />

Por otra parte, la cosecha mecánica y el transporte a granel al aumentar la escala en la producción, plantean nuevas condiciones en<br />

la etapa de poscosecha. En el caso de la producción industrial la recepción a granel permite a la industria trabajar a gran escala<br />

reduciendo tiempo y costos haciendo más eficiente la operatoria de la producción. Para su tratamiento se requieren de plantas de<br />

reacondicionamiento y almacenamiento de la producción destinada tanto a industria o mercado en fresco.<br />

La mecanización imprime una nueva dinámica en el proceso de producción y en el proceso de trabajo, dado que la cosecha mecánica<br />

se encuentra asociada al transporte a granel y produce la desaparición del embolsado a campo, esto de acuerdo a un productor,<br />

«reduce los tiempos de trabajo, ya que con una persona se hace en 40 minutos lo que antes se hacía con 10 personas en una hora»,<br />

de esta manera también se estaría reduciendo mano de obra en esta etapa del proceso productivo.<br />

Las crecientes exigencias en el tratamiento de la producción inciden en la etapa de pos cosecha y acondicionamiento, que comprenden<br />

las actividades de cepillado, lavado, clasificado y embolsado. La producción es clasificada de acuerdo mercado de destino. Para el<br />

mercado interno las exigencias son menores y el descarte es mínimo, solamente se tiene en cuenta el tamaño y que no presente<br />

descomposición, aunque cabe aclarar que para este mercado la tendencia hacia una mejor presentación y calidad de la producción es<br />

creciente. Para la industria se tiene en cuenta otras exigencias específicas en el aspecto externo e interno del tubérculo, para lo cual se<br />

debe entrenar al personal en el reconocimiento de las distintas variedades y en los defectos externos a tener en cuenta. Esto determina<br />

un descarte de un 15 y 20 % para la industria y de un 30% para la producción destinada a la exportación.<br />

La clasificación y la selección son actividades que adquieren gran importancia ya que garantizan la calidad que el mercado exige. La<br />

contratación de mano de obra femenina en forma temporal en esta etapa está vinculada a la habilidad personal que se le atribuye a las<br />

mujeres para la realización de las tareas de selección y clasificación. Esto determina un aumento en las exigencias ya que se le demanda<br />

que controlen determinados aspectos de la producción que aseguren calidad al producto. Esta habilidad personal no significa un<br />

reconocimiento salarial o una mejora en las condiciones de contratación ya que las mismas se enmarcan en un contexto de fuerte<br />

precariedad del empleo y desprotección legal.<br />

El corte de papa semilla se realiza previo a la siembra, es otra actividad que requiere contratación de mano de obra temporaria femenina<br />

y masculina. El tamaño de los cortes como la distancia a la cual se siembran son recomendaciones planteadas por la industria a los<br />

productores. El tamaño de los cortes es importante porque incide en el tamaño de los cultivos y en el rendimiento, es así que para cada<br />

variedad de semilla se realiza un corte diferente, para lo cual también se debe entrenar al personal.<br />

La técnica del corte no sólo está relacionada con el tamaño de acuerdo a la variedad, sino que también el trabajador debe identificar los<br />

«ojos» o «brotes» que significan el nacimiento de una planta. Es por eso que esta técnica requiere también de una habilidad manual<br />

específica que se le demanda al trabajador y su importancia radica en que determina el rendimiento de la producción. Si bien existe<br />

cortadora mecánica, su uso está restringido debido a que el porcentaje de error es mayor que en el cortado manual, ya que en el<br />

momento de la siembra, algunos cortes se pierden o las plantas nacen débiles lo que implica una disminución de los rendimientos y<br />

aumentos en los costos de producción. Al respecto el testimonio de un productor plantea: «Yo creo que no se ha logrado todavía la<br />

cortadora mecánica que supere a la persona, a lo mejor en velocidad sí, en cantidad pero no en calidad. Y yo al momento de sembrar<br />

quiero calidad». «...digamos que el productor que priorice calidad contrata gente porque también tiene su costo el corte de la<br />

máquina».<br />

En la siembra se han incorporado técnicas de gran precisión que permiten asegurar las condiciones para la cosecha mecánica llegando<br />

a perfeccionar el manejo del cultivo en esta etapa. Este sistema permite no sólo planificar las distancias de plantación de acuerdo a la<br />

densidad que exige la variedad, sino también controlar y anular el porcentaje de repetición de las plantas lo que permite aumentar el<br />

potencial de rendimiento de los cultivos. Para el logro de estos requerimientos técnicos se necesita personal capacitado que tenga no<br />

solo un conocimiento del funcionamiento de los equipos, también se requiere que conozca el estado del suelo para que las condiciones<br />

de siembra y cosecha sean óptimas.<br />

926


En la cosecha mecánica también las exigencias son crecientes en cuanto al manejo y funcionamiento de los equipos, y el continuo<br />

acondicionamiento de los mismos a las condiciones del suelo y la humedad. Estos procedimientos técnicos que permiten garantizar un<br />

buen tratamiento de la producción, son llevados a cabo por personal capacitado ya que el operario debe controlar y asegurar que las<br />

condiciones de cosecha de la producción cumplan con los estándares de calidad exigidos.<br />

Estas transformaciones en las condiciones de producción plantean nuevas tendencias en el proceso de producción y de trabajo. En<br />

primer lugar, se incorporan tecnologías ahorradoras de mano de obra que demandan mayores conocimientos técnicos y personal<br />

capacitado en el manejo de maquinas sembradoras, cosechadoras y equipos de riego sofisticados.<br />

También se exigen nuevas habilidades vinculadas con los trabajos manuales de cortado, clasificado y acondicionamiento en la etapa de<br />

post cosecha, ya que se demandan otras competencias vinculadas con la calidad del trabajo que tienen que ver con habilidades<br />

personales más que con la calificación asociada a los puestos de trabajo. La selección y clasificación no es ya una tarea rutinaria, al<br />

trabajador se le exige que controle las características del producto a recolectar para lograr una producción que cumpla con la calidad<br />

demandada por la industria. Estos cambios implican mayor involucramiento y compromiso por parte del trabajador para cumplir con<br />

determinadas tareas y el surgimiento de nuevas formas de polivalencia que se suman a las ya existentes en la actividad.<br />

Por último cabe destacar otras situaciones que enmarcan estas nuevas tendencias en el proceso de trabajo, relacionadas con la<br />

terciarización de las tareas o la contratación de distintos prestadores de servicios (siembra, cosecha mecánica y transporte a granel)<br />

por parte de los productores. Esta estrategia posibilita disminuir los costos y hacer más eficiente la producción, debido la elevada<br />

inversión de capital que implica la compra de estos equipos.<br />

Conclusiones<br />

La reorientación de la producción hacia el procesamiento industrial, y la importancia de la calidad como eje del proceso productivo es<br />

una de las transformaciones más relevantes de la producción de papa y plantea nuevas condiciones vinculada con la ampliación de la<br />

demanda en una producción destinada tradicionalmente al mercado interno.<br />

La reestructuración productiva en la producción de papa se encuentra fuertemente vinculada a la demanda de producción de alta<br />

calidad por parte de la industria a través de la agricultura de contrato. Por lo tanto las estrategias de las empresas agrícolas para<br />

adaptarse a los cambios y condiciones que la articulación agroindustrial impone, están determinadas por las necesidades productivas<br />

y tecnológicas de la industria, que a través de un constante monitoreo y seguimiento de la producción, asume el control del proceso<br />

de producción y de trabajo.<br />

El sector primario se ha adaptado a las exigencias tecnológicas demandadas transformando ciertas etapas del proceso productivo, e<br />

incorporando diferentes estrategias tendientes a flexibilizar el uso de mano de obra con el fin de ajustar la cantidad y calidad del trabajo<br />

a las nuevas condiciones que se plantean en la producción. En la etapa de cosecha, aún conviven el uso de cosecha manual y mecánica,<br />

determinando la utilización de sistemas tradicionales y modernos en la organización del proceso productivo y de trabajo.<br />

Si bien los cambios tecnológicos fueron incorporados para asegurar mayor calidad de la materia prima destinada al procesamiento<br />

industrial, no todas estas innovaciones fueron adoptadas en su totalidad por los productores. La cosechadora mecánica cuya<br />

utilización masiva tendría un impacto muy importante en la demanda de mano de obra en esta etapa del proceso productivo, no ha sido<br />

adoptada en forma generalizada.<br />

Dado el alto costo que insume esta inversión, los productores también evalúan las oportunidades locales y las ventajas que ofrece la<br />

presencia de mano de obra abundante y barata. La contratación de trabajadores en forma temporal, posibilita el uso combinado de<br />

cosecha manual y transporte a granel, esta estrategia les permite flexibilizar el uso trabajadores, utilizando mano de obra a bajo costo<br />

en las tareas de cosecha y garantizando también el cumplimiento de los requerimientos tecnológicos demandados por la industria.<br />

927


Los cambios tecnológicos incorporados, también han introducido tecnologías ahorradoras de mano de obra, provocando una disminución<br />

significativa en la demanda de trabajadores, y exigiendo además la contratación de personal capacitado ya que se requieren mayores<br />

conocimientos en el uso de nuevos equipos de siembra, cosecha mecánica, riego o manejo de agroquímicos. En otras etapas los<br />

requerimientos de mano de obra demandan nuevas exigencias, basadas en habilidades manuales tendientes a asegurar calidad al<br />

proceso productivo.<br />

El alto costo que significa la incorporación de la cosecha mecánica y la posibilidad de facilitar el proceso de producción y de trabajo,<br />

trasladando a terceros su realización y control, ha llevado a los productores a contratar empresas de servicio de siembra, cosecha y<br />

transporte a granel. La externalización de estas funciones garantizan una mayor eficiencia y calidad en estas etapas del proceso<br />

productivo y simplifican su ejecución.<br />

Estas transformaciones en el proceso de trabajo se realizan en un contexto de fuerte precariedad y deterioro de las condiciones<br />

laborales, lo que permite limitar el uso de mano de obra a las necesidades de la producción. El trabajo temporario, la ausencia de<br />

cobertura legal y el manejo discrecional de la jornada laboral y del salario y sus implicancias en las condiciones de trabajo son aspectos<br />

importantes que enmarcan estos procesos, pero que escapan al análisis del presente artículo.<br />

La importancia del proceso de reestructuración en la agricultura y el carácter excluyente que presenta tanto para los productores como<br />

para los trabajadores del sector, lleva a reflexionar sobre la importancia de un análisis profundo de estos procesos tendientes a<br />

identificar estrategias de intervención que contemplen las nuevas condiciones que se plantean actualmente para el desarrollo rural.<br />

928


BIBLIOGRAFIA<br />

. Bruzone, Alfredo (2000): Papas prefritas congeladas. Dirección Nacional de Alimentación. Secretaría de Agricultura, Ganadería,<br />

Pesca y Alimentación.<br />

. Ghezán, Graciela; Mosciaro, Mirna; Mateos, Mónica (1995): La industria de vegetales congelados. INTA - Facultad de Ciencias<br />

Agrarias (UNMDP).<br />

. Huarte, Marcelo e Inchausti, Mariano (1994): La producción de papa en la Argentina y su relación con el MERCOSUR. III Simposio<br />

de Integración Hortícola del sur. Promoción de exportaciones no tradicionales (PENTA). Confederación Latinoamericana de Horticultura<br />

(COLHOR). Montevideo.<br />

. Huarte Marcelo; Cacace, Juan (1996): «Descubriendo la papa». INTA. Fundación ArgenINTA.<br />

. Huici, N. Y Schavarzer, J. (1993): Situación de la industria alimentaria en la Argentina y Brasil en el contexto del MERCOSUR. BID/<br />

INTAL.<br />

. Lara Flores, Sara M. (1998): «Nuevas experiencias productivas y nuevas forman de organización flexible del trabajo en la agricultura<br />

mexicana, México. Juan Pablo editor.<br />

. Lara Flores, Sara M. (1999): Criterios de calidad y empleo en la agricultura latinoamericana: un debate con el posfordismo. En:<br />

Hubert C. de Grammont. (Coordinador). «Empresas, Reestructuración Productiva y Empleo en la Agricultura Mexicana». Plaza y<br />

Valdés editores. UNAM. México.<br />

. Mateos, M.; Capezio, Silvia (2000): «El subsistema de papas prefritas congeladas: una coordinación desde el fast - food hasta la<br />

producción primaria». En: Cuaderanos del P.I.E.A, Nro. 11. Buenos Aires, Facultad de Ciencias Económicas y Sociales. UBA.<br />

. Neiman, Guillermo (1996): «Transformaciones agrarias y mercados de trabajo, regiones, procesos y sujetos sociales. En: Dialógica.<br />

Vol.1. Num.1. CEIL. CONICET. Argentina.<br />

. Neiman, Guillermo y Germán Quaranta (2000): Reestructuración de la producción y flexibilidad funcional del trabajo agrícola en la<br />

Argentina.. En: Revista Latinoamericana de Estudios del Trabajo. ALAST. Asociación Latinoamericana de sociología del Trabajo.<br />

Buenos Aires.<br />

. Scott, Gregory; Basay Rosario; Maldonado, Luis (1997): El comercio exterior de papa en América Latina. En: Revista Comercio<br />

Exterior vol. 47, No.12. México.<br />

. Teubal, Miguel (1995): «Globalización y expansión agroindustrial». ¿Superación de la pobreza en América Latina?. Editorial<br />

Corregidor. Bs.As.<br />

1 « El concepto de ‘no tradicional’, es una cuestión específica de cada gobierno, puede tratarse de productos que ya se producían<br />

tradicionalmente en el país, pero que en el contexto actual siguen los criterios de calidad en la selección, empaque, marca, etc.<br />

demandados por mercado internacional». (S. Lara, 1999).<br />

2 La cantidad de restaurantes de esta cadena transnacional en los países latinoamericanos aumentó, en menos de un decenio, un 571%<br />

al pasar de 99 a 665. (Scott, Basay y Maldonado, 1997).<br />

3 Dirección Nacional de Alimentación - SAGPyA.<br />

4 Bruzone, Alfredo (2.000): Papas Prefritas Congeladas. Dirección de Alimentación - SAGPyA.<br />

5 Estos procesos fueron detectados en entrevistas en profundidad a informantes claves y permiten delinear tendencias generales en<br />

la demanda laboral, dado que no se disponen de datos cuantitativos que permitan ilustrar estos procesos.<br />

929


CONTINUIDADE NAS RUPTURAS: LEGISLAÇÃO AGRÁRIA E TRABALHADORES<br />

RURAIS NO BRASIL DE INÍCIOS DA REPÚBLICA 1<br />

O presente artigo procura discutir a questão da posse/propriedade da terra no Brasil dos primeiros anos do regime<br />

republicano. Dois são seus eixos principais. O primeiro, refere-se aos projetos de reformulação da estrutura fundiária, então enunciados,<br />

e sua relação com os conflitos agrários. O segundo, um desdobramento do primeiro, diz respeito à percepção elaborada, à época, acerca<br />

da pobreza e dos pobres no campo.<br />

O Jornal do Comércio, ao fazer um retrospecto político no início de 1889, então afirmava:<br />

“A história é, segundo alguns pensadores, lição improfícua dos povos. Para outra ordem de espíritos,<br />

mais humildes e convictos, a história é uma revelação. Os primeiros vêem na relação dos acontecimentos a<br />

fatalidade da natureza, maior que a experiência e cautela dos homens. Os crentes de todas as escolas, encontrarão,<br />

nos passos sucessivos das nações, a revelação de seus destinos” 2 .<br />

Este importante jornal carioca 3 procurava, na ocasião, refletir sobre os significativos acontecimentos do ano anterior, em<br />

especial a abolição da escravatura. Foi, segundo o autor da epígrafe, “um ano cheio, enérgico, como o poder misterioso da natureza”.<br />

Era preciso, portanto, discuti-lo, encontrar na história as razões de sua revelação. Em janeiro de 1889, não era difícil imaginar que<br />

aquele também seria um “ano enérgico”. Impossível era saber, no entanto, que transformações de fato se consolidariam e que impacto<br />

teriam sobre a questão do acesso à terra e da perpetuação da classe dominante agrária no país.<br />

Antes do término daquele mesmo ano, a República foi proclamada em nome da modernidade ”. E, ainda em seu nome, seria<br />

necessário que o novo grupo no poder discriminasse as terras da Nação, posto ser este o único caminho para se redefinir o próprio<br />

acesso à terra com vistas a reestruturar - ou não - o mapa fundiário do país. Para tanto era preciso, antes de tudo, definir a quem caberia<br />

a tarefa de controlar a incorporação das terras devolutas do país.<br />

Assim, o ano da proclamação da República foi também marcado por “novas revelações”, desafios relacionados à necessidade<br />

de reformulações na engenharia política para a consolidação de um novo regime. Neste sentido, “os primeiros anos republicanos se<br />

caracterizaram mais pela ausência de mecanismos institucionais próprios do Império do que pela invenção de novas formas de<br />

organização política 4 . Verificou-se, em suma, “uma completa desrotinização da política, um mergulho no caos” 5 .<br />

A incerteza dos primeiros anos, sua entropia 6 , manifestou-se na necessidade de definir uma nova ordem e de organizar o<br />

espaço político. O federalismo, desejo expresso dos republicanos históricos desde o Manifesto de 1870, parecia congregar projetos<br />

múltiplos. Não à toa, o compromisso federalista do governo provisório trouxe à luz o que havia de “mais moderno no país” - São<br />

Paulo, com a sua economia voltada para exportação -, em cotejo com as realidades regionais ditas mais “tradicionais”.<br />

Nos embates verificados entre os próprios grupos dominantes agrários no decorrer dos primeiros anos do novo regime, os<br />

problemas inerentes à responsabilidade sobre as terras devolutas se tornaram questões basilares para a consolidação dessa nova<br />

ordem. Assim sendo, se a proposta federalista parecia representar os interesses de boa parte dos republicanos, isso não significou que<br />

todos os republicanos de peso defendessem a federalização das terras devolutas. Ao contrário, muitos acreditaram que os problemas<br />

relacionados às terras devolutas – sobretudo sua discriminação e demarcação - deveriam continuar, tal como durante o Império, a cargo<br />

do governo central.<br />

Para além dos desejos e anseios dos radicais da República, o inicio do regime no país representou um rearranjo dos<br />

segmentos dominantes agrários no sentido de obstaculizar qualquer política que significasse uma reformulação da estrutura fundiária<br />

vigente.. Ou seja, se, num primeiro momento, havia a proposta de uma via farmer para o país (cujo exemplo sempre lembrado eram<br />

os E.U.A) – defendida pelos liberais que acreditavam que o desenvolvimento deveria partir da generalização do agricultura familiar -<br />

, num segundo momento, os setores dominantes fariam abortar qualquer iniciativa de reformulação da estrutura fundiária,consolidando,<br />

justamente em nome da ruptura realizada, uma continuidade com o passado, apesar de toda a gama de mudanças presentes no bojo da<br />

alteração do regime político.<br />

Uma análise sobre o projeto de registro Torrens, apresentado por Rui Barbosa, Manoel Ferraz de Campos Sales e Francisco<br />

Sales - Ministros e Secretários de Estado do Governo Provisório - no alvorecer da República é um interessante ponto de partida para<br />

encaminhar o raciocínio acima proposto 7 .<br />

O REGISTRO TORRENS: EM BUSCA DA RUPTURA<br />

O projeto Inspirava-se na proposta elaborada por Robert Torrens para a Austrália. O autor, filho de um dos fundadores da<br />

colônia da Austrália do Sul, criou o Registro e deu-lhe seu nome com o intuito de por fim à confusão em matéria de títulos de<br />

domínio, transferências e aquisições da propriedade móvel naquela região. No Brasil, a proposta coadunava-se com a percepção de<br />

certo segmento dos políticos liberais acerca dos “reais problemas” do país e das possíveis soluções a serem postas em prática.<br />

Assim, ao objetivar “legalizar e sanear as posses não fundadas em perfeito título de propriedade”, Rui Barbosa e seu grupo,<br />

“estabelece[ram] o chamado Registro Torrens para a matrícula do imóvel ocupado mediante a satisfação de certos requisitos<br />

prescritos na nova legislação 8 .<br />

930


Em seus oitenta e cinco artigos o projeto não somente procurava consolidar um mercado de terras - instituindo a hipoteca<br />

sobre a terra e não sobre os seus frutos - como também visava acabar com os mal-entendidos envolvendo os títulos de domínio e<br />

aquisição da propriedade imóvel. O projeto, para muitos, tinha ainda o mérito de solucionar os problemas relacionados à titularidade<br />

e à valorização do imóvel, pois<br />

“A propriedade imóvel, ou territorial, como está, entre nós, não apresenta os característicos<br />

necessários para ser valorizado com seguro critério. Em geral, são confusos, incorretamente passados e<br />

sujeitos a controvérsias, os títulos de domínio, terras não medidas, indivisas, o gozo em comum sempre<br />

injusto e perigoso, pleitos sem resultado por falta de divisa legal de quinhões, limites contestados, e<br />

conseqüentemente prejuízo, redução em parte, ou desvalorização completa da propriedade” 9 .<br />

Em outras palavras, a proposta visava fazer um “acerto de contas” com o passado, marcado por recorrentes disputas em<br />

razão dos limites territoriais e conseqüentes dúvidas sobre a legalidade da ocupação de um, em relação a outrem 10 .. Assim sendo, ao<br />

instituir o Registro, o projeto objetivava definir os limites dos domínios, o que minimizaria, ao menos em tese, a prática recorrente de<br />

invasão das terras devolutas e sua transformação em propriedade privada, tal como instituído ao arrepio da lei de 1850 11 . Afinal,<br />

desde os anos 1860, os Relatórios dos Presidentes de Províncias e do Ministério da Agricultura enfatizavam a reincidência dessas<br />

invasões. Outro sintoma deste mesmo problema infere-se da postura das câmaras municipais quanto solicitadas, pelos Presidentes de<br />

Províncias, a prestarem informações sobre a existência de terrenos devolutos em sua localidade, tendendo sempre a ignorar a<br />

solicitação feita ou, quando muito, respondendo pela afirmação categórica da inexistência de terras livres em suas jurisdições<br />

Para fazer face aos objetivos da proposta Torrens, o Governo Provisório reorganizou a Inspetoria Geral das Terras e<br />

Colonização, instituição que havia sido criada quando da regulamentação da Lei de Terras de 1850 a qual, fracassada em suas intenções,<br />

não havia conseguido regularizar as terras devolutas no Império, nem ao menos discriminá-las 12 .<br />

Pelo artigo 1 o do Regulamento, a Inspetoria tinha como função a fiscalização e “imediata direção dos serviços relativos à<br />

extremação das terras públicas das do domínio particular”. Eram também de sua responsabilidade, a “medição, demarcação, divisão,<br />

descrição e registro das terras devolutas”, além de proceder à “legitimação das posses e a revalidação de concessões e sesmarias”,<br />

bem como o estabelecimento de imigrantes 13 .<br />

Ao recriar a Inspetoria, o Governo Provisório deixava às claras sua intenção de centralizar o controle das terras federais,<br />

numa tentativa de discriminar e consolidar, enfim, as terras públicas do país. Em seus 47 artigos, o mencionado decreto expressava o<br />

esforço do governo em redefinir a estrutura fundiária, em consonância com a tentativa de estabelecer o Registro de Imóveis criado pelo<br />

decreto de 31 de maio de 1889. Para os defensores da proposta Torrens, ela tinha ainda o mérito de representar um caminho seguro<br />

para a modernização do Brasil, tal como ocorrera em países que haviam consagrado a propriedade territorial com base naquele mesmo<br />

espírito.<br />

“Para chegar a este resultado, jurisconsultos célebres e notáveis economistas de diversos países,<br />

dedicaram-se a profundo estudo da matéria para resolverem o problema e tornar-se claro e indiscutível o<br />

direito sobre a propriedade territorial. E apta para todas as transações. Si, parece verificado, que cabe a<br />

Alemanha a honra de ter estabelecido os sábios princípios do fecundo regime que mais aproximou-se da<br />

resolução do grave problema, é certo que a glória da solução definitiva cabe a Robert Torrens, o imortal<br />

autor da lei, que tornou seu nome ilustre, dando-lhe celebridade e fama universal” 14 .<br />

O projeto Torrens visava reorganizar o espaço, definindo as terras privadas. Neste sentido, ele representava, em verdade,<br />

“uma ruptura radical com o passado agrário brasileiro: a rejeição dos interesses fundiários como hegemônicos, a intangibilidade da<br />

propriedade fundiária e a subalternização do capital” 15 . A proposta era ambiciosa, segundo seus defensores, era preciso colocá-la em<br />

prática em todo o território nacional. Não à toa, um novo decreto, de 5 de novembro de 1890, informava que o governo provisório<br />

havia decidido regulamentar o sistema Torrens, para ser “inaugurado em todas as comarcas da República” 16 .<br />

Pelo decreto No. 955 de novembro de 1890, o governo definia ainda as funções do Registro Torrens, instituindo os <strong>livro</strong>s de<br />

registro e as formas de sua execução e direção. Além disso, se no artigo 1 o nada havia que indicasse ser tal registro obrigatório, pois<br />

“todo o imóvel, suscetível de hipoteca ou ônus real, pode ser inscrito sob o regime deste regulamento” 17 , artigos subseqüentes<br />

apontavam para esta obrigatoriedade, expressando os interesses da União em dirigir e ordenar, a partir de um centro do poder político<br />

nacional, a apropriação fundiária. Desta forma, nos artigos relativos à execução e direção, há claras indicações de que se esperava o<br />

cumprimento do regulamento por todos os proprietários. Pelo artigo 25, eram de incumbência do oficial do Registro:<br />

“Exigir do proprietário, ou de quem, tendo mandato, ou qualidade, se apresente a requerer por ele,<br />

os títulos de domínio; 2 –Intimar, por ordem do juiz, os proprietários, ou interessados, a fazerem declarações,<br />

ou produzirem os títulos, concernentes aos imóveis, que se trate de admitir ao benefício deste regulamento,<br />

negando-se caso os intimados se recusem, a prosseguir nos termos do registro; 3- Corrigir, ou suprir, em<br />

observância de despacho do juiz, os erros e omissões do registro, contando que a retificação não altere atos<br />

anteriormente registrados 18 .<br />

Em razão da obrigatoriedade de se apresentar documentos comprobatórios, o decreto estabelecia um prazo (não mais do que<br />

50 dias) para a matrícula definitiva da propriedade. Neste ínterim, o juiz mandaria publicar em Diário Oficial e, em três vezes, num<br />

jornal da Capital Federal, a informação de que determinado imóvel era requerido por alguém 19 .. Intentava-se, assim, definir com<br />

931


clareza o verdadeiro proprietário da área registrada, desestimulando as querelas entre pretensos proprietários e posseiros, muitas das<br />

quais culminavam em assassinatos.<br />

Em suma, o Projeto do Registro Torrens e os demais artigos da lei que o estabelecia, nos mostram um esforço por regularizar<br />

a estrutura fundiária, procurando redefinir as funções do Estado no que dizia respeito à discriminação e demarcação de suas terras. Nos<br />

marcos de um novo regime, ainda em vias de consolidação, o Governo Provisório – ou melhor, um certo grupo integrante desta coalizão<br />

de força - buscava romper com todo o passado de invasões de terras e de indefinições de limites que caracterizara a história agrária do<br />

país até então. Para tanto, era preciso chamar para si, centralizando, a condução dos problemas da apropriação territorial.<br />

No entanto, a primeira Constituição Republicana de 1891, contradisse semelhantes esforços, ao consolidar os interesses<br />

dos grandes fazendeiros, transferindo para os governos estaduais a responsabilidade pela discriminação das terras devolutas. O artigo<br />

64 da Carta, por sinal, estabelecia que:<br />

“Pertencem aos Estados as minas e terras devolutas situadas nos seus respectivos territórios,<br />

cabendo à União somente a porção de território que for indispensável para a defesa das fronteiras, fortificações,<br />

construções militares e estrada de ferro federais. Parágrafo Único: Os próprios nacionais, que não forem<br />

necessários para serviços da União, passarão ao domínio dos Estados, em cujo território estiverem situados”<br />

20 .<br />

Assegurando o direito de propriedade “em toda a sua plenitude” e estabelecendo que a desapropriação só poderia vir a<br />

ocorrer “mediante indenização prévia” 21 , a Constituição expressou ainda a vitória dos que defendiam a federalização das terras<br />

devolutas. Caberia a cada governo estadual discriminar suas terras devolutas e decidir o seu destino. A partir desta data, portanto, a<br />

política de demarcação e controle das terras públicas esteve em mãos de chefes políticos locais, aspecto importante para compreendermos<br />

a reafirmação, nos quadros da República e sob a forma de sistema, do poder dos coronéis.<br />

A opção por descentralizar o problema das terras devolutas acabou por agravar o problema da distribuição de terras no país.<br />

O poder das oligarquias rurais se expressaria, uma vez mais, mediante invasões das terras do Estado, com o beneplácito – direito ou<br />

não- dos governadores. A pressão do poder político dos fazendeiros e a debilidade do poder federal em discriminar suas terras,<br />

consolidaram a prática da ocupação irregular que era realizada pelos grandes fazendeiros desde o século XIX, embora vedada à<br />

população rural mais pobre.<br />

Ademais, os argumentos da escassez da mão de obra rural e da incapacidade destes indivíduos de substituírem os cativos<br />

(uma vez que a escravidão havia sido abolida em 1888) encobriam o fato de que tais trabalhadores tentavam ocupar pequenas parcelas<br />

de terras, na intenção de escapar da dominação dos grandes fazendeiros. Para tanto, era preciso que os grupos dominantes não somente<br />

ocultassem a existência de conflitos agrários, como também consolidassem uma determinada visão sobre o trabalhador rural e os<br />

movimentos sociais no campo.<br />

DA CRISE AO ATRASO: TECENDO A CONTINUIDADE<br />

Tal como acima sinalizado, a reafirmação do projeto dos grandes proprietários interessados na manutenção do status quo<br />

fundiário do país, e que significou a manutenção da hegemonia plantacionista ainda em inícios do século XX, calcou-se na construção<br />

de um determinado discurso voltado para a definição de atributos e propriedades “inerentes” à agricultura e ao “homem do campo”<br />

brasileiro. Foi por seu intermédio que determinados grupos de fazendeiros, vinculados aos mais distintos complexos agrários do país<br />

construíram a unanimidade em suas representações e soluções para aquilo que definiam como o “problema agrário nacional”, de forma<br />

muito diversa daquela enunciada por Rui Barbosa no “interregno modernizante” da jovem República brasileira 22 .<br />

Nessa outra versão, estruturante do Ruralismo brasileiro de então 23 , o fundamento da “questão agrária”, longe de residir na<br />

constatação da necessidade de distribuição da terra enquanto fundamento da cidadania, estava associado à “questão agrícola nacional”,<br />

marcada pela noção de crise – comercial e de mão-de-obra - no campo. Em ambos os aspectos, os agentes da proclamada “regeneração”<br />

que se fazia necessária seriam os próprios grandes proprietários enunciadores deste arsenal discursivo, auto-representados como<br />

sujeitos da historia do país, não por expressarem a voz do povo, mas por estarem ao lado da voz de seu tempo, numa “Cruzada em<br />

prol da agricultura”. Nas palavras de ordem de um de seus representantes, a grande tarefa consistia em “convencer nossos agricultores<br />

que a agricultura deixou de ser um empirismo para ser Ciência e, nesta condição, não há segredos, não há acasos: há um problema que<br />

se resolve certo (...); só precisa ciência e meios” 24 .<br />

A emergência deste discurso deveu-se a uma construção/constatação comum: o consenso quanto à existência de uma crise<br />

agrícola de âmbito nacional desde 1890, a ser enfrentada por todos os agentes sociais nela envolvidos – grandes proprietários, por<br />

certo - crise esta bem mais grave e de solução mais imediata do que o combate à desigualdade fundiária ou a re-centralização da política<br />

de terras devolutas junto ao governo da União poderiam implicar. Os fundamentos desta noção de crise assentaram-se em dois pilares.<br />

Por um lado, a reordenação das diretrizes do capitalismo internacional, aqui vivenciadas como crise dos “fluxos comerciais” por uma<br />

classe dominante fundamentalmente agrária e exportadora que sofria, em distintos níveis de profundidade segundo o setor produtivo,<br />

os efeitos da superprodução 25 .<br />

Por outro lado, a visão da “crise agrícola” como equivalente de “crise agrária”, fundava-se nas dificuldades em se lidar com<br />

o descompasso e a imprevisibilidade numa ordem presidida pela transformação dos regimes de trabalho, onde o “lugar” – quer no<br />

plano do processo histórico vivido, quer no plano discursivo – da questão servil não havia ainda sido preenchido. Com isso, o<br />

932


potencial disruptivo representado pela potencial proletarização de uma mão-de-obra agora livre, fazia com que o novo - o próprio<br />

trabalho livre, ainda que não necessariamente assalariado - fosse resignificado sempre em termos de “incorporação controlada”, de<br />

modo a dar conta do fantasma da desorganização no “mundo do trabalho” no campo.<br />

Logo, a noção de “crise” conotava um desequilíbrio a ser corrigido por medidas restauradoras da ordem, numa operação<br />

discursiva/ideológica onde a própria crise permitia mistificar a realidade e nivelar as diferenças intra-classe dominante agrária,<br />

mediante a construção de uma “agricultura nacional” unificada, justamente, por seu estado crítico. O fundamental a ser retido é que,<br />

dentre os atributos elencados como inerentes à crise, nenhum se referia à questão fundiária. Pactuava-se a necessidade de uma<br />

“regeneração agrícola” a ser por todos encetada, sem qualquer referência à estrutura agrária, ainda que todos os segmentos de grandes<br />

proprietários falassem de uma “agricultura brasileira”.<br />

A própria noção de “crise” sofreria mudanças no discurso dos agentes ganhando, à medida que se confundia com o<br />

inventário de suas causas, a acepção de males estruturais da agricultura e, por extensão, do país. De “momento disfuncional”, a crise<br />

passaria a conotar um “estado”, um modo de ser - o atraso - matriz do discurso através do qual se passou a representar a realidade<br />

agrária do país desde então, em contraponto à uma ordem moderna idealizada e forçosamente, urbana 26 .<br />

A rigor, tanto a idéia de crise, quanto a de atraso guardavam um sentido político evidente, traduzindo a necessidade de algum<br />

novo tipo de intervenção junto ao problema. A principal distinção entre uma e outra residiria no fato de que a primeira pressupunha<br />

ações pontuais, enquanto a segunda as sistematizava. Os grandes proprietários brasileiros, em sua maioria, moviam-se de uma<br />

perspectiva que apreendia a realidade agrária a partir de “momentos desorganizadores”, para outra que a construía enquanto vitima de<br />

um estado de “doença crônica”, abrindo espaço para a noção de tutela. Mas, que doença? Conquanto a visão da agricultura como<br />

atrasada não tenha sido apanágio da “modernidade republicana”, foi em pleno início do século XX que seu conteúdo adquiriu novo<br />

sentido, face ao desaparecimento de uma de suas referências históricas mais profundas: a escravidão.<br />

O MAL ESTAVA NOS HOMENS<br />

A noção de crise contaminou, para além de porta-vozes dos mais diversos segmentos da grande propriedade oriundos das<br />

mais distintas regiões e complexos agrários do país, a observação de viajantes que aqui aportaram no decorrer da implantação ou<br />

mesmo da consolidação do novo regime político no país. Tal seria o caso de Arrigo de Zotirry, francês que, percorrendo o interior do<br />

Estado do Rio de Janeiro, em 1894, publicou no Jornal do Comércio vários artigos apresentando a situação do campo logo após a<br />

Abolição da escravidão. Quando de sua passagem pelo então município de Itaperuna, no norte fluminense, afirmou que “Faltará<br />

braços à lavoura fluminense, mas o que não lhe faltará é direção inteligente e proveitosa que no seio da própria Assembléia do Estado<br />

do Rio contam-se alguns agricultores que não acanhar-se-ão de sentar-se entre os mais adiantados do mundo agrícola” 27 .<br />

Zottiry reproduzia, em poucas palavras, a percepção desenvolvida pelos grandes proprietários não só deste Estado, como<br />

de boa parte do país. Empreendedores, herdeiros de um passado de riquezas, os fazendeiros sofriam as mazelas daquilo que<br />

qualificavam como “falta de braços”.. Segundo o presidente honorário da Sociedade Nacional de Agricultura,<br />

“Brusca como foi a Abolição, não podiam esses lavradores, colhidos de surpresa, arcar com a<br />

aprendizagem de uma nova situação econômica do trabalho e das explorações agrícolas, reduzidos os meios<br />

pecuniários e tomados sem esperar na ignorância das coisas do campo, que deles exigia métodos novos de<br />

cultura e o regime ignorado do trabalho livre” 28 .<br />

Não à toa, Zottiry ressaltava, ainda em fins do século XIX, que:<br />

“A opinião em geral que ouvimos dos lavradores itaperunenses a respeito do liberto, é que quando<br />

quer pode ser bom trabalhador (...) mas para isso precisa ser vigiado, o mais laborioso entregue a si mesmo,<br />

vai pouco a pouco relaxando até cair em completa indolência”.<br />

E continuava:<br />

“Um grande defeito tem o liberto em geral, que muito concorre para a sua inutilidade: não é<br />

ambicioso ou para melhor não tem aspirações sequer do bem estar doméstico, pouco importa melhorar as<br />

condições de fortuna, não tem o menor apego à propriedade, é-lhe indiferente a posse do solo, dá-se por<br />

satisfeito coma liberdade que goza poder ou não trabalhar à vontade” 29 .<br />

Sob a do viajante, tal como por parte dos porta-vozes da classe dominante agrária brasileira, se algum responsável existia por<br />

semelhante estado de coisas, este era o tipo de homem produzido pela escravidão: ignorante, vadio e indisciplinado. Inexistindo outra<br />

opção senão admitir a humanidade do ex-escravo – enquanto potencial fornecedor de sua força de trabalho –, porém na impossibilidade<br />

ou recusa de tornarem generalizadas as relações contratuais entre livres compradores e vendedores de uma mercadoria, os sujeitos<br />

dessa fala deslocavam a análise do problema central do campo – o fundiário – de suas “estruturas” para seus “agentes”. Mediante esta<br />

operação eximiam-se de voltar a discutir a questão do acesso à terra, ao mesmo tempo em que se fixavam em estereotipar os<br />

trabalhadores rurais, o que é claramente perceptível sobretudo nos discursos dos grandes proprietários ligados aos complexos agrários<br />

menos dinâmicos. Isto porque, distintamente dos paulistas e sua vitoriosa solução imigrantista, eles somente poderiam contar com os<br />

chamados trabalhadores nacionais como mão-de-obra farta e barata.<br />

933


Logo, em lugar da questão da desigualdade fundiária, elegia-se outro responsável pela crise - o trabalhador nacional. A seu<br />

respeito se construiria um elenco de atributos negativos sobretudo porque, ao contrário dos estrangeiros, ele padeceria de “males<br />

orgânicos” que o tornavam refratário ao trabalho organizado e metódico. Ademais os nacionais seriam festeiros, desperdiçando o<br />

tempo; vadios, com suas casas sujas e ademais, maus consumidores, optando recorrentemente por comprar fiado, visto não serem<br />

ambiciosos.<br />

A percepção do viajante francês, como se viu, não era estranha nem exótica, muito ao contrário. Ela fundava-se numa<br />

argumentação consensual que, desde a Abolição, foi lentamente disseminada junto e através de determinados setores da classe<br />

dominante agrária brasileira. O que nela se evidencia é o mesmo preconceito para com os nacionais, assim como a incapacidade de neles<br />

perceber algum traço de cultura. Desta forma, entende-se também porque foi impossível para Zottiry e seus contemporâneos se dar<br />

conta das razões mais profundas da “questão da falta de braços”.Vale dizer, diante da comparação com os estrangeiros - sempre a eles<br />

muito desvantajosa - os nacionais não podiam ser vistos como capazes de resistir à entrada no mercado de trabalho enquanto<br />

trabalhadores, nem tampouco de questionar a legalidade da extensão da propriedade territorial dos grandes fazendeiros 30 .<br />

No entanto, em certos casos, mesmo “vadio” e “ignorante”, o trabalhador nacional fazia-se portador de algumas vantagens,<br />

dependendo do segmento de grandes proprietários que a ele se referisse. Para os donos de engenho e cotonicultores do Norte/Nordeste<br />

do país, por exemplo, os nacionais teriam virtudes proporcionais à sua impossibilidade de arcar com a solução imigrantista subvencionada<br />

pelo governo estadual. Assim, alguns enfatizariam que<br />

“Não conheço, senhores, povo mais fácil de administrar do que o brasileiro, nem mais inteligente e<br />

duro no trabalho. Se lhe cultivássemos a inteligência, ele excederia o yankee, por mais modesto na vida, mais<br />

sofredor nos rigores do trabalho, menos exigente nas comodidades e nos salários e de incomparável<br />

resistência a quaisquer excessos de temperatura e de esforços” 31 .<br />

Mesmo demonstrando divergências nas representações acerca do trabalhador nacional - que variaram de seu total desprezo<br />

até sua plausível recuperação, segundo as peculiaridades regionais das frações agrárias dominantes - o que subjazia a todas essas falas<br />

era a busca do controle sobre a reprodução autônoma do trabalhador. Com isto objetivava-se, por um lado, impedir sua fuga ao circuito<br />

da produção mercantil e, por outro, assegurar-se de sua subordinação política aos fazendeiros/coronéis locais, em condição de total<br />

desigualdade quanto ao acesso à terra.<br />

No entanto, para Zottiry, por exemplo, não estava em questão a legitimidade do acesso à terra para a produção de<br />

subsistência do homem do campo. Ao se perguntar sobre o melhor sistema para o trabalhador liberto ele afirmava: “Hoje é difícil<br />

responder de um modo geral para o Estado a esta pergunta, porque muitos variam de lugar os rendimentos da terra, tão castiga pela<br />

crise do trabalho, pelas secas, pelas pragas onde há café(...) Hoje é demasiado cara a vida, demasiado alto o salário para poder<br />

dizer qual é em geral o sistema de retribuição que satisfazendo o liberto, mais convém ao lavrador” 32 .<br />

O homem livre, descartado como o ideal do trabalhador nacional, era transformado no exemplo da preguiça e da inaptidão<br />

ao trabalho nas fazendas. No entanto, foi justamente em nome do seu combate, que os grandes proprietários, artífices da chamada<br />

vocação agrícola do Brasil, acabaram por direcionar a solução da “falta de braços” para uma pedagogia de aprendizado agrícola para<br />

os nacionais, em teoria inaptos ao trabalho e, portanto, ao progresso 33 .<br />

Com base neste pressuposto, uma agência do próprio Estado Republicano, o Ministério da Agricultura, Indústria e<br />

Comércio (MAIC), poria em prática uma política de arregimentação e disciplinarização de mão-de-obra no campo, nos moldes<br />

preconizados pelo discurso da “superação da pobreza” e do “atraso” aí vigentes. Tal política constituiu-se numa resposta às<br />

demandas dos grandes proprietários agremiados pela Sociedade Nacional de Agricultura, incapacitados de custear a solução imigrantista<br />

34 . Autoritarismo e controle social resumiriam o escopo central da ação do Ministério no tocante à formação do mercado de trabalho<br />

no país, inaugurando práticas que, além de perpetuarem-se no tempo através de sucessivas redefinições, muito contribuíram para o<br />

fortalecimento político das frações agrárias junto a ele representadas, bem como para a consolidação, no imaginário social brasileiro,<br />

de uma dada representação do homem do campo vigente até há bem pouco tempo no país.<br />

Concluindo, por exemplo, que “nossos campônios são baldos até dos conhecimentos mais comezinhos e o único meio de<br />

combater este problema é fornecer-lhes escola primária e aprendizado agrícola para seus filhos...Só assim será possível reunir essa<br />

grande massa anônima que se vai degradando pela miséria, fazendo com que ela longe de ser uma ameaça contra a vida rural, seja<br />

um elemento útil ao país e à lavoura” 35 , o discurso ministerial introduziria os parâmetros a partir dos quais se pensaria o objeto de<br />

sua atuação: a arregimentação da mão-de-obra rural, apropriada enquanto uma questão populacional. Neste viés, a temática da<br />

“pobreza” tornava-se alvo explícito da governamentalidade, i.e., da vigilância e do controle exercidos a partir de aparelhos de Estado,<br />

na medida em que tal conceito imbricava-se às noções de segurança e soberania, particularmente caras numa formação social onde o<br />

processo de mercantilização da terra ainda não atingira sua plenitude 36 .<br />

Diante disso, as práticas ministeriais definidas como de “qualificação” de mão-de-obra e de seu “resgate à pobreza”<br />

revelavam-se autoritárias e repressivas, perpetradas através de instituições exemplares, encarregadas de arregimentar e imobilizar a<br />

mão-de-obra rural, embora fossem tidas como capazes de, simultaneamente, controlar sua distribuição espacial e impedir o avanço dos<br />

“males do urbanismo”, sobretudo o êxodo rural.<br />

No âmbito dessa problemática geral, a atuação do MAIC deu-se em duas direções: a) construindo, distribuindo e fixando o<br />

“trabalhador nacional” e b) assistindo e incorporando as comunidades indígenas, de modo a elevá-las à condição de “trabalhadores”.<br />

934


Suas expressões institucionais foram, respectivamente, o Serviço de Ensino Agronômico e o Serviço de Proteção aos Índios e<br />

Localização de Trabalhadores Nacionais, cada um deles atuando através de tipos de agências específicas 37 , porém voltadas para igual<br />

fim: a construção do “espaço nacional” enquanto representação simbólica do mercado de trabalho e a elaboração de uma “ética do<br />

trabalho” para os homens do campo, ambos sob a tutela do Estado. Ao fim e ao cabo, foi a noção de trabalhador nacional quem<br />

presidiu o ordenamento e a hierarquização das relações de trabalho no campo, sempre em nome da eliminação da pobreza.<br />

Como bem demonstraria a fala de um dos ministros,<br />

“Até o ano passado nossa colonização visava somente a localização de estrangeiros.<br />

Assim como os Estados do Norte se viam preteridos em seus atendimentos, os do Sul dele<br />

beneficiavam-se com exclusividade. Imperioso tornava-se socorrer àqueles nossos irmãos...A<br />

organização de tais serviços apresenta entre nós uma feição particular. Os Estados do Sul são<br />

objetos da colonização por estrangeiros. Os do Norte, da colonização por nacionais. No Norte,<br />

‘centros agrícolas’; no Sul ‘núcleos coloniais’. O equilíbrio se fazia” 38<br />

Assim procedendo, entretanto, o MAIC acabaria por institucionalizar, não somente uma hierarquização entre trabalhadores<br />

nacionais e estrangeiros - cabendo aos primeiros o estatuto de inferioridade, devido à “marca de Caim” da escravidão -, como também<br />

entre unidades federativas de peso político diferenciado, já que a quase totalidade dos imigrantes localizava-se no Sul, notadamente em<br />

São Paulo. O binômio atraso X progresso revelou-se também um padrão de incorporação da desigualdade na representação política de<br />

segmentos distintos da própria classe dominante agrária, consagrando-se os desequilíbrios regionais que, paradoxalmente, julgava-se<br />

estar combatendo.<br />

Ao mesmo tempo, dessa simbiose socialmente produzida entre “trabalhador nacional” e “pobre rural”, uma questão fulcral<br />

restaria excluída: a profunda desigualdade da estrutura fundiária do país, justamente aquela que esteve no cerne do Projeto Rui Barbosa<br />

acima apreciado. A urdidura de sua derrota, mediante uma operação discursiva de “deslocamento” de sentido ainda no alvorecer do<br />

século XX, foi o objeto deste trabalho.<br />

AS CONTINUIDADES RECRIADAS NAS RUPTURAS<br />

A questão agrária e seu principal desdobramento - as terras devolutas - não sairiam de cena, quando das reformulações<br />

políticas dos anos 30. Na Constituição de 34, manteve-se a federalização das terras devolutas, uma vez que, pelo artigo 21, são<br />

domínios do estado os bens da propriedade destes pela legislação atualmente em vigor” 39 . Ou seja, mesmo não fazendo referência<br />

direta à questão das terras devolutas, a Constituição reconhecia o direito dos Estados em dispor sobre suas terras. No entanto, neste<br />

mesmo texto legal, dois artigos iriam apontar para uma redefinição da estrutura fundiária vigente. Nas disposições preliminares,<br />

estabelecia-se que cabia à União, entre outros, legislar sobre as normas fundamentais do direito rural 40 . Além disso, a Constituição<br />

de 1934 inauguraria um dispositivo importante na luta pela reformulação fundiária do país, ao admitir a existência de uma “função<br />

social da propriedade”.<br />

No capítulo sobre garantias e direitos individuais é reconhecido, em seu artigo 113, item 17, o direito de propriedade que não<br />

poderá “ser exercido contra o interesse social ou coletivo, na forma que a lei determinar. A desapropriação por necessidade ou<br />

utilidade pública far-se-á nos termos da lei, mediante prévia e justa indenização” 41 . Mais adiante, a Carta define uma política para<br />

o trabalhador agrícola, no artigo 121, parágrafo 4: “o trabalho agrícola será objeto de regulamentação especial, em que se atenderá,<br />

quando possível, ao disposto neste artigo. Procurar-se-á fixar o homem no campo, cuidar da sua educação rural, e assegurar ao<br />

trabalhador nacional a preferência na colonização e aproveitamento das terras públicas”.<br />

A Constituição de 1937, Carta Magna do Estado Novo, suprimiu o dispositivo que assegurava a função social da propriedade,<br />

pois se garantiria “aos brasileiros e estrangeiros residentes no país o direito à liberdade, à segurança individual e à propriedade” 42 ..<br />

Foi suprimida também qualquer referência à responsabilidade da União em legislar sobre direito rural, restando-lhe legislar sobre o<br />

direito civil, o direito criminal, o direito aéreo, o direito operário, o direito penal e o direito processual. A questão agrária do Estado<br />

Novo 43 tornou-se então a recriação, no tempo, da continuidade nas (aparentes) rupturas.<br />

935


1 MÁRCIA MENENDEZ MOTTA, Departamento de História da Universidade Federal Fluminense, menendesmotta@ig.com.br e<br />

SONIA REGINA DE MENDONÇA, Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense,<br />

srmendonca@uol.com.br<br />

2 “Retrospecto Político do anno de 1888 – Brazil” Jornal do Comércio, 04 de janeiro de 1889, 1a página.<br />

3 Fundado em primeiro de outubro de 1827, por Pierre Plancher, o Jornal do Comércio teria sido, segundo Werneck Sodré, a<br />

“expressão singular” do jornalismo conservador da segunda metade do século XIX. SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa<br />

no Brasil . Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966.<br />

4 LESSA, Renato. A Invenção Republicana.. São Paulo, Vértice / Rio de Janeiro, IUPERJ, 1988, p.43.<br />

5 Idem.<br />

6 Segundo Lessa a entropia é “entendida como associação entre estado de anarquia e elevado grau de incerteza, que se manifesta a<br />

partir da ruptura dos canais de integração entre polis, demos e governo, definidos pela ordem imperial”. Ibidem, p. 49.<br />

7 Decreto número 451- de 31 de maio de 1890 in: Colecção das Leis da Republica dos Estados Unidos do Brazil, decretos do Governo<br />

Provisório. Volume I, 1890, pp.1206-1221.<br />

8 SODERO, Fernando Pereira. Esboço histórico da formação do direito agrário no Brasil. Rio de Janeiro, FASE, Coleção “Seminários”<br />

n 13, junho 1990, p. 82.<br />

9 Arquivo Nacional. Comentario Lei Torren . Antonio Maria Barroso Pereira. Blumenau, Typ. H. Baumgarten, 1898<br />

10 Para uma análise sobre os conflitos de terras ocorridos no século XIX e as tentativas de legislar sobre o tema, vide MOTTA,<br />

Márcia. Nas Fronteiras do Poder. Conflito e Direito à Terra no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro, APERJ/Vício de Leitura, 1998.<br />

11 - Sobre o fracasso da Lei de Terras na discriminação das terras devolutas e a relação da lei com terras indígenas, vide MOTTA,<br />

Márcia “Terra, Nação e Tradições Inventadas (uma outra abordagem sobre a Lei de terras de 1850)”. In: MENDONÇA, Sonia &<br />

MOTTA, Márcia (orgs.). Nação e Poder: As Dimensões da História. Niterói, EDUFF, 1998, pp. 81-92.<br />

12 Decreto número 603 – de 26 de julho de 1890. Colecção de Leis.., op. cit, pp. 1634-1646.<br />

13 Idem, p. 1634.<br />

14 -Id. Ibidem..<br />

15 - TEIXEIRA DA SILVA, Francisco Carlos “Conservadorismo e Hegemonia Agrária o Brasil”. In: CARNEIRO, Maria José e<br />

outros org.). Campo Aberto, o rural no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Contra Capa, 1998, p. 16.<br />

16 - Decreto número 955a de 05 de novembro de 1890. In: Colecção de Leis ,op. cit, pp. 3298- 3318. Grifo nosso.<br />

17 - Idem, p. 3298.<br />

18 - Ibidem, p. 3301.<br />

19 Ibidem, artigo 33, p. 3302.<br />

20 -“Constituição de 1891” in: CAMPANHOLE, (org.). Constituições do Brasil. São Paulo, Atlas, 1985, p.585.<br />

21 Idem, Artigo 72, parágrafo 17. p. 588.<br />

22 Não teria sido apenas no tocante à estrutura fundiária que a ação “modernizadora” de Rui Barbosa se fez. De sua autoria foi,<br />

igualmente, a política econômica emissionista, de corte nitidamente industrializante, que resultou na chamada crise do Encilhamento.<br />

A este respeito ver OLIVEIRA, Francisco de. “A emergência do modo de produção de mercadorias”. In: FAUSTO, Boris (org.)<br />

História Geral da Civilização Brasileira.. São Paulo, Difel, 1978, vol. 8.<br />

23 Cf. MENDONÇA, Sonia Regina de. O Ruralismo Brasileiro. São Paulo, Hucitec, 1997.<br />

936


24 MARTINS, Francisco Dias. ABC do Agricultor.Ensino agrícola, propaganda popular. SP, Duprat, 1908, p. 11. Além de diretor<br />

da Escola de Agronomia de Piracicaba, São Paulo, Dias Martins integrou o alto escalão do Ministério da Agricultura, Industria e<br />

Comercio, além de pertencer ao quadro dirigente da Sociedade Nacional de Agricultura. O autor era usineiro no Estado de São Paulo.<br />

Vale atentar para o fato de que o termo agricultor, à época, designava os fazendeiros e não o pequeno produtor rural, estratégia<br />

discursiva que em muitos casos, confunde pesquisadores pouco afetos à documentação de inícios do século.<br />

25 Desde a crise econômica mundial de 1894 a situação dos agro-exportadores brasileiros, dos mais distintos produtos – exceção feita<br />

ao café – viviam uma conjuntura de queda dos preços de seus produtos, agravados pela concorrência externa. Com isso, muitos dos<br />

grandes proprietários desses complexos setoriais – açúcar, algodão, carne, etc. – voltaram-se para o abastecimento do mercado interno<br />

enquanto uma alternativa às más condições de exportação de seus produtos.<br />

26 Nas palavras do presidente da Sociedade Mineira de Agricultura, “a empreitada de transformação e remodelação dos nossos<br />

processos agrários é o único meio seguro de arrancar a nossa lavoura ao atraso em que ainda ela se vai penosamente arrastando” REIS,<br />

Fidelis. A política da gleba. Rio de Janeiro, Typ. Leuzinger, 1908, p. 79<br />

27 - ZOTTIRY, Arrigo de. “A Lavoura do Estado do Rio”. Jornal do Comércio, 20 de junho de 1894.<br />

28 CRUZ, Christino. O problema agrícola.. Rio de Janeiro, Typ. Jornal do Comércio, 1908, p. 5.<br />

29 ZOTTIRY, op. cit.<br />

30 Para uma análise sobre as representações do Brasileiro, vide NAXARA, Maria Regina Capelari. Estrangeiros em sua própria<br />

terra. São Paulo, Anablume/FAPESP, 1998.<br />

31 CRUZ, Christino, op. cit., p; 3. Vale lembrar que o autor representava um dos complexos agrários menos dinâmicos do país, ligado<br />

à produção do algodão para o mercado interno<br />

32 Zottiry, Arigo de. “A Lavoura do Estado do Rio”.Jornal do Comércio, 21 de outubro de 1894<br />

33 Vide MENDONÇA, Sonia Regina de. O Ruralismo ... op. cit., capítulo IV.<br />

34 A SNA, fundada em 1897 agremiava os grandes proprietários ligados aos mais diversos complexos agrários do país, com exceção<br />

dos grandes cafeicultores paulistas. Seu eixo articulador partia dos fazendeiros menos dinâmicos do Estado do Rio, em íntima sintonia<br />

com os dos complexos agrícolas do Nordeste e do Sul do país. Através do Ministério, inúmeros dirigentes da SNA conseguiriam<br />

imprimir suas diretrizes à política agrícola do período.<br />

35 Relatório do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Rio de Janeiro, Imprensa Oficial, 1909-10, vol. I, pp.57-8. Grifos do<br />

autor<br />

36 MARTINS, José de Souza. O Cativeiro da Terra.. São Paulo, Ciências Humanas, 1979, p.32.<br />

37 No caso da arregimentação e imobilização do trabalhador nacional destacaram-se duas instituições: os Aprendizados Agrícolas –<br />

destinados a acolher filhos de trabalhadores indicados pelos prefeitos e que funcionavam como um misto de internato/viveiro de mãode-obra<br />

em vários estados; e os Patronatos Agrícolas – criados com a finalidade precípua de abrigar menores infratores das cidades,<br />

sendo a instituição que mais se desenvolveu quantitativamente dentro do Ministério. Já para gerir os indígenas e visando sua passagem<br />

da condição de “bugres” a “trabalhadores nacionais”, havia os Centros Agrícolas, onde se misturavam nacionais e indígenas, tendo a<br />

seu encargo um lote de terra a ser amortizado em rápido período, e via de regra localizados junto a uma grande propriedade local<br />

expressiva. CF. MENDONÇA, Sonia Regina de. “A Construção do Trabalhador Nacional: Estado e Pobreza Rural no Brasil de<br />

Inícios do Século XX”.. Trabalho apresentado junto ao Primer Congreso Internacional “Pobres y Pobreza En la Sociedad Argentina”.<br />

Anais. Buenos Aires, novembro, 1997, pp. 111-125.<br />

38 Relatório do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1911, vol.II, pp.251-2. Grifos<br />

do autor.<br />

39 - “Constituição de 1934” in: CAMPANHOLE, C. Constituições do Brasil. 8ª edição. São Paulo, Atlas, 1985. p.511<br />

40 Idem p. 505.<br />

41 Ibidem, p.538.<br />

42 “Constituição de 1937”. IN: Id. Ibidem, p. 440.<br />

43- Para uma análise sobre o projeto agrário do Estado Novo, vide: RIBEIRO, Vanderley. Um olhar para a roça: o projeto agrário<br />

do Estado Novo e a reação dos proprietários de terra (1937-1945). Rio de Janeiro, UFRJ, Dissertação de Mestrado, 2000 .<br />

937


TRANSFORMAÇÕES NO PROCESSO PRODUTIVO NA REGIÃO NORTE DO<br />

ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />

RESUMO<br />

938<br />

Trabalho apresentado por:<br />

MARGOT WAGNER PAES 1<br />

Grupo Temático Nº 5<br />

”Transformaciones estructurales y sociales en la agricultura”<br />

Coordinación<br />

Josefa Salete Barbosa Cavalcanti<br />

jsaletec@hotlink.com.br<br />

Guillermo Neiman<br />

gneiman@mail.retina.ar<br />

A construção do objeto parte de cenários produtivos diferenciados na antiga região canavieira do Norte do estado do Rio de<br />

Janeiro - o setor canavieiro em reestruturação – o setor de fruticultura emergindo. Destaca-se Campos dos Goytacazes por ser<br />

um município polarizador da economia regional, mas que vem perdendo posição. Pondera-se que últimos 30 anos ocorreram mudanças<br />

significativas. O início da produção de petróleo e gás natural na bacia de Campos e a introdução da lei dos royalties determinaram<br />

mudanças na composição do PIB estadual e nos orçamentos municipais, com influências significativas no cenário social, econômico<br />

e político. Esse trabalho está fundamentado em entrevistas e indicadores de Renda, PIB, Qualidade dos Municípios-IQM, Condições<br />

de Vida–ICV e Desenvolvimento Humano–IDH. A luz de novos enfoques teóricos, especialmente do desenvolvimento humano o<br />

processo de reestruturação produtiva da atividade canavieira e da fruticultura será abordado na perspectiva do desenvolvimento rural<br />

humano e sustentável.<br />

1. Introdução<br />

Inicialmente, é importante considerar algumas especificidades da região Norte do estado do Rio de Janeiro 2 tendo como<br />

perspectiva analisar a proposta e o processo de reestruturação produtiva em curso – diminuição da importância da cana-de-açúcar e<br />

a estratégia de introduzir a fruticultura –.<br />

O primeiro recorte desse objeto de estudo 3 será regional fundamentado no processo de reestruturação produtiva que ocorreu<br />

de forma mais significativa nos municípios de Campos dos Goytacazes, São Francisco de Itabapoana, e Quissamã. Justifica-se a<br />

ênfase em Campos dos Goytacazes por ser um município que polarizou a economia regional por muitas décadas, mas que vem<br />

perdendo posição, frente ao cenário que se configurou na década de 90. O segundo recorte privilegiará uma análise em termos do<br />

cenário econômico e social da região em foco. Essa abordagem pretende abrir reflexões sobre o desenvolvimento regional e, mantém<br />

estreitas relações com a atividade da monocultura canavieira e diversificação da produção agrícola.<br />

Nessa perspectiva uma periodização torna-se necessária, tendo em vista que, a monocultura canavieira perdurou por mais<br />

de 40 décadas influenciando significativamente na economia regional. As primeiras propostas de diversificação produtiva surgem em<br />

torno dos anos 60 e 70. No entanto, esse processo só passa a ocorrer de forma mais efetiva a partir dos anos 80. Com a diminuição<br />

da importância econômica do setor agro-sucro-alcooleiro surgem novas articulações e emergência de novos setores produtivos.<br />

O objetivo deste estudo está estruturado em torno de uma abordagem sócio-econômica regional perpassando pela análise do<br />

processo de reestruturação produtiva relacionada com as “capacidades” 4 locais.<br />

Em termos de objetivos gerais pretende-se observar:<br />

i. Como correu a diminuição da importância da cana;<br />

ii. Como surgiu a proposta e a estratégia de introdução da fruticultura.<br />

Em termos de objetivos específicos, a pesquisa abrange pelo processo de desenvolvimento regional levando em consideração<br />

o processo de transformação dos seguintes cenários: econômico e social.


2. Apresentação da Região Norte Fluminense<br />

De uma forma generalizada, a ocupação do Norte Fluminense ocorreu no período da colonização do Brasil com a criação de<br />

gado, visto que o recôncavo da Guanabara estava ocupado pela cultura de cana-de-açúcar, não havendo, portanto, área para criá-los.<br />

Assim, o gado multiplicou-se rapidamente e os canaviais começam a aparecer nas partes mais elevadas da planície. Dessa forma, o<br />

gado e a atividade canavieira constituíram as primeiras fontes de acumulação de capitais e capacidades.<br />

Numa breve retrospectiva observa-se que a cana-de-açúcar foi introduzida na região junto com a colonização do Brasil, em<br />

1539. A Vila de Campos se destaca desde o início da colonização. Esta foi fundada em 1652, destruída em 1672, reconstruída em 1676,<br />

elevada à categoria de cidade em 1835. No início do século X<strong>VI</strong>I, os navios já partiam do Rio de Janeiro para Lisboa carregados de<br />

açúcar e aguardente, sendo que no final do século X<strong>VI</strong>II encontra-se, nos registros, que a região de Campos já exportava. No final do<br />

século XIX, a indústria do açúcar se encontrava bem desenvolvida. O açúcar em diversos momentos se constituiu num dos principais<br />

produtos de exportação brasileira, assim sendo, esse setor passou a organizar sua representação no cenário nacional entre as décadas<br />

de 20 e 30.<br />

2.1. A trajetória da atividade canavieira no Norte Fluminense<br />

Para compreender a trajetória da atividade canavieira torna-se fundamental considerar duas questões: a trajetória da organização<br />

de atores sociais – os trabalhadores rurais, produtores de cana e usineiros – que se articularam em torno de instituições classistas e o<br />

processo de intervenção estatal.<br />

No cenário dos anos 20 e 30, as pressões do mercado de açúcar influenciaram na organização dos atores sociais, balizando<br />

e definindo a necessidade da formação de Sindicatos, Associações, Cooperativas. Esse processo culmina com a criação do Instituto do<br />

Açúcar e do Álcool – IAA, em 1933.<br />

Uma breve retrospectiva da história regional possibilita perceber que a primeira modernização do setor canavieiro ficou<br />

marcada pela transformação dos engenhos em usinas que se consolida durante a Primeira República brasileira. Dos anos 30 até 60, a<br />

região possuía 31 usinas 5 . A partir de 1963 até meados dos anos 70 passa a operar com 28 usinas. A segunda modernização ocorreu<br />

em meados dos anos 70 concentrando o parque industrial 6 em 17 usinas aumentando a capacidade de moagem para 16 milhões de<br />

toneladas por ano, sendo que, a partir do final dos anos 90 apenas 9 usinas estão funcionando e encontram-se com a produção e a<br />

capacidade de moagem bem abaixo da instalada nos anos 70.<br />

2.2. A redução do número de Usinas no NF frente à perda de posição da produção de cana-de-açúcar no cenário<br />

nacional<br />

A chamada “modernização conservadora” dos anos 70 possibilitou um incremento na produção e a redução do número de<br />

usinas. Este processo foi realizado através de financiamento do Fundo Especial de Exportação, do Programa de Racionalização da<br />

Agroindústria Açucareira iniciado em 1971, sendo que em 1975 surge o Proálcool, que estimulou a produção nos estados canavieiros<br />

que dispusessem de melhores condições agroindustriais. O tabela abaixo possibilita visualizar a significativa redução do número de<br />

usinas,na região canavieira do estado do Rio de Janeiro, especialmente, depois da implantação do Próalcool (1975/85).<br />

Número de Usina no estado do Rio de Janeiro,<br />

Período de 1929/30 a 2002<br />

Total de Usinas<br />

Década<br />

29/30<br />

Década<br />

50/59<br />

Fonte: Sindicato dos Usineiros de Campos e ASFLUCAN, (2002).<br />

31<br />

28<br />

Década<br />

60/74<br />

23<br />

939<br />

17<br />

Década<br />

75/95<br />

Década<br />

96 – 2002<br />

A retrospectiva da produção de cana-de-açúcar no período de 1934 a 2002 permite observar que o estado do Rio de Janeiro<br />

não acompanha a trajetória da modernização do Brasil. Até final da década de 60 ocupava uma posição privilegiada entre o 2° e 3°<br />

lugares na produção da cana-de-açúcar do país, no período de 1968 a 1982, cai para o 4° lugar. A região canavieira do Estado do Rio<br />

de Janeiro perde posição principalmente para São Paulo, Alagoas, Pernambuco, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso e Goiás, sendo<br />

que, esses três últimos não são regiões tradicionais na cultura da cana-de-açúcar. Enquanto outras regiões do Brasil cresceram com a<br />

implantação do PROÁLCOOL (1975/85), o Estado do Rio de Janeiro perdeu posição passando, na década de 80, a ocupar entre o 5°<br />

e 6° lugares.<br />

9


Produção da cana-de-açúcar no Brasil e estado do Rio de Janeiro, por safra,<br />

Posição do estado do Rio de Janeiro no cenário nacional e número de usinas, 1934 a 2002.<br />

940


Fonte: IAA/ FEPLANA / ASFLUCAN (2001) e (Paes, 1999).<br />

Entanto a tabela anterior procurou evidenciar a diminuição do número de usinas nas últimas quatro décadas, esta última,<br />

demonstrou uma queda na produção e a perda de posição do setor canavieiro frente ao cenário nacional.<br />

Na década de 90, enquanto outras regiões canavieiras continuaram uma trajetória de crescimento, o Estado do Rio de Janeiro<br />

continua perdendo posição no ranking nacional passa a ocupar as posições entre 8° e 10 º lugar. Para perceber essa defasagem dois<br />

períodos importantes – 1975 / 1985 e 1978 / 1988 – serão destacados. A análise do primeiro período que coincide com o Próalcool,<br />

deixa evidenciada que no nível nacional, a produção de cana-de-açúcar cresceu 226%, no entanto, a região canavieira de Campos não<br />

acompanha esta trajetória incrementando apenas 31% na sua produção. O segundo período (78/88) o incremento foi de apenas 17%<br />

e inclui a maior produção de cana-de-açúcar no Estado do Rio de Janeiro nos últimos anos (8,9 milhões de toneladas) sendo que, nesse<br />

mesmo período, no nível nacional o incremento foi de 96%.<br />

Produção da cana-de-açúcar no Brasil e estado do Rio de Janeiro<br />

Safras 1975/85 e 1978/88<br />

Períodos Brasil % RJ %<br />

75/76 68.582.866 6.482.264<br />

85/86 223.672.053 226,13% 8.506.955 31,23%<br />

78/79 111.671.563 7.593.084<br />

88/89 218.696.331 95,84% 8.901.601 17,23%<br />

Fonte: IAA/ FEPLANA / ASFLUCAN (2001) e (Paes, 1999).<br />

941


As áreas de plantio de cana do Estado do Rio passaram de 130.000 para 200.000 ha. Essa expansão se caracterizou mais<br />

como horizontal do que vertical, tendo em vista que, a produtividade média permaneceu em torno de 44 ton/ha. Com base nesses<br />

dados, pode perceber que não houve aumento em termos de produtividade, apenas crescimento horizontal na área cultivada,<br />

caracterizando dessa forma, ausência de inovações e tecnologia.<br />

Até o final da década de 80 havia um crescimento da produção canavieira do Estado do Rio de Janeiro, no entanto, a década<br />

de 90 marca o início do declínio desse setor.<br />

2.3. A crise e decadência do setor canavieiro<br />

O processo de crise e decadência do setor canavieiro vem sendo abordado em vários estudos, inclusive, minha dissertação de<br />

mestrado (Paes, 1999). No entanto, o cenário de crise continua se agravando tendo em vista que a produção da safra 2001/02 ficou em<br />

torno de três milhões de toneladas. Isto corresponde a 80 mil ha cultivados em cana-de-açúcar, voltando-se assim à posição da década<br />

de 60 (Asflucan, 2002). Comparando as produtividades de outras regiões percebe-se que o Nordeste alcançou uma produtividade em<br />

torno de 52 a 56 t/ha e São Paulo chega a produzir em média 76 t/ha e o Estado do Rio que se encontra com uma produtividade em torno<br />

de 38 t/ha.<br />

Das dezessete usinas instaladas, na década de 70, apenas nove estão em funcionamento, o que representa uma redução de<br />

capacidade de moagem instalada, mas, mesmo assim, existe uma capacidade de moagem acima da capacidade produzida em cana-deaçúcar<br />

nas últimas safras.<br />

No cerne do processo da crise e decadência do setor canavieiro é importante destacar dois cenários: o cenário econômico e<br />

o cenário social.<br />

3. O cenário social<br />

Na tentativa de relacionar as questões produtivas e seus impactos no cenário social, destacam-se as transformações<br />

ocorridas nas últimas décadas nas condições 7 de vida e estratégias de sobrevivência dos fornecedores de cana e dos trabalhadores<br />

rurais. Objetiva-se perceber as estratégias de inserção econômica e social dos antigos fornecedores de cana e trabalhadores rurais.<br />

3.1. Fornecedores de Cana<br />

Fundamentando-se em dados regionais pode-se verificar que houve expansão do número de fornecedores de cana-de-açúcar,<br />

essa expansão coincide com o período da modernização da agroindústria e com o período da implantação do PROÁLCOOL. Assim,<br />

essa expansão pode estar relacionada a uma estratégia de sobrevivência, sendo que a partir da crise ocorre uma grande redução do<br />

número de pequenos fornecedores. Ao evidenciar esses números destaca-se a permanência de uma estrutura estratificada em torno de<br />

90% de pequenos fornecedores. Sendo que, os 90% dos pequenos fornecedores participaram com 24% da produção, os médios<br />

fornecedores que são 8%, participaram com 30 % da produção e finalmente os grandes que representam apenas 2% concentraram 46%<br />

da produção total.<br />

942


Número pequenos, médios e grandes<br />

fornecedores de cana no período 1960/2001<br />

Número de<br />

Fornecedores<br />

Toneladas<br />

1960 % 1971 % 1983 % 1984 % 1985 % 1997 % 2001 %<br />

Pequeno 7.340 90 8.630 86 7.644 73 12.963 89 12.894 87 7.681 90 5.580 90<br />

até 500<br />

Médios 746 9 1.222 12 2.793 27 1.371 9 1.573 11 724 8 496 8<br />

501/3000<br />

Grandes 87 1 161 2 63 1 270 2 286 2 154 2 124 2<br />

Acima 3000<br />

TOTAL 8.173 100 10.013 100 10.500 100 14.604 100 14.753 100 8.559 100 6.200 100<br />

(ASFLUCAN, 2001). In: (Neves,1997) e (Paes, 1999).<br />

O cenário de concentração de pequenos produtores envolvidos na monocultura canavieira pode ser comparado com os dados<br />

do IBGE que demonstra a concentração de pequenos estabelecimentos agrícolas.<br />

Número de estabelecimentos agrícolas – estratificação em hectares<br />

Norte Fluminense e Campos dos Goytacazes – 1996<br />

Localidade Total Menos de<br />

10 ha<br />

De 10 de<br />

100 ha<br />

943<br />

De 100 a<br />

1000 ha<br />

Acima de<br />

1000 ha<br />

Norte Fluminense 15.028 8.316 5.393 1.248 68 3<br />

% 100 55,34 35,89 8,30 0,46 0,01<br />

Campos dos<br />

Goytacazes<br />

7.144 4.290 2.276 542 33 3<br />

% 100 60,05 31,86 7,59 0,46 0,04<br />

Fonte: IBGE – Anuário Estatístico RJ/1997 - Base Censo Agropecuário 1995/96.<br />

Sem<br />

declaração<br />

No município de Campos 4.290 estabelecimentos agrícolas correspondem a 60 % da estratificação total e estão classificados<br />

com áreas menores que 10 ha. Como o Módulo Fiscal 8 estabelecido pelo INCRA para essa região é de 12 ha estes estabelecimentos<br />

podem ser considerados como minifúndios 9 .<br />

Ao levar em consideração que o processo de decadência da atividade canavieira vem contribuindo com as mudanças de<br />

estratégias de vida de pequenos fornecedores, percebe-se que o problema não se esgota na questão da diminuição do número de<br />

fornecedores de cana, pois esta problemática mantém estreitas relações com as estratégias de sobrevivência dos trabalhadores rurais.<br />

3.2. Trabalhadores Rurais<br />

As evidências empíricas demonstram que o quadro do desemprego no campo que se acentua na década de 90 está estreitamente<br />

relacionado à redução do número de usinas à redução da produção canavieira e à inviabilidade das atividades de fornecedores. A tabela<br />

a seguir tenta demonstrar todo esse processo:<br />

Fonte:


Redução da atividade canavieira no Estado do Rio de Janeiro:<br />

- usinas - produção de cana-de-açúcar - fornecedores - trabalhadores rurais – Período 1977 a 2001<br />

Safra Safra Safra Safra Produção<br />

atual<br />

77/78 84/85 96/97 2001/02 % %<br />

944<br />

Reduç<br />

atual<br />

Número de Usinas 17 13 9 9 52,94% 47,06%<br />

Produção de cana 7.704.440 7.640.313 5.709.830 3.072.603 39,88% 60,12%<br />

Número de Fornecedores de 10.013<br />

cana<br />

14.604 8.559 6.200<br />

Número de trabalhadores rurais 50.000 50000 38000 20.000<br />

Fonte: Asflucan, Sindicato dos Trabalhadores Rurais.<br />

61,92% 38,08%<br />

40,00% 60,00%<br />

Numa perspectiva mais ampla é importante levar em consideração que a trajetória de redução de oferta de trabalho no campo<br />

não é recente. Esse quadro pode ser datado dos anos 50 com a introdução de tratores e carretas no transporte da cana, sendo que, nos<br />

anos 60 o processo de mecanização das atividades produtivas na lavoura canavieira se intensificou. A partir dos anos 70 esse processo<br />

se acelera com expansão da produção e modernização da agroindústria. Na modernização da agroindústria canavieira estão envolvidos<br />

os usineiros, e os fornecedores de cana-de-açúcar – grandes – médios e pequenos que procuram se adaptar à utilização de instrumentos<br />

mecanizados e outras técnicas de cultivo, com o objetivo de ampliar a produção. Para isso, recorreram ao uso de crédito agrícola<br />

financiando os investimentos tanto de capital a ser investido na produção quanto de capital destinado à compra de máquinas e<br />

equipamentos agrícolas.<br />

Pode-se destacar que a utilização de instrumentos mecanizados exigia, no primeiro momento, a ampliação do número de<br />

membros produtivos a serem incorporados às atividades, mas, somente durante a safra. Frente ao processo de especialização na<br />

produção de cana, as formas de agregação na produção foram mais sistematizadas e deram lugar a novos agentes sociais como: o<br />

carreteiro e o empreiteiro, que passaram a concentrar as atividades de vários carreiros, antigos lavradores, colonos, ou pequenos<br />

produtores de cana, que se especializavam no transporte das canas e que, expropriados da posse desses meios de transporte, foram<br />

transformados em clientela usuária desses serviços. Nesse contexto, surgiram as “turmas”, especialmente na época da safra. Com o<br />

surgimento das turmas, intensificam-se os contratos de serviços que passam a ser feitos sob empreitada, por tarefa, sem vínculo<br />

empregatício formal. A partir daí, os trabalhadores são definidos como clandestinos ou “bóias frias”, porque as relações entre eles e<br />

o líder da equipe são intermitentes e informais (Neves, 1981:134 -171). Dessa forma, ocorreu uma maior precarização das condições<br />

de trabalho no campo passando a se configurar como um trabalho informal, sem vínculos e garantias trabalhistas. A precarização<br />

incide com a redução da oferta de trabalho no campo. Isto pode ser percebido fazendo uma análise comparativa da safra 77/78 com de<br />

2001/02. Por um lado, verifica -se uma redução na ordem de 60% tanto na oferta de trabalho quanto na produção de cana-de-açúcar.<br />

Por outro lado, a redução do número de usinas e do número de fornecedores foi na ordem de 40% e 38% respectivamente. Isso<br />

corresponde a uma redução na ordem de 34 mil empregos diretos no campo.<br />

4. O cenário Econômico<br />

Como no objetivo deste estudo está inserido uma abordagem econômica torna-se fundamental destacar a existência de “capacidades<br />

regionais e humanas” 10 . Nesse primeiro momento, a abordagem do cenário econômico tentará relacionar “capacidades” com o<br />

processo de reestruturação produtiva dos municípios de Campos dos Goytacazes, São Francisco de Itabapoana e Quissamã.<br />

5. As novas trajetórias produtivas<br />

5.1. A reestruturação produtiva<br />

Frente ao cenário de decadência produtiva, inviabilização das atividades de um número significativo de fornecedores de cana<br />

e precarização das condições de trabalho no campo configura-se a heterogeneidade econômica e social. A partir daí, surgem as<br />

primeiras propostas e estratégias de reestruturação produtiva. A proposta de reestruturação produtiva emerge no final dos anos 90,<br />

no entanto, é importante levar em consideração os antecedentes dessa proposta.<br />

5.1.1. Antecedentes<br />

As propostas sobre a diversificação produtiva regional não devem ser consideradas como uma articulação nova e sim como<br />

uma reedição de idéias. Pesquisas em órgãos regionais indicam que existe um arsenal de documentos, projetos e estudos que<br />

demonstram a viabilidade da diversificação. Esses estudos iniciaram no final dos anos 60 porque sérias dificuldades enfrentadas na<br />

comercialização do açúcar impõem limitações às atividades econômicas. Isto gerou atraso no pagamento das canas de fornecedores e<br />

nos pagamentos dos trabalhadores, que se viram obrigados a restringir o consumo. No enfrentamento dessa crise, surge a proposta de<br />

diversificação das atividades agrícolas. Essa proposta encontra apoio de várias instituições, inclusive estrangeiras, no sentido de

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!