livro - ALASRU - VI CONGRESSO_PARTE 3

EVALORIZAÇÃO PESSOAL E AUTO-ESTIMA ATRAVÉS DO TRABALHO COLETIVO
1. INTRODUÇÃO
603
Poppy Brunini Pereira Nuñez 1
O seguinte trabalho, analisa as características próprias da divisão sexual do trabalho no mundo rural e a maneira como as
organizações de mulheres tem procurado solucionar a problemática se revalorizando através do trabalho coletivo.
Trabalhos acadêmicos tem confirmado que homens e mulheres desenvolvem atividades diferentes no meio rural com
hierarquias diferentes. Essas hierarquias colocam geralmente a mulher numa posição inferior ao homem.
O trabalho analisa duas organizações de mulheres rurais o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do estado de
Rio Grande do Sul (MMTR)e a Associação Nacional de Grupos de Mulheres Rurais do Uruguai (ANGMRU) e as estratégias por elas
utilizadas para superar as problemáticas de gênero no meio rural, revalorizando as mulheres participantes destas organizações.
A partir desta problemática os objetivos deste trabalho são os seguintes:
• Analisar as características de gênero no meio rural.
• Caracterizar a hierarquização do trabalho rural, demostrando que a mulher desenvolve atividades consideradas
inferiores ou complemento de uma atividade maior.
• Desenvolver uma rápida apresentação das organizações de mulheres rurais em estudo.
• Verificar a hipótese que diz que a partir do trabalho coletivo as mulheres organizadas conseguem sair de sua
posição de inferioridade e reivindicar seus direitos como cidadãs.
A metodologia utilizada no trabalho baseia-se numa revisão bibliográfica sobre as características de gênero no meio rural,
análise de materiais escritos elaborados pelas organizações e uma pesquisa de campo desenvolvida com as dirigentes do MMTR e a
ANGMRU.
2. CARACTERÍSTICAS DE GÊNERO NA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
mulheres.
2.1. Hierarquias de gênero no meio rural
Em praticamente todas as sociedades humanas existem diferenças e complementaridade de papéis entre homens e
De acordo com Hartmann (1976) citado por Brumer (1996), muitos estudos antropológicos sugerem que a estratificação
social ocorreu concomitantemente com o aumento da produtividade, da especialização e da complexidade da sociedade.
De acordo com Nobre citada por Siliprandi (1999) a forma de dividir o trabalho entre homens e mulheres na agricultura e
a desvalorização de um trabalho em relação a outro, às vezes toma a forma de divisão entre produtos (aqueles para a venda e aqueles
para consumo) ou entre trabalho chamado “leve” e aquele “pesado”, etc. O que permanece, em qualquer situação, é a desvalorização
da mulher e das atividades que ela faz, mesmo que essas atividades mudem de acordo com o contexto.
Ainda hoje a divisão sexual do trabalho parte do princípio de que os homens são responsáveis pelo trabalho produtivo
(a agricultura, a pecuária, enfim tudo o que se associa ao mercado) e as mulheres, pelo trabalho reprodutivo (o trabalho
doméstico, o cuidado da horta e dos pequenos animais , tudo o que é feito para o consumo próprio, sem contar a