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livro - ALASRU - VI CONGRESSO_PARTE 3

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3.3. Discutindo os papeis da mulher rural<br />

Seguidamente se fará um curto análise dos depoimentos colhidos nas entrevistas desenvolvidas com parte das dirigentes<br />

do MMTR e a ANGMRU. Através das entrevistas busca-se analisar dados que nos permitam confirmar a hipótese que diz que o<br />

trabalho coletivo permite uma revalorização das mulheres integrantes, procurando superar pelo menos parte dos problemas constatados<br />

na revisão bibliográfica.<br />

Foram entrevistadas 30% das dirigentes estaduais e nacionais de ambas organizações, a maioria das mulheres entrevistadas,<br />

já formavam parte de outra organização antes de ingressar no movimento. Formavam parte da igreja, de clubes de mães, da comissão<br />

da escola, da juventude rural, de cooperativas agrárias ou de algum outro movimento social do campo. Apesar disso como elas<br />

afirmam, nenhuma dessas organizações preocupava-se com a problemática de gênero no meio rural. Por esse motivo e aprendendo das<br />

experiências anteriores, estas mulheres se encorajam e criam sua própria organização onde procuram não cometer os erros das<br />

anteriores.<br />

Todas começaram participando como integrante de um grupo de base, a partir daí foram assumindo cada vez mais<br />

responsabilidades até chegar hoje a serem as principais líderes de sua organizações. Como as próprias entrevistadas afirmam, suas<br />

vidas mudaram totalmente, dando-se conta de sua anterior submissão e assumindo a partir daí um papel mais protagônico 2 .<br />

Rita do MMTR, comenta: “minha vida mudou totalmente, no sentido de ser mãe, ser companheira, dentro da comunidade.<br />

O Movimento para mi foi uma espécie de libertação”. Lúcia do MMTR, afirma que “no movimento de mulheres a gente se descobre<br />

como mulher além de que você vai construindo e contribuindo para que outras mulheres também o façam. Quando a gente se descobre<br />

muda nossa concepção da vida e a de nossos filhos, assim você muda a sociedade”.<br />

Noelia da ANGMRU afirma que seu ingresso não foi muito consciente, porém afirmou que era a única maneira que ela<br />

achava de melhorar a situação das mulheres.<br />

Isto nos mostra que desde o começo a necessidade de um espaço estava presente, indica que estas mulheres sempre foram<br />

um pouco conscientes de sua situação de inferioridade, estava só faltando um espaço para que suas potencialidades fossem desenvolvidas.<br />

São várias as experiências que as mulheres resgatam da sua participação na organização, destacando a valorização pessoal,<br />

a capacitação e o fato de aprender a trabalhar juntas e lutar por seus direitos. Vanessa do MMTR, afirma que o melhor é o<br />

“aprendizado, a formação, o conviver com as outras companheiras, a amizade que se faz no movimento. Essas coisas fazem<br />

maravilhas na vida da gente”. Para Noelia o principal foi “conhecer gente que me reivindique com o gênero humano, quando estou<br />

muito desencantada descubro coisas na gente que acho muito boas” No entanto Jasmim do MMTR, destaca que o principal que o<br />

movimento lhe deu foi “aprender a lutar por meus direitos e me reconhecer como mulher trabalhadora rural”.<br />

É muito importante fazer ênfase no fato de que através do trabalho em grupo estas mulheres conseguiram se valorizar,<br />

capacitar-se e principalmente aprenderam a lutar por seus direitos, descobrindo-se como cidadãs com seus direitos e deveres.<br />

É necessário destacar também que durante essa caminhada, várias barreiras foram enfrentadas, vários problemas tiveram<br />

que ser superados, porém nenhuma das entrevistadas está arrependida do caminho percorrido. Durante a entrevista, ao consultar<br />

sobre esse assunto a maioria delas considerou como a maior barreira a superar o medo de não conseguir enfrentar os desafios. Lorena<br />

do MMTR colocou que “no começo achei que estava remando contra o mar. A discriminação contra a mulher é ainda muito grande,<br />

os homens têm medo de mulher organizada por que ganha poder”. Para Noemi da ANGMRU o principal problema foi “a pouca<br />

facilidade de palavra e o medo de falar em público, atualmente tenho superado esse problema”. Isso mostra que as barreiras colocadas<br />

para a participação pública da mulher, principalmente no meio rural as fazia duvidar de sua capacidade. Atualmente todas afirmam ter<br />

superado seus medos iniciais. Apesar de que sempre surgem barreiras e inconvenientes hoje sentem-se mais fortes e capazes de<br />

superá-las.<br />

Outro ponto importante à analisar é a opinião da família com respeito a participação delas na organização, tendo em conta<br />

que, segundo vários autores a família é uma das principais responsáveis pela posição de submissão da mulher na sociedade. A maioria<br />

das entrevistadas afirma ter atualmente todo o apoio de seus companheiros e filhos, porém esse respeito e esse apoio foi muito<br />

trabalhado por elas mesmas nas suas casas. Joseli afirma que “atualmente estão mais convencidos, no começo meu marido dizia, tá<br />

bom eu te deixo ir, como fazendo um favor, atualmente são mais conscientes de minhas responsabilidades”. Sandra conta que “eles<br />

gostam do que a gente faz. Algumas vezes ficam com um pouco de ciúmes pelo tempo que eu tiro da família para dedicar a ANGMRU.<br />

Igualmente eles se sentem muito orgulhosos do que sua mãe faz”.<br />

Outro aspeto importante é que as mudanças não ficam só restritas à vida familiar, elas ultrapassam os limites do “jardim”,<br />

chegando às comunidades onde estas mulheres participam. Os resultados das entrevistas mostra que, a maioria das mulheres afirma<br />

que sua comunidade respeita e admira a participação delas na organização. Lúcia conta que “nós temos conquistado um respeito muito<br />

grande das mulheres da comunidade, principalmente com temas como saúde e participação, isso mexe com a vida delas”. Porém, nem<br />

todo o mundo reconhece o admira o trabalho destas mulheres, como afirma Jasmim: “algumas pessoas têm admiração pela minha<br />

capacidade, por minha coragem, outras pessoas criticam. Muitos criticam por inveja por não terem a mesma capacidade e a mesma<br />

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