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livro - ALASRU - VI CONGRESSO_PARTE 3

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É importante ter em conta também, que é impossível apostar no desenvolvimento de qualquer setor produtivo, se a<br />

metade de sua população está excluída por uma questão de gênero.<br />

Dentro das demandas que fizeram as mulheres integrantes da ANGMRU, num documento que foi apresentado ao sistema<br />

político através da “Rede de Mulheres Políticas do Uruguai” em 1998, destaca-se a necessidade da capacitação das mulheres rurais em<br />

áreas como produção, comercialização e marketing, para que os produtos que elas elaboram em suas pequenas empresas, sejam de boa<br />

qualidade e competitivas no mercado.<br />

No entanto, existem algumas atividades de formação que historicamente se dirigem às mulheres, e estão perfeitamente<br />

dentro do espírito de manutenção da divisão sexual do trabalho descrita acima. São aquelas atividades que reforçam o papel tradicional<br />

da mulher, e têm o objetivo de melhorar atividades que normalmente são feitas por elas, tais como doces, bordados, artesanato em<br />

geral. Durante muitos anos, esta foi a orientação seguida pela extensão rural feita pelas equipes da EMATER, e também por muitos<br />

trabalhos da igreja (Siliprandi, 1999).<br />

Siliprandi (1999), também afirma, que algumas vezes essas atividades de formação acima descritas acabam tendo aspectos<br />

positivos, pois proporcionam espaços de socialização dessas mulheres, de engajamento em trabalhos que podem gerar algum ingresso<br />

e alguma formação profissional, promovendo um reforço da sua auto-estima levando a questionamentos sobre a sua situação de<br />

desigualdade, ainda que nem sempre esta tenha sido a intenção inicial desses trabalhos. Temos que aclarar também que muitas vezes<br />

essas atividades não dão certo, originando um retrocesso na área social e às vezes econômica das mulheres incluídas nas atividades<br />

Segundo o MMTR/RS (1998) “a primeira condição para agir é conhecer. Se não sei onde piso e para onde vou, andarei por<br />

descaminhos e aportarei eternamente na dúvida e no erro” (p. 3).<br />

2.3. Trabalho da mulher vs. capitalismo<br />

É bastante difundida a idéia de que a mulher camponesa é liberada das atividades agrícolas com o desenvolvimento do<br />

capitalismo. A introdução de maquinaria agrícola provocaria uma maior quantidade de produto com menor trabalho humano,<br />

possibilitando então uma liberalização da mulher das atividades agrícolas, passando a dedicar-se apenas às atividades domésticas<br />

(Brumer & Freire, 1993/1994).<br />

Existem várias pesquisas realizadas na América Latina, que examinam os principais fatores que afetam a inserção das<br />

mulheres em atividades produtivas e como o desenvolvimento rural pode modificá-las. Para isso, são considerados os resultados de<br />

algumas pesquisas realizadas na América Latina e citadas por Brumer (1996), junto com trabalhos desenvolvidos no Brasil por vários<br />

autores<br />

A hipótese manejada por Brumer (1996) foi que existe uma relação entre o tipo de produção desenvolvido, a<br />

tecnologia utilizada pelos produtores e sua forma de inserção no mercado e a divisão de trabalho que se institui no<br />

interior dos estabelecimentos produtivos. Isto é, na pequena produção diversificada, com alto índice de produção para<br />

autoconsumo, a participação das mulheres nos trabalhos produtivos é maior que a que ocorre na grande produção de<br />

grãos, destinada ao mercado e baseada num elevado grau de utilização de maquinarias. Algumas situações diferenciadas<br />

de uso intensivo de tecnologia, envolvendo um número maior de mulheres, ocorre principalmente quando essas<br />

atividades requerem um trabalho constante e duradouro, como na produção de leite.<br />

Segundo Deere e Leal citadas por Brumer (1996) logo de analisar três regiões dos Andes, com desigual desenvolvimento<br />

do capitalismo (Garcia Rovira e El Espiral na Colômbia e Cajamarca no Peru) se obteve a seguinte conclusão: “a variação na divisão<br />

sexual do trabalho através do tempo e entre classes sugere que a divisão do trabalho por sexo em atividades produtivas não é apenas<br />

culturalmente determinada, mas também é sensível às condições materiais de produção” (p. 42).<br />

A comparação feita pelas autoras entre as três regiões mostra que a composição sexual da força de trabalho familiar na<br />

atividade agrícola relaciona-se com a acesso das mesmas aos meios de produção. Mulheres cujas famílias têm acesso limitado a meios<br />

de produção representam um porcentagem maior da força de trabalho familiar agrícola do que aquelas cujas famílias têm acesso a uma<br />

área de terra suficiente para garantir sua subsistência. Isto sugere que a participação da mão-de-obra feminina na lavoura está<br />

diretamente relacionada a condições de pobreza rural.<br />

Com respeito ao trabalho assalariado, o perfil é semelhante: mulheres cujas famílias não possuem terra ou possuem lotes<br />

muito pequenos, trabalham como assalariadas numa proporção muito maior do que mulheres cujas famílias caracterizam-se como<br />

camponesa média ou rica. Igualmente, a percentagem de homens no trabalho assalariado é maior, assim como seu salário.<br />

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