Tradução de Jorge Candeias
Tradução de Jorge Candeias
Tradução de Jorge Candeias
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
carta dirigida à filha e <strong>de</strong>pois a proibisse <strong>de</strong> sequer voltar a mencio‑<br />
nar o meu nome.<br />
Quando voltei a bater à porta do Rei Sagaz, Copare<strong>de</strong> veio<br />
abrir com o seu <strong>de</strong>sagrado sombrio habitual. Recebeu o rolo que<br />
lhe entreguei como se estivesse sujo com alguma coisa, e fechou‑me<br />
firmemente a porta na cara. ao regressar ao meu quarto, pensei em<br />
quais os três venenos que usaria nele, caso me fosse dada a oportu‑<br />
nida<strong>de</strong>. Era menos complicado do que pensar no meu rei.<br />
De volta ao quarto, atirei‑me para cima da cama. Desejei que<br />
fosse noite e fosse seguro eu ir ter com Moli. Então pensei nos meus<br />
segredos, e mesmo essa agradável antecipação <strong>de</strong>sapareceu. Saltei<br />
da cama e escancarei as portadas da janela à tempesta<strong>de</strong>. Mas até o<br />
tempo me <strong>de</strong>sapontou.<br />
o azul rompera o manto <strong>de</strong> nuvens, para <strong>de</strong>ixar passar um<br />
pouco <strong>de</strong> luz aquática do sol. um banco <strong>de</strong> nuvens negras que fer‑<br />
vilhavam e se acumulavam sobre o mar prometia que aquela pausa<br />
não duraria muito. Mas, por agora, o vento e a chuva tinham cessa‑<br />
do. até havia uma sugestão <strong>de</strong> calor no ar.<br />
olhos‑<strong>de</strong>‑Noite veio à minha mente imediatamente.<br />
Está <strong>de</strong>masiada humida<strong>de</strong> para caçar. A água agarra‑se a cada<br />
folha <strong>de</strong> erva. Além disso, é dia claro. Só os homens são suficientemen‑<br />
te estúpidos para caçar quando é dia claro.<br />
Cão preguiçoso, censurei‑o. Sabia que estava enrolado sobre si<br />
próprio na toca, com o focinho apoiado na cauda. Senti a tépida sa‑<br />
ciação da sua barriga cheia.<br />
afastei‑me <strong>de</strong>le, e peguei no manto. os meus sentimentos não<br />
se prestavam a passar o dia <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> muros. Saí da torre e dirigi‑me<br />
à Cida<strong>de</strong> da torre do Cervo. a fúria pela <strong>de</strong>cisão que Sagaz tomara<br />
a meu respeito guerreava com a consternação com o quanto ele en‑<br />
fraquecera. Caminhei vivamente, tentando fugir às mãos trementes<br />
do rei, ao seu sono drogado. Maldito fosse o Copare<strong>de</strong>! Roubara‑me<br />
o meu rei. o meu rei roubara a minha vida. Recusei‑me a continuar<br />
a pensar.<br />
pingos <strong>de</strong> água e folhas <strong>de</strong> bordas amarelas caíam das árvores<br />
por que passava. as aves cantavam com limpi<strong>de</strong>z e alegria perante o<br />
alívio inesperado da chuva intensa. o Sol ficou mais forte, fazendo<br />
tudo cintilar <strong>de</strong> humida<strong>de</strong>, fazendo evolar‑se ricos odores da terra.<br />
apesar da minha perturbação, a beleza do dia tocou‑me.<br />
as recentes chuvadas tinham lavado a Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> torre do<br />
15