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Tradução de Jorge Candeias

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merava‑se numa mesa logo abaixo <strong>de</strong>le. Não compreendi porque es‑<br />

colheria ele jantar separado dos outros. Certamente que tinha esta‑<br />

tuto para tal, mas porquê escolher aquele isolamento? Chamou um<br />

dos mais lisonjeadores menestréis que importara recentemente para<br />

torre do Cervo. a maior parte era originária <strong>de</strong> Vara. todos usavam<br />

a entoação nasalada <strong>de</strong>ssa região e favoreciam o estilo longo e ento‑<br />

ado dos épicos. aquele cantou uma longa história sobre uma aven‑<br />

tura qualquer do avô materno <strong>de</strong> Majestoso. Escutei o mínimo que<br />

consegui; aquilo parecia ter a ver com montar um cavalo até à morte<br />

para se ser o primeiro a abater um gran<strong>de</strong> veado que lograra escapar<br />

a uma geração <strong>de</strong> caçadores. a canção elogiava interminavelmente<br />

o cavalo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> coração que se atirara para a morte a pedido do<br />

dono. Nada dizia sobre a estupi<strong>de</strong>z do dono em esgotar tal animal,<br />

para ganhar alguma carne rija e uma armação <strong>de</strong> veado.<br />

“pareces meio doente,” observou Castro quando parou a meu<br />

lado. Ergui‑me para abandonar a mesa e atravessei o salão com ele.<br />

“tenho <strong>de</strong>masiadas coisas em mente. o pensamento vai em<br />

<strong>de</strong>masiadas direcções ao mesmo tempo. por vezes sinto que se tives‑<br />

se tempo para focar a mente num problema só, po<strong>de</strong>ria resolvê‑lo. E<br />

<strong>de</strong>pois iria resolver os outros.”<br />

“todos os homens acreditam nisso. Não é assim. Dá cabo dos<br />

que pu<strong>de</strong>res quando eles te aparecerem à mão, e passado algum tem‑<br />

po acostumar‑te‑ás àqueles sobre os quais nada po<strong>de</strong>s fazer.”<br />

“tais como?”<br />

Ele encolheu os ombros e dirigiu um gesto para baixo. “tais<br />

como ter uma perna aleijada. ou ser um bastardo. todos nos acos‑<br />

tumamos a coisas com as quais jurávamos que nunca seríamos capa‑<br />

zes <strong>de</strong> viver. Mas o que te rói o fígado <strong>de</strong>sta vez?”<br />

“Nada que te possa dizer por enquanto. Não aqui, pelo menos.”<br />

“oh. Mais disso, hm.” abanou a cabeça. “Não te invejo, Fitz.<br />

por vezes, tudo o que faz falta a um homem é resmungar com outro<br />

acerca dos seus problemas. a ti até isso negaram. Mas anima‑te. te‑<br />

nho fé <strong>de</strong> que conseguirás lidar com eles, mesmo que aches que não<br />

consegues.”<br />

Deu‑me uma palmada nos ombros, e então saiu numa rajada<br />

<strong>de</strong> vento frio pelas portas exteriores. Veracida<strong>de</strong> tinha razão. Se o<br />

vento daquela noite indicava alguma coisa, as tempesta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> In‑<br />

verno aproximavam‑se. tinha já subido meta<strong>de</strong> das escadas quando<br />

me apercebi <strong>de</strong> que Castro me falava agora <strong>de</strong> igual para igual. Fi‑<br />

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