Tradução de Jorge Candeias
Tradução de Jorge Candeias
Tradução de Jorge Candeias
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
a preparar cuidadosamente o veneno perfeito para Copare<strong>de</strong>. um<br />
veneno que lhe torturasse as entranhas antes <strong>de</strong> o matar. Quando o<br />
pó ficou finamente misturado e enfiado num papel torcido, pousei‑o<br />
e olhei‑o. Durante algum tempo pensei em tomá‑lo. Mas em vez dis‑<br />
so, peguei numa agulha e em fio para congeminar uma bolsa <strong>de</strong>ntro<br />
da manga on<strong>de</strong> o pu<strong>de</strong>sse transportar. perguntei a mim próprio se<br />
alguma vez o usaria. Essa interrogação fez‑me sentir mais cobar<strong>de</strong><br />
do que nunca.<br />
Não <strong>de</strong>sci para jantar. Não subi para ir ter com Moli. abri as<br />
portadas e <strong>de</strong>ixei a tempesta<strong>de</strong> <strong>de</strong>spejar chuva no chão do meu quar‑<br />
to. Deixei que a lareira se apagasse e recusei‑me a acen<strong>de</strong>r qualquer<br />
vela. parecia a altura certa para gestos como esses. Quando Breu me<br />
abriu a sua passagem, ignorei‑a. Sentei‑me aos pés da cama, <strong>de</strong> olhos<br />
fitos na chuva.<br />
passado algum tempo, ouvi passos hesitantes a <strong>de</strong>scer a es‑<br />
cada. Breu apareceu no meu quarto escurecido como um espectro.<br />
Fitou‑me, furioso, e então atravessou o quarto até às portadas e<br />
fechou‑as com estrondo. Enquanto as trancava, perguntou‑me ir‑<br />
ritado, “Fazes alguma i<strong>de</strong>ia do tipo <strong>de</strong> corrente <strong>de</strong> ar que isso gera<br />
nos meus aposentos?” Quando não respondi, ele ergueu a cabeça e<br />
pôs‑se a farejar, tal e qual um lobo. “Estiveste a trabalhar aqui com<br />
folha‑<strong>de</strong>‑morte?” perguntou <strong>de</strong> súbito. Veio pôr‑se na minha frente.<br />
“Fitz, não fizeste nenhuma estupi<strong>de</strong>z, pois não?”<br />
“Estupi<strong>de</strong>z? Eu?” Engasguei‑me com uma gargalhada.<br />
Breu <strong>de</strong>bruçou‑se para espreitar o meu rosto. “Sobe ao meu<br />
quarto,” disse, numa voz quase amável. pegou‑me no braço e eu fui<br />
com ele.<br />
o quarto alegre, o fogo a crepitar, a fruta <strong>de</strong> outono madura<br />
numa tigela; tudo aquilo colidiu <strong>de</strong> tal maneira com o que eu sentia<br />
que me <strong>de</strong>u vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> esmagar coisas. Em vez disso, perguntei a<br />
Breu: “Há alguma coisa que nos faça sentir pior do que estarmos<br />
zangados com as pessoas que amamos?”<br />
passado um bocado, ele falou. “Ver alguém que amamos mor‑<br />
rer. E estar zangado, mas não saber contra o quê dirigir a ira. acho<br />
que isso é pior.”<br />
atirei‑me para uma ca<strong>de</strong>ira, estendi os pés à minha frente.<br />
“Sagaz adoptou os hábitos <strong>de</strong> Majestoso. Fumo. Erva‑<strong>de</strong>‑riso. Só El<br />
sabe o que mais põe no vinho. Esta manhã, sem as drogas, come‑<br />
çou a tremer, e então bebeu‑as misturadas com o vinho, encheu o<br />
21