Tradução de Jorge Candeias
Tradução de Jorge Candeias
Tradução de Jorge Candeias
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Eu estava sem fala. Kettricken piorou as coisas.<br />
“Senhor, eu não pretendia que fôsseis. Vós <strong>de</strong>víeis ficar aqui.<br />
tenho <strong>de</strong> ir eu. Conheço as Montanhas; nasci nos seus costumes.<br />
Vós po<strong>de</strong>reis não sobreviver lá. Nisto, eu <strong>de</strong>via ser Sacrifício.”<br />
Foi um alívio ver Veracida<strong>de</strong> tão pasmado como eu. talvez que,<br />
tendo ouvido o plano dito por ela, compreen<strong>de</strong>sse agora como era im‑<br />
possível. Ele abanou lentamente a cabeça. tomou ambas as mãos <strong>de</strong>la<br />
nas suas e olhou‑a com solenida<strong>de</strong>. “Minha rainha expectante.” Sus‑<br />
pirou. “tenho <strong>de</strong> ser eu a fazer isto. Eu. Falhei aos Seis Ducados em<br />
tantas outras coisas. E a vós. Quando chegastes cá para ser<strong>de</strong>s rainha,<br />
não tive paciência para a vossa conversa sobre Sacrifício. tomei‑a por<br />
uma i<strong>de</strong>ia i<strong>de</strong>alista <strong>de</strong> rapariga. Mas não é. Nós aqui não lhe chama‑<br />
mos assim, mas é assim que o sentimos. Foi isso que eu aprendi dos<br />
meus pais. a pôr sempre os Seis Ducados primeiro e só <strong>de</strong>pois a mim.<br />
tentei fazê‑lo. Mas agora vejo que sempre enviei outros no meu lugar.<br />
Sentei‑me e usei o talento, é certo, e vós ten<strong>de</strong>s uma i<strong>de</strong>ia daquilo que<br />
me custou. Mas foram marinheiros e soldados quem man<strong>de</strong>i abdicar<br />
das vidas em prol dos Seis Ducados. até o meu próprio sobrinho <strong>de</strong>‑<br />
sempenhou por mim um serviço brutal e sangrento. E apesar daqueles<br />
que eu enviei para serem sacrificados, a nossa costa continua a não ser<br />
segura. agora tudo se resume a esta última hipótese, a esta coisa difícil.<br />
Deverei mandar a minha rainha fazê‑la por mim?”<br />
“talvez…” a voz <strong>de</strong> Kettricken tornara‑se rouca <strong>de</strong> incerte‑<br />
za. Baixou os olhos para o fogo enquanto sugeria: “talvez possamos<br />
fazê‑lo juntos?”<br />
Veracida<strong>de</strong> pesou a i<strong>de</strong>ia. pesou‑a mesmo, com sincerida<strong>de</strong>,<br />
e eu vi Kettricken compreen<strong>de</strong>r que ele levara o seu pedido a sério.<br />
Começou a sorrir, mas o sorriso <strong>de</strong>sbotou quando ele abanou lenta‑<br />
mente a cabeça. “Não me atrevo,” disse em voz baixa. “alguém tem<br />
<strong>de</strong> permanecer aqui. alguém em quem eu confie. o Rei Sagaz não…<br />
o meu pai não está bem. temo por ele. pela sua saú<strong>de</strong>. Comigo lon‑<br />
ge, e o meu pai doente, tem <strong>de</strong> haver alguém a ficar no meu lugar.”<br />
Ela afastou o olhar. “Eu preferiria ir convosco,” disse, com fe‑<br />
rocida<strong>de</strong>.<br />
Eu <strong>de</strong>sviei os olhos quando ele esten<strong>de</strong>u a mão, lhe envolveu<br />
o queixo nos <strong>de</strong>dos e lhe ergueu o rosto para lhe po<strong>de</strong>r ver os olhos.<br />
“Eu sei,” disse numa voz calma. “É esse o sacrifício que tenho <strong>de</strong><br />
pedir que façais. Ficar aqui, quando preferíeis partir. Ficar só, mais<br />
uma vez. para bem dos Seis Ducados.”<br />
33