Estudos Camonianos_1975.pdf - Universidade de Coimbra
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vida e integrada no mundo romano, constituindo o fundo<br />
comum da cultura artística greco-latina. Camões, o poeta<br />
-pintor do encontro <strong>de</strong> Vénus e Júpiter no canto II, do<br />
Concílio dos Deuses, da Ilha dos Amores, q4e mo<strong>de</strong>los<br />
plásticos teve? Creio que bem poucos, embora circulassem<br />
gravuras <strong>de</strong> quadros da pintura europeia do tempo, certas<br />
edições, como as das Metamorfoses <strong>de</strong> Ovídio, fossem ilustradas,<br />
e pu<strong>de</strong>ssem ocasionalmente ver-se cenas <strong>de</strong> nu<br />
mitológico, em tapeçarias e azulejos.<br />
Teria uns onze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, quando a Inquisição<br />
foi estabelecida em Portugal, em 1536. Logo a seguir,<br />
verificaram-se os primeiros rebates da Contra-Reforma,<br />
com a introdução da Companhia <strong>de</strong> Jesus em 1540 e a sua<br />
ocupação do Colégio das Artes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong>z anos mais<br />
tar<strong>de</strong>. Aí os Apóstolos (como eram então conhecidos)<br />
procuraram transformar o humanismo dos gregos e<br />
romanos em humanismo cristão: «Christianus sum non<br />
Ciceronianus» .<br />
Portanto, os méritos <strong>de</strong> Camões como pintor verbal<br />
do Renascimento, artista plástico por meio da palavra<br />
criadora, são muito mais altos, sendo ele português, nascido<br />
num dos lares da Contra-Reforma, do Humanismo<br />
cristão, do que se tivesse visto a luz e vivido em Itália<br />
pela mesma altura, ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> um ambiente artístico<br />
parcialmente paganizado e mais afim do seu génio <strong>de</strong><br />
poeta renascentista.<br />
A análise, que acabo <strong>de</strong> fazer, da atitu<strong>de</strong> criadora <strong>de</strong><br />
Camões, consi<strong>de</strong>rou o poeta na perspectiva distante do<br />
mundo greco-latino, então fermento vivo <strong>de</strong> cultura.<br />
Joaquim Nabuco viu Camões como contemporâneo<br />
das repúblicas italianas do Renascimento. Os olhos <strong>de</strong><br />
frequentador <strong>de</strong> galerias <strong>de</strong> arte maravilharam-se ante as<br />
criações visuais do seu poeta.<br />
Com esta maneira <strong>de</strong> sentir, expressa dois anos antes<br />
da sua morte, mostrou Nabuco ter percorrido uma longa<br />
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