Estudos Camonianos_1975.pdf - Universidade de Coimbra
Estudos Camonianos_1975.pdf - Universidade de Coimbra
Estudos Camonianos_1975.pdf - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Branco, con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Portimão, consolando-a<br />
pela morte <strong>de</strong> seu filho D. Gonçalo, que o poeta figura<br />
entrado no Paraíso:<br />
Magnas red<strong>de</strong> Ioui sublato pignore grates<br />
Bt Matri Intactae numinibusque Iouis<br />
«Ren<strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimentos a Júpiter, pela exaltação <strong>de</strong><br />
teu filho, e a sua Mãe Intacta, e aos numes <strong>de</strong> Júpiter»,<br />
querendo naturalmente referir-se a Deus, à Virgem Maria<br />
e aos Santos.<br />
Na poesia dos jesuítas do Colégio das Artes <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
<strong>de</strong> que tomaram conta em 1555, o Inferno cristão é<br />
«Tartara, Tartarea Styx, Tartareae plagae, Orcus», os anjos<br />
são «caelites», o céu é o «Olympus» e Deus o «summus<br />
Tonans».<br />
Linguagem e atitu<strong>de</strong> idênticas à <strong>de</strong> Camões nos passos<br />
do canto X: «Aqui só verda<strong>de</strong>iros, gloriosos I Divos<br />
estão ... » (82) em que «divos», ou «divi» em latim, é exactamente<br />
a palavra renascentista para os «santos»; «E também,<br />
porque a santa providência I Que em Júpiter aqui se<br />
representa» (83); ou «Quer logo aqui a pintura, que<br />
varia, I Agora <strong>de</strong>leitando, ora ensinando, I Dar-lhe nomes<br />
que a antiga Poesia I A seus <strong>de</strong>uses já <strong>de</strong>ra fabulando; I<br />
I Que os anjos da celeste companhia / Deuses o sacro<br />
verso está chamando, I Nem nega que esse nome preminente<br />
I Também aos maus se dá, mas falsamente» (84).<br />
Neste ponto, esclarece-nos o Doutor José Maria<br />
Rodrigues, o poeta pensava talvez num comentário <strong>de</strong><br />
Santo Agostinho sobre o texto bíblico em que aos anjos<br />
bons e maus se chama indistintamente «<strong>de</strong>uses».<br />
Um outro aspecto da poesia renascentista, tanto em<br />
latim como em vulgar, que facilitava esta interpenetração<br />
dos dois mundos, cristão e pagão, era sem dúvida o gosto<br />
das caracterizações cronológicas com base na astronomia<br />
21