12.04.2013 Views

Girândola de Amores - Universia Brasil

Girândola de Amores - Universia Brasil

Girândola de Amores - Universia Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Perdão, observou o Dr. Ludgero, limpando no lenço as lunetas, que acabava <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarmar<br />

do nariz; pergunto se essa pessoa se acha porventura implicada <strong>de</strong> qualquer forma em seus<br />

interesses...<br />

— De que espécie <strong>de</strong> interesses fala o senhor?<br />

— Dos interesses pecuniários.<br />

— Absolutamente, respon<strong>de</strong>u Júlia com um gesto <strong>de</strong> impaciência.<br />

— E quais são os seus interesses em que ela se acha implicada? Sim! Visto ter a senhora,<br />

quando lhe falei dos interesses pecuniários, lembrando outros, é porque...<br />

— Referia-me aos interesses <strong>de</strong> meu coração, <strong>de</strong> minha felicida<strong>de</strong>!<br />

— Ah!<br />

— Posso dizê-lo abertamente, porque sou livre e senhora <strong>de</strong> minhas ações; peço-lhe todavia<br />

que não insista nesse terreno... Há certas coisas na existência <strong>de</strong> uma mulher, que lhe não<br />

po<strong>de</strong>riam ser arrancadas do coração sem um gran<strong>de</strong> abalo do pudor, ou talvez <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>!...<br />

— Compreendo perfeitamente, respon<strong>de</strong>u o chefe <strong>de</strong> polícia, colocando <strong>de</strong> novo as lunetas;<br />

mas a senhora <strong>de</strong>ve saber que eu, no lugar em que estou, cumpro um <strong>de</strong>ver sagrado! A justiça,<br />

minha senhora, tem por obrigação do cargo violar friamente todos os recintos e todos os<br />

segredos. Quanto não me custa ouvir às vezes os pormenores <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>sgraça vergonhosa ou <strong>de</strong><br />

alguma negra miséria <strong>de</strong> família? Mas assim é preciso; eu aqui não sou um homem, sou<br />

simplesmente um instrumento da Lei. Tenha pois a bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> abrir o coração e dizer-me tudo o<br />

que sabe a respeito <strong>de</strong> Gregório, que me poupará <strong>de</strong>ssa forma o sacrifício <strong>de</strong> torturá-la com o meu<br />

interrogatório.<br />

— Mas o que quer o Sr. que lhe diga?... Do que serve a minha pobre opinião a respeito <strong>de</strong><br />

uma pessoa, a quem acabo <strong>de</strong> confessar que adoro?... Gregório, por pior que fosse para os outros,<br />

seria sempre para mim o i<strong>de</strong>al dos homens! O senhor, que naturalmente conhece o coração da<br />

mulher, <strong>de</strong>ve compreen<strong>de</strong>r o que há <strong>de</strong> sincero e verda<strong>de</strong>iro nas minhas palavras. Nós quando<br />

amamos, <strong>de</strong>sejamos por tal modo <strong>de</strong>scobrir boas qualida<strong>de</strong>s e brilhantes dotes no objeto do nosso<br />

amor, que, seja ele a mais ruim das criaturas, nos aparece, à luz maravilhosa <strong>de</strong> nossa <strong>de</strong>dicação,<br />

radiante e belo como o sol!<br />

— Conclui-se do que a senhora acaba <strong>de</strong> dizer, que, apesar <strong>de</strong> supor Gregório o melhor dos<br />

homens, não sustentará que ele seja incapaz <strong>de</strong> cometer um crime...<br />

— Não tive semelhante idéia! Consi<strong>de</strong>ro Gregório com os <strong>de</strong>feitos da sua ida<strong>de</strong> e do seu<br />

temperamento. Ele seria capaz <strong>de</strong> cometer qualquer levianda<strong>de</strong>, qualquer tolice, mas nunca uma<br />

infâmia!...<br />

— Sabe do que o suspeitam?<br />

— Ouvi vagamente dizer, aqui mesmo, que se trata <strong>de</strong> um roubo e <strong>de</strong> um assassínio.<br />

— E o que mais sabe a esse respeito?<br />

— É justamente por não saber mais nada, que lhe vou pedir o obséquio <strong>de</strong> dizer o que há.<br />

Constou-me agora à noite que ele fora preso, mas tudo isso é tão vago e tão incerto que...<br />

— Conhece este anel?<br />

E o chefe passou a Júlia um anel <strong>de</strong> homem com pedra <strong>de</strong> cornalina.<br />

— Sim, disse ela a examiná-lo; parece-me que o reconheço. É o mesmo ou é muito parecido<br />

com um que <strong>de</strong>i a Gregório no dia <strong>de</strong> seus anos.<br />

— Este anel foi encontrado no lugar do crime e corrobora as suspeitas sobre Gregório.<br />

— Valha-me Deus! exclamou Júlia; mas po<strong>de</strong> não ser o mesmo!...<br />

— Temos ainda um outro corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito. Examine bem este farrapo <strong>de</strong> casimira e queira ver<br />

se lembra <strong>de</strong> ter visto algum dia Gregório vestido com um paletó da cor <strong>de</strong>sta fazenda.<br />

A viúva tomou nas mãos o farrapo que lhe passou o chefe, e ficou a examiná-lo atentamente.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!