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Francisco, falou em particular a um homem que parecia esperar por ele, e seguiu tranqüilamente<br />
na direção da rua do Teatro.<br />
Gregório viu tudo isto e principiou a seguir com a vista o novo personagem.<br />
Todavia, a Menina do Bandolim, que acabava <strong>de</strong> recolher o instrumento a um saco <strong>de</strong> baeta<br />
escura, retirava-se por sua vez com o irmão.<br />
Gregório acompanhou-os a certa distância.<br />
VI<br />
PRIMEIRO ENCONTRO<br />
Enquanto Gregório acompanha em distância a Menina do Bandolim, temos que ver ainda<br />
alguma coisa no café don<strong>de</strong> ela saiu.<br />
Vários sujeitos se ergueram logo, e lá se foram retirando vagarosamente; outros se <strong>de</strong>ixaram<br />
ficar ainda a beber e a dar à língua. A mesa do rapaz louro <strong>de</strong> monóculo não sofreu a menor<br />
alteração; continuava o orador a falar, sempre com loquacida<strong>de</strong>, e os outros continuavam a ouvilo<br />
com a mesma atenção.<br />
Dois novos consumidores acabavam <strong>de</strong> entrar, conversando em voz baixa, muito<br />
animadamente. Pelo modo que discutiam, adivinhava-se facilmente que o mesmo interesse os<br />
prendia a um só assunto.<br />
Eram ambos <strong>de</strong> meia-ida<strong>de</strong>; um, porém, apresentava ser mais velho e <strong>de</strong> melhores costumes<br />
que o companheiro. Em si nada tinham afinal que pu<strong>de</strong>sse chamar a atenção ao primeiro lance <strong>de</strong><br />
vista; trajavam vulgarmente roupas baratas e cada qual trazia o seu chapéu <strong>de</strong> sol, como um<br />
símbolo <strong>de</strong> paz burguesa.<br />
Assentaram-se <strong>de</strong>fronte um do outro, pediram cerveja nacional e prosseguiram na conversa<br />
com o mesmo cauteloso empenho.<br />
Deu meia-noite. Os sujeitos que ainda ocupavam as mesinhas do café, foram <strong>de</strong>saparecendo,<br />
até que o dono da casa, dirigindo-se aos dois últimos, lhes participou que <strong>de</strong>sejava fechar as<br />
portas.<br />
Então o que parecia menos velho atirou os olhos para o relógio, fez um sinal afirmativo e,<br />
sempre a conversar, ganhou com o companheiro a rua.<br />
— É o que lhe digo, segredou-lhe o outro, quando saíam; po<strong>de</strong> contar comigo! Diga ao<br />
comendador que estou pronto para o que <strong>de</strong>r e vier...<br />
— Posso então dizer ao comendador Portela que você quer?!...<br />
— Po<strong>de</strong>.<br />
— Bem, nesse caso, precisamos amanhã mesmo enten<strong>de</strong>r-nos com ele. On<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>vemos<br />
encontrar?...<br />
— On<strong>de</strong> quiser. Aqui no café por exemplo.<br />
— Está dito. Então até lá.<br />
— Até! respon<strong>de</strong>u o companheiro, tomando o largo <strong>de</strong> S. Francisco.<br />
Mas voltou pouco <strong>de</strong>pois, para perguntar ainda alguma coisa ao ouvido do outro.<br />
— Não! respon<strong>de</strong>u este; o melhor é levar você uma boa navalha! Deixemo-nos <strong>de</strong> inovações!<br />
Cada um com o que apren<strong>de</strong>u!<br />
— Bem...<br />
E separaram-se.<br />
Entretanto, a Menina do Bandolim seguia pela rua do Teatro, com o passo seguro e<br />
apressado <strong>de</strong> quem não <strong>de</strong>seja <strong>de</strong>morar-se pelo caminho. Um homem saindo <strong>de</strong> uma esquina,