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— A menina do Bandolim, uma mocinha italiana, que, em companhia do irmão, toca<br />
bandolim no café <strong>de</strong> Java.<br />
— Ah! fez o Dr. Ludgero.<br />
Antes <strong>de</strong> prosseguirmos, é necessário, porém, dar dois <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> explicação a respeito do que<br />
há <strong>de</strong> comum entre a menina do Bandolim e o suspeito Gregório.<br />
Uma noite, sete horas em ponto, o nosso herói, vestido com esmero e correção <strong>de</strong> quem<br />
<strong>de</strong>seja agradar a olhos exigentes, meteu-se no bon<strong>de</strong> em caminho da cida<strong>de</strong>, e só apeou para<br />
tomar o da Tijuca. Escusado dizer que não era o rico panorama do arrabal<strong>de</strong> o que atraía o moço<br />
àquelas horas. E não menos escusado é <strong>de</strong>clarar que espécie <strong>de</strong> ímã o puxava para ali com tanta<br />
força.<br />
Em certa altura Gregório saltou em terra <strong>de</strong>fronte <strong>de</strong> um chalé, pintadinho <strong>de</strong> novo e meio<br />
apadrinhado do sol, pela folhagem <strong>de</strong> algumas árvores; apadrinhado durante o dia, bem<br />
entendido, porque durante a noite o padrinho era um formidável cão negro, que bradava armas a<br />
todo o vulto, suspeito ou não, que passasse pela esquina.<br />
E tanto assim que, mal Gregório se aproximou do portão, já o tal padrinho ladrava a bom<br />
ladrar.<br />
— Está quieto, Netuno! exclamou o moço, fazendo vibrar a campainha.<br />
Veio logo a criada e Gregório perguntou:<br />
— Ela está em casa?<br />
Este modo <strong>de</strong> saber se a pessoa que vamos a visitar está em casa, prova alguma coisa, prova,<br />
pelo menos, que Gregório era já tão familiar da criada quanto o era <strong>de</strong> Netuno, e por conseguinte<br />
que aquela visita po<strong>de</strong>ria ter todos os méritos, menos o da novida<strong>de</strong>.<br />
— Saiu, respon<strong>de</strong>u a criada, abaixando o rosto.<br />
O moço não retorquiu, mas também não se foi; ficou a sacudir a perna, apoiado na bengala,<br />
assobiando.<br />
A criada, com o rosto metido entre dois varais da gra<strong>de</strong>, em que se sustinha com ambas as<br />
mãos, esperava que ele resolvesse qualquer coisa.<br />
— Então saiu, hein?... insistia Gregório, interrompendo o assobio e bamboleando a perna<br />
com mais força.<br />
— É, disse a criada, bocejando.<br />
E os dois ficaram calados por algum tempo; afinal Gregório mostrou tomar uma resolução e<br />
acrescentou:<br />
— Ora vá dizer-lhe que eu bem sei que ela está em casa...<br />
— Minha ama saiu! sustentou a criada, a rir-se.<br />
— Homem, faça o que lhe digo!<br />
— Gentes! Ela não está!...<br />
— Você então não quer ir?! Bem...<br />
E Gregório fez o movimento <strong>de</strong> quem se afasta, levando uma intenção <strong>de</strong> vingança.<br />
— Eu vou ver! exclamou a criada, largando os varais do portão.<br />
Gregório voltou logo, como se fosse puxado por todo o corpo.<br />
A criada <strong>de</strong>sapareceu nas sombras duvidosas do jardim e, pouco <strong>de</strong>pois, ouviu-se o som <strong>de</strong><br />
uma voz <strong>de</strong> mulher que parecia ralhar <strong>de</strong>ntro do chalé.<br />
Gregório sorriu sozinho e retomou o fio da música que assobiava.<br />
Quando havia gasto já uns dois minutos <strong>de</strong> assobio, abriu-se uma das janelas do chalé e<br />
<strong>de</strong>senhou-se contra luz da sala a figura simpática da viúva.<br />
— Já voltou?! disse Gregório, transpondo o portão e indo postar-se <strong>de</strong>baixo da janela.<br />
— Você não disse que não voltava mais aqui?! perguntou a outra por sua vez.<br />
E como Gregório não respon<strong>de</strong>sse: