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Girândola de Amores - Universia Brasil

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— Nem eu sei... respon<strong>de</strong>u esta, procurando disfarçar o constrangimento. Talvez seja<br />

nervoso, mas sinto alguma coisa no coração, alguma coisa que me oprime!<br />

— Não se <strong>de</strong>ixe levar por essas cismas!... Lembre-se <strong>de</strong> que hoje é o dia do meu casamento...<br />

— É por isso mesmo... E acrescentou, mudando <strong>de</strong> tom: É verda<strong>de</strong>! E o noivo, já teria<br />

chegado?<br />

A mucama entrou na alcova para dizer que ainda não.<br />

Esta <strong>de</strong>mora ia sendo já comentada, na sala <strong>de</strong> jantar pela madrinha <strong>de</strong> Clorinda e algumas<br />

amigas <strong>de</strong> D. Januária.<br />

— Não fora bonito da parte do noivo fazer-se esperar daquele modo! Eram já quatro horas da<br />

tar<strong>de</strong> e o casamento estava marcado para as cinco !...<br />

Parou uma carruagem à porta, e quase todos correram a ver quem chegava.<br />

— Deve ser ele, consi<strong>de</strong>rou a madrinha, armando um sorriso. Mas teve logo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarmá-lo,<br />

vendo entrar o comendador Portela, velho amigo da casa.<br />

O comendador entrou apressado, a pedir mil perdões pela <strong>de</strong>mora.<br />

Queria vir antes, mas um negócio <strong>de</strong> alta importância exigira a sua presença.<br />

E, segundo o seu costume, pôs-se logo a falar <strong>de</strong> si, das suas gran<strong>de</strong>s preocupações<br />

comerciais, do dinheiro que tinha naquele momento arriscado em várias transações<br />

perigosíssimas, e, afinal, da prosperida<strong>de</strong> da sua casa, do bom trato que dava aos seus<br />

empregados, do projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver certas indústrias e <strong>de</strong> criar certos estabelecimentos<br />

importantes.<br />

— Bons <strong>de</strong>sejos não me faltam! afirmava ele a rir imo<strong>de</strong>stamente.<br />

E, como se achasse ali em um meio relativamente acanhado, empertigava ainda mais a<br />

cabeça, remetia para a frente a barriga e com o polegar levantava pretensiosamente a gola<br />

con<strong>de</strong>corada <strong>de</strong> sua casaca.<br />

— Vai-se fazendo pela vida! vai-se fazendo! repisava ele, sempre com o mesmo riso.<br />

Deram cinco horas, e o noivo nada <strong>de</strong> aparecer!<br />

— É <strong>de</strong>mais! exclamou a madrinha, que afinal per<strong>de</strong>ra a paciência e abrira a falar<br />

abertamente contra aquela <strong>de</strong>mora grosseira e imperdoável.<br />

Os ânimos foram-se a pouco e pouco sobressaltando. Havia já no comendador um risinho<br />

velhaco <strong>de</strong> má-fé, e a noiva, sem querer sair da alcova, sentiu avultar-lhe na garganta um novelo<br />

estranho que a sufocava.<br />

A madrinha expedira secretamente um portador à casa do noivo. O portador voltara,<br />

<strong>de</strong>clarando que o Sr. Gregório, havia coisa <strong>de</strong> uma hora, saíra para a casa da noiva em companhia<br />

<strong>de</strong> um senhor velho e <strong>de</strong> boa aparência que o fora buscar. E <strong>de</strong>clarou mais que na porta da rua<br />

estava um cocheiro, que viera da casa do Sr. Gregório, com a recomendação <strong>de</strong> esperá-lo aí.<br />

Ninguém mais se animou a dar palavra, à exceção da madrinha, que nunca perdia ocasião <strong>de</strong><br />

falar mal dos homens.<br />

— Todos eles lêem pela mesma cartilha! consi<strong>de</strong>rou ela, trejeitando um ar <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso. Bem<br />

fiz eu em nunca tomar a sério semelhante gente! Nada! Antes só do que mal acompanhada!<br />

Prefiro ficar solteira toda a vida!<br />

— Descanse, D. Josefina, que ninguém a contrariará! respon<strong>de</strong>u um sujeitinho magro e ativo,<br />

que parecia muito empenhado no bom êxito do casamento.<br />

Nisto foram interrompidos pelo padrinho do noivo, o dr. Roberto, que vinha da igreja, farto,<br />

como os outros que lá estavam, <strong>de</strong> esperar pelos <strong>de</strong>sposados.<br />

— Pois se ele ainda nem apareceu por cá!... exclamou a madrinha, vermelha <strong>de</strong> cólera.<br />

— Não veio?! Gregório não apareceu ainda?! disse o doutor muito admirado. Parece<br />

incrível!<br />

— Pois é a pura verda<strong>de</strong>!

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