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Emmanuel - Chico Xavier.pdf

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me como serva de todos, a fim de trabalhar pela minha salvação... Jesus, que<br />

me deu a coragem de confessar o crime, não me há de faltar com as energias<br />

necessárias ao esfôrço regenerador!...<br />

Nesse momento, fêz uma pausa mais longa. Jaques, estático, permanecia<br />

calado, Alcione e Beatriz choravam amargamente. O marido infelicitado, porém,<br />

parecia dementado pela dor. Olhos arregalados como a fitar o passado de<br />

sombras, Cirilo Davenport transportara-se em espírito ao ano de 63, esquecera<br />

momentâneamente todos os trabalhos e deveres das segundas núpcias. À sua<br />

frente via Madalena ultrajada, humilhada, perseguida. Sentia-se rodeado de<br />

inimigos implacáveis, que se haviam alojado em seu próprio coração. A idéia de<br />

vingança se lhe embutira no cérebro com vigor incoercível. Apesar dos<br />

conhecimentos evangélicos, não podia libertar-se da velha concepção que<br />

impunha lavar com sangue a dignidade ferida. Pela primeira vez,<br />

experimentava o supremo ultraje ao nome, à honra pessoal, ao amor próprio<br />

ofendido.<br />

Enquanto se perdia em dolorosas reflexões, Susana fixou nêle o olhar e<br />

exclamou compungidamente:<br />

— Perdoa-me e terei fôrças para me transformar!...<br />

Soluços amargos acompanharam o apêlo. Mas o filho de Samuel, com<br />

feições de louco sacou de um punhal e, cambaleando e rugindo, ameaçadoramente,<br />

acercou-se da postulante, bradando:<br />

— Não há perdão para o teu crime, Susana! As víboras hediondas devem<br />

ser esmagadas.<br />

Entretanto, num ápice, Alcione colocou-se entre êle e a infeliz. Observando<br />

a atitude impulsiva e resoluta do genitor, abraçou-se à filha de Jaques e,<br />

quando viu que a mão armada ia desferir o golpe, exclamou com acento<br />

inesquecível:<br />

— E Jesus, meu pai?<br />

O braço ultriz pendeu inerte. Era preciso recordar Aquêle que não<br />

desdenhara o madeiro infamante. Cirilo sentiu-se apossado de estranhas e<br />

novas sensações. Pela primeira vez, Alcione lhe chamava “meu pai”. Por que<br />

não lhe seguir a exemplificação de sofrimento e sacrifício? Madalena havia<br />

partido em paz. Quem sabe poderia acompanhá-la na mesma tranqüilidade de<br />

coração? Por que arruinar o porvir com uma ação execrável? Recordava, agora<br />

que as lágrimas lhe manavam dos olhos doridos, as lições evangélicas do culto<br />

doméstico. Ninguém poderia sanar um mal com outro mal, resgatar um crime<br />

com outro crime. O pranto corria-lhe em onda volumosa, quis andar livremente,<br />

mas uma sensação de súbito mal-estar lhe anulava as fôrças. Não conseguiu<br />

senão arrastar-se com dificuldade e, apoiando-se em Alcione, que acabava de<br />

acomodar Susana no divã, entregou-lhe a arma perigosa, como a dizer que<br />

renunciava a toda idéia de vingança por suas próprias mãos. Jaques e Beatriz<br />

perceberam que Cirilo sentia algo de grave e correram a ampará-lo.<br />

— Meu pai, meu pai — dizia a filha de Susana em tom angustiado —, não<br />

te entregues assim ao sofrimento!.<br />

Ele, porém, não mais respondeu ao chamado dos circunstantes e foi<br />

conduzido ao leito, desfalecido, em deplorável situação.<br />

Cirilo Davenport não resistira ao sofrimento que lhe causara a revelação<br />

tenebrosa. Alguns vasos cerebrais se romperam em penhor de morte. Mais de<br />

um médico foi convocado, a salvar o rico negociante de fumo, mas não houve<br />

meios de o seqüestrar ao coma.

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