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Emmanuel - Chico Xavier.pdf

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251<br />

ajoelhou-se e ergueu as mãos, sentindo-se cumulada por bênçãos inefáveis.<br />

Jubilosa, observou que sua mãe estava bela como nunca, coroada por um halo<br />

de radiosa luz. Enquanto Cirilo e Damiano permaneciam a distância de alguns<br />

passos, Madalena Vilamil aproximou-se da filha, sorrindo ternamente e,<br />

pousando-lhe a destra na fronte de alabastro, murmurou:<br />

— Alcione, minha querida, depois do calvário doloroso, gloriosa será a<br />

ressurreição!...<br />

A interpelada inclinou-se osculando-lhe os pés e exclamando entre<br />

lágrimas:<br />

— Não sou digna!... não sou digna!...<br />

A entidade amorosa beijou-a num transporte de imensa ternura. Foi aí que a<br />

prisioneira, alongando os braços e, sob a forte impressão dos sofrimentos que<br />

percebia em tôrno do seu cárcere, implorou em tom angustiado:<br />

— Minha mãe, sei que nada mereço de Deus, mas, se é possível, não me<br />

deixes morrer sob o desrespeito dos algozes impiedosos.<br />

Em pranto convulsivo, notou que sua mãe enxugava uma lágrima. Todavia,<br />

Madalena enlaçou-a nos braços, ternamente, e asseverou:<br />

— Não temas, minha filha! Partirás com o amparo dos anjos!...<br />

Nesse instante, contudo, o frade carcereiro abriu sübitamente a porta, a fim<br />

de ver com quem conversava a religiosa, em voz tão alta. Ao clarão<br />

avermelhado da lanterna, desfez-se a sublime visão. O vigilante fitou-a<br />

espantado. Genuflexa, mostrando impressionante olhar a perquirir o desconhecido,<br />

a irmã do Carmelo tinha no hábito rôto largas manchas rubras. “A<br />

perda de sangue fê-la desvairar”, pensou o vigilante de si para si. E,<br />

assombrado com o que via, levou a notícia ao superior hierárquico, dizendo<br />

parecer-lhe que a prisioneira começava a experimentar os delírios da morte.<br />

O Santo Ofício, por ironia, mantinha certo número de médicos a seu<br />

serviço, os quais muïtas vêzes opinavam sôbre a natureza e grau de tortura a<br />

infligir aos condenados, a pretexto de que os réus deveriam ser punidos com<br />

muita caridade. Um médico foi chamado, incontinenti, para examinar e informar<br />

o estado geral da religiosa de Medina. Após o exame, o facultativo, de<br />

autoridade a autoridade, chegou até ao gabinete de frei José do Santíssimo.<br />

Feitas as saudações de praxe, afirmava solícito:<br />

— A ré está irremediàvelmente perdida.<br />

— Não suportará, sequer, as disciplinas preliminares do potro? — indagou<br />

o representante do Inquisidor-Mor. — Trata-se de um caso ligado a<br />

reclamações de um amigo, a cuja bondade muito devo.<br />

— Aquêle corpo já não resiste à menor tortura. Creio que ela está nas<br />

últimas.<br />

O interlocutor fêz um gesto de contrariedade e voltou a dizer:<br />

— É um processo que espera por mim há mais de dez meses; entretanto,<br />

tenho tido necessidade de atender a repressões de maior importância.<br />

— Afirmo-vos — esclareceu o facultativo atencioso — que qualquer<br />

providência de ordem espiritual deve ser imediata, visto que amanhã talvez<br />

seja tarde.<br />

— Hoje estou cheio de compromissos para a noite — explicou o assessor.<br />

— Irei amanhã muito cedo tomar-lhe as declarações.<br />

Com efeito, logo que amanheceu, José do Santíssimo, acolitado por dois<br />

outros religiosos, desceu às celas subterrâneas, a fim de estabelecer o primeiro<br />

e último contato com a freira carmelita de Medina Del Campo. Ao clarão da

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