Favela global : ambiguidades e tensões na ... - Revista Mutações

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Vale dizer que após 1964 se produziram algumas modificações na concepção do Cinema Novo, relacionadas sobretudo, ao teor do romantismo que pouco a pouco abrandava os impulsos revolucionários para se resguardar da violência do Estado Militar. Esta mutação estabelecia que a crítica ao Estado Militar não fora produzida somente por intelectuais ou pelas camadas de classe média urbanas, mas também encontrou as mais diversas formas de resistência nos segmentos populares, nas suas expressões artísticas, lutas, conflitos e narrativas sobre a resistência dos negros e dos pobres, o que fragiliza a tese de base tradicional daqueles que atribuíam a esses segmentos a necessidade de mediações de um intelectual qualificado ou de um partido político. Este acontecimento indica pistas para problematizarmos a ideia de uma conjugação da estética e da política, a partir das narrativas da experiência urbana, fundamentada na estetização do cotidiano, ideia que encontra indicações e fundamentos em Mike Featherstone, nas suas teses sobre cultura e globalização. De acordo com Ridenti, a ligação com a literatura social de resgate, e a afirmação de um autêntico homem brasileiro idealizado romanticamente da revolução identificada com o sertanejo ou o migrante nordestino ultrapassa as intenções do Cinema Novo e outros que não seguem essa linha, tal como Roberto Santos e A hora e a vez de Augusto Matraga. O certo é que essa disposição estendia-se a vários estados brasileiros, e sua disposição era a de encontrar as raízes populares do homem brasileiro representado em inúmeros curta metragens tais como os de Sérgio Muniz. Outro exemplo é o documentário Viramundo baseado em trabalhos acadêmicos de Octávio Ianni e Juarez Brandão Lopes, (cuja temática referia-se ao destino do migrante de origem nordestina em São Paulo) em que se podiam ouvir diversas situações os depoimentos de operários e pessoas simples que povoava o cotidiano das cidades. Jean-Claude Bernadet em Cineastas e Imagens 44
do Povo tenta revelar como as lentes desses documentários apresentavam essa realidade cotidiana. 9 Falar do povo, dar palavra ao próprio povo, as variantes e debates eram muitos, mas o centro continuava sendo a busca das raízes do autêntico homem do povo, cuja identidade nacional seria completada verdadeiramente no futuro no processo da revolução brasileira.(RIDENTI; 2002; 102). Toda essa preocupação da busca do nacional e do popular esteve presente nas diversas manifestações artísticas e políticas desse período 10 . Na cena teatral também se experimentava largamente a mesma abordagem, o que possibilitava um aparecimento cada vez maior do pobre favelado, bem como de sua realidade cotidiana que seria escondida posteriormente no período mais pesado da ditadura militar e colocada no rol de imagens que “ninguém quer ver”. Esse aparecimento teve mais repercussão devido à ação do CPC do projeto UNE, volante que percorreu os principais centros universitários do país no início dos anos 1960 e cuja proposta era levar adiante as propostas de intervenção dos estudantes na política universitária e nacional na tentativa de consolidar reformas de base no processo da revolução brasileira que trazia intenções políticas de romper com o subdesenvolvimento, bem como da afirmação de uma identidade nacional. As diversas críticas eram dirigidas ao CPC, inclusive as que postulavam que a qualidade literária tinha um papel secundário. 9 Este crítico entende que na década de 1960 os cineastas requeriam para si a autoridade de porta-vozes do povo, expressão de uma consciência nacional. Viramundo pode ser entendido como uma tentativa de incluir no plano imagético uma leitura sociológica sobre o povo brasileiro e de sua formação social. 10 Uma demonstração cabal desse interesse pode ser encontrada nos trabalhos cinematográficos de Nelson Pereira dos Santos, pela inclusão nas telas da vida cotidiana do homem simples da favela, especialmente em Rio 40 Graus, realizado entre 1954-55 bem como de Rio Zona Norte. 45
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LIPOVETSKY, Gilles (1983) A era do
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SILVA, José Carlos Gomes. Rap na c
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