Favela global : ambiguidades e tensões na ... - Revista Mutações
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querem dizer que houvesse ple<strong>na</strong> identidade política entre os<br />
tropicalistas e os guerrilheiros. Indica sim que eram companheiros<br />
de viagem. (RIDENTI: 2002; 282)<br />
O próprio Caetano em seu livro Verdade Tropical admite<br />
que o estilo musical denomi<strong>na</strong>do tropicália tenha escapado de<br />
sua potencialidade criadora ou seu primeiro sentido passando a<br />
significar um movimento cultural. Sobretudo criava-se um fluxo<br />
entre uma comunidade de ouvintes, armados de seus próprios<br />
códigos, seus recados e anseios. Tratava-se de articular um campo<br />
de pensamento propício a um enlace problemático entre uma<br />
formação social dada e uma produção cultural ambígua e<br />
polissêmica. É o caso específico da música onde numa das pontas,<br />
encontra-se uma intencio<strong>na</strong>lidade criadora presente <strong>na</strong> biografia<br />
e no testemunho dos próprios criadores a outra ponta do<br />
enlace situa-se os símbolos que circulam no espaço da cultura de<br />
massas e correspondem a uma demanda efetiva, por parte de<br />
consumidores definidos. (MEDEIROS, 2004)<br />
Para Caetano, “A ideia de que se tratava de um movimento<br />
ganhou corpo, e a imprensa <strong>na</strong>turalmente necessitava de um rótulo.<br />
O poder de pregnância da palavra colocou-a <strong>na</strong>s manchetes<br />
e <strong>na</strong>s conversas. O inevitável ismo se lhe ajuntou quase ineditamente”.<br />
(VELOSO: 1997; 191/192)<br />
Dessa maneira, o abandono das potencialidades circunscritas<br />
à ideia primeira foi realizado já no momento em que as imagens<br />
tradicio<strong>na</strong>is e folcloristas contrariavam as intenções de Caetano.<br />
Soavam-lhes conhecidos e gastos demais, além de excluírem elementos<br />
indicativos de questões importantes do contexto cultural<br />
ou as interfaces do <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l/popular com o inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l/pop. Com<br />
tom de irreverência diz ele: “Era um consolo que os populares e<br />
os jor<strong>na</strong>is mais vagabundos nos chamassem de hippies, de pop ou<br />
de novos roqueiros; e que alguns intelectuais mais refi<strong>na</strong>dos nos<br />
identificassem como a vanguarda, de John Cage e Godard”.<br />
(VELOSO: 1997: 192)<br />
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