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Claudia da Silva Moraes Fagundes - Uneb

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB<br />

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I<br />

CURSO DE PEDAGOGIA<br />

<strong>Claudia</strong> <strong>da</strong> <strong>Silva</strong> <strong>Moraes</strong> <strong>Fagundes</strong><br />

A LITERATURA INFANTIL NA FORMAÇÃO DO SUJEITO LEITOR E<br />

CONSTRUTOR DE SUAS PRÓPRIAS HISTÓRIAS<br />

Salvador<br />

2009<br />

1


CLAUDIA DA SILVA MORAES FAGUNDES<br />

A LITERATURA INFANTIL NA FORMAÇÃO DO SUJEITO LEITOR E<br />

CONSTRUTOR DE SUAS PRÓPRIAS HISTÓRIAS<br />

Monografia apresenta<strong>da</strong> como requisito parcial<br />

para obtenção <strong>da</strong> graduação em Pe<strong>da</strong>gogia do<br />

Departamento de Educação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do<br />

Estado <strong>da</strong> Bahia, sob a orientação <strong>da</strong> Professora<br />

Dra. Maria Antônia Ramos Coutinho.<br />

Salvador<br />

2009<br />

2


FICHA CATALOGRÁFICA – Biblioteca Central <strong>da</strong> UNEB<br />

Bibliotecária: Jacira Almei<strong>da</strong> Mendes – CRB: 5/592<br />

<strong>Fagundes</strong>, <strong>Claudia</strong> <strong>da</strong> <strong>Silva</strong> <strong>Moraes</strong><br />

A literatura infantil na formação do sujeito leitor e construtor de suas própria histórias /<br />

<strong>Claudia</strong> <strong>da</strong> <strong>Silva</strong> <strong>Moraes</strong> <strong>Fagundes</strong> . - Salvador, 2009.<br />

56f.<br />

Orientadora: Maria Antonia Ramos Coutinho.<br />

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universi<strong>da</strong>de do Estado <strong>da</strong> Bahia.<br />

Departamento de Educação. Colegiado de Pe<strong>da</strong>gogia. Campus I. 2009.<br />

Contém referências.<br />

1. Literatura infanto juvenil. 2. Leitura. 3. Escrita. I. Coutinho, Maria Antonia Ramos.<br />

II. Universi<strong>da</strong>de do Estado <strong>da</strong> Bahia, Departamento de Educação.<br />

CDD: 808.899282<br />

3


CLAUDIA DA SILVA MORAES FAGUNDES<br />

A LITERATURA INFANTIL NA FORMAÇÃO DO SUJEITO<br />

LEITOR E CONSTRUTOR DE SUAS PRÓPRIAS HISTÓRIAS<br />

Monografia apresenta<strong>da</strong> como requisito parcial para obtenção <strong>da</strong> graduação em<br />

Pe<strong>da</strong>gogia do Departamento de Educação <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de do Estado <strong>da</strong> Bahia, sob a<br />

orientação <strong>da</strong> Profa. Dra. Maria Antônia Ramos Coutinho.<br />

Local ______de _______________de 20___________.<br />

4


Dedico esse trabalho aos meus pais Elmano Barros <strong>Moraes</strong> (In memorian) e<br />

Raildes <strong>da</strong> <strong>Silva</strong> <strong>Moraes</strong>, amores incondicionais, eternos, inesquecíveis e os maiores<br />

responsáveis pela minha formação moral, cultural, humana. A minha avó materna<br />

Maria (In memorian) que sonhava com este acontecimento, a qual não poderia jamais<br />

esquecer neste momento tão especial . Ao meu irmão Elmano Júnior, amor fraterno e<br />

ver<strong>da</strong>deiro. Ao meu esposo Petrônio e os meus filhos Átila Vinícius e Maria Luara<br />

pela compreensão e apoio durante essa caminha<strong>da</strong>.<br />

Sem vocês na<strong>da</strong> disso seria possível...<br />

5


AGRADECIMENTOS<br />

A Deus, fonte perine e inesgotável de amor, sabedoria e misericórdia <strong>da</strong> qual brotam todos os<br />

sentimentos de grandeza e beleza e sem O qual eu não seria na<strong>da</strong>. A minha família, em<br />

especial aos meus pais, responsáveis pelos meus primeiros passos, sempre atentos na<br />

construção <strong>da</strong> minha formação tanto moral como cultural. Aos meus maiores tesouros,<br />

segredos guar<strong>da</strong>dos no mais íntimo <strong>da</strong> minha alma: meus filhos que durante to<strong>da</strong> essa<br />

trajetória suportaram nos seus mundos infantis a minha ausência em diversos momentos. A<br />

minha orientadora, a professora Maria Antônia Coutinho, figura de uma riqueza espetacular,<br />

pela qual nutro o maior afeto e gratidão pela aju<strong>da</strong>, paciência, incentivo na construção desse<br />

trabalho. A minha amiga e companheira de estágio, Pamyla <strong>Moraes</strong>, pelos momentos de<br />

amizade, apoio e companheirismo no decorrer dessa caminha<strong>da</strong>. E aos demais amigos e<br />

colegas que sempre me ouviram e auxiliaram compartilhando experiências e saberes,<br />

contribuindo para o meu desenvolvimento profissional e pessoal.<br />

6


“O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa<br />

com um ato de amor. Uma semente há de ser deposita<strong>da</strong> no ventre vazio. E a semente<br />

do pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antes de serem especialistas em<br />

ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos”.<br />

Rubem Alves.<br />

7


RESUMO<br />

A pesquisa propôs-se a investigar a utilização <strong>da</strong> literatura infantil na formação do sujeito leitor e<br />

construtor de suas próprias histórias, com o objetivo de identificar possibili<strong>da</strong>des metodológicas<br />

para o desenvolvimento <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita dos alunos do 4º e 5º ano do ensino fun<strong>da</strong>mental de<br />

duas escolas públicas municipais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Salvador-Ba. Sabendo-se <strong>da</strong> importância de Ruth<br />

Rocha e de suas contribuições para a literatura infantil brasileira, foram seleciona<strong>da</strong>s algumas de<br />

suas obras para a constituição do corpus que serviu de sustentação à prática pe<strong>da</strong>gógica realiza<strong>da</strong><br />

nas escolas, campo <strong>da</strong> pesquisa: Escola Municipal Professora Anfrísia Santiago e Escola<br />

Municipal Deputado Gersino Coelho. Através de um estudo bibliográfico com diversos autores,<br />

sobretudo, Juracy Saraiva e Lúcia Rêgo que ressalta a importância <strong>da</strong> literatura infantil no<br />

processo de aquisição <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita e Mag<strong>da</strong> Soares que trata <strong>da</strong> alfabetização e do<br />

letramento. Este trabalho se desenvolveu fazendo um breve histórico <strong>da</strong> literatura infantil e <strong>da</strong><br />

sua importância para o processo de aquisição <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita dos alunos nas séries iniciais<br />

do ensino fun<strong>da</strong>mental.<br />

Palavras Chaves: Literatura infantil, Ruth Rocha, leitura, escrita.<br />

8


ABSTRACT<br />

The aim of the present research was to investigate the use of children’s literature in the<br />

formation of readers and builders of their own histories, in an attempt to identify<br />

methodological possibilities for the development of reading and writing of students attending<br />

4 th and 5 th grades at two municipal public schools of the city of Salvador/BA. Taking into<br />

consideration the importance of writer Ruth Rocha and her contributions to the Brazilian<br />

children’s literature, some of her works were selected for the constitution of the corpus that<br />

served as support for the pe<strong>da</strong>gogical practice carried out at the two schools that were the<br />

fields of research: “Escola Municipal Professora Anfrísia Santiago” and “Escola Municipal<br />

Deputado Gersino Coelho”. By means of a bibliographical study with several authors,<br />

moreover Juracy Saraiva and Lúcia Rêgo, who emphasize the importance of children’s<br />

literature in the process of reading and writing acquisition, and Mag<strong>da</strong> Soares that deals with<br />

literacy and handwriting. This paper started with a brief history of children’s literature and its<br />

importance in the acquisition process of reading and writing of fourth and fifth graders.<br />

Key Words: Children’ literature, Ruth Rocha, reading, writing.<br />

9


SUMÁRIO<br />

1 INTRODUÇÃO 10<br />

2 O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA NAS<br />

SÉRIES INICIAIS 14<br />

2.1 A ORALIDADE NA PRÁTICA DOCENTE 18<br />

2.2 A LEITURA LITERÁRIA NA ESCOLA 19<br />

2.3 A ESCRITA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA 22<br />

2.4 ANÁLISE LINGUÍSTICA NA SALA DE AULA 25<br />

3 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL 28<br />

3.1 A PRODUÇÃO LITERÁRIA DE RUTH ROCHA 33<br />

4 A RECEPÇÃO DAS OBRAS DE RUTH ROCHA NO 4º E 5º ANO DAS<br />

SÉRIES INICIAIS: PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS 37<br />

4.1 PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS 37<br />

4.2 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA: 40<br />

4.2.1 ESCOLA MUNICIPAL PROFESSORA ANFRÍSIA SANTIAGO 40<br />

4.2.2 ESCOLA MUNICIPAL DEPUTADO GERSINO COELHO 43<br />

5-CONSIDERAÇÕES FINAIS 47<br />

6- REFERÊNCIAS 49<br />

10


1. INTRODUÇÃO<br />

As histórias que iluminaram os dias <strong>da</strong> minha infância tornando-os repletos de ternura<br />

e delicadeza foram em boa parte conta<strong>da</strong>s de maneira simples e singela por minha mãe, uma<br />

mulher pouco culta que não se dedicou muito aos estudos, contudo de um coração<br />

apaixonante e cheio de sabedoria, e pela minha inesquecível professora <strong>da</strong> alfabetização,<br />

Nide, que interpretava com maestria ca<strong>da</strong> personagem <strong>da</strong>s histórias que ela semeava nos<br />

caminhos de minha vi<strong>da</strong> e de tantas outras crianças que, como eu, freqüentaram a escolinha de<br />

“Tia Bel”.<br />

A convivência com essas contadoras de histórias e o amor incondicional de meu pai<br />

pelos clássicos <strong>da</strong> literatura universal principalmente os russos e em especial o gênio de<br />

Crime e Castigo – Dostoievski – e pelo extraordinário e maravilhoso contador de histórias<br />

sobre os costumes e len<strong>da</strong>s do povo árabe, Malba Tahan, cuja coleção de obras completas<br />

meu pai me deixou como lembrança, despertaram no meu espírito o gosto pela leitura e foram<br />

muito importantes para a minha formação como sujeito.<br />

Ao longo <strong>da</strong> minha escolarização, os textos literários sempre estiveram presentes, ora<br />

de forma freqüente, noutras nem tanto, enriquecendo e aprimorando o meu desenvolvimento<br />

cultural, psicológico, social e intelectual, visto que as histórias infantis alimentam o<br />

imaginário de quem as escuta, cravando nela eternos sinais, sejam eles de alegria ou de<br />

tristeza, paz ou desespero, beleza ou tristeza indelineável, fazendo-a viajar por um mundo<br />

singular e desconhecido... um mundo fantástico de imaginação e de fantasia e, independente<br />

de quantas vezes elas sejam conta<strong>da</strong>s e reconta<strong>da</strong>s ressoam sempre como algo novo e ao<br />

mesmo tempo antigo, algo diferente e no entanto bastante familiar, levando-nos a<br />

interpretações repletas de novas perspectivas em nossos mundos em processo de construção.<br />

Com o nascimento dos meus filhos, comecei a pesquisar e ficar mais atenta à busca de<br />

ferramentas com o intuito de desenvolver e aprimorar essa arte de ler histórias direciona<strong>da</strong>s<br />

para o universo infantil, na tentativa de, através <strong>da</strong>s mesmas, desenvolver neles o interesse, o<br />

prazer e criar hábito de leitura.<br />

Pensando nisso, surgiu a idéia de realizar uma pesquisa com a temática “A literatura<br />

infantil na formação <strong>da</strong> criança leitora e construtora de suas próprias histórias”. O universo <strong>da</strong><br />

literatura infantil é muito vasto, e muitos são os autores que podem ser trabalhados em sala de<br />

aula, mas escolhi, para esta pesquisa, a produção literária de Ruth Rocha, por considerar as<br />

obras dessa autora de grande importância para a literatura infantil brasileira e também de<br />

grande contribuição para o desenvolvimento <strong>da</strong> imaginação e criativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança, pois,<br />

11


com o auxílio de suas histórias infantis, os professores podem instigar a fantasia e fazer com<br />

que os alunos reflitam sobre os temas abor<strong>da</strong>dos. O meu intuito foi identificar as<br />

possibili<strong>da</strong>des metodológicas para o uso <strong>da</strong> literatura infantil na formação <strong>da</strong> criança leitora e<br />

construtora de histórias. Segundo Rego (1995, p.9-10), a literatura infantil, quando bem<br />

explora<strong>da</strong>, se transforma em uma forma de aquisição de conhecimento, aju<strong>da</strong>ndo no<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de, leitura, escrita e gramática.<br />

Convém ressaltar que não pretendi com esta pesquisa enfatizar a importância <strong>da</strong> leitura<br />

de textos literários somente como decodificação, como um ler corretamente, mas como uma<br />

ativi<strong>da</strong>de que permite a interpretação, a compreensão e a leitura de mundo. A literatura<br />

possibilita também que as crianças consigam redigir melhor, desenvolvendo a criativi<strong>da</strong>de; o<br />

ato de ler e o ato de escrever estão intimamente ligados. Neste sentido:<br />

Literatura infantil é, antes de tudo, literatura, ou melhor, é arte: fenômeno<br />

de criativi<strong>da</strong>de que representa o mundo, o homem, a vi<strong>da</strong>, através <strong>da</strong><br />

palavra. Funde os sonhos e a vi<strong>da</strong> prática, o imaginário de o real, os ideais e<br />

sua possível/impossível realização. (COELHO, 2000, p.27)<br />

A literatura infantil é entendi<strong>da</strong> como arte, pois faz uso <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de ao transfigurar<br />

a reali<strong>da</strong>de. Daí a sua grande importância para a formação de um indivíduo criativo,<br />

responsável e atuante na socie<strong>da</strong>de. Vive-se em uma socie<strong>da</strong>de onde as trocas sociais<br />

acontecem rapi<strong>da</strong>mente, sejam através <strong>da</strong> leitura, <strong>da</strong> escrita e <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de. Diante disso, a<br />

escola busca conhecer e desenvolver na criança as competências <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita e a<br />

literatura infantil pode influenciar de maneira positiva neste processo. Por ser um instrumento<br />

motivador e desafiador, ela é capaz de transformar o indivíduo em sujeito ativo, responsável<br />

pela sua aprendizagem, que sabe compreender o contexto em que vive e modificá-lo de<br />

acordo com a sua necessi<strong>da</strong>de.<br />

Saraiva (2001, p.23) compactua dessa idéia afirmando que o papel <strong>da</strong> escola não é só<br />

iniciar a criança no processo de aquisição <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita, mas possibilitar aos discentes<br />

uma convivência com a tradição literária, ou seja, dela se espera a formação do leitor. Sendo<br />

assim, os professores devem oportunizar a realização de leituras na sala de aula, sem, no<br />

entanto obrigá-los a cumpri-las, mas sempre os estimulando a interagirem com os textos<br />

literários sugeridos.<br />

A leitura deve acontecer de forma prazerosa, sem restrições ou punições, pois qualquer<br />

imposição pode causar <strong>da</strong>nos irreversíveis na vi<strong>da</strong> escolar do discente. Cagliari discute essa<br />

questão afirmando que “a leitura é ain<strong>da</strong> uma fonte de prazer, de satisfação pessoal, de<br />

conquista, de realização, que serve de grande estímulo e motivação para que a criança goste<br />

12


<strong>da</strong> escola e de estu<strong>da</strong>r” (2003, p.169), e acrescento também, o de desenvolver o gosto pela<br />

leitura, aprendendo a ler o mundo por meio <strong>da</strong>s histórias infantis.<br />

Segundo Abramovich (1994, p.16-17) o primeiro contato <strong>da</strong> criança com os textos<br />

literários deve acontecer por meio <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de. Esta primeira viagem, ao som de vozes que<br />

lhes sejam familiares, será para ela o início de seu aprendizado enquanto leitor, devendo ser<br />

utiliza<strong>da</strong> como instrumento para o despertar <strong>da</strong> consciência e instigar o interesse pela leitura e<br />

compreensão de mundo. Esse contato <strong>da</strong> criança com os diversos textos literários é de<br />

fun<strong>da</strong>mental importância na construção <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de dos indivíduos, possibilitando-lhes<br />

acrescentar e/ou transformarem as experiências vivencia<strong>da</strong>s, à medi<strong>da</strong> que lhes permite<br />

perceber, questionar e identificar as mais diversas situações.<br />

Dessa forma, este trabalho teve como principal objetivo identificar possibili<strong>da</strong>des<br />

metodológicas para o desenvolvimento <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita através <strong>da</strong>s<br />

histórias infantis <strong>da</strong> autora Ruth Rocha. As histórias escolhi<strong>da</strong>s para serem trabalha<strong>da</strong>s foram<br />

Quem tem medo de ridículo, Atrás <strong>da</strong> Porta e Azul e lindo planeta terra, nossa casa.<br />

Esta pesquisa foi realiza<strong>da</strong> em duas escolas públicas <strong>da</strong> rede municipal, a Escola<br />

Municipal Professora Anfrísia Santiago, localiza<strong>da</strong> na Estra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Barreiras e a Escola<br />

Municipal Deputado Gersino Coelho, localiza<strong>da</strong> em Narandiba, ambas em Salvador-BA, com<br />

os alunos do 4º e 5º ano do ensino fun<strong>da</strong>mental, tendo o propósito de investigar como a<br />

literatura infantil pode contribuir para o desenvolvimento <strong>da</strong> linguagem oral e escrita nas<br />

crianças <strong>da</strong>s séries iniciais do ensino fun<strong>da</strong>mental, bem como a sua utilização para a formação<br />

de um indivíduo crítico responsável e atuante na socie<strong>da</strong>de.<br />

Foi utilizado para a sua realização o método recepcional de Literatura. Segundo<br />

Bordini e Aguiar (1988, p.84), este método fun<strong>da</strong>-se na atitude participativa do aluno em<br />

contato com os diferentes tipos de textos, levando-se em conta que as leituras devem ser<br />

compreensivas e críticas para que ele possa ser receptivo a novos textos e outras leituras e<br />

questionar as leituras efetua<strong>da</strong>s em relação a seu próprio conhecimento de mundo, pois a<br />

atitude receptiva se inicia com a aproximação entre o texto e o leitor, e to<strong>da</strong> a historici<strong>da</strong>de de<br />

ambos vem à tona. Nesse sentido o leitor estabelece uma relação entre a obra emancipatória<br />

ou conformadora com a tradição, conforme Bordini e Aguiar (1988), comparando elementos<br />

de sua cultura e de seu tempo com outras culturas, incluindo ou não como componente de seu<br />

horizonte de expectativas, facilitando assim a compreensão de novas leituras.<br />

O primeiro capítulo desse trabalho trata do processo de aquisição <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong><br />

escrita nas séries iniciais, do fenômeno <strong>da</strong> alfabetização e suas diferentes facetas, tendo como<br />

13


eferência os textos de Mag<strong>da</strong> Soares, também focaliza a orali<strong>da</strong>de, a escrita, a leitura literária<br />

e a análise lingüística na prática pe<strong>da</strong>gógica.<br />

O segundo capítulo trata <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> literatura infantil para o processo de<br />

aquisição <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita em que abor<strong>da</strong> o contexto histórico <strong>da</strong> literatura infantil aqui<br />

no Brasil e a escolha <strong>da</strong> autora Ruth Rocha para permear este trabalho.<br />

O terceiro capítulo trata <strong>da</strong>s perspectivas metodológicas utiliza<strong>da</strong>s durante a pesquisa<br />

para a recepção <strong>da</strong>s obras de Ruth Rocha, recorrendo à estética <strong>da</strong> recepção.<br />

As considerações finais tratam <strong>da</strong> análise dos <strong>da</strong>dos obtidos durante a pesquisa,<br />

relaciona<strong>da</strong>s à recepção <strong>da</strong>s obras trabalha<strong>da</strong>s pelos alunos do 4º e do 5º ano <strong>da</strong>s duas escolas<br />

campo <strong>da</strong> pesquisa.<br />

14


2-O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA NAS<br />

SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.<br />

Há muito que o debate contra uma educação totalmente tradicional vem se<br />

acentuando. Pelo menos na teoria, não se aceita mais uma educação acrítica, ahistórica,<br />

passiva e linear, em que o aluno apenas decora e na<strong>da</strong> sabe, na<strong>da</strong> fala e só reproduz. Uma <strong>da</strong>s<br />

discussões mais recentes gira em torno dessa temática alfabetizar X letrar. Na concepção<br />

tradicional de alfabetização, o principal objetivo era o uso do método. A criança que<br />

aprendesse a codificar e a decodificar estava apta a assumir sua condição de ci<strong>da</strong>dã na<br />

socie<strong>da</strong>de, independente de se saber ou não refletir sobre tal condição.<br />

Atualmente, entende-se que só alfabetizar não basta. É preciso, além de codificar e<br />

decodificar, viver em estado de letramento. Mas, o que é um indivíduo letrado? Segundo<br />

Soares (2003), indivíduo letrado não é só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa<br />

socialmente a leitura e a escrita, pratica-as, e responde adequa<strong>da</strong>mente às deman<strong>da</strong>s sociais de<br />

leitura e de escrita. Segundo Marcuschi (2001, p.25), “letrado é o indivíduo que participa de<br />

forma significativa de eventos de letramento e não apenas aquele que faz um uso formal de<br />

escrita.”, ou seja, aquele indivíduo que é analfabeto, mas letrado na medi<strong>da</strong> em que identifica<br />

o valor do dinheiro, identifica o ônibus que deve tomar, sabe identificar as mercadorias pelas<br />

marcas. Neste sentido Marcuschi salienta que o letramento é um processo de aprendizagem<br />

social e histórica <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita em contextos informais e para usos utilitários, por isso<br />

é um conjunto de práticas sociais.<br />

E com relação à alfabetização, Soares (1985), enfatiza que esta é um fenômeno que<br />

envolve uma multiplici<strong>da</strong>de de facetas que se agrupam sob três categorias: o conceito, a<br />

natureza do processo, que englobam os aspectos psicológicos, psicolingüísticos,<br />

sociolingüísticos, lingüísticos e os condicionantes sociais, culturais e políticos.<br />

Com relação ao conceito, Soares vai destacar o duplo sentido dos verbos ler e<br />

escrever, partindo do pressuposto de que a alfabetização é um processo de aquisição do<br />

código escrito, <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des de leitura e de escrita.<br />

15


Essa duali<strong>da</strong>de de sentidos se justifica porque em uma determina<strong>da</strong> situação, ler e<br />

escrever significam adquirir a habili<strong>da</strong>de de codificar a língua oral em língua escrita<br />

(escrever) e decodificar a língua escrita em língua oral (ler ). Em outra situação, o ler e o<br />

escrever seriam a apreensão e compreensão de significados expressos apropriados pela<br />

criança visando à comunicação, a aquisição de conhecimento e de troca.<br />

Quanto à natureza do processo de alfabetização, ela enfatiza que a alfabetização é um<br />

conjunto de habili<strong>da</strong>des de natureza multifaceta<strong>da</strong>, que não deve ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong> de forma<br />

fragmenta<strong>da</strong> pelos profissionais <strong>da</strong>s diversas áreas do conhecimento e, sim, se deve promover<br />

uma articulação e integração dos estudos a respeito de suas diferentes facetas.<br />

O terceiro ponto ressaltado pela autora para o processo de aquisição <strong>da</strong> leitura e escrita<br />

é o aspecto social, pois esse processo não é individual, e envolvem a i<strong>da</strong>de, as características<br />

culturais, econômicas e tecnológicas dos indivíduos.<br />

Levando em conta todos os aspectos comentados anteriormente, Soares abarca um<br />

conceito abrangente, incluindo a abor<strong>da</strong>gem “mecânica”, o enfoque <strong>da</strong> língua escrita como<br />

um meio de expressão e compreensão e os determinantes sociais <strong>da</strong>s funções e fins <strong>da</strong><br />

aprendizagem <strong>da</strong> língua escrita.<br />

Para Saraiva (2001), saber ler e escrever são na ver<strong>da</strong>de, mais do que dominar um<br />

instrumento, pois o usuário integra-se na prática social, o sujeito traz para a escola as suas<br />

vivências e esse conhecimento deve ser aproveitado pelo professor, organizando ativi<strong>da</strong>des<br />

significativas e refletindo sobre sua prática, imbrica<strong>da</strong> no conhecimento de como o sujeito<br />

aprende.<br />

Conforme Rego (1995), a criança aprende a se comunicar oralmente antes de ter<br />

atingido o domínio pleno dos padrões fonológicos e gramaticais <strong>da</strong> língua e os erros são<br />

considerados parte do processo de aprender a falar, assim também ocorre no processo de<br />

aquisição <strong>da</strong> leitura e escrita, mas muitas escolas infelizmente não se apropriam dessa<br />

concepção pe<strong>da</strong>gógica, como afirma a antropóloga Shirley B Health ( apud Rego p.15) “ O<br />

aprender a ler e a escrever tem priori<strong>da</strong>de sobre o ler e o escrever para obter e transmitir<br />

informações” , assim a língua escrita é apresenta<strong>da</strong> ao aprendiz como um código<br />

descontextualizado que ele tem que dominar para depois usar.<br />

16


A aprendizagem <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita se torna para a maioria <strong>da</strong>s crianças enfadonha<br />

e mecânica, tendo pouca correlação com suas reais necessi<strong>da</strong>des de comunicação. Assim,<br />

conhecendo o desenvolvimento do processo de aquisição <strong>da</strong> língua escrita pela criança, e<br />

ciente de que o aprendizado é um modo particular de construção de conhecimentos em uma<br />

situação que envolve uma intervenção intencional externa, o professor pode organizar<br />

situações que favoreçam a aquisição <strong>da</strong> leitura e escrita. E esta prática deverá ser prolonga<strong>da</strong><br />

por to<strong>da</strong> a fase inicial <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> escolar <strong>da</strong> criança.<br />

A formação do alfabetizador tem uma grande especifici<strong>da</strong>de, e exige uma preparação<br />

que o leve a compreender to<strong>da</strong>s as facetas e todos os condicionantes do processo de<br />

alfabetização, assumindo uma postura política diante <strong>da</strong>s implicações ideológicas do<br />

significado e do papel atribuído à alfabetização.<br />

Em torno desse debate, Soares procura fazer uma retoma<strong>da</strong> do o conceito e os<br />

problemas que envolvem a alfabetização, buscando identificar sua evolução ao longo <strong>da</strong>s<br />

últimas déca<strong>da</strong>s, em um movimento que a mesma propõe como sendo de progressiva<br />

invenção <strong>da</strong> palavra e do conceito de letramento, e concomitantemente de desinvenção <strong>da</strong><br />

alfabetização, resultando na polêmica conjuntura atual que ela chamou de reinvenção <strong>da</strong><br />

alfabetização.<br />

Esse neologismo “desinvenção” busca nomear a progressiva per<strong>da</strong> <strong>da</strong> especifici<strong>da</strong>de<br />

do processo de alfabetização que vem ocorrendo nas escolas brasileiras ao longo <strong>da</strong>s duas<br />

últimas déca<strong>da</strong>s. Constitui-se em uma explicação, não única, mas relevante para o atual<br />

fracasso na aprendizagem de nossas crianças, que antes era revelado em avaliações internas<br />

realiza<strong>da</strong>s dentro <strong>da</strong> própria escola, e hoje também se revela nas avaliações externas, como as<br />

avaliações estaduais, nacionais e até internacionais, que denunciam um grande contingente de<br />

alunos não alfabetizados ou semi-alfabetizados depois de quatro, oito anos de escolarização.<br />

Soares também destaca outras causas para essa per<strong>da</strong> de especifici<strong>da</strong>de do processo de<br />

alfabetização como a reorganização do tempo escolar, com a implantação do sistema de ciclos<br />

que, ao lado dos aspectos positivos que sem dúvi<strong>da</strong> tem, pode trazer, e tem trazido uma<br />

diluição ou uma preterição de metas e objetivos a serem atingidos gra<strong>da</strong>tivamente ao longo do<br />

processo de escolarização. Esse modo de reorganização está ca<strong>da</strong> vez mais causando<br />

problemas relativos à forma de se alfabetizar no ensino fun<strong>da</strong>mental, pois se considerando<br />

17


que a alfabetização seja o processo de aquisição <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita, deixa-se de lado o<br />

processo de desenvolvimento <strong>da</strong>s práticas sociais, que é o que está se designando de<br />

letramento.<br />

A aquisição <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita é uma questão de to<strong>da</strong> a escola, de to<strong>da</strong>s as<br />

disciplinas e de todo o professor e também <strong>da</strong> família. Sabendo que muitas famílias não<br />

proporcionam um ambiente de leitura para os seus filhos e nem sempre reconhecem sua<br />

importância para o desenvolvimento afetivo e intelectual <strong>da</strong>s crianças, cabe à escola trabalhar<br />

no sentido de favorecer o sucesso dos alunos no que diz respeito à aquisição e ao<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita e ao uso desta nas práticas sociais, tendo-se clareza de<br />

que tanto a alfabetização quanto o letramento têm diferentes facetas e a natureza de ca<strong>da</strong> uma<br />

delas deman<strong>da</strong> uma metodologia diferente. Neste sentido Saraiva ressalta a contribuição <strong>da</strong><br />

literatura infantil na apropriação <strong>da</strong> linguagem escrita pela criança:<br />

a leitura de textos literários, na fase <strong>da</strong> alfabetização, oferece às crianças<br />

a oportuni<strong>da</strong>de de se apoderarem <strong>da</strong> linguagem,uma vez que a<br />

expressão do imaginário as liberta <strong>da</strong>s angústias próprias do<br />

crescimento e lhes proporciona meios para compreender o real e atuar<br />

criativa e criticamente sobre ele...Por isso, a prática <strong>da</strong> leitura do texto<br />

literário nas séries iniciais pressupõe a prática <strong>da</strong> escrita, momento em<br />

que se mobiliza e libera o imaginário infantil e, em que, ao retrabalhar<br />

criativamente a linguagem, a criança dela se apropria.<br />

(SARAIVA,2001.p.83).<br />

A criança é um ser que pensa e que constrói ativamente o seu conhecimento de<br />

mundo e a sua própria linguagem. Daí a necessi<strong>da</strong>de dos professores fazerem <strong>da</strong> sala de aula<br />

um ambiente adequado ao estímulo à leitura, onde os alunos terão à sua disposição textos<br />

literários de valor estético, filosófico, político e social, propiciando condições de vivenciar a<br />

literatura não apenas como um meritório pretexto para a ampliação do vocabulário, mas como<br />

um instrumento para a formação de leitores críticos e atuantes no mundo que os circun<strong>da</strong>m,<br />

posicionando-os diante dos acontecimentos e <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de cotidiana com espírito crítico e<br />

autônomo.<br />

18


2.1- A ORALIDADE NA PRÁTICA DOCENTE<br />

Imaginemos em um lugar onde ninguém fala a nossa língua e vice-versa. O sistema de<br />

escrita nos é totalmente estranho e não conseguimos decifrar na<strong>da</strong> desse novo código. As<br />

pessoas são forasteiras, e nunca as vimos antes até que naquele determinado dia nos vemos<br />

forçados a conviver com elas. O que faríamos? Imaginemos também que estas pessoas seriam<br />

nossos professores, responsáveis por nos ensinar a ler, escrever e a falar. Como elas fariam<br />

isso? Como se estabeleceria a comunicação nesse contexto? Estas pequenas questões feitas<br />

com base no texto de Cagliari “O alienígena que queria aprender a ler”, extraído de Jornal<br />

do Alfabetizador, nos faz pensar sobre o processo de escolarização <strong>da</strong>s nossas crianças.<br />

Professor, escrita e leitura tudo novo para elas. Como começar? Está é a principal questão.<br />

Não tem porque começarmos do zero. Comecemos pelo que elas têm para nos oferecer: a fala.<br />

Trabalhar com a orali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança não só torna esse processo mais humano, como<br />

nos auxilia significativamente. O fato de a criança já ser falante nativo <strong>da</strong> língua nos aju<strong>da</strong> de<br />

forma considerável e temos que explorar este aspecto ao máximo. Para Antunes, explorar a<br />

orali<strong>da</strong>de é tão importante quanto a escrita e a leitura. Entretanto, não se pode usar a fala<br />

“apenas como lugar de espontanei<strong>da</strong>de, do relaxamento, <strong>da</strong> falta de planejamento e até do<br />

descuido em relação às normas <strong>da</strong> língua-padrão” (ANTUNES, 2003, p.99).<br />

Uma vez que a fala espontânea surja, o professor deve colocar em prática a sua<br />

capaci<strong>da</strong>de de interventor, trabalhando com a orali<strong>da</strong>de, pois, segundo Antunes (2003), à<br />

escola cabe o papel de orientadora na construção de uma linguagem elabora<strong>da</strong> que privilegie<br />

o desenvolvimento <strong>da</strong> competência lingüística nos alunos.<br />

No contexto social em que se insere, a linguagem oral é considera<strong>da</strong> na escola como<br />

tendo importância inferior. A leitura é desvincula<strong>da</strong> <strong>da</strong> apreensão de habili<strong>da</strong>des orais, quando<br />

é enfatiza<strong>da</strong>, só serve para fazer comparações do que deve e o que não deve ser dito num<br />

ambiente formal. Não se promovem situações que estimulem a explicitação <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de<br />

numa linguagem informal, aspecto considerado como já internalizado, não tendo por isso,<br />

necessi<strong>da</strong>de de reflexões mais profun<strong>da</strong>s. Segundo Antunes o que se pode constatar:<br />

... é uma equivoca<strong>da</strong> visão <strong>da</strong> fala, como o lugar privilegiado para a<br />

violação <strong>da</strong>s regras <strong>da</strong> gramática. De acordo com essa visão tudo que é<br />

19


“erro” na língua acontece na fala e tudo é permitido, pois ela está acima <strong>da</strong>s<br />

prescrições gramaticais; não se distinguem, portanto, as situações sociais<br />

mais formais de interação que vão, inevitavelmente, condicionar outros<br />

padrões de orali<strong>da</strong>de que não o coloquial (ANTUNES, 2003, p.24).<br />

A escola deve proporcionar períodos de discussões que possibilitem a conscientização<br />

dos alunos de que existem momentos em nossas vi<strong>da</strong>s que precisamos fazer uso de uma<br />

linguagem mais elabora<strong>da</strong>, não que a linguagem utiliza<strong>da</strong> por eles esteja “erra<strong>da</strong>”, mas que<br />

devemos estar em consonância com o ambiente que freqüentamos.<br />

O desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des orais requer tempo para despertar no aluno a<br />

confiança em si mesmo, por isso, não adianta respeitar as varie<strong>da</strong>des dialetais e lingüísticas se<br />

o professor não oferece instrumentos para a compreensão e interação com essa diversi<strong>da</strong>de.<br />

Sem desenvolver essa habili<strong>da</strong>de, o indivíduo terá dificul<strong>da</strong>des de comunicar-se e<br />

provavelmente sofrerá com a exclusão social.<br />

Em suma, a escola, como ambiente formador, tem que estar comprometi<strong>da</strong> com o<br />

desenvolvimento de competências que possibilitem ao indivíduo a interação com o mundo<br />

através <strong>da</strong> leitura. Conseqüentemente, este mesmo indivíduo se tornará um agente construtor<br />

<strong>da</strong> sua história, a partir <strong>da</strong> aquisição de habili<strong>da</strong>des orais e escritas que irão lhe permitir atuar<br />

de maneira transformadora na socie<strong>da</strong>de em que se insere.<br />

2.2- A LEITURA LITERÁRIA NA ESCOLA<br />

As escolas buscam desenvolver no aluno a habili<strong>da</strong>de leitora, sem, contudo se<br />

preocuparem se os textos do livro didático, ou até os próprios textos oferecidos pelos<br />

professores, estão <strong>da</strong>ndo o suporte adequado para isso. Dentro de um modelo tradicional de<br />

ensino, a relação entre leitura e reali<strong>da</strong>de não acontece, sendo esse um dos principais<br />

obstáculos para a formação do aluno leitor.<br />

Segundo Antunes (2003), a escola apenas prepara o sujeito para decodificar sinais, e<br />

esquece-se do seu papel de incentivadora na formação de indivíduos críticos e ativos, que<br />

saibam se posicionar perante a socie<strong>da</strong>de em que inserem. Para que a atuação <strong>da</strong> escola seja<br />

20


eficaz, é necessário despertar a consciência de que a solução para a maioria dos problemas se<br />

encontra no desenvolvimento <strong>da</strong> leitura, que em conseqüência, <strong>da</strong>rá subsídios para a<br />

apreensão de tantos outros conhecimentos.<br />

Comparando o comentário de Antunes com o texto de Faraco “As sete pragas do<br />

ensino de Português” e os PCNs, é possível perceber que, para formar um leitor competente é<br />

indispensável a formação crítica para ir além <strong>da</strong>s palavras do texto, estabelecendo relações,<br />

fazendo comparações e atualizando discussões. O trabalho realizado nas salas de aula só terá<br />

aproveitamento se os alunos tiverem contato com a diversi<strong>da</strong>de textual, vista não só no<br />

ambiente de ensino, mas também no ambiente social, pois o desenvolvimento só acontecerá<br />

com a assidui<strong>da</strong>de do processo.<br />

De acordo com os PCNs de Língua Portuguesa, pois a literatura está acopla<strong>da</strong> como<br />

componente desta área nas séries iniciais, literatura não é cópia do real, portanto a sua relação<br />

é indireta, ou seja, o plano <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de pode ser apropriado e transgredido pelo plano do<br />

imaginário. Considerando essa duali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> literatura infantil que engloba arte e informação,<br />

os professores <strong>da</strong>s séries iniciais podem trabalhar a literatura infantil em suas salas de aula<br />

com textos de ficção – contos de fa<strong>da</strong>s, fábulas, len<strong>da</strong>s, mitos, poesia, texto teatral, utilizando<br />

também revistas em quadrinhos, textos escritos por crianças e jovens, podendo fazer uma<br />

relação com as outras disciplinas como Ciências, Estudos Sociais, Obras Gerais (dicionários,<br />

vocabulários, enciclopédias e manuais), como também livros de religião e recreação. Assim<br />

serão explorados os dois lados <strong>da</strong> literatura infantil, a leitura informativa, que tem como<br />

objetivo informar o leitor, revelando-lhe ou explicando-lhe fenômenos do mundo natural ou<br />

de determinados setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de ou de certas regiões do país, com seus costumes, tipos,<br />

linguagens e a literatura infantil artística, que envolve ativi<strong>da</strong>des lúdicas com intuito de levar<br />

o leitor para o mundo <strong>da</strong> fantasia, principalmente os contos de fa<strong>da</strong>s que incorporam<br />

elementos mágicos e maravilhoso, transportando as crianças para um mundo cheio de<br />

gnomos, princesas, florestas encanta<strong>da</strong>s e outros que fazem parte <strong>da</strong> imaginação <strong>da</strong>s crianças.<br />

O estímulo é necessário e somente por meio de textos atraentes os alunos despertarão<br />

o interesse pela leitura. Alguns professores costumam apresentar leituras enfadonhas,<br />

obrigando-os a esmiuçarem textos desinteressantes que causam cansaço nos leitores. Com<br />

atitudes como esta os alunos se tornarão apáticos, e inconscientes <strong>da</strong> importância do processo<br />

em suas vi<strong>da</strong>s. Faraco (1975, p.19) diz que a denominação para textos chatos “está aqui para<br />

21


epresentar todo aquele conjunto de textos desligados <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> cultura nacionais,<br />

afastados dos interesses e <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s crianças e adolescentes que inun<strong>da</strong>m nossas<br />

escolas.”<br />

As leituras media<strong>da</strong>s pelas discussões do professor devem sempre se relacionar com os<br />

conhecimentos prévios adquiridos no cotidiano, facilitando assim a compreensão e ampliando<br />

a visão de mundo dos discentes. Com base nesse comentário, é possível considerar que as<br />

leituras realiza<strong>da</strong>s na escola não devem se limitar apenas à reali<strong>da</strong>de do aluno, como diz<br />

Cagliari (2004) “[...] restringir as ativi<strong>da</strong>des escolares, sobretudo a leitura, ao mundo e cultura<br />

<strong>da</strong> criança é uma forma de negar a aquisição de conhecimentos novos” (CAGLIARI, 2004,<br />

p.174).<br />

Para que aconteça o despertar <strong>da</strong> criança para a leitura, é necessário que o professor<br />

diversifique o seu trabalho em sala, oferecendo condições para que o aluno tenha contato com<br />

outras reali<strong>da</strong>des. A leitura de livros infantis é uma ótima forma de proporcionar este contato,<br />

pois, por meio dele o aluno conseguirá interagir com diversas formas de linguagem, além de<br />

despertar a sua imaginação e criativi<strong>da</strong>de.<br />

À escola, cabe também o papel de conscientizadora <strong>da</strong> importância do ato de ler.<br />

Quando o aluno tem consciência de que ca<strong>da</strong> texto requer uma leitura e um nível de reflexão<br />

diferente, conseqüentemente ele conseguirá se sobressair em todo o processo ensino-<br />

aprendizagem. Entretanto se o professor continuar a trabalhar a leitura como uma obrigação,<br />

associando-a a castigos e punições, o aluno desenvolverá problemas na sua formação leitora,<br />

que se refletirá em dificul<strong>da</strong>des para a aquisição de novas habili<strong>da</strong>des.<br />

Em geral, a literatura abor<strong>da</strong> a reali<strong>da</strong>de social, exibindo em seus valiosos escritos, os<br />

anseios e os desejos momentâneos, variando de contexto para contexto. Esse novo ideal<br />

literário possibilita um alargamento de horizontes, já que oportuniza aos indivíduos uma<br />

posição crítica perante os problemas por eles percebidos, pois:<br />

Ler é atribuir diretamente um sentido a algo escrito, [...] é questionar algo<br />

escrito como tal a partir de uma expectativa real; [...] é ler escritos reais, que<br />

vão desde um nome de uma placa até um livro, passando por um cartaz,<br />

uma embalagem, um jornal, um panfleto, [...] é lendo de ver<strong>da</strong>de, desde o<br />

início, que alguém se torna leitor e não aprendendo primeiro a ler.<br />

(JOLIBERT, 1994, p.15)<br />

22


Contudo, essa abertura e alargamento de horizontes variam de acordo com a<br />

sensibili<strong>da</strong>de que ca<strong>da</strong> indivíduo possui frente à literatura, seja ela basea<strong>da</strong> na ficção ou na<br />

reali<strong>da</strong>de. Dependendo <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de que as crianças possuem diante <strong>da</strong> literatura infantil,<br />

certamente abrem-se inúmeras virtuali<strong>da</strong>des cognitivas do texto, pois como seres únicos com<br />

to<strong>da</strong> nossa singulari<strong>da</strong>de, temos ca<strong>da</strong> um real condição de estarmos interpretando de maneiras<br />

diversas os textos literários que nos são apresentados. Essa postura é riquíssima para o<br />

desenvolvimento cognitivo e emocional <strong>da</strong>s crianças, para que elas possam constituir-se ca<strong>da</strong><br />

vez mais como seres humanos críticos e reflexivos.<br />

2.3- A ESCRITA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA<br />

É corriqueiro na vi<strong>da</strong> de muitas pessoas, inclusive dos educadores, encarar a escrita<br />

como algo familiar e fácil, é visão comum até mesmo para aqueles que não entendem o seu<br />

funcionamento, apenas a usam. Mas, para a criança, essa é uma ativi<strong>da</strong>de nova e requer um<br />

tratamento especial. Principalmente, porque na escola a maioria <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de português<br />

gira em torno <strong>da</strong> escrita (CAGLIARI, 2004). Poucas são as crianças que já vão para a escola<br />

com alguma noção de leitura e de escrita. Estas privilegia<strong>da</strong>s, certamente já vivem num meio<br />

social e têm pais que lêem e escrevem cotidianamente. Mas, as que pertencem à família de<br />

classe social baixa, a grande maioria, escrever é um mundo novo e por isso deve fazer sentido<br />

para elas.<br />

Especificamente em relação à linguagem escrita, podemos pensar, portanto, que a<br />

criança, mesmo antes de ler e escrever as primeiras letras, já participa ativamente dos<br />

processos envolvidos nessa aquisição. Ela percebe, analisa, formula suas hipóteses sobre a<br />

leitura e a escrita a que está exposta em seu cotidiano. Seria, então, até inadequado imaginar<br />

que uma criança em i<strong>da</strong>de pré-escolar não tenha competência e condições de apreender as<br />

diversas características <strong>da</strong> comunicação gráfica.<br />

Segundo Contini (1988), uma criança exposta a um ambiente propício, ou seja,<br />

material escrito e pessoas que o manuseiem, incluindo a própria criança, já estaria<br />

apreendendo seus usos e funções como forma de comunicação antes mesmo dos dois anos de<br />

i<strong>da</strong>de. Foram os estudos sobre o que seria a psicogênese <strong>da</strong> linguagem escrita de Ferreiro e<br />

23


Teberosky (1985) que lançaram uma nova luz sobre as tentativas de descrever as etapas pelas<br />

quais a criança passa durante o processo <strong>da</strong> aquisição. Segundo as autoras, a criança, durante<br />

o período de contato com os sinais gráficos, vai evoluindo gra<strong>da</strong>tivamente. Essa evolução foi<br />

caracteriza<strong>da</strong> em quatro grandes níveis: pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético.<br />

Partir <strong>da</strong>s expectativas e <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s crianças é sempre um bom começo antes do<br />

ensino <strong>da</strong> escrita. A escrita, a leitura e a orali<strong>da</strong>de estão intrinsecamente liga<strong>da</strong>s. Assim,<br />

segundo Cagliari (2004, p.103) “a escrita, seja ela qual for, tem como objetivo primeiro<br />

permitir a leitura. A leitura é uma interpretação <strong>da</strong> escrita que consiste em traduzir os<br />

símbolos escritos em fala”. Desta forma, a escola não pode privilegiar uma em detrimento <strong>da</strong><br />

outra, visto que “a escrita é tão interativa (...) quanto a fala. (...) supõe envolvimento entre<br />

sujeitos. (...) ter o que dizer é (...) uma condição prévia para o êxito <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de de escrever”<br />

(ANTUNES, 2003, p.45).<br />

O fato é que quem inventou a escrita, conseqüentemente, inventou como ler e<br />

escrever, embora, para Cagliari (2004), a leitura seja anterior a escrita. Ele também acredita<br />

que foi a partir <strong>da</strong> invenção <strong>da</strong> mesma que a decifração, o entendimento e a evolução do<br />

sistema alfabético ganharam formas e regras de codificação. Mas, para que o sistema de<br />

escrita tivesse continui<strong>da</strong>de, foi preciso ensinar para as novas gerações como utilizá-lo.<br />

Portanto, pode-se dizer que a ativi<strong>da</strong>de escolar (ensinar e compartilhar conhecimento) mais<br />

antiga é a alfabetização.<br />

Segundo Cagliari, (2004), é uma inver<strong>da</strong>de a idéia que se tem de que na antigui<strong>da</strong>de<br />

somente os sacerdotes, reis e pessoas de grande poder conhecessem a escrita. Apenas um<br />

punhado de pessoas não seria suficiente para assegurar a perpetuação <strong>da</strong> mesma. Por outro<br />

lado, a idéia de que os desenhos e símbolos evoluíram e formam hoje o nosso sistema<br />

alfabético é totalmente real. Ele surgiu na Suméria por volta de 3300 a.C., chegando ao Egito,<br />

à China, ganhando regras, formas, sons, passando pela Grécia onde o princípio acrofônico (o<br />

som inicial do nome <strong>da</strong> letra é o som que ela representa) foi mantido, mas foram a<strong>da</strong>ptados os<br />

nomes <strong>da</strong>s letras semíticas para a língua deles. A partir <strong>da</strong> Grécia o alfabeto se difundiu, pois:<br />

Quando os gregos passaram a usar o alfabeto, aprender a ler e a escrever<br />

tornou-se uma tarefa de grande alcance popular. De fato, pode-se mesmo<br />

dizer que na Grécia antiga havia as escolas do alfabeto (MANACORDA,<br />

1989, p.48).<br />

24


Aproveitando muito conhecimento <strong>da</strong> cultura grega, inclusive o alfabeto, os romanos<br />

simplificaram o princípio acrofônico e colocaram o nome <strong>da</strong> letra o próprio som dela. Assim,<br />

alfa virou a, beta virou bê, gama cê.<br />

Segundo Cagliari (1989), os métodos antigos de alfabetização baseavam-se no<br />

conhecimento e reconhecimento <strong>da</strong>s letras (decorar alfabeto), seguidos pela formação de<br />

uni<strong>da</strong>des pequenas (as sílabas), a leitura de palavras, tinham a cópia como forma de escrita, o<br />

ditado como forma de avaliação e o texto era uma ativi<strong>da</strong>de depois <strong>da</strong> alfabetização. Todo<br />

este programa deveria ser realizado em um ano e o método <strong>da</strong>s cartilhas baseado no alfabeto,<br />

tabelas de sílabas, exemplos de palavras e textos de leitura eram os modelos mais usados<br />

pelos professores que tinham como material didático painel com exemplos e lousa individual<br />

para exercícios (Cagliari, 1989). Mas, o excesso de alunos para serem alfabetizados e o<br />

número reduzido de professores trazia dificul<strong>da</strong>des na realização do processo educativo.<br />

Atualmente, estamos vivendo num período de ênfase na construção do conhecimento.<br />

O erro é considerado um fator muito importante para aju<strong>da</strong>r na elaboração dos sistemas de<br />

leitura e escrita. Se no modelo tradicional de ensino o erro é considerado como um obstáculo<br />

e significa que o aluno não assimilou na<strong>da</strong> do que lhe foi repassado, no construtivismo tudo<br />

que o aluno tem internalizado vindo do cotidiano é considerado. Cagliari (2004) cita este fato<br />

quando se refere à escrita de textos espontâneos.<br />

Deixar que os alunos escrevam re<strong>da</strong>ções espontâneas não <strong>da</strong>ndo muita<br />

atenção aos erros ortográficos e apostando na capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s crianças de<br />

escrever e se auto-corrigir com relação a ortografia é de fato um estímulo e<br />

um desafio que o aluno sente no seu trabalho, uma motivação ver<strong>da</strong>deira<br />

para a escrita. Essa é a melhor forma de valorizar de valorizar as ativi<strong>da</strong>des<br />

dos alunos (CAGLIARI, 2004, p.124).<br />

O aluno quando escreve está fazendo uma representação gráfica <strong>da</strong> linguagem oral e a<br />

preocupação excessiva dos professores com o erro acaba impedindo o desenvolvimento<br />

textual em função de questões considera<strong>da</strong>s secundárias para crianças nesta fase de<br />

aprendizagem. Não queremos dizer que o erro deva ser totalmente desconsiderado, mas que o<br />

professor deva procurar formas para que o aluno descubra-os gra<strong>da</strong>tivamente e no tempo<br />

oportuno, sem que isso se torne um entrave para o despertar <strong>da</strong> originali<strong>da</strong>de.<br />

25


O período de vivência do processo de alfabetização é uma fase muito importante na<br />

vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> criança. O respeito ao tempo de desenvolvimento de ca<strong>da</strong> um acaba se tornando um<br />

dos pontos principais a ser considerado pelo professor, pois antes de ser aluno a criança é um<br />

ser em formação, com seus medos e receios, habili<strong>da</strong>des e dificul<strong>da</strong>des que devem ser<br />

venci<strong>da</strong>s com a aju<strong>da</strong> de um orientador <strong>da</strong> aprendizagem e não com um ditador de regras.<br />

2.4- A ANÁLISE LINGUÍSTICA NA SALA DE AULA<br />

Em tempos não muito distantes, o ensino <strong>da</strong> gramática nas escolas tinha como função<br />

fazer com que os alunos assimilassem o maior número possível de conceitos lingüísticos. A<br />

aquisição destes conceitos pelos discentes promoveria uma homogenei<strong>da</strong>de na socie<strong>da</strong>de e<br />

eliminaria a diversi<strong>da</strong>de lingüística advin<strong>da</strong> do contexto histórico-social. A inserção do<br />

indivíduo aconteceria de forma natural, desde que ele tivesse domínio dos aspectos<br />

morfológicos e fonológicos <strong>da</strong> língua portuguesa. Entretanto os sujeitos que não<br />

conseguissem se encaixar neste perfil viveriam à margem <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

Com o passar dos anos, novas necessi<strong>da</strong>des vieram à tona, e somente a aprendizagem<br />

<strong>da</strong> gramática já não é mais suficiente. A escola precisa incitar o desenvolvimento de<br />

habili<strong>da</strong>des para a vi<strong>da</strong>, levando em consideração que o aluno não é uma “tábula rasa”, que<br />

dentro <strong>da</strong> sua vivência ele adquiriu conhecimentos que podem ser reutilizados num ambiente<br />

formal de ensino. Ao professor, como mediador do processo, se lança o papel de relacionar os<br />

conhecimentos prévios com os conteúdos a serem apreendidos, dentro de uma aprendizagem<br />

significativa para o aluno.<br />

Sobre o ensino de gramática nas escolas Antunes (2003) diz que:<br />

[...] Vale a pena lembrar que, de tudo o que diz respeito à língua, a<br />

nomenclatura é a parte menos móvel, menos flexível, mais estanque e mais<br />

distante <strong>da</strong>s intervenções dos falantes. Talvez, por isso mesmo, seja a parte<br />

‘mais fácil’ de virar objeto <strong>da</strong>s aulas de língua (ANTUNES, 2003, p.32).<br />

Considerando o comentário de Antunes, fica fácil perceber porque o ensino <strong>da</strong><br />

gramática nas escolas é considerado pelos alunos como o “bicho papão” <strong>da</strong>s aulas de<br />

português. Os conteúdos são trabalhados sem contexto, na maioria <strong>da</strong>s vezes incoerentes com<br />

26


a reali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>ndo privilégio às correções e desconsiderando outros aspectos de importância<br />

relevante para a aprendizagem.<br />

Analisando as discussões de alguns autores como: Antunes (2003) e Cagliari (2004), e<br />

as orientações conti<strong>da</strong>s nos PCNs, sobre como trabalhar a gramática em sala de aula, é<br />

coerente apontar que a compartimentalização dos conteúdos é o maior obstáculo para o<br />

desenvolvimento de competências lingüísticas. A leitura, a orali<strong>da</strong>de e a escrita são<br />

trabalha<strong>da</strong>s separa<strong>da</strong>s <strong>da</strong> gramática como se fossem conhecimentos particulares, sempre<br />

descontextualiza<strong>da</strong>s sem nenhuma relação com o uso que os alunos virão a fazer delas.<br />

É importante que haja a conscientização (não só dos professores, mas também <strong>da</strong>s<br />

pessoas que participam direta ou indiretamente na construção <strong>da</strong> aprendizagem) de que todo<br />

falante tem conhecimento <strong>da</strong> gramática, pois, quando articula as palavras para comunicar-se,<br />

o sujeito está fazendo uso <strong>da</strong>s regras, mesmo que de forma inconsciente. O que eles não<br />

possuem são conhecimentos sobre nomenclaturas.<br />

[...] a gramática <strong>da</strong> língua, existe, apenas, com a única finali<strong>da</strong>de de<br />

estabelecer os padrões de uso, de funcionamento dessa língua. Ou seja, se as<br />

línguas existem para serem fala<strong>da</strong>s e escritas, as gramáticas existem para<br />

regular os usos adequados e funcionais <strong>da</strong> fala e <strong>da</strong> escrita <strong>da</strong>s línguas.<br />

Assim nenhuma regra gramatical têm importância por si mesma. Nenhuma<br />

regra gramatical tem garanti<strong>da</strong> a sua vali<strong>da</strong>de incondicional. O valor de<br />

qualquer regra gramatical deriva <strong>da</strong> sua aplicabili<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> sua<br />

funcionali<strong>da</strong>de na construção dos atos sociais <strong>da</strong> comunicação verbal, [...]<br />

(ANTUNES, 2003, p.89).<br />

Trabalhar gramática nas séries iniciais do ensino fun<strong>da</strong>mental requer uma maior<br />

dinamici<strong>da</strong>de do professor para contextualizar os textos trabalhados com as situações de<br />

construção <strong>da</strong> linguagem. O uso <strong>da</strong> gramática deve ocorrer dentro de situações concretas que<br />

permitam ao aluno verificar em que circunstâncias ela acontece.<br />

O desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem deve acontecer de forma<br />

gra<strong>da</strong>tiva, sempre levando em consideração que ca<strong>da</strong> criança tem seu ritmo e tempo de<br />

aprendizagem. Para que isso aconteça, somente a competência técnica não é suficiente, o<br />

professor precisa estar consciente do seu papel como mediador do processo, pois é dentro de<br />

um contexto lingüístico que considere os conhecimentos prévios do aluno que se consoli<strong>da</strong> a<br />

aprendizagem.<br />

27


3- A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL<br />

As narrativas são tão antigas quanto à humani<strong>da</strong>de, ninguém sabe ao certo qual foi a<br />

primeira história, quem a contou e quando isso ocorreu. Como afirma Meireles,<br />

[...] o ofício de contar história é remoto, em to<strong>da</strong>s as partes do mundo o<br />

encontramos: já os profetas o mencionam. E por ele se perpetuam a<br />

literatura oral, comunicando de indivíduo a indivíduo e de povo a povo o<br />

que os homens, através <strong>da</strong>s i<strong>da</strong>des, têm selecionado <strong>da</strong> sua experiência<br />

como mais indispensável a vi<strong>da</strong>. (MEIRELES, 1984, p.41).<br />

E foi essa orali<strong>da</strong>de que fez com que muitas histórias conta<strong>da</strong>s e reconta<strong>da</strong>s,<br />

transmiti<strong>da</strong>s de boca em boca, tomassem novas dimensões, formas e encantassem diferentes<br />

públicos até que alguém, em algum lugar, resolveu colocá-las num papel. O papel fez com<br />

que muitas delas se tornassem eternas, ver<strong>da</strong>deiros tesouros prontos para serem abertos e<br />

explorados por crianças, jovens e adultos. Garcia (2003) afirma que não existe nesse mundo<br />

um só povo que não tenha suas histórias. Para ele, as histórias unem as pessoas e é uma<br />

necessi<strong>da</strong>de do ser humano.<br />

O ato de contar história é muito importante na formação de qualquer criança. Escutar<br />

histórias é o início <strong>da</strong> aprendizagem para ser um bom leitor e ser leitor significa ter todo um<br />

caminho de descobertas e de compreensão do mundo. As histórias aguçam o imaginário <strong>da</strong>s<br />

crianças, respondem as curiosi<strong>da</strong>des em relação a várias perguntas, levam-nas a encontrar<br />

idéias para solucionar questões, estimulam-nas para o desenho, a música e o teatro.<br />

Bettelheim afirma que<br />

Para que uma estória realmente pren<strong>da</strong> a atenção <strong>da</strong> criança, deve entretê-la<br />

e despertar sua curiosi<strong>da</strong>de. Mas para enriquecer sua vi<strong>da</strong>, deve estimularlhe<br />

a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas<br />

emoções; estar harmoniza<strong>da</strong> com suas ansie<strong>da</strong>des e aspirações; reconhecer<br />

plenamente suas dificul<strong>da</strong>des e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os<br />

problemas que a perturbam (BETTELHEIM, 1980, p. 13).<br />

Se por um lado ninguém sabe ao certo onde e quando as histórias começaram a ser<br />

conta<strong>da</strong>s, a literatura infantil, diferentemente, teve sua célula nas Novelísticas Populares<br />

Medievais originárias na Índia. Acredita-se que muitas <strong>da</strong>s fabulosas narrativas difundi<strong>da</strong>s em<br />

28


todo o mundo sejam <strong>da</strong>ta<strong>da</strong>s de séculos A.C. e ficaram conheci<strong>da</strong>s pela tradição oral. Mas,<br />

somente no século XVII, é que elas começam, de fato, a se constituir como gênero literário de<br />

características próprias, ao qual, no entanto, a classe popular não tinha acesso. Até então, a<br />

fase do desenvolvimento humano que atualmente denominamos de “infância” era<br />

desconsidera<strong>da</strong> como tal, nesse período, a criança era considera<strong>da</strong> como um adulto em<br />

miniatura ain<strong>da</strong> não perfeito, não sendo assim separa<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des a serem executa<strong>da</strong>s por<br />

adultos e por crianças, como também não eram selecionados os espaços destinados à infância<br />

(KRAMER, 2003).<br />

A partir do século XVII, época em que as mu<strong>da</strong>nças na estrutura <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

desencadearam repercussões no âmbito artístico, a ascensão <strong>da</strong> família burguesa trouxe um<br />

novo “status” concedido à infância e à reorganização <strong>da</strong> escola, passando a haver uma<br />

preocupação com o desenvolvimento <strong>da</strong>s crianças. A uni<strong>da</strong>de familiar tinha de ser preserva<strong>da</strong><br />

para preparar o jovem para ocupar um lugar no grupo social. Para isso a criança deveria ter<br />

educado seu comportamento e intelecto. Assim, tanto a família como a escola, iam estar a<br />

serviço desta nova ideologia que teria na literatura sua representante. Neste contexto, os<br />

filhos dos ricos começam a ser mimados e embalados por obras literárias, enquanto os<br />

descendentes pobres continuaram a ser vistos como adultos em miniatura.<br />

É importante ressaltar que a literatura infantil <strong>da</strong> época era bem diferente <strong>da</strong> que<br />

conhecemos hoje. Fenélon (1651-1715), pioneiro desse tipo de obra literária, fazia suas<br />

histórias com a função de educar moralmente as crianças. As histórias tinham uma estrutura<br />

maniqueísta, a fim de demarcar claramente o bem a ser aprendido e o mal a ser desprezado.<br />

Ain<strong>da</strong> hoje, muitos professores utilizam as histórias com esse objetivo. Conforme Kramer<br />

(2003), a partir do século XVIII, o desenvolvimento econômico incitou o aparecimento de<br />

novas visões sobre a criança e como deveria ser a educação destina<strong>da</strong> a essa faixa etária. E, de<br />

acordo com Oliveira (2005), a emersão <strong>da</strong> literatura infantil deve-se à sua associação com a<br />

pe<strong>da</strong>gogia, visto que, as histórias já eram elabora<strong>da</strong>s com o intuito de serem utiliza<strong>da</strong>s como<br />

instrumentos dela. Daí por diante, a literatura infantil se desenvolveu e se expandiu por todos<br />

os cantos.<br />

No Brasil, só apareceu no final do século XIX e início do século XX, delineando-se<br />

nesse momento as primeiras tentativas de formação de um público leitor infantil. Segundo<br />

Becker (2001, p.36), o compromisso pe<strong>da</strong>gogizante, que marca a produção dessa época,<br />

29


evela a posição assumi<strong>da</strong> pelos intelectuais preocupados com a modernização do país, os<br />

quais acreditavam que através <strong>da</strong> escola conseguiriam atingir esse objetivo, como também<br />

incentivar a adoção de valores patrióticos, começando pelas crianças.<br />

Os primeiros brasileiros a se preocuparem com a literatura infantil no país foram<br />

Carlos Jansen e Alberto Figueiredo Pimentel. Eles foram os responsáveis pela tradução <strong>da</strong>s<br />

mais importantes obras infantis <strong>da</strong> época para o português. Alberto Figueiredo Pimentel,<br />

conhecido pelos sobrenomes, chegou a a<strong>da</strong>ptar e publicar várias histórias, entre elas: Contos<br />

seletos <strong>da</strong>s mil e uma noites (1882), Viagens de Gulliver (1888), Contos <strong>da</strong> Carochinha<br />

(1894), Histórias <strong>da</strong> avozinha (1896) e História <strong>da</strong> Baratinha (1896). Mas segundo Becker<br />

(2001, p.36) essas traduções e a<strong>da</strong>ptações apresentavam problemas, devido não só ao<br />

distanciamento lingüístico entre o português em que esses textos eram escritos e o falar típico<br />

dos brasileiros, mas também quanto à visão de mundo, resultando em problema de identi<strong>da</strong>de<br />

cultural.<br />

Porém, segundo Dinorah (1995), foi em 1917 que Thales de Andrade deu início à<br />

literatura infantil nacional, seguido por Monteiro Lobato que, em 1921, estreou com<br />

"Narizinho Arrebitado", apresentando ao mundo Emília, a mais moderna e encantadora<br />

boneca humaniza<strong>da</strong>. É importante ressaltar que, apesar de só lançar seu primeiro livro infantil<br />

em 1921, José Renato Monteiro Lobato, já escrevia desde 1904 para jornais, revistas e já<br />

havia publicado livros, porém estes não eram de literatura infantil. Sem dúvi<strong>da</strong>, Lobato foi um<br />

marco para a literatura infantil brasileira, nos apresentando uma nova roupagem <strong>da</strong> literatura<br />

infantil, visível na inovação temática <strong>da</strong>s histórias e na aproximação entre a linguagem e o<br />

tom coloquial que caracterizava a fala brasileira.<br />

O período de 1920-1945 foi um período de efervescência política, intelectual e<br />

artística, uma déca<strong>da</strong> em que se registra a pressão <strong>da</strong> burguesia industrial, <strong>da</strong> classe média<br />

urbana e do operariado, ca<strong>da</strong> um reivindicando por causas que objetivavam os seus interesses.<br />

Esse contexto histórico atingiu a educação, denunciando a triste reali<strong>da</strong>de nacional, um<br />

sistema escolar elementar fragilizado e com altos índices de analfabetismo. Neste período,<br />

cria-se a escola nova que motivou uma série de reformas, que atendesse uma escola primária<br />

em tempo integral, propondo um ensino intelectual e pragmático, preparando o educando para<br />

o desenvolvimento de trabalhos práticos e para a atuação em ativi<strong>da</strong>des esportivas.<br />

30


No entanto, só após a déca<strong>da</strong> de 70 é que houve um grande desenvolvimento <strong>da</strong><br />

literatura para crianças com a entra<strong>da</strong> de grandes editoras no mercado. A produção brasileira,<br />

porém, de acordo com Cunha (1998), era esporádica. A maioria dos livros se constituía de<br />

traduções de clássicos de algumas coleções estrangeiras. Nesse período, ocorre o abandono <strong>da</strong><br />

postura didático- pe<strong>da</strong>gógica. De acordo com Becker (2001, p. 41), ao mostrar personagens e<br />

enredos livres do estigma de modelos exemplares, apresentando aos leitores protagonistas<br />

como crianças desajusta<strong>da</strong>s ou frustra<strong>da</strong>s, o ambiente onde ocorriam as histórias revelava uma<br />

socie<strong>da</strong>de marca<strong>da</strong> por problemas econômicos - pobreza, miséria, injustiça e marginalização.<br />

“Os autores privilegiaram o enfoque do universo infantil, reforçando a independência, a<br />

criação e a rebeldia, que mesmo frágil perante o mundo, pode deter a palavra e vê-lo com<br />

olhar ingênuo e desarmado” (BECKER, 2001, p.41). Nesse período, recupera-se o folclore<br />

oral pela abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong>s modinhas infantis, <strong>da</strong>s canções de ninar e <strong>da</strong>s brincadeiras de ro<strong>da</strong>.<br />

To<strong>da</strong> essa ruptura com o que havia esclerosado o gênero ao longo do tempo, conforme<br />

Lajolo e Zilberman,( apud, Saraiva, 2001,p.41)explicitam e assumem sua natureza de produto<br />

verbal , cultural e ideológico. Nesse contexto, são concebi<strong>da</strong>s, entre outras produções, O<br />

reizinho mandão, Marcelo, marmelo, martelo (Ruth Rocha), O sol<strong>da</strong>do que não era ( Joel<br />

Rufino Santos), História meio ao contrário ( Ana Maria machado), Chapeuzinho amarelo (<br />

Chico Buarque de Holan<strong>da</strong>), Os colegas, A casa <strong>da</strong> madrinha, Cor<strong>da</strong> bamba ( Ligia Bojunga<br />

Nunes) e Uma idéia to<strong>da</strong> azul ( Marina Colasanti).<br />

Mas qual a real importância <strong>da</strong> literatura infantil para o desenvolvimento intelectual<br />

<strong>da</strong>s nossas crianças? Que habili<strong>da</strong>des elas poderão adquirir se se tornarem leitores? Visto que<br />

a literatura percorre o trajeto <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de à escrita, os textos infantis podem fazer com que<br />

nossos alunos alcancem várias habili<strong>da</strong>des, tais quais: orali<strong>da</strong>de, leitura e escrita.<br />

A orali<strong>da</strong>de é beneficia<strong>da</strong> com o contato com a literatura infantil porque esta contribui<br />

para o crescimento emocional, cognitivo e para a identificação pessoal <strong>da</strong> criança, <strong>da</strong>ndo-lhe<br />

autonomia e despertando a criativi<strong>da</strong>de.<br />

É pela orali<strong>da</strong>de que se deve começar o ensino. Cecília Meireles nos lembra que<br />

[...] não se pode pensar em uma infância a começar com gramática e<br />

retórica: narrativas orais cercam a criança <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong>de, como as de hoje.<br />

31


(...) mitos, fábulas, len<strong>da</strong>s, teogonias, aventuras, teatro, festas populares,<br />

jogos, representações várias (...) ocuparam no passado o lugar que hoje<br />

concedemos ao livro infantil (MEIRELES, 1984, p.55).<br />

Além <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de, as histórias infantis, que geralmente são utiliza<strong>da</strong>s pelos<br />

professores como forma de entretenimento ou distração, podem ser uma maneira prazerosa de<br />

incentivo à aquisição <strong>da</strong> leitura e conseqüentemente <strong>da</strong> escrita já que, comumente, a criança<br />

sempre tem um interesse especial por elas. Mas, as diferenças entre as histórias conta<strong>da</strong>s e as<br />

histórias li<strong>da</strong>s são significantes para uma criança, uma vez que segundo Britton:<br />

... ao ouvir histórias, a criança vai construindo seu conhecimento <strong>da</strong><br />

linguagem escrita, que não se limita ao conhecimento <strong>da</strong>s marcas gráficas a<br />

produzir ou a interpretar, mas envolve gênero, estrutura textual, funções,<br />

formas e recursos lingüísticos. Ouvindo histórias, a criança aprende pela<br />

experiência a satisfação que uma história provoca; aprende a estrutura <strong>da</strong><br />

história, passando a ter consideração pela uni<strong>da</strong>de e seqüência do texto;<br />

associações convencionais que dirigem as nossas expectativas ao ouvir<br />

histórias; o papel esperado de um lobo, de um leão, de uma raposa, de um<br />

príncipe; delimitadores iniciais e finais ('era uma vez... e viveram felizes<br />

para sempre') e estruturas lingüísticas mais elabora<strong>da</strong>s, típicas <strong>da</strong><br />

linguagem literária. Aprende pela experiência o som de um texto escrito<br />

lido em voz alta (apud KATO, 1997:41).<br />

Assim como Britton, Ribeiro (1997) também acredita que o texto escrito lido em voz<br />

alta possa propiciar o desenvolvimento <strong>da</strong> linguagem escrita uma vez que o exercício <strong>da</strong><br />

pronúncia e entonação leva, sutilmente, os alunos a internalizarem os sinais de pontuação, por<br />

exemplo.<br />

Nos dias atuais, percebemos que a contação de histórias e a leitura em voz alta deixou<br />

de ser papel dos nossos avós e pais e passou a ser papel do professor. Diante disso, Cunha<br />

propõe que<br />

(...) seria muito importante que a escola procurasse desenvolver no aluno<br />

formas ativas de lazer, aquelas que tornam o indivíduo crítico e criativo,<br />

mais consciente e produtivo. A literatura teria papel relevante nesse aspecto<br />

(CUNHA, 1991. p. 47).<br />

A utilização dos textos infantis pelo professor apenas como distração, para o ensino de<br />

boas maneiras e/ou hábitos de higiene, sem eleger os objetivos que se quer alcançar, sem<br />

nenhum critério de planejamento e de avaliação, é um equívoco. A escola assume papel<br />

relevante na preparação <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> criança. Porém, deve-se levar em<br />

32


consideração quem ela é e de onde vem esta criança para traçar metas basea<strong>da</strong>s na reali<strong>da</strong>de<br />

em que está inseri<strong>da</strong>, o que nem sempre ocorre. De acordo Cunha<br />

(...) gostar ou não de literatura, como de qualquer outra experiência, não é<br />

um <strong>da</strong>do biológico de nascença. Se essa característica é <strong>da</strong> história de ca<strong>da</strong><br />

um cabe-nos como educadores influir o melhor que pudermos nesse <strong>da</strong>do<br />

cultural” (CUNHA, 1991. p. 53).<br />

Como constatamos a contribuição <strong>da</strong> literatura infantil para o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

aquisição <strong>da</strong> escrita pela criança é imensa. No Brasil, a quanti<strong>da</strong>de de escritores que tem se<br />

interessado por este público também é crescente e muitos destes já são consagrados, tais<br />

como: Monteiro Lobato, Ana Maria Machado, Celso Antunes, Cecília Meireles, Ziraldo,<br />

Sylvia Ortoff, João Marinho, Anna Flora, Edy Lima e Ruth Rocha, cuja obra e sua recepção<br />

junto ao público infantil e juvenil constituem-se objeto de particular interesse nesta pesquisa.<br />

3.1- A PRODUÇÃO LITERÁRIA DE RUTH ROCHA<br />

Ruth Machado Louza<strong>da</strong> Rocha nasceu em 02 de março de 1931 na ci<strong>da</strong>de de São<br />

Paulo, em uma família de classe média, filha dos cariocas Álvaro de Faria Machado, médico,<br />

e Esther de Sampaio Machado, têm quatro irmãos, Ril<strong>da</strong>, Álvaro, Eliana e Alexandre. Teve<br />

uma infância alegre e repleta de livros e gibis, <strong>da</strong>í pode-se imaginar o porquê desta autora ter<br />

se tornado essa grande escritora, uma vez que desde criança já gostava de se debruçar nos<br />

livros, e também devido à influência literária dos seus familiares, fato este comprovado em<br />

seu depoimento:<br />

Na minha família a história esteve sempre presente. Contos de fa<strong>da</strong>s, Mil e<br />

uma noites, contos folclóricos...<br />

Lidos ou contados pela minha mãe, pelo meu pai e especialmente, pelo meu<br />

avô. Meu avô conhecia e contava to<strong>da</strong>s as histórias que existiam. Contos<br />

tradicionais, Gata Borralheira, Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho<br />

eram contados por ele, mas ambientados na Bahia, de onde a família viera.<br />

Os personagens falavam de Caixaprego, <strong>da</strong> Ladeira do Escorrega, em<br />

Salvador, e de outros lugares também, que meu avô trabalhava na Central<br />

do Brasil e viajava muito.<br />

E assim a história entrou na minha vi<strong>da</strong> pelo caminho mais efetivo: O<br />

caminho afetivo.<br />

( ROCHA, Mulheres de Coragem,1991,36 )<br />

33


Ruth Rocha cresceu no bairro de Vila Mariana, na qual tinham nessa época muitas<br />

chácaras por onde Ruth passava, a caminho <strong>da</strong> escola. Ela estu<strong>da</strong>va no Colégio Bandeirante.<br />

Mais tarde, terminou o Ensino Médio no colégio do Rio Branco. É gradua<strong>da</strong> em Sociologia e<br />

Política pela Universi<strong>da</strong>de de São Paulo e pós-gradua<strong>da</strong> em Orientação Educacional pela<br />

Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica de São Paulo. Casa<strong>da</strong> com Eduardo Rocha, tem uma filha<br />

Mariana e dois netos, Miguel e Pedro.<br />

Monteiro Lobato foi sua grande influência, em sua obra percebe-se essa influencia<br />

pelo seu interesse nos problemas sociais e políticos, na sua tendência ao humor e nas suas<br />

posições feministas.<br />

Começou a escrever em 1967, para a revista <strong>Claudia</strong>, artigos sobre educação.<br />

Participou <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> revista Recreio, <strong>da</strong> Editora Abril, onde teve suas primeiras histórias<br />

publica<strong>da</strong>s a partir de 1969. “Romeu e Julieta”, “Meu Amigo Ventinho”, “Catapimba e Sua<br />

Turma”, “O Dono <strong>da</strong> Bola”, “Teresinha e Gabriela” estão entre seus primeiros textos de<br />

ficção. Ain<strong>da</strong> na Abril, foi editora, re<strong>da</strong>tora e diretora <strong>da</strong> Divisão de Infanto-Juvenis. Em 1978<br />

lança O reizinho mandão. Em 1989 é escolhi<strong>da</strong> pela ONU para assinar a versão infantil <strong>da</strong><br />

Declaração Universal dos Direitos Humanos, intitula<strong>da</strong> Iguais e Livres, publica<strong>da</strong> em nove<br />

línguas. Dois anos após, é novamente convi<strong>da</strong><strong>da</strong> pela ONU para assinar a declaração sobre<br />

ecologia para crianças, Azul e lindo – Planeta Terra, nossa casa (1990). Em 1995 lança o<br />

Dicionário Ruth Rocha e, em segui<strong>da</strong>, recebe o prêmio Jabuti como autora <strong>da</strong> série didática<br />

Escrever e criar... é só começar (1977). Em 1999 parte para um trabalho de fôlego e inicia a<br />

versão infanto-juvenil <strong>da</strong> Odisséia, de Homero. O trabalho consumiu três anos de dedicação e<br />

pesquisa e foi lançado em 2001. Vendeu 6 mil exemplares em apenas 15 dias. É uma autora<br />

respeita<strong>da</strong> pela crítica, conforme atestam os depoimentos de Nelly Novaes Coelho, <strong>da</strong> USP:<br />

“Com sua linguagem lúdica, sua ironia e seu senso crítico, Ruth passa valores seríssimos às<br />

crianças. Suas histórias abandonam a moral dos contos antigos e trazem ver<strong>da</strong>deiras lições de<br />

vi<strong>da</strong>.” Marisa Lajolo, <strong>da</strong> UNICAMP, afirma: “O trabalho de Ruth é um dos mais relevantes<br />

na literatura infantil no Brasil. Quando a criança lê seu livro, repensa situações que ocorrem<br />

na vi<strong>da</strong> real e passa a reagir de forma mais crítica a partir de novos valores apresentados por<br />

ela.”<br />

34


Usando uma linguagem fluente e diverti<strong>da</strong>, que cativa o leitor, Ruth Rocha consegue<br />

abor<strong>da</strong>r os problemas cotidianos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de de forma sutil e fácil de ser compreendi<strong>da</strong> pela<br />

criança. De acordo com Fanny Abramovich (1993):<br />

Os temas que Ruth Rocha abor<strong>da</strong> como ninguém em suas quatro<br />

histórias de Reis, uma discussão sobre poder, o domínio político, a<br />

autori<strong>da</strong>de despótica. Em O Reizinho Mandão, trata do poder sem<br />

limites, disparatado, temido, que acaba sendo enfrentado e<br />

desmontado por uma menina, sem medo e sem papas na língua...<br />

(1993,p.14).<br />

Em O que os Olhos não Vêem, se conhece um outro Rei, que só<br />

enxergava quem era grande, forte, nutrido ... e portanto, jamais via o<br />

povo, que não se caracteriza exatamente por essa quali<strong>da</strong>des...(...)<br />

(idem,p.114).<br />

O Rei que Sabia de Na<strong>da</strong> é desmascarado com graça e humor, uma<br />

super máquina que tudo pode fazer e controlar, o que deixa os<br />

Ministros felicíssimos... E quando ela começa a falhar, claro, não<br />

avisam o Rei sobre o que está acontecendo... É o caos no<br />

país...(...)(idem,p.115).<br />

Todos estes livros de Ruth, citados por Abramovich, introduzem a séria arte <strong>da</strong><br />

política de maneira acessível para as crianças mostrando, sempre, que os governantes<br />

deveriam fazer o melhor e estarem sempre perto do povo.<br />

Tanto em O Reizinho Mandão quanto A Volta do Reizinho Mandão, ou em O Que os<br />

Olhos Não Vêem, os personagens não têm nome. O nome próprio sempre indica a identi<strong>da</strong>de<br />

pessoal do personagem. Desta forma, os personagens são chamados de “Reizinho”, de<br />

“Conselheiros”, <strong>da</strong> “Velha”, e de uma “Menina”.<br />

Ruth Rocha já escreveu mais de 130 livros infantis. Suas obras possuem grande<br />

importância no processo ensino-aprendizagem aju<strong>da</strong>ndo as crianças a refletirem sobre a<br />

socie<strong>da</strong>de, os governantes e o papel <strong>da</strong>s pessoas como ci<strong>da</strong>dãs e como podem contribuir para<br />

um mundo melhor.<br />

O livro de Ruth Rocha trabalhado durante a pesquisa Quem tem medo de ridículo?<br />

Trabalha muito com o aspecto psicológico <strong>da</strong>s crianças, pois a autora procura discutir, com<br />

muito humor, os medos mais comuns entre as crianças e os adolescentes, que têm uma grande<br />

35


necessi<strong>da</strong>de de serem aceitos, evidenciando situações de constrangimento e generalizando<br />

angústias cita<strong>da</strong>s como sendo algo corriqueiro na vi<strong>da</strong> de qualquer pessoa. Destaca pontos<br />

importantes a serem discutidos, que são de grande relevância para a compreensão dos<br />

aspectos emocionais por que passam a criança e o adolescente. Por ser escrito em forma de<br />

poesia serve para despertar no aluno a criativi<strong>da</strong>de e esclarecer questionamentos sobre a<br />

organização de poemas.<br />

O livro Atrás <strong>da</strong> porta tem um enredo simples e fácil de ser compreendido, além de<br />

instigar o imaginário <strong>da</strong>s pessoas que o lêem. Por meio dele pode-se estimular o<br />

desenvolvimento de várias habili<strong>da</strong>des que contribuam para a formação do ci<strong>da</strong>dão, além de<br />

conscientizar a criança <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> leitura em suas vi<strong>da</strong>s. O enredo, que se passa numa<br />

biblioteca escolar, resgata a importância que este espaço ocupa na formação <strong>da</strong> criança como<br />

leitora, mostrando o prazer e o contato desta com o objeto livro. Esse conto vai instigar nas<br />

crianças a importância dos livros, através <strong>da</strong>s histórias de D. Carlotinha eles vão mergulhar no<br />

mundo mágico e encantado <strong>da</strong> Literatura Infantil. Este conto pode ser usado pelos professores<br />

<strong>da</strong>s séries iniciais para incentivar as visitas as bibliotecas públicas como fonte de prazer e<br />

entretenimento. O professor pode até marcar com as crianças, sob a autorização dos pais,<br />

visita a uma biblioteca pública, além de ser importante para afirmar o hábito de ler, também<br />

seria uma forma de interação entre as crianças.<br />

O livro Azul e lindo: Planeta terra, nossa casa é uma obra cria<strong>da</strong> por Ruth Rocha e<br />

Otávio Roth após o encontro realizado em Estocolmo, sobre a Declaração Mundial do meio<br />

Ambiente, partindo do convite feito pela Organização <strong>da</strong>s nações Uni<strong>da</strong>s. O livro fala bastante<br />

sobre nosso planeta e enfatiza a beleza, a educação ambiental passa<strong>da</strong> de geração em geração<br />

e <strong>da</strong> importância de se cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> terra para que seja um lugar possível de se viver. Pode ser<br />

usado por diversas áreas do conhecimento, tais como: português, ciências, geografia e<br />

história. Enfatiza o cui<strong>da</strong>do e a preservação do nosso planeta.<br />

Ruth Rocha possui diversas obras que podem ser trabalha<strong>da</strong>s nas séries iniciais. Para o<br />

presente trabalho realizado foram escolhi<strong>da</strong>s apenas as três acima cita<strong>da</strong>s devido ao tempo<br />

estipulado para a realização desta pesquisa, mas o seu acervo literário é muito vasto e os<br />

temas abor<strong>da</strong>dos em suas produções são também muito diversificados, podendo ser utilizados<br />

pelas diversas áreas do conhecimento, tanto no ambiente escolar pelos professores como<br />

também em casa pelos familiares como fonte de prazer e entretenimento.<br />

36


4- A RECEPÇÃO DAS OBRAS DE RUTH ROCHA NO 4º E 5º ANO DAS SÉRIES<br />

INICIAIS: PERSPECTIVA METODOLÓGICA<br />

4.1- PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS<br />

A partir do tema escolhido “A literatura infantil na formação <strong>da</strong> criança leitora e<br />

construtora de histórias”, pretendi investigar como a literatura infantil pode contribuir para o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> linguagem oral e escrita <strong>da</strong>s crianças do 4º e 5º ano do ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental de duas escolas públicas <strong>da</strong> rede municipal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Salvador- BA, como<br />

também sua utilização para a formação de indivíduos críticos e atuantes na socie<strong>da</strong>de, tendo<br />

como referência as obras literárias <strong>da</strong> autora Ruth Rocha.<br />

As respostas para as questões relaciona<strong>da</strong>s com esta temática exigiram uma<br />

abor<strong>da</strong>gem de pesquisa qualitativa, haja vista que a mesma permite que o pesquisador tenha o<br />

seu ambiente de pesquisa como sua fonte direta de <strong>da</strong>dos. Além disso, esta abor<strong>da</strong>gem admite<br />

que o pesquisador obtenha maior percepção do ponto de vista dos participantes, ou seja, o<br />

modo como estes encaram a questão abor<strong>da</strong><strong>da</strong>. Neste tipo de pesquisa, os <strong>da</strong>dos são<br />

predominantemente descritivos, possibilitando, assim uma maior compreensão <strong>da</strong>s situações e<br />

acontecimentos. Como técnicas de coleta de <strong>da</strong>dos foram utiliza<strong>da</strong>s a pesquisa bibliográfica, a<br />

observação, a entrevista e a análise documental.<br />

A observação exige que o pesquisador se posicione como um “observador<br />

participante”, ou seja, aquele que revela to<strong>da</strong>s as suas intenções ao grupo pesquisado,<br />

podendo, assim, obter maior acesso à informação. Esta técnica permite que o pesquisador<br />

obtenha <strong>da</strong>dos que, muitas vezes, poderiam passar despercebidos em uma entrevista.<br />

A entrevista também possibilita uma maior interação entre o pesquisador e o<br />

pesquisado, facilitando, assim, o acesso às informações. Para o estudo deste tema foi utiliza<strong>da</strong><br />

a entrevista com elaboração de questionário, a partir de um roteiro flexível, permitindo, assim<br />

que o entrevistador pudesse fazer as a<strong>da</strong>ptações necessárias.<br />

37


A análise documental foi escolhi<strong>da</strong> por permitir que documentos escritos pudessem ser<br />

utilizados como fontes estáveis de informações e que pudessem ser consulta<strong>da</strong>s por diversas<br />

vezes. Além disto, a escolha desta técnica deve-se também à vali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s suas informações,<br />

além de possíveis comparações com <strong>da</strong>dos obtidos através de outras técnicas de coletas. Os<br />

documentos utilizados foram obtidos através <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des aplica<strong>da</strong>s em sala de aula, como<br />

as produções escritas pelos alunos a partir dos livros trabalhados <strong>da</strong> autora Ruth Rocha. A<br />

partir do livro, Quem tem medo de ridículo? , os alunos puderam escrever os seus medos e o<br />

que eles achavam do que seria ridículo. Por ser um livro escrito em versos, os alunos também<br />

escreveram poema a partir do próprio livro. O livro Atrás <strong>da</strong> porta permitiu que a partir <strong>da</strong> sua<br />

leitura os alunos escrevessem seus próprios livros. E baseados no livro Azul e lindo planeta<br />

terra nossa casa, os alunos puderam escrever sobre a poluição ambiental e suas conseqüências,<br />

como também sobre a reciclagem e o reaproveitamento do lixo.<br />

A pesquisa bibliográfica foi muito importante para a realização deste trabalho, pois as<br />

leituras dos textos dos diversos autores de uma forma ou de outra contribuíram para o meu<br />

melhor entendimento <strong>da</strong> temática pesquisa<strong>da</strong>, me aju<strong>da</strong>ram assim a encontrar as pistas para<br />

tentar solucionar o problema, “Como a literatura infantil pode contribuir para o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> linguagem oral e escrita nos alunos do 4º e do 5º ano do ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental de duas escolas públicas municipais?”, principalmente Rego (1995) e Saraiva<br />

(2001) que abor<strong>da</strong>m a importância <strong>da</strong> literatura infantil para o processo de aquisição <strong>da</strong> leitura<br />

e <strong>da</strong> escrita e o seu papel para a formação de bons leitores e Soares (1985), ao tratar <strong>da</strong><br />

alfabetização como um fenômeno de natureza complexa, multifaceta<strong>da</strong> que resulta <strong>da</strong> relação<br />

entre os diferentes campos do conhecimento que contribuem para sua compreensão.<br />

Neste sentido, consegui maior clareza para os meus questionamentos sobre essa<br />

temática, comprovando na prática a grande importância <strong>da</strong> literatura infantil na formação <strong>da</strong><br />

criança leitora e construtora de histórias, pois, ao aplicar as obras literárias <strong>da</strong> autora Ruth<br />

Rocha para as crianças do 4º e 5º ano <strong>da</strong> escola Municipal Anfrísia Santiago e <strong>da</strong> escola<br />

Municipal Deputado Gersino Coelho, percebi um total interesse e envolvimento <strong>da</strong>s crianças<br />

com relação à leitura dos livros apresentados e à participação deles com relação às ativi<strong>da</strong>des<br />

escritas.<br />

Foi utilizado nesta pesquisa o método recepcional de literatura que consiste na<br />

interação entre o texto e o leitor, conforme afirma Bordini e Aguiar (1988) e esta interação<br />

38


tem como pré-condição o fato de que texto e leitor estão mergulhados em horizontes<br />

históricos, muitas vezes distintos e defasados, que precisam fundir-se para que a comunicação<br />

ocorra. Neste sentido, o leitor poderá identificar-se ou estranhar-se com o texto. Com relação<br />

ao texto do livro “Quem tem medo de ridículo? aplicado para os alunos do 4º ano <strong>da</strong> Escola<br />

Municipal Anfrísia Santiago podemos afirmar que os alunos se identificaram com o texto do<br />

livro, pois ao relatarem os seus medos e as atitudes que eles consideravam ridículas e<br />

compararem elementos <strong>da</strong> sua cultura com a de outros países, estabeleceram assim um<br />

diálogo com a obra e isso é muito importante para que a recepção ocorra, pois as<br />

possibili<strong>da</strong>des de diálogo com a obra dependem, então, do grau de identificação ou<br />

distanciamento do leitor em relação a ela, no que concerne às convenções sociais e culturais a<br />

que está vinculado e à consciência que delas possui.<br />

Com relação à obra Atrás <strong>da</strong> Porta, trabalha<strong>da</strong> com os alunos do 5º ano <strong>da</strong> escola<br />

municipal deputado Gersino Coelho, houve uma participação e envolvimento <strong>da</strong> maioria dos<br />

alunos, pois alguns criaram as histórias baseados na história do próprio livro “Atrás <strong>da</strong> Porta”,<br />

estabelecendo um diálogo com a obra. Segundo Bordini e Aguiar (1988, p.83), no ato <strong>da</strong><br />

recepção, a fusão de horizontes de expectativas se dá obrigatoriamente, uma vez que as<br />

expectativas do autor se traduzem no texto e as do leitor são a eles transferidos. Percebi que<br />

muitos mostraram interesse e incorporaram a idéia <strong>da</strong> biblioteca misteriosa, <strong>da</strong> vovó que<br />

contava as histórias para Carlinhos, o protagonista do texto e <strong>da</strong> abertura <strong>da</strong> biblioteca ao<br />

público como incentivo ao hábito de leitura, tanto que estes fatos estão bem presentes nas<br />

produções escritas de alguns, contudo percebi a falta de interesse de outros alunos não<br />

participando <strong>da</strong> proposta <strong>da</strong> criação e escrita <strong>da</strong>s suas histórias.<br />

O livro Azul e lindo planeta terra nossa casa, também foi trabalhado com a turma do 5º<br />

ano <strong>da</strong> escola Gersino Coelho, os alunos mostraram-se interessados e atentos ao ouvir o texto,<br />

participaram dos questionamentos sobre a preservação do nosso planeta e sobre as<br />

conseqüências <strong>da</strong> poluição ambiental e construíram brinquedos com materiais recicláveis. A<br />

leitura do texto e as ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s fizeram parte de um trabalho interdisciplinar entre a<br />

disciplina literatura infantil, a disciplina ciências e o tema transversal meio ambiente, um dos<br />

motivos <strong>da</strong> escolha deste livro.<br />

39


4.2- CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA:<br />

4.2.1-ESCOLA MUNICIPAL PROFESSORA ANFRÍSIA SANTIAGO<br />

A primeira etapa desta pesquisa foi realiza<strong>da</strong> na Escola Municipal Professora Anfrísia<br />

Santiago, no período de 02/09/08 até 14/10/08 como observação e no período de 25/11/08 até<br />

27/11/08 como intervenção. A escola fica localiza<strong>da</strong> na Estra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Barreiras, s/n no bairro de<br />

Tancredo Neves. A escola atende às séries iniciais do ensino fun<strong>da</strong>mental, durante o período<br />

diurno, e à educação de jovens e adultos no período noturno.<br />

A pesquisa foi realiza<strong>da</strong> com os alunos do 4º ano B, do turno vespertino, classe regi<strong>da</strong><br />

pela professora Glícia Gomes. A escola possui sua estrutura física, bem conserva<strong>da</strong>,<br />

atendendo às necessi<strong>da</strong>des básicas para o funcionamento regular. Possui biblioteca igualmente<br />

conserva<strong>da</strong>, com acervo em boas condições, distribuído em estantes decora<strong>da</strong>s com temas<br />

infantis, que parece ser utiliza<strong>da</strong> constantemente; sala de informática, com aproxima<strong>da</strong>mente<br />

dez microcomputadores, aparentemente em bom estado de uso; sete banheiros, sendo que,<br />

apenas três em uso para os devidos fins; cozinha grande, areja<strong>da</strong> com equipamentos bem<br />

conservados, um pátio, um pequeno parque infantil, em área não coberta, com brinquedos,<br />

que aparentemente não são utilizados.<br />

O bom estado <strong>da</strong> escola é visto pela direção como sendo fruto de uma recente reforma<br />

no ano de 2000, e pela conscientização <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de escolar.<br />

Quanto ao corpo de funcionários, a escola conta com um número pequeno, to<strong>da</strong>via<br />

bem articulado e distribuído, sendo um vigilante, uma merendeira, um secretário, uma auxiliar<br />

de serviços gerais, uma vice-diretora, uma coordenadora, uma diretora; as ativi<strong>da</strong>des são<br />

conheci<strong>da</strong>s por todos, o que gera uma aju<strong>da</strong> mútua no cumprir <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des; o secretário, por<br />

exemplo, auxilia no preparo do lanche <strong>da</strong>s crianças.<br />

As professoras <strong>da</strong> escola demonstraram estar bem integra<strong>da</strong>s, com algumas exceções,<br />

se fizeram abertas ao dialogo, e notamos uma relação estreita com a direção <strong>da</strong> escola, postura<br />

que favorece à pratica pe<strong>da</strong>gógica.<br />

40


A escola organiza suas ativi<strong>da</strong>des através <strong>da</strong>s reuniões de AC, que acontecem às<br />

sextas-feiras, a partir <strong>da</strong>s 10 h, quando os professores discutem, junto com a coordenadora,<br />

medi<strong>da</strong>s para a otimização do funcionamento <strong>da</strong> escola, como nos foi descrito pela<br />

coordenadora <strong>da</strong> escola; e confirmado pelas professoras, que, de acordo com o que nos foi<br />

relatado, estão presentes na maioria <strong>da</strong>s reuniões de AC.<br />

A comuni<strong>da</strong>de também participa de alguns encontros promovidos pela escola. Esses<br />

encontros são divididos em algumas oficinas; a coordenadora nos relatou que o último<br />

encontro teve como tema DST (Doença sexualmente transmissível), uma vez que a educação<br />

sexual para a comuni<strong>da</strong>de que a escola abrange é fun<strong>da</strong>mental. Esses encontros facilitam<br />

atrair os pais dos alunos para o convívio escolar, já as reuniões com os pais para tratar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

escolar dos alunos acontecem bimestralmente.<br />

A reunião feita pelos professores e direção <strong>da</strong> escola tem o objetivo de avaliar os<br />

alunos, do primeiro ao terceiro ano de escolarização; visto que a escola não trabalha mais com<br />

provas e testes com essas séries, esses procedimentos só são usados para o quarto e quinto ano<br />

de escolarização, do atual ensino fun<strong>da</strong>mental; as outras turmas são avalia<strong>da</strong>s através de um<br />

diário de observação, em que a professora faz anotações diárias, sobre o processo de<br />

aprendizagem do aluno, constituindo-se em processo contínuo.<br />

Nessas reuniões acontece a leitura dos relatórios e discussão sobre o aprendizado dos<br />

alunos, para assim poder haver uma avaliação coletiva sobre o desempenho dos estu<strong>da</strong>ntes.<br />

Quanto ao público, devido a sua localização, a escola atende alunos de bairros<br />

circunvizinhos, como Engomadeira, Narandiba, Sussuarana, Barreiras, Tancredo Neves e<br />

Parque Jocélia, de onde se origina a maioria dos alunos, oriun<strong>da</strong> de famílias financeiramente<br />

pobres e emocionalmente desestrutura<strong>da</strong>s, onde a falta <strong>da</strong> figura paterna é maioria, conforme<br />

atesta a professora Glícia Gomes, regente <strong>da</strong> turma do 4º ano B:<br />

Assim como é comum aos bairros periféricos, muitos dos alunos<br />

presenciam diariamente cenas chocantes de violência que são conta<strong>da</strong>s por<br />

eles nas aulas. Às vezes a referencia familiar é a pior possível, pais<br />

alcoólatras, drogados, presidiários e etc. Segundo informações de pais <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de, um dos alunos é usuário de drogas e isso tornou justificável o<br />

comportamento agressivo e intolerante desse aluno nos seus tratos com os<br />

colegas. É comum durante as ativi<strong>da</strong>des de desenho livre ele registrar<br />

41


imagens de revólveres e pessoas estira<strong>da</strong>s ao chão. Um retrato <strong>da</strong> sua<br />

própria reali<strong>da</strong>de.<br />

( GOMES, 2008 )<br />

Devido a essa reali<strong>da</strong>de, a professora Glícia Gomes freqüentemente abor<strong>da</strong> em suas<br />

discussões em sala de aula o tema sobre a “violência na comuni<strong>da</strong>de”. Ela relatou que durante<br />

o período eleitoral, por exemplo, um dos pedidos mais comuns feitos pelos alunos aos<br />

candi<strong>da</strong>tos a prefeito em suas produções de texto, era combater a violência tão alarmante no<br />

bairro; outro assunto muito discutido pela professora são os efeitos <strong>da</strong>s drogas no corpo<br />

humano e suas conseqüências sociais posteriores. Ela acredita que tais momentos de reflexão<br />

e troca de experiências servem, se não para afastar, pelo menos para verem de forma crítica a<br />

dura reali<strong>da</strong>de que os circun<strong>da</strong>m.<br />

Durante a intervenção pe<strong>da</strong>gógica em que foi trabalhado com a turma o livro Quem<br />

tem medo de ridículo? , uma <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des propostas foi que os alunos fizessem um desenho<br />

ou escrevessem os seus medos e a maioria dos desenhos foi de revólveres e de pessoas mortas<br />

caí<strong>da</strong>s no chão, houve uma aluna que desenhou o seu túmulo, deixando bem claro que o maior<br />

medo deles era o de morrer ou os seus familiares, fruto <strong>da</strong> violência vivencia<strong>da</strong> por eles em<br />

sua comuni<strong>da</strong>de.<br />

Outra ativi<strong>da</strong>de solicita<strong>da</strong> aos alunos foi que eles respondessem o que seria ridículo<br />

para eles e houve algumas respostas bem interessantes como; “ridículo é discriminar o<br />

outro”,” é alguém chamar o outro de ridículo “. A partir destas afirmações pudemos son<strong>da</strong>r as<br />

suas hipóteses sobre o preconceito e a discriminação. Percebi que a idéia destes conceitos para<br />

a maioria dos alunos está muito ligado à cor <strong>da</strong> pele, a situações sócio-econômica e também à<br />

estética, fato também comprovado em seus relatos em sala de aula.<br />

Aproveitei para mostrar a eles imagens sobre as diferentes culturas, apresentando-lhes<br />

que o que parece ser ridículo para uns pode não ser para o outro, como por exemplo, o fato de<br />

o escocês usar saia e as mulheres árabes usarem a burca. Essa discussão foi interessante<br />

porque muito dos alunos mostraram conhecimento sobre as diferentes culturas de diversos<br />

países como a Índia, China, de países africanos e europeus. Falaram sobre a culinária <strong>da</strong><br />

China, que comiam insetos, baratas e que as mulheres árabes usavam a burca porque só os<br />

maridos é que podem ver seus rostos e tocar nelas.<br />

42


Por ser um livro escrito em forma de poesia, aproveitei para saber o conhecimento<br />

deles sobre a mesma, eles demonstraram conhecimento sobre o conceito: a estrutura, como as<br />

estrofes e os versos, e disseram que estes podem ser rimados e a rima é quando as palavras<br />

apresentam o mesmo som. A professora Glícia, em sua entrevista que está em anexo neste<br />

trabalho, revela que ela utiliza muito os textos poéticos em sala de aula devido à sua<br />

musicali<strong>da</strong>de e ao jogo de palavras.<br />

Devido ao curto período de intervenção só foi possível aplicar nesta escola uma única<br />

obra literária <strong>da</strong> autora Ruth Rocha, mas percebi que os alunos se motivaram e se envolveram<br />

com o texto. Outro ponto importante é que esta turma, desde o início, já vem trabalhando com<br />

a literatura infantil e, segundo a professora Glícia, o uso dela foi muito importante para o<br />

processo de aquisição <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita dos seus alunos, comprovando que o uso <strong>da</strong><br />

literatura infantil em sala de aula não só forma alunos leitores como também escritores de<br />

suas próprias histórias.<br />

4.2.2- ESCOLA MUNICIPAL DEPUTADO GERSINO COELHO<br />

A outra etapa desta pesquisa foi realiza<strong>da</strong> na escola municipal deputado Gersino<br />

Coelho, no período do dia 02/03/09, até 13/03/09 como observação, e no período de 16/03/09<br />

até 15/04/09, como regência em sala de aula, este período refere-se ao estágio curricular. A<br />

escola fica localiza<strong>da</strong> no conjunto habitacional s/n em Narandiba, atendendo a um total de<br />

1.300 alunos distribuídos nos três turnos.<br />

Bem ampla, com espaços a serem mais bem aproveitados (atualmente nesses locais<br />

crescem capim e mato), possui uma quadra poli-esportiva que está em reparos e que<br />

atualmente serve de depósito de materiais para a reforma que a escola está passando.<br />

Ela localiza-se próxima à rua principal, possui muros bem altos com grandes portões<br />

de ferro, um na frente e outro na lateral tendo ca<strong>da</strong> um o seu vigia. Sua divisão interna é bem<br />

interessante, não possuindo an<strong>da</strong>res superiores, e dividindo-se em uma espécie de dois<br />

grandes ambientes: o central, onde localiza-se a diretoria, a sala dos professores, a sala de<br />

vídeo, a biblioteca e a secretaria; e os circunvizinhos, onde a esquer<strong>da</strong> de quem entra estão as<br />

salas <strong>da</strong> terceira série (quarto ano) e a sua frente as salas <strong>da</strong> alfabetização (primeiro ano),<br />

43


tendo a sua frente por sua vez as salas <strong>da</strong> primeira e <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> séries (segundo e terceiro<br />

anos respectivamente), e este a seu lado direito as salas <strong>da</strong> quarta série (quinto ano), que ficam<br />

exatamente atrás do pavilhão central, restando apenas à direita de quem entra o refeitório.<br />

Apesar de tantos ambientes (pavilhões) só existem três banheiros para os alunos, mas<br />

um deles está desativado, sobrando apenas dois em uso para os estu<strong>da</strong>ntes, e um para os<br />

professores e demais funcionários <strong>da</strong> coordenação que ficam no pavilhão central (ca<strong>da</strong> qual<br />

sendo um feminino e outro masculino).<br />

Mesmo possuindo sala de computador com vídeo, alguns professores alegam ter<br />

dificul<strong>da</strong>de para reservá-los devido à falta de outro professor ou funcionário para vigiar os<br />

alunos e auxiliar o professor durante as ativi<strong>da</strong>des. A biblioteca também não é utiliza<strong>da</strong> e só<br />

agora com a mu<strong>da</strong>nça de direção é que se tomou conhecimento <strong>da</strong> existência de materiais<br />

didáticos e lúdicos que, após um levantamento serão disponibilizados aos professores. Mas<br />

mesmo antes dessa descoberta já havia materiais como mapas e globos a disposição dos<br />

professores, porém quase não são utilizados pelos mesmos.<br />

A escola, apesar de possuir um pátio interno grande, não tem parque ou qualquer outro<br />

espaço de lazer para as crianças, nem canteiros floridos para descontrair o ambiente interno. O<br />

único canteiro existente é o que fica atrás do pavilhão central que contém duas árvores de<br />

pequeno porte e algumas plantas.<br />

A escola possui um único bebedouro que se localiza em frente do refeitório, uma<br />

espécie de pia de concreto com quatro torneiras, onde os alunos tomam água. Isso dá uma<br />

sensação de que a água não é filtra<strong>da</strong> (não averiguamos de fato), que seria uma espécie de pia<br />

para os alunos lavar as mãos antes <strong>da</strong>s refeições, mas eles nos garantiram que era o<br />

bebedouro.<br />

Nesse período de observação e regência, por a escola estar em reforma as crianças não<br />

saem para o recreio. Elas saem acompanha<strong>da</strong>s pela professora para o refeitório para elas<br />

meren<strong>da</strong>rem e após o término retornam para sala de aula. Devido a não terem o intervalo do<br />

recreio, elas saem meia hora mais cedo (às 11h30min <strong>da</strong> manhã). No horário normal elas<br />

sairiam às 12h00min.<br />

44


Quanto ao público, devido a sua localização, a escola atende alunos do próprio bairro,<br />

e bairros circunvizinhos como Tancredo Neves e Engomadeira. Os alunos que participaram<br />

desta pesquisa são do 5º ano C, regido pela professora Lorena Costa. A maioria dos alunos<br />

são oriundos de famílias financeiramente carentes, em que muitas mães trabalham fora para<br />

aju<strong>da</strong>r no sustento familiar, dificultando um pouco a parceria família-escola, pois quando são<br />

marca<strong>da</strong>s as reuniões pe<strong>da</strong>gógicas muitos pais não comparecem.<br />

Antes de iniciar o projeto de literatura com os alunos, eu procurei fazer uma son<strong>da</strong>gem<br />

sobre a importância <strong>da</strong> literatura infantil para eles, se já conheciam alguma biblioteca, e se os<br />

seus pais contavam histórias e se as professoras dos anos anteriores faziam uso de histórias<br />

infantis. Muitos deles disseram que adoravam ouvir e contar histórias, mas que seus pais não<br />

utilizavam desse hábito, e que só tinham contato com livros literários na escola, e a maioria só<br />

foi à biblioteca uma vez.<br />

O primeiro livro trabalhado nesta escola foi Atrás <strong>da</strong> Porta, em que eles a partir <strong>da</strong><br />

história li<strong>da</strong> pela professora, tinham que criar uma nova história, com o objetivo de produzir<br />

um livro escrito por eles próprios. Eles ficaram bastante motivados para a confecção desse<br />

livro, e em grupo escreveram as histórias, criaram as ilustrações e a capa do livro.<br />

Como foi dito anteriormente, alguns alunos criaram as histórias baseados na história<br />

do livro Atrás <strong>da</strong> Porta, estabelecendo um diálogo com a obra. Outros se colocaram como<br />

personagem <strong>da</strong> própria história, misturando a sua própria história de vi<strong>da</strong> e a ficção. Outro<br />

grupo criou a sua história baseado nos contos de fa<strong>da</strong>s Os três porquinhos e a Bela<br />

adormeci<strong>da</strong>, <strong>da</strong>ndo uma nova roupagem à história cria<strong>da</strong>. Mas teve um grupo de alunos que<br />

não participou <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, colocando muita resistência para a produção <strong>da</strong>s histórias e<br />

percebi que este grupo na son<strong>da</strong>gem sobre a utili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> literatura infantil em suas vi<strong>da</strong>s,<br />

foram os que revelaram não ter contato com os livros literários e não ouviam histórias<br />

conta<strong>da</strong>s por seus familiares, comprovando assim que aquelas crianças que possuem desde<br />

cedo contato com a literatura seja no ambiente familiar ou escolar terão mais habili<strong>da</strong>de na<br />

leitura e na escrita e poderão tornar-se ver<strong>da</strong>deiros leitores e autores de suas próprias histórias,<br />

pois segundo Rego (1995) a literatura infantil quando bem explora<strong>da</strong> se transforma em uma<br />

forma de aquisição de conhecimento sendo importante para o desenvolvimento <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de,<br />

leitura e escrita.<br />

45


Com relação ao livro Azul e lindo planeta terra, nossa casa, houve uma ótima<br />

recepção desta obra por parte dos alunos. Por tratar de um tema que eles já conheciam isso os<br />

motivou a participar <strong>da</strong>s discussões sobre a preservação do meio ambiente e apresentaram<br />

algumas soluções para o problema <strong>da</strong> poluição ambiental. Construíram também brinquedos e<br />

outros objetos com materiais recicláveis, ressaltando a importância <strong>da</strong> reciclagem para a<br />

preservação do nosso planeta.<br />

Outra ativi<strong>da</strong>de proposta foi para que eles escrevessem uma carta para o planeta Terra,<br />

foi interessante porque muitos não sabiam como se escrevia uma carta. Neste sentido<br />

trabalhamos as estruturas como: origem, sau<strong>da</strong>ção, assunto, despedi<strong>da</strong> e assinatura.<br />

Na confecção dos objetos com materiais recicláveis, deixamos a livre criação dos<br />

alunos, alguns criaram carrinhos, porta trecos com garrafas pets, outros fizeram cortina com<br />

tampinhas de refrigerantes e cervejas. Foi um momento de descontração e cooperação entre<br />

eles, pois o trabalho era em grupo e aqueles que tinham mais domínio na confecção dos<br />

objetos aju<strong>da</strong>vam os que não tinham.<br />

Percebi que a maioria dos alunos desta escola se motivaram e se interessaram pelas<br />

obras literárias trabalha<strong>da</strong>s e pelas ativi<strong>da</strong>des propostas em sala correspondendo<br />

positivamente aos objetivos do projeto. Aqueles que não corresponderam significativamente à<br />

proposta, atribuo a falta de contato com os textos literários em seu cotidiano, principalmente<br />

no ambiente familiar, pois a contação de histórias pelos membros <strong>da</strong> família propicia à criança<br />

um clima rico em afetivi<strong>da</strong>de e segurança, aju<strong>da</strong>ndo também, em parceria com a escola, a<br />

formação de ver<strong>da</strong>deiros leitores e escritores de suas próprias histórias.<br />

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5- CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

No decorrer do desenvolvimento dessa pesquisa, por meio <strong>da</strong> observação e <strong>da</strong> coleta<br />

de <strong>da</strong>dos e do contato com as turmas do 4º e 5º ano <strong>da</strong>s escolas públicas municipais<br />

Professora Anfrísia Santiago e Deputado Gersino Coelho, com o objetivo de identificar<br />

possibili<strong>da</strong>des metodológicas para o desenvolvimento <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita nessas crianças,<br />

tendo como referência algumas obras literárias <strong>da</strong> autora Ruth Rocha, percebi a grande<br />

importância <strong>da</strong> literatura infantil e do seu comprometimento para com o real, despertando no<br />

leitor, a curiosi<strong>da</strong>de e o interesse pelas descobertas através do imaginário, ampliando os seus<br />

horizontes e tornando-o independente para resolver problemas cotidianos de forma crítica e<br />

criativa.<br />

A leitura é um meio através do qual, podemos internalizar, além do registro padrão <strong>da</strong><br />

língua, estruturas lingüísticas mais complexas, desenvolvendo de modo globalizado o<br />

desempenho lingüístico do falante. Para tanto, é necessário, que seja oferecido a leitura de<br />

textos ricos e variados, a partir dos quais se torna possível a ampliação de experiências, e o<br />

desenvolvimento do processo de leitura e escrita.<br />

E os textos de Ruth Rocha trabalhados nesta pesquisa contribuíram para que os alunos<br />

ampliassem sua compreensão do mundo natural e social no qual estão inseridos. Através <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s em sala de aula, a partir <strong>da</strong>s obras Quem tem medo de ridículo?,<br />

Atrás <strong>da</strong> porta e Azul e lindo planeta terra nossa casa, os alunos puderam aumentar seus<br />

horizontes de expectativas, pois segundo Bordini e Aguiar (1988, pg.87), o leitor possui um<br />

horizonte de expectativas, e esse horizonte é o mundo de sua vi<strong>da</strong>, com tudo que o povoa,<br />

suas vivências pessoais, culturais e sócio-históricas. É por isso que o papel do texto, no<br />

processo receptivo, é fun<strong>da</strong>mental, sua construção precisa incluir espaços em que a<br />

criativi<strong>da</strong>de do estu<strong>da</strong>nte possa aflorar e ele ser estimulado a fazê-lo.<br />

Com relação à recepção <strong>da</strong>s obras literárias de Ruth Rocha pelos alunos do 4º e 5º ano<br />

<strong>da</strong>s duas escolas houve um diálogo com as obras trabalha<strong>da</strong>s, pois através dos debates em<br />

sala, <strong>da</strong>s produções de textos que envolveram as escritas <strong>da</strong>s histórias, do poema e a carta para<br />

o planeta Terra, as crianças expressaram suas visões de mundo, deixando aflorar a imaginação<br />

e às vezes se colocando como parte integrante <strong>da</strong>s histórias, misturando suas histórias de vi<strong>da</strong>,<br />

47


com todos os seus medos, angústias e a dura reali<strong>da</strong>de que eles enfrentam no seu dia- a -dia.<br />

Um fato curioso que pude observar foi a diversi<strong>da</strong>de bem salienta<strong>da</strong> de enfrentar essa<br />

reali<strong>da</strong>de triste e seca por parte dos alunos. Os estu<strong>da</strong>ntes do 4º ano fizeram a releitura <strong>da</strong>s<br />

obras de maneira realista encarando o cotidiano de suas histórias de um modo natural<br />

mostrando ter consciência <strong>da</strong> suas limitações e suas trajetórias num meio marcado por<br />

dificul<strong>da</strong>des, enfrentamentos e grande desigual<strong>da</strong>de social. Por outro lado, pude perceber por<br />

parte dos alunos do 5º ano uma fuga angustiante e, que de certa forma também me inquietou,<br />

<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, através de composições totalmente volta<strong>da</strong>s para ficção, para uma reali<strong>da</strong>de<br />

imagina<strong>da</strong> e jamais vivi<strong>da</strong>, com a rara exceção de um grupo de alunas que, através de uma<br />

história relatou as suas experiências de adolescentes em vertiginosas aventuras e a de um<br />

aluno que relatou de maneira angustiante e desiludi<strong>da</strong> as dificul<strong>da</strong>des pelas quais passam a<br />

sua família, como o desemprego por parte do seu genitor e as carências materiais que assolam<br />

o seu lar. Ao contrapor as composições dos dois grupos de alunos estu<strong>da</strong>dos percebemos<br />

claramente que os dois grupos vivenciam a mesma reali<strong>da</strong>de só que com uma ótica diferente,<br />

mas, que provavelmente confluem para o mesmo fim.<br />

E diante de uma reali<strong>da</strong>de tão dramática revela<strong>da</strong> em suas produções não posso deixar<br />

de registrar aqui a minha indignação com o sistema de divisão social que constroem classes,<br />

onde de um lado na<strong>da</strong> falta e do outro não sobra nem farelos de pães para alimentar a vi<strong>da</strong>, os<br />

sonhos de jovens que só pedem um pouco de amor e paz para caminharem felizes.<br />

Não pretendo finalizar este trabalho, a minha intenção é de <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de a esta<br />

temática em projetos futuros, pois acredito na importância <strong>da</strong> literatura infantil para a<br />

formação de crianças e adolescentes leitores e construtores de suas próprias histórias.<br />

48


6- REFERÊNCIAS<br />

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BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fa<strong>da</strong>s. São Paulo: Paz e Terra, 1980.<br />

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49


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JOLIBERT, Josette. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994, p. 15.<br />

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__________. Mulheres de coragem. São Paulo: FTD, 1991.<br />

__________. Uma História com Mil Macacos. 4 ed. São Paulo: Ática, 1996.<br />

__________ Enquanto o mundo pega fogo. São Paulo: Ática, 1997.<br />

__________. Quando eu comecei a crescer. 4 ed. São Paulo: Ática, 1998.<br />

__________. Romeu e Julieta. 10 ed. São Paulo: Ática, 1998.<br />

50


__________. Faz Muito Tempo. 4 ed. São Paulo: Ática, 1998.<br />

_________. Quem tem medo de ridículo? São Paulo: Global, 2002.<br />

_________. Azul E Lindo: Planeta Terra, Nossa Casa. São Paulo: Salamandra, 1990.<br />

_________. Declaração Universal dos Direitos Humanos. São Paulo: Quinteto editorial, 1995.<br />

SARAIVA, Juracy, Assmann. Literatura e Alfabetização- Do plano do choro ao plano <strong>da</strong><br />

ação. Porto Alegre: Artmed, 2001.<br />

SOARES, Mag<strong>da</strong>. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica,<br />

2001.<br />

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________, Mag<strong>da</strong>. Letramento e Alfabetização: as muitas facetas. Universi<strong>da</strong>de Federal de<br />

Minas Gerais, Centro de Alfabetização Leitura e Escrita, Outubro 2003.<br />

51


Anexo<br />

52


ENTREVISTA DIAGNÓSTICA<br />

PROFESSORA: Glícia Gomes<br />

ESCOLA: Anfrísia Santiago SÉRIE:4º B<br />

1- Qual a importância <strong>da</strong> Literatura infantil para você?<br />

Quem não gosta de ouvir uma boa história? Sejam histórias orais conta<strong>da</strong>s por nossos pais<br />

e avós ou mesmo textos literários, to<strong>da</strong>s despertam em nós o prazer pela leitura, nos<br />

conduzindo a uma viagem de fantasia e imaginação. Se para os adultos os livros literários<br />

assumem uma tão bela função, quanto mais o são os livros de literatura infantil. Desperta<br />

na criança o prazer pela leitura, além de estimular ain<strong>da</strong> mais o seu rico imaginário.<br />

2- Você acha que usar os livros de literatura infantil na sala de aula, aju<strong>da</strong> os alunos nas<br />

habili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita? Por quê?<br />

Sim, não há dúvi<strong>da</strong> de que os livros de literatura infantil oferecem às crianças<br />

oportuni<strong>da</strong>des de boas leituras. Afinal, o contato com as histórias em que o real, o mágico<br />

e o fantástico se misturam, dá ao leitor mirim a possibili<strong>da</strong>de de ampliar o imaginário<br />

infantil, desenvolvendo o gosto por aquilo que os livros podem oferecer. Uma vez tendo<br />

sido despertado o desejo, cabe ao educador oportunizar situações em que se possa pensar<br />

sobre a escrita, visando à apropriação do código escrito e, sobretudo, a formação de<br />

leitores proficientes.<br />

3- Quando você começou a ensinar essa turma, eles já estavam avançados na aquisição <strong>da</strong><br />

leitura e <strong>da</strong> escrita?<br />

Embora seja uma turma de 4º ano de escolarização, no início do ano verificamos que<br />

muito teria de ser feito no sentido de que desenvolvessem habili<strong>da</strong>des básicas de leitura,<br />

compreensão e produção de textos. Em relação à escrita, por exemplo, as produções<br />

apresentavam pouco volume textual e não raras marcas <strong>da</strong> linguagem oral. Havia por parte do<br />

grupo uma forte resistência em escrever. Logo decidimos, junto com a coordenação, que a<br />

leitura de histórias infantis faria parte de nossa rotina diária. Incentivamos o empréstimo de<br />

livros. Criamos o baú de livros <strong>da</strong> turma. Propomos à produção de resenhas dos livros lidos,<br />

acreditando que a partir de bons modelos era possível que a turma correspondesse a<br />

expectativa de vê-los produzirem os seus textos.<br />

4-Você tem alunos que ain<strong>da</strong> não são alfabetizados? Se sim, quantos?<br />

Sim, dois alunos estão em processo de construção <strong>da</strong> base alfabética: Jonatas e Douglas.<br />

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5- Os que ain<strong>da</strong> não são “alfabéticos” são estimulados a efetuarem diferentes leituras<br />

(imagens, gravuras, ilustrações, pinturas etc.)?<br />

Sim, fazemos várias ativi<strong>da</strong>des que envolvem leituras imagéticas, para induzi-los a fazer<br />

descrições orais e a participarem <strong>da</strong> produção de histórias coletivas. Também, o registro<br />

por meio de desenhos dos textos lidos é uma ativi<strong>da</strong>de constante em nossa sala de aula,<br />

pois a considero como ponto de parti<strong>da</strong> para a organização do pensamento, <strong>da</strong>s idéias a<br />

que se quer escrever.<br />

6--Quais os tipos de textos que você mais utiliza nas aulas? Poético, narrativo, descritivo,<br />

cientifico?<br />

Utilizamos os mais variados tipos de textos, a depender do assunto de que estamos<br />

trabalhando. No entanto, os mais utilizados são os textos poéticos devido à sua<br />

musicali<strong>da</strong>de, ao jogo de palavras apresentado e a ampla oportuni<strong>da</strong>de de ver nas<br />

entrelinhas <strong>da</strong>s palavras do autor; e os textos narrativos como fábulas, len<strong>da</strong>s, contos<br />

clássicos e modernos, entre outros, pois nos dão à possibili<strong>da</strong>de de “transgredir” às idéias<br />

apresenta<strong>da</strong>s, julgando a atitude de personagens, <strong>da</strong>ndo novos roteiros à história e criando<br />

outros textos, sejam coletivos ou individuais.<br />

7--Na escola há salas de leitura? E você a utiliza para realização de leituras com o grupo?<br />

Temos sala de leitura e freqüentávamos semanalmente durante o primeiro semestre. No<br />

entanto, em virtude dos problemas de saúde <strong>da</strong> professora Roseli que em decorrência dos<br />

mesmos não podia subir esca<strong>da</strong>s, tivemos que ceder-lhe a sala de leitura para que<br />

realizasse suas aulas.<br />

8-- Com que freqüência seus alunos produzem textos?<br />

Com bastante freqüência são induzidos a produzirem textos e revisá-los. Os textos<br />

incluem a produção de diálogos, bilhetes, cartas, reescritas e etc. Após a produção, analiso<br />

um aspecto que desejo chamar mais a atenção, como por exemplo, o uso específico de um<br />

sinal de pontuação, a organização em parágrafos ou mesmo a presença de termos <strong>da</strong><br />

linguagem oral nos registros. A partir de então, fazemos um estudo particular do aspecto<br />

pontuado por meio <strong>da</strong> análise de outros textos ou de alguma ativi<strong>da</strong>de específica. Só então<br />

os textos são novamente entregues para uma possível revisão particular. Também criamos<br />

uma legen<strong>da</strong>, assim são sempre sinalizados sobre aspectos que precisam rever a nível<br />

ortográfico, gramatical e de estrutura de texto.<br />

9- Há leituras de textos significativos, de autores conhecidos e de textos de domínio<br />

público para que os alunos tenham contato com diferentes estilos, mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des e suporte<br />

textuais?<br />

Sim, a leitura de textos de variados autores faz parte de nossa rotina. Este ano, em<br />

particular, trabalhamos muito com os livros de Ziraldo, pois recebemos um quite<br />

recheado. Visto que alguns livros atendiam em particular o público infantil, resolvi propor<br />

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a escrita de resenhas para que emitissem opiniões sobre as histórias e essa ativi<strong>da</strong>de<br />

possibilitou a leitura de outros textos desse mesmo gênero literário.<br />

10- Os alunos gostam de ouvir histórias?<br />

Certamente. Porém percebi em alguns resistência de fazer a rodinha para a escuta de<br />

histórias, assim prefiro contá-las com a arrumação <strong>da</strong> sala habitual, a saber, em semicírculo.<br />

11- Quando você conta uma história para os alunos, você pede que eles façam a reescrita<br />

<strong>da</strong> história?<br />

Com certeza. Histórias como “O menino e a árvore”, por exemplo, fomentaram a<br />

produção de reescritas que foram trabalha<strong>da</strong>s pelo menos durante duas semanas.<br />

12-Você se preocupa em estabelecer relações entre o texto oral e o escrito?<br />

Sim, mesmo nas ativi<strong>da</strong>des de orali<strong>da</strong>de que envolve o reconto de histórias ou situações<br />

vivencia<strong>da</strong>s no dia a dia, costumamos conversar sobre o uso de certos maneirismos como:<br />

aí, <strong>da</strong>í, propondo a substituição por outras palavras, sem deixar de mostrar-lhes que a<br />

linguagem oral, devido à sua flexibili<strong>da</strong>de, permite-nos quase que naturalmente o uso<br />

delas. A linguagem escrita, porém, por ser mais exigente, não permite esses usos, de modo<br />

que já fizemos algumas ativi<strong>da</strong>des sobre a utilização de conectivos a partir <strong>da</strong> análise de<br />

textos escritos pelos próprios alunos.<br />

13-Os alunos são estimulados a refletirem sobre a relação entre a orali<strong>da</strong>de e a escrita?<br />

Idem a resposta anterior.<br />

14-Você estimula os seus alunos a contarem histórias?<br />

Sim, mas acho que o estimulo poderia ser ain<strong>da</strong> maior. A proposta inicial de<br />

empréstimos de livros do baú <strong>da</strong> sala e do clube <strong>da</strong> leitura era que os alunos lessem ou<br />

recontassem as histórias para todo o grupo. Embora tenhamos iniciado o projeto com<br />

chave de ouro, acabamos nos perdendo ao longo do ano em meio a outras deman<strong>da</strong>s. No<br />

entanto, no dia a dia, de uma forma menos formaliza<strong>da</strong>, eles são estimulados sim a<br />

contarem histórias, inclusive aquelas cujos autores são eles próprios.<br />

15- Você acha importante a literatura infantil para a formação <strong>da</strong> criança leitora?<br />

Por quê?<br />

Idem resposta número 2.<br />

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ENTREVISTA DIAGNÓSTICA<br />

Professora: Lorena Bárbara S. Costa<br />

Escola Municipal: Deputado Gersino Coelho Série: 5ºAno C<br />

1-Qual a importância <strong>da</strong> Literatura infantil para você?<br />

Através <strong>da</strong> literatura a criança torna-se capaz de compreender o mundo em que vive,<br />

desenvolve o senso crítico, etc.<br />

2-Você acha que usar os livros de literatura infantil na sala de aula, aju<strong>da</strong> os alunos nas<br />

habili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita? Por quê?<br />

Sim. A criança que tem contato com o mundo letrado desenvolve a leitura e escreve<br />

melhor.<br />

3- Quando você começou a ensinar essa turma, eles já estavam avançados na aquisição <strong>da</strong><br />

leitura e <strong>da</strong> escrita?<br />

Sim, porém ain<strong>da</strong> existe alguns que necessitam de apoio no que diz respeito a escrita.<br />

4-Você tem alunos que ain<strong>da</strong> não são alfabetizados? Se sim, quantos?<br />

Não.<br />

5- Os que ain<strong>da</strong> não são “alfabéticos” são estimulados a efetuarem diferentes leituras<br />

(imagens, gravuras, ilustrações, pinturas etc.)?<br />

6--Quais os tipos de textos que você mais utiliza nas aulas? Poético, narrativo, descritivo,<br />

cientifico?<br />

Procuro trabalhar com todos os tipos de texto, pois, ca<strong>da</strong> um tem uma estrutura e<br />

funcionali<strong>da</strong>de.<br />

7--Na escola há salas de leitura? E você a utiliza para realização de leituras com o grupo?<br />

Não. O espaço para realização <strong>da</strong> leitura acontece na própria sala de aula.<br />

8-- Com que freqüência seus alunos produzem textos?<br />

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To<strong>da</strong> semana.<br />

9- Há leituras de textos significativos, de autores conhecidos e de textos de domínio<br />

público para que os alunos tenham contato com diferentes estilos, mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des e suporte<br />

textuais?<br />

Como já foi exposto anteriormente, procuro trabalhar com diversos tipos de texto,<br />

assim como grandes autores.<br />

10- Os alunos gostam de ouvir histórias?<br />

Apesar de muitos ain<strong>da</strong> não compreenderem a importância <strong>da</strong> leitura, ain<strong>da</strong> assim<br />

conto histórias.<br />

11- Quando você conta uma história para os alunos, você pede que eles façam a reescrita<br />

<strong>da</strong> história?<br />

Quando o objetivo <strong>da</strong> escuta <strong>da</strong> história tem esse fim sim, porém, as vezes ouvimos<br />

história apenas por diversão, prazer.<br />

12-Você se preocupa em estabelecer relações entre o texto oral e o escrito?<br />

Sim.<br />

13-Os alunos são estimulados a refletirem sobre a relação entre a orali<strong>da</strong>de e a escrita?<br />

Sim.<br />

14-Você estimula os seus alunos a contarem histórias?<br />

Sim.<br />

15- Você acha importante a literatura infantil para a formação <strong>da</strong> criança leitora?<br />

Por quê?<br />

A literatura é importante para a criança se tornar um ser crítico e atuante na socie<strong>da</strong>de<br />

em que vive.<br />

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