VJ setembro 61.p65 - Visão Judaica
VJ setembro 61.p65 - Visão Judaica
VJ setembro 61.p65 - Visão Judaica
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
*Breno Lerner é<br />
editor e gourmand,<br />
especializado em<br />
culinária judaica.<br />
Escreve para<br />
revistas, sites e<br />
jornais. Dá<br />
regularmente<br />
cursos e<br />
workshops. Tem<br />
três livros<br />
publicados, dois<br />
deles sobre<br />
culinária judaica.<br />
Breno Lerner *<br />
Uma comunidade judaica pouco<br />
conhecida e muito antiga, praticamente<br />
a única da história a não conhecer<br />
o anti-semitismo.<br />
Você conhece pratos tradicionais<br />
da culinária judaica com os<br />
nomes de Macalcal, Chitarnee, Arrok,<br />
Mukumura? Não?<br />
Pois fique sabendo que são receitas<br />
com aproximadamente 2.000 anos<br />
de idade, provenientes dos judeus da<br />
Índia, uma comunidade riquíssima em<br />
história e tradição, que hoje não conta<br />
com mais do que 5.000 pessoas.<br />
Existiram 3 grandes grupos dos<br />
quais restam poucos representantes<br />
e, curiosamente, um novo grupo apareceu<br />
na década de 50 do século XX.<br />
Tudo começou com os cochins<br />
que, supõe-se, chegaram à Índia há<br />
2.500 anos atrás, provavelmente emigrados<br />
da Terra Santa, após a destruição<br />
do Primeiro Templo. Estabeleceram-se<br />
inicialmente na costa de Malabar,<br />
assimilaram a cultura local, inclusive<br />
a língua malaia, trajes e alimentos.<br />
Tornaram-se mercadores,<br />
principalmente de pimenta do reino,<br />
o que acabou por decretar uma forte<br />
perseguição a eles por parte dos portugueses,<br />
então invasores da região<br />
a partir de Goa. Sendo este o único<br />
caso de perseguição a judeus na Índia.<br />
Como sempre na história judaica,<br />
não bastasse seus problemas ex-<br />
VISÃO JUDAICA • <strong>setembro</strong> de 2007 • Tishrei / Chesvan 5768<br />
Salaam Shalom, Ka Mandi 1<br />
ternos, ainda deram-se ao luxo de se<br />
dividir entre Paradesi, ou judeus<br />
brancos e os Desi, os judeus negros.<br />
Os Paradesi chegaram à Índia<br />
por volta do século XIII vindos da<br />
Espanha eram a minoria, mas dominavam<br />
o grupo Cochim. Os Desis<br />
eram os habitantes históricos que<br />
por sua miscigenação com os locais<br />
tinham pele mais escura e eram<br />
a maioria dos Cochins.<br />
Relatos de Marco Pólo (1239) e<br />
Benjamim de Tudela (1167) contam<br />
a existência de judeus na região.<br />
Já os Bene Israel, chegaram à<br />
Índia há 2.100 anos atrás, aparentemente<br />
como vítimas de um naufrágio.<br />
Alega sua tradição que 7<br />
homens e 7 mulheres, descendentes<br />
de uma das 10 tribos, sobreviveram<br />
a um naufrágio nas costas<br />
de Maharashtra, onde se estabeleceram.<br />
Curiosamente ficaram escondidos<br />
e ignorados pelo mundo<br />
todo até meados do século XVIII,<br />
quando os Cochins os descobriram<br />
pelo fato de observarem o Shabat,<br />
comerem apenas peixes sem escamas<br />
e rezarem o Shema, únicas palavras<br />
em hebraico que conheciam<br />
e repetiam sem saber o que significavam.<br />
Os Bagadadhi chegaram há 250<br />
anos atrás, vindos principalmente do<br />
Irã e do Iraque, estabeleceram-se<br />
como comerciantes nas cidades de<br />
Bombaim e Calcutá e chegaram a<br />
5.000 pessoas, sendo a comunidade<br />
com mais ricos e milionários<br />
dentre os judeus. A maioria emigrou<br />
para a Inglaterra e Canadá,<br />
hoje não passam de 200 pessoas.<br />
Na década de 50, apareceram<br />
os Bnai Menashe, duas tribos da<br />
região de Manipur, os Mizu e os<br />
Kuki, que alegam ser descendentes<br />
de Menasseh, filho de José.<br />
Explicam seus forte traços asiáticos<br />
por sua história, pois teriam<br />
saído de Jerusalém até a China<br />
e de lá para a Índia. Estão em<br />
um forte movimento de retorno<br />
ao judaísmo, movimento este<br />
que é aceito por alguns rabinos<br />
de Israel e rejeitados por outros.<br />
Vamos conhecer uma de suas<br />
receitas:<br />
Chitarnee<br />
Chitarnee<br />
Chitarnee Chitarnee<br />
Chitarnee (Galinha<br />
(Galinha<br />
agridoce)<br />
agridoce)<br />
Este prato é da região de Calcutá,<br />
pois lá não havia Shohet,<br />
apenas em Bombaim. Assim, o que<br />
era feito com carne em Bombaim,<br />
era feito com galinha em Calcutá.<br />
O shohet visitava a cidade apenas<br />
no Rosh Hashaná.<br />
1 kg de cebolas raladas;<br />
3 dentes de alho esmagados;<br />
1 ½ colher de chá de gengibre<br />
ralado;<br />
9<br />
1 colher de chá de curcuma;<br />
1 ½ colher de chá de coentro<br />
em pó;<br />
1 colher de chá de canela<br />
em pó;<br />
½ colher de chá de cardamomo<br />
moído;<br />
2 folhas de louro;<br />
6 filés de peito ou sobrecoxa<br />
de galinha cortados em<br />
cubos;<br />
½ kg de tomates sem pele e<br />
sementes picados;<br />
2 colheres de sopa de<br />
vinagre;<br />
2 colheres de sopa de<br />
açúcar;<br />
Sal e pimenta do reino à<br />
gosto.<br />
Em uma panela grande doure a<br />
cebola em 3 colheres de sopa de<br />
óleo. Mexa ocasionalmente até<br />
amolecerem e dourarem. Acrescente<br />
o alho, gengibre, todos os temperos<br />
e louro, cozinhe por mais 3<br />
minutos. Coloque então a galinha<br />
e cozinhe por 10 minutos, para<br />
dourar bem os pedaços. Acrescente<br />
os tomates, baixe o fogo e deixe<br />
cozinhar até evaporar todo o<br />
líquido (+/- 30 minutos). Coloque<br />
o açúcar e o vinagre, corrija o sal,<br />
se necessário, e cozinhe em fogo<br />
bem baixo por mais 10 minutos.<br />
Sirva com arroz branco.<br />
600 mísseis apontados para Israel<br />
Nahum Sirotsky *<br />
questão mais discutida nos<br />
últimos dias é a do mistério<br />
do vôo de jatos israelenses<br />
sobre a Síria. Os<br />
meios responsáveis de Israel<br />
nada dizem. A mídia local<br />
usa de referência o que diz a mídia<br />
internacional. Mas o governo de Israel<br />
se fechou. Curiosamente o ministro<br />
do Exterior da França escolheu a<br />
ocasião para declarar que “o mundo<br />
deve se preparar para o pior” e o pior<br />
é guerra com o Irã. Aliás, há um mês,<br />
num importante discurso, o presidente<br />
francês disse que um mais forte empenho<br />
diplomático das grandes potências<br />
“é a única alternativa a uma<br />
Bomba iraniana ou ao bombardeio do<br />
Irã”. As dúvidas sobre o que o Irã pretende<br />
com seu esforço no campo nuclear<br />
não desaparecem. Suspeita-se<br />
que é construir a Bomba que, uma<br />
vez montada e testada, se este for o<br />
objetivo dos iranianos, será tarde<br />
demais para a diplomacia e tornará<br />
uma guerra nuclear inevitável.<br />
Os Estados Unidos e Europa insistem<br />
que vão persistir no caminho<br />
da diplomacia e meios não militares.<br />
Querem ver de perto o que acontece<br />
no Irã que diz que tem propósitos<br />
pacíficos e quer adquirir a tecnologia<br />
para centrais atômicas de produção<br />
de energia elétrica, porém,<br />
até mesmo os russos, os fornecedores<br />
dos equipamentos necessários ao<br />
Irã e, ao que se sabe também do combustível,<br />
não se revelam muito confiantes.<br />
Um Irã atômico muda o equilíbrio<br />
mundial do poder. Assume o<br />
comando dos países petrolíferos do<br />
Oriente Médio dos quais tanto depende<br />
o funcionamento da economia<br />
mundial. E é sabido que urânio<br />
enriquecido para ser combustível<br />
já está pronto na Rússia para ser<br />
encaminhado. Seria enriquecido<br />
apenas para movimentar os reatores.<br />
Urânio para a Bomba tem de<br />
sofrer um processo especial. O Irã<br />
até agora não mostrou tudo o que<br />
se quer ver. E tem de ser de perto,<br />
pois nem satélites artificiais conseguem<br />
provas suficientes.<br />
Mas, o que houve na Síria que<br />
deixou Damasco irritada e prometendo<br />
uma troca aos israelenses?<br />
Nada mais verdadeiro do que<br />
aquele ditado de onde tem fumaça<br />
tem fogo.<br />
“Assar Iran” é um site iraniano<br />
com vínculos com o governo persa.<br />
E anunciou na segunda, 17, que<br />
600 mísseis Shibab-3, de produção<br />
dos iranianos, já estão apontados<br />
para alvos israelenses para<br />
serem disparados caso o país seja<br />
1. Paz no nosso tempo<br />
atacado. Também estão no alvo<br />
posições americanas no Iraque.<br />
Tudo preparado também para defender<br />
a Síria com a qual o Irã<br />
tem acordos de cooperação militar.<br />
“Assar” deixa claro que estes<br />
600 são apenas uma primeira<br />
onda. Todos com obuses de explosivos<br />
convencionais. Não há<br />
meios capazes de destruírem todos<br />
que sejam postos a caminho.<br />
E Israel é apenas do tamanho de<br />
muitas fazendas do Mato Grosso.<br />
Tentem encontrar no mapa sem<br />
uma lente de aumento...<br />
* Nahum Sirotsky é jornalista,<br />
correspondente da RBS e do<br />
Último Segundo/IG em Israel.<br />
A publicação exclusiva desta<br />
coluna tem a autorização<br />
do autor.